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Percepções sobre Gênero nas aulas de Sociologia: as relações dos. alunos do Ensino Médio com os saberes sociológicos 1

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Percepções sobre Gênero nas aulas de Sociologia: as relações dos

alunos do Ensino Médio com os saberes sociológicos

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Cleverson da Silva Fleming dos Santos (PPGSA/UFRJ)

1. Introdução

Nos últimos dez anos, observou-se nas esferas decisórias da política brasileira o fortalecimento de variados segmentos com pautas neoconservadoras2. As elevações de seus

representantes nas câmaras legislativas e nos cargos do poder executivo do país foram acompanhadas de considerável apoio popular e arregimentadas por diversos atores - entre os quais se notaram líderes religiosos, empresários, jornalistas e outros protagonistas dos múltiplos meios de comunicação. Das reivindicações que orientaram as suas ações coletivas, a que seleciono e problematizo na pesquisa apresentada neste artigo é a dos seus discursos relativos ao que convencionaram chamar de “combate à ideologia de gênero” nas escolas - pleito que se tornou uma das suas bandeiras nos debates públicos, propagandas político-partidárias e atuações a respeito dos ideais que perseguem para a Educação nacional.

Entre essas ações, o Projeto de Lei 2.974/2014 que tramitou na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e previa o “Programa Escola Sem Partido” para as instituições de ensino do Estado, pode ser considerado exemplo das diversas iniciativas ocorridas em território nacional ao inferir que

(...) professores e autores de livros didáticos vêm-se utilizando de suas aulas e de suas obras para

tentar obter a adesão dos estudantes a determinadas correntes políticas e ideológicas; e para fazer com que eles adotem padrões de julgamento e de conduta moral - especialmente moral sexual - por vezes incompatíveis com os que lhes são ensinados por seus pais. Diante dessa realidade -

conhecida por experiência direta de todos os que passaram pelo sistema de ensino nos últimos 20 ou 30

anos -, entendemos que é necessário e urgente adotar medidas eficazes para prevenir a prática da doutrinação política e ideológica nas escolas públicas e privadas, e a usurpação do direito dos pais

1 44º Encontro Anual da ANPOCS. GT15 - Ensino de Ciências Sociais. Nesta comunicação apresento os resultados parciais de pesquisa mais ampla que realizei para obtenção de grau no Curso de Especialização Saberes e Práticas na Educação Básica (CESPEB/UFRJ), ênfase em Ensino de Sociologia.

2 Para melhor entender os significados pelos quais mobilizo o termo, ver MOLL, 2010; MIGUEL, 2016; LIMA & HYPOLITO, 2019. Resumidamente, utilizo-opara categorizar a confluência de movimentos sociais e atores políticos que, emergindo nos debates públicos a contar da década de 2010, ganharam notoriede por suas incisivas oposições às políticas públicas de inclusão social fomentadas no Brasil a partir da Constituição Democrática de 1988. No artigo “A expansão do neoconservadorismo na educação brasileira” (2019), por exemplo, Lima & Hypolito demonstraram como “o neoconservadorismo se articula com a chamada aliança da nova direita” ao reunir diversos segmentos sociais em torno de “tradições culturais conservadoras”, “interesses econômicos neoliberais” e os fundamentalismos religiosos cristãos (tanto o católico, quanto o evangélico), para impor sua agenda neoliberal na educação e nas definições dos papeis do Estado perante a sociedade (LIMA & HYPOLITO, 2019, p. 13).

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a que seus filhos menores recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções (PL 2.974/2014. Grifos meus).

Apesar das inúmeras derrotas judiciais que esses planos vieram sofrendo ao longo desses anos, a permanência dessas ideias em polêmicas propagadas nas redes sociais de comunicação tem contribuído para confusões, incertezas e a difusão de um “pânico moral” (CARRARA, 2015) acerca de variadas temáticas educativas presentes na Educação básica - entre elas a as questões de gênero, política, sexualidades, desigualdades e Direitos Humanos. Este é o problema a ser observado neste paper. Ele diz respeito, ou melhor, aos desrespeitos presentes nessas arengas que a um só tempo ferem as dignidades dos profissionais da Educação e negligenciam as dimensões epistemológicas, éticas e Constitucionais pelas quais esses conteúdos são promovidos nas escolas.

Considerando esse cenário3 e os debates acadêmicos que o envolveram (MIGUEL,

2016; SEVILLA & SEFFNER, 2017; BRANDÃO & LOPES, 2018; SILVA, 2019; GONÇALVES, 2020; JUNQUEIRA, 2020), converti minhas práticas de ensino na disciplina de sociologia em objeto da investigação4 que apresento doravante. Trata-se de um estudo que

realizei com alguns dos meus alunos5 de duas turmas do 3º ano do Ensino Médio, ao longo do ano de 2019. Seu objetivo foi conhecer as relações destes estudantes com os saberes sociológicos relativos às questões de gênero e, por conseguinte, compará-las com os referidos discursos neoconservadores sobre a presença destes conteúdos nas escolas.

3 Iniciei minhas atividades como professor de Sociologia em 2016, dando aulas em três escolas do Município de Nilópolis na baixada fluminense. Época em que as referidas ofensivas alcançavam o seu auge no país. Neste momento, além do “combate à doutrinação comunista” (MIGUEL, 2016), no Estado do Rio de Janeiro ocorriam as ocupações dos estudantes nas escolas em reação à Reforma do Ensino Médio. Embora inicialmente eu não tomasse posição nestes parti-pris ideológicos, pude perceber os reflexos dos mesmos nos cotidianos escolares pelos quais transitei. Eles passaram a fazer parte da minha trajetória tanto pelo contato com os alunos e seus questionamentos sobre os objetivos da disciplina e a sua cientificidade, quanto pelas chamadas que recebi algumas vezes pelas direções escolares para dar explicações sobre os sentidos dos conteúdos relacionados às reflexões sobre política, gênero, religião e sociedade que fazia nas aulas da disciplina.

4 A pesquisa foi apresentada em sua íntegra no trabalho monográfico “Gênero nas aulas de Sociologia: estudo sobre as relações dos alunos do Ensino Médio com os saberes sociológicos” que defendi no dia 13 de novembro de 2020, para a obtenção do grau de especialista em ensino de sociologia pelo Curso de Especialização Saberes e Práticas na Educação Básica (CESPEB/UFRJ). O trabalho se encontra em processo de publicação.

