• Nenhum resultado encontrado

THE TREATMENT OF HOSPITALIZED CHILDREN O TRATAMENTO DE CRIANÇAS HOSPITALIZADAS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "THE TREATMENT OF HOSPITALIZED CHILDREN O TRATAMENTO DE CRIANÇAS HOSPITALIZADAS"

Copied!
21
0
0

Texto

(1)

Scientific Journal – ISSN:2595-6256 Nº 2, volume 2, article nº 4, Abr/Jun 2018

D.O.I: http://dx.doi.org/XXXXXX/XXXX-XXXX/XXXXXX Accepted: 02/03/2018 Published: 01/04/2018

THE TREATMENT OF HOSPITALIZED CHILDREN O TRATAMENTO DE CRIANÇAS HOSPITALIZADAS

Erika de Nazareth Teles da Rocha1, Rosilene Reis Rocha2,

Abstract

Child hospitalization represents a stressful and traumatizing event in childhood, since daily life is interrupted abruptly. The hospitalized child experiences at the same time sensations such as discomfort, loneliness, fear, denial of illness, revolt, guilt, depression, among others. In addition, the family is also deeply shaken by the hospitalization of the child. Studies indicate that conducting a humanizing treatment helps preserve the child's autonomy and enables her to express her feelings at such critical times of the clinical condition, helping her recovery. In this sense, this paper aims, in a general way, to reflect on the role of nursing in the treatment of hospitalized children, especially those who are between six and ten years of age. It is also concerned with understanding the emotional state of these children in the face of illness and hospitalization and the role of the family in this context. The results indicate that nursing professionals must have the sensitivity to recognize the specificities of each subject and their clinical settings, thus seeking to include the child in the treatment process itself, giving her the opportunity to take a leading role in the care of her life. Family support in treatment is of paramount importance in the recovery process.

Keywords: Child hospitalization. Role of the family. Role of nursing.

Resumo:

A hospitalização infantil representa um acontecimento estressante e traumatizante na infância, uma vez que, o cotidiano é interrompido abruptamente. A criança hospitalizada experimenta, ao mesmo tempo, sensações como desconforto, solidão,

Journal of Specialist v.2, n.2, p.1-21, Abr - Jun, 2018

1 Acadêmica de Pós-graduação de Enfermagem em Pediatria. Faculdade Conhecimento e Ciência. Núcleo de Orientação e Pesquisa. Belém-PA. E-mail: erikarocha@hotmail.com

2 Acadêmica de Pós-graduação de Enfermagem em Pediatria. Faculdade Conhecimento e Ciência. Núcleo de Orientação e Pesquisa. Belém-PA. E-mail: rosilenereis71@gmail.com

(2)

Journal of Specialist 2 de 21

medo, negação da doença, revolta, culpa, depressão, entre outros, além disso, a família também é profundamente abalada com a hospitalização da criança. Estudos indicam que a condução de um tratamento humanizador ajuda a preservar a autonomia da criança e possibilita que ela expresse seus sentimentos em momentos tão críticos da condição clínica, colaborando para sua recuperação. Nesse sentido, Este trabalho objetiva, de maneira geral, refletir sobre o papel da enfermagem no tratamento de crianças hospitalizadas, sobretudo, as que estão entre seis a dez anos de idade. Preocupa-se, ainda, em compreender o estado emocional dessas crianças diante do quadro de doença e internação e o papel da família nesse contexto. Os resultados indicam que os profissionais da enfermagem devem ter a sensibilidade para reconhecer as especificidades de cada sujeito e de seus quadros clínicos, buscando assim, incluir a criança no próprio processo de tratamento dando a ela a oportunidade de agir com protagonismo nos cuidados de sua vida. O apoio familiar no tratamento é de suma importância no processo de recuperação.

Palavras-Chave: Hospitalização infantil. Papel da família. Papel da enfermagem.

