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Audiência pública Sistema Único de Saúde. O acesso às prestações de saúde no Brasil Desafios ao Poder Judiciário

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Academic year: 2021

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Audiência pública – Sistema Único de Saúde

Definição do tema no STF:

O acesso às prestações de saúde no Brasil – Desafios ao Poder Judiciário

ROTEIRO PARA EXPOSIÇÃO DO ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO

Objeto: Diversos pedidos de suspensão de segurança, suspensão de liminar

e suspensão de tutela antecipada em trâmite no âmbito da Presidência do Supremo Tribunal Federal, bem como pedido de súmula vinculante e recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida.

No tocante ao pedido de súmula vinculante formulado pelo Defensor Público Geral da União, as alegações são no sentido de que há entendimento pacífico, dos Tribunais, acerca da responsabilidade solidária de todos os entes federativos pelo custeio e fornecimento de medicamentos e tratamentos médicos de que necessitem pessoas hipossuficientes; e que a edição de súmula vinculante impediria os supostos recursos protelatórios interpostos pelos entes públicos, trazendo segurança jurídica e celeridade aos feitos que versem sobre o tema.

Fundamentos para impugnação do pedido:

1. Declaração de ausência de conflito de interesse. Apresentado por todos os especialistas habilitados a participar da audiência pública, em nome da União e do Ministério da Saúde;

2. A União reconhece a absoluta essencialidade do direito à saúde, enquanto corolário do direito à vida e à dignidade humana, tutelados pela

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Declaração Universal dos Direitos Humanos1 e pela Constituição Federal, de maneira enfática, nos mais diversos dispositivos2.

Assim, torna-se necessário demonstrar e defender que esse direito seja assegurado de acordo com as normas constitucionais e conforme as diretrizes do sistema regionalizado e hierarquizado, estabelecido para as ações e os serviços de saúde, nos termos do art. 196, CF/88;

3. Os investimentos e as dotações orçamentárias federais destinadas ao Ministério da Saúde – especialmente à política nacional de medicamentos – aumentam a cada exercício3, assim como os repasses aos demais entes da Federação, integrantes do SUS4, previsto no art. 200, CF/88, e na Lei nº 8.080/90;

4. Os recursos estatais para a efetivação deste direito social são finitos, de modo que a judicialização indiscriminada no fornecimento de medicamentos à população, geralmente em sede de cognição sumária, representa sério risco à organização e ao planejamento das políticas publicas de saúde.

5. Muitos magistrados vêm fazendo uma análise voltada para o dramático caso concreto, optando pelo reconhecimento do direito individual à vida e distanciando-se das necessidades e dos anseios da coletividade, até mesmo em razão do apelo emocional intrínseco aos pedidos judiciais que têm por objeto o direito à saúde.

1 Art. XXV.

2 Arts. 5º, caput; 6º; 7º, IV e XXII; 23, II; 24, XII; 30, VII; 34, II, “e”; 35, III; 37, XVI, “c” e §4º, III; 167,

IV; 194 a 200; 201, §1º; 208, VII; 212, §4º; 220, §3º, II; 227, caput, e §1º, I;

3 A título ilustrativo, a Lei Orçamentária Anual vigente reservou para o Ministério da Saúde a quantia de

quase 60 bilhões de reais, num incremento de cerca de 14% em relação ao ano anterior (2008), muito acima da inflação do período (5,9%, medida pelo IPCA – fonte: IBGE) e do crescimento do PIB projetado para 2009 (4,5%). Relatório do Instituto de Direito Sanitário Aplicado.

4 Eis a definição legal do SUS, segundo o art. 4º da Lei nº 8.080/90: o conjunto de ações e serviços de

saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o SUS.

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No entanto, a complexidade da questão é muito maior do que se tem discutido em juízo. Por conta disso, é imperiosa a necessidade de analisar a questão sob todas as perspectivas que se apresentam e de apontar, de forma clara e precisa, os detalhes relevantes para a solução do problema. Daí a importância da realização da presente audiência pública.

6. O direito à saúde não implica garantia de acesso a todo e qualquer medicamento ou tratamento médico. As políticas públicas que contemplem a integralidade, a universalidade, a isonomia e a racionalidade no uso dos fármacos devem ser observadas.

Não obstante a CF/88 tenha reservado toda uma seção do capítulo destinado à Seguridade Social, para abordar o direito à saúde, apenas o art. 196, mais precisamente a expressão “a saúde é direito de todos e dever do

Estado”, tem sido utilizada como fundamento às decisões prolatadas, sem

qualquer preocupação de enquadrá-lo em uma abordagem sistemática, que permita aferir qual o real alcance que lhe quis atribuir a Carta Magna;

7. Conjugando o teor dos dispositivos constitucionais, tem-se que: o direito

à saúde será garantido pelo Estado mediante políticas sociais e econômicas, que visem, além da prevenção, o acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde (art. 196), as quais serão regulamentadas pelo Poder Público (art. 197) e constituirão um sistema

único, organizado de acordo com as diretrizes da descentralização, do

atendimento integral e da participação da comunidade (art. 198, I, II e II).

