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VII MONITORAMENTO AMBIENTAL DE VIBRIO CHOLERAE NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL OCORRÊNCIA DE VIBRIO SP (1994 /1999)

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VII-002 - MONITORAMENTO AMBIENTAL DE VIBRIO CHOLERAE

NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

OCORRÊNCIA DE VIBRIO SP (1994 /1999)

Fernando Gilberto Fialho Kappke(1)

Acadêmico de Biologia/UFRGS. Chefe da Seção de Bacteriologia do Laboratório Central de Saúde Pública - LACEN, da Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde.

Carla Marques Faria

Médica Veterinária - UFRGS. Atua na Divisão de Pesquisa do Departamento Municipal de Água e Esgotos - DMAE.

Ivone Marli Mendes Rabelo

Bióloga, Universidade Mogi das Cruzes - USP/SP, com especialização em “Ecologia:

População, Ambiente e Recursos”. Atua no Departamento de Pesquisa e Análises da Divisão de Microbiologia da Companhia Riograndense de Saneamento - CORSAN.

Márcia Regina Thewes

Bióloga formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Chefe da Seção de Análises Biológicas da Divisão de Pesquisa do Departamento Municipal de Água e Esgotos - DMAE.

Maria Teresa Dias Fernandes

Licenciada em Ciências Físicas e Biológicas, Acadêmica de Biologia - PUC/RS. Auxiliar de Laboratório/CORSAN - Companhia Riograndense de Saneamento.

Endereço(1): Rua Demétrio Ribeiro, 1058/208 Porto Alegre RS CEP: 90010313 Brasil

-Tel.: (51) 224-8968 - Fax: (51) 223-4033 - e-mail: fgfk@ig.com.br

RESUMO

O Estado do Rio Grande do Sul, desde 1991, realiza o monitoramento ambiental de Vibrio cholerae em água superficial e esgoto, em 52 municípios estrategicamente localizados no seu território, locais considerados mais significativos como porta de entrada da cólera em nosso meio.

As amostras de esgoto foram coletadas, preferencialmente, pela técnica de Moore modificada, utilizando-se swab esterilizado. Nos locais em que por motivos operacionais não foi possível o emprego de swab, procedeu-se a coleta direta de amostra líquida, técnica empregada para amostragem de água superficial.

O processamento das amostras em laboratório seguiu a metodologia de isolamento e identificação do Vibrio

cholerae, recomendada no Manual Integrado de Prevenção da Cólera (1994), do Ministério da Saúde.

Dando continuidade a publicações anteriores, neste trabalho foram analisados os dados do monitoramento registrados de 1994 a 1999.

Durante todo período de estudo, não foi isolado Vibrio cholerae O1 toxigênico, mas do total de 8.460 amostras de água superficial e esgoto analisadas, 817 foram positivas para Vibrio sp. Das 3.747 amostras de água superficial, 390 foram positivas para Vibrio sp., representando 10,4% do total. Em 4.713 amostras de esgoto, 427 foram positivas para Vibrio sp., representando 9,1% das amostras analisadas.

O levantamento dos dados obtidos no monitoramento demonstrou uma tendência de aumento da ocorrência de isolamentos de Vibrio sp. de 1994 até 1995. A partir daí houve uma inversão de comportamento, observando-se um claro decréscimo no percentual de ocorrência de Vibrio sp. nas amostras de água bruta e esgoto.

Entretanto, este comportamento não se confirmou nas amostras da região do litoral, coletadas entre os meses de janeiro e março de cada ano. O número de isolamentos de Vibrio sp. permaneceu constante nos períodos de verão, provavelmente, devido a fatores ambientais favoráveis.

No Rio Grande do Sul, o risco de ocorrência de cólera, que aumentou durante os surtos verificados na Argentina e no Estado do Paraná, pode ser contido pela adoção de medidas de controle, como sistema de vigilância atuante e melhores condições de saneamento ambiental, fatores determinantes no processo de prevenção da doença.

