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PE Episódio #35 Nível III Avançado (C1-C2) Texto: Rosário Carvalhosa Voz: Catarina Stichini Didatização: Telma Rodrigues e Catarina Stichini

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Texto

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PE Episódio #35

Nível III – Avançado (C1-C2) Texto: Rosário Carvalhosa Voz: Catarina Stichini

Didatização: Telma Rodrigues e Catarina Stichini

VÉSPERA DE NATAL

Em minha casa não havia árvore de natal. Éramos uma família católica apostólica romana, que só por volta dos anos 80 adotou essa tradição nórdica, para prazer dos filhos e netos. No entanto, é com saudades que me recordo de olhar para dentro de outras casas e das lojas à procura daquele pinheiro cheio de bolas, estrelas e luzes, que anunciava festa e presentes.

Ainda hoje, com 70 anos, não percebo bem o que mais me entusiasmava no Natal. Podia ser as prendas que, nunca sendo mais do que uma para cada um, nos faziam espiolhar conscienciosamente toda a casa, a partir do dia 23; podia ser a azáfama da cozinha, na qual estávamos proibidos de entrar no dia 24, e de onde saía o apreciado cheiro das filhoses, das rabanadas, farófias e de outras iguarias da época, como broas e bombons; ou podia ser todo o ritual da saída à noite para a Missa do Galo, na igreja matriz, iluminada como nunca, onde se papagueava e cantava em latim, do qual só percebíamos o ámen, dito com a convicção de que éramos quase sábios e encontraríamos os nossos amigos, todos nós engalanados com as melhores roupas.

A minha casa era grande, mas também éramos uma família grande. Só irmãos éramos seis, todos em idade de embirrar e andar à bulha, mas que nesta época, milagrosamente, não fossem os presentes desaparecer, se portavam como deus e os anjos.

No dia 24, o ritual natalício começava cedo. Depois de arranjados, os rapazes iam buscar lenha para a pequena lareira da sala e as raparigas limpavam a sala de jantar e o serviço de copos e pratos que só era utilizado em ocasiões festivas.

Com um pé-direito muito alto, a casa era húmida e fria, durante o inverno. No entanto, naquele dia, com a pequena lareira a emprestar calor e cheiro da azinheira queimada, a casa tornava-se quase que acolhedora e apetecível.

O almoço e o jantar eram excecionalmente na sala de estar para que a sala de jantar fosse resguardada da nossa curiosidade e tropelias e na qual a mãe, depois de a mesa estar posta a rigor, punha o presente de cada um no respetivo lugar.

Anualmente repetia-se o nosso ritual de crianças. Às escondidas íamos espreitar para dento da sala de jantar e, anualmente, sabíamos de antemão que a espreitadela só nos deixava ver os contornos das cadeiras, dos pratos e do presépio que fazia de centro de mesa.

(2)

A tarde passava vagarosa. Percorríamos a vila em bando com uma única pergunta na boca: Já sabes o que vais ter? Ninguém sabia e era assim que os nossos pais nos obrigavam a um dia calmo de obediência ansiosa.

Por volta das onze da noite, a minha mãe dizia: “Vão vestir-se, sem barulho. A roupa já está em cima das camas. Não se esqueçam dos carapuços, luvas, cachecóis e casacões.”

E aí eu sabia que tinha começado o Natal.

Do que me lembro bem é que na noite do dia 24 a temperatura, na rua, era sempre húmida e abafada. Não corria vento e não fazia frio. De cada portão, saía, em fila indiana, uma família, mãe à frente, pai na retaguarda e os filhos entre os dois. Porém, apesar do esforço dos pais, quando chegávamos ao largo da igreja, já estávamos todos misturados e o barulho começava a fazer-se ouvir.

O cerimonial religioso era sempre igual. Padre no altar, vestido com um paramento festivo, acólitos, rapazes entre os 10 e os 15 anos, vestidos de branco e encarnado, sentados três de cada lado do altar, e o coro, composto por fiéis abençoados com o dom do canto, na primeira nave da igreja, em redor de um órgão quase tão velho como a própria igreja.

Quer pelo recolhimento, quer pela importância da cerimónia, ninguém olhava para mim ou para os meus amigos que, em surdina, falávamos, ríamos e fazíamos um concurso muito apreciado: “Quem desafina mais”.

Tinha começado o Natal e por mais gestos ameaçadores, meneios de cabeça e “pchius” que nos lançassem, nada quebrava o nosso entusiasmo festivo.

O retorno a casa demorava metade do tempo da ida para a igreja.

A casa estava iluminada e o calor da lareira tinha emprestado um ar cúmplice. O despir dos casacos e o sentar à mesa não demoravam mais do que dois segundos de correria e empurrões. A mãe abria a sala de jantar e, perante nós, uma mesa, com uma toalha rendada e com goma, oferecia-nos um manancial de doces e os presentes.

