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O pensamento militar e a arte da guerra: a influência do pensamento político-militar na Guerra de Movimento de 1914

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Academic year: 2021

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O PENSAMENTO MILITAR E A ARTE DA GUERRA: A INFLUÊNCIA DO

PENSAMENTO POLÍTICO-MILITAR NA GUERRA DE MOVIMENTO DE 1914.1

Luciano Badaró Baptista

RESUMO

Este trabalho apresenta os aspectos relacionados à concepção e à aplicação do Plano Schlieffen e do Plano XVII, confrontados na Batalha das Fronteiras e na Primeira Batalha do Marne, durante a Primeira Guerra Mundial.A análise está calcada nos aspectos políticos, militares e econômicos que influenciaram a concepção desses planos, num processo que se iniciou ainda no século XIX. Sendo os principais, a Política de Alianças; a busca da Alemanha em se consolidar como potência Imperialista; as formulações sobre o Poder Naval; e o culto à Ofensiva. Ainda, apresenta uma breve síntese das citadas batalhas, relacionando as forças empregadas com o conceito atual de Força Terrestre Componente (FTC). Com relação ao emprego da FTC destacam-se as primeiras fases de seu Processo de Planejamento Operativo: o Planejamento e a Geração de Poder de Combate. Finalmente, conclui sobre os aspectos que poderm ser usados como ensinamentos que validam a doutrina atual, mesmo com base em um conflito ocorrido há mais de um século.

Palavras-chave:Plano Schlieffen. Plano XVII. Primeira Guerra Mundial. Processo de Planejamento Operativo da FTC.

1 INTRODUÇÃO

A Grande Guerra ocorreu entre julho de 1914 e novembro de 1918 e, ainda que o estopim para o início do conflito tenha sido o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando, as razões dessa guerra estão vinculadas ao sistema de alianças formadas em torno das grandes potências, como a França, Alemanha, Inglaterra e Rússia. Essas que por sua vez, conforme Sondhaus (2015) foram forjadas em função da busca de um balanço de poder político e militar, em virtude da nova composição de forças vigentes a partir da unificação alemã.

Além disso, foi um período de grande evolução industrial e tecnológica, que refletia na transformação dos armamentos, na escala de produção e, ainda, nos transportes. Essas premissas transformaram os Exércitos, dando-lhes maior letalidade, capacidade de mobilização e locomoção. Culminando, conforme MacMillan (2004), com a formação de Exércitos com milhares de homens, que era a expressão de seu Poder Relativo de Combate.

Dessa forma, as políticas de alianças, alteravam as equações relativas à capacidade de mobilização e sustentação dos Exércitos e influíram nas estratégias militares. Assim, no início

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Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em História Militar, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em História Militar.

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do conflito, em 1914, defrontaram-se alemães e franceses, envoltos em suas alianças, colocando em ação os Planos Schlieffen e Plano XVII, respectivamente, especialmente nas duas primeiras batalhas do conflito, a Batalha das Fronteiras e a Primeira Batalha do Marne.

Além disso, buscou-se relacionar aspectos da construção desses planos e estratégias com a doutrina brasileira para o Planejamento Operativo de Emprego da Força Terrestre Componente (FTC).Apresenta-se, no texto, a conceituação do que seria uma FTC, do Processo Operativo e de suas fases, destacando-se as duas primeiras, o Planejamento e a Geração do Poder de Combate.

O presente trabalho usou a abordagem metodológica de estudo de caso, uma vez que não houve um problema concreto, mas o estudo para a compreensão de fenômeno. O autor do artigo analisou as influências do ambiente político-militar da virada do século XIX para o século XX, naquilo que influenciou os planejamentos militares que desembocaram na Primeira Guerra Mundial.

Assim, o objetivo geral do trabalho foi analisar o contexto político-militar europeu da virada do século XIX para o século XX e sua influência na formulação dos planejamentos que culminaram no enfrentamento entre os Planos Schlieffen, alemão, e Plano XVII, francês, na primeira fase da Primeira Guerra Mundial, em 1914. A síntese das referidas batalhas e, finalmente, a relação entre os planos e a doutrina de planejamento para o emprego da FTC, nas duas primeiras fases de seu processo de Planejamento Operativo.

2A INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO POLÍTICO-MILITAR NA GUERRA DE MOVIMENTO DE 1914

Na análise do contexto político-militar de fins do século XIX e início do século XX, especificamente na Europa, é revelador notar, a partir do ponto de vista do autor deste trabalho, como o espírito das articulações políticas e o desenvolvimento industrial, incentivaram uma corrida armamentista que preparou a Europa para o conflito. Mais que isso, condicionou a eclosão da Primeira Guerra Mundial.

2.1 O CONTEXTO POLÍTICO-MILITAR EUROPEU DE FINS DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX

O resultado das Guerras de Unificação Alemã, ocorridas entre 1864 e 1871, fez com que a Alemanha figurasse como potência econômica e militar no concerto das nações. Para

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Araripe (2006), o chanceler alemão, Otto von Bismarck, estabeleceu uma política diplomática baseada em diversos tratados e alianças, que tinha como objetivo o protagonismo alemão e o isolamento da França.

Conforme Sondhaus (2015), essa política de alianças era fluida e variava conforme os interesses alemães. Em 1873, formou-se a Liga dos Três Imperadores, entre a Rússia, Alemanha e Aústria-Hungria. A Liga dos Três Imperadores consolidou o conceito que permearia as diversas alterações nas alianças formadas até a Primeira Guerra Mundial: a busca pelo equilíbrio demográfico e, em consequência, da capacidade de mobilização da população para compor os Exércitos nacionais.

