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EM PAUTA GOVERNANÇA CORPORATIVA NO BRASIL E NO MUNDO: PRATIQUE OU EXPLIQUE!

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Academic year: 2021

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NO BRASIL E NO MUNDO:

GOVERNANÇA

CORPORATIVA

PRATIQUE

OU

EXPLIQUE!

EM PAUTA

(2)

por

LUCIA REBOUÇAS

Depois de ter perdido a vanguarda que ocupava na América Latina

na formulação e difusão de melhores práticas de Governança

Corporativa, devido à crise ética, política e econômica, o Brasil

está retomando seu protagonismo. Uma série de iniciativas, como

a nova abordagem do Código de Governança do IBGC, a criação de

um Código Brasileiro de Governança especifico para as companhias

abertas com adesão obrigatória, além do processo de reforma da

regulação do Novo Mercado e do Nível 2 de Governança Corporativa

da BM&FBovespa, colocaram o país de volta ao circuito de

transformações da Governança em curso ao redor do mundo.

No centro da evolução constante, que é própria da natureza da governança corporativa, estão questões envolvendo práticas es-senciais de governança como composição e atribuições do Con-selho de Administração, além de questões societárias, impac-tos na regulação e nos cusimpac-tos, e ainda no combate à corrupção. Com relação ao Conselho de Administração o foco da discussão voltou-se para a qualidade dos conselheiros e não apenas na questão da independência, que dominava os debates em pas-sado recente. De que adianta ter um conselheiro indepen-dente se ele não for qualificado, não entender os assuntos relacionados à companhia e ao seu setor de atuação, dizem agora especialistas.

Oliver James Orton, gestor do programa regional de

governança corporativa do IFC (International Finance Cor-poration) para a América Latina e Caribe, ironiza dizendo que a avó de alguém pode ser um conselheiro independente, sem que isso signifique qualquer tipo de contribuição para o desenvolvimento da companhia.

Respondendo à pergunta da Revista RI: Que práticas de go-vernança faltaram, permitindo o “sucesso” do esquema de

corrupção na Petrobras, conhecido como “Lava-Jato”? Orton afirmou que como organismo internacional, o IFC não se pronuncia sobre a operação Lava-Jato, nem sobre empresas. Disse apenas que a OCDE (Organização Internacional de Coo-peração e Desenvolvimento Econômico, que reúne 34 países) propõe a separação do papel do governo como acionista e como regulador. Além disso, ressaltou que a necessidade de vontade política para criar um ambiente propício para a re-dução da corrupção também é muito importante.

Sobre combate à corrupção, Orton afirmou que é provável que a corrupção sempre exista, de uma forma ou de outra, e a governança corporativa não é uma cura para todos os casos de corrupção existentes. Apesar disso, observou que é preciso olhar para formas de minimizar suas chances de ocorrência.

“Uma boa governança corporativa começa com os valores e cultura de uma empresa, bem como o comprometimento da alta administração, que inclui o Conselho de Administração e a gestão sênior, e cada vez mais, os acionistas. Uma boa governança corporativa também exige um sistema de con-troles internos que possa fornecer garantias razoáveis.”

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Para Oliver Orton, o Conselho é responsável por assegurar a existência e implementação de um sistema robusto de controles internos e de uma função de auditoria sólida por meio do seu comitê de auditoria e de sua função de auditoria. Além disso, observa que uma mídia responsável com uma boa compreensão das informações fi nanceiras divulgadas pela empresa, em particular sobre governança corporativa, também desempenham papel fundamental.

Falando sobre as transformações nas práticas de governan-ça, Orton conta que após a crise fi nanceira mundial, os mer-cados da América Latina tornaram-se mais conscientes da importância da governança e de como falhas de governança contribuíram para a crise. Com isso, reguladores, bolsas de valores e gradualmente, investidores institucionais, também estão pressionando por melhoras em práticas de governança corporativa.

