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MÓDULO 8 A TESE NO TEXTO DISSERTATIVO

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Academic year: 2021

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MÓDULO 8 – A TESE NO TEXTO DISSERTATIVO

Uma tese é, basicamente, uma opinião. Em qualquer texto dissertativo-argumentativo, é esperado do autor que ele consiga defender sua tese por meio de argumentos. Por isso, podemos dizer que a tese é o objetivo final do texto: todo o conteúdo de uma dissertação deve ter como meta a comprovação da tese. Poderíamos dizer também que a tese é a ideia central do texto.

É importante notar que, ao definir a tese como uma “opinião”, não estamos dizendo que o autor deve escrever em seu texto frases como “na minha opinião...” ou “eu acho que...”. Há uma lenda bastante difundida de que, em uma dissertação, o autor não deve colocar sua opinião. Essa regra está completamente equivocada: afinal, se um autor não expõe seus próprios ponto de vista, deverá expor os de outras pessoas. E, se ele concordar com essas opiniões alheias, elas irão se tornar opiniões do autor também. Portanto, toda ideia exposta em um texto é ponto de vista do autor, mesmo que ele não a identifique claramente como tal. O que você não deve fazer é expor uma ideia como sua opinião e acreditar que, apenas por isso, ela não precisa ser defendida com argumentos. E é esse o motivo para evitar o uso de expressões como “na minha opinião”: além do fato de que essa expressão usa interlocução, identificando o autor e distanciando o texto das características esperadas de uma dissertação, há o fato de que, na linguagem oral, essa é uma expressão normalmente usada quando o autor não tem argumentos para defender sua tese. Assim, ele reforça a ideia de que, como está apenas expondo uma opinião própria, ele não precisa explicar por que motivo acredita nela. Embora na linguagem oral esse seja um recurso aceitável, em uma dissertação há a necessidade de provar os pontos de vista apresentados.

Existem teses certas e teses erradas?

Uma ideia muito difundida entre estudantes é a de que os corretores dos grandes vestibulares brasileiros esperam uma determinada opinião das redações e, por isso, defender uma tese diferente da esperada pela banca levaria o candidato a ser penalizado. Em vestibulares sérios, isso simplesmente não é verdade. Ou seja, não há teses corretas nem erradas: qualquer opinião pode ser defendida, desde que haja no texto argumentos fortes e bem construídos para tal.

Isso não quer dizer que qualquer tese tem o mesmo potencial para a criação de uma boa redação: como a tese é a ideia central de um texto, ela irá determinar fortemente sua qualidade final. Se uma tese pode ser provada com muita facilidade, é bastante provável que o texto em que ela aparece tenha uma qualidade baixa. Afinal, provar uma tese óbvia não dá ao autor a oportunidade de demonstrar sua capacidade argumentativa. Portanto, no processo de elaboração de uma tese, é importante escolher um ponto de vista que possa ser defendido, mas que também se distancie do senso comum (que também já estudamos), para garantir que o texto tenha algo a acrescentar à discussão do assunto. Por exemplo, a tese “Devemos combater a fome” é facilmente provável, mas isso se dá principalmente pelo fato de que ela é

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óbvia, ou seja, não precisa ser provada. Um texto cuja principal ideia é a de que devemos acabar com a fome não acrescenta nada à discussão desse tema. Porém, se sua tese contiver uma análise sobre as causas da fome ou uma proposta prática para diminuí-la, certamente será bem mais difícil de provar, mas, ao mesmo tempo, possibilitará a existência de um texto de qualidade superior.

E teses boas ou ruins, existem?