INTRODUÇÃO

Quando de repente a vida é atravessada por uma novidade negativa como uma

doença a ser tratada, as pessoas, em geral, sentem-se muito inseguras, ansiosas e tristes. Se o tratamento exigir internação hospitalar o quadro emocional tende a se agravar. Mas, o que dizer da situação quando a doença e a internação estão relacionadas a uma criança? Estudos de Santos, Silva, Depiante, Cursino e Ribeiro (2016), indicam que a hospitalização infantil representa um acontecimento estressante e traumatizante na infância, uma vez que, o cotidiano é interrompido abruptamente.

A criança hospitalizada experimenta, ao mesmo tempo, sensações como desconforto, solidão, medo, negação da doença, revolta, culpa, depressão, entre outros (Rossato & Boer, 2002). São muitos afetos misturados, muitos sentimentos confusos, além disso, a família também é profundamente abalada com a hospitalização da criança (Sousa, Gomes, Silva, Santos & Silva (2011). Assim, a enfermagem tem nas mãos um quadro extremamente complexo, de um lado, uma pessoa em condição de intensa vulnerabilidade seja por conta do isolamento compulsório, por conta da descoberta de uma nova dimensão da existência onde a dor e o sofrimento estão contemplados, seja pela própria dinâmica da infância (Santos et al, 2016). Do outro, uma família que demanda cuidados e orientações.

(3)

Segundo Sousa et al (2011), o papel da enfermagem nesse momento é o de ampliar o aspecto humanizador do tratamento, visto que, bons cuidados profissionais podem colaborar para a redução dos sintomas físicos e do sofrimento emocional de todos os envolvidos. Além disso, estudos indicam que a condução de um tratamento humanizador ajuda a preservar a autonomia da criança e possibilita que ela expresse seus sentimentos em momentos tão críticos da condição clínica, colaborando para sua recuperação.

Este trabalho objetiva, de maneira geral, refletir sobre o papel da enfermagem no tratamento de crianças hospitalizadas, sobretudo, as que estão entre seis a dez anos de idade. Preocupa-se, ainda, em compreender o estado emocional dessas crianças diante do quadro de doença e internação e o papel da família nesse contexto. O pressuposto defendido é que pesquisas que se propõem a pensar a condição da criança hospitalizada a partir do viés do tratamento clínico e do papel da enfermagem são cada vez mais necessárias. É bem verdade que muitos estudos já demonstram inclinação para o desenvolvimento desse debate, porém, alargar o processo de discussão e reflexão sobre o tema é significativamente importante, tanto para quem trabalha com a enfermagem, como para quem, em algum momento, precisa estar na condição de paciente.

O texto está dividido em quatro seções. A introdução que apresenta a problemática da pesquisa e os objetivos que dela derivam; a metodologia que exibe os procedimentos adotados para a construção do texto, os resultados e as reflexões oriundas do processo de pesquisa e as considerações finais.

METODOLOGIA

A metodologia adotada para realizar a pesquisa foi a revisão de literatura. Os descritores que serviram para norteá-la foram hospitalização infantil; papel da família

e papel da enfermagem no tratamento de crianças hospitalizadas. Organizamos os

resultados da pesquisa da seguinte maneira:

(4)

Journal of Specialist 4 de 21

• A primeira parte – apresenta reflexões sobre o estado emocional de crianças hospitalizadas. Os textos utilizados foram de: a) Rossato e Boer (2002) para compreender o impacto emocional da hospitalização em crianças de seis a dez anos; b) Sanchez e Ebeling (2011) para investigar a questão dos sintomas depressivos em crianças internadas; c) Gomes e Nóbrega (2015) para entender a ansiedade da hospitalização em crianças.

• A segunda parte – discute o papel da família no tratamento dessas crianças. Selecionamos os textos de: a) Valverde e Carneiro (2010), para compreender o impacto da hospitalização na criança e em seus familiares; b) Schneider e Medeiros (2011) para pensar o impacto emocional causado pela hospitalização das crianças em seus pais; c) Sousa, Gomes, Silva, Santos e Silva (2011) para compreender o lugar que a família ocupa no processo de tratamento e recuperação da criança internada.

