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LINHAS ESTRATÉGICAS DA REFORMA DA SEGURANÇA SOCIAL 1º CONTRIBUTO DA UGT - 26/05/2006

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LINHAS ESTRATÉGICAS DA REFORMA DA SEGURANÇA SOCIAL

1º CONTRIBUTO DA UGT - 26/05/2006

I. ENQUADRAMENTO

Para a UGT, uma Segurança Social universal e pública é fundamental e inegociável, constituindo a principal garantia de que o sistema não entrará em ruptura. É igualmente uma das bases mais determinantes do Modelo Social Europeu, pelo qual nos temos batido e que continuaremos a defender.

A UGT nunca recusou discutir e contribuir para reformas ou alterações à legislação e ao enquadramento quando consideradas necessárias, justas e indispensáveis para uma sustentabilidade de médio e longo prazo.

Fizemo-lo em 2001 tendo sido introduzidas significativas alterações ao sistema de segurança social. Fizemo-lo também, em 2002, aquando das alterações da Lei de Base da Segurança Social ainda que se entendesse que não teria sido necessária a alteração da Lei de Bases em 2002, e consideramos que os nossos contributos foram importantes para a manutenção de um modelo social justo, equilibrado e solidário.

A sustentabilidade financeira do sistema não pode ser vista apenas numa perspectiva económica, devendo ser abordada de forma integrada com os objectivos de política social que necessariamente lhe deverão estar inerentes. Esta sustentabilidade tem de passar necessariamente por uma política cada vez mais integrada, nomeadamente com a política de emprego e a política fiscal.

Estamos disponíveis para a discussão proposta pelo Governo e empenhados numa solução que assegure a sustentabilidade financeira da segurança social a longo prazo, mas que simultaneamente garanta um conjunto de princípios e valores que, para a UGT, são essenciais – carácter público e universal, a justiça social e a solidariedade social.

Trata-se de uma discussão centrada no regime contributivo, matéria em que empregadores e trabalhadores têm especiais responsabilidades, por serem eles que o financiam. Entendemos,

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portanto, que a reforma a introduzir deve resultar de um Acordo tripartido se possível ou, pelo menos, de um amplo consenso na CPCS.

De realçar, no entanto, que nos encontramos actualmente perante um sistema de segurança social que permanece financeiramente equilibrado, considerando não existirem razões para o alarmismo que muitos pretendem introduzir nesta discussão, nem para uma urgência absoluta na implementação de modificações.

Importa ter presente que a recente deterioração do saldo, ainda positivo, da conta da segurança social nos últimos anos, que se deveu a razões conjunturais, muito em especial à subida rápida do desemprego e respectivas consequências nas despesas com a protecção daquela eventualidade, mas também ao fraco ritmo de crescimento do PIB nos últimos 5 que teve um efeito negativo nas receitas. Por conseguinte, a redução esperada do desemprego terá um efeito positivo sobre as contas da segurança social.

Estamos conscientes que fenómenos como um significativo envelhecimento demográfico ou ainda com o facto de estar em curso o atingir da maturidade do sistema terão impactos na sustentabilidade futura e que, por conseguinte, devem ser objecto de uma reflexão profunda e cuidadosa.

Os documentos já apresentados aos Parceiros Sociais centram-se especialmente na vertente da sustentabilidade financeira, ignorando algumas matérias mais relacionadas com a justiça social.

II. OS CENÁRIOS NO RELATÓRIO SOBRE A SUSTENTABILIDADE DA SEGURANÇA SOCIAL

Regista-se a apresentação da Síntese do Relatório de Sustentabilidade, anexa ao Orçamento do Estado para 2006 bem como da divulgação do Relatório Técnico sobre a Sustentabilidade da Segurança Social em Maio de 2006, que para além de conter informações mais detalhadas – em especial sobre os dados do regime previdencial da segurança social – efectua uma actualização da informação e previsões face à síntese apresentada no OE.

