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REVISTA INTERFACE O AGRONEGÓCIO DA CANA-DE-AÇÚCAR E OS PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE MINAS GERAIS

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V.16 Nº 1 – Janeiro a Junho de 2019 | ISSN 2237-7506

O AGRONEGÓCIO DA CANA-DE-AÇÚCAR E OS PREÇOS DOS

COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE MINAS GERAIS

THE AGRIBUSINESS OF SUGAR CANE AND THE PRICES OF FUELS IN

THE STATE OF MINAS GERAIS

AUTORES:

Kelly Aparecida Silva Jacques

Doutoranda e Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Uberlândia. Linha de Pesquisa: Contabilidade Financeira. Especialista em Engenharia e Inovação pela Estácio de Sá (2016). Graduada em Administração pela Universidade Federal de Uberlândia (2014). Possui curso de Gestão da Produção Industrial pela UNIMINAS (2008). Atuou como tutora presencial na Universidade Anhanguera (Uberlândia). Atualmente é Professora Substituta na Universidade Federal de Uberlândia (FACES-UFU) e atua como voluntária do Núcleo de Estudos em Contabilidade Internacional e Financeira, Núcleo de Educação Financeira, Núcleo de Estudos em Marketing e de Projetos de Extensão ligados a Finanças e Agronegócio.

Odilon José de Oliveira Neto

Doutor em Administração (Finanças) pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP). Professor da área de Finanças do Curso de Administração da Universidade Federal de Uberlândia (UFU - Campus Pontal). Administrador pela Universidade de Uberaba (UNIUBE), Mestre em Agronegócio pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Especialista em Gestão de Derivativos: Mercado Futuro e de Opções pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Especialista em Gestão Agroindustrial pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Especialista em Gerência Empresarial pela Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO). Ex-Professor dos cursos de graduação em Administração e Ciências Contábeis da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT).

Waltuir Batista Machado

Graduado em Administração pela Faculdade Cambury de Goiânia (2002), graduação em Ciências Contábeis - Faculdades Alfredo Nasser (2013) e mestrado em Agronegócio pela Universidade Federal de Goiás (2011). Atualmente é assistente de gestão administrativa do Governo do Estado de Goiás e professor da Faculdade Alfredo Nasser. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Matemática Financeira, atuando principalmente nos seguintes temas: pronaf, políticas públicas, agricultura familiar, segurança alimentar e financiamento agrícola.

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O AGRONEGÓCIO DA CANA-DE-AÇÚCAR E OS PREÇOS DOS

COMBUSTÍVEIS NO ESTADO DE MINAS GERAIS

THE AGRIBUSINESS OF SUGAR CANE AND THE PRICES OF FUELS IN

THE STATE OF MINAS GERAIS

RESUMO

O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar, o segundo maior produtor de etanol e o maior produtor e exportador de açúcar do mundo. Em 2016, o estado de Minas Gerais se colocava como terceiro maior produtor de cana-de-açúcar do Brasil, atrás apenas dos Estados de São Paulo e Goiás, primeiro e segundo maiores produtores, respectivamente. O presente estudo tem por objetivo verificar a relação entre o preço dos combustíveis (gasolina comum, etanol hidratado e gás natural veicular) no Estado de Minas Gerais e importantes variáveis do agronegócio da cana-de-açúcar. Foram realizadas análises de correlação e de regressão linear múltipla abrangendo o período entre 2001 e 2014. Os resultados apontaram uma forte correlação linear positiva entre os preços dos combustíveis e um número significativo de variáveis do agronegócio da cana-de-açúcar, dentre as quais se destacam: produção de açúcar em Minas Gerais e unidades de veículos flex-fuel licenciados no Brasil. Na primeira etapa da regressão linear múltipla, concluiu-se que é forte a relação entre os preços da gasolina, do etanol hidratado e do gás natural veicular. Na segunda etapa da regressão, os resultados sugerem que é forte a relação entre os preços dos combustíveis em Minas Gerais com a produção de açúcar em Minas Gerais e as unidades de veículos movidos a gasolina, etanol hidratado e flex-fuel licenciados, no Brasil.

Palavras-Chave: Agronegócio, Setor sucroalcooleiro, Preço dos combustíveis.

ABSTRACT

Brazil is the largest producer of sugarcane, the second largest producer of ethanol and the largest producer and exporter of sugar in the world. In 2016, the State of Minas Gerais was the third largest producer of sugarcane in Brazil, behind only the states of São Paulo and Goiás, the first and second largest producers, respectively. The present study aims to verify the relationship between the price of fuels (common gasoline, hydrated ethanol and vehicular natural gas) in the State of Minas Gerais and important variables of agribusiness of sugarcane. Correlation and multiple linear regression were carried out to reach the objective proposed in the study, covering the period between 2001 and 2014. The results pointed to a strong positive correlation between fuel prices and a significant number of agribusiness variables of sugarcane, among which are: sugar production in Minas Gerais and flex-fuel vehicle units licensed in Brazil. In the first stage of multiple linear regression, it was concluded that the relationship between the prices of gasoline, hydrous ethanol and vehicular natural gas is strong. In the second stage of the regression, the results suggest that there is a relationship between fuel prices in Minas Gerais with a sugar production in Minas Gerais and units of vehicles moved of gasoline and hydrous ethanol licensed in Brazil.

Keywords: Agribusiness, Sugar and ethanol industry, Fuel prices.