• A terceira e última parte – destina-se a tratar do papel da enfermagem no processo de hospitalização infantil. Utilizamos os textos de: a) Santos, Silva, Depianti, Cursino e Ribeiro (2016) para entender a percepção da criança hospitalizada acerca dos cuidados da enfermagem; b) Silva et al (2013) para conhecer o que a literatura científica tem produzido acerca dos cuidados da enfermagem na hospitalização pediátrica; c) Monteiro, Rodrigues, Pacheco e Pimenta (2014) para refletir sobre a atuação da enfermagem junto à criança em tratamento de câncer.

O estudo reúne contribuições teóricas recentes, textos qualificados que mostram a evolução e trajetória dos debates que cercam o papel da enfermagem no tratamento de crianças hospitalizadas. Para tanto, selecionamos artigos publicados entre os períodos de 2002 a 2018. São textos, em língua portuguesa, que discutem a temática abordada na pesquisa e que foram publicados em revistas científicas com ampla difusão e reconhecimento no meio científico.

(5)

RESULTADO E DISCUSSÃO

Hospitalização de crianças e estado emocional

A doença e a hospitalização configuram um processo traumático para a criança. Ela é afetada de forma integral, pois, corpo e mente, sofrem um abalo considerável. Segundo Rossato e Boer (2002) ocorrem efeitos psicológicos negativos nas crianças hospitalizadas que vão desde a negação da doença até a culpa pelo seu acontecimento. Ao mesmo tempo, a condição vivida torna a criança vulnerável e requer dela mecanismos de adaptação.

O hospital representa um ambiente estranho à criança. Desconforto, desconhecimento e estranhamento são sensações comuns que podem ser agravadas caso a equipe de saúde não tenha sensibilidade para o trato adequado aos pacientes da pediatria. Sanchez e Ebeling (2011) informam que a criança submetida a um processo de hospitalização apresenta a necessidade de expressar seus sentimentos como forma de minimizar sua ansiedade. De acordo com os autores:

A hospitalização afasta a criança da sua vida social, familiar e escolar, promovendo confrontos com a dor, limitações físicas, desorientação e passividade. A criança desenvolve sentimentos de carência afetiva, culpa, punição e medo da morte [...].A hospitalização geralmente é aceita pelas crianças em virtude da necessidade de tratamento, porém há o reconhecimento de que a vida fica diferente devido às limitações da doença e do próprio hospital, que causam transtornos, medos e apreensões (Sanchez & Ebeling, 2011. p. 187).

Diante do quadro de internação, portanto, o estado emocional das crianças é profundamente abalado. Elas entram em contato com novas situações – rotinas, horários, remédios, enfermeiros, médicos – tudo ao mesmo tempo e sem aviso prévio. Não bastasse isso o paciente passa por “[...] um agressivo processo de despersonalização. Nesse momento deixa de ser identificado pelo seu nome e passa a ser lembrado pelo número de seu leito ou por uma determinada patologia” (Rossato & Boer, 2002, p. 147).

Do ponto de vista emocional ocorre uma significativa perda da dignidade existencial o que pode ocasionar o abandono da luta pela cura. Não ser reconhecido em suas

(6)

Journal of Specialist 6 de 21

particularidades e especificidades implica na anulação do ser enquanto pessoa de direitos, enquanto sujeito que requer afeto, carinho, atenção, generosidade, respeito e amor. O hospital, via de regra, não oferece ao paciente atividades recreativas no período noturno, não garante privacidade, nem sempre favorece o contato com os familiares, o que aumenta a sensação de isolamento, desconforto e tristeza (Sanchez & Ebeling, 2011).