É referido que a generalidade dos estudos sobre a sustentabilidade da segurança social apontam para o desequilíbrio do sistema (divergindo no prazo em que tal ocorre) e para uma forte sensibilidade destes resultados à evolução demográfica, mas sobretudo, à evolução económica. Esta forte interligação do equilíbrio da segurança social com a situação económica

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exigirá um repensar urgente das políticas económicas e sociais, reorientando-as mais fortemente para o crescimento económico e para o emprego.

Quanto ao cenário construído, a UGT, não tendo objecções de fundo, considera existirem algumas questões concretas, quer sobre os pressupostos demográficos, quer sobre os macroeconómicos, que apresentaremos posteriormente.

Consideramos que o Relatório Técnico é uma boa base para iniciar a discussão sobre a sustentabilidade, em articulação com as Linhas Estratégicas apresentadas pelo Governo. Contudo, entendemos que será importante que o Governo apresente, o quanto antes, cenários alternativos, com diferente hipóteses macroeconómicas e demográficas, permitindo-nos ter uma percepção de vias e evoluções alternativas de forma a melhor enquadrar e sustentar esta discussão.

Como é afirmado no Relatório, “a validade de uma projecção dependerá da verificação ou não de um conjunto de hipóteses previamente estabelecidas, isto é, da concretização do referencial de aproximação à realidade”. Por isso, a existência de cenários alternativos reveste-se de extrema importância.

1. Pressupostos demográficos

Regista-se que o novo cenário apresenta uma dinâmica de envelhecimento e um decréscimo da população residente mais acentuado no longo prazo do que o previsto anteriormente, nomeadamente no Estudo de 2002. E, nesse contexto, é apontada um aumento significativo da esperança média de vida – de cerca de 1 ano por década.

Um dos agregados presentes neste cenário é a Imigração e o seu contributo para a evolução da população residente e do rácio entre activos e idosos. A hipótese implícita de uma descida dos fluxos migratórios de cerca de 36 mil em 2006 para 16.6 mil em 2015 e a partir daí uma evolução constante de 15 mil parece-nos excessivamente simplista, sobretudo dada a volatilidade das tendências quer da emigração, quer da imigração.

Note-se que num cenário marcado por uma tendência de redução da população activa, como resultado de um envelhecimento populacional, existirá à partida uma maior pressão para o aumento da imigração, situação que não se reflecte nas hipóteses utilizadas.

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De salientar ainda que nos últimos 6 anos (2000-2005), a população imigrante terá aumentado de cerca de 293 mil, ou seja, de cerca de 60 mil ao ano, embora consideremos este crescimento como excepcional.

Considera-se, por conseguinte, que este é seguramente um agregado que deveria ter sido objecto de múltiplas hipóteses.

2. Cenários macroeconómicos

No que se refere ao cenário macroeconómico, e tendo em conta a nossa proposta de elaboração de cenários distintos e de avaliação dos seus impactos na Conta da Segurança Social, gostaríamos de tecer os seguintes comentários:

• Temos reservas quanto à hipótese de um crescimento do PIB de 2.0% constante a partir de 2015. Com efeito, prevê-se que em 2009 possamos ter um crescimento de 3.0%, mas no longo prazo não ultrapassaremos os 2.0%, o que nos parece pouco realista;

• Também a hipótese de uma taxa de desemprego constante de 5.5% a partir de 2015 nos parece demasiado simplificada;

• Por outro lado, o crescimento da produtividade assume um papel de extrema importância na evolução da conta da segurança social, sendo um factor importante para a sustentabilidade da segurança social. Seria igualmente importante que a elaboração de vários cenários incorpore diferentes hipóteses para este agregado.

Em síntese, reafirmamos a importância de dispormos de cenários alternativos.

III. LINHAS ESTRATÉGICAS DA REFORMA DA SEGURANÇA SOCIAL PROPOSTAS PELO GOVERNO

O documento apresentado em sede de Concertação Social limita-se a enunciar algumas linhas de orientação geral que o Governo pretende seguir na reforma a instituir, não avançando com propostas concretas nesta sede.

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1. A introdução da Esperança de Vida

Como já supra se referiu, a UGT considera importante ponderar a reforma da Segurança Social, devendo esta reforma ser gradual – implementada ao longo dos anos – e objecto de uma reflexão profunda.

