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A MÃO QUE BALANÇA O BOLSO

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Academic year: 2021

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29/12/2012

Contatos flira@ifce.edu.br

DE

:

FERNANDO

LIRA

(2)

flira@ifce.edu.br 2

A MÃO QUE BALANÇA O BOLSO (Uma farsa em três atos)

PERSONAGENS:

ANTÔNIO SIQUEIRA DA NÓBREGA– Marido de Carla. PEDRO SABÓIA DE NASCIMENTO– Amigo de Antônio. FRANCISCONI LAZARÁGIO GASPARETO – Sogro de Antônio. ALMEIDA – Senador.

ROSA GASPARETO – Esposa de Lazarágio. CARLA GASPARETO– Filha de Lazarágio. ESMERALDA - Empregada dos Gasparetos MADAME ZULEICA - Vidente

PRIMEIRO ATO CENA 1 Tudo escuro. Ouve-se a vinheta de um telejornal.

OFF: Boa noite. A aeronave XP346 da empresa aérea Vanpan explodiu agora a pouco, às vinte e três horas e trinta minutos, após bater na serra da matigueira. A aeronave vinha de Fortaleza rumo a São Paulo, com escala em Recife. Não há sobreviventes. Entre os passageiros estavam o empresário Antônio Siqueira da Nóbrega, genro de Francisconi Lazarágio Gaspareto, presidente da rede de Restaurante de Massas Gasparetos e o líder sindical Manoel Perreira da Silva. As famílias da vítmas estão inconsoladas...

O noticiário continua, enquanto que o volume vai diminuindo. CENA 2

Casa dos Gasparetos. Dr Lazarágio e o Senador Almeida estão em cena, ao lado de um pequeno caixote, rodeado de flores.

SENADOR- Encontraram o pacote?

LAZARÁGIO - Felizmente, não, Senador. A perícia relatou que tudo se transformou em cinzas com a explosão do avião... Exceto, é claro, (apontando para o caixote) uma parte do meu genro...

SENADOR - Graças, se o pacote cai na mão da polícia, estamos ferrados... Você sabe que os tempos mudaram, não podemos vacilar!

LAZARÁGIO - Sei, sei!

SENADOR - Os senadores estão formando uma CPI para investigação do último escândalo. Eles querem romper o sigilo bancário de sua conta!

LAZARÁGIO - Almeida, você podia muito bem me poupar destes aborrecimentos. Eu mantenho o seu mandato é para me trazer boas notícias. Você já está cansado de saber os procedimentos de praxe.

SENADOR- Mas, senhor...

LAZARÁGIO - Não tem mas... se o Congresso deseja verificar minha conta, mostre a conta virtual do Banco Nistra!

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flira@ifce.edu.br 3 LAZARÁGIO - E a conta da Corretora Vale-Sul.

SENADOR - Também queimada. Escândalo das Minas de Aço! LAZARÁGIO - Banco Norte!

SENADOR - Escândalo das passagens aéreas. LAZARÁGIO - Poupança da caixa de créditos.. SENADOR - Escândalo da merenda escolar! LAZARÁGIO- Quer dizer...

SENADOR- É isto que estou querendo lhe dizer. Só resta sua conta oficial, a de Miami! LAZARÁGIO- Mas esta eles não podem mexer!

SENADOR - Podem sim, senhor! A polícia federal já fez um pedido formal ao FBI, solicitando aos banqueiros americanos o envio de um relatório da sua movimentação bancária no exterior, nestes dois últimos anos.

LAZARÁGIO- (Gritando.) Traidores!

CENA 3 Entram Rosa e Carla.

ROSA- Francisconi, respeite o morto!

CARLA- Ah, mamãe que degraça, onde ele está? Vocês não podem impedir o meu último adeus.

LAZARÁGIO - Carla, controle-se!Você sabe que detesto escândalos...

ROSA- Nada disso, Francisconi. Diz a etiqueta: que nestas ocasiões, uma socialite deve dar escândalo mesmo. É necessário que se publiquem: OS RICOS TAMBÉM SÃO SENSÍVEIS A TODO TIPO DE DESGRAÇA, INCLUSIVE A PRÓPRIA. Portanto, filha, abra o berreiro que dará o maior ibope! Vamos chore!

CARLA - Ah! Antonio, Antônio, por que você me abandonou? Eu quero ver meu Antônio! Carla abre o caixote de modo que o público perceba uma mão segurando uma caixa de fósforos.

CARLA -(Iinterrompe o choro e olha para mãe.) Foi só isto que sobrou dele?

ROSA- Acha pouco? Pois fique satisfeita, porque das outras vítmas, não sobrou nada! CARLA- Olha, mãe, a caixa de fósforos que dei para Antônio!

ROSA - Graças a esta caixa de fósforos, que você dá a todos namorados, e a sua caligrafia é que foi possível o reconhecimento da mão do seu marido.

CARLA – (Pegando a mão e esfregando pelo corpo.) Nem precisava... Sou capaz de reconhecer esta mão de olhos fechados. (Lendo a caixa de fósforos.) QUE O FOGO DO NOSSO AMOR NUNCA SE APAGUE!

LAZARÁGIO - O incrível é que nenhum fósforo foi queimado com a explosão. CARLA - É o potencial do nosso amor que ainda permanece vivo, gostou, mamãe? ROSA - Isto, filha, espero que você repita esta frase para a imprensa!

CENA 4 Soa a campainha. Esmeralda abre a porta. Entra Pedro. PEDRO- Como ela está?

ESMERALDA - Dona Carla passa bem. O Sr. Antônio é que não posso dizer o mesmo! PEDRO - Como assim?

ESMERALDA- Coitado está inválido; perdeu o corpo!

PEDRO- Por favor, Esmeralda, não brinque com estas coisas! ESMERALDA - Dona Carla, o Sr. Pedro!

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flira@ifce.edu.br 4 CARLA – Pedro, meu amigo, uma tragédia, uma tragédia!(corre para os braços de Pedro e esmurra os ombros dele) Eu quero morrer, eu quero morrer!

PEDRO- Calma, Carlinha, tudo vai ficar bem!

CARLA - Venha, Pedro, ver o seu amigo. Antônio morreu como um atleta olímpico! PEDRO-(assusta-se) Ah! O que é isto?

CARLA- Isto, não! Este é Antônio, o seu melhor amigo. PEDRO- Antônio?

LAZARÁGIO- Bem...uma parte dele...

CARLA- Mas para mim é todo o Antônio. Ele não era um homem, era uma mão! ROSA- Lindo, filha, não se esqueça de repetir esta frase também!

PEDRO -(Sorrindo e pensando alto) Puxa, coitado do Antônio! CARLA - Do que você está rindo?

PEDRO- Bem...estou lembrando dos momentos que passei recentemente com Antônio.(mudando de tom)Não, ele não morreu!

LAZARÁGIO- Entendo, meu rapaz... PEDRO- Ele está no meio de nós! ROSA - É verdade.

O telefone toca. Esmeralda atende.

ESMERALDA- Alô! Sim, é daqui mesmo... um momento que vou chamá-lo. Para o Sr. Pedro! PEDRO - Para mim?(aos presentes) Sinto como se Antônio nos quisesse dizer algo...

CARLA - (Respirando fundo.) Eu também sinto isso... Pedro dirige-se ao telefone.

PEDRO - Alô... Antônio! LAZARÀGIO - Antonio? A cena é paralisada.

CENA 5

Ouve-se o bolero de Ravel. O foco muda do presente para o passado. Acende-se a luz em outro ponto do palco. Um quarto de hotel. Antônio entra, vestido de executivo, caregando uma valise e um volumoso pacote. Pedro aproxima-se dele, segurando sacos de compra e alguns salgados, vinho e gelo.

ANTÔNIO - (Rindo) Cara, que loucura, eu nunca fiz isto! PEDRO – É? E aquela farra na casa do Alfredinho? ANTÔNIO - Ali, eu estava bêbado!

PEDRO - Mas fez! Não me venha com essa, Antônio!

ANTÔNIO - O que quero dizer, é que nunca fiz uma dessa, planejada.

PEDRO - Ora, já estava na hora! Agora me diga: foi ou não foi uma boa idéia? ANTÔNIO - Devo admitir que foi uma jogada de mestre!

PEDRO - Então?

ANTÔNIO - Você precisava me ver no aeroporto, fingindo chateado, porque estava sendo obrigado a viajar para São Paulo. Desde que eu e a Carlinha nos casamos, nunca tínhamos dormido separados. Ela ainda me deu uma caixa de fósforos com a frase: QUE O FOGO DO NOSSO AMOR NUNCA SE APAGUE. Parece piegas, mas a Carlinha é romântica e louca pelo papai aqui... (apalpando os bolsos) Ih, cara, perdi a caixa! Ela insistiu que eu voltasse com a caixa de fósforos. Você sabe como ela é apegada a estas coisas.. Agora me lembro, um sujeito me pediu fósforos emprestados e esqueceu-se de devolver... que droga! Ela vai ficar sentida... Pedro prepara um uma bebida para os dois. Soa a campainha.

PEDRO - São as meninas!