Desde o início da Revolução Industrial houve uma grande mudança na estrutura dos Exércitos. Isso porque as potências passaram a ter condições de equipar e transportar efetivos cada vez maiores de suas forças, o que estava alinhado com o grande aumento populacional no período. Dessa forma, os Exércitos ficaram cada vez maiores, exigindo um eficaz sistema de conscrição e mobilização.

Segundo Tuchman (1998), de 200 (duzentos) mil a 300 (trezentos) mil soldados, em 1870, os Exércitos cresceram para cerca de 1,5(um vírgula cinco)milhões cada um. Tamanho efetivo exigia, além de espaço para as manobras, um grande esforço logístico, para fazer face ao fluxo de pessoal e material, impactando no esforço de guerra da sociedade, que passaria a carrear a dinâmica da sua economia para os objetivos militares, desde os anos anteriores ao conflito.

Espírito Santo (2014), por sua vez, aborda as modificações nos escalões de emprego, com a criação das Brigadas, Divisões, Corpos de Exército e Exército, que aglutinados, formavam peças de manobra com efetivos próximos a 200 (duzentos) mil homens.

A Revolução Industrial tornara possível ter grandes Exércitos, e o crescimento da população europeia alimentara a fonte de recursos humanos. A Prússia foi a primeira a recorrer com sucesso a essa fonte, usando a conscrição para obter recrutas na sociedade e lhes proporcionar vários anos de treinamento militar. Em 1897, a Alemanha tinha 545 mil homens na ativa, mas outros 3,4 milhões podiam ser mobilizados. [...] O deslocamento de efetivos tão grandes correspondia a deslocar cidades inteiras. (MACMILLAN, 2014, p. 319).

Os Estados-Maiores, em consequência, se tornaram protagonistas, já que tinham o desafio de realizar planejamentos complexos, que além do aspecto da manobra ofensiva, englobavam a manobra logística, a mobilização e a concentração de meios. Assim, havia uma necessidade de manter os planos aprovados e em constante modificação de cronogramas. Isso

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porque, por exemplo, à medida que linhas férreas eram construídas, estradas eram abertas, pontes eram construídas, diminuíam-se os tempos para essas mobilizações e concentrações de meios:

Os trens iriam ficar na memória de todos aqueles que foram à guerra em 1914. O setor ferroviário do alto comando alemão registrou o movimento de 11 mil trens no período de mobilização e não menos que 2.150 trens de 54 vagões cruzaram a ponte Hohenzollern sobre o Reno entre os dias 2 e 18 de agosto. As principais companhias ferroviárias francesas tinham desde maio de 1912, um plano para concentrar 7 mil trens para mobilização. (KEEGAN, 2003, p. 89).

Portanto, a Revolução Industrial permitiu não apenas a evolução dos armamentos, mas a capacidade de sustentação e movimentação dos efetivos militares, que deveriam ser mobilizados e colocados na frente de combate antes do inimigo. Isso porque seria a supremacia de efetivos, na concepção dos planejadores, o fator decisivo.

Donde decorreu a busca pelas alianças que iriam resultar nas partes beligerantes da Primeira Guerra Mundial. A Tríplice Aliança, formada dentro da lógica de Bismarck de isolar a França, entre Alemanha, Itália e Império Austro-Húngaro, em 1882; e a Tríplice Entente, entre França, Rússia e Inglaterra, decorrente de tratados formalizados entre 1892 a 1907, “frustrando o isolamento que Bismarck pretendeu impor”. (ARARIPE, 2006, p.321).

Pode-se observar, ainda, segundo MacMillan (2014), a posição da Rússia como fiel da balança em termos de equilíbrio de efetivos mobilizáveis. A Rússia, com a Liga dos Três Imperadores, aliou-se a Alemanha, porém os conflitos com o Império Austro-Húngaro, afastou-os da aliança. Em consequência, a França buscou alinhar-se com a Rússia, em 1882, dando início aos acordos que formaram a Tríplice Entente, consolidados com a Entente Cordiale, entre russos e ingleses, em 1907.

A partir desse momento, a França e seus aliados conseguiram uma superioridade numérica em capacidade de mobilização, uma vez que a presença da Rússia desequilibrava as forças em favor da Tríplice Entente. Segundo MacMillan (2014), os russos possuíam uma população de 160 (cento e sessenta) milhões, ou seja, uma capacidade muito desproporcional frente às possibilidades da Alemanha, com 65 (sessenta e cinco) milhões de habitantes.

Para Araripe (2006), Essa situação condicionou os planejamentos, tanto de alemães como de franceses. Ameaçada por uma guerra em duas frentes, o Alemanha, concebeu uma estratégia na qual deveria vencer primeiro os franceses, na Frente Ocidental, de forma rápida e decisiva, para depois deslocar o grosso de suas tropas para a Frente Russa.

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Conforme Tuchman (1998), o estudo de situação alemão estimou em seis semanas o tempo de mobilização russa.Assim, os alemães teriam que impor uma manobra ofensiva, que derrotasse os franceses em cerca de quarenta dias após o início da mobilização.O reforço das posições de aliança franco-russa fez com que os alemães buscassem mais efetividade e velocidade em seus cronogramas. Para MacMillan (2014, p. 324), a ideia predominante era de que “o mínimo atraso representava perigo”.

