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SENTIMENTOS DE USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS LÍCITAS E ILÍCITAS: PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO

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Academic year: 2021

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SENTIMENTOS DE USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIAS LÍCITAS E ILÍCITAS: PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO

Terezinha Possa1 Solânia Durman2

INTRODUÇÃO: Este é um trabalho monográfico do Curso de Especialização em Saúde da Família. O desenvolvimento desta pesquisa surgiu da necessidade no aprofundamento dos conhecimentos em relação ao indivíduo usuário de substâncias lícitas e ilícitas, no sentido de como estes buscam sua ressocialização no que diz respeito: suas perspectivas quanto ao mercado de trabalho, ao enfrentamento de problemáticas no cotidiano e sua autopercepção nos dias atuais. No contexto da exclusão, o indivíduo torna-se muitas vezes incapaz de prover e suprir seus próprios meios de subsistência e suas necessidades básicas, como a alimentação, a moradia, a saúde, dentre outras, o que pode contribuir negativamente para sua formação e atuação na sociedade, estando mais propenso para a prática de crime e ou a mendigar, a fim de satisfazer a própria dependência.

OBJETIVO: Conhecer como ocorre a ressocialização de indivíduos usuários de substâncias lícitas e ilícitas.

METODOLOGIA: Esta é uma pesquisa qualitativa/quantitativa, descritiva, realizada no período de Setembro e Outubro de 2003. Encontravam-se na época em tratamento na Associação Nova Aliança, 25 homens, destes 08 se prontificaram a participar da pesquisa. Os sujeitos pesquisados são identificados ao longo do trabalho como: (Entr. 01); (Entr. 02) e assim sucessivamente. Para o desenvolvimento da pesquisa foram respeitados os padrões éticos segundo a Resolução 196/96 da Comissão Nacional de Ética e Pesquisa. Os sujeitos participantes foram caracterizados quanto à faixa etária; 1 Psicóloga. Especialista em Saúde da Família ocupa o cargo de Psicóloga na Ação Social da Prefeitura Municipal de Cascavel – Paraná. tere_possa@hotmail.com Fone: 3226-2001.

2 Enfermeira. Mestre em Assistência de Enfermagem. Docente do Curso de Enfermagem na UNIOESTE. Orientadora no Curso de Especialização Saúde da Família. durman@terra.com.br Fone:3224-2979.

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estado civil; grau de escolaridade; idade que iniciou o uso de substâncias lícitas e ilícitas e o tipo de substância; tipo de tratamento que já fez uso; convivência durante sua infância e adolescência com pessoas que faziam uso de drogas. Para este momento enfocaremos o aspecto qualitativo da pesquisa no que diz respeito aos sentimentos dos entrevistados.

RESULTADOS: Extraímos três categorias das essências de suas falas: 1- Perspectiva quanto ao trabalho [...] eu tenho na minha vida o desejo de arrumar um trabalho fora de poder contribuir com a casa trabalhar para esquecer de tudo o que eu fiz de errado (Entr. 01). [...] voltar a sociedade né ter minhas coisas ser uma pessoa independente [...] (Entr. 08). Percebe-se no conteúdo das falas o sentimento destes indivíduos, de terem um vínculo com trabalho, levando-os a sentirem-se cidadãos produtivos.Denota-se a necessidade de auto-afirmação como forma de provar e superar a dependência, não demonstrar a susceptibilidade à reincidência, valorizando e apegando-se ao trabalho como única fonte para solução e enfrentamento da problemática do abuso de substâncias entorpecentes. [...] eu tando envolvido no trabalho aí não tenho tempo em pensar nas drogas na bebida [...] (Entr. 02) [...] é levar uma vida normal que nem vocês levam sem drogas sem álcool sem nada, [...] sonho ainda é arrumar uma mulher casá [...] te um lugarzinho pra mora [...] é de eu achar

minha família [...] (Entr. 08). Normalmente as pessoas com história de alcoolismo e outras

drogas ilícitas, ao longo de seu viver, vão perdendo os vínculos que construíram, como por exemplo: a família, cônjuge, filhos, amigos mais íntimos. Não que estas pessoas os abandonem, mas sim, porque as pessoas envolvidas com álcool e outras drogas, invertem os valores das suas vidas, têm outras necessidades, não conseguem dar conta do vínculo afetivo familiar, sendo usuários de drogas. Para romper com este processo, é preciso que alguém com forte vínculo afetivo tenha insight para ajudar, porém com o aceite do usuário. 2- Enfrentamento de conflitos no cotidiano: Os recursos de enfrentamento dos conflitos variam imensamente de uma pessoa para outra. A avaliação abrangente de um paciente com um problema de abuso de substâncias deve incluir a avaliação dos recursos pessoais, sociais e materiais de que ele dispõe. Deve-se avaliar

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também se há motivação e apoio social para tal mudança. [...] tento me ocupar minha mente [...] mostrar que tenho a capacidade de mudança [...] depressão, angústia, tristeza muitas das vezes eu sinto assim e fico pensando na minha família [...] (Entr.01). [...] eu to me sentindo que to outra pessoa né sem bebida eu me sinto melhor ainda [...] eu to otimista que vou realizar