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flira@ifce.edu.br 5 PEDRO - Discretíssimas.

Os dois ajeitam-se e Antônio abre a porta.

CENA 6 CARLA - (nterferindo na cena ) Você disse Antônio?

Muda o foco para o presente. Pedro se afasta. E vai ao telefone.

PEDRO- (Tapando o fone.) Sim, Antônio... (Voltando para o telefone, falando de modo que todos ouçam.) Antônio, quando for o momento nós nos encontraremos. Sim, eu não lhe esqueci... Espere o momento, espere o momento. (Desliga o telefone).

SENADOR - Isto é que é amizade! Não é como aqueles falsos do Congresso! PEDRO- Olha, Carla, dá para ver que ele morreu sorrindo!

CARLA- Dá, é?

PEDRO- Claro, pela inclinação deste dedo, percebe-se o ar de felicidade de Antônio! SENADOR- E é?

PEDRO- Veja bem: ele estava pensando justamente em você, Carla!. Repare na forma que ele segura a caixa de fósforos. Não! Recuso-me a acreditar que Antônio morreu. Ele está vivo... bem vivo, junto de nós!

ROSA - Pedro, meu filho, você acaba de me dar uma excelente idéia! PEDRO- Dei?

ROSA - Sim, precisamos tirar proveito da situação. LAZARÁGIO - O que você tem em mente, querida?

ROSA- Vamos transformar Antônio em um símbolo, em um herói...Isto, vamos criar uma fundação beneficente!

SENADOR - Uma fundação?

ROSA - Exatamente... FUNDAÇÃO BENEFICENTE PARA AS VÍTIMAS DE DESASTRES DE AVIÃO QUE PERDERAM A MÃO!

LAZARÁGIO - Brilhante idéia, Rosa!

ROSA- A mão de Antônio será o símbolo dessa Fundação. CARLA - E quando enterrarmos a Mão?

ROSA - Não enterraremos! SENADOR - Não haverá enterrro?

ROSA - Óbvio que não! Nós abriremos à visitação, cobrando, é claro. Todo dinheiro arrecadado irá para a fundação ... sem fins lucrativos, como vocês sabem!

LAZARÁGIO - Uma Fundação, uma mão como símbolo. Rosa, você é um gênio!

ROSA - Que novidade! Esta mão será também o símbolo da campanha para reeleição do caro Senador Almeida.

PEDRO - Acho que esta Mão vai apodrecer...

ROSA - Não seja tolo, já existem diversos processos de conservação.

SENADOR - Dona Rosa, devo admitir que é uma extraordinária estratégia. Com uma boa campanha publicitária, o país todo ficará comovido com o Mártir Antônio.

LAZARÁGIO - (Devaneios.) Parece que já estou vendo: Antônio: o herói nacional! Toalhas, filmes, revistas em quadrinhos, brinquedos com A MÃO DA SALVAÇÃO.

ROSA - Bom! Este será o slogan: A MÃO DA SALVAÇÃO!

LAZARÁGIO – Senhor Senador, estamos salvos! Esta campanha desviará a opinião pública... SENADOR - Com toda mídia falando da MÃO DA SALVAÇÃO, quem vai dar atenção aos escândalos com o dinheiro público?

LAZARÁGIO - Minha filha, até que teu marido serviu para alguma coisa.

CARLA - Ora, papai não seja injusto..(Pegando a mão.) Ah! Antônio, estou tão orgulhosa de você, meu herói. Se ao menos... Ah! Se você soubesse como você será famoso!

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flira@ifce.edu.br 6 PEDRO - Ele saberá...

CARLA - Como?

PEDRO - Digo...(olhando para cima) seja onde ele estiver, ele saberá!

LAZARÁGIO - Quem diria que aquele incompetente era mais últil morto do que vivo!

ROSA - É , mas precisamos agir rápido, enquanto o desastre ainda é notícia quente... Vamos para nosso gabinete preparar a campanha da MÃO DA SALVAÇÃO.

CENA 7

Somente Pedro e Carla permanecem em cena.Carla chorosa, olha para um lado e para outro. Pula nos braços de Pedro e começa a beijá-lo.

PEDRO- Carla, você enlouqueceu?

CARLA - Enlouqueci quando casei com Antônio! Enfim, sós, querido! Eu estava que não aguentava aquela gente toda, aquela farsa. Agora eu sou uma mulher completa, livre! Finalmente poderemos nos casar, conhecer o mundo!

PEDRO - Calma, calma.. respeite a presença do seu marido.

CARLA - Que marido o quê! Você sempre fugindo de mim... não me diga que você só me queria como amante?

PEDRO- Claro que não, meu docinho... mas é que é cedo... você acabou de enviuvar.

CARLA- E qual é problema? Deixemos estes escrúpulos para as camadas sociais mais baixas. Para nós, gente fina, da alta sociedade, o escândalo é sinal de charme e status. O importante para nossa imagem é que estejamos sempre em evidência, nem que seja com escândalo. Não vê o papai, todo mês estoura um novo escândalo, cujo nome está sempre envolvido... e cada vez mais aumenta seu prestígio, seu poder. Os políticos lambem seus sapatos como cadelinhas amestradas!

PEDRO – É verdade... Mas tudo aconteceu tão de repente. O meu grande amigo Antônio, ainda nem esfriou...

CARLA – Muito me estranha, Pedro! Quando Antônio era vivo, você não se incomodava em ser o amante da mulher dele!

PEDRO - Mas amante é outra coisa!

CARLA - Não estou entendendo! Você está pensando em cair fora logo agora que sou uma mulher livre e rastejo aos seus pés? Você se esquece de quem sou filha? Você pensa que sou igual as suas outras amantes?

PEDRO - Não é isso... longe de mim...claro que quero ficar com você. CARLA - (dengosa no colo de Pedro) Então, querido, faz sua gatinha feliz, faz! PEDRO – Sim, minha gatinha.

CARLA - Se você for bonzinho com sua menina, eu peço ao papai um cargo de diretoria nos restaurante dele, o mesmo lugar que Antônio ocupava, que tal?

PEDRO - O mesmo cargo de Antônio!!! CARLA - Sim!

PEDRO - Puxa!

Beijam-se. Esmeralda entra. ESMERALDA- Dona Carla... Carla se assusta e finge chorar.

CARLA- Ah, Pedro, que será de mim sem Antônio... serei para sempre uma solitária! ESMERALDA - O Dr. Lazarágio está lhe chamando ao gabinete!

As duas saem.

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flira@ifce.edu.br 7 PEDRO- (pensativo) Diretor Geral dos Restaurantes Gasparetos, quem diria! Mas para isso, preciso casar com Carla... Eu um amante convicto, impossível! ...Ora, mas isso não manchará minha reputação! Pois posso casar, tornar-me rico, poderoso e ainda ter outras amantes . Tanto, jamais poderia desejar!

Música bolero de Ravel.Mudança de foco para o passado.A luz acende-se em resistência. Antônio encontra-se deitado no chão, nu, coberto por almofadas. Ele levanta-se.

ANTÔNIO -Ai, minha cabeça! Que bagunça... Pedro, Pedro, acorda! PEDRO -(sonhando.) A verdade, A verdade!

ANTÔNIO- Pedro, as meninas foram embora! Foram embora?! Ah! Meu Deus, o pacote do Dr. Lazarágio, se elas ... estou perdido!. (revira todas as coisas).Ah, aquelas desgraçadas me roubaram! Estou morto! (Olhando as horas.) Minha nossa, 10 horas... Pedro, Pedro, acorda, acorda cara! Puxa, o Dr. Lazarágio vai me matar! Até estas horas sem dar notícias! Preciso pensar algo. (Pega o telefone e disca um número, finge não está ouvindo bem) Alô., Alô...É da residência do Doutor.Lazarágio Gaspareto... Como? Fala mais alto... a ligação está péssima... aqui em São Paulo está chovendo muito...Eu quero falar com Carla Gaspareto... Como, não entendi?... No IML? Aconteceu alguma coisa com ela... Não?... Com quem?..O quê, repita mais alto!...O que aconteceu com ele?... Não!... Como isso pode ser possível? Que coisa horrível! ... O que vou fazer da minha vida!... Nada, nada ... (Desliga o telefone. )

Pedro acorda. Antônio está paralisado boquiaberto, de olhos arregalados. PEDRO- Ei, cara, acorda? (Sacode Antônio) Antônio, meu amigo, acorda!

ANTÔNIO - (soluçando.) Liguei para minha casa... Queria falar com Calinha... Eu pretendia lhe dar uma desculpa qualquer...

PEDRO- E...

ANTÔNIO - Informaram-me que ela estava no IML. PEDRO- Não !!! Você quer dizer que a Carlinha... ANTÔNIO - Nada disso! Pior!

PEDRO-O Dr. Lazarágio!

ANTÔNIO- Você acha que eu estaria triste se meu sogro... PEDRO - O que foi que houve?

ANTÔNIO - Eu ... eu morri!(Chora.) PEDRO - Eu não estou entendendo nada!

ANTÔNIO-Pedro, o avião que saiu ontem daqui de Recife para São Paulo chocou-se contra uma serra matando todos os passageiros... Inclusive eu!