PALAVRAS-CHAVE: Vibrio Cholerae, Vibrio SP, Epidemia da Cólera, Monitoramento Ambiental,

(2)

INTRODUÇÃO

Erradicada nos países industrializados, a cólera continua matando nos bolsões de miséria da Ásia, África e América Latina.

A cólera é uma doença infecciosa intestinal aguda de veiculação predominantemente hídrica, que ocorre principalmente, em países onde as condições de saneamento são deficientes.

A contaminação da água com agentes patogênicos ocorre pela disposição final de esgotos sem tratamento nos recursos hídricos, que tornam-se importante veículo de transmissão de doenças, entre elas a cólera.

Embora não seja possível prevenir a entrada da cólera num país, mesmo nos mais desenvolvidos, pode-se limitar sua propagação melhorando as condições sanitárias do meio ambiente e mantendo uma vigilância adequada e atuante.

A experiência na prevenção e controle da cólera mostra que a doença não se instala nas áreas que dispõem de adequada infra-estrutura de saneamento, principalmente no que se refere à oferta de água potável, que segundo estimativas, pode reduzir em mais de 80% a ocorrência da doença.

A ameaça sanitária representada pela atual epidemia de cólera, que atingiu o Brasil em 1991, provocou ações imediatas para definição das diretrizes básicas de atuação no controle e prevenção da cólera em todo o Território Nacional.

O Rio Grande do Sul, apesar de se salientar por melhores condições sócio-econômicas e sanitárias, quando comparado aos demais estados do Brasil, foi considerado como área de risco para a entrada da cólera devido, principalmente, aos movimentos migratórios existentes entre o sul, norte e centro-oeste do país e à grande extensão de sua fronteira internacional.

Diante do comportamento epidemiológico incerto da doença e dando ênfase aos serviços de saúde, vigilância epidemiológica e sanitária, educação e comunicação social, diagnóstico laboratorial e saneamento, o RS definiu sistemática de atuação e infra-estrutura básicas para garantir uma intervenção ágil e eficiente na prevenção e controle da cólera no Estado.

Assim, o monitoramento das águas com vistas ao isolamento do V. cholerae, iniciado em 1991, se constituiu em importante indicador para a detecção precoce da presença e/ou circulação do agente causador da cólera em nosso meio.

O monitoramento sistemático, desenvolvido em pontos estrategicamente definidos segundo critérios epidemiológicos, mostrou que apesar de não terem sido confirmados casos clínicos de cólera no RS, o agente causador da doença já esteve em circulação em nosso meio, uma vez que o V. cholerae O1 toxigênico foi isolado em duas amostras de esgoto coletadas em Porto Alegre, em novembro de 1992 e abril de 1993. Dando continuidade a publicação anterior, Pesquisa de V. cholerae em águas de esgoto no Rio Grande do

Sul, que abordou o período 1991/1993, este trabalho estuda os dados obtidos no monitoramento realizado de

1994 a 1999, quando foram analisadas 8.460 amostras de água e esgoto coletadas em todo o Estado. Neste período, o V. cholerae não foi encontrado mas houve isolamento de Vibrio sp. em 817 amostras analisadas. Assim, este trabalho tem como objetivo demonstrar a fundamental importância do monitoramento ambiental, que não só permite a detecção precoce da circulação do vibrião, como também delimita a distribuição do agente causador da cólera no ambiente, auxiliando na identificação e controle de pontos críticos que podem contribuir significativamente para a manutenção da epidemia. O monitoramento ambiental torna-se imprescindível para a adoção imediata das primeiras medidas sanitárias importantes no controle e combate à disseminação de uma epidemia de cólera.

Além disso, pretende ressaltar a importância do trabalho conjunto desenvolvido por técnicos de diferentes órgãos da administração pública do RS, na qualificação e na continuidade do monitoramento ambiental realizado desde 1991, possibilitando conhecer o comportamento do Vibrio sp., tendo por base a ocorrência de isolamentos feitos em amostras de água e esgotos coletadas no Estado

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CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A CÓLERA

A cólera é uma doença infecciosa intestinal aguda de veiculação predominantemente hídrica, causada pela enterotoxina do V. cholerae O1. Após a identificação do V. cholerae O139 (Bengal) em dezembro de 1992 como causador de uma epidemia de cólera em Bangladesh, já se aceita, dentro da definição de cólera, como sendo também causada por este grupo.

