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CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O RACISMO: Um novo vetor de atuação do estado

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Academic year: 2021

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CONVENÇÃO INTERAMERICANA

CONTRA O RACISMO:

Um novo vetor de atuação do estado

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realização apoio

CONVENÇÃO INTERAMERICANA

CONTRA O RACISMO:

Um novo vetor de atuação do estado

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Equipe responsável

pela publicação

Coordenação Geral Hédio Silva Jr. Coordenação Editorial Daniel Teixeira Flavio Carrança

Preparação de texto final

Hédio Silva Jr. Projeto Gráfico e Diagramação Julia Melo Revisão Flavio Carrança São Paulo

SUMÁRIO

04

Convenção interamericana contra o racismo

05

Novo vetor de atuação do estado

09

Será como uma emenda constitucional estabelecendo ações afirmativas

13

Conceitos

17

Promover a igualdade vale mais do que combater a discriminação

21

O estado é o principal responsável pela promoção da igualdade racial

22

Educação é instrumento fundamental na promoção do respeito à diversidade étnico-racial e efetivação da igualdade racial

26

A consideração do racismo como agravante de atos de violação de direitos

29

Mecanismos democráticos e regulares de controle de implementação dos direitos ampliam o acesso à oea

(4)

CONVENÇÃO INTERAMERICANA

CONTRA O RACISMO

Nos últimos anos, diferentes organizações sociais - como a Associa-ção de Juízes do Rio Grande do Sul, o Ministério Público do Trabalho e a Central Única dos Trabalhadores - fizeram gestões e lançaram petições públicas visando a ratificação da “Convenção Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Conexas de Intolerância”. Ao fim de oito anos de negociações lideradas pelo Brasil, esta Convenção foi aprovada pela Assembleia Geral da Organização dos Estados Ameri-canos em 5 de junho de 2013.

A aprovação oficial dos termos desse tratado pelo Estado brasileiro representará um impulso extraordinário na luta pelas ações afirmativas na medida em que a obrigação de implementá-las constitui um de seus principais ideários. Do ângulo da implementação de políticas públicas e privadas, por sua vez, significará um reforço no estágio atual de imple-mentação de ações afirmativas na educação superior e no serviço público.

Estas são as razões que animaram o CEERT a elaborar esta Cartilha, na esperança de que ela contribua com o esforço de diferentes atores sociais brasileiros para que a Presidência da República e o Congresso Nacional adotem o quanto antes as medidas necessárias para ratifica-ção da “Convenratifica-ção Interamericana Contra o Racismo, a Discriminaratifica-ção Racial e Formas Conexas de Intolerância”.

NOVO VETOR DE ATUAÇÃO DO ESTADO

Diferenciando-se das Convenções sobre o racismo adotadas pela ONU e suas agências especializadas desde os anos 50, a Convenção em foco:

1.

imputa aos estados e ao setor privado a principal responsabilidade pelo fenômeno do racismo, atribuindo-lhes o dever jurídico de promover ações afirmativas, também denominadas como igualdade material, igualdade de oportunidades;

2.

prioriza a obrigação estatal e privada de promover a igualdade racial situando a punição à discriminação racial num plano acessório;

(5)

3.

equipara a responsabilidade do setor privado à do setor público;

4.

assume que as manifestações de discriminação racial apresentam

simultaneamente caráter individual, estrutural e institucional;

5.

adota os conceitos de discriminação indireta e múltipla/agravada;

6.

elege a educação como instrumento primordial na promoção do

respeito à diversidade étnico-racial e na promoção da igualdade, da não-discriminação e da tolerância;

7.

reconhece que a cor/raça do indivíduo sujeita-o a ações arbitrárias por parte de agentes de segurança pública e do sistema penal;

8.

propõe a consideração do racismo como fator agravante de qualquer ato de violência motivada por discriminação racial; e

9.

institui mecanismos democráticos e regulares de controle da

implementação dos direitos, inclusive o direito de petição individual à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Dada a relevância destes aspectos para a compreensão da abrangên-cia da Convenção, convém uma breve digressão sobre eles.

(6)

SERÁ COMO UMA EMENDA CONSTITUCIONAL

ESTABELECENDO AÇÕES AFIRMATIVAS

Com o reconhecimento oficial pelo Estado brasileiro, a Convenção Interamericana contra o Racismo passará a ter o mesmo valor de uma emenda constitucional, a partir da qual o princípio das ações afirmati-vas estará previsto na própria Constituição Federal, vinculando obriga-toriamente a formulação e implantação de políticas públicas e privadas em toda e qualquer seara.

Isto porque a Constituição Federal prevê que os tratados internacio-nais sobre direitos humanos aprovados em dois turnos, nas duas casas do Congresso Nacional, ingressam no sistema jurídico interno com sta-tus de emenda constitucional1.