PEDRO - O que você está me dizendo?

ANTÔNIO - Isto mesmo! Meu avião caiu... eu morri, é o que disseram!

PEDRO - Caramba!!!... Mas o que é isso, Antônio, você escapou, por pouco! Puxa, que sorte! Você fica me devendo mais esta!

Antônio avança no colarinho de Pedro.

ANTÔNIO - Ah é verdade... Você é o culpado pela minha morte!

PEDRO- Que é que deu em você? Está ficando doido? Que estória é esta? Você está vivo, vivo, entendeu?

ANTÔNIO- Seu idiota, você é que não entendeu nada! Não vê que para família de Carlinha eu sou um homem morto! E se eu aparecer na casa dela o Dr. Lazarágio me mata pela traição. PEDRO- Mas ele não sabe que você traiu a filha dele!

ANTÔNIO - Ô seu debilóde, eu não estou falando dessa traição... Para o Dr. Lazarágio o não cumprimento integral de suas determinações é traição! E você conhece a fera, o traidor sempre paga com a vida...

PEDRO - E os cúmplices também!

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flira@ifce.edu.br 8 PEDRO -(Desesperado.) Por que você não estava naquele avião? Está vendo a confusão em que você me meteu!

ANTÔNIO - Eu te meti? É muito covarde!

PEDRO -(Nervoso.) Se você não me desse ouvido, nós não estaríamos nesta enrascada... ANTÔNIO - E eu estaria morto de fato!

PEDRO -Menos mau... ANTÔNIO - Menos mau ?

PEDRO - Sim, seria ...somente um velório... ANTÔNIO - Que cara sacana!

PEDRO - Sacana, nada! É uma questão de justiça! ANTÔNIO - Como justiça?

PEDRO- Justiça sim! Por que eu tenho que morrer?... Eu ainda não consegui nada na vida... Sempre abro as portas para os outros, e quem entra pelo cano sou eu!... Mas você, não! Teve a sorte de casar com a herdeira do rei da pizzas, já posou nas colunas socias, viajou para toda parte do mundo, já teve do bom e do melhor e... até escapou da morte... Saiba que você me deve muito... É injusto que você ainda esteja vivo e isto possa me custar a vida!

ANTÔNIO- Eu não acredito no que estou ouvindo!

PEDRO- Não, você não pode fazer isto comigo... (tirando um revólver do bolso e apontando para Antônio.) Eu não vou deixar que o Dr. Lazarágio me mate por sua culpa...

ANTÔNIO- Ôô,ô, que é isto? Não faça nenhuma besteira! Pense na sua esposa...nos seus filhos!

PEDRO - Que estória é esta? Você sabe que eu não tenho esposa nem filhos!

ANTÔNIO - Eu estou falando do futuro! Que dirão eles, quando souberem que você matou seu melhor amigo!

PEDRO – Chega, não quero ouvir!

ANTÔNIO - Os anos de cadeia... No mínimo, trinta anos de prisão!... Suas crianças no colégio sendo discriminadas pelos amigos... Seu filho mais velho passa a consumir drogas para esquecer a desgraça...

PEDRO - Pare! Por favor!

ANTÔNIO - A sua filha se prostitui... E a sua esposa se suicida... Você apodrecendo na prisão...Só! Só você e sua consciência lhe consumindo aos poucos... Ano após ano... Uma voz dentro de sua cabeça... Por quê?...Por quê? Tudo porque matou seu melhor amigo... Ah, que desgraça, meu Deus!...

PEDRO - (Patético.) Pare, Pare... eu não aguento esta tortura... Não, não quero que minha família se envergonhe de mim! Não quero isso!

Antônio se aproxima, calmamente, retira a arma da mão de Pedro e o abraça. ANTÔNIO - Ô, ô, . shhss... isto! Fique tranquilo! Eu estou aqui!

PEDRO - Você promete que eles não vão fazer nada comigo nem com a minha família!

ANTÔNIO - Prometo, Prometo! Agora nós precisamos ficar calmos. Unidos, tenho a certeza que encontraremos uma solução... Mas antes, é necessátio saber o que está acontecendo na família Gaspareto!

PEDRO - Você não pode ir até lá! ANTÔNIO - Mas... você pode! PEDRO - Eu? Por que eu?

ANTÔNIO - Porque você está vivo e eu estou morto!

PEDRO - Corta essa! Naquela casa eu não piso nem morto... isto é, nem vivo! Eu vou me mandar, sumir do país! (arrumando as malas) Vou montar minha barraca em outra praia! Imagine se vou me arriscar! E não me venha com seus papos furados. Nada vai me fazer mudar de idéia!

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flira@ifce.edu.br 9 PEDRO - O que você disse?

ANTÔNIO- Nada... nada.. eu.. apenas estava pensando alto.. PEDRO - Pois pense mais alto para que eu possa ouvir!

ANTÔNIO - Eu só pensei que, quando o Dr. Larazário bater as botas, seu genro herdará por volta de cem milhões de dolares... e cinquenta milhões eu daria ao meu melhor amigo... (respirando fundo.) É, mas isso tudo é tolice... Um sonho... O Dr. Lazáragio está vivo e... seu único genro está morto... morto e sem amigos...

PEDRO - Não diga uma coisa desta, quanta ingratidão! Claro que não abandonarei um amigo numa hora tão difícil... A gente conhece o verdadeiro amigo nos piores momentos! O verdadeiro amigo é aquele que sempre está disponível acima de qualquer interesse por menor que seja! O que eu preciso fazer?

ANTÔNIO - Primeiramente, você tem que ir hoje mesmo à casa dos Gasparetos e me informar de tudo que está acontecndo. Quando estivermos a par da situação, poderemos bolar uma maneira que me permita voltar!

PEDRO - Claro, pode deixar, eu lhe informarei tim-tim por tim-tim. (de saída.) A propósito, o que foi mesmo que você pensou?

ANTÔNIO- Cinquenta milhões de dólares! PEDRO - Desculpe, eu sou tão desligado!

ANTÔNIO- Eu sei... Mas não vá esquecer-se de me ligar! PEDRO-Pode deixar comigo, amigão!

Pedro sai.

ANTÔNIO- Droga, não posso ficar aqui isolado do mundo.

O telefone toca. Pedro atende no presente e Antônio atende no passado.O foco muda para o presente.

PEDRO-(Emposta a voz,) Alô, residência dos Lazarágios...Perfeitamente, com quem o senhor deseja falar? ... Com o Dr. Pedro, Diretor Geral dos Restaurantes... vou ver se ele pode atendê-lo...Pois não... sim sou eu mesmo, Dr. Pedro... Como?.. Antônio! (Mudando de tom.)...Oh! Antônio, o que é isto?.. Claro que não lhe esqueci... estava pensando agorinha em ligar para você... não... era brincadeira... Eu reconheci sua voz logo no começo... nada disso... Você que é o Diretor Geral e sempre será!... O quê? Não, você está louco! Você não pode voltar... Estourou um novo escândalo e você é o principal envolvido... felizmente, você está morto, não é? Calma...Antônio, você precisa se acalmar... Se você continuar me xingando, eu desligo o telefone...Ah, assim está melhor...Não se preocupe, vou ligar... pode ficar sossegado, que encontrarei uma possibilidade da sua volta...Não faça nenhuma loucura de aparecer por aqui... O mínimo que pode acontecer, é pegar vários anos de cadeia, sem contar que pode ser vítima de queima de arquivo! Fique tranquilo, pode contar comigo...Você acha que sou capaz de abandonar uma amizade de tantos anos, por uma mesquinez qualquer?... O quê? ... Você está muito enganado ao meu respeito! ...Fique tranquilo, ligarei... Cuide-se... Tá, eu ligo... para você também!(Suspirando.) Eu estou todo enrolado! Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come!

SEGUNDO ATO CENA 1

A MÃO DA SALVAÇÃO se encontra em uma redoma de vidro , sobre uma mesa do lado esquerdo do palco, perto das cortinas da sala. Rosa está sentada no sofá. Esmeralda fecha a porta de entrada.

ESMERALDA - Voltem para suas casas! As visitas se enceraram... não adianta insistir, só amanhã.(fechando a porta) Ufa, Dona Rosa, estou que não aguento mais com tanta movimentação... Já faz um mês que estamos neste entra e sai de gente.

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flira@ifce.edu.br 10 ROSA - Dê graças a Deus... só assim seu emprego está garantido.

Sai Esmeralda. Entra Dr. Lazarágio.

LAZARÁGIO- Querida, esta história de MÃO DA SALVAÇÃO, nos salvou!Ninguém fala mais nos escândalos das pizzas que envio para os deputados federais. Só se fala na MÃO.

ROSA- A MÃO foi capa das principais revistas: (mostarando as revistas) da Revista Rostos, Revista Espia, Revista É Isto e machete principal de todos jornais do país.

LAZARÁGIO- Sem falar nos royalts que ganhamos com anúncios publicitários de esmalte, de luvas e anéis...Esta MÃO é mais popular que o PAPA!