A UGT opõe-se, como sempre se opôs, a um aumento da idade legal de reforma, que considera não ter justificação neste momento e que apenas iria conduzir ao aumento do nível de desemprego, sobretudo nos jovens, e com impactos financeiros muito discutíveis no curto e médio prazo, sobretudo num momento em que está a aumentar a duração das carreiras contributivas dos trabalhadores que se estão a reformar.

De facto, não podemos deixar, desde já, de referir que, não obstante a presente reforma visar um aumento das receitas e uma diminuição das despesas, a mesma nunca poderá colidir com os direitos e legítimas expectativas dos trabalhadores.

Assim, e não se opondo à partida ao princípio de dar ao trabalhador a opção de descontar mais para o sistema publico de pensões ou para um regime complementar, de continuar mais algum tempo no mercado de trabalho, ou ainda de submeter a sua pensão ao factor de sustentabilidade, a UGT não pode assumir uma posição sem conhecer em concreto a forma como aqueles mecanismos se concretizarão.

Mais se diga que haverá sempre que, no caso da aplicação de um factor de sustentabilidade, atender e diferenciar positivamente as carreiras contributivas mais longas.

2. Estabelecimento de Regras de Actualização das Pensões

A desindexação do salário mínimo nacional a um conjunto bastante vasto de pensões, prestações e apoios sociais é algo que a UGT há muito vem reivindicando, na medida em que desta indexação – cujo objectivo inicial seria o de assegurar uma evolução positiva e justa daquelas prestações – acabou por resultar uma evolução bastante desfavorável do salário mínimo, mas também uma evolução insuficiente daquelas prestações – o que é inaceitável.

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estabelecimento de regras claras e pré-definidas de actualização das pensões, eliminando a discricionariedade actualmente existente, o que em termos gerais nos parece positivo.

Importa, no entanto, clarificar e concretizar os critérios que integrarão a nova regra de actualização das pensões, nomeadamente de que forma se incorpora a taxa de inflação e o PIB. Para a UGT, existe ainda um outro referencial que não deve ser ignorado nesta discussão – a evolução do salário médio. Com efeito, entendemos que, em termos globais, as pensões de velhice devem, de uma forma global, acompanhar a evolução do salário médio, sob pena de degradação daquelas pensões e de aumento da disparidade e da pobreza relativa.

Importa ainda clarificar o que se entende por “percentuais diferentes de aumento das pensões”, concretizando nomeadamente as regras daquela diferenciação.

A premissa básica assumida pelo Governo de que com este novo modelo de actualização será sempre assegurada a reposição do poder de compra das pensões mais baixas, garantindo a não degradação do poder aquisitivo dos pensionistas mais carenciados, merece-nos algumas reservas.

Por um lado, porque consideramos que, para as pensões mais baixas, não é suficiente assegurar uma não deterioração do poder de compra, devendo antes ser assegurada uma efectiva melhoria do nível de vida.

Por outro lado, carece de alguma informação suplementar, nomeadamente na concretização do que é entendido como “pensões baixas” e “pensionistas mais carenciados”. E, nesse contexto, importa ter presente que o nível médio de pensões continua muito baixo, devendo a melhoria das pensões continuar a ser um dos objectivos de política económica e social.

No que respeita à proposta do Governo de introdução de uma limitação superior e a um congelamento nominal de todas as pensões com valores muito elevados, esta é uma matéria muito sensível que merece especial atenção. Com efeito, importa ter presente que a introdução daqueles mecanismos poderão desincentivar contribuições para o sistema público e potenciar situações de evasão contributiva.

Para a UGT, é totalmente inaceitável que tal plafonamento possa atingir salários abrangidos pela negociação colectiva.

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3. Aceleração dos Mecanismos de Transição para a Nova Fórmula de Cálculo das

Pensões

No que concerne à antecipação dos mecanismos de transposição para a nova fórmula de cálculo cumpre, por um lado, referir que por princípio, a UGT entende que a lógica subjacente à aplicação da nova fórmula de cálculo no ano de 2017 se mantém e, por outro, que não nos podemos esquecer que a entrada em vigor da referida fórmula de cálculo resulta de um Acordo Tripartido.