Outro aspecto do contexto político, que também se refletiu nas políticas de alianças e condicionaria a eclosão da guerra, foi a busca do protagonismo alemão no concerto das potências mundiais, a Weltpolitik. Dessa política, pode-se caracterizar as ações alemães vinculadas ao Imperialismo. Vinculada a essa política, estava a corrida armamentista, tendo como um de seus ícones, a nova política naval alemã, conduzida pelo Ministro da Marinha Alfred von Tirpitz, de construção de grandes navios de guerra e buscando a divisão do domínio dos mares com a Inglaterra:

A Alemanha demonstrava insegurança e ambições próprias de um poder mundial em ascensão. [...] Era uma grande nação no coração da Europa, mais forte econômica e militarmente, assim como mais dinâmica do que seus vizinhos [...] Não possuía colônias e as consequentes bases navais, portos com abastecimento de carvão e rede telegráfica que caracterizavam uma potência global. (MACMILLAN, 2014, p. 59).

Política naval que tinha o suporte teórico nas formulações de Alfred Mahan, em sua obra, A Influência do Poder Naval na História:

Nessas três coisas, escreveu Mahan, produção e necessidade de trocar produtos, transporte marítimo por meio do qual se processam as trocas e colônias, que facilitam e expandem as operações de transporte por mar e tendem a protegê-las pela multiplicação de pontos de apoio, está a chave para entender grande parte da história. [...] Uma Marinha poderosa protege as rotas vitais para o comércio e as comunicações através dos oceanos e, igualmente importante, permite a conquista e manutenção de colônias. Suas esquadras podem agir como fator de dissuasão, particularmente se estiverem situadas em locais estratégicos. (MACMILLAN, 2014, p. 97).

Ou seja, a política colonial e militar alavancou o papel alemão fora do continente europeu, criando tensões não só com França e Rússia, mas incluindo a Inglaterra, maior potência colonial à época. E, com isso, ameaçando “a rainha dos Mares em seu esplêndido isolamento”. (ARARIPE, 2006, p. 323).

Além disso, essa dinâmica política reforçou os ideais nacionalistas, passando o Estado a ser o catalisador dos objetivos nacionais, criando uma estrutura de poder, tanto na França,

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como na Alemanha, mais centralizada. O nacionalismo, para Sondhaus (2005), também condicionava as alianças entre estados e, ao fim, foram questões oriundas dessas tensões que foram o estopim para o conflito.

Nesse contexto político-militar, e com o recrudescimento das tensões entre as potências europeias, que entendiam a guerra como uma tradicional e eficaz ferramenta de alcance de objetivos de Estados e de Impérios, a preparação para o conflito, que era dado como certo, passou a ser a prioridade desses atores. Assim, como exposto por MacMillan (2014), os Estados-Maiores do Exército, especialmente na Alemanha, passaram a ditar os rumos das decisões políticas.

Isso porque, os planos cada vez mais complexos e a necessidade de se antecipar os fatos e adotar uma atitude ofensiva, com a necessidade de um esforço logístico do Estado, incluindo obras de infraestrutura. Assim, as necessidades militares eram as prioritárias para os Estados. Somado a isso, especialmente o plano alemão, calcado em rígidos cronogramas, se tornavam inflexíveis, impedindo decisões políticas que contrariassem os objetivos traçados:

O ônus gerado pela rigidez dos planos elaborados antes da guerra deu origem a máquinas do juízo final que, uma vez postas a funcionar, não podiam mais parar e são vistas por muitos como uma das causas da Grande Guerra, se não a principal delas. [...] Na verdade, a contribuição dos planos para a eclosão da Grande Guerra foi fazer pressão adicional nos tomadores de decisão ao abreviar o tempo disponível para essas decisões. (MACMILLAN, 2014, p. 323).

O último aspecto, que influenciou a formulação dos planos da Alemanha e França foi a Ofensiva, tanto como Estratégia de Emprego, como Princípio de Guerra, que dominavam os formuladores dos planos em seus Estados-Maiores. Era, ainda, vinculada a ideia do Darwinismo Social aplicado ao pensamento militar.

O Darwinismo Social está conectado, conforme Sondhaus (2015, p. 42) ao conceito da seleção natural, de sobrevivência do mais forte, que “propiciaram um alicerce científico para ideologias agressivas e, de forma geral, o nacionalismo racial deu esteio à unidade nacional”.

A Estratégia de Emprego da Ofensiva, doutrinariamente, pode ser assim definida:

Caracteriza-se pela iniciativa das operações em relação ao inimigo, tanto concentrando as ações em áreas de interesse, quanto desencadeando-as em território inimigo, sem qualquer propósito de anexação deste, mas obtendo vantagens políticas e militares iniciais, visando às futuras negociações de paz. (BRASIL, 2014c, p. 5-2).

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Caracteriza-se por levar a ação bélica ao inimigo, de forma a se obter e manter a iniciativa das ações, estabelecer o ritmo das operações, determinar o curso do combate e,assim, impor sua vontade. A ação ofensiva é necessária para obterem-se resultados decisivos, bem como para manter a liberdade de ação. É inspirada na audácia, fortalecendo o espírito de corpo e motivando o combatente. (BRASIL, 2014c, p. 5-3).

A premissa do pensamento da Ofensiva era de se obter um firme e rápido avanço pelo território inimigo para decidir a guerra de forma rápida e impor sua paz a um inimigo fragilizado. Segundo Hastings (2014), todo beligerante em potencial se propunha a atacar:

Clausewitz, oráculo do pensamento militar alemão, colocara como objetivo principal numa guerra ofensiva, uma vitória rápida numa batalha decisiva. [...] Decidir depressa era essencial; o tempo era mais importante que tudo. (TUCHMAN, 1998, p. 24).

Com isso, esses Estados-Maiores conduziram a política para a guerra e, consequentemente, preparavam seus planos operacionais. O início da Primeira Guerra, na Frente Ocidental, marcou o embate entre os Planos Schlieffen, alemão, e o Plano XVII, francês.