ROSA- Francisconi, quanto devo cobrar ao Comitê Olímpico Internacional? Eles estão querendo que a nossa MÃO seja o símbolo dos próximos jogos olímpicos! Mas, desejam fazer uma pequena modificação... em vez de uma caixa de fósforos, a MÃO deverá aparecer segurando a tocha olímpica.

LAZARÁGIO - Pô!! Bem, se vão substituir a caixa de fósforos pela tocha, isto irá descaretizar a imagem do símbolo de nossa Fundação. Precisamos pensar bastante nas implicações mercadológicas que esta mudança poderá acarretar, os efeitos inversos de marketing. Passadas as olimpíadas, a MÃO com uma tocha perde o sentido! É preciso cautela nestes casos... Por enquanto, estou concentrado nos nossos tradicionais negócios: Nossos restaurantes estão se ampliando, nossas pizzas já são soboreadas por políticos do Iapoque ao Chuí. As lojas de souvenirs estão de vento em popa!

ROSA- A proposito, já foram confeccionadas os símbolos que a Presidência da República nos encomendou?

LAZARÁGIO- Puxa, eu estava esquecendo dos símbolos que o Presidente pretende distribuir no próximo encontro das nações amigas.

ROSA- Exatamente, não podemos decepcioná-lo! O Presidente é um aliado forte. LAZARÁGIO - Claro, claro enquanto tivermos esta MÃO, estaremos protegidos. ROSA- É verdade, faz tempo que não se fala em escândalo nesta casa.

LAZARÁGIO - (jocoso) Já estou começando a ficar com saudades! ROSA- (batendo na mesa) Não brinca!

LAZARÁGIO - Bem, tenho que correr para ver como está a produção dos souvenirs do Presidente.

ROSA- E eu preciso me apressar, tenho que estar deslumbrante. Hoje recebo em nosso clube as socialites mais requisitadas de nossa cidade. Elas irão doar uma quantia considerável à FUNDAÇÃO DAS VÍTIMAS DE DESASTRE DE AVIÃO QUE PERDERAM A MÃO.

Os dois saem.

CENA 2 Antônio entra, sorrateiramente.

ANTÔNIO- Eu me meto em cada fria... aquele amigo da onça que nunca me ligou...(Olhando para redoma) Ah! Então esta é a famosa MÃO!

Quando ele começa a levantar a redoma, ouve-se vozes. Ele se enconde atrás das cortinas de modo que o público o veja.Pedro e Carla entram, discutindo.

CARLA- Não aceito as suas desculpas!

PEDRO- Mas chucuzinho, você precisa ter paciência.

ANTÔNIO- (Para o público.) Ele chama minha esposa de chuchuzinho! CARLA - Não quero mais saber de suas enrolações.

PEDRO- Calma, minha cadelinha! ANTÔNIO- Minha cadelinha! CARLA- Que foi isto, você ouviu? PEDRO- Acho que foi o eco!

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flira@ifce.edu.br 11 ANTÔNIO- Ela falou em CASAR?

CARLA- Sim, foi isso mesmo que você ouviu, casar!

PEDRO - Meu doce de coco, Antônio ainda nem foi totalmente enterrado (apontando para Mão) e você já pensa em casar.

CARLA - Ah! Esta MÃO! Maldita idéia de minha mãe em conservar a MÃO aqui em nossa casa. Eu sinto como se ela estivesse me acusando de qualquer coisa.

Pedro de costas para redoma, toma Carla em seus ombros, enquanto Antônio retira rapidamente a MÃO da redoma e coloca a sua.

PEDRO - Bobagens, bobagens...

CARLA - Não é bobagem, eu sinto como se ela estivesse me ameaçando...

Antônio faz gesto de ameaça com a sua mão e Carla como em transe, olhando para redoma menciona os gestos que Antônio faz.

CARLA - Sinto como se ela quisesse me esmagar, esmiuçar-me...algumas vezes sinto que ela está me dando cotoco...Ah! (afasta-se de Pedro.) Ela está me dando cotoco! Ela está dando cotoco!

PEDRO - (Segurando no ombro de Carla.) Você está muito nervosa! CARLA - Ela está me dando cotoco!

Antônio paralisa e volta à posição inicial. Pedro vira-se. PEDRO - Eu não estou vendo nada!

CARLA - Não... eu não estou ficando louca. A MÃO me deu cotoco, tenho certeza! Carla sai.

CENA 3 Pedro pega um jornal.

PEDRO – Ah! Mulheres, cheias de imaginação. Elas têm sorte de encontrar um homem como eu para ampará-las.

Pedro levanta o jornal. Antônio estala os dedos. Pedro baixa o jornal, procura de um lado e de outro e não percebendo nada, retoma a leitura. Novo estalo. Pedro pára, espantado e vê a mão de Antônio, chamando-o com o dedo indicador.

PEDRO - (Assustado, benzendo-se.) Ah! Meu Deus! Antônio continua chamando-o.

PEDRO - (Vacilante.) Eu?

Antônio faz sinal positivo.Pedro caminha cautelosamente até a redoma. PEDRO - Quem é você?... Volta para o seu dono!

Antônio indica que retire a redoma.

PEDRO - Está bem... mas prometa que volta para o além

Antônia indica que sim. Pedro retira a redoma. Antônio chama-o para próximo da mão. Quando Pedro aproxima o rosto, Antônio dá-lhe umas bolachadas nas duas faces.

PEDRO - Ai.. o que é isto?

Antônio aparece diante de Pedro.

PEDRO- Antônio, o que você faz aqui? Você está louco?

ANTÔNIO - Louco eu?...Então é de chucuzinho, minha cadelinha e doce de côco que você chama minha mulher?

PEDRO – Calma, amigão!

ANTÔNIO- Amigão coisa nenhuma! Você não me telefona e ainda dá em cima da minha mulher!

PEDRO - Mas, você está morto!

ANTÔNIO- Ah! Eu não aguento mais ouvir esta história. Eu vou acabar com a sua raça!

PEDRO - Você quer estragar tudo? Não sei o por quê deste ciúme todo, você nunca gostou da Carlinha..

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flira@ifce.edu.br 12 ANTÔNIO- Isto não é da sua conta!

PEDRO- Como não? Você pensa que me esqueci. Nós tínhamos um trato: eu lhe apresentava a Carlinha, casavam-se e você se apossava da fortuna dela e nós nos tornaríamos sócios! ANTÔNIO - Não me lembro de nenhum trato!

PEDRO - Claro que não se lembra! Depois que se casou, você perdeu a memória, esqueceu de mim..Logo, o traído sou eu!.

ANTÔNIO - E o que você pretende fazer?

PEDRO - Fique tranquilo, se depender de mim, nada lhe acontecerá. Nós dois estamos no mesmo barco!.Aqui é um ninho de cobras, entramos em uma tremenda enrascada! Teremos sorte se sairmos desta com vida!

CENA 4 Carla entra.

CARLA – Pedrinho, eu estive pensando... Ah! ...An..Antô..nio! Pedro e Antônio se assustam.

PEDRO - Antônio? Onde? CARLA – Aí, na sua frente!

PEDRO - Eu não estou vendo nada! CARLA - Mas ele está aí, eu estou vendo! PEDRO - Você está muito cansada...

CARLA - Ele está aí mesmo, está fazendo caretas para mim, está me dando bananas!

Antônio arregala os olhos, endurece as pernas e estica os braços e põe a andar em direção a Carla como se quisesse enforcá-la.

CARLA - Ele está vindo ao meu encontro para me enforcar! Carla saí de cena. Antônio desata a rir.

PEDRO - Não faça nenhuma tolice! Pedro sai.

CENA 5

ANTÔNIO - Nunca pensei que a morte fosse tão divertida... Bem, eu estou perdendo tempo, preciso agir rápido.

Antônio pega a MÃO, deixa um bilhete na redoma, Tira uma foto instantânea da MÂO, ao lado de um Jornal. Põe a foto num envelope, embaixo do sofá e se esconde. Carla entra em cena com um saco de gelo na cabeça.

CARLA - Eu não estou louca, eu não estou louca! Ela pára de falar ao ver a redoma.

CARLA- Aah, a MÃO sumiu!

Entram Rosa, Lazarágio, Esmeralda e Pedro. LAZARÁGIO- Que gritaria é esta?

CARLA - A... MÃO sumiu!

LAZARÁGIO - Como sumiu? Quem entrou aqui? Só familiares é que têm a chave da porta. ROSA- Esta MÃO não pode ter ido longe!Se a notícia vazar, será um escândalo para nossa família!

ESMERALDA- Um a mais, um a menos... ROSA - Esmeralda!

CARLA - Foi ele! Foi ele, eu vi! ROSA - Ele quem?

CARLA - O fantasma do Antônio, ele veio pegar a MÃO! PEDRO- (à parte) Será que Antônio teve coragem?

(13)

flira@ifce.edu.br 13 LAZARÁGIO - Carla não diga tolices, precisamos achar a MÃO, caso contrário, será nossa ruína, fim dos nossos negócios, fim da campanha eleitoral do Senador Almeida, meu último lobby no congresso!

ROSA - Vejam, tem um bilhete embaixo da redoma! Rosa pega o bilhete.

LAZARÁGIO - O que está escrito?