Sim, algumas teses são melhores que outras. Como a tese é a ideia central de um texto, ela irá determinar fortemente sua qualidade final. Se uma tese pode ser provada com muita facilidade, é bastante provável que o texto em que ela aparece tenha uma qualidade baixa. Afinal, provar uma tese óbvia não dá ao autor a oportunidade de demonstrar sua capacidade argumentativa. Portanto, no processo de elaboração de uma tese, é importante escolher um ponto de vista que possa ser defendido, mas que também se distancie do senso comum (que também já estudamos), para garantir que o texto tenha algo a acrescentar à discussão do assunto. Por exemplo, a tese “Devemos preservar o meio-ambiente” é facilmente provável, mas isso se dá principalmente pelo fato de que ela é óbvia, ou seja, não precisa ser provada. Um texto cuja principal ideia é a de que devemos preservar o meio-ambiente não acrescenta nada à discussão desse tema. Porém, se sua tese contiver uma análise sobre as causas da destruição dos recursos naturais ou uma proposta prática para diminuí-la, certamente será bem mais difícil de provar, mas, ao mesmo tempo, possibilitará a existência de um texto de qualidade superior.

Tipos de tese: constatação, juízo de valor, explicação eproposta Uma tese pode ter basicamente quatro formatos:

1. Constatação: uma conclusão a que o autor chega após observar a realidade. Por exemplo, após estudar a situação da saúde no Brasil, alguém poderia fazer a seguinte afirmação: “os médicos brasileiros estão concentrados nas capitais”. Isso não é necessariamente algo bom nem ruim, mas uma constatação de um fato.

Essa tese costuma funcionar bem em temas mais filosóficos e abstratos; em temas mais próximos da realidade, ela corre o risco de gerar um texto óbvio, pertencente ao senso comum.

2. Juízo de valor: nesse caso, já existe um julgamento sobre um fato. Por exemplo, o autor pode afirmar: “o fato de os médicos brasileiros estarem concentrados nas capitais prejudica o atendimento no interior”. Agora, foi atribuído um valor (nesse caso, negativo) ao fato.

Uma tese pode ser um juízo de valor; o importante é que os argumentos sustentem esse juízo. Esse tipo de tese é talvez o mais simples (as teses “a pena de morte é boa” e “a pena de morte é ruim”, por exemplo, são juízos de valor); no entanto, ele não funciona em todos os temas, apenas naqueles em que há uma polêmica instaurada e a possibilidade de defesa de pontos de vista opostos.

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3. Explicação: nesse tipo de tese, o texto tem como propósito mostrar por que algo ocorre. É importante notar que esse tipo de tese dá ênfase à veracidade da explicação. Por exemplo: se a tese for “a concentração de médicos brasileiros em capitais é causada pela ausência de investimento nas regiões mais pobres do Brasil”, o foco do texto não é provar que os médicos estão nas capitais, mas que a causa desse fenômeno é a falta de investimento.

4. Proposta: uma proposta é uma sugestão de uma atitude a ser tomada para resolver ou minimizar um problema. Portanto, a proposta não faz sentido em qualquer tema, mas apenas naqueles que contém um problema pontual a ser resolvido. Por exemplo, no tema dos médicos brasileiros, uma proposta possível seria: “O governo deveria oferecer incentivos aos médicos que atuassem no interior do Brasil”.

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Técnicas de Elaboração de Teses a partir do Senso Comum:

O que vamos explicar agora são duas técnicas que podem ser usadas para, a partir de uma tese acrítica, formular uma opinião mais profunda e elaborada.

Negação ou Relativização do Senso Comum

Uma forma de aprofundar uma tese é, em primeiro lugar, verificar o que o senso comum pensa sobre o tema e, em seguida, afirmar que essa visão é incompleta ou equivocada. Imagine, por exemplo, o tema “Tecnologia”. Uma tese muito presente na sociedade é a seguinte: “A tecnologia melhora a vida das pessoas”. No entanto, é perfeitamente possível afirmar que essa ideia é equivocada (“a tecnologia não melhora a vida das pessoas”, ou até mesmo “a tecnologia piora a vida das pessoas“) ou incompleta (“a tecnologia melhora a vida de alguns, mas piora a de outros”; ou, ainda, “a tecnologia melhora a vida em alguns aspectos, mas piora em outros“).

Banco de exemplos: deve conter teses críticas formuladas a partir do senso comum. A estrutura deve seguir o exemplo abaixo (tema - tese do senso comum – tese crítica – comentário). Os exemplos devem ser retirados, tanto quanto possível, de redações reais de grandes vestibulares e provas.