As manifestações clínicas ocorrem de formas variadas, desde infecções inaparentes até casos com diarréia profusa, que pode levar à desidratação rápida, acidose e colapso circulatório. Os quadros leves e as infecções assintomáticas são muito mais freqüentes do que as formas graves, existindo portadores crônicos que eliminam o vibrião por meses e até anos.

O agente etiológico da cólera é o V. cholerae, bacilo gram-negativo, com flagelo polar, aeróbio ou anaeróbio facultativo, isolado por Koch no Egito e na Índia, em 1884, inicialmente denominado de Kommabazilus (bacilo em forma de vírgula).

Existem dois biotipos de V. cholerae: o Clássico, descrito por Koch, e o El Tor, isolado por Gotschlich em 1906, de peregrinos provenientes de Meca, examinados na estação de quarentena de El Tor, no Egito. Ambos os biotipos são indistingüíveis antigenicamente e distingüíveis somente com provas bioquímicas especiais, enquadram-se na espécie V. cholerae e integram o sorogrupo O1, o qual apresenta três sorotipos, denominados Ogawa, Inaba e Hikojima. O biotipo El Tor somente foi associado a episódios graves da doença e aceito como agente etiológico em 1961, exatamente no início da 7ª pandemia.

Outros sorogrupos não O1 do V. cholerae já foram identificados em todo o mundo, sabendo-se que podem ocasionar patologias extra-intestinais e diarréias com desidratação severa semelhante à cólera. No entanto, até o presente, estes sorogrupos têm sido associados a casos esporádicos muito limitados e raros de diarréia.

MATERIAIS E MÉTODOS

Seguindo critérios epidemiológicos foram escolhidos para monitoramento os pontos considerados mais significativos como porta de entrada do V. cholerae no Estado do Rio Grande do Sul.

As amostras de esgoto foram coletadas, preferencialmente, pela Técnica de Moore modificada, utilizando-se swab esterilizado. Nos locais em que por motivos operacionais não foi possível o emprego do swab, procedeu-se à coleta direta de amostra líquida, técnica normalmente empregada para amostras de água superficial. As amostras coletadas foram processadas em laboratório, seguindo a metodologia de isolamento e identificação do

V. cholerae, recomendada no Manual Integrado de Prevenção da Cólera (1994), do Ministério da Saúde.

Implantação do monitoramento ambiental

Através de estudo realizado no ano de 1991 pela Secretaria Estadual de Saúde e Meio Ambiente, observou-se que o Estado do Rio Grande do Sul apresentava riscos em relação a cólera devido a extensão de suas fronteiras terrestres, importância de sua fronteira marítima, presença de aeroporto internacional, existência de fluxos migratórios com as regiões norte e centro-oeste do país, importância das doenças infecciosas, intestinais e parasitárias e crescente urbanização do estado. Após esta constatação inicial, foi elaborado um modelo de avaliação que permitiu classificar os municípios do Estado do Rio Grande do Sul, conforme o maior ou menor risco que enfrentavam com relação à introdução da cólera.

Estabelecidos os municípios, teve início em março de 1991 o Monitoramento Ambiental da Prevenção da Cólera, que se mantém até os dias de hoje com a coleta semanal de amostras de água bruta e esgoto em pontos considerados estratégicos para o controle da circulação do agente causador da cólera no meio ambiente. Para tanto, participam deste processo contínuo, ao longo de quase uma década, diversas instituições estaduais e municipais, mais efetivamente e com relevância CORSAN - Companhia Riograndense de Saneamento, DMAE Departamento Municipal de Água e Esgotos e LACEN/RS -Laboratório Central de Saúde Pública.

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Locais de amostragem e tipos de amostras

O monitoramento ambiental de Vibrio cholerae no Estado do Rio Grande do Sul abrangeu cinqüenta e dois municípios, totalizando setenta e nove pontos de amostragem, sendo dezoito de água superficial e sessenta e um de esgoto. Destes, cinco municípios foram monitorados somente entre os meses de janeiro e março de cada ano, quando se realizou a Operação Litoral, num total de treze pontos de amostragem, sendo quatro de água superficial e nove de esgoto.