ROSA- A MÃO foi sequestrada, não avise a polícia, aguarde novo contato!

CARLA - Sequestrada! Ai... quando o fantasma souber, vai me atormentar mais ainda! PEDRO- Antônio me traiu!

Antônio escondido de maneira que o público possa lhe ver, faz uma ligação de seu celular. A campainha do telefone da sala toca.

LAZARÁGIO - Deve ser o sequestrador! Deixe que eu atendo! Alô! Antônio prende o nariz, disfarçando a voz.

ANTÔNIO- Dr. Lazarágio?

LAZARÁGIO - Ele mesmo, quem é você?

ANTÔNIO - Isto não importa, agora, o importante é que eu estou com a MÃO. LAZARÁGIO - O que você quer? Onde está a MÃO do meu genro!

ANTÔNIO- Calma, uma coisa de cada vez! Primeiro, o senhor me paga dois milhões de dólares, distribuidos em locais estratégicos, em seguida eu lhe devolvo a MÃO, sã e salva!

LAZARÁGIO - Dois milhões de dolares? PEDRO - Haja pizza!

LAZARÁGIO Eu não disponho de todo este dinheiro, tudo que tenho está aplicado!

ANTÔNIO- Eu lhe dou 24 horas para o senhor leventar esta grana... Afinal de contas, isto não é nada comparado com que o senhor fatura por mês com a MÃO...O senhor tem muitos amigos generosos ao redor do mundo, um telefonemazinho é suficiente para amanhã mesmo o senhor ter este dinheiro disponível em sua conta bancária.

LAZARÁGIO-Vinte quatro horas é pouco tempo! E como saberei que você está com meu genro e... se ele está bem! Exijo uma prova!

ANTÔNIO- Vocês estão sentados em cima da prova! Ligo logo mais! ROSA - O que ele disse?

LAZARÁGIO- Que nós estamos sentados em cima da prova. Todos se levantam do sofá e procuram embaixo das almofadas. CARLA - Onde?

Pedro encontra o envelope em baixo do sofá. PEDRO - Aqui tem um envelope.

Pedro abre o envelope apressadamente pega o bilhete, a foto cai e Carla a apanha.

PEDRO - Dr. Lazarágio, estou lhe mandando a prova... seu tempo está se esgotando, repito: a polícia deve permanecer fora de tudo.

CARLA - Antônio... olha papai... como ele está sofrendo... o sequestrador está maltratando Antônio.

LAZARÁGIO - Ora, Carla, não seja ridícula!

PEDRO -(dramático) Antônio...Antônio, meu amigão ... isso não vai ficar assim...Eu me vingarei... eu me vingarei!

LAZARÁGIO - Até o senhor? A coisa é grave! O telefone toca.

LAZARÁGIO Alô!

ANTÔNIO-Então, gostou da prova? Está convencido?

(14)

flira@ifce.edu.br 14 ANTÔNIO- Preste bem atenção, Dr. Lazarágio, acho que o senhor não entendeu. Eu não estou brincando... se o senhor não cumprir minhas exigências, farei picadinho da MÃO e enviarei para cada família das vítimas do desastre de avião: um dedo para uma, uma falange para outra, outras receberão unhas, tudo com os cumprimentos do Dr. Francisconi Lazarágio Gaspareto e família. Aí o senhor saberá o que é inferno: Mais de 100 familias lhe perturbando, sem contar os processos!

LAZARÁGIO Ok, ok não faça nenhuma besteira! Eu só preciso de mais tempo! ANTÔNIO- O tempo que lhe dei é mais do que suficiente.

Antônio desliga.

LAZARÁGIO - Alô, espere, alô! Só me faltava esta... um sequestro na família... não bastava a Polícia Federal fuçando a minha vida? Esmeralda, pegue a minha agenda . Preciso levantar este dinheiro o quanto antes. A MÃO é muito importante para nossa salvação.

CARLA - Ah, viúva de acindentado em desastre de avião e ao mesmo tempo mulher de sequestrado, que coisa mais chique, não é mãezinha?

ROSA - Isto, filha, precisamos nos produzir! Logo, logo isto aqui estará fervilhando de repórteres.

Carla e Rosa, saem.

PEDRO - Preciso dar um jeito de sair daqui, a coisa vai esquentar! Sai.

CENA 6

Dr. Lazarágio faz uma ligação.

LAZARÁGIO -(sussuro) Alô Senador Almeida, é Lazarágio... sim... você deverá vir até minha casa, imediatamente... aconteceu uma coisa horrível... A MÃO FOI SEQUESTRADA... isto, foi sequestrada ... como é que vou saber quem foi? Venha o mais depressa que puder, estou esperando.

Esmeralda entra.

ESMERALDA - Sua agenda, Doutor.

LAZARÁGIO - Ah, Esmeralda, sem esta agenda eu não sou nada.Aqui tem os nomes dos meus melhores amigos.

ESMERALDA- Dr. Lazarágio, se o senhor me permite, acho que conheço um meio de encontrar a MÃO, sem gastar muita grana!

LAZARÁGIO - É? Conte-me.

ESMERALDA- Eu sei de uma vidente...

LAZARÁGIO - Uma vidente? Estou prestes a me arruinar, e você vem me falar de vidente, É demais!

ESMERALDA- Ouça-me, doutor, esta vidente é diferente! Eu também não acreditava em videntes, até conhecer Madame Zuleica...

LAZARÁGIO- Madame Zuleica!?

ESMERALDA- Sim, é o nome dela...Ela é demais! Todos os anos ela acerta as personalidades que vão morrer... os times que vão ganhar campeonatos e os políticos que vão ser eleitos! LAZARÁGIO - É, e por que ela não joga na loteria?

ESMERALDA- Ela não usa seus dons para benefício próprio. LAZARÁGIO - É uma santa!

ESMERALDA- Não brinque, Doutor!Por que não tentar? LAZARÁGIO – E quanto isto vai me custar?

ESMERALDA- Absolutamente nada, ela faz por amor aos seus semelhantes!

LAZARÁGIO - Ah! Se é por amor aos semelhantes, a coisa muda de figura, que me venha esta tal... Madame Zuleica!

(15)

flira@ifce.edu.br 15 ESMERALDA- O senhor não vai se arrepender! Vou agora mesmo, ela não tem telefone, terei que ir até a casa dela, dentro de duas horas, estarei de volta.

LAZARÁGIO Não demore, temos que resolver o mais breve, antes que o sequestrador faça picadinho de meu genro! Enquanto isso, vou fazer os meus contatos.

Esmeralda saí de cena.

LAZARÁGIO - (discando) No desespero a gente apela para cada recurso...(em Italiano) Alô , gostaria de falar com o Presidente da Itália.. sim. diga que é Francisconi Lazarágio..

Luz diminui de intensidade.

TERCEIRO ATO CENA 1 Em cena, Lazarágio, Rosa, Carla e Pedro.

LAZARÁGIO - Traidores, todos traidores... só assim é que se conhece os amigos! Paxás, Reis, Presidentes, todos traidores... ninguém pode me emprestar dois milhões de dólares... Agora minha única esperança é uma vidente. É a decadência completa!

CARLA- Uma vidente, que excitante!(olhando para Pedro) Será que ela verá se vou casar novamente?

LAZARÁGIO - E ainda ter que ouvir estas babozeiras... A Esmeralda está demorando, há três horas que ela foi buscar a vidente...meu tempo está se esgotando!

Esmeralda entra com Madame Zuleica.

ESMERALDA- Desculpe o atraso, mas a Madame Zuleica estava muito ocupada!

LAZARÁGIO - Ah! Graças! Vamos logo com isto, não podemos perder mais tempo! Espero que ela seja boa mesmo!

PEDRO-( Tentando se retirar.) Eu não acredito nisto! ZULEICA- Ficam todos!

CARLA- Não saia, Pedro!

ZULEICA- O ambiente está muito carregada!

LAZARÁGIO - Como a senhora quiser! Vamos, desarmem todos!

Todos começam a tirar armas de diversos lugares, das calças da perna, de baixo das saias. Entregam as armas a Esmeralda.

ZULEICA - Vamos dar as mãos para descarregar as energias! PEDRO - Ela pensa que somos bateria!

LAZARÁGIO - Façam o que ela mandar!

Madame Zuleica faz caretas, se estremece e geme. PEDRO - Madame Zulerica, é a primeira porta à direita... CARLA- Pedro, pare com isso!

PEDRO- Ora, não sei como vocês se submetem a uma coisa desta!. Zuleica grita e muda de voz.

ZULEICA- Aiii, sim... por que vocês me chamaram?

LAZARÁGIO- Nós gostaríamos de saber onde se encontra a MÃO do meu genro.

ZULEICA- ( Contorcendo-se.) A mão que afaga é a mesma que apunhala... Sempre ficam um perfume na mão daquele que oferece rosas...

(16)

flira@ifce.edu.br 16 ESMERALDA – A MÃO esta mais próximo do que imaginamos.

ZULEICA- Como se chama o seu genro? CARLA-(Apressa-se.) Antônio!