2.2 A CONCEPÇÃO DO PLANO SCHLIEFFEN E DO PLANO XVII

Entre os anos de 1892 e 1906, no contexto do processo de planejamento da Alemanha para as ações militares executadas na Grande Guerra, foi concebido o Plano Schlieffen. O plano teve como objetivo, dentre outros, proporcionar uma solução para a possibilidade de a Alemanha participar de um conflito bélico em duas frentes, a ocidental, contra a França, e a oriental, contra a Rússia.

Alfred vonSchlieffen, Chefe do Estado-Maior Alemão entre 1891 e 1905, temendo para a Alemanha uma guerra prolongada, que envolveria a Rússia, teria que buscar ações ofensivas. Decidiu já em 1892, conforme MacMillan (2014), priorizar o esforço contra a França, numa grande e rápida ofensiva, realizando uma manobra pelos flancos, neutralizando suas fortificações pelo movimento e violando a neutralidade belga. Acreditava que os franceses iniciariam uma ofensiva na fronteira comum, onde encontraria uma força alemã com a função de atrair e detê-los para, posteriormente, serem destruídos pelo cerco.

Conforme Tuchman (1998) o rígido cronograma alemão previa uma ação coordenada, culminando com odesbordamento de Paris no 31º dia após a mobilização, e a vitória na

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batalha decisiva no 39º dia. Após a vitória no Oeste, mover seus Exércitos para Leste e derrotar a Rússia, que estaria, ainda, na fase final de mobilização:

O plano de campanha era rígido e completo [...] fornecendo a solução correta para qualquer conjunto de circunstâncias [...] todas as precauções foram tomadas, menos uma – a flexibilidade. (TUCHMAN, 1998, p. 32).

Com isso, segundo Hastings(2014), a Alemanha evitaria uma guerra em duas frentes e almejava derrotar a França, em seu território, para, em seguida, combater a Rússia na Frente:

[...] o 40º dia, quando os cálculos do estrategista determinavam a ocorrência de uma batalha decisiva. O resultado da batalha era crucial. Schlieffen calculara que, devido às deficiências das ferrovias russas, o czar não conseguiria reunir Exércitos suficientemente fortes para lançar uma ofensiva antes do 40º dia. Entre o 35º e o 40º dia, portanto, o resultado da guerra estava para ser decidido. (KEEGAN, 2003, p. 125).

Segundo Rodrigues (1994, p. 45), o Plano Schlieffen, indicava que os generais prussianos ainda estavam presos aos “esquemas militares napoleônicos de guerra de destruição maciça por meio de ações rápidas e decisivas”. Ainda, para MacMillan (2014), a criação da Tríplice Entente fez com que o Estado-Maior alemão visse apenas a Ofensiva como meio de romper o cerco que se formara em torno de seu Estado.

Em 1905, expediu o Grande Memorando com seu plano, que continuou sendo revisto até sua morte, em1913. Revisões, a partir de 1906, efetuadas pelo seu sucessor, vonMoltke (O Moço). No memorando, conforme Araripe (2006) atribuiu na composição dos meios, que sete oitavos dos Exércitos estariam inicialmente no esforço a Oeste e o restante em atitude defensiva a Leste.Conforme LidellHart (1967):

O plano de Schlieffen, tendo em vista o gigantesco movimento que pretendia realizar, previa o esforço na ala direita, que deveria investir através da Bélgica e do norte da França para, depois, executandoamplo arco, avançar gradualmente para leste ou para a esquerda. Com sua extremidade direita passando ao sul de Paris e atravessando o Sena perto de Rouen faria pressão sobre os franceses, para que se voltassem na direção do Moselle, onde seriam martelados pela retaguarda de encontro à bigorna formada pelas fortalezas de Lorena e pela fronteira suíça. (LIDELL HART, 1967, p.205).

Para alcançar uma atitude ofensiva teria que usar os flancos, sendo a rota pela Bélgica, a alternativa viável. Assim, planejou o emprego de oito Corpos de Exército e cinco divisões de

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cavalaria em rotas abaixo da cidade fortificada de Liége e mais um Corpo acima de Liége da forma mais rápida possível.

O flanco esquerdo alemão se posicionaria ao sul das fortalezas francesas em Metz, abaixo de Luxemburgo, para enfrentar as forças francesas que esperavam e planejavam seu próprio esforço principal. Conforme Araripe (2006, p. 328), as “duas alas se encontrariam, fechando uma gigantesca pinça de 600 (seiscentos) Km (quilômetros) de raio, comprimindo dentro dela o que restasse do Exército Francês”, conforme esquematizado na Figura 1.

Moltke (O Moço), Chefe do Estado-Maior Alemão em 1906, conforme Araripe (2006), continuou revisando e alterando o Plano Schlieffen. Entre 1905 e 1910 a rápida recuperação russa da guerra Russo-Japonesa e a disposição da França em executar uma ofensiva na Alsácia-Lorena, fez Moltke alterar o plano: reforçou a ala esquerda alemã e deixou mais tropas a Leste. Não retirou tropas da ala direita, mas usou reservistas na linha de frente, o que surpreenderia os franceses, que não visualizavam esse emprego para as suas próprias tropas de reservistas:

[...] segundo a doutrina militar dominante, apenas os homens mais jovens [...] estavam aptos para lutar; os reservistas, que ao terminarem o serviço militar compulsório tinham retornado à vida civil, eram considerados frouxos. [...] os reservistas formavam suas próprias divisões, a serem usadas apenas como tropas de ocupação e nas ações da retaguarda. Schlieffen mudou tudo isso, acrescentando em torno de 20 divisões da reserva à linha de marcha das divisões da ativa. (TUCHMAN, 1998, p. 30).