Aquando da negociação do Acordo sobre a Modernização da Protecção Social, uma das preocupações por nós manifestada foi sempre a necessidade de assegurar o respeito pelos direitos adquiridos e em formação à data do Acordo. Para a UGT, uma antecipação dos mecanismos de transição não pode pôr em causa tais direitos.

Se atendermos ao texto do Acordo, facilmente constatamos a preocupação de evitar que os trabalhadores com descontos registados ao abrigo do regime que considera, para efeitos de cálculo da pensão, os melhores 10 dos últimos 15 anos de contribuições, sejam defendidos perante a aplicação da nova fórmula de cálculo.

Mais se diga ainda que o documento é extremamente vago nesta matéria, não avançando com propostas minimamente concretizadas para o calendário dessa antecipação, nem com informações sobre os custos financeiros da manutenção do actual período de transição.

Nesse contexto, importaria que o Governo disponibilizasse alguns dados que permitam avaliar qual o real impacto de uma antecipação da aplicação de nova fórmula de cálculo, nomeadamente separando o regime dos trabalhadores independentes, bem como dados que nos permitam avaliar a evolução nos últimos anos das pensões com totalização da carreira contributiva.

4. Envelhecimento Activo - Incentivo à Convergência da Idade Real de Reforma

para os 65 anos

Para a UGT, a aposta no envelhecimento activo é um desafio central. Entendemos que devem ser adoptadas medidas que incentivem a permanência no mercado de trabalho dos

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trabalhadores mais idosos, pois, com efeito, a idade média de reforma tem vindo a diminuir, nos últimos anos, e situa-se abaixo dos 65 anos, ou seja, da idade legal de reforma.

De salientar ainda a necessidade de discutir globalmente o incentivo à permanência no activo de trabalhadores com mais de 65 anos que voluntariamente o desejem fazer, com o devido estudo em termos de sustentabilidade tendo em conta a carreira contributiva já registada e, sobretudo, a necessidade de aproximar a idade média real de reforma da idade legal (65 anos), nomeadamente por via de incentivos à contratação.

Num contexto como o actual faz todo o sentido apostar no envelhecimento activo. E, como já referimos, a estratégia de envelhecimento activo deve integrar não apenas medidas na área da Segurança Social, mas também medidas de emprego e formação profissional, para que se criem condições para que os mais idosos permaneçam no mercado de trabalho, mas com qualidade de emprego.

O reforço dos mecanismos de incentivo à postecipação da idade de reforma e a passagem desses incentivos anuais a mensais anunciado no documento, merece a nossa concordância. Importa, no entanto, discutir a fórmula de cálculo daqueles incentivos.

Reafirma-se a necessidade de discutir e reintroduzir o regime das Reformas flexíveis, actualmente suspenso, devendo ser este um importante mecanismo de gestão individual do momento de saída do mercado de trabalho.

5. Aumento do Período de Concessão dos Subsídios de Maternidade e

Paternidade a partir do 2º filho

O aumento do período de concessão dos Subsídios de Maternidade e Paternidade em função do número de filhos, na perspectiva de incentivar uma mais efectiva partilha de responsabilidades no seio familiar e de promover a conciliação da vida familiar com a actividade profissional parece-nos, como principio, globalmente positivo.

Refira-se, contudo, que tais medidas deverão ser analisadas num contexto mais alargado, tendo em vista, nomeadamente, a articulação do período de duração das licenças em causa com o regresso ao mercado de trabalho bem como com a não discriminação destes trabalhadores aquando do seu regresso, nomeadamente no que respeita à progressão na carreira.

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Tendo esta medida como objectivo a promoção da natalidade, a UGT considera que a mesma é abordada de uma forma claramente insuficiente e que carece de ponderação e equilíbrio.

Para a UGT, uma verdadeira politica de promoção da natalidade tem de ser uma politica integrada, que deverá actuar em várias vertentes, nomeadamente por articulação com a matéria da conciliação da vida familiar com a profissional, com a promoção da Igualdade de Oportunidades entre Homens e Mulheres, com uma mais adequada e generalizada rede de apoios a crianças e dependentes, entre outras. De facto, a diferenciação da TSU avançada pelo Governo, não pode ser implementada isoladamente.

