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Livros de artista: tratamento e organização de uma coleção especial em bibliotecas

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Academic year: 2021

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UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

IACS – INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL GCI – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

ANA BEATRIZ SVENSON CASTELLO

LIVROS DE ARTISTA: TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DE UMA COLEÇÃO ESPECIAL EM BIBLIOTECAS

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UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

IACS – INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL GCI – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

LIVROS DE ARTISTA: TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DE UMA COLEÇÃO ESPECIAL EM BIBLIOTECAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do grau Bacharel em Biblioteconomia e Documentação.

ORIENTADORA: Prof.ª Dr. ª Elisabete Gonçalves de Souza.

Niterói 2016

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ANA BEATRIZ SVENSON CASTELLO

ANA BEATRIZ SVENSON CASTELLO C348 Castello, Ana Beatriz Svenson, 1992-

Livros de artista: tratamento e organização de uma coleção especial em bibliotecas / Ana Beatriz Svenson Castello. – 2016 62 f. : il. color. ; 30 cm

Orientador: Profª. Drª. Elisabete Gonçalves de Souza.

Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Departamento de Ciência da Informação, Curso de Biblioteconomia e Documentação, 2016.

1. Livro de artista. 2. Catalogação. 3. Indexação

(documentação). 4. Acondicionamento. 5. Preservação e conservação. I. Título.

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ANA BEATRIZ SVENSON CASTELLO

LIVROS DE ARTISTA: TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DE UMA COLEÇÃO ESPECIAL EM BIBLIOTECAS

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a

obtenção do grau Bacharel em

Biblioteconomia e Documentação.

Aprovada em 21 de julho de 2016.

BANCA EXAMINADORA

Prof.ª Dr.ª Elisabete Gonçalves de Souza (Orientadora) UFF – Universidade Federal Fluminense

Prof.ª Dr.ª Joice Cleide Cardoso Ennes de Souza UFF – Universidade Federal Fluminense

Prof. Dr.Carlos Henrique Marcondes UFF – Universidade Federal Fluminense

Niterói 2016

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À minha família e amigos que me proporcionaram todo o apoio para realizar esse trabalho.

Aos meus docentes que me garantiram o conhecimento necessário para elaborar a seguinte pesquisa.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço minha família e amigos pelo total apoio durante a produção deste trabalho, proporcionando todas medidas necessárias para tonar a redação deste o mais sereno e natural possível.

Meus agradecimentos aos colegas do Museu de Arte do Rio que possibilitaram a realização desta pesquisa, e possibilitaram a oportunidade de estágio que motivou essa pesquisa. Em especial à Andrea Barboza, bibliotecária chefe da instituição na maior parte da minha experiência, motivadora e auxiliar do trabalho. E às amigas de biblioteca Andrea Oliveira e Crislane Rocha, que até hoje ajudam como podem a realização desse trabalho.

À Universidade Federal Fluminense, e seus docentes, pela oportunidade de aprender e conviver em um âmbito acadêmico.

Agradeço à Prof.ª Dr. ª Elisabete Gonçalves de Souza, pelo suporte em um curto período, pelas suas correções e interesse em uma pesquisa diferente.

Aos professores Joice Cleide Cardoso Ennes de Souza e Carlos Henrique Marcondes por fazerem parte da banca desse trabalho.

Agradeço minha mãe Ingrid Svenson Castello, minha maior incentivadora em momentos difíceis, de desânimo e cansaço.

E a todos que direta e ou indiretamente fizerem parte da minha formação acadêmica e de caráter, o meu muito obrigada.

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“Eu faço arte só para sustentar o meu hábito, que é escrever e publicar livros.”

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RESUMO

Esta pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa do tipo exploratória, pautada em levantamento bibliográfico e estudo de caso, sobre as práticas biblioteconômicas em relação à organização de coleções de livros de artistas, com foco na catalogação descritiva, indexação de assuntos, acondicionamento, preservação e conservação dessas obras. Discute como as áreas de biblioteconomia e museologia abordando o conceito de documento tendo em vista ser o livro de artista um documento peculiar. Evidencia os conceitos de catalogação, indexação, acondicionamento e preservação, para em seguida apontar os metadados essenciais na descrição catalográfica de livros de artistas. Finaliza analisando a política de descrição adotada por dois grandes museus: o Museu de Arte Moderna de Nova York e o Museu de Arte do Rio. Traz como resultado a necessidade de se estabelecer uma política para organização de coleções de livros de artista que estão sob a curadoria das bibliotecas de museus, com vista ao estabelecimento de normas e práticas especiais para o tratamento, organização e recuperação da informação desse tipo especial de coleção.

Palavras-chave: Livro de artista. Catalogação. Indexação (documentação). Acondicionamento. Preservação e conservação.

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ABSTRACT

This research presents an exploratory qualitative approach about library practices regarding the organization of artists’ books collections, with a focus on the descriptive cataloging, subject indexing, storage, preservation and conservation of these works. Discusses the concepts of documents for library science and museology, presenting their significant parts to the treatment of artists’ books by libraries. Introduces various concepts for artist book, given its absence of definition. Highlights the concepts of cataloging, indexing, storage and preservation, to then point the essentials metadata’s elements in the cataloging os artist books. It ends by analyzing the cataloging policies by two museums: The Museum of Modern Art, New York, and the Art Museum of Rio. It brings as a result the need for policies for organizing artist book collections that are in guardianship of museum libraries, with a view of establishing special rules and practices for treatment, organization and information retrieval of this special type of collection.

Keywords: Artist book. Cataloging. Subject cataloging. Storage. Preservation and conservation.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – NOÇÃO DE DOCUMENTOS NAS TRÊS ÁREAS...22 QUADRO 2 – EXEMPLO DE CATALOGAÇÃO DA ÁREA DE DESCRIÇÃO FÍSICA E ÁREA DE NOTAS DE LIVRO DE ARTISTA...34 QUADRO 3 – EXEMPLO DE CATALOGAÇÃO DA ÁREA DE DESCRIÇÃO FÍSICA E ÁREA DE NOTAS DE LIVRO DE ARTISTA...34

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – LIVRO OBRA, LYGIA CLARK (1983)...12

FIGURA 2 – O LIVRO DE ARTISTA – ESQUEMA CLIVE PHILLPOT (2013)...25

FIGURA 3 – LIVRO DA ARQUITETURA, LÍGIA PAPE (1959-1960)...27

FIGURA 4 – FLUX YEAR BOX 2, COLETIVO FLUXUS (1965-1968)...28

FIGURA 5 – AN UNREADABLE QUADRAT-PRINT, BRUNO MUNARI (1953)...36

FIGURA 6 – EYE DROPPER BOTTLES, COLETIVO FLUXUS (1991)...40

FIGURA 7 – ESTANTE DE LIVROS DE ARTISTA DA BIBLIOTECA MAR...41

FIGURA 8 – CAIXA PARA PRESERVAÇÃO DE LIVROS E OBRAS DE ARTE...42

FIGURA 9 – BOUNDLESS, DAVID STAIRS (1983)...46

FIGURA 10 – VISUALIZAÇÃO REGISTRO MARC 21 – BIBLIOTECA DO MOMA – BOUNDLESS, DAVID STAIRS (1983)...46

FIGURA 11 – THE XEROXED BOOK, ERIC DOERINGER (2010)...47

FIGURA 12 – VISUALIZAÇÃO REGISTRO MARC 21 - BIBLIOTECA DO MOMA – THE XEROXED BOOK, ERIC DOERINGER (2010)...48

FIGURA 13 – POEMOBILES, JULIO PLAZA E AUGUSTO DE CAMPOS (1966)....51

FIGURA 14 – VISUALIZAÇÃO REGISTRO MARC 21 – BIBLIOTECA DO MAR – POEMOBILES, 2. ED., AUGUSTO DE CAMPOS E JULIO PLAZA (1984)...53