O barulho, que se tornava constante e agudo à medida que se ia comendo e comentando os presentes de boca cheia, acabava por volta da uma da manhã, com os mais novos já na cama e os mais velhos a caminho.

Eu levava o meu para dentro da cama. Pelo sim, pelo não, e conhecendo os meus irmãos, era a coisa mais sensata a fazer para garantir que, na manhã seguinte, ainda estaria intato.

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GLOSSÁRIO

O significado destas palavras neste texto. Espiolhar – procurar muito bem

Azáfama, a – atividade, atrapalhação

Missa do Galo, a – missa celebrada à meia noite do dia 24 de dezembro Papaguear – repetir como um papagaio, sem se perceber o que se diz Engalanado – bem vestido

Embirrar – mostrar antipatia, sem razão aparente Andar à bulha – lutar, brigar

Pé-direito, o – altura do chão até ao teto, numa casa Tropelia, a – marotice, travessura

Carapuço, o – gorro

Fila indiana, a – fila de pessoas que se alinham individualmente, umas atrás das outras Paramento, o – veste religiosa

Nave, a – espaço logitudinal numa igreja Em surdina – sorrateiramente, em voz baixa Desafinar – cantar fora de tom

Meneio, o – movimento de um lado para o outro

Empurrão, o – movimento violento, para afastar ou fazer cair alguém Goma, a – solução de amido para engomar roupa ou tecidos

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EXERCÍCIOS

I. Ouça o texto e preencha os espaços em branco com as palavras/expressões que faltam neste excerto.

Em minha casa não havia árvore de natal. Éramos uma família a)_________________________, que só por volta dos anos 80 adotou essa tradição nórdica, para prazer dos filhos e netos. No entanto, é com saudades que me recordo de olhar para dentro de outras casas e das lojas à procura daquele pinheiro cheio de bolas, estrelas e luzes, que anunciava festa e presentes.

Ainda hoje, com 70 anos, não percebo bem o que mais me entusiasmava no Natal. Podia ser as prendas que, nunca sendo mais do que uma para cada um, nos faziam espiolhar b)____________________ toda a casa, a partir do dia 23; podia ser a azáfama da cozinha, na qual estávamos proibidos de entrar no dia 24, e de onde saía o apreciado cheiro das filhoses, das rabanadas, farófias e de outras c)___________________________, como broas e bombons; ou podia ser todo o ritual da saída à noite para a Missa do Galo, na igreja matriz, iluminada como nunca, onde se papagueava e cantava em latim, do qual só percebíamos o ámen, dito com a convicção de que éramos quase sábios e encontraríamos os nossos amigos, todos nós engalanados com as melhores roupas.

A minha casa era grande, mas também éramos uma família grande. Só irmãos éramos seis, todos em idade de embirrar e d)_______________________, mas que nesta época, milagrosamente, não fossem os presentes desaparecer, se portavam como deus e os anjos.

No dia 24, o ritual natalício começava cedo. Depois de arranjados, os rapazes iam buscar lenha para a pequena lareira da sala e as raparigas limpavam a sala de jantar e e)___________________________ e pratos que só era utilizado em ocasiões festivas.

Com um pé-direito muito alto, a casa era húmida e fria, durante o inverno. No entanto, naquele dia, com a pequena lareira a emprestar calor e cheiro da f)________________ queimada, a casa tornava-se quatornava-se que acolhedora e apetecível.

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II. Indique se as afirmações que se seguem são verdadeiras ou falsas, justifique com frases do texto.

a) A narradora de Véspera de Natal recorda como os netos dela viviam as festividades natalícias.

__________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________

b) Apesar de haver apenas um presente para cada uma das crianças, não deixavam de tentar encontrá-las pela casa.

__________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________

c) Nem no dia de Natal, os irmãos deixavam de andar à bulha.

__________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________

d) Ainda que a casa fosse grande, não deixava de ser acolhedora durante todo o inverno.

__________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________

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e) O dia da véspera de Natal passava a correr.

__________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________

a) A Missa do Galo repetia-se todos os anos sem qualquer diferença.

__________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________

III. Faça as palavras cruzadas com palavras do texto. A primeira letra de cada palavra está dada. 7 P 1 F 9 B 2 P 6 V E S P E R A 10 B D E 8 3 P R 4 L N A T A L 5 F

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Horizontal

1) Pequenos bolos fofos, de farinha e ovos, fritos, que se passam por calda de açúcar ou polvilha com açúcar e canela. Podem ser feito com formas.

2) Representação figurativa do nascimento de Jesus, composta por Jesus, Maria e José e, por vezes, também os três reis magos, pastores e animais de estábulo.

3) O mesmo que “presente de Natal”.