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1 INTRODUÇÃO

chegada da cana-de-açúcar no território brasileiro ocorreu no século XVI, inicialmente cultivada nos estados da Bahia e Pernambuco, em seguida se expandindo para os estados de Rio de Janeiro e São Paulo. Após o enfraquecimento do mercado açucareiro no século seguinte, o crescimento e a intensificação da produção de cana-de-açúcar no Brasil foram retomados a partir da década de 1970, motivados pela crise do petróleo. Naquele momento, buscavam-se fontes alternativas para a substituição da commodity petróleo que, em sua maioria, era importado de países árabes, chegando ao auge da crise, a custar quatro vezes mais que o preço tradicionalmente praticado naquele período (BRASIL, 2013).

Após falhar em seus dois primeiros programas de incentivo de produção de energia renovável, (1) Proóleo e (2) Procarvão, o Brasil deu início ao programa Proálcool, que visava à produção de álcool a partir da cana-de-açúcar, inicialmente, etanol anidro e, logo depois, etanol hidratado (UNICA, 2013). Além do menor custo, a produção de cana-de-açúcar contribuiu para mitigação da emissão de gases na atmosfera, isso porque a utilização do seu produto final como combustível é menos poluente que o uso de outros combustíveis, em especial, os oriundos do petróleo, como o diesel e a gasolina (PRADO, 2007).

Segundo o Ministério da Agricultura (2013), o Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, com destaque para a região Sudeste do país, o que inclui o estado de Minas Gerais. O Brasil é também o segundo maior produtor de etanol do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos da América (EUA) que, por sua vez utiliza o milho como principal matéria-prima. Diante desse cenário, emerge a seguinte questão: Qual o impacto das variáveis ligadas ao agronegócio da cana-de-açúcar no preço dos combustíveis em Minas Gerais?

Assim, ao considerar a importância da cana-de-açúcar e do setor sucroalcooleiro para o agronegócio brasileiro, em especial, a produção de açúcar e etanol, este estudo tem por objetivo verificar a relação entre o preço dos combustíveis (gasolina comum, etanol hidratado e gás natural veicular) no estado de Minas Gerais e importantes variáveis do agronegócio da cana-de-açúcar, mais especificamente: produção de cana-de-açúcar, etanol anidro, etanol hidratado e açúcar, em Minas

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Gerais; produção de etanol anidro, hidratado e gás natural veicular, no Brasil;

exportação brasileira de etanol e açúcar, licenciamento anual de veículos automotores (movidos à gasolina, etanol hidratado e flex-fuel) e também a variável cotação do dólar.

Para consecução desse fim, foram aplicadas a correlação linear de Pearson e a regressão linear múltipla, com apoio do Software Statistical Package for Social Science (SPSS) versão 22.0. O estudo está focado no preço dos combustíveis no estado de Minas Gerais, que é um dos maiores produtores de cana-de-açúcar no Brasil, ficando atrás apenas do estado de São Paulo e, com alternância, na segunda colocação com o estado de Goiás. O modelo de regressão múltipla foi aplicado em duas etapas, consistindo a primeira na verificação da relação dos preços dos combustíveis entre si, incluindo-se o conjunto de variáveis do agronegócio da cana-de-açúcar selecionadas para o estudo. Já na segunda etapa, foi avaliado, especificamente, o impacto das variáveis do agronegócio da cana-de-açúcar na variação dos preços dos combustíveis em Minas Gerais.

Em suma, espera-se que os resultados desta pesquisa possam contribuir para promover o debate acerca das políticas relacionadas ao setor sucroalcooleiro, em especial, aquelas que tratam dos preços dos produtos oriundos desse setor. Isso porque, ao verificar o impacto do agronegócio da cana-de-açúcar na variação dos preços de diferentes tipos de combustível, tem-se, implicitamente, a análise do reflexo das variações ocorridas nesse segmento no bolso do consumidor final. Além disso, espera-se que o presente estudo motive uma maior discussão no meio acadêmico-científico e junto aos agentes da cadeia produtiva da cana-de-açúcar, tendo em vista a carência de pesquisas relacionadas ao tema abordado.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O AGRONEGÓCIO DA CANA-DE-AÇÚCAR EM MINAS GERAIS

A cana-de-açúcar passou a ser produzida em maior quantidade no Brasil, principalmente, motivada por transformações político-econômicas e mercadológicas do país, sobretudo, ligadas à escassez de petróleo e à preocupação com o meio ambiente. No estado de Minas Gerais, os motivos primitivos também foram a crise do

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petróleo e os programas de incentivo à produção, mas, ao longo do tempo, outros

fatores podem ter influenciado seu crescimento, dentre eles, a competitividade mercadológica entre as culturas agrícolas, o que acabou gerando o acirramento por espaço para produção de grãos, biocombustíveis, carnes e leite, dentre outros.

Segundo dados referentes ao perfil da produção de 2016, divulgados pelo Sindicato da Indústria da Fabricação do Álcool no Estado de Minas Gerais (SIAMIG), o Estado de Minas Gerais é composto por 130 municípios com produção canavieira que, no total, somam aproximadamente 929 mil hectares voltados à produção de cana-de-açúcar. Desses municípios, 28 possuem unidades industriais, com 36 usinas em funcionamento. Das 36 usinas, 2 produzem apenas açúcar, 11 produzem somente etanol e 23 produzem tanto açúcar como etanol. A região com maior significância em produção de cana-de-açúcar em Minas Gerais é a do Triângulo Mineiro, que representa algo em torno de 72% do total produzido no Estado. A mesma região também ganha destaque de participação na produção de 68% do etanol mineiro e 78%, na produção de açúcar.