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LISTA DE SIGLAS

AACR2 Código de Catalogação Anglo Americano AAT Art & Architecture Thesaurus

A.B.C. Artist’s Book Collection

CDU Classificação Decimal Universal EBA Escola de Belas Artes

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais MAR Museu de Arte do Rio

MARC Machine Readable Cataloging

MoMA Museum of Modern Art

RDA Resource Description and Access

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...12

2. O CONCEITO DE DOCUMENTO: PARA A BIBLIOTECA E O MUSEU...20

2.1 A OBRA DE ARTE COMO DOCUMENTO...20

2.2 LIVROS DE ARTISTA COMO OBRA DE ARTE: APROXIMAÇÕES CONCEITUAIS...22

3. TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM ARTES...29

3.2 REPESENTAÇÃO DESCRITIVA EM ARTES...29

3.3 INDEXAÇÃO EM ARTES...35

3.4 ACONDICIONAMENTO, PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO...38

4. A BIBLIOTECA E O LIVRO DE ARTISTA...43

4.1 A EXPERIÊNCIA DO MoMa...43

4.2 O CASO DA BILBIOTECA DO MAR...49

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...56

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1. INTRODUÇÃO

“Produção emblemática de tal contexto, o livro de artista é a coisificação maior do livro enquanto médium de arte.”

(Sérgio Cabral Bento)

Artistas consagrados, e inéditos, internacionais e nacionais, produzem livros como obras de arte. Muitos deles o fazem, para disseminar os seus trabalhos a um público estranho ao âmbito da arte. Lygia Clark (1920-1988), artista brasileira do movimento concretista do século 20, foi uma das mestras da arte nacional que trabalhou com esse gênero. Outros artistas nacionais importantes para o gênero foram Ligia Pape, Waldemir Dias-Pino, Rosangela Rennó, Almandrade, Ana Maria Maiolino, Waltercio Caldas, e etc. Internacionalmente podemos mencionar Dieter Roth, Ed Ruscha, Lawrence Weiner, Andy Warhol, entre outros.

FIGURA 1: Livro obra, Lygia Clark (1983).

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Livros de artista são na maior parte das vezes colecionados em bibliotecas de arte e tendem a ser uma problemática para bibliotecários ao redor do mundo, primeiramente, e essencialmente, porque não é possível definir e delimitar o que essas obras constituem. Para ser possível que um bibliotecário seja responsável por uma coleção de livro de artista, esse precisa familiarizar-se com essas obras e entender que apesar de ser praticamente impossível a delimitação do conceito livro de artista, é bastante plausível que uma biblioteca, e o seu bibliotecário, tenham manuais e normas internas para a identificação, catalogação, acondicionamento e manuseio desses trabalhos singulares.

Neste trabalho usaremos as definições de Clive Phillpot (2013), pesquisador e antigo bibliotecário e diretor da biblioteca do Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York, para apresentarmos o conceito livro de artista. Phillpot possui uma mestria e experiência no tema e já publicou diversos artigos sobre o mesmo nos últimos trinta anos.

É importante apresentarmos um autor específico, tendo em vista as dificuldades de delimitar o objeto, para que assim o trabalho tenha um objetivo que seja claro para os leitores. Ademais, Phillpot diferencia os diversos termos usados na descrição de livros de artista, como “livres d’artistes”, “artists books”, “bookworks”e “book objects”. Esses termos são importantes para este trabalho já que, na maior parte das coleções de livros de artista de bibliotecas, estes são os termos usados na indexação de assuntos da obra.

De acordo com Phillpot o termo “artists books” ou livros de artista era usado como sinônimo para a tradução do termo “livres d’artistes”, no entanto esse último é usado para identificar livros de luxo, ilustrados por artistas renomados. Trata-se de edições de luxo, numeradas e assinadas pelos artistas, e aqui já encontramos um problema na definição do objeto, pois muitas instituições consideram hoje este tipo de obra um livro de artista, apesar de Phillpot fazer essa diferenciação.

De acordo com Phillpot, existe:

[...] uma distinção entre livros de artistas, livros e livretos de autoria de artistas, e livros-obra, que são obras de arte em forma de livro. Livros de artistas são distintos pelo fato deles estarem provocativamente na junção onde a arte, a documentação e a

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literatura se encontram em uma só. (PHILLPOT, 2013, p.185, tradução nossa).

Paulo Silveira ajuda-nos a fazer essa delimitação acerca do objeto “livro de artista” ao ressaltar que:

O livro de artista stricto sensu pode ser tanto uma obra complexa como singela na sua produção formal. Mas sua fabricação será sempre finalizada com participação intensa da razão, tendo estrutura amparada por algum grau ou tipo de desenvolvimento narrativo. […] Um envolvimento tão intenso do processo no seu resultado parece induzir à proposição: o livro de artista seria uma obra em que as expressões da narrativa se apresentariam numa condição de múltipla existência, ou seja, de existência em planos além do esperado. (SILVEIRA, 2008, p. 12).

Já Julio Plaza aproxima o livro de artista do conceito de obra múltipla, também explorado por Phillpot, visto que para o autor esse tipo de obra preocupa-se tanto com o conteúdo quanto com a forma, preocupações que não existem na criação do livro tradicional.

O “livro de artista” é criado como um objeto de design, visto que o autor se preocupa tanto com o “conteúdo” quanto com a forma e faz desta uma forma-significante. Enquanto o autor de textos tem uma atitude passiva em relação ao livro, o artista de livros tem uma atitude ativa, já que ele é responsável pelo processo total de produção, porque não cria dicotomia “continente-conteúdo”, “significante-significado”. (PLAZA, 1982, não paginado).

Da mesma forma, não podemos entender os livros de artista como livros de arte, ou catálogos de arte. A melhor maneira de diferenciar os dois, conforme Phillpot (2013, p. 48-49, tradução nossa), é entender o livro de artista como livros nos quais “[...] o artista assumi papel de autor, seja no sentido literário tradicional, ou no sentido em que o artista é o autor do livro como obra de arte.” Ou seja, o livro de artista não é somente um espaço para escrever sobre artistas ou apresentar suas obras via imagens, o livro de artista é por essência a obra de arte.

A partir desse contexto, temos a percepção de que estas obras são excepcionais seja pela sua idealização, forma física ou pela intenção do artista ao conceder este trabalho. presente trabalho procura, a partir desta constatação, apresentar porque essas características incomuns devem estar presentes na representação descritiva e temática realizadas pelas bibliotecas que guardam e preservam essas obras, para que os pesquisadores e curiosos desse assunto

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consigam recuperar essas peculiaridades, que tornam os livros de artista tão especiais. Assim como investigar as práticas e modelos de acondicionamento utilizados para esses trabalhos.

Phillpot (2013, p. 50-55) aponta como deve ser feita a seleção e aquisição, organização, acondicionamento e preservação, e exploração dessas obras no seu ponto de vista, e são essas questões que abordaremos nesse trabalho.

A discussão sobre o tratamento de livros de artistas em bibliotecas não é algo que seja discutido nacionalmente, apesar de algumas instituições, como o Museu de Arte do Rio (MAR) e a Biblioteca da Escola de Belas Artes (EBA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), já estarem pesquisando sobre o tema visando o desenvolvimento de uma política para as suas coleções.

A partir dessas pesquisas foi formada a primeira coleção de livros de artista de uma biblioteca pública do país. A catalogação dessa coleção foi feita por bibliotecárias com a ajuda do professor Amir Britto, o qual foi decisivo também na identificação das obras. Foi percebido na época as dificuldades que podem surgir na representação da informação de obras dessa natureza.