Coleta de amostras

A coleta das amostras esteve sob responsabilidade dos técnicos da CORSAN e DMAE, sendo realizada semanalmente no período de 1994 a 1999.

As amostras de esgoto foram coletadas preferencialmente pela técnica de Moore modificada (swab de Moore) que consiste em uma mecha de gaze esterilizada, introduzida em uma rede de “nylon” amarrada por um barbante, que serve de suporte para a mecha, instalada no local de estudo onde permaneceu completamente imersa no efluente, nos riachos, rios, lagos ou canais por três dias. Decorrido este período, a mecha foi acondicionada em um frasco estéril, contendo 300 mL de Água Peptonada Alcalina - APA duplamente concentrada (pH 8,4 - 8,6), acrescida de Telurito de Potássio em concentração final de 1:200.000.

Nos locais em que por motivos operacionais não foi possível utilizar a mecha, procedeu-se a coleta direta, que consiste em acondicionar, aproximadamente, 200 mL de amostra em frasco estéril de 500 mL, contendo 200 mL de Água Peptonada Alcalina - APA duplamente concentrada (pH 8,4 - 8,6).

As amostras de água superficial foram coletadas de maneira direta, sendo acondicionados 450 mL em frasco estéril contendo 50 mL de Água Peptonada Alcalina - APA dez vezes concentrada (pH 8,4 - 8,6), acrescida de Telurito de Potássio em concentração final de 1.200.000. Para coleta de amostras de água marinha foi utilizada uma partida de APA sem Cloreto de Sódio (NaCl) e outra com NaCl a 1%.

As amostras ambientais foram enviadas aos laboratórios de referência de sua região, ao LACEN, DMAE e CORSAN, conforme definição prévia, no prazo máximo de 18 horas ou sob refrigeração em tempo superior (até 24hs).

Análise das amostras

A análise de pH foi realizada por técnicos da CORSAN e DMAE, seguindo metodologia descrita no “Standart Methods for the Examination and Wastewater” (APHA, 1995).

Para isolamento e identificação do Vibrio cholerae foi adotada metodologia recomendada no Manual Integrado de Prevenção da Cólera (1994), do Ministério da Saúde.

Os vibrios isolados registrados como Vibrio sp. foram encaminhados ao LACEN, Laboratório de Referência Regional e, posteriomente, ao Instituto Adolfo Lutz, Laboratório de Referência Macro-Regional / Região Sul, para confirmação.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Os municípios monitorados foram agrupados em regiões, representando Porto Alegre, Grande Porto Alegre, Litoral e Interior do Estado (somente para esgoto). A Grande Porto Alegre compreende os municípios de Alvorada, Cachoeirinha, Canoas, Esteio, Guaíba e Novo Hamburgo e o Litoral Norte compreeende os municípios de Cidreira, Tramandaí, Imbé, Capão da Canoa e Torres. O Interior do Estado abrange os municípios de Alegrete, Antônio Prado, Bagé, Bento Gonçalves, Caçapava, Cachoeira do Sul, Canela, Carazinho, Caxias do Sul, Chuí, Cruz Alta, Dom Pedrito, Erechim, Farroupilha, Feliz, Garibaldi, Gramado, Ijuí, Iraí, Itaquí, Lavras do Sul, Nonoai, Nova Bassano, Palmeira das Missões, Passo Fundo, Quaraí, Rio Grande, Rosário do Sul, Santa Maria, Santa Rosa, Santa Vitória do Palmar, São Borja, São Gabriel, São Marcos, Tapes, Três Passos, Uruguaiana, Vacaria, Venâncio Aires e Veranópolis.

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O número de amostras processadas e os percentuais de ocorrência de Vibrio sp. registrados anualmente em cada região, durante o período de estudo de 1994 a 1999, apresentados nas Tabelas 1 e 2 serviram de base para a elaboração das Figuras 1 e 2, respectivamente, onde pode ser visualizada a distribuição dos isolamentos de Vibrio sp. na água superficial e no esgoto, ao longo do tempo de monitoramento.