ZULEICA- Antônio...Uh..Uh..Antônio... a parte superior ao todo... o todo em função da parte. LAZARÁGIO - E agora... o que ela disse?

ESMERALDA- Ela disse que Antônio não está completamente morto. PEDRO - Como ela sabe? Isto é, por que ela diz isto?

ESMERALDA - A parte do seu corpo ainda está vagando no mundo dos vivos... A parte comanda o todo, o seu espírito, só descansará quando a MÃO for achada e enterrada.

PEDRO - (Deboche.) Ooooh!

ZULEICA- SSSH, silêncio, por favor! (Como se falasse com alguém.) O quê? Sim, filho, estou lhe ouvindo ...como? Vou perguntar...É Antônio...ele deseja vir até aqui!

PEDRO- Antônio? Aqui? Ele não ousaria! CARLA- Ai, Pedro, eu estou com medo! ROSA - Tolice, diga-lhe que venha!

ZULEICA- Antônio, pode vir, meu filho, assuma meu corpo... ( grita e fica imobilizada) Aiii . PEDRO- Ih , o que deu nela?

ESMERALDA- Silêncio.

Uma luz é focaliza em Antônio. PEDRO - O que você faz aqui?

ESMERALDA- Não quebrem a corrente! Respondam apenas o que ele perguntar...não podemos quebrar o transe da Madame Zuleica, senão, estará tudo perdido.

LAZARÁGIO - Antônio, sequestraram sua MÃO!

ANTÔNIO- (Mostra seu braço sem mão) Eu sei... por isto que estou aqui? Vira-se para Carla.

CARLA - Eh, não me olhe assim! Eu não tenho nada com isto... Antônio dá uns tapas na cabeça de Carla.

ANTÔNIO - Não seja fingida, eu estou sabendo de tudo entre vocês dois! CARLA - (Nervosa.) Ele que me seduziu!

ESMERALDA- Ninguém se mexe, não quebrem a corrente! ANTÔNIO- Muito bonito trair o marido com o melhor amigo! PEDRO- É melhor com um conhecido do que com um desconhecido. ANTÔNIO- E você cale a boca!

ESMERALDA- Olha a corrente!

ROSA- Carla, quer dizer, que você traia seu marido?

CARLA- Para que este espanto, minha mãe, como se isto fosse novidade nesta casa! PEDRO - Principalmente em se tratando de um morto!

ANTÔNIO - Arre, não me chame de morto, já disse! ESMERALDA - A corrente, a corrente!

LAZARÁGIO - Vocês estão desviando nossos propósitos! Antônio, nós queremos saber onde está a MÃO?

ANTÔNIO- A Mão... está mais perto do que parece... ela está com um traidor! LAZARÁGIO - Qual dos traidores?

ANTÔNIO- O primeiro e o último... ZULEICA- Aí, aí.

ANTÔNIO- Eu preciso ir!

Apaga-se a luz, Antônio desaparece, acende-se a luz.

LAZARÁGIO - Diga-me quem? Que mania estes fantamas tem de falar por enígmas. ZULEICA- (Abrindo os olhos.) Ah! Um copo dágua, por favor! Sinto-me fraca... ESMERALDA- Vou levá-la ao meu quarto para que ela possa descansar um pouco!

(17)

flira@ifce.edu.br 17 LAZARÁGIO O primeiro e o último... o que ele quis dizer com o primeiro e o último..

PEDRO- Não esquente, a gente não deve dar ouvidos aos mortos!

LAZARÁGIO - Você cale a boca! Quando esta história acabar, quero ter uma conversinha com vocês dois!

CARLA- Mas, papai...

LAZARÁGIO - Saiam da minha frente, todos! Preciso ficar só. Preciso pensar melhor!..O primeiro e o último...

Saem todos, ficando apenas Lazarágio.

CENA 2 Entra o Senador Almeida, com uma valise.

SENADOR- Dr. Lazarágio, desculpe o atraso, mas quando senhor me ligou eu estava no meu gabinete atendendo alguns correligonários. Vim o mais depressa que pude. Então, raptaram a MÃO!

LAZARÁGIO- É verdade...(para si) Senador Almeida Sales... SENADOR- O que tem eu?

LAZARÁGIO - O senhor é meu amigo?

SENADOR- Claro, você sabe disso... por que esta pergunta? LAZARÁGIO - Desde quando é meu amigo.

SENADOR- Deste o começo, eu ainda não era nem Senador, quando o senhor resolveu se estabelecer na cidade de Lituânia do Norte.

LAZARÁGIO - E...

SENADOR- O que é isto, um interrogatório?

LAZARÁGIO - Não, apenas desejo saber quem são realmente meus amigos. Um amigo verdadeiro nunca se esquece dos bons momentos. O que mais você se lembra?

SENADOR - Ora, de tudo... quando o senhor montou sua primeira pizzaria.Eu era ainda um jovem vereador, iniciando na carreira política. O senhor mandou umas pizzas para todos da câmara municipal, todos recusaram. Exceto eu, o único que aceitou seu presente...Espero que o senhor não tenha se esquecido disso!

LAZARÁGIO - Lembro-me perfeitamente. Você aceitou e na mesma noite estava em minha casa, jantando...

SENADOR- Aquele jantar foi decisivo para minha carreira política... Naquele jantar, como se diz?... O senhor me corrompeu!

LAZARÁGIO – Ora, Senador, isto não se fala de um amigo!

SENADOR- Eu não tenho queixas... era uma troca; o senhor patrocinava minhas campanhas políticas e eu facilitava seus negócios nas licitações públicas. Em dez anos, nós tínhamos em nossa lista de presentes anual dois terço de todos os deputados federais e metade do senado... Isso é que era poder!

LAZARÁGIO - É, você me conhece demais...

SENADOR- Se conheço? Claro, participei de todas as suas tramóias, isto é, de seus negócios: o caso da madereira do Iguaçu, por exemplo...

LAZARÁGIO - Pizza!

SENADOR- A licitação da Hidroéletrica Falconi, os escândalos das bolsas de valores, as financeiras fechadas, sem contar o tráfegos de drogas e a prostituição...a CPI da massa de trigo...a CPI das imobiliárias...

LAZARÁGIO -(rindo em êxtase) Pára, pára! E como a gente comemorava depois de tudo, hein, hein?

SENADOR- Com pizzas para os nossos amigos políticos.

(18)

flira@ifce.edu.br 18 SENADOR- E como?

LAZARÁGIO - A concorrência aumentou!

SENADOR- Abriram-se outras casas de massa em toda parte do Pais: É pizza em Alagoas, Recife, São Paulo, Bahia, Ceará... este país está coberto de pizzarias!

LAZARÁGIO - Está difícil competir!

SENADOR- Dificílimo... Tanto, que cada deputado e senador começaram a nos abandonar. LAZARÁGIO - Um bando de ingratos!

SENADOR- Mas eu, não.. Eu fui o primeiro a entrar no barco e serei o último abandona-lo! LAZARÁGIO - Realmente...(pensativo) o primeiro e o último...(voltando-se para o Senador)... Traidor!

SENADOR- O que é isto, Doutor Lazarágio!

LAZARÁGIO - Vamos deixar de conversa.. onde está a MÃO? SENADOR- Que Mão , homem? Está ficando doido!

LAZARÁGIO - Não se faça de desentendido... eu já sei de tudo... você é o primeiro e o último! SENADOR - Já sabe? Como o senhor pode saber, se resolvi esta manhã e ainda não comuniquei a ninguém?

LAZARÁGIO - O que você está falando, ordinário?

SENADOR- Olhe, não fique zangado... eu pretendia lhe avisar... jamais faria o que os outros fizeram!

LAZARÁGIO - Avisar o quê?

SENADOR- Eu tenho que pensar no meu futuro político... LAZARÁGIO - Como assim?

SENADOR- Resolvi mudar de partido, irei me filiar a um partido de esquerda! LAZARÁGIO - Ah esta é boa, é uma piada, só pode ser uma piada, você na esquerda?

SENADOR- Por que não? Por que eu não posso ir para esquerda, se há políticos de esquerda que se tranformam em diretistas? Está na hora de limpar meu nome!

LAZARÁGIO - Por acaso você pensa que partido politico é sabão? SENADOR- Por enquanto, estou só em negociações!

LAZARÁGIO - E você acha que pode abandonar Francisconi Lazarágio Gaspareto, numa boa, sabendo o que você sabe?

SENADOR- Fique tranquilo! Tudo o que sei de nossas transações está em um dossiê, nesta pasta...Assumo minha cumplicidade, tenho uma cópia para o senhor. Assim ninguém poderá falar de ninguém, estaremos sempre unidos por um pacto de silêncio. Estaremos para sempre unidos, de mãos atadas.... (tenta retirar o dossiê da valise, mas puxa a MÃO.)Ah, meu Deus o que é isto? (solta a MÃO, assustado).

CENA 3 Carla e Pedro entram.

CARLA- Antônio, você voltou! Eu sabia que você não me abandonaria!

PEDRO- Carla, não precisa fingir, não tem nenhum repórter e o Senador é de casa! LAZARÁGIO - Então foi você , o sequestrador da Mão?