Além de fatores climáticos, outro fator torna o Estado de Minas Gerais atraente para a produção desta cultura, o Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar (ZAE Cana), lançado pelo Governo Federal (ver Figura 1), com a finalidade de aperfeiçoar e otimizar a produção, preservar a vida e garantir o futuro da produção agrícola (EMBRAPA, 2009).

Figura 1 - Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar

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O Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar visa também a garantir o

equilíbrio entre a produção de alimentos, energia, etanol e o meio ambiente a partir de um mapeamento do território brasileiro (Figura 1). Esse mapeamento exclui as áreas com predominância de vegetações nativas, exclusão de biomas específicos (Amazônia, Pantanal e Bacia do Alto Paraguai) e ainda a conservação da biodiversidade. As áreas selecionadas como propícias à produção cana-de-açúcar (em verde, na Figura 1) apresentam características como: menor dependência de irrigação, declive inferior a 12% - para facilitar a utilização de máquinas agrícolas, substituição da colheita manual e das queimadas, além de incentivo ao cultivo em áreas já degradadas e outras antes utilizadas, principalmente, para pecuária bovina de corte e de leite (EMBRAPA, 2009).

2.2 EVOLUÇÃO DOS COMBUSTÍVEIS E CENÁRIO AUTOMOBILÍSTICO

De acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a produção do etanol teve início no ano de 1974 com o Proálcool, programa governamental criado para desviar-se das consequências provenientes da crise internacional de petróleo. Em 1977, apenas 4,5% de etanol eram adicionados à gasolina, contudo, esse patamar aumentou para 10,5% nos dois anos seguintes.

O primeiro carro movido a etanol hidratado, ou puro, foi fabricado no Brasil pela marca Fiat no ano de 1979. A partir da década de 1980, houve grande incentivo para a compra de carros movidos a etanol hidratado, tanto que, em 1983, eles representaram mais de 90% do total de vendas. Assim como as vendas de carros a álcool, crescia também o percentual de etanol anidro misturado à gasolina, que variou entre 20 e 25%, o que perdurou desde o ano de 1985 até a década de 1990.

Ainda quanto à proporção de etanol anidro adicionado à gasolina, destaca-se que essa proporção chegou a 27,5% no segundo semestre de 2014 (ANP, 2014). No que tange ao mercado, tem-se o ano de 2003 como marco que consolida a participação do etanol no setor automobilístico brasileiro (ver Gráfico 1), o que é definido pelo surgimento de veículos flex-fuel que são capazes de suportar tanto a combustão de álcool quanto de gasolina.

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Desde que começou a ser produzido, o veículo flex-fuel cresceu

significativamente, enquanto que a produção de veículos movidos exclusivamente a etanol foi praticamente extinta após o ano de 2006. Vale ressaltar que o veículo flex-fuel trouxe maior liberdade de escolha sobre qual combustível a ser utilizado. Essa nomenclatura, porém, não é restrita apenas aos veículos movidos a etanol e gasolina, mas também aos veículos considerados híbridos, em que se incluem os movidos por eletricidade ou gás natural - segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) com base nos dados do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN).

Gráfico 1 - Licenciamento de veículos (por tipo de combustível) no Brasil

Fonte: ANFAVEA, 2015

Um ponto importante a ser destacado é que, além de mais barato que a gasolina, o etanol contribui para a mitigação dos efeitos do aquecimento global, visto que esse produto emite uma quantidade consideravelmente inferior de poluentes, cerca de 90%, quando comparado aos demais combustíveis, principalmente, os oriundos do petróleo, além do trade-off entre a absorção de gás carbônico pela própria plantação de sua principal matéria-prima: a cana-de-açúcar (UNICA, 2013). Quanto ao gás natural veicular, esse surgiu com a promessa de ser mais econômico e menos poluente além de contribuir para um intervalo maior de trocas de óleo pelo simples fato de não produzir resíduos no interior do motor. Apesar de ter sido legalmente liberado para utilização em veículos em 1996, esse gás é comumente encontrado em táxis (PETROBRAS, 2015).

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O Gráfico 2 apresenta o comportamento do preço dos combustíveis no

estado de Minas Gerais entre 2001 e 2014. Nota-se que a variação do preço do etanol hidratado se comporta de maneira semelhante às oscilações de preços da gasolina, muito embora este segundo tenha se mantido, em média, R$0,70 abaixo do primeiro durante o período analisado. O preço de gás natural, por sua vez, muitas vezes apresentou-se próximo ao preço do etanol hidratado, com uma diferença média de R$0,26 no período.

Gráfico 2 - Variação do preço dos combustíveis no Estado de Minas Gerais

Fonte: ANP, 2015

2.3 PRODUÇÃO E MERCADO: AÇÚCAR E ETANOL

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Brasil é um país de extrema importância quando se trata de produção e exportação de vários produtos agrícolas. Dentre eles, destacam-se: café, suco de laranja, açúcar e etanol. Além de pioneiro em utilizar a cana-de-açúcar como matéria-prima, o Brasil é responsável por mais da metade do açúcar consumido no mundo.

Ao considerar os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (sigla em inglês, USDA), na safra 2014/2015, o Brasil é o líder na produção de açúcar, seguido da Índia e da União Europeia. Importante lembrar que essa última utiliza a Beterraba como matéria-prima para produção de açúcar. Quanto ao consumo de açúcar, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking mundial, ficando atrás apenas da Índia, União Europeia e China, respectivamente.