4) Pequenas lâmpadas que se colocam na árvore de Natal.

5) Doce de claras de ovos batidas em castelo, cozidas em leite. Cobre-se com uma calda feita de leite, açúcar, farinha maisena e gemas de ovo, e polvilha-se com canela.

Vertical

6) Figura geométrica que se coloca geralmente no topo da árvore de Natal e que representa o astro que indicou o local onde Jesus nasceu.

7) Árvore de Natal.

8) Fatias de pão embebidas em leite, passadas por ovo e fritas, que se polvilham geralmente com açúcar e canela ou com calda de açúcar. O mesmo que “fatias douradas”.

9) Decorações de Natal em forma de esfera. 10) Pequeno bolo feito com farinha de milho e mel.

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IV. Considere as seguintes frases e classifique-as gramaticalmente, utilizando as alternativas dadas e de acordo com o exemplo.

Exemplo

A minha casa era grande.

A Artigo definido

minha Pronome possessivo

casa substantivo

era verbo

grande adjetivo

a) O ritual natalício começava cedo.

O Adjetivo Advérbio Artigo definido Substantivo Verbo ritual natalício começava cedo

b) Em minha casa não havia árvore de natal.

Em Advérbio Preposição x 2 Pronome possessivo Substantivo x 3 Verbo minha casa não havia árvore de Natal

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c) A casa tornava-se acolhedora e apetecível. A Adjetivo x 2 Artigo definido Conjunção Substantivo Verbo casa tornava-se acolhedora e apetecível

d) Eu levava o meu para dentro da cama.

Eu Advérbio Artigo definido Preposição x 2 Pronome pessoal Pronome possessivo Substantivo Verbo levava o meu para dentro da cama

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V. Construa frases com os adjetivos apresentados (no grau normal), transformando-os no grau pedido, de acordo com o exemplo.

Exemplo

Forte - Grau comparativo de igualdade (=): O João é tão forte como a Maria.

a) Perigoso - Grau superlativo relativo de superioridade (+):

____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________

b) Grande - Grau superlativo absoluto analítico (+++):

____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________

c) Estranho - Grau comparativo de inferioridade (-):

____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________

d) Inteligente - Grau comparativo de igualdade (=):

____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________

e) Pequeno - Grau superlativo absoluto sintético (++):

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SOLUÇÕES

I.

a. católica apostólica romana b. conscienciosamente c. iguarias da época d. andar à bulha e. o serviço de copos f. azinheira II.

a. Falso; “Ainda hoje, com 70 anos, não percebo bem o que mais me entusiasmava no Natal.” b. Verdadeiro; “. Podia ser as prendas que, nunca sendo mais do que uma para cada um, nos faziam

espiolhar conscienciosamente toda a casa, a partir do dia 23;”

c. Falso; “Só irmãos éramos seis, todos em idade de embirrar e andar à bulha, mas que nesta época, milagrosamente, não fossem os presentes desaparecer, se portavam como deus e os anjos.

d. Falso; “Com um pé-direito muito alto, a casa era húmida e fria, durante o inverno.” e. Falso; “A tarde passava vagarosa”

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III. 7 P 1 F I L H O S E S N 9 H B 2 P R E S E P I O 6 I L V E S P E R A A 10 S O S B T R R D E 8 O E 3 P R E N D A 4 L U Z E S A S A B N A T A L N A D A 5 F A R O F I A S IV.

a) O ritual natalício começava cedo.

O Artigo definido Adjetivo

Advérbio Artigo definido Substantivo Verbo ritual Substantivo natalício Adjetivo começava Verbo cedo Advérbio

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b) Em minha casa não havia árvore de natal.

c) A casa tornava-se acolhedora e apetecível.

A Artigo definido Adjetivo x 2 Artigo definido Conjunção Substantivo Verbo casa Substantivo tornava-se Verbo acolhedora Adjetivo e Conjunção apetecível Adjetivo

d) Eu levava o meu para dentro da cama. Em Preposição Advérbio Preposição x 2 Pronome possessivo Substantivo x 3 Verbo minha Pronome possessivo

casa Substantivo não Advérbio havia Verbo árvore Substantivo de Preposição Natal Substantivo Eu Pronome pessoal Advérbio Artigo definido Preposição x 2 Pronome pessoal Pronome possessivo Substantivo Verbo levava Verbo o Artigo definido meu Pronome possessivo para Preposição

dentro Advérbio da Preposição cama Substantivo

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IV.

a) Grau superlativo relativo de superioridade: Este jogo é o mais perigoso de todos. b) Grau superlativo absoluto analítico: A minha casa é muito grande.

c) Grau comparativo de inferioridade: Este filme é menos estranho do que o da semana passada. d) Grau comparativo de igualdade: O Tomás é tão inteligente como a irmã.

Referências

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