Macroeconomia do Salário Mínimo
SALÁRIO MÍNIMO E
DEMANDA AGREGADA
LAURA CARVALHO
EESP-FGV
A parcela de salários na renda é definida como a massa de
salários nominal (salário nominal médio 𝑤 vezes quantidade
de emprego 𝐿) sobre o produto nominal total 𝑃𝑌:
Ψ = 𝑤𝐿
𝑃𝑌 =
𝑤/𝑃 𝑌/𝐿
Varia com a diferença entre crescimento do salário real
(𝑊 − 𝑃 ) e crescimento da produtividade, 𝜉 = 𝑌 − 𝐿 .
Ψ = 𝑊 − 𝑃 − 𝜉
DISTRIBUIÇÃO FUNCIONAL DA RENDA E
DEMANDA AGREGADA
Pela ótica da demanda, a parcela de salários tem efeito ambíguo: regimes de demanda wage-led vs profit-led.
Consumo : propensão a consumir é maior sobre salários do
que sobre lucros.
Investimento ou : responde à lucratividade e ao próprio
nível de atividade.
Saldo comercial : responde ao grau de competitividade, que
é tanto menor, quanto maior a parcela de salários.
DISTRIBUIÇÃO FUNCIONAL DA RENDA E
DEMANDA AGREGADA
Se o salário médio for uma proporção 𝛿 > 1 do salário mínimo, Ψ = 𝛿𝑤𝑚𝑖𝑛/𝑃
𝑌/𝐿
Ψ = 𝛿 + 𝑤 − 𝑃 − (𝑌 𝑚𝑖𝑛 − 𝐿 )
Regra reajusta salário mínimo pela inflação e média de crescimento do PIB dos dois anos anteriores.
No médio prazo, 𝑤 − 𝑃 − 𝑌 𝑚𝑖𝑛 estaria próximo de zero, mas se a produtividade do trabalho cresce menos que o PIB, a parcela de salários aumenta.
SALÁRIO MÍNIMO E DISTRIBUIÇÃO
FUNCIONAL DA RENDA
Produtividade do trabalho cresce de forma endógena: dado o
salário real, a parcela de salários tenderia a cair na expansão, e subir na contração.
Dinâmica do emprego: em geral, a produtividade do trabalho
cresce menos que o PIB na expansão, mas cai menos que o PIB na contração.
Com a regra: mínimo cresceria mais que a produtividade nas
expansões e menos nas contrações => contraponto à
tendência natural => papel estabilizador para a distribuição funcional da renda.
SALÁRIO MÍNIMO E DISTRIBUIÇÃO
FUNCIONAL DA RENDA
SALÁRIO MÍNIMO E DISTRIBUIÇÃO
FUNCIONAL DA RENDA
Fonte: IPEADATA e CEMACRO-FGV
80 85 90 95 100 105 110 3,5% 4,0% 4,5% 5,0% 5,5% 6,0%
Problema: o emprego não acompanhou a desaceleração do PIB em alguns períodos.
Crescimento do PIB maior do que o da produtividade também nos períodos de contração.
Assimetria:
Na expansão: regra do mínimo tem papel estabilizador, evitando a redução da parcela de salários na renda.
Na desaceleração: regra do mínimo passa a reforçar a tendência de aumento da parcela de salários na renda.
Exceção em 2013: produtividade cresce menos que o PIB.
SALÁRIO MÍNIMO E DISTRIBUIÇÃO
FUNCIONAL DA RENDA
SALÁRIO MÍNIMO E DISTRIBUIÇÃO
FUNCIONAL DA RENDA
2,5 2,7 2,9 3,1 3,3 3,5 3,7Salário Médio / Salário Mínimo
Papel estabilizador nas expansões: evita queda da parcela de salários na renda.
Mas contribui para a elevação da parcela de salários na renda
durante a desaceleração.
Força contrária: salário médio vem caindo em relação ao
salário mínimo (redistribuição de renda), o que tende a
reduzir a contribuição do mínimo para o aumento da parcela de salários.
Qual o efeito sobre a demanda agregada?
SALÁRIO MÍNIMO E DISTRIBUIÇÃO
FUNCIONAL DA RENDA
Evidência de que o salário mínimo reduz a desigualdade de renda intra-salários.
Propensão a consumir mais alta na base da distribuição.
Sensibilidade do consumo ao salário mínimo é mais alta do que para o salário médio.
Função consumo modificada (Carvalho e Rezai, 2013).
Setor de não tradables: reajustes de preços para compensar aumento do custo unitário do trabalho.
Efeito de estímulo sobre o consumo é parcialmente corroído pela inflação.
Setores tradables: aumento do custo unitário do trabalho pode exigir compressão de margem de lucros, dada a
competição internacional.
Fatia menor de um bolo maior: o estímulo ao consumo
favorece o investimento pois aumenta a massa de lucros.
Efeito líquido sobre o retorno do investimento é
indeterminado.
Investimento e consumo cresceram de forma complementar
entre 2004-2012 (exceção: 2013).
SALÁRIO MÍNIMO E INVESTIMENTO
-20% 0% 20% 40% 60% 80% 100%Crescimento Real do Consumo (ano a ano) Crescimento Real do Investimento (ano a ano)
Ao elevar o custo unitário do trabalho em períodos de
desaceleração, o salário mínimo pode estar prejudicando a competitividade dos setores de bens comercializáveis.
Vazamento do consumo para importações, e desestímulo às
exportações via elasticidade-preço.
Desvalorização do câmbio compensou?
SALÁRIO MÍNIMO E BALANÇA
COMERCIAL
SALÁRIO MÍNIMO E BALANÇA
COMERCIAL
Fonte: IPEADATA E BCB 0 50 100 150 200 250 300 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Salário Mínimo / Câmbio Efetivo (2004=100) Salário Mínimo / Dolár (2004=100)Salário Mínimo Salários Consumo Importações Exportações Inflação de Não Tradables
Investimento PIB Produtividade
do Trabalho
Emprego
SALÁRIO MÍNIMO E DEMANDA
AGREGADA
Regra do mínimo tem papel de estabilizar a parcela de
salários na renda, evitando maior volatilidade no crescimento do consumo e do investimento.
Ao não incorporar o crescimento do emprego, a regra tende a
elevar a parcela de salários na renda quando a economia cresce pouco.
Esse efeito tende a ser cada vez menor, dada a redução do
salário médio em relação ao mínimo.
Efeito negativo na competitividade parece ter sido
neutralizado pela desvalorização cambial nos últimos anos.
Estímulo ao consumo pode compensar a redução das margens
de lucro na decisão de investir.
Inflação nos setores de não tradables permanece o problema,
pois desestimula o próprio consumo => desindexação?
Estimação da função consumo modificada incorporando efeitos redistributivos do mínimo.
Integração com outros componentes da demanda em modelo de simulação.
Preços formados por mark-up fixo em setores não tradables e endógeno em setores tradables.
Regra do mínimo
Função investimento
Função exportações e importações