Do total de 8.460 amostras de água superficial e esgoto analisadas, 817 foram positivas para Vibrio sp. Das 3.747 amostras de água superficial, 390 foram positivas para Vibrio sp., representando um índice médio de 10,4% de isolamentos. Em 4.713 amostras de esgoto, 427 foram positivas para Vibrio sp., o que representa uma positividade média de 9,1% de isolamentos , bastante semelhante à encontrada nas águas superficiais.

Tabela 1 : Dados referentes ao monitoramento ambiental de Vibrio sp. em águas superficiais (1994/1999).

Tabela 2 : Dados referentes ao monitoramento ambiental de Vibrio sp. em esgotos (1994/1999).

Entretanto, quando são considerados os índices anuais de ocorrência de isolamentos, observa-se comportamentos diferenciados conforme a região e o tipo de amostra analisada (Figuras 1 e 2).

Fig. 1 - Ocorrência de Vibrio sp. em água superficial. Fig. 2 - Ocorrência de Vibrio sp. em esgotos.

Os dados referentes ao monitoramento das águas superficiais mostram que em Porto Alegre, os percentuais de ocorrência de Vibrio sp. aumentaram do ano de 1994 para 1995, declinando a partir daí até atingir índice de 1,2% no ano de 1999.

Na Grande Porto Alegre observa-se uma nítida tendência de redução dos índices de ocorrência de Vibrio sp. ao longo do tempo de monitoramento. O percentual de 5,2% apresentado em 1999, levemente superior aos índices dos anos anteriores, deve-se somente aos isolamentos feitos em Esteio, uma vez que nos demais municípios monitorados o Vibrio sp. não esteve presente.

No Litoral Norte pode-se considerar que os dados apresentaram comportamento semelhante ao verificado na Grande Porto Alegre, com tendência de redução dos índices de isolamento de Vibrio sp. ao longo do tempo. O aumento do percentual de ocorrência observado em 1996 é pouco significativo, tendo em vista o reduzido número de amostras analisadas (6) no verão daquele ano. Da mesma forma, o índice aumentado em 1999 é pouco relevante, uma vez que corresponde a um isolamento a mais que o obtido em 1998.

Com relação ao monitoramento dos esgotos, verifica-se que em Porto Alegre os percentuais de ocorrência de

Vibrio sp. mostram tendência de redução ao longo dos anos de estudo, com exceção do ano de 1997, quando

observa-se um acréscimo dos índices de isolamento.

OCORRÊNCIA DE VIBRIO SP EM ÁGUA SUPERFICIAL

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60

Porto Alegre Grande Porto Alegre Litoral

Região Percentual de ocorrência (%) 1994 1995 1996 1997 1998 1999

OCORRÊNCIA DE VIBRIO SP EM ESGOTOS

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60

Porto Alegre Grande Porto Alegre Litoral Interior

Região Percentual de ocorrência (%) 1994 1995 1996 1997 1998 1999 ÁGUA SUPERFICIAL

Total V. sp. % Total V. sp. % Total V. sp. % Total V. sp. % Total V. sp. % Total V. sp. % Total V. sp. %

Porto Alegre 402 77 19,2 389 123 31,6 411 49 11,9 410 14 3,4 403 6 1,5 403 5 1,2 2418 274 11,3

Grande Porto Alegre 269 30 11,2 281 27 9,6 258 9 3,5 209 5 2,4 101 2 2,0 58 3 5,2 1176 76 6,5

Litoral 39 20 51,3 42 10 23,8 6 2 33,3 28 5 17,9 19 1 5,3 19 2 10,5 153 40 26,1

Total geral 710 127 17,9 712 160 22,5 675 60 8,9 647 24 3,7 523 9 1,7 480 10 2,1 3747 390 10,4

1994 1995 1996 1997 1998 1999 Total geral

ESGOTO

Total V. sp. % Total V. sp. % Total V. sp. % Total V. sp. % Total V. sp. % Total V. sp. % Total V. sp. %