SENADOR- Não, o senhor não pode atribuir isso a mim... Podem me acusar de todo tipo de crime, menos de sequestrador de MÃO! ...Eu não tenho a mínima idéia de como esta MÃO veio parar na minha valise, eu juro!

LAZARÁGIO - Se não foi você, quem foi? Por que alguém iria sequestrar a Mão e colocar nas suas coisas? Isso não faz sentido!

Pedro pega a Mão com nojo e coloca embaixo da redoma.

(19)

flira@ifce.edu.br 19 LAZARÁGIO - Ah, canalha traidor, você acha que vou acreditar nesta história...Eu vou lhe arrancar os miolos! (Apontando uma arma para o Senador).

Rosa entra, gritando com um jornal na mão.

ROSA- Lazarágio, Lazarágio, escuta só esta manchete!Numa batida surpresa, ontem, no Hotel Dunas de Recife, foi descoberto no porão cinco quilos de pizzas dos Restaurantes Gasparetos, cujo o recheio consistia da mais refinada.cocaina

PEDRO- Bem, vocês que ficam, preciso ir ao centro fazer umas compras... LAZARÁGIO -(Apontando o revólver para Pedro.) Você fica aí!

PEDRO: Claro, afinal não é coisa urgente mesmo. LAZARÁGIO - Continue, Rosa.

ROSA- Segundo o gerente do hotel, estas caixas de pizzas foram esquecidas no dia 2 de Maio último, no quarto 404 e levadas para o porão onde aguardavam a reclamação de seus legítimos donos.O gerente afirma que entre os dias 1 e 2 de Maio o quarto estava registrado no nome do Advogado Pedro Sabóia de Nascimento.

PEDRO - É um absurdo! LAZARÁGIO - Calado!

ROSA -O gerente acrescenta que na ocasião o Sr. Pedro Sabóia estava acompanhado de um amigo. Em seguida, receberam duas moças, não identificadas. Fizeram muito barulho a noite toda e elas saíram pela madrugada.

CARLA - Pedro, o que você fazia com mulheres, num hotel de quinta categoria? PEDRO-(Nervoso.) Não era eu, juro!

LAZARÁGIO -Agora todo mundo jura que não fez nada! Eu não entendo como o pacote que Antônio deveria levar para São Paulo foi parar neste hotel, justamente no dia do acidente do avião, como ? Responda-me!

PEDRO - Como vou saber, pergunte a ele!

ROSA- Tem mais: a polícia acredita que o Advogado Pedro Sabóia seja o grande chefão da rota do tráfico de droga brasileira, há muito procurado. Se a polícia estiver correta... O Sr. Pedro deverá pegar de 30 a 50 anos de cadeia...

PEDRO- Não, eu não quero apodrecer na cadeia, o que será de minha esposa e dos meus filhos na escola, a humilhação que eles passarão?

CARLA - E você é casado e tem filhos?

PEDRO - Não, eu estou falando do futuro! Eu preciso fugir...o senhor sabe que eu não sou traficante, o senhor precisa me ajudar!

LAZARÁGIO -Impossível, eu desconheço seus negócios escussos. Você foi descoberto, não vou me meter nisto!

PEDRO- O senhor que enviou aquelas pizzas através de Antônio! Eu sou inocente!

LAZARÁGIO -É mesmo? Eu não sei de nada que acontece nesta casa!Que você é amante de minha filha, que o Senador me traía: Logo, o inocente aqui sou eu!

PEDRO - O senhor não pode fazer isto comigo!

LAZARÁGIO - Claro que posso...Você mente... Como o pacote de pizza foi parar naquele hotel, a não ser que você tenha roubado!

PEDRO- Não, eu jamais roubaria um pacote de pizza seu... Nem eu nem Antônio sabíamos o que tinha dentro do pacote!(mudando o tom, tapando a boca) Ai, meu Deus o que foi que eu disse?

LAZARÁGIO - O que tem o Antônio com isto?... Vocês tentaram me trair!.É isto. O Antônio lhe entregou a encomenda em Recife e seguiu viagem, não foi isto que aconteceu?

PEDRO - Não, não foi assim! Eu não aguento mais esta farsa! Tá bom, eu conto tudo..(pausa) Eu e Antônio tínhamos planejado uma farra em Recife.

CARLA - Seu cachorro! ROSA- Carla!

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flira@ifce.edu.br 20 PEDRO- Após a farra, Antônio pegaria outro avião rumo a São Paulo, tranquilo, como se nada tivesse acontecido... Mas houve o desastre com o avião que Antônio deveria está viajando... então tivemos de mudar os planos... foi isso, uma simples e inocente farra que gerou toda esta confusão.

LAZARÁGIO - Uma simples e inocente farra! Então, seu canalha, você quer me dizer que Antônio...

PEDRO - Está vivinho, ele está vivo. Vocês entendem, ele não estava naquele avião que caiu e esta MÃO não é dele!

CARLA - Ah, meu Deus, então não sou mais viúva, que irão dizer minhas amigas, rirão de mim! ROSA- Carla, isto não é hora para fricotes!

SENADOR- Se ele está vivo, significa uma ameaça para os nossos projetos! ROSA- Precisamos encontrá-lo e dar-lhe um sumiço de uma vez por todas! PEDRO- Não, ele é meu único álibi!

CARLA - Pedro, seu traidor! Eu te odeio!

LAZARÁGIO - Então aquela história de fantasma, era tudo uma farsa! Esmeralda, Esmeralda! ESMERALDA- Pois não, Doutor Lazarágio!

LAZARÁGIO - Chame Madame Zuleica, imediatamente! ESMERALDA-Desculpe, Doutor, mas ela está muito exausta!

LAZARÁGIO - Não quero saber de desculpas, traga-a aqui, é uma ordem! Esmeralda sai.

ROSA - Muito bem, Lazarágio, esta trambiqueira deve saber de alguma coisa! PEDRO - E se ela não souber?

LAZARÁGIO - Aí você será entregue à polícia! CENA 4 Entram Esmeralda e Madame Zuleica.

LAZARÁGIO (Fingindo amabilidades.) Como é que está, Madame Zuleica? ZULEICA- Meio tonta... estas sessões me esgotam.

LAZARÁGIO - Compreendo. Mas, eu gostaria que a senhora fizesse outra sessão daquela. ZULEICA- Infelizmente, só tenho forças para uma sessão por dia!

ROSA-(Com calma.) Ora, ora você vai abrir uma exceção, não vai? PEDRO- Você precisa chamar o Antônio até aqui!

ZULEICA- Ah! Antônio...Ele agora descansa em paz, sua MÃO já voltou para o lar. PEDRO- Mas nós não iremos descansar, enquanto ele não aparecer!

ZULEICA - Ah, filho, quem somos nós para contrariar os espíritos!

LAZARÁGIO - (Ameaça com revolver) Escuta aqui sua vigarista, ou você chama o Antônio aqui, agora, ou quem vai virar espirito é você!

ZULEICA- Sem violênica, eu não disse que não faria, vamos tentar! Se ele estiver por perto, talvez consigamos... vamos dar as mãos!

PEDRO - E isso ai, ZU!

Todos repreendem Pedro com o olhar. ESMERALDA- Não quebrem a corrente!

ZULEICA-(Olhando para cima.) Antônio, Antônio, alô, Antônio você esta aí...como? Está numa boa! Não quer vir! (Virando-se para os presentes.) É, eu tentei, mas ele não quer vir!

LAZARÁGIO - Diga-lhe que ele não tem querer!

ZULEICA- Vou tentar, este espírito é muito opinioso. ANTÔNIO, estas pessoas desejam lhe ver...

LAZARÁGIO -(Com revólver na cabeça de Zuleica.) Vamos, Antônio... apareça senão eu estouro esta cabeça!

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flira@ifce.edu.br 21 ZULEICA-(Desesperada.) Socorro Antônio, apareça... nada vai lhe acontecer, eu garanto, está tudo sob controle... Apareça, homem de Deus!

Apagam-se as luzes e acende-se sobre Antônio. LAZARÁGIO -Aha, eis o fatasma!

ANTÔNIO- Vou logo avisando, só posso ficar um pouco! Eu não tenho a morte toda para ficar conversando com vocês!

ROSA- Então a alma penada está toda arrogante!

ANTÔNIO - Se me ofenderem, eu apareço todas as noites para assombrar vocês!

Todos riem. Antônio fica desconcertado. Tudo que ele diz é motivo para zombaria, ele não compreende.

ANTÔNIO- Eu virei todas noites com minhas mãos frias pegar nos pés da Carla... Arrastarei minhas correntes pelos corredores... farei que minha mão passe pelas nádegas de Dona Rosa... Os ventos soprarão intensamente... Puxa, ninguém tem mais medo de fantasma! LAZARÁGIO - Rá , Rá, você é muito engraçado1 Daria um excelente comediante! Mas, infelizmente está morto! A propósito, como é a vida , isto é , a morte no outro mundo? ANTÔNIO- Devo confessar que não é das piores!

LAZARÁGIO - Você gosta, é?

ANTÔNIO - É bem melhor que viver no meio de canalhas! PEDRO- Não exagera, Antônio!