5 Os sujeitos da pesquisa foram meus alunos durante todo o Ensino Médio nas disciplinas de Filosofia e Sociologia concomitantemente (do ano de 2017 até 2019). No momento do estudo, todos possuíam faixa etária variando entre 16 e 19 anos e estavam no terceiro segmento do ano letivo de 2019. Nas análises que realizarei doravante, utilizo nomes fictícios para preservar as suas identidades. Pela mesma razão, não identifiquei o nome da escola. Informo, no entanto, que esta se localiza no bairro Cabuís, Município de Nilópolis/RJ (Baixada Fluminense), e faz parte da Regional 07 da Rede pública de Ensino do Estado do Rio de Janeiro. No ano em que foi realizada a pesquisa, em 2019, a instituição atendeu cerca de 600 alunos na modalidade regular do Ensino Médio, a maioria entre eles de origem popular e residentes nos bairros e comunidades localizados em suas proximidades.

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Para isso, realizei uma análise sobre dois exercícios que propus aos estudantes durante as aulas a respeito dos saberes de gênero: 1) os seus relatórios sobre o documentário “O silêncio dos Homens” (2016)6, que assistiram na escola e em casa com suas famílias para uma

das avaliações na disciplina; e 2) suas respostas ao “Balanço do Saber”, instrumento de pesquisa qualitativa desenvolvido por Bernard Charlot (2009) e que mobilizei como eixo metodológico da pesquisa. Nas duas atividades os estudantes produziram textos apresentando as suas reflexões.

Ao todo, 27 alunos realizaram o primeiro exercício. Pedir aos alunos que assistissem ao filme com as suas famílias se fez no sentido de promover o diálogo entre a educação familiar e a escolar em relação às temáticas das questões de gênero e das sexualidades. Na segunda seção, disponho em tela alguns destes relatos para demonstrar as maneiras como os estudantes se apropriaram dos elementos informativos do documentário ao expor as reações dos familiares e as suas reflexões acerca das experiências vivenciadas. Nestas suas explanações, ao articularem as dimensões micro e macro das relações sociais nas quais estão inseridos, os alunos forneceram evidencias a respeito das especificidades e da importância das contribuições da sociologia escolar para o desenvolvimento de suas reflexividades.

Quanto ao balanço do saber, 51 estudantes o responderam. Originalmente, em seu artigo “A Relação com o Saber nos Meios Populares” (2009), Bernard Charlot assinala que o instrumento consiste em fazer com que os entrevistados preencham um instrumento norteado pelas seguintes questões: “Desde que nasci aprendi muitas coisas, em minha casa, no bairro, na escola e noutros sítios... O quê? Com quem? Em tudo isto, o que é que é mais importante para mim? E agora, de que é que estou à espera?” (CHARLOT, 2009, p. 18). Adotando a perspectiva weberiana (WEBER, 2001), o sociólogo da educação assinala que, no processo de análise das respostas recebidas, o pesquisador deverá sistematizá-las em categorias de afinidades considerando os sentidos atribuídos pelos sujeitos aos seus aprendizados. O objetivo é perseguir as regularidades presentes na constelação de significados que apresentam em seus comentários com a finalidade de compreendê-los em seus significados sociológicos. Deste modo, o método consiste em construir os “tipos ideais” dos saberes mais significativos para os entrevistados na pesquisa (CHARLOT, 2009, p. 21-22).

6 Resumidamente, o filme discute o tema das masculinidades brasileiras sobre o prisma das socializações de gênero e as consequências de específicas sociabilidades violentas costumeiramente direcionadas aos homens. (Documentário disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NRom49UVXCE&feature=youtu.be Acesso em: 10 de janeiro de 2020).

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Todavia, é importante ressaltar que os balanços do saber não apresentam o que de fato os indivíduos aprenderam e sim o que lhes fora mais significativo em relação aos aprendizados analisados. Isto é, para as finalidades de pesquisa, a importância das respostas obtidas estará nas seleções dos sentidos e valores que apresentam. De modo que, durante o processo de análise, o analista também deverá considerá-los em seus contextos sociais de origem (CHARLOT, 2009, p. 18-19).

Com isso em vista, assinalo que neste estudo adaptei o instrumento desenvolvido por Charlot às questões de gênero e que, ao respondê-lo, os meus entrevistados complementaram as seguintes frases: 1)“Desde que nasci aprendi muitas coisas. Sobre ser homem, em minha casa, com minha família aprendi que...”; 2) “Sobre ser mulher, em minha casa, com minha família aprendi que...”; 3) “No bairro onde moro e na rua com os amigos, aprendi que ser homem é...”; 4) “No bairro onde moro e na rua com os amigos, aprendi que ser mulher é...”; 5) “Nos meios de comunicação e com as redes sociais de internet aprendi que ser homem é...”; 6) “Nos meios de comunicação e com as redes sociais de internet aprendi que ser mulher é...”; 7) “De maneira geral, sobre ser homem e ser mulher, na escola aprendi que...”; 8) “De maneira geral, sobre ser homem e ser mulher, nas aulas de sociologia aprendi que...”; e 9) “De todos esses lugares e aprendizados, o mais importante que levo comigo é...”. Quanto aos resultados alcançados, os exponho na terceira seção deste artigo.

E, por fim, nas considerações finais deste paper contrasto os sentidos apresentados pelos estudantes às argumentações neoconservadoras a respeito das questões de gênero no que se referem às supostas incompatibilidades que estas apresentariam em relação à educação familiar dos alunos. Espero, assim, que este estudo possa estimular novas agendas de pesquisa interessadas em compreender relações dos alunos da Educação básica com os saberes sociológicos.

2. Gênero, família e escola: notas sobre a experiência com o documentário “O Silêncio dos Homens” na disciplina de sociologia

Um dos objetivos da Sociologia no Ensino Médio contemporâneo é o de promover aos alunos o desenvolvimento de suas capacidades de compreensão sobre a realidade social na qual estão inseridos (OCEM-SOCIOLOGIA, 2006; MIGLIEVICH-RIBEIRO & SARANDY, 2012, p. 42). Nesse sentido, possibilitar-lhes enxergar as relações entre as situações de suas vidas particulares e o contexto social mais amplo significa propiciar-lhes elementos cognitivos para que estes comuniquem os seus projetos de vida aos dos demais sujeitos de

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suas convivências. É por isso que nas abordagens sobre as relações entre indivíduos e sociedade, a contextualização da realidade realizada por meio de exemplos extraídos das situações cotidianas vivenciadas pelos estudantes constitui um dos recursos epistemológicos da sociologia escolar.