1 CF, “Art. 5º, § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.”

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Se é verdade que no julgamento da APDF 186 o Supremo Tribu-nal Federal declarou a constitucioTribu-nalidade das ações afirmativas no acesso à educação superior, admitindo sua aplicação em outras áre-as, a ratificação da Convenção em foco terá um efeito incomensu-ravelmente maior: significará uma diretriz constitucional expressa, inequívoca, contra a qual não mais será possível antepor qualquer objeção de natureza jurídica.

Conforme previsto na aludida Convenção, o princípio da ação afirma-tiva deverá ser implementado nas áreas de educação, emprego, capa-citação profissional, habitação, seguridade social, empreendedorismo, acesso aos serviços públicos, acesso à Justiça, ou ainda para garantir o exercício e gozo de qualquer outro “direito ou liberdade fundamental” (arts. 6º, 7º, 9º, 10, v. g.).

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CONCEITOS

Discriminação Racial

Segundo a Convenção, discriminação racial é definida como qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência com propósito ou efeito de anular ou restringir o reconhecimento, exercício, ou gozo de direitos, de forma igualitária, baseada nos critérios de raça, cor, ascendência, ori-gem nacional ou étnica.

Discriminação Racial Indireta

A ação que discrimina, consiste em ato, em conduta que viola direitos com base em critério racial, independentemente da motivação que lhe deu causa. A discriminação racial indireta é a que se dá por dispositivo, prática ou critério aparentemente neutro, mas que acarreta desvanta-gem particular para pessoas pertencentes a um grupo específico, com base nos critérios já mencionados no item acima.

Desta forma, o conceito de discriminação racial indireta possibilita o enfrentamento do racismo praticado por instituições. Isto porque a

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ado-ção de dispositivo, prática ou critério que gera discriminaado-ção racial pode ser realizada por instituições, públicas ou privadas, no desempenho de suas atividades. O reconhecimento desta forma de discriminação e a previsão de medidas para seu enfrentamento é uma contribuição muito relevante da Convenção.

Discriminação racial múltipla/agravada

A discriminação racial múltipla, por sua vez, refere-se à coincidência de duas ou mais formas de discriminação racial, isto é, quando ela se manifesta baseada em mais de um critério discriminatório, dentre os previstos na própria Convenção (raça, cor, ascendência ou origem nacio-nal ou étnica) ou reconhecidos em outros instrumentos internacionais.

O conceito é importante tanto por reconhecer que há situações em que existe a manifestação de mais de uma forma de discriminação ra-cial, quanto por tornar mais graves esses casos, nos quais a atuação do poder público e da sociedade também deve ser multifacetada, caso contrário seu enfrentamento será insuficiente.

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PROMOVER A IGUALDADE VALE MAIS DO QUE

COMBATER A DISCRIMINAÇÃO

Em diferentes passagens, a Convenção menciona a expressão “políti-cas promocionais”, “medidas de ação afirmativa”, “medidas preventivas”, “políticas especiais”, etc. Isso quer dizer que, diferentemente de suas antecessoras, ela prevê expressamente que a reparação civil por racis-mo deve ser priorizada em relação à reparação no âmbito criminal. O principal papel do Estado, portanto, deve ser assumir um papel positivo, proativo, visando promover a igualdade.

Reprimir a discriminação, inclusive por meio de leis penais, é im-portante mas não resolve o problema. A atuação meramente repres-siva tem pelo menos duas limitações: 1. o poder público assume uma postura passiva, somente entrando em campo depois que ocorre a discriminação; 2. atinge-se somente os efeitos (a ação discriminatória) mas não as causas – os valores, a ideologia racista, o preconceito, o estereótipo antinegro.

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Promover a igualdade significa que o Estado deve agir preventiva-mente, positivapreventiva-mente, adotando todas as medidas para que a igualda-de jurídica se traduza em igualdaigualda-de na prática; igualdaigualda-de igualda-de oportuni-dades e de tratamento.

Não se trata, portanto, de um jogo de palavras, uma questão semântica. O princípio jurídico da promoção da igualdade (ação afirmativa), re-afirmado pela Convenção, significa que em todas as áreas de política pública o Estado deve se preocupar- na prática e não apenas no papel - em garantir que a população negra tenha as mesmas oportunidades e o mesmo tratamento.

(12)

O ESTADO É O PRINCIPAL RESPONSÁVEL PELA

PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL

A Convenção determina que governos, sociedade civil, empresas e in-divíduos devem somar esforços para que a igualdade racial seja um pilar de todas as políticas e serviços oferecidos pelo Poder Público. Os governos têm a maior cota de responsabilidade, mas a comunidade também deve fazer sua parte. Além disso, a promoção da igualdade também deve ser considerada um compromisso pessoal com a ética, a justiça e a paz social.

Ao aprendermos a respeitar a diferença e ver o outro como ser hu-mano, seja ele indígena, judeu, branco ou negro, nos tornamos pessoas melhores e colaboramos para que nossa rua, nosso bairro e nosso país sejam cada vez melhores. Nossa nação é formada por uma variedade de grupos étnicos, culturais e religiosos: todos são igualmente brasileiros, devem ter as mesmas oportunidades e exercer os mesmos direitos. Por isso este assunto não pode ser encarado como algo menor ou de inte-resse apenas de um segmento: ele diz respeito a todos nós brasileiros.