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De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e do

Serviço de Comércio Exterior (SECEX), a produção de cana-de-açúcar no Brasil alcançou 670 milhões de toneladas na safra 20014/2015, estimando-se que menos da metade desse total (46%) corresponde à produção de açúcar. Já do total referente à produção de açúcar, apenas 25% é utilizado no mercado interno, sendo o restante exportado em sua forma bruta (77%) e refinado (23%), destacando-se a Índia como nosso maior importador (CONAB, 2015; SECEX, 2015).

De um total de 670 milhões de toneladas resultantes da safra de 2014/2015, 54% se referem à produção de etanol, sendo 45% do tipo anidro e 55% do tipo hidratado. Do volume integral de etanol produzido, apenas 10% é destinado à exportação. Os EUA é o nosso principal comprador, sendo responsável pela aquisição de 58% de todo etanol brasileiro exportado (CONAB, 2015).

2.4 ESTUDOS RELACIONADOS AO TEMA

Poucas, porém, importantes pesquisas, buscaram explicar a variação do preço da gasolina mediante análise ou cruzamento com variáveis distintas. Roppa (2005), por exemplo, estudou a evolução do consumo da gasolina entre os anos de 1973 e 2003 e sua elasticidade no território brasileiro, tal como, a efetiva utilização do álcool como substituto à gasolina a partir de análise de dados relacionados ao consumo, preço de ambos os produtos, Produto Interno Bruto (PIB) e a dependência do Brasil quanto ao petróleo importado com utilização da técnica de cointegração. No curto prazo, os resultados não apontaram para um relacionamento estatisticamente significativo entre as variáveis, enquanto que, no longo prazo, o álcool foi considerado um substituto imperfeito, visto que os agentes econômicos não são muito sensíveis em relação às modificações no preço da gasolina.

Roppa (2005), em seus estudos, trouxe à tona a abordagem de outras investigações, como é o caso de Iootty que, em 2004, avaliou o potencial do gás natural veicular em substituição à gasolina, tendo constatado que esse produto se mostrou inelástico em relação ao preço, mas determinante em relação à renda, pois foi constatado que, no curto prazo, a viabilidade financeira era mais expressiva que o próprio preço dos combustíveis, principalmente, devido ao custo de conversão para

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adaptação do gás natural veicular. Em um segundo momento, ao avaliar o longo

prazo, estimou-se um resultado inverso, tendo em vista que a demanda é impactada pela variação do preço e não pelas alterações na renda.

Estudo realizado por Penedo, Pacagnella Júnior e Oliveira (2008) evidenciou o impacto das variáveis: preços do contrato futuro de açúcar, taxa de câmbio comercial, preço do petróleo no mercado norte-americano (WTI) e europeu (Brent) e período de entressafra da cana-de-açúcar nos preços de etanol anidro no Estado de São Paulo. Para isso, foi utilizado o modelo de regressão linear múltipla. A partir do teste de hipóteses, confirmou-se que o preço do açúcar, a cotação do dólar, a cotação do barril do petróleo WTI (americano) e o período entressafra impactam na variação do preço do etanol anidro. Já a cotação do barril do petróleo europeu (Brent) não demonstrou um resultado estatisticamente significativo com a variação do preço desse combustível.

Randow, Fontes e Carminati (2011), utilizando o modelo vetorial autorregressivo (VAR) e vetorial autorregressivo com correção de erro (VEC) em uma série temporal do período 2001-2009, estimaram a elasticidade preço e renda da demanda de álcool combustível no Brasil. Assim como o resultado obtido por Roppa (2005), o estudo apontou o álcool e a gasolina como substitutos imperfeitos, pois sua elasticidade foi significante, considerando-se o longo prazo. Os resultados apontaram também que a variação na renda se mostrou pouco determinante no que tange ao consumo do álcool, mesmo no longo prazo. Ainda no longo prazo, a sensibilidade no consumo do álcool apresentou-se mais relacionada às variações no preço da gasolina do que no próprio preço do álcool.

No âmbito internacional, Thompson, Meyer e Westthoff (2009) analisaram os efeitos da volatilidade do rendimento do milho e do preço do petróleo com imposição de metas de utilização de biocombustíveis nos Estados Unidos. Em outras palavras, a análise tinha como objetivo compreender como os choques em mercados do milho ou petróleo e políticas impostas pela EISA (Energy Independence and Security Act, traduzido para o português, Lei de Independência e Segurança Energética) podem interferir no preço e no consumo de etanol. Por meio da utilização de correlação, os autores constataram que a introdução de metas para utilização de etanol reduz a variação do consumo e, consequentemente, estimula a produção do milho. Nesse

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sentido, o preço do etanol e da matéria-prima (milho) são mais fortemente afetados

pela variação do preço do petróleo e pelo estoque de milho do que pelo consumo desse combustível. (acrescentei/Conferir)

Já Zhang et al. (2009) investigaram a variação do preço dos combustíveis em relação à produção de automóveis e às commodities soja e milho por meio de cointegração, correção de erros vetoriais (VECM) e modelos multivariados de heterocedasticidade condicional autorregressiva generalizada (MGARCH). Os resultados suportam que a produção de veículos impulsiona a demanda por combustíveis e que os preços do etanol e do petróleo são influenciados pelo preço da gasolina. Quanto à relação entre o preço das commodities agrícolas e os preços dos combustíveis, constatou-se que, no curto prazo, o preço do milho e da soja podem sofrer aumentos com o crescimento da demanda por combustíveis (principalmente, o etanol), porém descartou-se o fato de que exista influência significativa a longo prazo.