Partindo dessa compreensão e transpondo-a as minhas práticas de ensino sobre as questões de gênero no Brasil, propus aos alunos que assistissem ao documentário “O Silêncio dos Homens” (2016) com suas famílias e que, depois da experiência, elaborassem um relatório sobre o que vivenciaram. Antes dos alunos apresentarem o vídeo aos seus familiares, o assistimos na escola e o discutimos à luz das compreensões sociológicas. No filme, alguns homens de variados contextos sociais do país, idades, sexualidades e raça/cor contam as suas histórias sobre como aprenderam a “serem homens”. A partir de seus contos percebe-se que, apesar das diferenças sociais existentes entre eles, suas biografias revelam indícios de uma regularidade social que os aproximam: o silenciamento de suas expressões emocionais e fragilidades, tendo como fator estruturante o machismo que esteve presente em suas socializações de gênero. Vejamos algumas das percepções dos estudantes sobre isso:

(...) o filme fala sobre situações que os homens passam. Fala sobre uma masculinidade tóxica, onde

os homens não podem demonstrar sentimentos, que não podem chorar, e nem todo homem é assim

e tem homens que ficam calados sobre diversas situações. Em minha opinião, o filme fala sobre

opressão, que a meu ver, é o modo pelo qual os pais opõem o filho de fazer algo ou demonstrar algo

que o vai fazer feliz. Para mim, isso é o pior e não é o melhor caminho. O melhor caminho é o

diálogo (Aluno J. V. B., turma 3001/2019. Sobre o doc. “O Silêncio dos Homens”. Grifos meus).

(...) no documentário vemos que poucos homens conseguem compartilhar abertamente os seus

sentimentos, decepções e frustrações. O meu pai mesmo se identificou bastante, pois, ele nunca conseguiu se abrir com as pessoas sobre determinados assuntos. Já a minha mãe teve uma reação de quem não gostou muito, pois teve um beijo gay, mesmo não tendo nada contra (Aluno G. S.,

turma 3001/2019. Sobre o doc. “O Silêncio dos Homens”. Grifos meus).

Do contato com o filme e do diálogo com seus familiares, os estudantes também utilizaram seus relatórios para refletirem sobre as suas próprias vivências em relação ao machismo, entre elas a homofobia, a violência doméstica e sexual contra as mulheres:

(...) A minha parte mais esperada do vídeo foi o relato dos homossexuais, mesmo eu já sabendo a

opinião do meu pai sobre a comunidade LGBTQI+, queria muito saber o que ele tem a dizer sobre. E, como eu já esperava, no momento do beijo entre o casal gay ele fez cara feia. Daí, ele falou

sobre isso e, como em todas as nossas conversas sobre o assunto, ele envolveu a religião. Ele disse

que não aceita a homossexualidade, porém respeita. Ele não entrou exatamente o assunto do vídeo

nessa questão. Ele falou que diante ‘da palavra’ é errado, é pecado e, por isso, não pode ser conivente com isso. Daí, questionei. Disse: ‘perante a Deus não existe pecadinho e nem pecadão, então porque você só demoniza os homossexuais?’. Nesse momento ele pareceu estar sem argumentos, até que ele me disse que não os demoniza, porém dá mais ênfase a isso porque é o que nós vemos mais nos dias atuais. Mesmo não concordando com isso, fiquei quieto. As vezes não sei qual seria a reação dele ao saber

da minha homossexualidade (Aluno M. T., turma 3002/2019. Sobre o doc. “O Silêncio dos Homens”.

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Aos 16 anos, minha mãe conheceu o seu primeiro marido, se envolveu com ele e acabou engravidando. Minha avó obrigou ela casar, assinou os papéis e minha mãe casou. Sua filha nasceu

e acabou morrendo. O primeiro marido da minha mãe abusou dela e, desse abuso, nasceu uma

criança. Ele bebia e batia nela. Minha mãe deu a minha irmã para a minha tia criar e se separou desse

primeiro marido. O tempo se passou e minha mãe pegou a minha irmã de volta, criou a gente sozinha, foi bastante criticada por ter filhos de pais diferentes. Minha avó ficou sete anos sem falar com a

minha mãe e, nesse tempo todo, minha mãe não teve família (...). Com isso eu aprendi que devemos ser mais comunicativos, conversar mais com os nossos filhos. A educação que meus pais

me deram foi diferente das deles e hoje eu sou abençoada pelos pais que Deus me deu (Aluna S., turma 3002/2019. Sobre o doc. “O Silêncio dos Homens”. Grifos meus).

Meu irmão que é homossexual disse que quando entendeu o que era ser ‘gay’ para a sociedade, ele não queria aquilo para ele porque a sociedade ensina que é feio ser gay, que é errado, etc. Ele conseguiu falar sobre isso com a ajuda dos depoimentos que ouviu e se identificou. Eu achei impressionante. As reações vindas da minha família foram diversas, porém, eu quis citar aqui a que

mais me chamou atenção. Percebi que as situações tratadas no documentário podem ter acontecido

ou estar acontecendo com pessoas próximas e nem imaginamos (Aluna N. S., turma 3002/2019.

Sobre o doc. “O Silêncio dos Homens”. Grifos meus).

Eu me identifiquei muito com o documentário, pois ele trata e discute assuntos que eu já passei

por muitas vezes, sendo forçado a tomar certas atitudes para mostrar que sou homem ou algo do tipo. Passei por muitos momentos difíceis em casa relacionados ao machismo da parte do meu padrasto. Ele não aceita que minha mãe trabalhe. Ela tem que lavar, passar, cozinhar, etc., para quando ele chegar do trabalho tratá-la como se fosse cachorro. Como ela não tem o que fazer, é submissa a ele. Um mês atrás, por um estresse de trabalho que teve, ele começou uma discussão com minha mãe e para mostrar que é superior ou algo do tipo, me pôs para fora de casa sem eu ao menos ter dito uma palavra. Sei que ele não teve uma boa base paternal e que só reproduz aquilo que aprendeu com seu pai e assim ele é com sua família. O documentário me mostrou outros pontos de vista que ninguém por parte dos meus familiares me ensinou: que não é porque te trataram de uma forma que você tem que fazer o mesmo. No documentário vi que homens têm sentimentos, se emocionam, homens choram sim, homem pode ajudar nas tarefas de casa e que, isso, não o faz mais ou menos homem. O documentário me mostrou que nós somos o que escolhemos

ser, não o que as pessoas dizem que somos ou a má referência paternal que tivemos dentro de nossa casa. Ser homem é muito além de apenas ter atividades sexuais com a sua esposa e trazer

alimentos para a sua casa (Aluno W., turma 3002/2019. Sobre o doc. “O Silêncio dos Homens” Grifos

meus).

As percepções dos alunos corroboraram o que variados estudos7 de cunho sócio-antropológico vêm demonstrando desde a década de 1990 em relação à questão das masculinidades em diversos contextos ao assinalarem o tipo ideal de sujeito que conforma as representações tradicionais sobre gênero: sexo masculino, postura dominante em relação aos outros, fazer-se reconhecido socialmente como “o provedor”, “o forte”, “o viril” e “heterossexual” - em síntese, o vulgo “machão”. Segundo Galvão Adrião (2005), este modelo impele os homens a representarem socialmente o personagem

(...) do homem machista e forte, que põe o dinheiro em casa, que tem o trabalho como maior referência, em que a família e os trabalhos reprodutivos não são prioritários, que, por ser tão forte e voltado para o mundo público (e não o privado), não cuida dos outros e outras, nem de si próprio (GALVÃO ADRIÃO, 2005, p. 11).