(13)

EDUCAÇÃO É INSTRUMENTO FUNDAMENTAL NA

PROMOÇÃO DO RESPEITO À DIVERSIDADE

ÉTNICO-RACIAL E EFETIVAÇÃO DA IGUALDADE ÉTNICO-RACIAL

A partir do papel estratégico atribuído pela Convenção à educação, é possível concluir que ela – sobretudo a educação escolar – deve ser considerada a partir de dois ângulos distintos e complementares. O pri-meiro como espaço dentro do qual deve ser assegurada a interação res-peitosa e positiva com a diversidade humana, adequando-se os espaços físicos, materiais didáticos e paradidáticos e preparando-se educadores e funcionários para serem agentes de promoção da diversidade.

O segundo ângulo situa a educação como instrumento de transfor-mação social, no sentido em que prepara a infância e a adolescência para valorar positivamente a diferença, dissociando diferença de in-ferioridade, de maneira que a médio e longo prazo o preconceito e a discriminação sejam erradicados da sociedade. Isto é, não basta que

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cabe-lhe também fomentar uma cultura de respeito recíproco e de convivência harmoniosa entre todos os grupos étnico-raciais, como também culturais e religiosos, entre outros.

A abordagem do tema deve ser balizada tanto pela Constituição Fede-ral, quanto por leis ordinárias, tratados, declarações e recomendações internacionais cujos preceitos sinalizam nitidamente o direito que se pretende promover. Que é a implementação de políticas educacionais de valorização da diversidade e de promoção da igualdade étnico-ra-cial, nas quais o ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana é parte de um todo que engloba múltiplos aspectos. Entre eles, pode-mos destacar organização curricular, proposta pedagógica, formação de professores, organização de conhecimento, difusão de informações e referências bibliográficas, ensino e pesquisa inclusive na perspectiva de transformação da pedagogia, disponibilização de materiais, mobilização de pais e da sociedade, mobilização de recursos orçamentários, treina-mento de gestores e controle social de política educacional.

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A CONSIDERAÇÃO DO RACISMO COMO AGRAVANTE

DE ATOS DE VIOLAÇÃO DE DIREITOS

A Lei 7.716/89, mais conhecida como Lei Caó foi editada para regulamentar a regra consti-tucional que qualifica o racismo como crime e, por conta disso, focaliza condutas discrimina-tórias extraídas da realidade social e priorizadas pelo legislador, com ênfase nas relações de consumo, acesso à escola, à relação de emprego e ao serviço público, entre outras.

No entanto, a tipologia de condutas descrita na Lei Caó, não esgota as condutas delitu-osas motivadas ou sujeitas a influências do racismo. Inúmeros são os crimes que têm no preconceito racial uma de suas motivações, mas cujo componente racial não é punido pelo fato de que o sistema jurídico não prevê nem criminaliza aquele componente específico. É o caso, por exemplo, do homicídio, da lesão corporal ou do abuso de autoridade praticado por maus policiais.

Assim, a introdução da agravante genérica do racismo- prevista na Convenção Interame-ricana Contra o Racismo- permitirá que a pena do crime de homicídio, por exemplo, seja

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MECANISMOS DEMOCRÁTICOS E REGULARES DE

CONTROLE DE IMPLEMENTAÇÃO DOS DIREITOS

AMPLIAM O ACESSO À OEA

A Convenção estabelece que qualquer pessoa, grupo de pessoas ou ONG devidamente constituída, tem o direito de apresentar petição à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, contendo denúncias ou queixas de violação ou descumprimento de direitos por ela elenca-dos. Trata-se de regra da maior importância e que democratiza subs-tantivamente o acesso ao sistema interamericano de proteção dos direitos humanos com o objetivo de denunciar violações de direitos motivadas por racismo.

Para termos uma ideia do significado e alcance desta norma, basta lembrar que a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, ratificada pelo Brasil em 1969, au-torizava somente os Estados-parte a subscreverem denúncias sobre violação de direitos.

(17)

Sobre o CEERT

Criado em 1990, o CEERT -- Centro de Estudos das Relações de Tra-balho e Desigualdades -- é uma organização não-governamental que produz conhecimento, desenvolve e executa projetos voltados para a promoção da igualdade de raça e de gênero.

Desenvolvemos nossos principais projetos nas áreas de acesso da população negra à Justiça, ao direito de igualdade racial e à liberdade de crença. Trabalhamos também pela implementação e aperfeiçoamen-to de políticas públicas de educação, saúde e relações de trabalho rela-cionadas com a promoção da igualdade racial.

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Leia o texto integral da Convenção:

http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/multilaterais/convencao-interamericana-contra-o-racismo-a-discriminacao-racial-e-formas-conexas-de-intolerancia/

Visite também o site do CEERT:

www.ceert.org.br

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