Diferenciar por via da TSU as famílias apenas em função do número de pessoas que compõem o agregado familiar sem atender igualmente aos rendimentos das referidas famílias (contrariamente ao que sucede com o Abono de Família), poderá inverter totalmente o princípio da solidariedade, beneficiando as famílias com rendimentos mais elevados, o que é, para a UGT, inaceitável.

Atendendo a que o nosso sistema é um sistema de repartição e a que enfrentamos um problema de natalidade, a UGT defende a adopção de politicas que visem um incentivo à taxa de natalidade com vista a garantir que as gerações futuras possam assegurar a sustentabilidade do sistema.

7. Reforçar a protecção social face aos novos riscos

A UGT está disponível e empenhada para discutir a matéria do reforço da protecção social em eventualidades que, pela sua natureza, possam merecer um tratamento diferenciado.

Efectivamente, o princípio do reforço da protecção na invalidez, do reforço da protecção garantida às pessoas com deficiência ou às famílias monoparentais – realidade cada vez mais presente na nossa sociedade – parece-nos, à partida, ajustado.

Não obstante, entendemos que os custos decorrentes das medidas que se pretendem instituir nesta sede deverão ser suportados pelo Orçamento de Estado e não pela Segurança Social, tal como é proposto para as prestações familiares. Efectivamente, nestas eventualidades, nomeadamente no que respeita às pessoas com deficiência e ao regime da pensão de sobrevivência, verifica-se uma menor ligação às carreiras contributivas dos beneficiários, o que justifica o seu financiamento por via do Orçamento de Estado.

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Mais se diga que, para além das eventualidades enunciadas no documento ora em análise, às as quais somos sensíveis, outras existirão que merecerão igualmente alguma ponderação e, eventualmente, um tratamento diferenciado.

Refira-se, a título de exemplo, as situações decorrentes do impacto da precarização do mercado de trabalho – nomeadamente o caso do trabalho temporário –, o trabalho sazonal, entre outras realidades.

8. Adequação e diversificação das fontes de financiamento

Esta é uma matéria fundamental nesta discussão, já que sempre afirmámos que a sustentabilidade da segurança social se promove, não apenas pelo controlo da evolução das despesas, como também pela evolução das receitas. O aprofundamento e a diversificação das fontes de financiamento estão fortemente interligados ao combate à evasão e fraude contributiva, ao trabalho ilegal e à economia clandestina.

Quanto à diversificação das fontes – princípio defendido pela UGT – importa que nessa discussão se tenha presente o contexto de integração económica actual. Em nosso entender, algumas das potenciais medidas a implementar, tendo um efeito positivo, a curto prazo, sobre as receitas da segurança social, podem ter efeitos perversos sobre o emprego ou a economia em geral, pelo que só devem ser aplicadas se o forem no conjunto dos Estados-membros; é nomeadamente o caso das empresas cotizarem em função do seu Valor Acrescentado, da implementação de uma Taxa Verde (taxa ambiental) ou do aumento do IVA para financiar a Segurança Social.

As linhas propostas neste ponto, nomeadamente no que se refere ao financiamento pelo Orçamento do Estado dos encargos familiares, de prestações sociais sujeitas a condição de recursos, de isenções ou reduções temporárias das taxas contributivas bem como de uma adequação do financiamento das políticas activas de emprego e de formação merecem, em traços gerais, o apoio da UGT.

Com efeito, entendemos que existe actualmente um conjunto de prestações e de encargos da segurança social que se encontram sobretudo na esfera da solidariedade social e que, por conseguinte, não devem continuar a ser suportadas pelas contribuições de trabalhadores e empregadores.

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9. Estabilização das receitas do sistema: combater a evasão e eliminar a dívida à segurança social

Como supra se referiu, esta é uma questão central que, no nosso entender, carece ser desenvolvida pelo Governo.

Para a UGT, o combate à fraude e evasão contributivas, a par do combate ao trabalho ilegal e à economia paralela são prioridades para o sistema da segurança social, pelo que acolhemos positivamente um conjunto de medidas e instrumentos anunciados, como o reforço do cruzamento da informação, uma maior celeridade na execução das dívidas.