[...] se Deus quiser (Entr. 07). Para Myers (1999) quando alguma situação ameaça ou

desfaz vínculos sociais, as pessoas podem ser dominadas por emoções negativas e, como conseqüência, pode haver rompimento destes vínculos, causando sentimentos de desânimo, insignificância, de solidão, a vida torna-se vazia e sem sentido.O sistema de crenças de uma pessoa, a visão de mundo, a religião ou a sua espiritualidade também pode ter um efeito positivo ou negativo sobre a saúde mental dos usuários de drogas. O comportamento de ajuda e de adesão ao tratamento depende de crenças, de normas sociais e de valores culturais do paciente. Por exemplo, certos sistemas de crenças religiosas salientam evitar o álcool, as drogas ilícitas e o tabagismo. Programas de intervenção baseados na espiritualidade, como o programa dos 12 passos do AA, buscam encorajar o indivíduo a entregar o controle de suas vidas a um ser supremo (STUART; LARAIA, 2001). 3 – Autopercepção: Os sentimentos pessoais resumem o que as pessoas experimentam e dizem se o que estão experimentando é agradável ou doloroso (VISCOTT, 1976). Observam-se muitas perdas, principalmente grande perda de si mesmo, desprezos pessoais e familiares, quebra de vínculo afetivo, com tentativa de redimensionar planos e vivências no dia-a-dia, porém, há dificuldades em ter que controlar a dependência da droga, conforme os relatos a seguir: [...] eu me sinto péssimo [...] tem hora que eu desanimo até de viver [...] tirar a minha vida eu já tentei duas vezes [...] por Deus que eu to vivo até hoje [...] objetivo de trabalhar ter minha família arrumar uma mulher [...] hoje em dia as mulheres gostam de trabalhador cara que não bebe que não usa drogas [...] (Entr. 08). [...] antes eu não era uma pessoa paciente [...] qualquer palavrinha já era motivo de briga [...] tenho agora é pensamento positivo [...] restabelecendo a minha auto-estima estou acreditando em mim mesmo [...] (Entr. 02).

[...] hoje eu acordei e agora acordei para a vida [...] minha percepção de vida é essa triste

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Constatam-se Constatam-sentimentos de arrependimento por atos e comportamentos apreConstatam-sentados quando da ingestão de bebida alcoólica, com consciência de como é diferente no estado de sobriedade. Observa-se também tristeza, fuga de si e da realidade social, denotando debilidade interior quanto ao enfrentamento e superação das frustrações e dos obstáculos do cotidiano. Há a percepção de não estar vivendo num plano real, desejo de formar uma família, não usar mais drogas, trabalhar e construir uma vida feliz. A vivência real diferente do desejo ideal acarreta a baixa auto-estima, a desilusão, a depressão e a tentativa de extermínio de si mesmo na busca de amenizar o sofrimento. CONCLUSÕES: O indivíduo dependente de drogas quer seja lícita ou ilícita, ao longo dos séculos estabeleceu um parentesco com as culpas morais e sociais que parece longe de ser rompido, permanecendo nas representações sociais, no imaginário e contribuindo para o processo de estigmatização. Para Gohn (1997), as ONGs cidadãs são entidades que trabalham com questões da construção ou resgate da cidadania, exercendo o papel de introduzir novidades institucionais com menores custos e maior eficiência, enfocando o trabalho social para as populações mais carentes. Para o tratamento do indivíduo dependente não há intervenções prontas, no seu processo de recuperação e ressocialização, deve aprender ou recuperar sua capacidade de viver sem drogas. Mudar seu projeto pessoal e reconstruir, transformar ou criar um projeto de vida. A fase mais dura do processo terapêutico é quando o indivíduo se sente bem e pode sair sozinho ou regressar a seu lar, pois tem que enfrentar a realidade da qual fugiu. Neste momento necessita de grande apoio para enfrentar esta fase, evitando recaídas (KALINA, 2001). Acreditamos que o aspecto chave para trabalharmos a ressocialização, é priorizarmos os aspectos sociais e econômicos, visto que ressocializar o indivíduo usuário de drogas, implica em aumentar sua contratualidade afetiva, social e econômica, viabilizando sua autonomia para a vida na comunidade. Os entrevistados deixaram claro em suas falas o sentimento de exclusão vivenciado ao longo de suas vidas, dificultando-os na busca da auto-realização. Salientamos que a compreensão de indivíduos usuários de substâncias

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lícitas e/ou ilícitas, devem ser considerados como Loucos por afeto, oportunidade, aceitação, inclusão social e liberdade.

BIBLIOGRAFIA:

BRASIL, Centro Nacional de Epidemiologia. Parecer n. 196/96 de 10 de outubro de 1996. Pesquisa envolvendo seres humanos. In: Informe epidemiológico do SUS -Suplemento 3, p. 278-291. Brasília Fundação Nacional de Saúde, 1996.

GOHN, M. da G. Os sem- terra, Ongs e Cidadania: a sociedade civil brasileira na era da globalização. Cortez: São Paulo, 1997.

KALINA, E. Clínica e Terapêutica de Adicções. Artes Médicas: Porto Alegre, 2001. MYERS, D. Introdução à Psicologia Geral. Editora LTC: Rio de Janeiro, 1999. STUART, G. W.; LARAIA, M. T. Enfermagem Psiquiátrica. Princípios e Práticas. 6ª ed., ARTMED: Porto Alegre, 2001.

VISCOTT, D. A Linguagem dos Sentimentos. 11ª Ed., Summus Editorial: São Paulo, 1976.

Referências

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