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Além disso, há um paralelo entre esse tipo ideal de homem e a produção das desigualdades e das violências observadas nas sociedades contemporâneas - entre elas: o feminicídio e a homofobia. Pois, nos processos de socialização que o introjetam,

(...) aprender a sofrer é norma para ser homem. Aceitando as leis dos maiores, os que detêm a dominação, os homens que são poderosos e que oprimem outros homens e outras mulheres, é que se constituem as identidades masculinas. Assim, para ser homem é preciso se distanciar do oposto, ou

seja, das mulheres e das crianças [e acrescento: dos homossexuais]. Para ser homem não se pode ser associado à mulher. O feminino se torna o pólo de rejeição central, o inimigo interior que deve ser combatido sob pena de também ser assimilado a uma mulher e também ser (mal)tratado como tal (GALVÃO ADRIÃO, 2005, p. 16. Grifos meus).

Logo, ao mesmo tempo em que nestes processos de socialização os sujeitos devem sofrer calados, aceitando “a lei dos maiores” para serem considerados “homens”, para se sentirem “maiores” na escala hierárquica, são encorajados adotar a violência como recurso contra os outros de suas relações. E, não havendo a possibilidade de empregá-la contra os que lhes são mais fortes, utilizam-na contra os considerados mais fracos na hierarquia, entre os quais geralmente as mulheres, as crianças e os homossexuais estão situados. Procedendo deste modo, ao mesmo tempo em que os homens distinguem o seu gênero, também acabam por se distanciar daqueles que nas suas convivências lhes são os mais próximos: seus próprios familiares:

(...) Um mês atrás, [meu padrasto] por um estresse de trabalho que teve, ele começou uma discussão

com minha mãe e para mostrar que é superior ou algo do tipo, me pôs para fora de casa sem eu ao menos ter dito uma palavra. Sei que ele não teve uma boa base paternal e que só reproduz aquilo

que aprendeu com seu pai e assim ele é com sua família (Aluno W., turma 3002/2019. Sobre o doc. “O Silêncio dos Homens”. Grifos meus).

E o que as estatísticas mostram sobre as consequências desse modelo de masculinidade entre os homens brasileiros?

Segundo o documentário “O silêncio dos Homens”, os seus efeitos colaterais. Entre eles, o filme destaca que 07 em cada 10 homens não conversam com amigos sobre os seus principais medos e angústias; que 06 em cada 10 deles lidam com algum tipo de distúrbio emocional (entre os quais: ansiedade, depressão, insônia, vício em pornografia e, em seguida, alcoolismo, drogas, comida, apostas e jogos eletrônicos); que 83% das mortes por homicídios e acidentes no país são de homens e que estes vivem 07 anos a menos que as mulheres. Também são os que mais se suicidam (quase quatro vezes mais em relação às mulheres). Que 17% lidam com algum nível de dependência alcoólica. E, se sofrem abuso sexual, demoram em média 20 anos até contar isso para alguém. Cerca de 30% deles enfrentam algum tipo de disfunção erétil ou ejaculação precoce. Que 95% da população carcerária no Brasil é composta por homens, sendo que a maior parte deles são jovens periféricos e com ausência da

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figura paterna. Enfatiza, ainda, que neste contexto os homens negros e homossexuais são os mais afetados (“O Silêncio dos Homens”. Documentário, 2016)8.

Refletindo sobre essa realidade, a aluna A. C. S. expôs:

Penso que, assim como muitas mulheres lutam para viver longe desses padrões estabelecidos desde que nasceram, os homens também deveriam tentar quebrá-los, pois, antes de homens e mulheres, somos seres humanos. E, sendo assim, temos total direito de chorar e sermos fracos algumas vezes. Isso faz parte da vida. Mudando esses padrões, podemos encontrar uma grande melhoria para nossas vidas (Aluna A. C. S., turma 3001/2019. Sobre o doc. “O Silêncio dos Homens”).

Também na busca por transformar essa realidade, o documentário apresenta uma série de iniciativas de mobilização social apoiadas pelo ideal de outras socialidades de gênero possíveis. Segundo Guilherme Valadares (2018), produtor do filme e coordenador da iniciativa “Papo de Homem”, para se alcançar essas mudanças, é importante encontrar respostas práticas às seguintes questões: “Quais são as masculinidades saudáveis, desejáveis e possíveis de nosso tempo?”, “Onde estão os exemplos concretos que já existem e como podemos torná-los mais conhecidos?”, “Como educar os meninos para o futuro, indo além dos nãos? Quais os sims (sic.) e locais de potência para a formação de masculinidades seguras em (sic.) jovens?”, “Como homens e mulheres podem cultivar relações mais construtivas, amorosas e de parceria legítima, na prática?” e “Quem são as pessoas, projetos e iniciativas fazendo isso acontecer, no Brasil e no mundo? Como fazem isso?”.9

Ao lidar com esses questionamentos, penso que a presença da disciplina de Sociologia na Educação básica pode contribuir consideravelmente para a redução dos efeitos perversos desse modelo tradicional e tóxico de masculinidade, justamente por incentivar sociabilidades afins aos valores de respeito às diferenças, de igualdade e de inclusão social.

Por meio de alguns dos relatos produzidos pelos estudantes na atividade com o documentário “O Silêncio dos Homens”, procurei indicar o fator da socialização entre os elementos decisivos para a perpetuação ou não de uma série de desigualdades, violências e discriminações sociais relativas às questões de gênero. Os estudantes assinalaram a necessidade de se “desconstruir e construir uma nova sociedade” avessa aos “padrões” machistas de socialização, ressaltando a importância do “diálogo como o melhor caminho”

8 Disponível em:https://papodehomem.com.br/o-silencio-dos-homens-documentario-completo/. Acesso em 20 mar. 2020).

9 Fonte: “129 projetos, iniciativas e pessoas que trabalham com a transformação dos homens, no Brasil e no mundo”. Revista eletrônica Papo de Homem, 2018. (Disponível em: https://www.papodehomem.com.br/transformacao-homens-masculinidades-projetos-iniciativas-pessoas. Acesso em 20 mar. 2020).

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para a resolução dos conflitos, de “saber respeitar o outro” e de “se por no lugar do próximo” para a construção “de uma vida melhor”.

E não seriam esses alguns dos princípios preconizados pelas principais Diretrizes10 da Educação nacional para o ensino de sociologia na Educação básica?