Durante o processo de catalogação, em muitos livros, tais informações não constavam em obras de referência, nem em sites comerciais, nem em outras bibliotecas nacionais e internacionais, nem em folhetos. Poucas vezes, encontram as informações em blogs de artistas e editores independentes. Evidenciamos que nem sempre haviam informações para descrição do livro de artista nas estruturas textuais e paratextuais que compõem um livro tradicional. (ARAUJO; SANTOS, 2014, p. 12).

Conforme afirma Phillpot (2013, p. 53, tradução nossa), “livros de artista apresentam alguns problemas na catalogação.” Para o autor esse tipo de obra pode conter poucos detalhes sobre a publicação, além dos problemas mais claros de identificação se o livro em mãos é, ou não, livro de artista. Phillpot aponta que ele não compreende muitos problemas na catalogação dessa espécie, porém é preciso registrar que ele sendo o antigo diretor bibliotecário do MoMA, sugeriu que a catalogação dessa instituição tendesse, na maior parte das vezes, a ser simplificada.

Outros autores, no entanto, entendem que a catalogação de livros de artista por bibliotecários, precisa ser melhor estudada e fundamentada. Assim sendo, Maria

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White, Patrick Perratt e Liz Lawes publicaram em 2012, o “Artist’s Books: a cataloguers’ manual”, um manual que por meio de exemplos, demonstra a catalogação que os autores consideram ideal para essas obras de arte, conceituados livros de artista.

Livros de artista são colecionados por muitas bibliotecas e coleções ao redor do mundo. Eles são um gênero complexo, com grande potencial para criar dificuldades em muitas áreas: definição, acondicionamento e preservação, para indicar alguns. Eles podem ser considerados obras de arte por direito próprio, porem são comumente encontrados em coleções de bibliotecas e são documentados de acordo com este contexto. (WHITE; PERRATT; LAWES, 2012, p. vii, tradução nossa).

Fica claro na leitura da bibliografia que o maior problema para os profissionais na informação, frente a coleções de livros de artista, é a definição desse tipo de obra. No entanto, a maior parte dos pesquisadores do tema concorda que definir o que é um livro de artista seria quase que irresponsável, haja vista que ao fazê-lo delimitaríamos a sua matriz, e em consequência, excluiríamos muitas obras que são sim livros de artista.

Bibliotecários têm receio de tentar definir livros de artista. Eles sentem que o termo será sempre indefinido, porque liquidaria a essência do termo ao fixá-lo. No medo que eles excluiriam uma obra critica, eles preferem ser totalmente inclusivos, mas restrições orçamentarias evitam a inclusão abrangente. (STOVER, 2005, p. 11, tradução nossa).

Após identificar a singularidade das obras conhecidas como livro de artista a partir da experiência de um estágio, no qual foi necessário a identificação, catalogação, indexação e acondicionamento destes trabalhos, foi reconhecido que devido as suas características incomuns seriam necessários cuidados peculiares no tratamento e acondicionamento dessas obras. Nessa direção foram pensadas as seguintes questões: Como é feita a catalogação desse acervo em bibliotecas de museus? Como as bibliotecas vêm usando as normas do Código de catalogação AACR2r na descrição dos livros de artista. Quais são os termos de indexação mais adequados na representação temática do livro de artista? Como deve ser feita o acondicionamento do livro de artista, visando a sua preservação?

Os objetivos gerais são: a) Conhecer as especificidades que cercam o conceito de livro de artista; b) Elencar elementos essenciais na catalogação deste

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tipo de documento; c) Avaliar como deve ser feita a indexação de um livro de artista; d) Investigar as melhores formas de acondicionamento e manuseio dessas obras, visando a sua preservação.

Para atingi-los foram traçados os seguintes objetivos específicos: a) Estabelecer o que diferencia um livro de artista de um livro de arte, tendo em vista as características especiais que devem estar presentes na catalogação, indexação e acondicionamento dessas obras; b) Comparar como duas bibliotecas de museus, uma internacional e outra nacional, descrevem, representam e organizam suas coleções de livros de artista; c) Apontar as áreas de catalogação mais utilizadas na descrição de livros de artista.

A presente pesquisa se justifica, haja vista que as coleções de livros de artista são geralmente formadas por obras com características especificas e diferenciadas, fato que exemplifica a necessidade de acréscimos singulares ao tratamento e organização dessas obras em bibliotecas. O tratamento desse acervo deve ser pensado e estruturado para que seja possível a recuperação de toda informação que um livro de artista possui, já que estes são na maioria das vezes exemplares únicos de artistas célebres e renomados, o que torna uma coleção de livro de artista preciosa para a cultura e o conhecimento. Além de ser imprescendível que a sua organização seja realizada visando a sua preservação. Em vista do exposto, o presente trabalho procura identificar como deve ser feita a catalogação, a indexação, e o acondicionamento dessas obras, a partir de um exemplo nacional, a coleção do MAR, e internacional, do MoMA.

A intenção deste estudo é apresentar que o livro de artista é uma obra de arte e um livro ao mesmo tempo, e possui diversos conceitos publicados por pesquisadores da área. E, assim sendo, exemplificar que bibliotecas colecionadoras dessas obras precisam compreender a particularidade do livro de artista e estruturar práticas e normas de representação descritiva e temática, acondicionamento e preservação adequadas a esse gênero.

Quanto ao referencial teórico, trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo exploratória. Segundo Cervo, Bervian e Da Silva (2007, p. 63) entendemos a pesquisa exploratória como aquela que “[...] é normalmente o passo inicial no

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processo de pesquisa pela experiência e um auxilio que traz a formulação de hipóteses significativas para posteriores pesquisas. ” Os autores acrescentam que a pesquisa exploratória “[...] não requer a elaboração de hipóteses a serem testadas no trabalho, restringindo-se a definir objetivos e buscar mais informações sobre determinado assunto de estudo.” Desse modo, a pesquisa exploratória consiste no conhecimento do objeto, no entendimento do assunto para perceber-se novas ideias.

Para completar a investigação será feito um trabalho de campo, de modo a identificarmos como as bibliotecas de museus vêm tratando os livros de artista, para que possamos identificar os elementos essenciais para descrição representativa e temática deste tipo de obra, caracterizada como singular cujo conceito de documento transita entre o objeto bibliográfico o museológico, e o seu acondicionamento e preservação.

A ida a campo objetivou identificar como é feito o tratamento técnico, o acondicionamento e preservação dessas obras em instituições museológicas célebres que possuem bibliotecas com coleções de livro de artista. Conhecer as diretrizes que essas adotam para catalogar, indexar e acondicionar essas obras, e as distinções que estabelecem para diferenciar estas coleções e outras coleções especiais.

Dentre as bibliotecas de museus escolhidas para a realização de estudos de caso comparado escolhemos no Brasil a biblioteca do Museu de Arte do Rio (MAR) e no âmbito internacional tomaremos como referência a biblioteca do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA).

De acordo com Cervo, Bervian e Da Silva (2007, p. 61) “estudo de caso é a pesquisa sobre determinado individuo, família, grupo ou comunidade que seja representativo de seu universo, para examinar aspectos variados de sua vida.” Ou seja, as instituições escolhidas representam experiências pertinentes a essa pesquisa exploratória.

No que diz respeito à organização, este trabalho inicia-se com uma breve explicação do conceito de documento para o museu e uma introdução do conceito livro de artista, tendo em vista o desconhecimento dos profissionais bibliotecários

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sobre tais obras. É entendido que para que seja possível um bibliotecário trabalhar com uma coleção dessa categoria, esse precisa conhecer um pouco da história desse gênero. Evidente que a ideia deste trabalho não é de definir o livro de artista, o que são e de onde vieram. Pela sua pluralidade de características, conceitos e concepções, é uma tarefa quase impossível encaixar essas obras em uma única definição e a partir dessa dar um prosseguimento ao trabalho de desenvolvimento de coleções, tratamento técnico e acondicionamento.