3 MATERIAL E MÉTODOS

A presente pesquisa caracteriza-se, quanto à abordagem, como quantitativa do tipo descritiva, edificada a partir de dados secundários e recorte temporal do período (2001-2014). Este estudo se utilizou também de dados e representações gráficas provenientes de importantes fontes institucionais, tais como: Agência Nacional do Petróleo (ANP), União da Indústria de Cana-de-Açúcar (ÚNICA), Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) e Banco Central do Brasil (BACEN). Ao se dispor pela avaliação do grau de associação das variáveis, aplicou-se a análise de correlação de Pearson, em que o coeficiente pode apontar uma variação negativa (entre 0 e -1), positiva (entre 0 +1) ou nula quando o coeficiente é igual a zero (ANDERSON; SWEENEY; WILLIAMS, 2007).

Na sequência, aplicou-se o modelo de regressão múltipla, que é uma metodologia que analisa a relação causal entre as séries de dados temporais em que variáveis independentes podem ou não explicar alterações na variável dependente. A equação geral de regressão linear múltipla pode ser expressa como segue:

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Em que: y, é o valor estimado da variável dependente; α, é a constante da

regressão; X1, X2, ..., Xk, representam as variações nas variáveis independentes; β1, β2, ..., βk, referem-se à elasticidade (coeficiente angular) das variáveis dependentes em

relação às independentes; e ut é o termo de erro da regressão.

No modelo de regressão, y é o preço do combustível (gasolina comum, etanol hidratado e gás natural veicular) pago pelo consumidor no Estado de Minas Gerais, levando-se em consideração as variações das variáveis independentes (Xk): consumo

de cada combustível; exportação de etanol e açúcar; venda e licenciamento de veículos automotores; produção de cana-de-açúcar e etanol em Minas gerais; produção de etanol anidro, etanol hidratado e gás natural veicular no território brasileiro; e cotação comercial do dólar americano.

A utilização do software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 22.0 permitiu a análise de regressão múltipla por meio da técnica por etapas, também conhecida como stepwise, que permitiu eliminar os coeficientes estatisticamente não significativos dos modelos selecionados.

As variáveis exploradas no estudo estão evidenciadas no quadro 1.

Quadro 1 - Caracterização das variáveis em estudo

Variável Descrição Fonte

Preço Gasolina Comum

(GASC) Preço médio da gasolina comum em MG em R$/litro. ANP

Preço Etanol Hidratado

(PEH) Preço médio do etanol hidratado no em MG em R$/litro. ANP

Preço Gás Natural

(GNV) Preço médio do gás natural veicular no em MG em R$/m³. ANP

Produção de Cana MG

(PCMG) Produção de cana-de-açúcar em Minas Gerais (Mil Toneladas). UNICA

Produção de Açúcar MG

(PAMG) Produção de açúcar em Minas Gerais em Mil toneladas. UNICA

Produção de Etanol Anidro em MG

(PEAMG) Produção de etanol anidro em Minas Gerais (mil m³). UNICA

Produção de Etanol Hidratado em MG

(PEHMG) Produção de etanol hidratado em Minas Gerais (mil m³). UNICA

Consumo de Gasolina

(CGMG) Consumo de gasolina em Minas Gerais em mil m³ ANP

Consumo de Etanol Hidratado

(CEHMG) Consumo de etanol hidratado em Minas Gerais em mil m³. ANP

Consumo de GNV MG

(CGNVMG) Consumo de gás natural veicular em Minas Gerais em mil m³. ANP

Produção de Etanol Anidro no Brasil

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Produção de Etanol Hidratado no Brasil

(PEHBR) Produção de etanol anidro no Brasil em mil m³. ANP

Produção de GNV Brasil (PGNVBR)

Produção de gás natural veicular no Brasil (em

milhões de m³). ANP

Licenciamento de Veículos Gasolina

(LVG) Licenciamento de veículos movidos a gasolina no Brasil em unidades. ANFAVEA

Licenciamento de Veículos Etanol

(LVE) Licenciamento de veículos movidos a etanol hidratado no Brasil em unidades. ANFAVEA Licenciamento de Veículos Flex-Fuel

(LVFF) Licenciamento de veículos flex-fuel no Brasil em unidades. ANFAVEA

Exportação de Açúcar

(EXPA) Exportação brasileira de açúcar (em Kg). UNICA

Exportação de Etanol

(EXPE) Exportação brasileira de etanol em litros. UNICA

Cotação do dólar

(CAMB) Preço médio da moeda estrangeira em reais. BACEN

Fontes: Agência Nacional do Petróleo (2015), União da Indústria de Cana-de-Açúcar (2015), Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (2015) e Banco Central do Brasil

(2015).

4 RESULTADO E DISCUSSÃO

A apresentação dos resultados desta pesquisa tem início com a exposição da análise de Correlação de Pearson, conforme Tabela 1. De maneira geral, os valores obtidos para correlação de Pearson sugerem que a maioria das variáveis apresenta relação linear ao nível de significância estatística de 1% e 5%, sendo 50% dessas associações positivas e fortes, e apenas 7% são associações negativas e fortes. Dentre as variáveis em estudo, apenas a exportação de etanol (litros) e o consumo de etanol hidratado em Minas Gerais (mil m³) não apresentaram relação linear com duas das variáveis de preços de combustíveis, mais precisamente, o preço gasolina comum e do etanol hidratado.

