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Experiência de Extensão Florestal na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, AM 1

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Academic year: 2021

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Instituto de Conservação e

Desenvolvimento Sustentável do Amazonas

ESTUDOS EM MANEJO FLORESTAL

Série Técnica n. 2

Experiência de Extensão Florestal na Reserva de Desenvolvimento

Sustentável do Uatumã, AM

1

André Luiz Menezes Vianna1; Carlos Gabriel Koury2; Eduardo Rizzo³; Octavio Nogueira4; Danielly da Mata5

1- Me. Manejo Florestal, Idesam – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, Manaus, AM. andre.vianna@idesam.org.br.

2- Especialista em Silvicultura Tropical, Idesam – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, Manaus, AM. carlosgabriel@idesam.org.br.

3-Engenheiro Florestal, Idesam – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, Manaus, AM. eduardo.rizzo@idesam.org.br.

4-Engenheiro Florestal, Idesam – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, Manaus, AM. octavio.nogueira@idesam.org.br.

5-Técnica em Manejo Florestal, Idesam – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, Manaus, AM. danielly.mata@idesam.org.br.

Resumo

A extensão rural deve ser realizada de forma a existir uma construção de conhecimentos apropriados a cada realidade, além da troca de saberes como uma forma de (re)valorização da cultura local. O presente estudo teve como objetivo avaliar e registrar a experiência de extensão florestal realizada pelo Idesam na RDS do Uatumã, assim como, melhor entender as dinâmicas produtivas e de organização dos produtores com os quais o instituto trabalha. O estudo avalia as etapas de manejo florestal de sete planos de manejo florestal de comunidades da RDS do Uatumã. Em uma mesma Unidade de Conservação foram verificados diferentes graus de dependência das comunidades para a assistência técnica prestada. As diferentes formas de organização do trabalho e repartição de benefícios resultaram em diferentes resultados financeiros. Para a assistência técnica florestal, foi verificado que a atividade de emissão de DOF e Nota Fiscal é atividade mais desafiadora. Vê-se, portanto, a necessidade de diferentes formas de atuação nas comunidades, mesmo em uma mesma Unidade de Conservação.

Palavras-chave: Extensão Rural, Manejo Florestal, Unidades de Conservação, População Tradicional, Amazonas.

1

Publicado em dezembro de 2011.

Estudo resultado de ações de Manejo Florestal na RDS do Uatumã entre 2008 e 2011, financiadas pelo Programas Corredores Ecológicos e Fundação Amazonas Sustentável.

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2/6 Introdução

Os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) têm uma história de mais de 50 anos no País. Surgem após a 2ª guerra mundial, patrocinados por instituições norte-americanas (Figueiredo, 1984). A Extensão Rural, historicamente, esteve baseada na teoria da difusão de inovações. Esta teoria levou os extensionistas a atuarem apenas transferindo tecnologia, de forma que os produtores rurais eram vistos como depositários de conhecimentos e de pacotes gerados pela pesquisa. Na maioria das vezes esses pacotes são inadequados para as condições específicas de suas explorações e dos agroecossistemas manejados pelos produtores rurais (Caporal e Ramos, 2006).

Ao longo do tempo organizações não-governamentais, associações agricultores e de extensionistas buscam um caminho diferenciado, no entanto, tais esforços representavam ações específicas e localizadas (Caporal e Ramos, 2006). Entre 2003 e 2006 houve um esforço governamental para fazer com que a ATER tivesse uma posição de destaque nas políticas públicas para o meio rural. O orçamento nacional de ATER cresceu 12 vezes, mas, apesar dos esforços do Departamento de ATER do MAPA (DATER) para formação de agentes e do apoio financeiro que tem oferecido às entidades de Assistência Técnica e Extensão Rural, ainda se observa o uso de obsoletas práticas difusionistas, que se mostram, hoje, ineficientes e inadequadas (Caporal e Ramos, 2006)

Paulo Freire destaca-se como um dos primeiros críticos da extensão convencional, tendo proposto o estabelecimento de uma relação entre o agricultor e o extensionista para a construção de conhecimentos apropriados a cada realidade, além da troca de saberes como uma forma de (re)valorização da cultura local (Caporal e Ramos, 2006).