Como resultado, diz ele, estamos diante de tendências como: maior atenção à gestão de riscos e ao papel fundamental do Conselho de Administração; maior importância a questões relativas à composição do Conselho (gênero, competências, idade e experiências). E ainda, maior foco na transparência e na disponibilização de informações da empresa,

desenvol-vendo interesse cada vez maior em relatórios integrados e na divulgação de transações de terceiros.

Na América Latina, além das tendências exemplifi cadas aci-ma, Orton afi rma que deveria haver foco maior na cultura organizacional da empresa, no comprometimento da alta ad-ministração. Na avaliação dele, deveria também haver uma compreensão maior das responsabilidades dos diretores, especialmente no que diz respeito à governança de riscos, desenvolvimento de estratégias e um sistema de controle in-terno sólido.

“Também é necessário fortalecer os Comitês de Auditoria quanto à sua composição e responsabilidades e quanto ao diálogo com auditores externos e dar maior clareza às tran-sações com partes relacionadas por meio da transparência e procedimentos bem defi nidos. E por fi m, e não menos im-portante, deveria haver um diálogo maior entre o Conselho de Administração e os acionistas.”

DIVERSIDADE E CUSTO

Boas práticas de governança estão garantindo maior diversi-dade na composição dos Conselhos quanto ao gênero, compe-tências, idade e experiências.

É necessário fortalecer os Comitês

de Auditoria quanto à sua

composição e responsabilidades

e quanto ao diálogo com

auditores externos e dar maior

clareza às transações com

partes relacionadas por meio da

transparência e procedimentos

bem defi nidos. E por fi m, e

não menos importante, deveria

haver um diálogo maior entre

o Conselho de Administração

e os acionistas.

OLIVER JAMES ORTON, IFC

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Fernando Tendolini, vice-presidente da Amec (Associação

de Investidores no Mercado de Capitais) e diretor de renda variável da SulAmérica, chama a atenção para a importância da diversidade na composição do Conselho. Outra questão, segundo ele, é que hoje ainda é incipiente a preocupação do Conselho em pensar o futuro da empresa em decorrência, por exemplo, de questões ambientais ou de mudanças trazi-das pelo avanço tecnológico.

Sobre práticas relacionadas aos sócios, o vice-presidente da Amec aponta a importância da participação dos acionistas nas assembleias. Não existe governança se o acionista não vai a assembleia para conferir que conceitos e regras deles de-correntes a empresa está colocando efetivamente em prática. De acordo com Marta Viegas, conselheira do IBGC e sócia do Tozzini Freire Advogados, outro item relevante na discussão de aperfeiçoamentos em governança é a questão dos custos, prin-cipalmente em momentos de crise como o atual, o que leva a companhia a questionar o custo benefício de melhores práticas. Para ela, no entanto, essa discussão pode perde relevância com a entrada em vigor do Novo Código de Governança para as Companhias Abertas, que deverá estar na praça dentro

de 30 a 45 dias. O novo código tem como metodologia o me-canismo “Pratique ou Explique”. Esse meme-canismo dá para a companhia a opção de explicar o que não pode praticar. Com isso não aumenta o custo e preserva sua imagem.

O novo código deverá contribuir também para uma avalia-ção e acompanhamento mais efetivo das práticas e da qua-lidade de governança praticadas de fato no país. Segundo Marta, no momento o que se tem é uma percepção de que há um aumento na busca por práticas de Governança referente a controles internos, gestão de risco e compliance.

PRATIQUE OU EXPLIQUE

Depois de intensos estudos e debates, o grupo GT Intera-gentes responsável pela criação do Novo Código de Gover-nança para as Companhias Abertas, optou pela metodolo-gia “pratique ou explique”. Com isso, embora a adesão ao Código venha a ser obrigatória para as todas as companhias abertas, elas não estarão obrigadas a praticar todas as re-gras previstas, podendo explicar o porquê de não fazê-lo. O GT Interagentes congrega 11 entidades do mercado de capi-tais com o objetivo de discutir questões para desenvolver o mercado de capitais, como a atratividade para investimen-tos e ambiente regulatório.