Tendo em vista as relações de sentido construídas pelos alunos com os saberes abordados na disciplina, a resposta que dou a essa questão é afirmativa. Mas não encerro por aqui a apresentação dos resultados alcançados com a pesquisa, na seção a seguir aprofundo a análise sobre os processos de socialização de gênero desses estudantes, por meio de suas respostas ao balanço do saber.

3. Balanço dos saberes: os sentidos do gênero nas socializações dos alunos

Em decorrência dos limites expositivos dados neste paper, procurei abreviar a análise das respostas dadas pelos alunos no balanço do saber por meio de alguns quadros contendo as categorias mais recorrentes entre os aprendizados que foram apresentados. Nas amostragens, é possível perceber os significados dos conteúdos que estiveram presentes em suas socializações de gênero. Vejamos.

Em relação aos aprendizados assinalados pelos 51 alunos sobre o que aprenderam com suas famílias em relação ao que é “ser homem”, foi possível agrupá-los nas seguintes categorias:

O que os alunos aprenderam com suas famílias sobre o que é “ser homem” Categorias recorrências

a) os homens são “o sexo forte” se comparados às mulheres Apareceu em 33 relatos b) “ser homem” é ser “o provedor do lar” Apareceu em 20 relatos

c) “ser homem” é “não ser machista” Apareceu em 10 relatos

Das indicações sobre o que aprenderam em relação ao que é “ser mulher”, as categorias mais recorrentes foram:

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O que os alunos aprenderam com suas famílias sobre o que é “ser mulher” Categorias Recorrências

a) ser mulher é “ser do lar” Apareceu em 19 relatos

b) ser mulher é “cuidar dos filhos” Apareceu em 18 relatos

c) ser mulher é “ser submissa” Apareceu em 06 relatos

d) ser mulher é “ser sábia”: “se comportar como mulher” Apareceu em 05 relatos

e) ser mulher é “ser independente” Apareceu em 14 relatos

f) ser mulher é “ser forte” Apareceu em 10 relatos

Na rua e com os amigos, “ser homem” representou:

O que os alunos aprenderam sobre “ser homem” com os amigos

Categorias Recorrências

a) “ser machão”11 (agir em acordo ao que neste ambiente é socialmente estabelecido como “ser homem”)

Apareceu em 42 relatos

Subcategorias do “ser machão” Recorrências

b) “ser machão” como “ser o pegador” Apareceu em 37 relatos

c) “ser machão” como “saber manter a postura” Apareceu em 15 relatos

As categorias mais recorrentes em relação ao que os estudantes aprenderam com os amigos sobre o que é “ser mulher” foram:

O que os alunos aprenderam sobre “ser mulher” com os amigos

categorias recorrências

a) que “ser mulher” é “ser feminina” Apareceu em 15 relatos

b) que existem “muitas barreiras e preconceitos” a serem enfrentados pelas mulheres

Apareceu em 13 relatos

c) “empoderamento e afirmação dos direitos” das mulheres Apareceu em 08 relatos

11 A categoria “machão” foi extraída dos próprios relatos dos alunos que afirmaram, por exemplo, ter aprendido na rua e com os amigos que “o homem geralmente é o cara tipo ‘machão’: aquele que não demonstra nenhum sentimento e é ‘brabão’ com todo mundo, sempre querendo brigar e aquele que cara que sempre pega as menininhas pelos seus feitos. É o cara que não tem medo de nada e é sempre o bonzão em tudo” (Aluno F. G., turma 3001/2019, em resposta à 3ª frase do balanço do saber).

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Em relação aos aprendizados com as redes sociais de comunicação sobre o que é “ser homem”, duas categorias foram as mais recorrentes:

O que os alunos aprenderam sobre “ser homem” nas redes sociais de comunicação Categorias Recorrências

a) “ser o sexo forte”, “saber manter a postura” e “ser o pegador” Apareceu em 23 relatos b) relatos críticos às “atitudes machistas” dos homens Apareceu em 26

relatos

Em relação ao que aprenderam sobre o que é “ser mulher”:

O que os alunos aprenderam sobre “ser mulher” nas redes sociais de comunicação Categorias Recorrências

a) a igualdade de direitos entre os gêneros, liberdade e empoderamento das mulheres

Apareceu em 16 relatos

b) “preconceitos e assédios do dia a dia” vivenciados pelas mulheres Apareceu em 15 relatos c) formas de enfrentamento ou reação às desigualdades, preconceitos e

violências vivenciados pelas mulheres

Apareceu em 12 relatos

Sobre que os alunos aprenderam em relação ao que é “ser homem” e o que é “ser mulher” no ambiente escolar, perceberam-se duas categorias entre mais recorrentes:

O que os alunos aprenderam na escola sobre “ser homem” e “ser mulher” Categorias Recorrências

a) que existem distinções entre os meninos e as meninas (no sentido tradicional das socializações de gênero)

Apareceu em 20 relatos

b) o respeito às diferenças e a igualdade entre os gêneros Apareceu em 18 relatos

Em relação aos aprendizados obtidos com a disciplina de sociologia, entre as categorias mais recorrentes estiveram:

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O que os alunos aprenderam sobre “ser homem” e “ser mulher” nas aulas de sociologia Categorias Recorrências

a) a igualdade de direitos entre os gêneros Apareceu em 27 relatos b) a desnaturalização de estereótipos, preconceitos e das desigualdades

sociais nas relações de gênero

Apareceu em 18 relatos

c) o respeito às diferenças Apareceu em 08 relatos

d) a distinção entre o que há de social e de biológico nas relações humanas Apareceu em 02 relatos

De todas essas instâncias de socialização, as categorias mais recorrentes entre os conteúdos assinalados pelos estudantes como os de maior importância foram:

Os saberes considerados mais importantes pelos alunos

Categorias Recorrências

a) o respeito Apareceu em 27 relatos

b) a igualdade de direitos entre homens e mulheres Apareceu em 12 relatos c) a desconstrução de estereótipos de gênero Apareceu em 13 relatos

d) a afirmação e a luta por direitos Apareceu em 09 relatos

e) os aprendizados das aulas de sociologia Apareceu em 06 relatos

Analisando os aprendizados sobre gênero obtidos pelos estudantes com as suas famílias, com os amigos, meios de comunicação, escola e nas aulas de sociologia, entre os saberes considerados mais importantes perceberam-se as lições sobre o respeito entre as pessoas de maneira geral, a igualdade de direitos entre homens e mulheres, a desconstrução de estereótipos de gênero, a luta por direitos e os aprendizados das aulas de sociologia. Levando em consideração o conjunto de categorias e a análise comparativa entre elas, é possível afirmar que o papel desempenhado pela escola e pelas aulas de sociologia teve lugar de destaque nas considerações finais realizadas pelos alunos no instrumento.