Não é raro o quadro depressivo em crianças hospitalizadas. O contato com rotinas dolorosas, com o sofrimento e possibilidade de morte agrava os sintomas. Rossato e Boer (2002) afirmam que diante de um cenário tão fortemente marcado por dor, isolamento e sofrimento, a hospitalização tende a durar mais do que o necessário:

[...] o fato de que a criança pode ver na doença uma agressão externa, uma punição, desperta-lhe sentimento de culpa e traz muito sofrimento, sendo possível de acarretar experiência traumática durante o periodo de hospitalização, dificultando o atendimento da equipe. Na medida em que o paciente se entrega literalmente à doença acredita ser merecedor e acaba resignando-se aos cuidados médicos (Rossato & Boer, 2002, p. 148)

Ansiedade, medo, sofrimento e dor se associam criando um quadro cheio de contradições e sensações negativas na criança hospitalizada. Gomes e Nóbrega (2015), ao realizar um estudo sobre crianças em estado de internação, afirmam que a ansiedade provoca mudanças no comportamento fisiológico e psicológico delas. O corpo geralmente sinaliza tensão e dor muscular, constrição respiratória, tremor e inquietação, além desses, as crianças apresentam insegurança, antecipação apreensiva, ideais de catástrofes e de incompetência pessoal.

Segundo Sanchez e Ebeling (2011) os distúrbios provocados pela hospitalização infantil são diversos e estão associados à dificuldade que a criança apresenta de lidar com todos os acontecimentos novos que envolvem esse momento. Conforme eles indicam:

Esses distúrbios podem corresponder à depressão, instabilidade, apatia, agressividade, isolamento social, atraso no desenvolvimento cognitivo, alterações fisiológicas, insônia, inapetência, diminuição das resistências (baixa da imunidade) e manifestações psicossomáticas. Essas reações são de tristeza e levam a criança ao afastamento do meio, dificultando a atuação da equipe de saúde, rejeitando as medicações, exames e demais orientações (Sanchez & Ebeling, 2011, p. 188).

No hospital a criança se vê limitada pela doença e pela estrutura da instituição Journal of Specialist v.2, n.2, p.6-21, Abr - Jun, 2018

(7)

(regras, horários, rotinas). Na prática ela deixa de fazer o que gosta e fica obrigada a adotar novos hábitos comportamentais, nesse cenário, é muito comum que a criança entristeça e desista da luta pela recuperação. Há indicativos que, além de tudo isso, a criança desenvolve um medo irracional dos médicos e dos profissionais da saúde que a acompanham. Culturalmente, esse medo, pode derivar da prática, muito comum, de associar a figura do médico a uma perspectiva de punição. (Rossato & Boer, 2002). Na prática, a criança internada sofre de ansiedade, estresse, medo e depressão.

Existem diferentes fontes de estresse. O medo da dor, das agulhas, do afastamento da família, tudo isso associado pode colaborar para que a criança desenvolva um quadro depressivo. Em situações mais graves é possível detectar:

[...] humor deprimido, falta de interesse e prazer nas atividades; perda ou ganho de peso; alterações no sono; agitação ou retardo psicomotor; fadiga ou perda de energia; sentimentos de inutilidade e culpa; indecisão e dificuldades de concentração; suicídio e tentativa de suicídio (Sanchez &Ebeling, 2011, p.189).

O estado emocional da criança hospitalizada, portanto, é de extrema vulnerabilidade, pode variar ao longo do tratamento, mas é quase sempre marcado por sentimentos negativos. Um dos maiores problemas emocionais está associado ao afastamento da mãe. Ela teme que a mãe a abandone, que ao sair ou se afastar por algum motivo, ela nunca mais retorne (Rossato & Boer, 2002). Como é um momento de muita fragilidade, a figura da mãe é muito requerida pela criança, nesse sentido:

[...] a ausência da família ou da mãe no hospital desperta sentimentos de abandono na criança, trazendo-lhe muita angústia, uma exagerada necessidade de amor, sentimentos de vingança, raiva, desejos de punir a mãe por tal conduta, culpa, comprometimento de motivação para a melhora, podendo isso culminar em uma depressão infantil (Rossato & Boer, 2002, p 149).