MARTA VIEGAS, IBGC FERNANDO TENDOLINI, AMEC

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Segundo a CVM, até o final do ano o código deverá ser in-corporado à Instrução CVM/480 que trata da divulgação de informações. Com isso deverá ser criado no Formulário de Referência um campo para a empresa dar as explicações que forem necessárias. A reforma da Instrução para acolher o có-digo, porém, ainda deverá passar por uma audiência pública. A base para a elaboração do Código foi a 5ª edição do Código do IBGC. Mas houve uma redução das cerca de 200 práticas para cerca de 74. Foi tirado tudo que já fazia parte da regula-ção da CVM, observa Marta Viegas, que fez parte do subgru-po criado pelo GT para avaliar especificamente a metodolo-gia “pratique ou explique”.

O próprio Código do IBGC, também passou por mudanças importantes em sua concepção. Na sua 5ª edição, o código passou a ser dividido em fundamentos e práticas. O objeti-vo da mudança foi ser menos prescritiobjeti-vo. “A nova concepção buscou o que está por trás do princípio, o capital humano por trás da regra”. Esse enfoque torna mais efetiva a compreen-são do que é Governança, acrescenta Marta.

Ao contrário do código para companhias abertas, o Código do IBGC, é um manual de recomendações de adesão voluntá-ria, cujo objetivo é ser referência para as práticas de gover-nança no país.

Segundo Marta, a opção pela metodologia “pratique ou expli-que” foi adotada a partir de pesquisas de códigos “nacionais” adotados por 56 países, entre eles, Alemanha, Austrália, Áfri-ca do Sul, Argentina, Chile, Colômbia, Peru, México, Suécia, Espanha, França, Reino Unido, Rússia, Hong Kong, Japão, Ma-lásia, Singapura e Tailândia.

Desse universo, observou-se que o pratique ou explique foi o escolhido por 45 países. Caso a empresa opte por explicar, o código dá orientações de como fazer, se pretende cumprir a regra e dentro de qual período de tempo. Também foram consideradas na formatação do Código, os Princípios de Go-vernança Corporativa do G20/OCDE.

Na avaliação de Marta Viegas, o “pratique ou explique” dá à empresa flexibilidade para cumprir ou não determinadas regras, mas ao mesmo tempo dá transparência para o inves-tidor à medida que a companhia explica os motivos de não adotar determinada prática prevista no Código.

Empresas que tenham ações preferenciais, por exemplo, po-dem explicar aos acionistas porque adotam essa estrutura de capital. Com isso resolve-se uma questão delicada no

merca-do brasileiro que é conceito de “Uma Ação um Voto”. “Se a empresa tem ações preferenciais pode justificar essa opção para os investidores, a quem cabe decidir se a vale a pena ou não comprar ações da companhia.”

A metodologia, porém, também trás desafios, sendo o prin-cipal deles a qualidade das informações para quem compra as ações da empresa, observa a conselheira do IBCG. “A ex-plicação tem que ser boa e consistente. Os investidores pre-cisam entender as explicações”. Nos países que tem códigos nessa metodologia, as explicações costumam girar em trono de questões referentes a formação do Conselho de Admi-nistração, como por exemplo a manutenção de pessoas no Conselho que a companhia acha importante, mas que não atendem à exigências de conselheiros independentes. De modo geral, conforme mostram estudos independentes de países, onde esse tipo de mecanismo foi adotado, quando o código é lançado as explicações costumam ser ruins e a própria cobrança não é a mais adequada. Mas com o tempo há um amadurecimento fazendo com que as explicações se-jam adequadas.