ConformeLidell Hart (1967), a distribuição de forças seria o fator surpresa, pela previsão de reforço dos corpos da ativa com as reservas:

O plano previa a redução da ala esquerda para permitir o avanço Francês. No entanto, Moltke aumentou o poderio desta ala, com prejuízo da direita, tornando essa ala mais segura tornou, entretanto, o plano mais inseguro. (LIDELL HART, 1967, p.207).

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Figura 1: Plano Schlieffen e Plano XVII

Fonte: PLANO SCHLIEFFEN E PLANO XVII. In: Emerson Kent.com. Disponível em: <http://www.emersonkent.com/map_archive/world_war_i_1914.htm>. Acesso em 21 de julho de 2017.

Desde 1871, segundo MacMillan (2014), à diferença de outras potências, a França só se concentrava em um inimigo, a Alemanha. O pensamento defensivo prevalecia nos franceses, no qual o sistema de fortificações desgastaria o ataque alemão na Alsácia-Lorena. E, na hipótese de rompimento da neutralidade belga,a atitude foi reforçar as fortalezas em Verdun.

O início do século XX marcou uma virada na doutrina francesa, segundo MacMillan (2014).Influenciados pelo General Foch, passou-se a enfatizar, no Estado-Maior francês, a Ofensiva, visando restabelecer o orgulho de seu Exército, muito abalado desde a derrota na Guerra Franco-Prussiana. Como os alemães, acreditavam quea guerra que se aproximava seria curta e feita de batalhas decisivas.

O General Joffre, ao assumir a Chefia do Estado-Maior, em 1913, apresentou o Plano XVII.Conforme Sondhaus (2015), o planoprevia o ataque principal na direção da Alsácia-Lorena, antes do término da mobilização alemã. Na visão francesa, isso forçaria os alemães a desistirem de combater pela impossibilidade de obter a vitória decisiva. Desconsiderando o emprego de reservistas nas unidades ativas deixou a fronteira norte desguarnecida, contando apenas como V Exército a protegê-la.

Para Araripe (2006), o Plano XVII, na verdade, não se tratava de um Plano Operacional, mas da intenção de seu comandante e do movimento de tropas para as Zonas de Reunião. Não

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especificava, porém, objetivos claros para seus comandantes, que agiriam dentro do espírito ofensivo francês.

Conforme Sondhaus (2015), o máximo do detalhamento era que as ações ocorreriam em duas grandes ofensivas, uma a direita e outra a esquerda da área fortificada alemã de Metz-Thionville. Conforme mostrado na Figura 1, as tropas ao sul atacariam em direção a leste através da antiga fronteira da Lorena enquanto uma ação secundária deteria os franceses no Reno. Ao norte de Metz, atacariam, mediante ordem, se o inimigo violasse o território neutro, para nordeste, por Luxemburgo e pelas Ardennas belgas.

O choque inicial entre essas concepções, conforme esquematizado na Figura 1, marcaria a primeira das três fases da Primeira Guerra Mundial, durando desde os movimentos iniciais em agosto de 1914 até a Primeira Batalha do Marne, em setembro do mesmo ano, que marcaria o fim da Guerra de Movimento. Isso encerraria a aplicação dos respectivos planos alemão e francês para a guerra de curta duração.

2.3 A BATALHA DAS FRONTEIRAS E A PRIMEIRA BATALHA DO MARNE

Ao iniciar os embates entre franceses e alemães, conforme Sondhaus (2015), os franceses estavam em inferioridade. O Estado-Maior alemão desdobrouaproximadamente 1,5 (um vírgula cinco) milhões de combatentes, escalonados em7 (sete) exércitos, a partir do I Exército a oeste do Mosa até o VII na Alsácia. Os franceses,1 (um) milhão de homens em 5 (cinco) exércitos dispostos a partir do Mosa, em sentido leste até Epinal, a 100 (cem) Km (quilômetros) da fronteira com a Suiça, do V ao I Exército.

O avanço francês, exposto por Sondhaus (2015), estipulava inicialmente o I Exército na direção Epinal-Karlsruhe (Alsácia); II de Nancy a Sarreburg (Lorena); o III de Verdun a Kaiserslaurten (Lorena); o V protegendo o flanco ao longo do Mosa a leste de Sedan (Ardennas) e o IV em reserva para reforçar o III ou V Exércitos.

Diferente dos alemães que visavam à destruição dos franceses a leste de Paris, as tropas de Joffre não tinham um objetivo específico, coerente com o que previa o Plano XVII. Os confrontos que se seguiram, conforme Keegan (2003)constituíram a Batalha das Fronteiras, que englobou: a Batalha de Lorena ou Morhange-Sarrebourg, entre 14 e 25 de agosto; das Ardennas, de 21 a 23 de agosto; Charleroi ou Sambre, entre 21e 23 de agosto e Mons, em 23 de agosto.

Ao fim daBatalha das Fronteiras, esquematizada na Figura 2, contabilizaram-se 260 (duzentos e sessenta) mil baixas pelo lado francês e 210 (duzentos e dez) mil entre alemães.

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Figura 2: Batalha das Fronteiras

Fonte: BATALHA DAS FRONTEIRAS. In: WIKIPÉDIA. Disponível

em:<https://commons.wikimedia.org/w/index.php?title=File:Bataille_des_Fronti%C3%A8res. svg&oldid=250377919>. Acesso em 21 de julho de 2017.