Quanto aos níveis de correlação linear forte, positivo e significante, em se tratando dos preços dos combustíveis, destacam-se as variáveis: preços dos demais combustíveis selecionados (hidratado, GNV e gasolina comum), produção de gás natural veicular no Brasil (milhões de m³), exportação de açúcar (quilogramas) consumo de gasolina comum e gás natural veicular em Minas Gerais (mil m³), unidades de veículos flex-fuel licenciados, produção de etanol anidro e hidratado em Minas Gerais (mil m³), produção de cana-de-açúcar e açúcar em Minas Gerais (mil toneladas).

Em compensação, quanto aos níveis de correlação linear forte, negativa e significante, apenas as variáveis: unidades de veículos licenciados movidos a gasolina

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e etanol se destacaram. O dólar comercial também apresentou correlação linear

negativa moderada (entre -0,65 e -0,70) significante aos níveis de 1% e 5% com os preços dos combustíveis.

Tabela 1 - Correlação entre os preços dos combustíveis no Estado de Minas Gerais e as variáveis do agronegócio da cana-de-açúcar

Variáveis Gasolina Preço Comum

Preço Etanol

Hidratado Preço GNV Preço da Gasolina Comum (em R$/L) 1 ,982** ,957**

Preço do Etanol Hidratado (em R$/L) ,982** 1 ,908**

Preço do gás natural veicular (em R$/m³) ,957** ,908** 1

Produção de gás natural veicular Brasil (mi m³) ,905** ,862** ,874**

Produção de Etanol Anidro no Brasil (mil m³) ,760** ,717** ,690**

Produção de Etanol Hidratado no Brasil (mil m³) ,770** ,694** ,892**

Exportação de Açúcar (quilogramas) ,884** ,859** ,906**

Exportação de Etanol (Litros) ,456ns ,378ns ,584*

Cotação do Dólar Comercial -,658* -,631* -,694**

Consumo de Etanol Hidratado em MG (mil m³) ,453ns ,335ns ,651*

Consumo de Gasolina Comum em MG (mil m³) ,893** ,874** ,813**

Consumo de gás natural veicular em MG (mi m³) ,880** ,862** ,792**

Licenciamento de Veículos - Gasolina (unidades) -,903** -,858** -,968**

Licenciamento de Veículos - Etanol (unidades) -,790** -,759** -,802** Licenciamento de Veículos - flex-fuel (unidades) ,898** ,818** ,943** Produção de Cana-de-Açúcar MG (mil toneladas) ,925** ,896** ,913** Produção de Etanol Hidratado MG (mil m³) ,780** ,758** ,818** Produção de Etanol Anidro MG (mil m³) ,835** ,771** ,805** Produção de Açúcar MG (mil toneladas) ,968** ,946** ,919** Notas: (GNV) gás natural veicular, (*) estatisticamente significante ao nível de 1%, (**) estatisticamente

significante ao nível de 5% e (ns) estatisticamente não significante.

Fonte: Dados da pesquisa

Apesar da expressiva associação positiva obtida entre a variação dos preços da gasolina, do etanol anidro e do gás natural veicular e diversas variáveis selecionadas para o estudo, a verificação da relação causal só foi possível por meio da análise de regressão múltipla conjuntamente com a aplicação da técnica por etapas de exclusão de variáveis não significantes, também conhecida por stepwise.

A regressão linear múltipla foi realizada, primeiramente, pela inserção de todas as variáveis independentes, incluindo-se as variações de preço dos combustíveis como variáveis independentes (ver Tabela 2) e, em um segundo momento (ver Tabela 3), fizeram parte da análise de regressão apenas as variáveis independentes: produção de cana-de-açúcar, etanol anidro, etanol hidratado e açúcar em Minas Gerais, produção de etanol anidro, hidratado e gás natural veicular no Brasil, exportação de etanol e açúcar, licenciamento anual de veículos automotores e

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cotação do dólar, ou seja, nas regressões da Tabela 3, não foi avaliado o impacto da

variação de preço de determinado combustível nos demais tipos de combustíveis.

Tabela 2 - Regressão Múltipla Com Inclusão dos Demais Preços

Modelo 1a Modelo 1b Modelo 1c Preço da Gasolina Comum Preço do Etanol Hidratado Preço do GNV

β ETH R² R²Ajustado β GASC R² R²Ajustado β LVFF R² R²Ajustado

0,9640 0,9300 0,9230 0,9640 0,9230 0,9430 0,8890 0,8780 [11538] [11538] 0,9300 [18,174] 0,0000 0,0000 0,0000 Modelo 2a Modelo 2b Preço da Gasolina Comum Preço do Etanol Hidratado

β ETH β GNV R² R²Ajustado β GASC β GNV R² R²Ajustado

0,6440 0,3930 0,9780 1,3720 -0,4440 0,9520 [8,263] [5,039] 0,9820 [8,263] [-2,673] 0,9610 0,0000 -0,0010 0,0000 -0,0250 Modelo 3a Preço da Gasolina Comum

β ETH β GNV β PAMG R² R²Ajustado

0,6030 0,2940 0,1630

0,9900 0,9870

[9,648] [4,136] [2,638] 0,0000 -0,0030 -0,0300

Nota: ETH (preço do etanol hidratado), GNV (preço do gás natural veicular), PAMG (produção de açúcar em MG), GASC (preço da gasolina), LVFF (licenciamento de veículos flex-fuel), (.) p-valor, [.] Estatística t.

Fonte: Dados da Pesquisa.