Nos primeiros quadros, os relativos aos aprendizados com a família e com os amigos, foram possíveis de se observar uma série de noções tradicionais relativas aos gêneros que, tanto do ponto de vista das relações de poder, quanto das possibilidades de exercício dos

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direitos, reificam as desigualdades entre homens e mulheres. Nas respostas à primeira frase do balanço do saber, por exemplo, a maioria dos alunos (cerca de 80% dos 51 entrevistados, 41 alunos) expressou ter aprendido com suas famílias que “ser homem” é apresentar determinadas características comportamentais. Entre elas, cito aqui as expressões usadas pelos estudantes: “trabalhar para sustentar a sua família”, “ser forte”, “mostrar coragem”, “fazer as tarefas mais pesadas”, “não demonstrarem sentimentos”, “não demonstrar medos e fragilidades”, “não ser delicados”, “não chorar”, “demonstrar sempre postura de liderança”, “proteger a família”, “ser responsável”, “ser o cabeça da casa”, “resolver os problemas”, “ser o administrador da família”, “ser agressivo”, “não fazer as obrigações domésticas” e “sentir atração por mulheres”:

[Aprendi que os homens] São o sexo forte, os que comandam a casa, que fazem as tarefas mais pesadas, não demonstram sentimentos, são os sustentadores do lar, os que dão as ordens, não demonstram seus medos e fragilidades, não devem ser delicados e demonstram sempre a postura de liderança (Aluna G. C., turma 3001/2019. Resposta dada à 1ª frase do balanço do saber);

O homem é o cabeça da casa, ele não pode demonstrar fraqueza. Não chora porque isso não convém a um homem, eles têm que trabalhar para sustentar seus filhos e o papel deles é esse: sempre mostrar força e coragem (Aluna A. C., turma 3001/20109. Resposta dada à 1ª frase do balanço do saber); Eu aprendi principalmente do meu pai que homem é o provedor da casa, é mais firme e menos emotivo que as mulheres e também que o homem ‘de verdade’ é aquele que sente atração por mulheres (Aluno N. D., turma 3002/2019. Resposta dada à 1ª frase do balanço do saber).

Nesses aprendizados com a família, parafraseando os alunos, “ser homem” representou ainda “ter privilégios” que as mulheres não possuem: poder “dar as ordens” à esposa e aos filhos, “faltar com respeito para mostrar a sua masculinidade ou ser respeitado” e “fazer coisas que mulheres não podem”. Logo, o “ser homem” descrito pelos 41 estudantes pôde ser compreendido como um adjetivo do indivíduo que “manda” nos demais integrantes da família, denotando ser este o sujeito de maiores possibilidades quanto ao exercício do poder se comparado às mulheres e aos sujeitos que não “sentem atração” por elas – Lembremos aqui a análise realizada na seção anterior sobre o modelo das “masculinidades tóxicas” presentes na socialização de gênero dos homens brasileiros.

Definido pelo sexo biológico, orientação sexual e em conformidade com os comportamentos socialmente estabelecidos para o gênero, nesses aprendizados o homem foi colocado em posição de superioridade na hierarquia das relações sociais. Sua distinção em relação ao gênero mulher foi descrita por meio da mobilização de noções binárias para caracterizar o que é próprio a cada um em termos de comportamentos e interdições:

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Ele tem privilégios, que pode fazer coisas que mulheres não podem, é a pessoa que sai as 04h da

manhã e chega às 23h, pois e ele quem traz o dinheiro e sustenta a família (Aluna I. S., turma 3002/2019. Resposta dada à 1ª frase do balanço do saber. Grifos meus);

Enquanto os homens trabalham, as mulheres fazem as coisas dentro de casa, além de trazer o

sustento, eles pagam as contas (Aluna que preferiu não ser identificada, turma 3001/2019. Resposta dada à 1ª frase do balanço do saber. Grifos meus);

O homem não pode fazer as obrigações domésticas, pois isso é obrigação da mulher. Aprendi que o

homem por ser homem pode tudo (Aluna. S. R., turma 3002/2019. Resposta dada à 1ª frase do balanço do saber. Grifos meus).

Pode-se então compreender que, sociologicamente, o gênero aprendido por esses 41 alunos com as suas famílias tem a funcionalidade de estabelecer as distinções dos lugares sociais ocupados por homens e mulheres, hierarquizando-os relacionalmente e fazendo com que estes naturalizem essas condições (no caso, as de dominação e de superioridade do homem em relação à mulher).

Por outro lado, quando os estudantes apresentaram os saberes aprendidos com os meios de comunicação, a escola e as aulas de Sociologia, as primeiras noções sofreram uma inflexão indicando o posicionamento crítico dos alunos em relação a elas. Estas foram reapresentadas e refletidas no sentido de sua desnaturalização. Para destacar alguns exemplos, com a internet, a aluna Y. N. comentou ter aprendido que “As redes sociais são um ponto de apoio para mulheres vítimas de relacionamentos abusivos, dando incentivo para sair deles através do disk denúncia ou até mesmo identificá-los” (Aluna Y. N., turma 3001/2019. Resposta à 6ª frase do balanço do saber). A aluna T. S. assinalou que “Na escola de modo geral” o mais importante que aprendeu “foi que a mulher pode sim ser independente e empoderada, que ela é dona do seu corpo (Aluna T. S., turma 3002/2019. Resposta à 7ª frase do balanço do saber). Com as aulas de sociologia, a aluna R. C. disse ter aprendido que

Homens e mulheres sempre foram tratados com diferença sim e nos dias de hoje muitas coisas foram desconstruídas, muitas barreiras e tabus foram quebrados em busca da igualdade. Embora muitas barreiras tenham sido ultrapassadas ainda há muitas outras a serem desconstruídas, a luta é constante (Aluna R. C., turma 3002/2019. Resposta à 8ª frase do balanço do saber).

E, entre os saberes que aprenderam, o aluno C.C. e a aluna G. C, indicaram que:

O homem deve ser responsável, mas saber dividir as responsabilidades, ter espírito de equipe, respeitar a todos independente de sexo ou gênero, buscar ser o mais centrado possível e entender que o homem é gente como toda a gente assim como foi bem explicado no documentário ‘O silêncio dos Homens’. A mulher deve buscar a sua voz na sociedade e buscar receber o respeito que ela merece. Essa ideia de que a mulher deve ficar em casa para limpar e cozinhar não existe mais. A mulher deve ter espaço no mercado de trabalho e na política, enfim, na sociedade em geral (Aluno C. C., turma 3001/2019. Resposta à 9ª frase do balanço do saber).