A Primeira Batalha do Marne, travada em setembro de 1914, nas proximidades do rio Marne, foi uma continuidade da Batalha das Fronteiras.Segundo LidellHart (1967), após a invasão da Bélgica, pelos alemães e a Batalha das Fronteiras, ocorrida no mês de agosto, os Aliados foram obrigados a recuar, com um segundo rebatimento de sua linha de combate, tendo como eixo a cidade de Verdun.

Assim, conforme Sondhaus (2015), a batalha se iniciou com as forças em presença adotando um dispositivo linear, com zonas de ação contíguas, balizadas pela linha que se estendia de Paris, no sentido leste, até Verdun, paralela ao rio Marne.

As tropas alemãs envolvidas diretamente na batalha foram os I, II, III e IV Exércitos. Já as tropas aliadas envolvidas diretamente na batalha foram os IV, V, VI e IX Exércitos franceses, bem como a Força Expedicionária Britânica:

Em uma atmosfera próxima do desespero, os franceses recorreram a suas forças de reserva e mobilizaram outros dois Exércitos. O VI Exército (General Michel Maunoury), destacado da guarnição de Paris, posicionou-se ao norte de Paris, junto ao rio Ourcq, ao passo que o IX Exército (General Ferdinand Foch) postou-se ao sul do

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Marne, entre o IV e o V Exércitos, sendo suplementado por tropas deslocadas da fronteira alsaciana, na extrema direita do exército francês, onde Mulhouse já tinha sido tomada e perdida duas vezes. (SONDHAUS, 2015, p.92).

Lidell Hart (1967) argumenta que devido ao insucesso da França na Batalha das Fronteiras, o Plano XVII sofreu adaptações, mas manteve sua essência de realizar operações ofensivas sobre os alemães. A Batalha do Marne teve como prelúdio, em cinco de setembro de 1914, o engajamento do VI Exército francês ao flanco direito do I Exército alemão, o qual deveria proteger o flanco direito das linhas alemãs, ao mesmo tempo em que infletia na direção sudeste, ao lado do II Exército. No entanto, estava um pouco à frente do dispositivo em uma posição a leste de Paris, conforme mostrado na Figura 3.

[...] quando o Exército de Kluck, na extremidade direita, avançou prematuramente, a pedido de seu vizinho e com a aprovação de Moltke, ofereceu à guarnição de Paris uma oportunidade para apanhá-lo de flanco. (LIDELL HART, 1967, p. 211).

Conforme Sondhaus (2015), as tropas alemãs pretendiam prosseguir em um avanço decisivo rumo ao sul, pressionando a Força Expedicionária Britânica e os exércitos franceses para o sul do rio Sena, tentando dar continuidade à concepção original de envolvimento do Plano Schlieffen, cabendo aos I e IIExércitos infletir a oeste rumo a Paris.

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Figura 3: Batalha das Fronteiras a Primeira Batalha do Marne

Fonte:SONDHAUS, Lawrence. A Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Contexto, 2015,p.89.

Tuchman (2004), se refere a batalha descrevendo a pressão que o IExército alemão sofriaem seu flanco direito pelo VIExército francês, teve que executaruma virada de frente mais cedo que o II Exército alemão, abrindo uma brecha de aproximadamente 50 (cinquenta) km (quilômetros) entre eles, conforme mostrado na Figura 4.

Nessa situação, Sondhaus (2015) discorre que oV Exército Francês e a Força Expedicionária Britânica tomaram posição diante daquela abertura no dispositivo alemão, impedindo o avanço do II Exército para Paris. Os alemães, percebendo a situação, a fim de evitar a derrota, iniciaram um retraimento, pondo fim à batalha e estabelecendo nova posição a leste de Noyon, com o I e II Exércitos, na direita, nas terras altas ao norte do rio Aisne, e o V Exército, na esquerda, do outro lado de Verdun.

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Figura 4: Primeira Batalha do Marne

Fonte:PRIMEIRA BATALHA DO MARNE. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: < https://commons.wikimedia.org/w/index.php?title=File:Battle_of_the_Marne_-_Map.jpg&oldid=144516333>. Acesso em 21 de julho de 2017.

A partir desse momento, descreve Sondhaus (2015), uma série de ações e tentativas de desbordamento por franceses e alemães, em busca da definição do conflito. Nesse período, entre a Primeira Batalha do Marne e novembro de 1914, destacaram-se a Primeira Batalha de Ypres e a Batalha de Aisne. Esses eventos, que levaram à estabilização da frente, ficaram conhecidos como a Corrida para o Mar, iniciando a segunda fase da guerra, a de trincheiras, conforme mostrado na Figura 5. Essa situação, só iria se alterar, definitivamente, ao fim do conflito, com a retomada da Guerra de Movimento.

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Figura 5: Corrida para o Mar e Estabilização da Frente Ocidental

Fonte: CORRIDA PARA O MAR E ESTABILIZAÇÃO DA FRENTE OCIDENTAL. In: WIKIPEDIA. Disponível em:

<https://commons.wikimedia.org/w/index.php?title=File:Western_front_1914.jpg&oldid=174 719124>. Acesso em 21 de julho de 2017.

2.4 AS PRIMEIRAS FASES DO PROCESSO DE PLANEJAMENTO OPERATIVO DA FORÇA TERRESTRE COMPONENTE

No que se refere às relações do caso histórico com a doutrina atual, há que se conceituar o que seria uma FTC e as fases de seu Processo Operativo. Assim, pode-se destacar o seguinte:

A FTC é o comando singular responsável pelo planejamento e execução das Operações Terrestres [...] que coopera com o Comando Operacional na consecução dos objetivos operacionais. A missão da FTC é vencer o combate terrestre e contribuir com os objetivos do Comando Operacional Conjunto. [...] O Processo Operativo da FTC é um modelo genérico, que engloba as diversas etapas necessárias ao emprego do poder de combate terrestre. [...] Permite a visualização geral dos passos necessários ao cumprimento da missão da FTC de forma encadeada no tempo e no espaço, desde a situação de normalidade até o retorno a essa situação. (BRASIL, 2014b, p. 2-1 e 2-6).