Porto Alegre 380 93 24,5 334 50 15,0 339 34 10,0 335 51 15,2 349 23 6,6 343 5 1,5 2080 256 12,3

Grande Porto Alegre 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 355 8 2,3 355 8 2,3

Litoral 32 15 46,9 34 8 23,5 17 3 17,6 31 9 29,0 14 3 21,4 27 2 7,4 155 40 25,8

Interior 293 47 16,0 148 12 8,1 225 18 8,0 239 20 8,4 171 20 11,7 1047 6 0,6 2123 123 5,8

Total geral 705 155 22,0 516 70 13,6 581 55 9,5 605 80 13,2 534 46 8,6 1772 21 1,2 4713 427 9,1

(6)

O monitoramento dos esgotos da Grande Porto Alegre, iniciado em 1999, não permitiu a avaliação da ocorrência de Vibrio sp. ao longo do tempo.

No Litoral Norte, os índices de ocorrência de Vibrio sp. obtidos no esgoto foram semelhantes aos encontrados em Porto Alegre, tendendo ao declínio com o passar do tempo e mostrando incremento do percentual de isolamentos durante o ano de 1997.

No Interior do Estado, a ocorrência de Vibrio sp. diminuiu em 50% do ano de 1994 para 1995. A partir daí, manteve-se no mesmo patamar até 1999, quando apresentou o menor índice de isolamentos, de 0,6%.

DISCUSSÃO

No monitoramento ambiental das águas superficiais e esgotos, nenhum dos isolados foi identificado como V.

cholerae, sugerindo que o agente causador da cólera não esteve presente em nosso meio no período de estudo

considerado de 1994 e 1999. Entretanto, 817 amostras foram positivas para outras espécies de vibrios, sendo registradas como Vibrio sp.

O percentual de ocorrência de Vibrio sp. observado nos anos 1994 e 1995 mostrou tendência geral de redução no decorrer dos anos seguintes. No entanto, esse comportamento não se confirmou no litoral norte, onde, a partir de 1995, o percentual de isolamentos permaneceu constante devido, provavelmente, a fatores ambientais característicos da região.

O V. cholerae é um microorganismo originalmente integrado ao ambiente marinho, com progressiva adaptação aos ecossistemas aquáticos dulcícolas e estuarinos. No que tange às condições ambientais, sua sobrevivência está relacionada a fatores bióticos, que podem atuar isolados ou simultaneamente e com diferentes graus de importância, dentre os quais destacam-se temperatura da água, salinidade, pH, umidade, competição e associação com outros organismos vivos diferenciados.

A faixa de temperatura da água mais favorável situa-se entre 10ºC e 32ºC, na qual o V. cholerae tende a se localizar na superfície. Abaixo de 10ºC a bactéria tende a se localizar no sedimento, aumentando o seu tempo de viabilidade.

A salinidade, na faixa de 0,3% a 1,79 %, propicia maior viabilidade do vibrião. Abaixo de 0,3%, essa viabilidade passa a depender da concentração de nutrientes orgânicos e de temperatura mais elevada, particularmente em água doce; a sazonalidade dos vibriões na água tem uma certa relação com o nível mais elevado de cloretos, provenientes das descargas de efluentes com contaminação por fezes humanas.

A faixa mais favorável de pH situa-se entre 7,0 e 9,0, com limites de tolerância de 5,5 a 10,0, principalmente no caso do biotipo El Tor.

A umidade é um fator importante na sobrevivência do V. cholerae, uma vez que ele não resiste à dessecação. Sato e al. (1995) verificaram que o V. cholerae O1 e não O1 sobrevivem por mais tempo em águas não poluídas, confirmando que a competição é um fator interferente na sobrevivência de vibrios no ambiente aquático.

No ambiente aquático, o V. cholerae pode constituir parte da microflora do zooplâncton e do fitoplâncton (Cowell et al., 1977; Kaper et al., 1979; Huq et al., 1983; Brayton et al., 1987). Segundo Colwell (1996), as epidemias de cólera, numa escala global, podem ser relacionadas com a distribuição do plâncton hospedeiro de V. cholerae, e também com eventos climáticos, como por exemplo o El Niño, que provoca aumento na temperatura das águas oceânicas e em decorrência, o aumento das populações do fito e zooplâncton hospedeiro de V. cholerae.