Para se ter a metodologia de extensão adequada a cada realidade com troca de saberes, é fundamental o conhecimento da dinâmica de trabalho local. A eficiência do trabalho de extensão, também, será influenciada pelo grau de organização dos produtores com os

quais se trabalha. Uma melhor organização social facilitará as ações de extensão.

Portanto, com o objetivo de se avaliar e registrar a experiência de extensão realizada pelo Idesam, assim como, melhor entender as dinâmicas produtivas e de organização dos produtores com os quais o Instituto trabalha, foi realizado o presente estudo.

Objetivo

Avaliar a resposta da extensão florestal realizada pelo Idesam na RDS do Uatumã durante o primeiro ano de exploração madeireira. Objetivos Específicos

i. Identificar, por atividades que integram o manejo florestal, o grau de dependência dos manejadores à extensão florestal.

ii. Comparar o lucro obtido com a venda da madeira manejada em função do modelo adotado de repartição de trabalho e de benefícios.

Material e Métodos Área de estudo

O estudo foi realizado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, criada em junho de 2004, com 424.425 ha. A RDS está localizada a 250 km ao nordeste da cidade de Manaus, entre as coordenadas 59º 10` a 58º 4` Sul e 2º 27` a 2º 4` Oeste, nos municípios de Itapiranga e São Sebastião do Uatumã. O clima da região é do tipo Amw (Köppen, 1948), com temperatura uniforme ao longo do ano, variando de 20º C a 38º C e precipitação anual média da região de 2.077 mm (Idesam, 2008). A tipologia florestal onde estão localizados os planos de manejo estudados é a Floresta Ombrófila Densa em Terra Firme.

Residem na Unidade de Conservação cerca de 300 famílias em 20 comunidades. Os comunitários têm como atividades de geração de

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renda: a agricultura, baseada principalmente na produção de macaxeira e melancia; a produção extrativista, atividade madeireira licenciada e não-madeireira com pequena comercialização nas sedes dos municípios; e a pesca do peixe gordo (jaraqui e matrinxã) (Idesam, 2008).

Figura 1. Localização da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã.

Sistema e Gestão do Manejo Florestal

Na RDS há sete Planos de Manejo Florestal Sustentáveis de Pequena Escala (PMFSPE) licenciados, em sete diferentes comunidades, com área de aproximadamente 500 ha cada. Os planos foram elaborados pelo Idesam, de acordo com as normas do estado do Amazonas: Instrução Normativa SDS n°002 de 2008, Instrução Normativa SDS n°001 de 2009 e Resolução CEMAAM n° 007 de 2011.

Idesam é o responsável técnico pelos planos de manejo e presta extensão e assistência técnica florestal. Como aspectos de gestão dos planos, os mesmos estão sob a tutela da AACRDSU2 (Associação Agroextrativista das Comunidades da RDS do Uatumã), que por sua vez elegeu para cada comunidade um

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Associação que representa todos os moradores da RDS Uatumã.

representante legal para representá-la no licenciamento dos PMFSPEs, visto poucas comunidades possuírem representação jurídica (associações) regularizadas.

Cada comunidade definiu suas regras de repartição de trabalho e benefícios, sendo que as discussões sobre divergências ou definições sobre a gestão do plano são tomadas em reuniões na comunidade. Caso haja necessidade, o tema pode ser levado para assembléia da Associação, estância mais elevada do que a comunidade, ou até mesmo para o Conselho Deliberativo da UC.