Da análise conceitual pode-se inferir que tanto o Exército Alemão, quanto o Francês, com base na estrutura de um comando centralizado, calcado no Estado-Maior, cujo Chefe era o principal condutor das Operações Militares, poderiam ser relacionados modernamente, como uma FTC. Além disso, a função de ambos os exércitos era de alcançar o objetivo

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político-estratégico traçado, que seria conquistado com a vitória no combate terrestre, marcado pela destruição das forças oponentes.

Os Exércitos da Alemanha e da França se estruturaram em tempo de paz, em termos de doutrina, equipamentos e capacidade de mobilização, para levar a cabo os intrincados planejamentos operacionais. Da mesma forma, a FTC tem como ferramenta para sua preparação para o combate a sistemática do Processo Operativo, que é dividido em fases, conforme mostrado na Figura 6, abrangendo desde o planejamento até o processo de reversão ao fim do conflito, ou da conquista do objetivo proposto:

O Processo Operativo da FTC está estruturado em seis fases necessárias ao planejamento, estruturação, emprego e reversão da FTC. Elas são: Planejamento (fase 0); Geração do Poder de Combate (fase 1); Obtenção e Exploração da Iniciativa (fase 2); Execução da Ação Decisiva (fase 3), Normatização (fase 4) e Reversão (fase 5). (BRASIL, 2014b, p. 2-6).

Figura 6: Fases do Processo Operativo da FTC

Fonte:BRASIL. Exército Brasileiro. A Força Terrestre Componente nas Operações. (Manual de Campanha EB20-MC-10.301). Brasília: Estado-Maior do Exército, 2014b,p. 2-6.

Nesse sentido, temos que o estudo e análise da construção e aplicação dos planos, em seus ensinamentos, podem ser relacionados com as duas primeiras fases desse processo, a fase 0 (Planejamento) e a fase 1 (Geração do Poder de Combate). Isso porque nota-se o esforço do planejamento detalhado e a importância dos cálculos da mobilização de efetivos para viabilizar as ações.Sobre a fase 0 (Planejamento):

Esta fase é caracterizada pelo planejamento que antecede o emprego de tropas, tanto o que ocorre em situação de normalidade, de forma sistemática, como o executado em caso de contingência. [...] A Fase 0 visa à preparação das condições adequadas para o emprego do poder de combate terrestre, por intermédio de ações que envolvem a concepção da FTC e a realização do planejamento tático, em consonância com o Plano Operacional. Ela tem grande amplitude no tempo e no espaço, cobrindo todas as fases previstas no Plano Operacional. (BRASIL, 2014b, p. 3-1).

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Na fase 0, elabora-se o Plano Estratégico de Emprego Conjunto das Forças Armadas (PEECFA). Esse plano irá “sintetizar as orientações do nível político e estabelece as premissas que norteiam os planejamentos no nível operacional e tático”. (BRASIL, 2014b, p. 3-1).

Nesse processo, utiliza-se a Metodologia de Concepção Operativa do Exército (MCOE), que entre outros objetivos, dá condições ao Comandante da FTC de estabelecer o Estado Final Desejado (EFD). Isso seria a visualização que o comandante, traduzindo os objetivos políticos e estratégicos, teria que alcançar na condução das operações. Pela aplicação do MCOE, se inicia o estabelecimento da Composição dos Meios, ou seja, a adjudicação das forças militares para permitir, por exemplo, a viabilidade das manobras planejadas e o suporte logístico.

Outro fator que o MCOE viabiliza é a Sincronização das Operações, o “ordenamento das ações táticas no tempo, no espaço e no propósito, para garantir sinergia ao conjunto das ações”. (BRASIL, 2014b, p. 3-12).A Geração de Poder de Combate (fase 1), conceitua-se da seguinte forma:

Está é a fase do Processo Operativo da FTC na qual o trabalho concentra-se na organização e distribuição dos meios da FTC em Zonas de Reunião (Z Reu) e bases de operações no Teatro de operações, posicionando-os para as ações táticas que serão executadas. Esta fase não possui início e término claramente identificáveis, uma vez que as ações que a caracterizam podem ter início durante o planejamento (fase 0) e continuarem durante as operações propriamente ditas e tem como etapas: as atividades preliminares, a concentração estratégica e o desdobramento. (BRASIL, 2014b, p.4-1).

A Geração do Poder de Combate é dividida em três etapas, conforme mostrado na Figura 7. São elas as Atividades Preliminares; a Concentração Estratégica, precedida por um deslocamento estratégico; e, o Desdobramento, precedidos pelos deslocamentos dentro do Teatro de Operações em direção às Zonas de Reunião, que permitirá a disposição dos meios para o início dos combates nas Linhas de Partida. (BRASIL, 2014b, p.4-1).Tem como elementos essenciais a Precisão, a Sincronização, a Rapidez, as Informações Relevantes, e as Unidades de Esforços.

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Figura 7: Fases do Processo Operativo da FTC

Fonte: BRASIL. Exército Brasileiro. A Força Terrestre Componente nas Operações. (Manual de Campanha EB20-MC-10.301). Brasília: Estado-Maior do Exército, 2014b, p. 3-3.