[Aprendi] Que ‘homem’ e ‘mulher’ são apenas designações de gênero masculino e feminino que, apesar de todos esses costumes patriarcais impostos pela sociedade, somos todos seres humanos: temos o direito à liberdade de nos expressarmos da forma em que nos sentimos bem e devemos lutar por uma

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sociedade mais igualitária para não sofrermos tanta pressão social diante da maneira como nos comportamos (Aluna G. C., turma 3001/2019. Resposta à 9ª frase do balanço do saber);

Assim, os estudantes observaram a importância do respeito às diferenças, de não hierarquizar os sujeitos (seja por raça-cor, gênero, classe ou orientação sexual) para que suas relações se constituam com base na igualdade de direitos: “Todos os gêneros têm que ter lugar na sociedade, na verdade, não só os gêneros, também todas as orientações sexuais, classes, etnias, raças e etc. Todos nós temos que ter nosso lugar no mundo” (Aluno M. T., turma 3002/2019. Resposta à 9ª frase do balanço do saber).

Considerações finais: desconstruindo o mito da incompatibilidade dos valores familiares e escolares na educação sobre as questões de gênero

Ao relevar as relações de alguns dos estudantes do Ensino Médio com os saberes sociológicos, busquei demonstrar que ao discutir gênero a sociologia escolar reafirma as conexões existentes entre as suas reflexões e os diversos âmbitos da vida social. E, no Brasil contemporâneo, percebe-se a relevância da temática por meio das próprias dinâmicas pelas quais os variados segmentos da população se empenham em debatê-la. Além disso, independentemente do que afirmam as correntes ideológicas existentes sobre o assunto, as estatísticas sobre as relações de gênero no país também demonstram a necessidade da presença desses diálogos nas escolas.

Ao se averiguar os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nota-se, por exemplo, que no país as mulheres dedicam 73% a mais de horas do que os homens com trabalhos de cuidado de pessoas ou com os afazeres domésticos (18,1 horas contra 10,5 horas). O recorte por raça/cor revela que as mulheres pretas ou pardas destinam 18,6 horas aos mesmos tipos de serviço – para os homens pretos ou pardos o indicador pouco varia em relação aos homens brancos. Em relação aos rendimentos médios do trabalho, as mulheres recebem ¼ (25%) a menos que os homens e, contribuindo para esse resultado, está a natureza dos cargos por elas ocupados: a maioria delas se dedica ao trabalho em tempo parcial – o que é um indicativo das suas duplas jornadas de trabalho (IBGE, 2018: 03-04). Em relação à Educação,

(...) a taxa de frequência escolar líquida ajustada no Ensino Médio dos homens de 15 a 17 anos de idade era de 63,2%, 10,3 pontos percentuais abaixo da taxa feminina (73,5%). Observa-se considerável desigualdade entre as mulheres por cor ou raça: as mulheres pretas ou pardas de 15 a 17 anos de idade apresentem atraso escolar em 30,7% dos casos, enquanto 19,9% das mulheres brancas dessa faixa etária estão na mesma situação. Entretanto, o maior diferencial encontrado para o complemento desse indicador está entre as mulheres brancas e os homens pretos ou pardos na medida em que o atraso deles (42,7%) era mais do que o dobro do delas (19,9%) (IBGE, 2018: 06).

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Entre as populações mais jovens (de 25 a 44 anos de idade), “o percentual de homens que completou a graduação foi de 15,6%, enquanto o de mulheres atingiu 21,5%, indicador 37,9% superior ao dos homens” (IBGE, 2018: 06). De modo que, se compararmos os indicadores de renda e estes dados sobre escolaridade, fica evidente que, apesar de possuírem maior grau de escolaridade, as mulheres seguem ganhando menos que os homens no país e enfrentando dupla jornada de trabalho – situação que se agrava no caso das mulheres pretas. Quanto à participação na vida pública e nas tomadas de decisões, os dados apontam que o Brasil ocupa a 152ª posição entre os 190 países que informaram à Inter-Parliamentary Union (IPU)12 o percentual de suas parlamentares: com 10,5%, foi o pior resultado registrado entre os países da América do Sul (a média mundial foi de 23,6%). Nos postos gerenciais de trabalho, em 2016, 60,9% dos cargos eram ocupados por homens enquanto 39,1% por mulheres:

Em todas as faixas etárias havia uma maior proporção de homens ocupando os cargos gerenciais, o que se agravava nas faixas etárias mais elevadas. Além disso, a desigualdade entre mulheres pretas ou pardas e os homens pretos ou pardos era maior do que entre as mulheres brancas e os homens brancos (IBGE, 2018: 09-11).

Os dados também são eloquentes ao se observar uma questão recorrentemente debatida nos últimos 10 anos no país: o Feminicídio13. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o país é o 5º com a maior taxa de casos no mundo (Agência Brasil de Direitos Humanos, 2017)14. De acordo com o relatório “Violência Doméstica durante a Pandemia de

Covid-19 – Ed. 2” (2020), em relação ao ano de 2019, nos primeiros seis meses de 2020 houve um aumento de 22,2% dos casos de feminicídio em território nacional, “saltando de 117 vítimas em março/abril de 2019 para 143 vítimas em março/abril de 2020”. Outra questão diz respeito ao assédio e à violência sexual15. Em 2018, houve a notificação de 66.041 casos

de estupros à polícia:

12 Organização global composta 178 parlamentos nacionais membros efetivos e 12 membros associados, que se destinam a promover a paz por meio da diplomacia parlamentar e do diálogo (Para saber mais: < https://www.ipu.org/about-us> Acesso em: 01 set. 2020).

13 “Feminicídio é o assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher, motivado geralmente por ódio, desprezo ou o sentimento de perda do controle e da propriedade sobre as mulheres. A Lei do Feminicídio (Lei 13.104, de 9 de março de 2015) qualificou o crime de homicídio quando ele é cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve violência doméstica e familiar e menosprezo ou discriminação à condição de mulher. A lei incluiu também o feminicídio no rol dos crimes hediondos” (Fonte: “Violência Doméstica durante a Pandemia de Covid-19 – Ed. 2”. Disponível em:<https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2020/06/violencia-domestica-covid-19-ed02-v5.pdf> Acesso em: 01 set. 2020).

14 Fonte: “Taxa de feminicídios no Brasil é a quinta maior do mundo”. Agência Brasil de Direitos Humanos, 2017. (Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-08/taxa-de-feminicidios-no-brasil-e-quinta-maior-do-mundo> Acesso em: 12 set. 2020).