Grau de dependência dos manejadores à extensão florestal

O grau de dependência dos manejadores foi avaliado em sete comunidades. As comunidades estudadas foram: Bom Jesus do Angelim, Nossa Senhora do Livramento, Monte Sião do Leandro Grande, Emanoel Serra do Jacamim, Monte das Oliveiras, Santa Luzia do Caranatuba e Santa Luzia do Jacarequara. Nessas comunidades foram avaliadas as atividades: inventário florestal e pré-exploração; negociação e comercialização; exploração; emissão de DOF e nota fiscal. Cada atividade por plano de manejo foi categorizada em três diferentes classes em função da forma como a atividade foi desenvolvida:

i. Atividade realizada pelos manejadores com acompanhamento de técnicos do Idesam;

ii. Atividade realizada em conjunto pelos manejadores e por técnicos do Idesam;

iii. Atividade realizada somente por técnicos do Idesam.

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Lucro obtido em função do modelo de repartição de trabalho e benefícios

Foram avaliadas duas comunidades onde a repartição de trabalhos e benefícios foram definidas da seguinte forma:

i. Monte das Oliveiras: dois manejadores de famílias distintas ficaram responsáveis pelas atividades de manejo florestal, os demais não tiveram interesse. Do lucro obtido, 10% foi destinado para benefícios da comunidade, pois a área de floresta é entendida como um bem da comunidade. Para atividades de apoio, como transporte da madeira, os manejadores pagaram o valor de R$ 20,00 como diária para os comunitários que realizaram o trabalho.

ii. Santa Luzia do Caranatuba: a comunidade é formada pessoas da mesma família, portanto todas as atividades foram coordenadas pelo chefe da família e o lucro ficou em posse de toda a família. Do lucro obtido, 10% foi destinado para benefícios da comunidade. Não houve pagamento de diárias.

Resultados e Discussão

Grau de dependência dos manejadores à extensão florestal

Os resultados obtidos podem ser visualizados no gráfico 1, que demonstra os resultados em porcentagem em relação ao total dos planos, e o quadro 1 que discrimina por planos as atividades.

Para a Negociação e Comercialização da Madeira os planos que na categoria Manejadores + Idesam, o Idesam contatou o comprador e adiantou recurso para as atividades de campo.

Na Exploração em um dos planos optou-se por vender a madeira em pé (Serra do Jacamim).

Gráfico 1. Avaliação da extensão florestal na RDS do Uatumã.

Quadro 1. Grau de acompanhamento das atividades de manejo florestal por plano assistido.

COMUNIDADE ATIVIDADES Inventário e Pré Exploratório Negociação e Comercializa ção Exploração DOF e Nota Fiscal

Livramento I-M M-I M-I I

Leandro

Grande I-M M-I M-I I

Serra do

Jacamim I-M I I I

Bom Jesus I-M I-M M-I I

Monte das

Oliveiras I-M I-M M-I I

Caranatuba I-M I-M M-I I

Jacarequara I-M I-M M-I I

Legenda:

M-I - Realizado pelo Manejadores com

Acompanhamento do Idesam

I-M Em conjunto: Manejadores e Idesam I Idesam

Foi verificado que em uma mesma Unidade de Conservação onde os planos de manejo estão sob tutela de uma mesma Associação, as necessidades por assistência técnica são distintas entre as comunidades. Apesar de terem sido ministrados os mesmos

28,57 85,71 100 57,12 14,28 14,28 100 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Inventário Florestal e atividades pré exploratórias Negociação e Comercialização

Exploração DOF e Nota Fiscal

Avaliação da Extensão na Florestal na RDS do Uatumã

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cursos de capacitação para todos os manejadores, a assistência ter sido realizada pelos mesmos técnicos e em todas as comunidades haver histórico de experiência em exploração madeireira, as necessidades em campo foram distintas.

Essa distinção, além da capacidade de assimilação para as novas etapas exigidas para se trabalhar com madeira legalizada e da troca de experiências entre manejadores e técnicos, ocorre muito em função do grau de organização da comunidade. Quanto maior o grau de organização da comunidade há a tendência de se ter uma menor dependência da assistência técnica e uma maior eficiência nas atividades realizadas de forma conjunta.