Os fatores ambientais parecem estar envolvidos na indução do estado de “dormência” que o V. cholerae pode assumir, um mecanismo de sobrevivência e persistência da célula bacteriana no hospedeiro ou nos ambientes naturais, que mantém sua atividade metabólica, viabilidade e patogenicidade, mas não permite que cresça nem se multiplique em meios de cultura (Mckay,1992; Huq & Colwell, 1996).

(7)

As observações em ambiente marinho assinalam a maior sobrevivência em águas costeiras e estuarinas, em contraposição às de alto mar. Seja por alteração de qualidade e quantidade de organismos marinhos, ou da salinidade, o fato é que o V. cholerae não é detectado em pescados de alto mar. Entretanto, seu isolamento nas águas doces superficiais e de estuários somente é possível quando a contaminação fecal é constante. Isto significa que, aparentemente, não há fixação ou multiplicação da bactéria no ambiente de água doce, ao contrário das observações de água marinha costeira.

Conforme Munro e Colwell (1996), o V. cholerae pode permanecer em estado culturável no ambiente marinho por cerca de 50 dias, tempo suficiente para ser carreado pelas correntes oceânicas a regiões geográficas distantes.

Experimentalmente, o V. cholerae pode sobreviver de 10 a 13 dias, em temperatura ambiente, e até 60 dias em água do mar sob refrigeração. Em água doce sua sobrevivência atinge até 19 dias, e sob forma congelada de 4 a 5 semanas.

Levando em conta as características ambientais de cada região estudada, para complementar o estudo da ocorrência de Vibrio sp. em nosso meio, os isolados mais recentes, enviados ao Laboratório de Referência Macro-Regional para identificação das espécies, serão alvo de novo estudo, quando o número de dados for suficientemente consistente para uma avaliação criteriosa.

CONCLUSÃO

O não isolamento de Vibrio cholerae O1 confirma o Rio Grande do Sul como área de não circulação do agente causador da cólera.

O isolamento de outras espécies de vibrio registradas como Vibrio sp., respaldam a qualidade e eficiência da metodologia empregada no monitoramento ambiental de águas superficiais e esgotos das diferentes regiões do Rio Grande do Sul.

A eficiência dos serviços prestados à população nas áreas de sáude, vigilância epidemiológica / sanitária, educação / comunicação social, diagnóstico laboratorial e saneamento se traduziu pela ação integrada dos diferentes órgãos institucionais envolvidos no monitoramento ambiental de Vibrio cholerae no Estado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2. BELLINCANTA, G.S. Identificação de bactérias gram negativas potencialmente patogênicas de águas superficiais e esgotos e detecção de Vibrio cholerae toxigênico por PCR. Porto Alegre, 1999. Dissertação de mestrado - Faculdade de Agronomia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1999.

3. HUQ, A.; COLWELL, R.R. A microbilogical paradox: viable but non-culturable bacteria with special reference to Vibrio cholerae. J. Food Protec., Ames, v. 59, n. 1, p. 96-101, 1996.

4. McKAY, A.M. Viable but non-culturable forms of potentially pathogenic bacteria in water. Lett. Appl.

Microbiol., Oxford. v. 14, p. 129-135, 1992.

5. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual Integrado de Prevenção e Controle da Cólera. 1ª.Ed. - Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 1994. 112p.:II

6. MUNRO, P.M.; COLWELL, R. R. Fate of Vibrio cholerae O1 in seawater microcosms. Wat. Res., Grã-Bretanha, v. 30, n. 1, p. 47-50, 1996.

7. SATO, M.I.Z.; SANCHEZ, P.S.; RIVERA, I.G. et al. Survival of culturable Vibrio cholerae O1 and non O1 in seawater, freshwater and wastewater and effect of the water environment on enterotoxin producion. Rev.

Referências

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