A partir então da contextualização do conceito, podemos começar a identificar como deve ser feita a catalogação, a indexação e o acondicionamento, e em consequência a preservação, dessas obras. Portanto, o trabalho tenta apontar os maiores problemas que um bibliotecário pode encontrar quando se depara com um livro de artista. E como bibliotecas notáveis com coleções do gênero, tratam e acondicionam os livros de artista.

Finalmente são apresentados dois exemplos de coleções de livro de artista em bibliotecas de modo a conhecermos como cada uma dessas instituições (o MoMA e o MAR) descreve o conteúdo informacional dessas obras e as organiza.

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2. O CONCEITO DE DOCUMENTO: PARA A BIBLIOTECA E O MUSEU

“Livros são o melhor médium para muitos artistas trabalhando hoje.”

(Sol Lewitt, tradução nossa)

O capítulo adiante tem como objetivo conceituar o que é documento para o museu, e o que é documento para a biblioteca, para depois ser apresentado algumas conceituações possíveis para livro de artista.

Haja vista a caraterização mista do livro de artista, o qual é tanto livro como obra de arte, será exemplificado o que a disciplina da museologia entende como documento, e as distinções entre esse conceito com os conceitos da biblioteconomia.

Em seguida serão apresentados alguns conceitos para a definição de livro de artista, assim como alguns termos utilizados para distingui-los pelos seus formatos e/ou concepções.

2.1 A OBRA DE ARTE COMO DOCUMENTO

Para entendermos o conceito de livro de artista primeiramente vamos apontar a conceituação da obra de arte como documento, haja vista a conexão clara entre os dois conceitos. Paul Otlet (1937, não paginado) entende o conceito de documento como: “[…]o livro, a revista, o jornal; a peça de arquivo, a estampa, a fotografia, a medalha, a música; é, também, atualmente, o filme, o disco e toda a parte documental que precede ou sucede a emissão radiofônica.” (OTLET, 1937, não paginado).

Para Otlet o documento não é um conceito restrito ao um âmbito só, ele está presente em diversas áreas, como a museologia que trabalha com os objetos de arte. Para dar conta dessa diversidade cria-se uma nova ciência: a Documentação.

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Em suma, a Documentação propôs extrapolar a dimensão do suporte em direção à informação contida nos variados documentos localizados em diferentes instituições. Dessa forma, os documentos abrem caminho para a formação da memória da humanidade, independente dos formatos e suportes em que são registrados pelo homem. Esse entendimento aponta para a multiplicidade de suportes e cria os contornos de totalidade e universalidade propostos por Otlet. (TANUS; RENAU; ARAUJO, 2012, p. 160).

Mário Chagas (1994, p. 34) aponta que o documento pode ser compreendido como “[...] aquilo que pode ser utilizado para ensinar alguma coisa ou alguém”, ou como “[...] suporte de informações [...]”, e exemplifica que esse também está relacionado com o conceito de memória.

O conceito de documento nos leva também ao conceito de MEMÓRIA. Para que possamos pensar o documento como "aquilo que ensina" ou "como suporte de informação", não podemos abrir mão da memória. Não há aprendizagem e não há informação sem a presença da memória. (CHAGAS, 1994, p. 37).

Autores como Chagas (1994), entendem que a memória é uma caracteristica imprescendível para o objeto, o documento, museológico, tendo em vista que alguns deles não nascem como objeto de museu. Uma moeda, objeto muito presente em coleções museológicas, não foi criada com o intuito artístico, mas com o contexto histórico que possui ela é considerada como tal.

A memória também é imprescindível para pensarmos a discussão de monumento, conceito muito utilizado na museologia, o qual entende o documento como uma herança do passado que se configuram em monumentos. “Considera-se, dessa forma, os objetos de museus, como vestígios da cultura material, os quais servem igualmente para a (re)constituição de uma memória coletiva.” (TANUS; RENAU; ARAUJO, 2012, p. 169).

Gabrielle Tanus, Leonardo Renau e Carlos Araújo, (2012, p. 170) após identificarem que o conceito de documento é interdisciplinar para as áreas de Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia, apresentaram um quadro que ilustra o que cada área entende como documento, porém apontam que essa observação não é definitiva.

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QUADRO 1: Noção de documentos nas três áreas.

Problema

Biblioteconomia Arquivologia Museologia

Análise da literatura científica

Comprovação da origem Sentido histórico e estético Método Ênfase no conteúdo/assunto Ênfase na autenticidade/função Ênfase no objeto/informações intrínsecas e extrínsecas Desenvolvimento Técnico-científico Jurídico-administrativo Artístico-cultural Fonte: (TANUS; RENAU; ARAUJO, 2012, p. 170).

Neste quadro fica claro que a museologia possui um problema, um método e uma linha de desenvolvimento distinta da biblioteconomia, o que torna o trabalho do bibliotecário com o livro de artista único. Um livro de artista é um documento bibliográfico e museológico simultaneamente, à vista disso a necessidade de ter uma forma específica para tratar e organizar em bibliotecas essas obras.

2.2 LIVROS DE ARTISTA COMO OBRA DE ARTE: APROXIMAÇÕES CONCEITUAIS

Como já indicamos na introdução, a maior dificuldade que um bibliotecário pode encontrar quando trabalha com livros de artista é primeiramente a definição do que estas obras podem ser, já que o formato que elas têm e o conteúdo que possuem são singulares. No entanto, é preciso compreender que estamos lidando com obras de arte e não literárias, e no espaço artístico tudo pode ser contestado, mexido ou mudado, especialmente na arte contemporânea, período atual que foi de extrema importância no desenvolvimento do conceito “livro de artista”.

Bernadette Panek (2005, p. 1) exemplifica que livros de artista foram concebidos, em sua grande maioria, para representar o rompimento da arte com o seu espaço tradicional, como museus e galerias. Esse rompimento da arte contemporânea, que aconteceu no começo da década de sessenta, tinha como propósito difundir a arte em novos espaços que não fossem tão particulares, e tendo

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em vista a grande disseminação de informação que um livro propicia, o livro de artista tornou-se um meio de comunicação entre o artista e o público que esse quer atingir.

Os anos 60 e 70 assinalam a preocupação do meio artístico em relação aos locais tradicionais de exposição – museus, salões e galerias. Vários questionamentos a essas instituições e respectivas super estruturas são levantadas. O interesse do artista em sair do espaço institucionalizado leva-o a pensar no espaço “além do cubo branco”. Ele irá buscar esse espaço em outros locais como o das publicações eventuais ou periódicas, e principalmente, no livro de artista. O livro vai desempenhar o papel de lugar que substitui as paredes da galeria, como espaço de “apresentação pública” e disseminador de arte para um público mais abrangente (PANEK, 2005, p. 1).

Como vimos na introdução desta pesquisa, há diferentes definições sobre livro de artista, mas a predominante é aquela que o define como uma obra de arte, surgida na segunda metade do século 20 como expressãode:

“[...] um tipo de produção que hibridizava as funções de leitura e visualização do livro tradicional, e transgredia seu emprego de suporte de escrita para transformar-se, per se, em uma obra de arte.” (BENTO, 2005, não paginado).

Nesse conjunto de expressões, num primeiro momento, estavam:

Livros de luxo em edições limitadas; Livros ilustrados por pintores/as; Ilustrações; Livros de Fotografia; Livros de Historia da Arte com reproduções de obras; Livros de Design; Livros sobre Tipografia e Diagramação; Livros sobre técnicas de fabricação de materiais; Livros sobre encadernação; e toda a chamada ‘arte do livro’ estará presente no bojo daquilo que consideramos como sendo o contexto do Livro de Artista. (LUNA, 2012, p. 580).

