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PERSPECTIVAS ATUAIS EM ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES QUE VIVEM COM HIV

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CRIANÇAS E ADOLESCENTES QUE VIVEM COM HIV

Luiz Rodrigo Augustemak de Lima1 Universidade Federal de Santa Catarina

Não é novidade ao profissional de Educação Física que a atividade física tem demonstrado grande potencial em modular, positivamente, a vida das pessoas, sendo reconhecida como um elemento importante de um estilo de vida saudável (TWISK, 2007). Assim como é sabido que em crianças e adolescentes, a atividade física melhora a aptidão aeróbica e musculoesquelética (STRONG et al., 2005), otimiza o pico de massa óssea (STRONG et al., 2005), reduz a gordura corporal (REICHERT et al., 2009) e o risco de doenças metabólicas e cardiovasculares (ANDERSEN et al., 2011), pelo controle dos níveis de lipídios, lipoproteínas (LEBLANC; JANSSEN, 2010) e homeostase glicêmica (BERMAN et al., 2012). Inicialmente, a quantidade de atividade física necessária para “otimizar” a saúde de crianças e adolescentes foi estabelecida pelo American College of Sports Medicine (TWISK, 2007), que sugeriu a realização de 20 a 30 minutos de exercícios vigorosos diários. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde recomenda, no mínimo, 60 minutos diários de atividade física de intensidade moderada a vigorosa (AFMV) e preconiza que isto deva ser parte das brincadeiras, jogos, recreação, nas aulas de Educação Física ou em exercícios sistematizados, assim como forma de deslocamento e nas atividades familiares e na comunidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010). Ainda, deve-se ter em vista que as atividades físicas sejam divertidas, agradáveis e apropriadas para a idade (STRONG et al., 2005).

Entretanto, quais são as orientações sobre atividade física para crianças e adolescentes em condições crônicas de agravos em saúde? Definitivamente, não há evidencias conclusivas. Algumas orientações generalizadas já foram publicadas, como participar em atividade física de intensidade moderada, por no mínimo, 30 minutos diários para aqueles que fazem pouca atividade física diariamente (PATE et al., 1998). Porém, se a atividade física for

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sistematizada, deve-se ser realizadas, no mínimo, duas vezes na semana em intensidade acima de 66% do consumo pico de oxigênio (VO2 pico), por 20 a 60 minutos por sessão, em programas de duração maior que 12 semanas (VAN BRUSSEL et al., 2011). Nesse aspecto, devemos considerar dois elementos adicionais: 1) a variabilidade do quadro clínico para uma mesma condições crônicas de saúde (ex.: menor ou maior agravo da doença) e 2) agravo crônicos de saúde podem restringir a participação em atividades físicas habituais e esportes, como consequência de limitações reais ou percebidas da própria condição clínica (VAN BRUSSEL et al., 2011). Assim, se desenvolve um ciclo vicioso de baixos níveis de atividade física, que segue ao desuso dos sistemas cardiovascular, pulmonar e muscular, e retroalimenta a redução da capacidade funcional do indivíduo (VAN BRUSSEL et al., 2011). Não nos surpreende que crianças e adolescentes em condições crônicas de agravos em saúde sejam mais vulneráveis ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Isso não é diferente na infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), presente na vida de 1,8 milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo (UNAIDS, 2016) e em, aproximadamente, 42 mil no Brasil (BRASIL, 2017). Embora a terapia antirretroviral melhorado substancialmente a sobrevida e qualidade de vida dos pacientes, os efeitos deletérios do HIV e da própria terapia antirretroviral tem representando grande desafio no manejo clínico. Nossos estudos demonstraram que crianças e adolescentes que vivem com HIV têm baixa densidade mineral óssea (LIMA et al., 2013), dislipidemia, inflamação crônica e aterosclerose subclínica (AUGUSTEMAK DE LIMA et al., 2018), além de insatisfação com a imagem corporal por magreza (LIMA et al., 2018). Estas alterações aumentam o risco de osteoporose, doenças cardiovasculares e prejuízos na saúde mental em idades precoces (RIZZOLI; BONJOUR, 1999; FORTUNY et al., 2015).