As reações emocionais negativas deixam a criança, em geral, muito mais insegura e agressiva, mas muitas crianças desenvolvem um comportamento apático, inerte e aparentemente tranqüilo. Percebe-se que elas demonstram poucas emoções e dificuldades de chorar, o que do ponto de vista psicológico, pode significar deterioração do equilíbrio interno. As crianças que recebem mais visitas de sua mãe,

(8)

Journal of Specialist 8 de 21

ao contrário, diminuem o risco de desenvolvimento da depressão, de quadros clínicos associados à infecção e baixa imunidade e reduzem o tempo da internação (Rossato & Boer, 2002).

A presença da família, portanto, é de suma importância para a garantia da saúde mental e equilíbrio emocional das crianças em hospitalização. Mas essa presença também precisa ser preparada. Muitas famílias e equipes médicas optam por não informar à criança seu real estado de saúde. Isso provoca um despreparo para o enfrentamento a situações inusitadas. Evitar a mentira pode ser uma estratégia muito mais eficaz na preparação da criança para a internação, ela deve saber o que vai lhe acontecer, entender os motivos, as causas e conseqüências do tratamento. Sobretudo, a criança tem direito de saber de seu corpo, de seu destino e de suas responsabilidades diante da nova condição (Rossato & Boer, 2002).

De acordo com Sanchez e Ebeling (2011), o hospital é um ambiente que culturalmente está associado à doença, dor e sofrimento. No entanto, há possibilidade de se ressignificar essa realidade simbólica. O papel da família e da equipe médica é fundamental para garantir que esse período seja menos doloroso e menos ansiogênico. A criança merece respeito, cuidado e afeto, em situação de adoecimento precisa de doses bem maiores de tudo isso.

O quadro 1 sintetiza as informações apresentadas até aqui e reúne as principais contribuições de cada um dos textos tratados.

Autores Textos Ano de

publicação

Conclusões

Rossato, A. L; Boer, N. O impacto emocional da hospitalização em crianças de seis a dez anos. 2002 A internação hospitalar pode acarretar significativo sofrimento psíquico e emocional, bloqueios e desestabilização da personalidade infantil. Sanchez, M. L. M; Ebeling, V. L. N. Internação infantil e sintomas depressivos: intervenção psicológica. 2011 Os distúrbios provocados pela hospitalização infantil são diversos e estão associados à dificuldade que a criança apresenta de lidar com todos os acontecimentos novos que envolvem esse momento.

(9)

Gomes, G. L. L; Nóbrega, M. M. L. Ansiedade da hospitalização em crianças: proposta de um diagnóstico de enfermagem 2015 A internação hospitalar produz um quadro de intensa ansiedade. A ansiedade desencadeada

caracteriza-se por uma série de fatores estressantes e ameaçadores, que conduzem a criança ao desequilíbrio psicológico e tendem a conferir consequências negativas ao seu desenvolvimento

Quadro 1 – Síntese dos textos que discutem o estado emocional de crianças hospitalizadas Fonte: Organizado pelas autoras, 2018.

A visualização detalhada do Quadro 1 permite acompanhar o desenvolvimento dos estudos sobre o estado emocional de crianças hospitalizadas no período de pouco mais de uma década. É possível observar que os três textos indicam resultados muito parecidos. Eles alertam para o fato de que a hospitalização infantil representa um momento de muita ansiedade para as crianças que, dependendo da forma como a hospitalização ocorre, o processo pode provocar distúrbios psicológicos graves, sofrimento psíquico e desestabilização da personalidade infantil.

O papel da família e da enfermagem no enfrentamento das dificuldades vividas pela criança nesse período é fundamental para reduzir os traumas, sofrimentos e dores provocados pela hospitalização.