Do ponto de vista estético, a proposta era, através das intermitentes páginas da arte provocar e:

[...] romper fronteiras e dessacralizar o próprio estatuto da obra de

arte, estetiza o objeto livro desconstruindo o corpo físico e imaginário

para além dele, agora no campo da arte, funda-se no jogo da

decifração e significação, de metáforas. (HOLZ, 2005, p. 16).

Phillpot, em um de seus artigos tentou apresentar os vários tipos de livros de artista pelo seu gênero de documento, e não pelas suas características visuais e físicas, ou do seu processo de impressão, como de costume.

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Ao invés de discutir os livros em termos de, digamos as suas costuras ou processos de impressão, nós podemos usar a prisma de gênero para diferenciar algumas das grandes variedades de livros de artista. Dentro das grandes categorias desse espectro estão: edições de revistas e magazineworks, assemblings e antologias; escritos, diários, declarações, manifestos; poesia visual e wordworks; partituras; documentação; reproduções e sketchbooks; álbuns e inventários; obras gráficas; comic books; livros ilustrados; page art,

pageworks, e arte postal; e livro arte e livro-obra. (PHILLPOT, 2013,

p. 193-194, tradução nossa)1.

No entanto essas dificuldades de definição não comprometem a importância da disseminação dessas obras, que possuem informações de valor inquestionável. Apesar de diferentes das obras raras, elas são tão relevantes quantas essas, seja para os pesquisadores das artes como para os leigos. Assim sendo, é necessário a preparação dos espaços das bibliotecas para que coleções de livros de artista sejam devidamente armazenadas e suas informações catalogadas. A biblioteca de artes da UFMG, por exemplo, criou diversas políticas de acervo, para que as singularidades dessas obras sejam respeitadas.

Clive Phillpot (2013, p. 148), responsável pela a coleção de livro de artista do MoMA e precursor dos estudos da ciência da informação junto a essas obras, também pesquisa as diferenças entre um livro de artista e um livro raro. Essas diferenças podem ser determinantes quando pensarmos todo o tratamento técnico dessas obras. Em 1982, Phillpot apresentou um diagrama feito por ele mesmo, que demonstra o âmbito do tema representado:

                                                                                                                         

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FIGURA 2: O Livro de artista – Esquema Clive Phillpot.

Fonte: (PHILLPOT, 2013, p. 148).

Este diagrama é muito representativo para entendermos o livro de artista no campo documental. Phillpot (2013, p. 148) aponta que existem três áreas que envolvem a temática. A primeira, a maça da ilustração, representa a arte visual; a segunda a pera, representa o livro literário, e na interseção das duas temos a lima, a qual simboliza os livros de artista. Quando juntas, as três frutas retratam o universo desse campo empírico, ilustrando que livros de artista podem ser livros literários, livros-obra e livros objeto, além de poderem ser obras com múltiplos exemplares ou obras únicas2. Tendo em vista este contexto, Phillpot define que prefere trabalhar com os livros múltiplos.

Eu vou fazer só mais um comentário sobre esse diagrama no momento. Ele é dividido horizontalmente em obras ‘únicas’ e ‘múltiplas’. Eu vou direcionar a maior parte da minha atenção para os livros-obras múltiplos, já que obras únicas normalmente encarnam uma negação do potencial de replicabilidade de conteúdo e valor comunicativo inerente do livro impresso. (PHILLPOT, 2013, p. 149, tradução nossa).

                                                                                                                         

2  O conceito de obra múltipla para Phillpot, se relaciona tanto ao aspecto físico da obra (número de exemplares) quanto ao aspecto estético. Ou seja, esteticamente é múltipla uma obra que apresenta aspectos da arte visual e de livro literário, simultaneamente. Nessa categoria estão os livros-objeto, geralmente obras únicas, que no MoMA, são acondicionadas separadamente da coleção de livros de

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Silveira (2008, p. 58-59) também aponta a significância da produção múltipla: “O livro de artista, no sentido restrito do termo, é um produto quase sempre múltiplo e que põe em ação o gesto artístico de publicar. Como tal, não abre mão de atingir seu público onde ele estiver. Ele agrega à arte o conceito de mídia.”

A partir do diagrama fica claro que para, Clive Phillpot, existem três termos normalmente usados para a compreensão de livros de artista, “artists books”, “book art” e “book objects”. No Brasil chamamos esses de livro de artista, livro-obra, e livro objeto. Os “livres d’artistes”, apesar de algumas instituições os considerarem livros de artista, neste trabalho não o serão. Pois como já foi apontado, de acordo com Phillpot, estas são obras separadas da caracterização do livro de artista.

Podemos identificar que apesar de os autores e pesquisadores na área terem receio em conceituar o livro de artista com um limite, a maior parte deles entendem que existem diversos tipos de livros de artista e isso determina que o conceito precisa ser amplo o suficiente para abordar todos eles. Phillpot apresenta nos seus artigos que os livros múltiplos são mais favoráveis a concepção dessas obras, mas não deixa de reconhecer os livros objetos e livros-obra que costumam ser exemplares únicos. Mesmo que esses dois tenham uma tipificação mais de obras de arte do que de livros, são colecionados por bibliotecas de arte como livros de artista ao redor do mundo.

No livro-objeto, não há a preocupação com os padrões de forma e encadernação de um livro comum, e nem com um público em específico. Por isso mesmo, ele parece mais um objeto de percepção do que com um livro de leitura, pois possui uma característica fortemente plástica, indo além dos padrões de uma narrativa literária. Para isso, explora não apenas o sentido da visão, na leitura linear do início ao fim da página, como também o prazer proporcionado pelo estímulo dos outros sentidos: tato, olfato, audição e paladar. No livro-objeto, o leitor passa a ser um articulador, um ser manipulador e co-autor da obra, pois ele pode dialogar e interferir, modificando e experimentando. Além disso, não existe começo, meio e fim na narrativa, podendo-se começar e terminar de "ler" o livro-objeto aleatoriamente, como em um livro de poesias. (AMANTINI; UENO; CASTRO; SILVA, 2007, não paginado).

O movimento neoconcreto brasileiro, (Amantini; Ueno; Castro; Silva, 2007, não paginado), partilhou dos livros-objetos durante as décadas de cinquenta e sessenta. A artista Lygia Pape produziu diversas obras dessa espécie, como o Livro da Arquitetura, Livro da Criação e Livros-Poema (1959-1960).

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FIGURA 3: Livro da Arquitetura, Lígia Pape (1959-1960).

Fonte: Pape, Lygia. In: http://www.lygiapape.org.br/pt/obra50.php?i=15.

Aqui também podemos mencionar as obras do coletivo Fluxus que produziu objetos os quais em nada lembram livros, mas que por algum motivo especial são considerados livros de artista.

Fluxus foi um coletivo de artistas de âmbito internacional formado por poetas, compositores e designers na década de sessenta com o pretexto de, segundo um de seus integrantes, o artista George Maciunas, “fundir os quadros de revolucionários culturais, sociais e políticas em [uma] frente e ação unida.”3 (MACIUNAS, 1963, p. 1, tradução nossa).

O coletivo Fluxus foi um dos precursores mais importantes do livro de artista, visto que com a aspiração de difundir e expandir a arte o grupo promoveu concertos e festivais, e criou uma editora na qual publicavam os conhecidos Fluxus Year Box. A intenção do grupo, conforme Panek (2005, p. 1) era romper com as barreiras dos museus e galerias para revelar a sua arte. As obras do Fluxus são sempre consideradas livros de artista, não pela sua forma, mas pela sua intenção.

                                                                                                                         

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Não poderíamos falar de Fluxus sem falar das publicações que lhe deram renome e a forma de distribuição desse material publicado. Várias das primeiras edições Fluxus, como WaterYam (1963), de George Brecht, constavam de textos e partituras impressos em cartões individuais, colocados em caixas, ao invés de encadernados em formato de publicações mais tradicionais. (PANEK, 2005, p. 6).