Para Flavia Mouta, diretora de regulação de emissores da BM&F Bovespa, a qualidade da explicação vai ser julgada pelo mercado. Vamos ver nessas explicações qual é a qua-lidade das empresas e dos investidores. “O importante do código é reconhecer a diversidade das companhias e que a governança não é “tamanho único”, depende da maturidade das companhias e de suas necessidades reais para ser atraen-te e saudável”.

De acordo com Flavia, a introdução do novo código não é conflitante com a reforma do novo mercado. A adesão aos segmentos especiais de listagem é decisão da própria compa-nhia que faz um contrato com a Bolsa. Nele aceita obedecer ao regulamento dos segmentos, que prevêem sanções para quem não cumprir as regras que vão desde multas e suspen-são até o cancelamento da listagem. “As companhias optam pelos segmentos especiais de governança porque isso gera valor para a empresa”, destaca.

NOVO MERCADO

O processo de reforma dos segmentos especiais de Governan-ça da BM&FBovespa, Novo Mercado e de Nível 2, está entran-do em sua etapa final, com a realização de uma audiência restrita no mês de novembro. Depois dessa audiência, onde só as empresas listadas nos dois segmentos especiais poderão participar, ao contrário do que ocorreu em etapas anteriores será redigido documento final que será colocado em votação.

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FLAVIA MOUTA, BM&FBOVESPA

O importante do código é

reconhecer a diversidade

das companhias e

que a governança não

é “tamanho único”,

depende da maturidade

das companhias e de suas

necessidades reais para ser

atraente e saudável.

A bolsa está trabalhando sobre como será conduzida a vota-ção, mas já ficou decidido que as medidas não serão votadas de maneira pontual. Para a aprovação, a proposta não pode ter manifestação contrária superior a um terço das compa-nhias participantes da audiência restrita. Atualmente 128 companhias fazem parte do Novo Mercado e 19 do Nível 2. De acordo com Flávia, a reforma não tem nada a ver com a Lava-Jato. O objetivo da revisão é acompanhar a própria de-manda de evolução de governança ao longo do tempo. Desde sua criação no ano 2000, o regulamento do Novo mercado já foi revisado duas vezes, em 2006 e 2011.

Com o trabalho, a bolsa quer avaliar para onde a evolução dos segmentos especiais de listagem deve caminhar. “Queremos refletir num consenso o que o mercado entende sobre qual é a melhor Governança para os segmentos”, acrescenta Mouta. O processo adotado para realizar a reforma foi elogiado pelos agentes do mercado, mas a aprovação das mudanças propos-tas pela bolsa não são “favas contadas”. Segundo fontes das companhias, medidas que gerem aumento de custos tendem a ser rejeitadas pelas companhias. Devido à crise e queda nos resultados, as companhias estão preocupadas em não aumentar custos.

O processo, que incluiu consultas e audiências públicas, rece-beu inúmeras manifestações de agentes do mercado, inclusi-ve de ininclusi-vestidores estrangeiros. Segundo a diretora de regu-lação de emissores da bolsa, todas as manifestações foram consideradas para a redação da proposta que será enviada à audiência restrita. A proposta de reforma e as manifestações estão no site da bolsa.

A nova regulamentação proposta tem muitas novidades de for-ma e conteúdo. Entre os tefor-mas que foram alvo de modificação destacam-se atribuições e composição do Conselho de Admi-nistração, divulgação de informações periódicas, fiscalização e controle, dispersão acionária, aquisição de participação re-levante e exigências de saída. O free float foi mantido em 25%. O Conselho de Administração foi o item mais pesado da formulação, observa Flávia. Na questão da divulgação da re-muneração de executivos, as companhias se manifestaram a favor de que ela ficasse fora da regulamentação, enquanto agentes do mercado manifestaram posição contrária. Também foi muito discutida a questão das informações periódicas e das regras de saída. Segundo Flavia, houve muita solicitação pedindo que as companhias tenham Relatório Socioambiental. RI

Referências

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