Ética e Biossegurança em
investigações de surtos e
epidemias
Eduardo Hage Carmo
Diretor de Vigilância Epidemiológica de Doenças Transmissíveis Secretaria de Vigilância em Saúde
Ministério da Saúde
Conceito – Investigação epidemiológica
Investigação epidemiológica – procedimento utilizado na
vigilância epidemiológica para descrição de casos, óbitos,
surtos e epidemias, bem como para identificação de
possíveis fatores de risco associados à ocorrência do
evento de saúde pública
• Serviços de saúde
Conceitos - Biossegurança
Princípios, tecnologias e práticas de contenção que são
implementadas para prevenir exposição não intencional a patógenos e toxinas ou sua liberação acidental.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Laboratory biosafety manual. Geneva, 2004. 178p. disponível em: <http://www.who.int/csr/resources/publications/biosafety/Biosafety7.pdf>.
Conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou
eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando à saúde do homem, dos animais, à preservação do meio ambiente e à qualidade dos resultados.
TEIXEIRA, P.; VALLE, S. Biossegurança: uma abordagem multidisciplinar. 2.ed. Rio de Janeiro, RJ: FIOCRUZ, 2010. 442p.
Conceitos - Biossegurança
Princípios, tecnologias e práticas de contenção que são
implementadas para prevenir exposição não intencional a patógenos e toxinas ou sua liberação acidental.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Laboratory biosafety manual. Geneva, 2004. 178p. disponível em: <http://www.who.int/csr/resources/publications/biosafety/Biosafety7.pdf>.
Conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou
eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando à saúde do homem, dos animais, à preservação do meio ambiente e à qualidade dos resultados.
TEIXEIRA, P.; VALLE, S. Biossegurança: uma abordagem multidisciplinar. 2.ed. Rio de Janeiro, RJ: FIOCRUZ, 2010. 442p.
Conceitos - Riscos
Risco epidemiológico – probabilidade de ocorrência de eventos adversos para a saúde humana
Análise de risco – processo de levantamento, avaliação, gerenciamento e comunicação considerando-se as
condições de trabalho, a concentração e a classe de risco do agente, com a finalidade de se adotar medidas e ações destinadas a prevenção, controle, redução ou eliminação do mesmo
Tratamento do risco – adoção de medidas para redução ou eliminação do risco
Estabelecimento do contexto Identificar do risco Análise do risco Avaliação do risco Tratamento do risco Com unic ação do ris co Monit orament o e rev isão Etapas Fonte: ISO 31000/2009
Gestão do Risco
Tipos de risco
Riscos
Físico Químico Biológico RadioativoRisco Biológico
Grupo de Risco 1
(risco individual e comunitário escasso ou nulo)
Microorganismos que tem pouca probabilidade de provocar doença em humanos ou animais.
Grupo de Risco 2
(risco individual moderado e risco comunitário baixo)
Agente patógeno que pode provocar enfermidades humanas ou animais, porém tem pouca probabilidade de apresentar risco grave para técnicos de laboratórios, à comunidade ou ao meio ambiente. Dispõe-se de medidas eficazes de tratamento e prevenção, além do que o risco de propagação é limitado.
Grupo de Risco 3
(risco individual elevado e risco comunitário baixo)
Agente patógeno que pode provocar doenças humanas ou animais graves ou potencialmente letais, porém não se propaga de um individuo infectado a outro. Representa sério risco a quem o manipula. Representa algum risco para comunidade e ao meio ambiente, mas se dispõe de medidas eficazes de tratamento e de prevenção.
Grupo de Risco 4
(risco elevado individual e comunitário)
Agente patógeno que pode provocar doenças graves nas pessoas e nos animais, podendo propagar-se facilmente de um individuo a outro, direta ou indiretamente. Não se dispõe de medidas eficazes de tratamento e prevenção.
Classes de risco
Grupo de Risco Risco Individual Risco para comunidade Possibilidade de causar doença Possibilidade de tratamento Possibilidade de Prevenção Exemplos de Organismos 1 Nenhum/ baixo Nenhum/ baixo Praticamente nenhuma - - não patogênico E. colli K122 Moderado Baixo Baixa Sim Sim S. mansoni
3 Alto Baixo Alta Sim Sim
M.tuberculosis, HIV
Níveis de Biossegurança
Nível
Tipo
Exemplo
Agentes
NB1 Básico 1 Ensino básico E. colli K12
NB2 Básico 2 Posto de Saúde, Lacen, Hospitais Universitários S. mansoni NB3 Contenção Laboratório Diagnóstico
Especializado T. cruzi, Hantavírus
NB4 Contenção Máxima
Unidade de Germes
Fatores que potencializam o risco
Agentes
Patogenicidade Virulência Modo de transmissão EndemicidadeFatores que potencializam o risco
Pessoa
Tipo de exposição Resposta imunológica Debilidade física Local de trabalho Condições de trabalhoAmbiente
Vias de Infecção
Respiratória
aerossóis, gotículas
Percutânea
escoriações da pele
perfuração por agulha ou vidraria
Ocular
gotículas, aerossóis mãos contaminadas
Oral
ingestão de alimento contaminado hábito de fumar
Elementos básicos para contenção de agentes de risco
Ter conhecimento prévio sobre os riscos
Atentar para a forma de transmissão do agente etiológico suspeito
Toda amostra deve ser tratada como potencialmente patogênica
Na dúvida considere o maior nível de risco
Saber reconhecer sinais e sintomas de doenças associadas ao objeto de
Adotar práticas e técnicas padronizadas
Realizar treinamento em segurança apropriado
Utilizar manual de biossegurança (identificação dos riscos,
especificação das práticas, procedimentos para eliminar riscos – POP’s)
Uso de vacinas ou métodos profiláticos (ex: anti-rábica)
Proceder notificação oficial dos acidentes
Uso de Equipamentos de proteção individual (EPI)
Equipamentos de Proteção Individual
Foto: Almeida, A.