Para a UGT, existe uma área a que importa atribuir especial atenção – a do combate aos falsos recibos independentes. Importa discutir esta questão não apenas do ponto de vista laboral, mas também do impacto que a mesma tem sobre a Segurança Social, já que acabam por ser subtraídas verbas que potencialmente lhe eram destinada e que se traduzem, nomeadamente em receitas de IVA.

Assim, entendemos ser prioritário a criação de mecanismos de combate à fraude com vista à obtenção de receitas adicionais que terão, certamente, um impacto positivo a médio / longo prazo.

Ainda no domínio da estabilização das receitas do sistema, verifica-se que existem determinadas parcelas da retribuição que não são consideradas para efeitos de contribuições para a Segurança Social e que prejudicam gravemente os trabalhadores para efeitos de cálculo da pensão. Esta situação deveria ser objecto de discussão, estabelecendo-se eventualmente algum paralelismo com o regime fiscal.

10. O reforço das Poupanças Complementares

Apesar de o regime de capitalização se encontrar inscrito na Lei de Bases da Segurança Social, esta componente tem tido desenvolvimentos muito fracos. Está institucionalizado um mecanismo automático de transferências para o Fundo de Estabilização da Segurança Social, determinando que seriam transferidas anualmente, para aquele Fundo, entre 2.0 a 4.0 pp das cotizações pagas pelos trabalhadores. Contudo, devido a razões orçamentais relacionadas com

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o período de crise económica que enfrentamos desde 2001, o Fundo não tem recebido aquelas transferências.

A “alimentação “ deste Fundo deve merecer uma especial atenção nesta discussão, daí que voltemos a assinalar, como questão vital, sobretudo para reduzir défices previstos a curto prazo que sejam efectivamente assumidas políticas de relançamento da economia e do emprego, que continuem a desenvolver-se os esforços de combate à fraude, à evasão bem como ao trabalho ilegal e à economia clandestina.

A UGT considera que é desejável estimular e reforçar a vertente capitalização, sem pôr em causa o regime de repartição, ou seja, avançarmos para um sistema misto. E isto será possível com o reforço do Fundo de Estabilização, mas também com os Fundos de Pensões Complementares, especialmente os originados na negociação colectiva.

Nesse sentido, regista-se que o Governo se propõe, após discussão detalhada com os parceiros, decidir sobre o aprofundamento dos benefícios fiscais às poupanças de base profissional, com particular benefício aos planos resultantes da negociação colectiva. Estamos disponíveis para essa discussão, alargando nomeadamente o seu âmbito para além da vertente fiscal e, como já referimos previamente, é fundamental que estes regimes sejam financiados por ambas as partes - trabalhadores e empregadores.

Questões como a individualização e portabilidade de direitos são questões nucleares na discussão sobre os Fundos de Pensões complementares, principalmente num contexto marcado pela forte mobilidade dos trabalhadores que, por conseguinte, devem ser devidamente acauteladas.

IV. MATÉRIAS OMISSAS NA PROPOSTA DO GOVERNO

Tendo presente o texto do acordo celebrado em 2001 mas também dos principais desafios que enfrentamos actualmente, há matérias que são omissas no documento ora em análise, ou que se encontram com insuficiente desenvolvimento e que importa integrar nesta reflexão:

1. A avaliação das isenções e reduções da TSU. A UGT considera necessário que seja efectuado um levantamento e uma avaliação destas situações de isenção e redução da TSU, eliminando as que actualmente não sejam pertinentes. Com efeito, o seu número muito elevado gera não só quebra de receitas – que hoje já não têm justificação

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económica ou social – como fortes constrangimentos na própria gestão do sistema. Entendemos, ainda, que esta discussão deve estar também ligada à diversificação das fontes de financiamento, já que consideramos que, podendo existir razões para uma isenção ou redução da TSU, os seus custos não devem apenas suportados pelas contribuições de empregadores e trabalhadores já que, em muitas situações, se trata de solidariedade ou apoio social.