Exemplo 1:

Tema:Unicamp 2005 - Rádioo tema

Tese do senso comum: o rádio tornou-se obsoleto com o passar do tempo

Tese crítica:Ao invés de tornar-se antigo e obsoleto com a passagem do tempo, o rádio acompanhou os movimentos de desmassificação da informação e se pluralizou, mantendo-se, mesmo decorrido tanto tempo do seu surgimento, como arauto da modernidade e firmando a sua presença como um dos mais democráticos meios de acesso à notícia e ao conhecimento. O autor dessa tese partiu de uma ideia do senso comum (“o rádio tornou-se antigo e obsoleto“) para em seguida negar essa noção afirmando que o rádio ainda cumpre seu papel de garantir acesso à informação. O fato de o rádio ainda ter espaço como meio de comunicação se deve, segundo o autor, à sua característica de ser facilmente acessível

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(democrático).

Viabilização de Proposta

Muitas teses fazem propostas de intervenção para resolver ou minimizar algum problema. No entanto, é comum que tais propostas sejam excessivamente vagas, enfatizando muito mais o fim desejado do que a forma pela qual a proposta poderia ser colocada em prática.

Um exemplo de proposta vaga, muito presente em redações elaboradas por autores pouco treinados, é a seguinte: “deve ser feita uma lei para resolver esse problema”. Note que a pretensa proposta de forma alguma ajuda na solução do problema, seja ele qual for. Afinal, elaborar leis é, em si, uma tarefa complexa, e fazê-las cumprir é ainda mais difícil.

Uma característica recorrente em propostas ruins é que muitas delas utilizam o recurso do senso comum (link para o módulo de senso comum) que consiste em deixar lacunas a serem preenchidas pelo leitor. Normalmente, isso é feito quando o autor aponta a consequência de uma proposta e não a proposta em si. Por exemplo, quando, ao discutir uma questão

complexa, que envolve interesses conflitantes, afirma algo como “é importante atender a todos”. Ora, essa ideia é óbvia, mas é muito difícil de ser colocada em prática. Uma proposta vinda de alguém com senso crítico atacaria justamente esse aspecto e mostraria de que forma é possível atender a todos.

Outros exemplos de propostas vagas ou inviáveis aparecem abaixo: Exemplo 1:

Tema: Banco de Redações do UOL -A variação linguística nas escolas

Com essas constatações, fica claro que há pluralidade linguística e está associada à identidade cultural decada grupo de determinada região. Sendo assim, a escola deve se comportar como ferramenta principal de ligação de povos separados por tradições, ressaltando que a língua não deve ser sinônimo de diferenças e sim de união cultural.

Na tese acima, o autor supostamente propõe uma ação que a escola deve tomar na polêmica do ensino das variantes linguísticas. No entanto, provavelmente movido por um desejo de simular uma escrita mais sofisticada, o texto constrói um discurso em que as palavras não trazem ideia alguma. O que é, afinal, “se comportar como ferramenta principal de ligação de povos separados por tradições”? Lembre-se de que usar palavras supostamente mais raras, o chamado “escrever difícil”, tende a prejudicar muito mais que ajudar o texto. Use apenas termos cujo significado você domine e apenas nos contextos apropriados.

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Medidas como conscientização e ensinamento, por parte das autoescolas, de como reagir em frente a situações como aquelas e o aumento da segurança por parte de autoridades, seja através de punições mais severas, de maior circulação de guardas organizando e fiscalizando o tráfego ou de maior instalação de câmeras e radares, podem ser medidas decisivas para assegurar a vida do motorista que, ano após ano, corre um risco maior de entrar nas estatísticas de vítimas fatais dentro do trânsito.

Embora a proposta não seja original, ela tem a característica muito positiva de mencionar claramente quais medidas devem ser tomadas para atingir o resultado esperado (punições mais severas, maior circulação de guardas, maior instalação de câmeras e radares). Ao fazer isso, o autor demonstra conhecimento específico sobre o tema e aumenta a possibilidade de que a redação tenha uma argumentação consistente (já que, como já mencionado, a tese é o primeiro passo de um projeto de texto e determina em grande parte a qualidade final da redação).

Referências

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