Foto: Almeida, A.
EPI - Proteção respiratória
Foto: Lavocat, M.N. Figuras: 3M Brasil
Recomendações gerais quanto ao uso de EPI
Avaliar tipo de agente e exposição
Uso avental, mascaras e luvas de procedimento descartáveis com o
número adequado
Uso de luvas sobrepostas de látex
Uso de óculos de segurança, pro-pés ou botas, respiradores com
filtros e outros quando necessário
Recomendações gerais para trabalho de campo
Utilização de crachá ou outro instrumento de identificação
Provocar o mínimo de stress na equipe ou em animais
Utilizar instrumentais cirúrgicos adequados (pinças e ponta romba)
Injúrias físicas (mordeduras, arranhões, etc)
Contato com excretas ou aerossóis de excretas contaminados, ou
fluidos liberados durante a necropsia que podem conter agente infecciosos
Laboratório de campo
Local com acesso restrito para humanos
Armazenagem das amostras
Técnico responsável pela armazenagem e
descontaminação de materiais não podem ter contato com
áreas contaminadas
Foto: Elkhoury, M.R Foto: Lavocat, M.N.
Descontaminação
Destino dos resíduos
Deve ser avaliado se pode ou não realizar a
queima dos resíduos
Foto: Kohl, V.A.
Fonte: CDC
Legislação
Portaria 32/4 NR6/1978 – Ministério do Trabalho e do Emprego – “
Equipamentos de Proteção Individual”
Lei de Biossegurança – N0 8.974/95
Instituição da CTNBio – 1995 – Decreto 1752 – Comissão Nacional de Biossegurança
Comissão de Biossegurança em Saúde
Portaria do MS – N. 343 de 10 de fevereiro de 2002
LEI N. 11.105 (2005), estabelece normas de segurança e
mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, Cria o
conselho Nacional de Biossegurança
Decreto N. 5705 (2006) promulga o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança da Convenção sobre Diversidade Biológica
Alguns imprevistos não são tão
Bioética - conceitos
Ciência que tem como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem sobre a vida, identificar os valores de referência racionalmente proponíveis, denunciar os riscos das possíveis aplicações”
LEONE, S.; PRIVITERA, S.; CUNHA, J.T. (Coords.). Dicionário de Bioética. Aparecida: Editorial Perpétuo Socorro/Santuário, 2001.
Conjunto dos problemas colocados pela responsabilidade moral dos médicos e biólogos (profissionais de saúde) em suas pesquisas teóricas (e práticas) ou nas aplicações
práticas dessas pesquisas.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo: Nova Cultural, 1998:779 Obs: entre parênteses, observação pessoal
Aspectos a serem observados em investigação de campo (surtos)
Características do surto
• Evento conhecido ou inusitado
• Tipo de doença – doença estigmatizante
• Gravidade do surto – ocorrência de casos graves ou óbitos • Evolução temporal do surto
• Existência de medidas de controle
• Fonte de dados: população ou serviços de saúde
Aspectos a serem observados em investigação de campo (surtos)
Características da população
• Conhecimento sobre o surto • Nível sócio econômico
• Aspectos particulares – religião, etnia • Assistência prestada ao surto
Recomendações gerais em investigação de campo (surtos)
• Identificação dos profissionais e organizações envolvidos na investigação
• Informar sobre: objetivos e metodologia da investigação, resultados esperados e benefícios à população
• Envolver lideranças comunitárias, serviços de saúde, associações locais
• Coleta de amostras: humanas (caso ou óbito, invasivo/não invasivo), animais, produtos ou bens
• Concordância/consentimento – realização da investigação, participação individual
Recomendações gerais em investigação de campo (surtos)
Comitê de ética – Resolução 510 da CONEP, de 07/04/2016
“Esta Resolução dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais cujos procedimentos metodológicos envolvam a utilização de dados
diretamente obtidos com os participantes ou de informações identificáveis ou que possam acarretar riscos maiores do que os existentes na vida cotidiana, na forma definida nesta Resolução.
Parágrafo único. Não serão registradas nem avaliadas pelo sistema CEP/CONEP: VII - pesquisa que objetiva o aprofundamento teórico de situações que emergem
espontânea e contingencialmente na prática profissional, desde que não revelem dados que possam identificar o sujeito; ”
Recomendações gerais sobre uso das informações em
investigação de campo (surtos)
• Manter sigilo sobre as informações coletadas durante a investigação
• Informar sobre os eventuais fatores associados ao surto, se indicado, de forma cautelosa e respeitando a cultura local
• Não realizar comentários sobre a assistência prestada ao surto • Evitar exposição à midia
• Divulgação e publicação dos dados/ retroalimentação das informações