Contudo, o que o profissional de Educação Física pode fazer para melhorar a vida destes jovens que vivem com HIV, a partir da atividade física? Entre outras ações importantes na área da Educação, da Saúde e do Esporte (LIMA et al., 2016), o profissional pode contribuir a partir da prescrição, orientação e supervisão de exercícios físicos, como uma terapia auxiliar no tratamento da infecção pelo HIV, que irá melhorar a saúde global e para mitigar o risco cardiovascular destes pacientes (BRASIL, 2012). Além disso, poderá estimular hábitos e atitudes saudáveis, como aumento dos níveis diários de atividade física (LIMA et

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al., 2016). Embora a experiência adquirida com intervenções que incluem exercício físico seja escassa com crianças e adolescentes com HIV (MILLER et al., 2010; LIMA et al., 2017), nós encontramos num pequeno grupo que oito semanas (com três sessões semanais com duração média de 90 minutos) de exercícios aeróbicos e de resistência foram suficientes para promover redução na pressão arterial e espessura médio-intimal da carótida, além da melhora na resistência muscular, flexibilidade e qualidade de vida (LIMA et al., 2017).

Sabe-se da existência de barreiras para prática de atividade física em programas estruturados, além de fatores adicionais relacionados ao HIV (RIBEIRO et al., 2013). Nesse sentido, a investigação da prática habitual de atividades físicas pode ser útil, tendo em vista a incorporação dessa prática em diferentes contextos. Nossos estudos demonstraram que crianças e adolescentes que vivem com o HIV perfazem, em média, 10.000 passos.dia-1 (LIMA et al., 2013), possivelmente, com maior participação na aulas de Educação Física (MARTINS et al., 2017), embora tenham acúmulo semelhante de minutos em atividades físicas de intensidade moderada à vigorosa (AFMV) (LIMA, et al., 2017). Em termos de saúde, observamos em pequenos ensaios que o volume de atividade física foi inversamente associado à massa óssea e gordura corporal do tronco, sugerindo um possível papel no enfrentamento destas complicações clínicas. Outros estudos avaliaram fatores de risco cardiovascular, como o perfil lipídico (WERNER, 2005; TANAKA et al., 2015), gordura corporal (RAMALHO et al., 2011) e a função cardíaca (GIULIANO, 2007), com resultados inconclusivos sobre a relação com a atividade física.

Recentemente, uma tese de doutorado: Estudo Saúde PositHIVa (LIMA, 2017) traz à luz novas informações sobre este assunto. A partir da análise da AFMV, do VO2 pico e marcadores de risco cardiovascular, nós encontramos que maiores níveis de AFMV foram inversamente associados à gordura corporal total, do tronco, colesterol total e LDL-c. Assim como, os pacientes com maior VO2 pico também demonstraram menor gordura corporal total, do tronco e proteína C-reativa. Adicionalmente, os pacientes fisicamente ativos (> 60 minutos de AFMV.dia-1) demonstraram menor colesterol total e LDL-c comparado aos pares insuficientemente ativos. Do mesmo modo, pacientes com VO2 pico satisfatório para idade e sexo apresentaram menor gordura corporal total, do tronco, proteína C-reativa, interleucina-6 e fator de necrose tumoral-alfa comparado aos pares com níveis insatisfatórios de VO2 pico.

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Estas informações dão pistas de como a atividade física pode contribuir para a saúde de pacientes pediátricos que vivem com HIV: uma doença crônica, incurável e que, constantemente, representa um desafio na atuação de profissionais da saúde. Espera-se com este editorial estimular a comunidade acadêmica e profissional, em relação ao debate e ação, para novos estudos e perspectivas de atuação do profissional Educação Física na temática da atividade física em pessoas que vivem com HIV.

REFERÊNCIAS

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