2. As longas carreiras contributivas, mais concretamente a questão da diferenciação destas carreiras. Para a UGT, é fundamental que esta matéria seja integrada nesta discussão, tocando transversalmente muitas das linhas apresentadas no documento, nomeadamente no que se refere à aplicação de um potencial Factor de Sustentabilidade ao próprio cálculo das pensões bem como o regime da reforma flexível. Quando usado o método da totalidade da carreira contibutiva –método que nalguns casos já é considerado – entendemos que deve ser considerada toda a carreira contributiva, mesmo quando ultrapasse. Com efeito, entende-se que não é justo que um trabalhador que, à idade de reforma, tenha uma carreira superior a 40 anos apenas lhes sejam considerando 40 anos, sendo os restantes anos considerados inexistentes para efeitos de cálculo da pensão.

3. Os incentivos aos mecanismos complementares de Segurança Social, nomeadamente por via da negociação colectiva. Para a UGT, a questão dos mecanismos complementares é essencial. A existência de um regime público de Segurança Social que garanta um nível de pensões adequado a par de um regime em que, nomeadamente por via da negociação colectiva, o trabalhador possa prescindir de parte do seu salário no imediato para que posteriormente beneficie de uma pensão mais elevada (contando também com contribuições por parte do empregador), traduz-se, na prática, num mecanismo efectivo de poupança que deve ser claramente incentivado.

4. No que respeita ao combate à fraude, entendemos que o documento apresentado pelo Governo poderia ir mais além, limitando-se a fazer-lhe uma breve referência sem, contudo, a desenvolver. Também esta é para a UGT uma questão central que desenvolveremos aquando da análise do ponto 3.4 – Estabilização das receitas do Participação dos parceiros sociais nas estruturas da Segurança Social. No Acordo sistema.

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5. No que se refere ao regime das Reformas flexíveis - que o Governo decidiu suspender no ano transacto, aliás com discordância da UGT que sempre considerou que era possível alterar a Lei sem a suspender– o enunciado no documento é excessivamente genérico, sendo apenas assegurada a sua reposição com novas regras. Para a UGT, esta é uma matéria que não pode estar ausente nesta discussão e que deve estar fortemente ligada a uma estratégia de envelhecimento activo que integre não apenas medidas na área da Segurança Social, mas também de medidas de emprego e formação profissional.

6. Nada é referido quanto à situação específica do sector bancário, nomeadamente quanto à portabilidade e garantia das pensões dos trabalhadores envolvidos– matéria já constante do Acordo de 2001 e que até agora não tem registado desenvolvimentos.

7. Participação dos Parceiros Sociais nas estruturas da Segurança Social. No Acordo Tripartido entendeu-se que a participação dos parceiros sociais era uma condição fundamental de democraticidade do sistema e um factor de melhoria do seu desempenho e que deveria ser objecto de aprofundamento. Contudo, a quase totalidade dos compromissos e matérias inscritos naquele Acordo continuam por aplicar. Importa salientar que nos encontramos no âmbito do regime contributivo – regime financiado por trabalhadores e empregadores – devendo esta questão ser objecto de uma discussão profunda em sede de concertação social.

V. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Governo apresenta um único cenário para o médio e longo prazo, o que nos parece claramente insuficiente e que torna menos visíveis os problemas com que a Segurança Sociakl se pode vir a confrontar face à incerteza das hipóteses usadas nesse cenário.

São apresentadas, em linhas muito gerais, algumas propostas cujo impacto financeiro está completamente omisso, o que torna praticamente impossível a discussão sobre o objectivo central da reforma: a sustentabilidade financeira da Segurança Social.

As propostas omitem algumas áreas importantes do Acordo de 2001, que é fundamental recuperar.

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visando a sustentabilidade, de modo a gerar confiança no sistema e a garantir aos jovens não só o direito a uma reforma condigna, como que não serão sobrecarregados com custos resultantes da nossa incapacidade em tomar atempadamente medidas.

Mas, exige-se que a discussão não seja feita num clima de alarmismo injustificado, que as reformas sejam graduais, sem rupturas e que o sistema continui a ser de base pública e universal.

Referências

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