ANTÔNIO- Não é exagero,esta casa está podre, só tem ratos! PEDRO- Menos,Antônio, por favor!

ANTÔNIO- Quando vivo, eu era um infeliz, um pé de chinelo, lambia as botas do Dr Lazarágio... Agora não, estou no paraíso, tudo é lindo, não há egoísmo, nem mortes!

CARLA- Que descarado... ROSA- SSh

LAZARÁGIO -Muito, bem! Você está feliz com a sua morte! ANTÔNIO – Muito! Coisa melhor não poderia ter me acontecido.

LAZARÁGIO -Humm, pelo que sei fatasmas não morrem mais, não é mesmo? ANTÔNIO- Perfeitamente! É o que dizem deste lado de cá!

LAZARÁGIO - Pedro, pegue esta arma e atire neste imortal! ANTÔNIO-(Assustado.)Ei, calma lá! As coisas não são bem assim... PEDRO- Por que eu?

LAZARÁGIO - Fique tranquilo, é apenas uma brincadeira. Já que ele está morto, nada lhe acontecerá

ANTÔNIO- Que brincadeira mais sem graça! ROSA- Vamos, Pedro, coragem!

ANTÔNIO- Pedro... não faça isso! É pecado atirar num fatasma!

LAZARÁGIO - Pedro, pense nos trinta anos de cadeia...vamos, você ou ele!

PEDRO- Antônio, amigão, eu fui forçado, perdoa-me, eu não queria que fosse assim... Pedro atira no peito de Antônio e larga a arma . Antônio, cai dramático.

ANTÔNIO - Ah! Mundo imundo! Lazarágio, você aprodecerá no inferno..Aah! PEDRO- Antônio!

CENA 5 Rosa retira uma metralhadora debaixo da poltrona. ROSA- (Para Pedro.) Agora, este deixa comigo! LAZARÁGIO - Com todo prazer, Mama!

(22)

flira@ifce.edu.br 22 ROSA- Dona Rosa não: Mama Roselita Lazarágio, como eu era conhecida na Sicília, fundadora da Familia Lazarágio. Eu achava que o tempo de violência era coisa do passado. Por isso entreguei meus negócios à direção do meu filho Francisconi...

SENADOR- Filho? PEDRO- Ooh!

ROSA- Sim, meu único filho. Que sempre foi muito pacífico... PEDRO - Dar para perceber!

ROSA- Agora é preciso que eu volte à ativa, para que os nossos negócios não corram de água abaixo. Antônio, já está morto...Ninguém dará por sua falta!(A Pedro.) Você se suicidará! Todos pensarão que foi pelas denúncias de tráfico de drogas!

PEDRO- Não, Mama, não!

ROSA- Mama, coisa nenhuma! Ajoelhe-se! Segure este revolver e atire em sua cabeça.

Pedro se ajoelha e fecha os olhos, com o revólver encostado na cabeça. Esemralda puxa um revólver debaixo da saia e atira para cima.

PEDRO- (Cai procurando ferimento pelo corpo)Ah! Antônio, meu amigo, aí vou eu!

Esmeralda encosta a arma na cabeça de Rosa e Zuleica encosta uma arma na cabeça de Lazarágio!

ESMERALDA- Ok, polícia, todos para a parede! CARLA- Eu me recuso!

ZULEICA- Para a parede, dandoca, vamos não reclame!

ESMERALDA- Finalmente conseguimos desbaratar toda a quadrilha! PEDRO- Que quadrilha? Eu estou aqui por acaso!

ZULEICA- Nós sabemos. Tanto você como Antônio são mais um dos idiotas usados por Carlinha Quentura, prostituta de luxo!

PEDRO - Oooh!

ZULEICA- Ela servia de intermediária entre a alta sociedade e os fornecedores de drogas!Vocês dois eram apenas fantoches nas mãos de Carlinha. Formavam uma bela fachada social: o marido e a amante... Mas na realidade ela era amante de Lazarágio, o chupa tetas! PEDRO - Ooh, Ooh!

ESMERALDA- O verdadeiro gênio do crime é Mama Roselita, todas as grandes idéias vinham de sua mente diabólica!

PEDRO- Mil vezes Oh!

ROSA- Vocês não têm nenhuma prova concreta!

ESMERALDA- Aí é que você se engana! Temos a agenda de Lazarágio com todos os seus amigos, o dossiê da confissão do Senador...

ZULEICA- (pegando um mini gravador embaixo da mesa)E uma interessante conversa entre o Senador e Dr. Lazarágio onde os dois fazem suas retrospectiva de vida. Isto tudo já é suficiente para fazê-los mofar na cadeia. E ainda contamos com o testemunho do Senhor Pedro, não é?

PEDRO- Claro, tudo que eu puder para colaborar com a lei! ROSA- Covarde!

SENADOR- Logo agora que eu ia ser esquerdista, espero que isto seja levado em consideração! ZULEICA- Vamos, temos um carro de luxo esperando por vocês!

ESMERALDA- (Para Pedro.) E você não saia daqui, que ainda temos umas coisas pendentes! PEDRO- Daqui não saio, sou uma estátua!

Saem todos, ficando apenas Pedro em pé e Antônio, deitado no chão. CENA 6

(23)

flira@ifce.edu.br 23 PEDRO- Que família!...Pobre Antônio. Eu nunca imaginei que tudo acabesse assim. Não tive a intensão de traí-lo, foram as circunstâncias.

Enquanto Pedro divaga, Antônio levanta-se e presta atenção em Pedro, sem que ele perceba. PEDRO- Eu fui um covarde, um sórdido, um egoista. Achei que esta família era minha grande chance na vida. Mas tudo era um grande embuste (pegando um cigarro) Se Antônio pudesse me ouvir, eu sei que ele me entenderia.

ANTÔNIO- Eu entendo.

PEDRO- Gostaria que ele soubesse o quanto eu me arrependo! ANTÔNIO- Eu sei.

PEDRO- Oh! Antônio (sem ver Antônio), agora estou mais aliviado (procurando fósforo nos bolsos, pelas costas Antônio acende o cigarro de Pedro ).Obrigado!...(Pausa) Esta mão (vira-se e assusta-se) Ah! Antônio! O que você faz neste mundo? Volta para o além... t`esconjuro...volta, vamos!

ANTÔNIO-(rindo) Você sempre foi um tolo, Pedro...Deixe de medo, eu estou vivo, bem vivo! PEDRO- Mas como? ... Eu vi ...Fui eu mesmo que atirei?

ANTÔNIO- (Abrindo a camisa.) Este colete à prova de balas salvou minha vida. PEDRO- Como você conseguiu isto?

ANTÔNIO- Trabalho para polícia!

PEDRO – Você é um policial e eu não sabia de nada!

ANTÔNIO – Policial coisa nenhuma! Quando você saiu do hotel eu recebi um telefonema que dizia ser da polícia. Pedia que eu colaborasse; raptando a Mão e colocasse na pasta do Senador para provocar uma intriga na família Gaspareto.... Em troca, a polícia daria um jeito de me tirar dessta enrascada! Se eu recussase, seria preso como traficante de drogas.

PEDRO – Caramba!

Zuleica e Esmeralda entram em cena.

ZULEICA- Silêncio, não se mexam, só falem quando solicitados! ANTÔNIO- Você prometeu que se eu colaborasse...

ESMERALDA- Vocês pensavam que tudo estava solucionado? ANTÔNIO- Mas o que falta?

ESMERALDA- Queremos que vocês nos falem da noite do acidente. Vamos, o que exatamente aconteceu naquela noite?

PEDRO- Não me lembro!

ZULEICA-(ameaçando) Como não se lembra? Esmeralda coloca a música bolero de Ravel PEDRO- Esta música...

ZULEICA- O que tem esta música? PEDRO- Nada, nada..

ZULEICA e ESMERALDA - A verdade, a verdade!

ANTÔNIO- Ah! Tudo está voltando a minha cabeça como um pesadelo... Pedro prepara um uma bebida para os dois.Soa a campainha.

PEDRO - São as meninas!

ANTÔNIO – Espero que elas sejam discretas? PEDRO - Discretíssimas.

Os dois ajeitam-se e Pedro abre a porta. Entram Zuleica e Esmeralda, com roupas sensuais. PEDRO : Zuleica e Esmeralda, então eram vocês!

ESMERALDA- Exatamente, naquela noite era apenas trabalho... ZULEICA- Mas, agora estamos em nosso horário de folga...e desta vez.. AS DUAS- Vocês não escapam...

PEDRO- Ah! Suas loucas!

(24)

flira@ifce.edu.br 24 OFF - Atenção, Atenção, após a prisão da família Gaspareto e a descoberta que a A MÃO DA SALVAÇÃO não era do Empresário Antônio Siqueira da Nóbrega.Uma minunciosa autópsia revelou que a MÃO pertencia ao lider sindical Manoel Perreira da Silva. que também morreu no desastre do dia 1 de Maio. Os companheiros de Manoel Perreira declararam que a MÃO será transformada no SÍMBOLO DE LUTA DE TODOS TRABALHADORES BRASILEIROS.

A música Bolero de Ravel aumenta.

Referências

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