FIGURA 4: Flux Year Box 2, Coletivo Fluxus (1965-1968).

Fonte: MoMA. In:

https://www.moma.org/interactives/exhibitions/2011/fluxus_editions/index.html.

Tendo em vista todas as possibilidades das obras conceituadas livro de artista, é imprescindível que bibliotecas que possuem coleções dessa espécie, tenham bibliotecários que entendam que elas possuem características singulares e percebam que é fundamental formar normas e procedimentos específicos para o seu tratamento e organização. Seja enquanto catalogação, indexação de assuntos ou acondicionamento.

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3. TRATAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM ARTES

“Esses livros são meus filhos.”

(Ed Ruscha, tradução nossa)

Neste capítulo será exemplificado como podem ser feitas as práticas de representação descritiva, indexação, e acondicionamento dos livros de artista, a partir das técnicas utilizadas pela a museologia com obras de arte. Em cada parte, será primeiramente explicado os conceitos devidos, para em seguida poder ser apontada as melhores formas de executar tais práticas frente a coleções de livro de artista.

Além de explicar cada atividade, o objetivo dessa seção é demonstrar o porque de uma coleção de livro de artista precisar de ponderação nas realizações dessas atividades, tendo em vista as suas características especiais e muitas vezes específicas a esse gênero.

3.1 REPRESENTAÇÃO DESCRITIVA EM ARTES

Além da dificuldade de identificação do que são livros de artista, precisamos entender que essas obras possuem todos os tipos de formato, conteúdo e material, e que muitas vezes são compostas de configurações mais semelhantes às obras de arte do que a livros. Por isso,

Livros de artista apresentam dificuldades particulares para o catalogador de coleções especiais, o qual está inicialmente treinado na catalogação de obras raras, e não na catalogação de obras de arte. Mesmo que a descrição de obras raras, que possui uma ênfase no livro como objeto, o prepare um pouco para lidar com livros de artista, livros de artista apresentam um número de termos e técnicas que não são vistas nas obras raras. (MYERS A.; MYERS W., 2014, p. 56, tradução nossa).

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[...] o estudo, a preparação e a organização de mensagens, com base em registros do conhecimento, reais ou ciberespaciais, existentes ou passiveis de inclusão em um ou vários acervos, visando a criar conteúdos comunicativos que permitam a interseção entre as mensagens contidas nestes registros do conhecimento e as mensagens internas dos usuários. (MEY; SILVEIRA, 2010, p. 126). O objetivo da catalogação é que o registro descrito através de instrumentos de pesquisa, os quais são resultados da catalogação, seja recuperado pelo usuário que o procura. Assim sendo existem códigos de catalogação que são formados a partir da “conveniência do usuário”. (MEY; SILVEIRA, 2010, p. 126).

Consequentemente, vê-se o catálogo, produto da catalogação, como meio comunicativo para interação entre criador, usuário e documento, em seu sentido amplo. Pode-se afirmar que o criador (autor, artista, ou qualquer outro responsável pelo conteúdo intelectual de uma obra) espera que o fruto de seu trabalho seja conhecido ou descoberto por um usuário (MEY; SILVEIRA, 2010, p. 127).

A catalogação faz uso de uma linguagem específica, catalográfica, a qual “[...] possui semântica e sintaxe próprias [...]” (MEY; SILVEIRA, 2010, p. 128), que tencionando a normatização da técnica é internacional.

Mey e Silveira (2010, p. 129) também ressaltam que na construção de um catálogo, é necessário um estudo sobre o público que esse catálogo irá atender. Aqui podemos prever que o público de uma coleção de livro de artista muito provavelmente terá uma necessidade informacional diferente de outros tipos de usuários, e que para um profissional acostumado a trabalhar com a catalogação bibliográfica usual, é necessário alguns acréscimos na descrição dessas obras que muitas vezes convergem com a documentação museológica, hajam vista as suas características de obras de arte.

Por razões históricas, e outras circunstanciais, entende-se a documentação de museus como uma série de procedimentos técnicos para salvaguardar e gerenciar as coleções sob guarda dos museus. Há concepções metodológicas que envolvem a documentação de museus e subordinam-se a duas perspectivas que respondem por duas formas de gestão da informação que são distintas entre si. São elas a perspectiva tecnicista, bastante apoiada na abordagem norte-americana, e a reflexiva, mais interpretativa, cunhada por europeus. (CERAVOLO; TÁLAMO, 2000, apud CERAVOLO; TÁLAMO, 2007, não paginado).

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não paginado) “para a concepção tecnicista, a função primordial da documentação é responder as organizações mantenedoras”, ou seja, o usuário para essa concepção é a própria instituição. Já para a concepção reflexiva a documentação museológica é pensada também para os usuários externos ao museu, assim como sua biblioteca. Para essa última o museu faz uso dos instrumentos de pesquisa baseados nos processos biblioteconômicos.

Tais procedimentos também são seguidos por Dina Marques Pereira Araujo e Magna Lucia dos Santos, bibliotecárias da UFMG, responsáveis pela coleção de livro de artista da instituição, e foram relatados no trabalho “Coleção Livro de Artista da Universidade Federal de Minas Gerais: processos biblioteconômicos em um acervo especial”, apresentado no XVIII Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias (SNBU) em 2014. De acordo com as autoras, os processos biblioteconômicos utilizados na formação da coleção foram separados nas seguintes categorias (2014, p. 6-7):

• Aquisição: critérios de seleção, doações, carta-convites, compra; • Inventario;

• Conservação;

a) Higienização (quando necessário); b) Acondicionamento;

c) Definição de localização na estante por tipologia de material, formato e dimensões do livro;

d) Definições das modalidades de consulta (suporte de leitura, controle de obras).

• Catalogação.

Ceravolo e Tálamo (2007, não paginado) apontam que os objetos de museu muitas vezes não possuem distinção entre suporte e conteúdo da obra “[...] já que o próprio suporte se constitui, por vezes, em parte do conteúdo.” Os livros de artista possuem essa característica na sua essência, haja vista o objeto ser uma obra de arte e livro ao mesmo tempo, e terem como informação primordial a sua forma física e o seu conteúdo.

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Para atender esse dilema a documentação museológica propõe o conceito de matriz da informação. Nela tanto os traços físicos quanto os de conteúdo são considerados de modo que “[...] os traços dos diferentes planos estejam associados para que se possa conduzir a análise. Sendo assim, a análise de um objeto/suporte é simultaneamente uma análise dessa matriz de informação.” (CERAVOLO; TÁLAMO, 2007, não paginado).

Tendo em vista as características do livro de artista, que muito se assemelham aos objetos museológicos, a problemática é percebida na catalogação dessas obras, no momento em que um trabalho não apresenta um formato de códex, ou não possui título, local, editora, data de publicação, ou simplesmente não apresentam qualquer informação ou marcas significativas.

Livros de artista também não são identificados por esse nome no Código de Catalogação Anglo Americano (AACR2), e nem no Resource Description and Access (RDA). Porém pode-se utilizar o capítulo dez do código, o qual apresenta as normas para catalogação descritiva de artefatos tridimensionais e realia.

Timothy Shipe (1991) exemplifica o dilema de livro versus obra de arte e ainda discorre sobre a necessidade ou não de uma documentação museológica dessas obras.

A pergunta é: deve a descrição de uma obra em um catálogo de biblioteca ser tão completo quanto uma descrição museológica? Lembre que é diferentemente de um visitante de um museu, um usuário de bibliotecas vai provavelmente encontrar uma obra pela sua descrição no catálogo. Existe um perigo que uma descrição física muito completa de um livro de artista possa reduzir o impacto estético e artístico inicial para o usuário? (SHIPE, 1991, p. 24, tradução nossa).