15 “Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência sexual é definida como “todo ato sexual, tentativa de consumar um ato sexual ou insinuações sexuais indesejadas; ou ações para comercializar ou usar de qualquer outro modo a sexualidade de uma pessoa por meio da coerção por outra pessoa, independentemente da

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A maior parte das vítimas de estupro é do sexo feminino (82%) e vulneráveis (64%), ou seja, a vítima tem menos de 14 anos, considerada juridicamente incapaz para consentir relação sexual, ou pessoa incapaz de oferecer resistência, independentemente de sua idade, como alguém que esteja sob efeito de drogas, enfermo ou ainda pessoa com deficiência, como determina a Lei 12.015/09. Outra informação importante para compreender a violência sexual no Brasil diz respeito ao vínculo do agressor com as vítimas, já que em 76% dos casos o autor era conhecido. Considerando que mais da metade das vítimas são crianças (54% tinham no máximo 13 anos), estas informações indicam um quadro preocupante

de violência doméstica e intrafamiliar, ainda mais em um período em que as crianças não estão frequentando a escola, local em que muitas vezes essas violências são percebidas pelos professores e outros profissionais da educação.16

A situação sinalizada por esses dados corroboram, então, os argumentos aqui perseguidos de que falar sobre a temática nas escolas não se faz por motivos de doutrinação político-partidária, mas sim nos termos das necessidades sociais de combate à essas violências e desigualdades. Daí o papel fundamental da sociologia no Ensino Médio, dado o caráter privilegiado que essas questões tem em seu campo de estudos:

A sociologia me abriu portas para o amplo conhecimento dos estudos sociais. Ela me fez pensar de maneira diferente: tirando todos os preconceitos que eu fazia antes de analisar as coisas no profundo. A sociologia desconstruiu meus pensamentos machistas, homofóbicos e xenofóbicos; fazendo com que eu me tornasse um ser humano mais respeitoso (...). Sociologia era uma matéria nova para mim no ano de 2017. Primeiro recordo de ter estudado os conceitos de fato social, ação social, etc. Não posso me esquecer de comentar que no primeiro ano ouvi falar pela primeira vez do "pai da sociologia", KARL MARX, que estuda principalmente a desigualdade social em que vivemos até os dias de hoje. E para isso, é válido aprendermos sobre o conceito de classes sociais, meio de produção, modo de produção e a mais valia. No segundo ano (2018), lembro-me de Michel Foucault que fala sobre o "PODER". Ele entende que poder não é algo sólido, mas sim, são relações de poder. São pontos estratégicos de como um indivíduo se posiciona com o outro. No terceiro ano (2019) já começo a aprender o que é sexualidade. Que espanto! Como assim "sexualidade" não é apenas o ato de fazer sexo? Descobri que não. Por isso é necessário sabermos conceituar as "coisas", pois além de aumentar o nosso intelecto, de alguma forma podemos ajudar outras pessoas, como foi meu caso. Sexualidade é uma força que cerca toda a nossa vida humana, que consiste na relação que tem um indivíduo com o outro. Trata-se de todo sentimento (Amor, carinho, paixão, ódio, ranço...), pensamento, contato, intimidade (Aluna L. R., turma 3002/2019. Resposta à 8ª frase do balanço do saber).

Ao tomar as relações de significado dos alunos com os conteúdos de gênero e contrastá-los com as acusações neoconservadoras compreende-se que, ao falar em “desconstrução” das socialidades produtoras de violências e discriminações, não consta entre os objetivos da nossa disciplina a “destruição da família tradicional, da heterossexualidade ou da religião cristã e seus valores”17 - mesmo quando, a partir das análises sociológicas, se

relação desta com a vítima, em qualquer âmbito, incluindo o lar e o local de trabalho”. A coerção pode ocorrer de diferentes formas e graus de força, assim como por intimidação psicológica, ameaça e extorsão, e nos casos em que a pessoa não tem condições de dar consentimento, como quando alcoolizada ou mentalmente incapaz” (Fonte: “Violência Doméstica durante a Pandemia de Covid-19 – Ed. 2”, 2020: 08).

16 Ibid. (Grifos meus).

17 Nos discursos neoconservadores, a desconstrução das socialidades produtoras de exclusão social por meio da educação sobre as questões de gênero é interpretada como “destruição da heteronormatividade”, “dos valores cristãos da sociedade brasileira” e “destruição da família tradicional”. Como exemplo, numa palestra em 2019, ao criticar o decreto presidencial 70.037/2009 que trata do reconhecimento e da inclusão das diversas formas de família (constituídas por gays, bissexuais, travestis e transexuais) nos sistemas de informação do sistema público nacional, a atual ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do atual governo, Damares Regina Alves, traduz o termo “desconstrução da heteronormatividade” como “destruição da heteronormatividade” e

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evidencia o lugar privilegiado ocupado por essas instituições na produção e naturalização das desigualdades sociais.

Ao contrário disso, por meio das relações estabelecidas pelos alunos com os saberes sociológicos, foi possível perceber que longe de serem doutrinados e intimados a participarem como combatentes em uma “guerra de valores” contra as suas famílias, por meio das aulas, os alunos tiveram oportunidades de refletir sobre as mais variadas dimensões da realidade social, privilegiando suas condições enquanto sujeitos. Ao versarem sobre o respeito às diferenças, a igualdade de direitos entre homens e mulheres, a desconstrução de estereótipos de gênero, as críticas às violências e às desigualdades produzidas por uma socialização sexista, os aprendizados dos estudantes averiguaram o potencial da sociologia em fomentar diálogos entre os valores aprendidos com a família e com a escola, orientando-os no sentido democrático:

O respeito vem acima de todas as coisas. Como fui uma pessoa criada em berço evangélico e conheço todos os mandamentos de cristo (...), o senhor nosso Deus nunca foi e nem será desrespeitoso com todas as diferenças que há na terra. Sejam elas: étnicas, de crenças, culturas, hábitos, costumes e gênero. Portanto, levo o equilíbrio de lidar com a palavra (...) e as infinitas diferenças com amor, paciência e respeito como foi o que também aprendi nas aulas de sociologia (Aluna L. R., turma 3002/2019. Resposta à 9ª frase do balanço do saber).

Penso estarem aí algumas das razões dos ataques neoconservadores. Em oposição às suas cosmovisões - interessadas na conservação de modelos tradicionais de civilidades estruturantes das maneiras desiguais de organização e distribuição do exercício do poder, dos privilégios e fruição dos bens materiais e culturais produzidos no país -, os relatos dos alunos demonstraram os porquês de seus contatos com os repertórios epistemológicos da disciplina de sociologia – que incentivam a desnaturalização prática e cognitiva das relações sociais - serem considerados perniciosos às concepções detratoras de uma Educação que aos jovens proporcione “ver o mundo com os próprios olhos” (NOGUEIRA, 1955).

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“destruição da família tradicional” (Vídeo da palestra disponível em: <https://youtu.be/TuwFBb0W-eo> Acesso em: 12 set. 2020).

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Referências

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