Conforme pode ser visualizado na Tabela 2, os Modelos 1a e 1b apontam que a variação do preço do etanol hidratado é capaz de explicar 92,3% da variação do preço da gasolina, com a elasticidade das alterações do preço da gasolina às alterações do preço do etanol hidratado sendo de 0,9640, e vice-versa. Esse resultado sugere que o aumento do preço da gasolina está associado positivamente com o aumento do preço do etanol, ou seja, um hipotético aumento de 1% no preço do segundo levaria a aproximadamente 0,96% de variação no preço do primeiro, e vice-versa.

Já o Modelo 1c da Tabela 2 indiciam que somente as variações em unidades de veículos flex-fuel licenciados seriam capazes de explicar 87,8% da variação do preço do gás natural veicular, com a elasticidade das alterações do preço do gás natural veicular às alterações das unidades de veículos flex-fuel licenciados, atingindo o patamar de 0,9430. Essa elasticidade indica que o aumento de unidades de veículos flex-fuel licenciados está associado positivamente com o aumento do preço do gás

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natural veicular, ou seja, um aumento de 1% no primeiro ampliaria em torno de 0,94%

o preço do gás natural veicular.

O Modelo 2a da Tabela 2 assinala uma relação positiva dos preços do etanol hidratado e do gás natural veicular com o preço da gasolina. O Modelo 2a sugere ainda que uma possível variação de 1% nos preços do etanol hidratado e gás natural veicular acarretariam, respectivamente, um aumento de aproximadamente 0,64% e 0,39% no preço da gasolina. Além disso, apenas as alterações nos preços do etanol hidratado e do gás natural veicular seriam capazes de explicar algo em torno de 97% da variação do preço da gasolina.

A respeito do Modelo 2b da Tabela 2, destaca-se a relação positiva do preço da gasolina e negativa do preço do gás natural veicular com o preço do etanol hidratado. O Modelo 2b indica ainda que uma hipotética variação de 1% nos preços da gasolina e do gás natural veicular acarretaria, respectivamente, em um aumento de, aproximadamente, 1,37% e na redução de 0,44% no preço do etanol hidratado. Além disso, apenas as alterações nos preços da gasolina e do gás natural veicular seriam capazes de explicar algo em torno de 95% da variação do preço do etanol hidratado.

Já o Modelo 3a da Tabela 2 assinala uma relação positiva dos preços do etanol hidratado, preços do gás natural veicular e produção de açúcar em Minas Gerais com o preço da gasolina. O Modelo 3a sugere que uma variação de 1% nos preços do etanol hidratado, do gás natural veicular e da produção de açúcar em Minas Gerais levaria a uma variação positiva, respectivamente, de 0,60%, 0,29% e 0,16% no preço da gasolina. Além disso, as alterações dessas variáveis seriam capazes de explicar 98,7% da variação do preço da gasolina.

Após a análise de regressão múltipla com a inclusão das variáveis preços dos combustíveis como independentes na Tabela 2, segue a Tabela 3, que se caracteriza pela exclusão das variáveis preços de combustíveis como independentes no modelo de regressão múltipla.

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Tabela 3 - Regressão múltipla com a exclusão das variáveis preços dos combustíveis como independentes

Modelo 1d Modelo 1e Modelo 1f Preço da Gasolina Comum Preço do Etanol Hidratado Preço do GNV

β PAMG R² R²Ajustado β PAMG R² R²Ajustado β LVFF R² R²Ajustado

0,9590 0,9190 0,9110 0,9170 0,8410 0,8250 0,9430 0,8890 0,8780 [10661] [7,282] [18,174] (0,0000) (0,0000) (0,0000) Modelo 2c Preço da Gasolina Comum

β PAMG β LVG R² R²Ajustado 0,7830 -0,2460 0,9490 0,9380 [7,281] [2,291] (0,0000) (0,0480) Modelo 3b Preço da Gasolina Comum

β PAMG β LVG β LVFF R² R²Ajustado 1,2820 -0,6770 -0,8800 0,9830 0,9770 [9,183] [-5,417] [-4,044] (0,0000) (0,0010) (0,0040) Modelo 4ª Preço da Gasolina Comum

β PAMG β LVG β LVFF β LVEH R² R²Ajustado

1,3420 -0,4510 -1,0110 -0,3140

0,9900 0,9870

[12,024] [-3,378] [-5,683] [-2,477] (0,0000) (0,0120) (0,0010) (0,0420)

Nota: GNV (preço do gás natural veicular), PAMG (produção de açúcar em MG), LVG (licenciamento de veículos à gasolina), LVFF (licenciamento de veículos flex-fuel), LVEH (licenciamento de veículos etanol hidratado) (.) p-valor, [.] Estatística t.

Fonte: Dados da Pesquisa

Conforme pode ser visualizado na Tabela 3, os Modelos 1d e 1e apontaram a relação positiva do preço da gasolina e do etanol com a produção de açúcar em Minas Gerais. Os Modelos 1d e 1e sugerem ainda que uma hipotética variação de 1% na produção de açúcar em Minas Gerais acarretaria, respectivamente, em um aumento de aproximadamente 0,95% e 0,91% na volatilidade dos preços da gasolina e do etanol hidratado. Além disso, apenas as alterações na produção de açúcar em Minas Gerais seriam capazes de explicar algo em torno de 91% da variação do preço da gasolina e 82% da variação do preço do etanol hidratado.

A respeito do Modelo 1f da Tabela 3, nota-se que os resultados são idênticos aos do Modelo 1c da Tabela 2. Isso ocorre porque as variações dos preços da gasolina e do etanol hidratado não influenciam no preço do gás natural veicular (ver Tabela 2). Além disso, destaca-se que, dentre as variáveis independentes

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selecionadas para regressão múltipla (ver Tabela 3), apenas às alterações das

unidades de veículos flex-fuel licenciados são capazes de explicar, aproximadamente, 88% as variações no preço do gás natural veicular.