A atividade Emissão de DOF e Nota

Fiscal se destaca por ser altamente dependente

da assistência técnica. O sistema DOF é extremamente complicado e de difícil inserção na realidade de manejadores do interior do Amazonas. Além de demandar a existência de internet no local exige um conhecimento de informática fora da realidade da maioria dos manejadores e, portanto, de difícil assimilação e de repasse de informação aos manejadores.

Lucro obtido em função do modelo de repartição de trabalho e benefícios

O lucro da madeira comercializada foi quantificado por família para as duas comunidades estudadas. O lucro obtido com a venda da madeira já é valor recebido descontando-se todos os gastos das operações de manejo, exceto pelo transporte primário que seria de responsabilidade dos manejadores. A tabela 1 resume os resultados.

Tabela 1. Lucro obtido com a comercialização da madeira manejada. Comuni-dade Lucro com venda da madeira (R$) Benefíci os para a comunid ade (R$) Pagame nto de diárias (R$) Lucro por família (R$) Caranatuba 1.060,56 106,06 - 954,50 Monte das Oliveiras 1.216,24 121,62 800,00 147,31

Para a comunidade Caranatuba, apesar de esta possuir um lucro com a venda da madeira inferior, quando os valores são vistos por família, vê-se que a atividade foi mais rentável para a família da comunidade Caranatuba. Fato devido ao não pagamento de diárias a outros comunitários, sendo todo o trabalho realizado pela mesma família.

Além da maior rentabilidade na comunidade Caranatuba, as atividades foram realizadas de forma mais rápida, organizada e sem problemas de relacionamento entre os manejadores. Esses fatos demonstram o que já vinha sendo observado: a unidade de produção na RDS é familiar, as pessoas moram em comunidades, no entanto a divisão de trabalho ocorre tradicionalmente por famílias.

Esse maior entendimento da dinâmica de divisão de trabalhos é fundamental para se ter uma assistência técnica mais eficaz e programas de geração de renda que correspondam às expectativas e necessidades dos moradores da Unidade de Conservação.

Conclusão

Em uma mesma Unidade de Conservação foram verificados diferentes graus de dependência das comunidades para a assistência técnica prestada.

As diferentes formas de organização do trabalho e repartição de benefícios resultaram em diferentes resultados financeiros.

Para a assistência técnica florestal, foi verificado que a atividade de emissão de DOF e Nota Fiscal é atividade mais desafiadora.

Destaca-se a conclusão de forma de atuação da comunidade Serra do Jacamim no manejo florestal. Apesar da decisão de não atuar diretamente na exploração e comercialização, converteram a floresta em ativo econômico comercializando a madeira em pé, quebrando o paradigma da riqueza biodiversidade que não traz recursos para seus moradores. Somado às

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dificuldades de acesso de recursos e tecnologia vividas por estas comunidades, esse modelo de comercialização deve ser considerado na gestão florestal comunitária.

Vê- se, portanto, a necessidade de diferentes formas de atuação nas comunidades, mesmo em uma mesma Unidade de Conservação.

Bibliografia

Caporal, F.R; Ramos, L.F. Da Extensão Rural Convencional à Extensão Rural para o Desenvolvimento Sustentável: enfrentar desafios para romper a inércia. ln: Monteiro, D.C.;Monteiro, M.A. (Org.). Desafios na Amazônia: uma nova assistência técnica e extensão rural. Belém, UFPA: NAEA, 2006. p. 27-50.

Figueiredo, 1984. R. P. Extensão rural no Brasil: novos tempos. In: Revista Brasileira de Tecnologia. Brasilia, v. 15(4), jul/ago. 1984. FAO, 2004. Organización de Las Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentación: Conceptos y Princípios. Roma.

Idesam. 2008. Plano de Gestão da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã. Manaus, AM. 338 pp.

Souza, O.B.; Braga de, Junqueira, R. G. (Ed.). Formação dos agentes socioambientais no Xingu : valorizando as descobertas e iniciativas agroflorestais. São Paulo, Instituto Socioambiental, 2007.

Referências

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