A aplicação dos Planos Schliffen e XVII, que tinham por objetivo a resolução rápida do conflito, acabaram por ter na Primeira Batalha do Marne o seu epílogo, uma vez que a Frente Ocidental se estabilizou, iniciando a fase mais longa da guerra, a Guerra de Trincheiras. Com isso, as conclusões propostas no trabalho serão melhor visualizadas ao se estabelecer as relações dos planos com as duas primeiras fases do Processo Operativo da FTC.

3 CONCLUSÕES

Da análise efetuada no transcorrer do trabalho, sobre os aspectos que envolveram os planos alemão e francês e sua aplicação na primeira fase da guerra, pode-se realizar as relações com os conceitos doutrinários atualmente vigentes, sobre a FTC e seu processo de

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planejamento. E, nesse caso, especialmente nas fases de Planejamento e Geração de Poder de Combate.

Tanto o Planejamento está muito bem caracterizado na preparação e detalhamento durante anos das Planos Operacionais, quanto a Geração do Poder de Combate, dado o esforço de guerra na economia, carreando recursos para a aquisição de equipamentos como, na mobilização de pessoal.

Esse último aspecto, pode, ainda, ser considerado o mais característico, uma vez que a base da construção dos planos era dada pelo efetivo de homens empregados. Era a capacidade de mobilizar de forma rápida e colocá-los na frente de combate, antes de seu oponente, e causar o desequilíbrio em pessoal a chave da vitória militar. Conceito que mostrou-se equivocado, em função da evolução dos armamentos e das Operações Defensivas.

De todo modo, foram o Planejamento e, principalmente, a capacidade de Gerar Poder de Combate, os traços mais característicos dos planos alemão e francês, influenciados pelo pensamento político-militar da época. Dessa forma, pode-se realizar a relação com o Processo Operativo da FTC e extrair ensinamentos que possam ser úteis na aplicação da doutrina.

Nesse sentido, o processo de planejamento, por meio da formulação do Plano Schlieffen e do Plano XVII e a aplicação desses na condução das operações na Batalha das Fronteiras e na Primeira Batalha do Marne podem ser relacionados com a fase 0, Planejamento, e a fase 1, Geração do Poder de Combate, integrantes do Processo Operativo da FTC.

Como ensinamento do processo de planejamento da Alemanha, por meio da concepção do Plano Schlieffen, o autor deste trabalho identifica a formulação de um plano militar operacional a fim de contrapor uma possível hipótese de emprego da expressão militar do poder nacional, neste caso, a hipótese de a Alemanha enfrentar uma guerra em duas frentes, contra a França e a Rússia. Esse ensinamento relaciona-se com a fase 0 do Processo Operativo da FTC devido à semelhança entre a formulação do Plano Schlieffen e a do atual Plano Estratégico de Emprego Conjunto das Forças Armadas (PEECFA). Sendo assim, os PEECFA assemelham-se ao plano alemão, pois são criados em tempos de paz e buscam atender a hipóteses de emprego.

Como ensinamento do processo de planejamento da França, por meio da concepção do Plano XVII, este autor identifica a falta de uma formulação de objetivos específicos. A relação entre este ensinamento e a fase 0 do processo operativo da FTC encontra-se na diferença entre a formulação do Plano XVII e a utilização da Metodologia de Concepção Operativa do Exército (MCOE).

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solucionado, bem como contribui para a formulação de objetivos táticos, e do Estado Final Desejado. Dessa forma, o Plano XVII diferencia-se da fase 0 do processo operativo da FTC pela falta de formulação e definição de objetivos específicos.

Com relação à Geração do Poder de Combate, tanto alemães como franceses aplicaram conceitos que hoje são apresentados pela Doutrina Militar, validando seus ensinamentos. Isso revela-se pela Distribuição dos Meios para o início das ações militares, caracterizado pelos sete Exércitos alemães e os cinco franceses dispostos nas fronteiras.

Além disso, para se chegar a esse dispositivo, houve o esforço logístico de mobilização de meios em pessoal e material e o deslocamento para aquelas regiões. Esses aspectos compõem o que hoje são as etapas da Geração do Poder de Combate, já destacadas, as Atividades Preliminares, a Concentração e o Desdobramento.

Ainda, sobre a Geração de Poder de Combate, pode-se relacionar, no que foi apresentado no trabalho, os ensinamentos sobre alguns de seus Elementos Essenciais, como a Precisão, a Sincronização e Rapidez. Nesses aspectos, houve uma diferenciação inicial importante, entre alemães e franceses. O elementos citados são bem destacados durante todo o processo de construção da estratégia alemã e, em menor escala dos franceses.

O rígido cronograma alemão, como já abordado, deixou, porém, pouca margem à flexibilidade, necessária para a tomada de decisão dos comandantes nas suas Zonas de Ação. No primeiro momento, os alemães avançaram com rapidez, segundo seus planejamentos, até esticarem demais sua cauda logística e se verem sem condições de continuar com seu envolvimento e destruição dos franceses no prazo estipulado.

A partir desse momento, os franceses, com seu planejamento de menor rigidez, precisão e pouca sincronização, usaram isso a seu favor. A flexibilidade permitida, em função das características do Plano XVII, permitiu, durante as ações a realocação de meios, com Rapidez, ou seja, de Gerar Poder de Combate no momento decisivo, permitindo o sucesso na Primeira Batalha do Marne.

Conclui-se, finalmente, que um conflito iniciado há mais de um século, ainda pode ser fonte de aprendizado para os formuladores de doutrina e estrategistas. Foram observados vários pontos de contato entra os planejamentos e ações, com os moderno conceitos de planejamento de emprego da FTC. Assim, a análise dos planos permitiu identificar a validade de aspectos das fases 0 e 1 do processo de Planejamento Operativo da FTC.

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