Sobre o Modelo 2c da Tabela 3, destaca-se a relação positiva da produção de açúcar em Minas Gerais e negativa das unidades de veículos movidos a gasolina licenciados com o preço da gasolina. O Modelo 2c indica ainda que uma hipotética variação de 1% na produção de açúcar em Minas Gerais e de 1% nas unidades de veículos movidos a gasolina licenciados acarretaria, respectivamente, em um aumento de aproximadamente 0,78% e na redução de 0,24% no preço da gasolina. Além disso, ressalta-se que apenas as alterações na produção de açúcar em Minas Gerais e nas unidades de veículos movidos a gasolina licenciados seriam capazes de explicar algo em torno de 94% da variação do preço da gasolina.

Ao incluir no Modelo 2c a variável veículos flex-fuel licenciados como variável independente, chegou-se ao Modelo 3b, que destaca a relação positiva da produção de açúcar em Minas Gerais e negativa das unidades de veículos movidos a gasolina e veículos flex-fuel licenciados com o preço da gasolina. O Modelo 3b sugere que uma variação de 1% na produção de açúcar em Minas Gerais e de 1% nas unidades de veículos movidos à gasolina e veículos flex-fuel licenciados causaria, respectivamente, um aumento de aproximadamente 1,28% e redução de 0,67% e 0,88%, no preço da gasolina. Além disso, ressalta-se que as alterações na produção de açúcar em Minas Gerais e nas unidades de veículos movidos a gasolina e veículos flex-fuel licenciados seriam capazes de explicar de 97,7% da variação do preço da gasolina.

Ao incluir os veículos licenciados movidos a etanol hidratado no Modelo 3b da Tabela 3, tem-se a concepção do Modelo 4a, que representou um ganho de 1% em explicação da variação do preço da gasolina. O Modelo 4a apresenta a relação positiva da produção de açúcar em Minas Gerais e negativa das unidades de veículos movidos a gasolina, etanol hidratado e flex-fuel licenciados com o preço da gasolina. Os coeficientes do Modelo 4a sugerem que uma hipotética variação de 1% na produção de açúcar em Minas Gerais e de 1% nas unidades de veículos movidos a gasolina, etanol e veículos flex-fuel licenciados causaria, respectivamente, um aumento de aproximadamente 1,34% e redução de 0,45%, 1,01% e 0,31%, no preço da

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gasolina. Além disso, ressalta-se que as alterações na produção de açúcar em Minas

Gerais e nas unidades de veículos movidos a gasolina, etanol hidratado e flex-fuel licenciados seriam capazes de explicar de 98,7% da variação do preço da gasolina.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo verificar a relação entre o preço dos combustíveis (gasolina comum, etanol hidratado e gás natural veicular) no Estado de Minas Gerais e importantes variáveis do agronegócio da cana-de-açúcar, mais especificamente: produção de cana-de-açúcar, etanol anidro, etanol hidratado e açúcar em Minas Gerais; produção de etanol anidro, hidratado e gás natural veicular no Brasil; exportação brasileira de etanol e açúcar; licenciamento anual de veículos automotores (movidos à gasolina, etanol hidratado e flex-fuel) e cotação do dólar. Foi avaliada ainda a relação dos preços dos combustíveis entre si, com a inclusão das variáveis do agronegócio da cana-de-açúcar.

As análises de correlação mostraram que a maioria das variáveis do agronegócio da cana-de-açúcar, selecionadas no estudo, apresentam relação linear positiva, forte e estatisticamente significante com os preços dos combustíveis. A exceção ficou por conta das variáveis unidades de veículos licenciados movidos a gasolina, etanol hidratado e cotação do dólar comercial, as quais apresentaram relação negativa com os preços dos combustíveis. Apenas a exportação de etanol e o consumo de etanol hidratado em Minas Gerais não apresentaram relação linear com os preços gasolina comum e do etanol hidratado.

A primeira etapa da regressão linear múltipla, que avaliou conjuntamente a relação entre as variáveis do agronegócio da cana-de-açúcar e preços dos combustíveis entre si, permite concluir que é forte a relação entre os preços da gasolina, do etanol hidratado e do gás natural veicular. Além disso, os resultados mostraram que a produção de açúcar em Minas Gerais impacta no preço da Gasolina. Especificamente, concluiu-se ainda que. Dentre as variáveis estudadas, a variação no número de veículos flex-fuel licenciados é a única influenciadora direta no preço do gás natural veicular.

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Na segunda etapa, após a análise da regressão linear múltipla, que avaliou

apenas a relação entre os preços dos combustíveis e as variáveis do agronegócio da cana-de-açúcar (incluindo a cotação do dólar), concluiu-se que é forte a relação entre os preços dos combustíveis e a produção de açúcar em Minas Gerais e as unidades de veículos movidos à gasolina, etanol hidratado e flex-fuel licenciados. Essa conclusão leva em conta o poder de explicação da variação dos preços de combustíveis pelas variáveis selecionadas pela técnica por etapas.

Uma vez apresentadas as conclusões do estudo, recomenda-se que pesquisas futuras envolvam análise similar para outros estados brasileiros e, até mesmo, a inclusão de outras variáveis que podem influenciar a variação do preço dos combustíveis. Sugere-se também a utilização de outras de técnicas de análise que possam contribuir para explicar o fenômeno estudado, como as que levam em consideração a cointegração entre as séries e a velocidade do ajuste dos preços.

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