Muitos autores apontam que pesquisadores e usuários de coleções de livros de artista, estão à procura de materiais específicos ou formatos e designs diferentes, o que nos faz retomar ao estudo de usuário, conforme apontaram Mey e Silveira (2010, p. 129). Esse fato é especialmente verdade em bibliotecas universitárias que são depositarias dessas obras que podem ser produzidas por alunos de artes, produção cultural, entre outros cursos. Stover (2005, p. 19) aponta que docentes pedem aos seus alunos que criem livros de artista como parte das suas metodologias de avaliação, e esses precisam produzir obras com alguma

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característica singular. Assim sendo, é interessante as características físicas do livro serem representadas na catalogação, para que essas informações possam ser recuperadas. Ressaltamos também que curadores de museus e galerias costumam pesquisar o livro de artista da mesma forma, já que esses estão acostumados em evidenciar formatos, imagens e materiais e não conteúdos.

Esse contexto torna a catalogação física do livro de artista, ou, a documentação do suporte como denomina a museologia, de extrema importância, apesar de bibliotecários estarem acostumados a analisar mais detalhadamente o conteúdo das obras. Alguns autores, como Ann K.D. Myers e William Andrew Myers (2014), atentam que a catalogação do aspecto físico dessas obras deve ser realizada na área de notas. Ressaltam que, os catalogadores precisam ser flexíveis ao aplicar as normas de catalogação na descrição de material gráfico e relia, pois a natureza visual e física das obras de arte, incluindo aqui os livros de artista, “[...] não combina com uma descrição estritamente bibliográfica, e catalogadores devem contar com as notas para descrever as características visuais e físicas do item.” (MYERS A.; MYERS W., 2014, p. 57, tradução nossa).

O manual “Artist’s Books: a cataloguers’ manual”, de Maria White, Patrick Perratt e Liz Lawes (2012, p. 28), também aponta o uso da área de notas para a descrição das particularidades físicas e visuais do livro de artista. O manual propõe que seja feita na área de descrição física a melhor descrição possível da forma física do item, seguindo o AACR2 e depois essas informações devem ser detalhadas nas notas.

A regra 10.5C do AACR2r, ao especificar os detalhes físicos do material recomenda que se registre os materiais de que são feitos os objetos na área de descrição física, mas caso esta informação não possa ser descrita sucintamente seja feita a especificação em notas.

Por exemplo: uma obra que seja publicada em caixa, como as obras de Fluxus, é preciso apontar essa informação na área de descrição física, porém o manual de Maria White, Patrick Perratt e Liz Lawes (2012, p. 29) ressalta que descrever mais detalhadamente a caixa na área de notas é primordial, tendo em vista que a caixa é parte integral a obra.

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QUADRO 2: Descrição física e notas - catalogação livro de artista.

Exemplo

1 v. ; em caixa de 25 x 25 x 5 cm

Nota: Caixa feita de madeira, pintada nas cores vermelha e preta, com ilustrações nas margens

Fonte: Elaborada pela própia.

O uso da área de notas é pertinente, pois muitas dessas obras vêm acompanhadas de materiais adicionais. É importante ressaltar que apesar desses materiais serem muitas vezes catalogados como peças extras, eles são partes absolutas do livro de artista. Diferentemente de um livro tradicional que pode acompanhar um cartão-postal, o qual caso se perca não afeta a integridade da obra, essas peças do livro de artista são constituintes da obra. Descrevê-las como um documento à parte compromete a intencionalidade estética do trabalho.

A regra 10.5E1 do Código aponta para fazer-se o registro de materiais adicionais seguindo as instruções da regra 1.5E, a qual aponta que esse registro pode ser feito em uma entrada separada, o que não é interessante na catalogação de livro de artista porque como já foi exemplificado, esses materiais são integrais à obra. Ou ele pode ser feito a partir de descrições em vários níveis, como explicado na regra 13.6, ou utilizando-se as notas, ou registrando os números das unidades físicas e os nomes dos materiais adicionais no final da descrição física. Esse último é o meio mais utilizado para a descrição de livro de artista.

QUADRO 3: descrição física e notas - catalogação livro de artista.

Exemplo

50 p., [10] folhas de placas : il. color. ; em caixa de 30 x 20 x 5 cm + 1 frasco + 1 pôster

Nota: Caixa feita de madeira, ilustrada nas cores azul e branco. Nota: Contem 1 frasco com terra e 1 pôster da ação realizada pelo artista.

Fonte: Elaborada pela própia.

Podemos apontar que, tendo em vista a catalogação do livro de artista, a maior necessidade é uma descrição atenta e detalhada da forma física da obra. Não

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só pela a necessidade do usuário, mas também pela representação do artista, o qual criou tal obra com aquela forma com motivação e objetivo específicos.

Finalmente, após identificar necessidades particulares da catalogação de livros de artista, podemos também verificar que devido a todo esse contexto, problemas e dificuldades surgem na normatização da catalogação internacional, já que a forma de descrição costuma variar de coleção para coleção, como aponta Michelle A. Stover. “[...] por enquanto não há padrões estipulados para bibliotecas seguirem, a formas de acesso podem variar de coleção a coleção, o que cria desafios para bibliotecários e diretores.” (STOVER, 2005, p. 17, tradução nossa).

Esse fato é mais um motivo para a criação de normas e práticas de catalogação descritivas específicas ao livro de artista, para que esse trabalho possa começar a tornar-se normatizado e mais fácil.

3.2 INDEXAÇÃO EM ARTES

F. W. Lancaster defini a indexação como:

[...] a preparação de representação do conteúdo temático dos documentos [...] o indexador descreve seu conteúdo ao empregar um ou vários termos de indexação, comumente selecionados de algum tipo de vocabulário controlado. (LANCASTER, 2004, p. 6).

Para compreendermos a indexação dos livros de artista também podemos retomar a indexação museológica para a compreensão.

A indexação de objetos museológicos tem muito haver com a indexação de material textual, mas existem muitas diferenças também, e essas apresentam alguns problemas interessantes e desafiadores. O principal é que enquanto a maioria das indexações feitas começam com um agrupado de textos, a catalogação e indexação museológica começa com um agrupado de objetos. Esses podem ter palavras, mas usualmente essas palavras precisam ser fornecidas. O catalogador precisa decidir se o objeto é um copo, ou uma taça, ou uma caneca ou simplesmente um objeto para beber. (WILL, 1993, p. 157, tradução nossa).

Quando trabalhando com o livro de artista também é claro a problemática de definição do que aquela obra representa, muitos deles não possuem textos ou

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Mesmo que tenhamos apresentado anteriormente diversos exemplos que possam ilustrar essa questão, o artista italiano Bruno Munari (1907-1998) pode representar essa problemática muito bem, haja vista que os seus livros de artista têm a intenção de serem “un-readeble”, ou seja, livros que não são possíveis a leitura. Essa intenção é tão clara nas suas obras que Munari intitulou suas obras com esse nome, e vale ressaltar que apesar das suas características de livro objeto, as obras de Munari são livros com números de exemplares publicados muito grande, uma informação importante quando pensamos a conceituação de Phillpot.

FIGURA 5: An unreadable quadrat-print, Bruno Munari (1953).

Fonte: Artists’ Books and Multiples In:

http://artistsbooksandmultiples.blogspot.com.br/2015/04/bruno-munari-unreadable-quadrat-print.html.