Desse modo, o direito à saúde foi posto na Constituição Federal dentro de um arcabouço bastante delineado, em que, de um lado, está a obrigação estatal de garantir tal direito – a saúde é dever do Estado – e, de outro, os meios de que disporá para fazê-lo – políticas públicas e ações e serviços de saúde.

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8. A elaboração de políticas públicas pressupõe, ab initio, o estabelecimento de escolhas. Sendo assim, o fato de o Poder Público

apontar os medicamentos e tratamentos que serão fornecidos à população não induz, por si só, à conclusão de que se está diante de intolerável e inconstitucional limitação ao direito à saúde. Antes, indica que se está por estabelecer garantias de acesso aos serviços de saúde disponíveis.

A integralidade do atendimento pressupõe o amplo acompanhamento do paciente pela rede do SUS, com precisa avaliação, inclusive, da medicação que lhe será fornecida, máxime quando considerado que os medicamentos podem representar – se mal administrados ou mal indicados –, sérios prejuízos à saúde dos que dele se utilizam.

O desperdício de medicamentos ou o seu uso inadequado é, em última instância, desperdício de vidas. É fundamental, portanto, que haja uma seleção de quais fármacos serão fornecidos pelo SUS, a fim de que não haja desperdício de verbas públicas, com o fornecimento de medicamentos não eficazes ou não efetivos à saúde dos usuários.

9. Atentando-se a isso, foi estabelecida no âmbito do SUS a Política

Nacional de Medicamentos, prevista na Portaria/MS n.º 3.916, de 30 de

outubro de 1998, com propósito de garantir (i) a necessária segurança, eficácia e qualidade dos produtos farmacológicos, (ii) a promoção do uso racional e (iii) o acesso da população àqueles considerados essenciais. 10. A preocupação dos gestores do SUS, com a excessiva judicialização, é com o fornecimento de medicamentos e tratamentos não contemplados

nas políticas de saúde.

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esfera precípua dos demais Poderes do Estado; segundo porque cria nova modalidade de beneficiários, qual seja, aquela que possui uma liminar e, com isso, terá tratamento preferencial; terceiro porque altera a distribuição de recursos, desvia o orçamento destinado a cobrir os tratamentos básicos para as hipóteses não amparadas, sujeitando os menos favorecidos a um sistema em pior condições.

Forma-se, então, um sistema de saúde paralelo ao SUS, priorizando o atendimento das pessoas que, muitas vezes, sequer procuraram atendimento junto ao Sistema e ingressaram com ação judicial, em detrimento dos usuários que aguardam atendimento junto às unidades de atendimento credenciadas pelo SUS.

11. “Impossibilidade de bloqueio de valores públicos”. A decisão judicial que determina o bloqueio de verbas públicas para o cumprimento de tutela antecipada e/ou liminar, além de violar os preceitos constitucionais contidos no art. 100, caput e §§2º e 3º e art. 167, II, ambos da CF/88, também viola o direito à vida e à saúde dos usuários dos SUS, portanto, o próprio art. 196 da Carta Magna, e o princípio da proporcionalidade, diante da existência de outros meios coercitivos menos gravosos ao interesse público.

12. Ante o fato de os direitos fundamentais sociais exigirem prestações positivas do Estado, põe-se em relevo sua dimensão econômica e a análise não apenas da conveniência e oportunidade de adoção da medida, mas, principalmente, da possibilidade, significando que a efetiva realização das prestações reclamadas não é possível sem que se desprenda algum recurso, dependendo, em última análise, da conjuntura econômica e financeira.

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financeiramente possível, devendo utilizar-se de escolhas que beneficiem a maior parte da população.

13. A atuação do Judiciário, nas ações individuais de saúde, terá repercussão direta sobre a alocação de recursos públicos, atingindo, ainda que não intencionalmente, toda a população beneficiada pelo SUS. Isso porque o administrador terá de retirar recursos financeiros de uma

determinada área prioritária com o intuito de aplicar em outra.

Portanto, as decisões podem até atender às necessidades imediatas de determinados jurisdicionados, mas, a curto prazo, impedirão às políticas estatais na promoção da saúde pública.

Nesta inevitável colisão de direitos, deverá prevalecer a saúde coletivamente considerada e a garantia de implementação de políticas públicas verdadeiramente indispensáveis aos cidadãos.

Referências

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