Como vimos, livros de artista podem possuir qualquer tipo de formato e/ou conteúdo, e por esse motivo muitos autores e instituições preferem usar da indexação de assuntos para identificar e, consequentemente, agrupar as obras produzindo por certos termos, como livro objeto e livro-obra. Isso é feito em bibliotecas estrangeiras usando o campo “655 – Index Term-Genre/Form”, do

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formato Machine Readable Cataloging4 21 (MARC 21), onde se registra como assunto forma e gênero. A biblioteca do MoMA e a Biblioteca do Congresso Americano utilizam esse campo para indexar o termo livro de artista e alguns outros termos relacionados ao género e forma da obra, assim como a Fundação Biblioteca Nacional brasileira.

Na maior parte das vezes a descrição física da obra é feita nos campos de notas, apesar da vontade de alguns bibliotecários de tornar as características da obra em pontos de acesso a partir dos assuntos.

Michelle A. Stover (2014, p. 15) aponta que haja vista a necessidade dos usuários dessas coleções, os quais pesquisam frequentemente pelos materiais ou tipos de encadernação usados na obra, é necessário registrar essas informações nos assuntos, e pensando nisso usa-se o campo 655, para fazer a indexação da forma física e dos materiais, e tornar a pesquisa mais fácil.

Mary Anne Dyer e Yuki Hibben (2011, p. 60) apontam que é ideal que a instituição crie uma listagem de todos os termos que podem ser utilizados na indexação da estrutura física da obra.

Entretanto, esse tipo descrição temática pode ser complicada de se fazer para um profissional que não é da área das artes, já que este provavelmente desconhece os termos que seriam utilizados. Stover (2014, p. 58) também reconheceu essa dificuldade ao tentar listar potenciais categorias dos formatos e materiais do livro.

Para descrever eficientemente os livros de artista, nós tivemos que nos familiarizar com a terminologias descritivas de críticos da arte para usá-las na descrição da costura, da fabricação de papel, do processo de imprensa, e a esfera conceitual de cada livro. [...] No decorrer do tratamento dos itens, algumas categorias ficaram mais claras, enquanto outras mais complexas. A grande quantidade de variedades de forma, método, e assunto, tornou quase impossível unir categoria de descrição. (STOVER, 2005, p. 19, tradução nossa). Assim sendo a maior parte das instituições indexam os itens das suas coleções com os termos mais genéricos possíveis, pois receiam fazerem atribuições                                                                                                                          

4 A Machine Readable Cataloging 21 é a vigésima primeira versão do “conjunto de códigos e

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erradas. A não ser que o termo esteja claro, ou seja, possível uma comunicação com o artista para tirar dúvidas, esse fato é muito comum na Biblioteca do MoMA porque a coleção de livro de artista da instituição é muito conhecida e renomada.

3.3 ACONDICIONAMENTO, PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO

Já determinamos que as características distintas e especiais do livro de artista, livro-obra e livro objeto, são determinantes nos aspectos da catalogação e indexação de assuntos de uma biblioteca que dispõe de uma coleção dessa espécie. Assim sendo, o armazenamento, a preservação e conservação dos livros de artista, também são diferenciadas.

Livros de artista são obras que surgem em um grande número de obras grandes demais, pequenas demais, e com formatos estranhos, o que pode causar sérios problemas para a sua segurança e proteção (como também dos livros vizinhos) se os formatos não são considerados quando armazenando-os. (HERLOCKER, 2012, p. 68, tradução nossa).

Annie Herlocker (2012, p. 68) aponta que uma coleção de objetos – como a de livro de artista – com diferenças em conteúdo e formato, mas produzida com o propósito de manuseio recorrente, deve ser acondicionada em locais com preocupações de preservação e com atenção na recuperação da informação.

Por isso, manter essas coleções acessíveis é um projeto complicado para as bibliotecas. “Se não fosse pela parte integral única de manuseio, uma coleção como essa pareceria mais apropriada para um museu ou galeria de arte.” (HERLOCKER, 2012, p. 68, tradução nossa).

Fica claro que é preciso pensar normas e práticas específicas para o acondicionamento e preservação dessas obras, de uma forma que o acesso não seja prejudicado. Pois, lembrem-se: umas das mais importantes intenções do livro de artista é disseminação da arte, tarefa esta com a qual o bibliotecário é acostumado.

O próprio uso do termo acondicionamento, ao invés de armazenamento, mostra que o livro de artista tem necessidade de uma solicitude maior no quesito

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preservação e conservação. Muitos livros de artista são obras únicas, como já apontamos, e esse fato implica diretamente no trabalho do bibliotecário, o qual precisa preservar aquelas obras para um futuro longínquo.

Por esse motivo a maior parte das bibliotecas com coleções de livro de artista utilizam os modelos de obras raras para o acondicionamento e acesso à essas obras, ou seja, armazenam esses separados das obras gerais, com acesso restrito, em locais com padrões de preservação como temperatura, umidade e exposição a luz controlados (HERLOCKER, 2012, p. 68). Podemos citar a Biblioteca do MAR como um exemplo dessa prática.

Essas rotinas também são utilizadas para diminuir o manuseio das obras já que “é importante destacar que as politicas de acervo, no âmbito do acesso e do manuseio do livro raro, recomendam “conservar para não restaurar”, na medida em que a restauração atinge, apenas, o suporte e não a informação.” (PINHEIRO, 2009, p. 41).

Os livros de artista quando possível são acondicionados em pé, porém alguns deles são ou muito pequenos, ou muito grandes para permanecer em pé, então são acondicionados em prateleiras separadas, sendo que para os pequenos é mais aconselhável o acondicionamento em caixas de Ph neutro.

Como já foi apontado, tendo em vista a variação dos livros de artista, o maior problema na prática de acondicionamento são aquelas obras que não possuem forma de livro códex. Obras do grupo Fluxus, por exemplo, têm estruturas e condições completamente diferentes, as quais de nenhum jeito lembram livros. Porém, como já definimos que elas são livros de artista, e é necessário considerar as suas diferenças e estabelecer normas e práticas de acondicionamento específicas para obras desse feitio.

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FIGURA 6 - Eye dropper bottles (Livros de artista), Coletivo Fluxus (1991).

Fonte: In: http://artistsbooksandmultiples.blogspot.com.br/2012/09/chieko-shiomi-water-music.html.

Herlocker (2012, p. 72) também aponta que existe uma possibilidade muito grande de perda dessas obras com formatos peculiares. Portanto, na organização das obras é mais oportuno fazer uso de localização fixa, com cada item tendo o seu devido identificador e local, do que utilizar a classificação por assunto, haja vista que muito provavelmente obras pequenas e com formatos distintos seriam acondicionados ao lado de livros grandes e pesados, os quais afetariam a integridade (física e estética) obra.

Localização fixa enumera de modo primário ou alternativo todos os itens da biblioteca, a partir de uma notação-base – uma sequencia lógica, com números, letras ou outros sinais, separados por vírgulas e/ou travessões, sem espaços, que identifica o ponto de acomodação do item na área de armazenamento. (PINHEIRO, 2007, p. 38).

Tipos de encadernação dissemelhantes precisam ser separados para manter a preservação das obras, já que a química dos materiais diverge e mantê-los juntos pode acelerar a deterioração. (ARQUIVO NACIONAL, 2001, p. 7).

Um procedimento muito utilizado nessas coleções é a etiquetagem dos itens com papel de Ph neutro. A etiqueta que fica localizada no topo do livro e na maior parte das vezes é nela que escreve-se, à lápis, o número de chamada.

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FIGURA 7 – Estante de livros de artista da Biblioteca MAR.

Fonte: Biblioteca MAR (2016).

Algumas bibliotecas, como a da Universidade Harvard, utilizam caixas de preservação para as coleções de livro de artista. De acordo com Herlocker (2012, p. 74) a coleção da Universidade Harvard em Boston, acondiciona os seus livros de artista junto aos livros raros de Imprensa e Artes Gráficas, empregando uma classificação específica para essa coleção e caixas de preservação.

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