A família e o tratamento de crianças internadas

A família da criança que sofre internação, não raramente, também, sinaliza abalo emocional, ansiedade e medo. De fato:

A hospitalização de uma criança suscita na família situação de crise, caracterizada por vários fatores como descontinuidade na satisfação das necessidades biológicas, psicológicas e sociais, e aparecimento do sentimento de culpa e ansiedade. [...]. Embora os pais busquem a ajuda dos familiares nos momentos de maior dificuldade, independentemente do apoio recebido, a família também sente necessidade do amparo das pessoas do hospital (SOUSA et al, 2011, p. 89).

(10)

Journal of Specialist 10 de 21

Como a criança internada se torna o centro das preocupações e das atenções, nem sempre a família consegue espaço para expressar seus anseios e dores. A culpa é um sentimento comum entre os pais, pois as doenças, quando surgem, são encaradas socialmente como produtos de descuido familiar. Além disso, a rotina da internação não altera somente a vida da criança, também desorganiza todo o cotidiano familiar. Em geral:

[...] a hospitalização do filho causa um impacto emocional muito grande nos pais, como também mudanças nas suas rotinas, gerando angústias e sofrimento ao enfrentar a situação que surgiu de forma inesperada. [...]. O estado de saúde do filho gera tensão, tanto pelo fato de estar doente, como pela mãe ter que assumir os cuidados e, muitas vezes, não receber informação para tal; desta maneira, se preocupa com a situação e não tem com quem dividir suas angústias, e pelo fato de estar longe da família, cabe a ela permanecer alerta diante da doença do filho. Mediante todas essas dificuldades e necessidades surgem o medo da morte e a sensação de impotência ao não saber o que fazer para amenizar a dor (Schneider & Medeiros, 2011, p. 140-142).

O impacto emocional é, portanto, vivido nas duas situações, tanto pela criança que se vê diante de uma rotina inesperada que interrompe seu cotidiano de aprendizado, brincadeiras e descanso, como para os familiares que se sentem impotentes diante do ineditismo de uma doença e assustados pelo risco da morte, perda e separação definitivas.

Quando a doença enfrentada pela criança é crônica, demanda um tratamento mais demorado e requer mais intensamente a presença da família no hospital, mas nem sempre essa família está preparada para enfrentar a situação, sendo comum ouvir relatos por parte da equipe médica ou de enfermagem que “[...] o familiar é percebido como um agente que gera dificuldades para a realização do trabalho da equipe” (Sousa et al, 2011, p.91).

O fato é que, as famílias lidam com a questão da internação de uma maneira particular e nem sempre, elas conseguem compreender as vicissitudes do cuidado hospitalar, manifestando repúdio por tratamentos que provocam dor ou desconforto e interferindo nas práticas de auxílio à criança internada. Soma-se a esse quadro a questão de que, em alguns casos, as crenças e valores morais, religiosos, culturais, entre outros, podem se chocar e/ ou atritar com as práticas hospitalares (Sousa et al, 2011).

Por outro lado, a criança espera da família que essa a ampare e que a nutra

(11)

da confiança que precisa para continuar a lutar pela recuperação e para enfrentar o tratamento, ainda que este seja doloroso. Estudos demonstram que crianças sem acompanhamento regular por parte dos familiares apresentam maiores dificuldades no tratamento, demonstram reações físicas negativas, se sentem mais inseguras e acreditam estarem sendo punidas através da doença e internação (Valverde & Carneiro, 2010).

Encontrar um mecanismo que aproxime e favoreça a relação entre pais e equipe de saúde parece ser uma estratégia promissora para resolver as possíveis fissuras produzidas na tensão resultante da internação hospitalar. A proposta de humanização da assistência hospitalar contempla o cuidado integral a todos os envolvidos nas situações de hospitalização. A compreensão de que a recuperação da criança doente depende, em grande medida, da presença da família no ambiente do hospital, exige que a equipe desenvolva estratégias para aproximar essa família da lógica do tratamento a fim de reduzir possíveis choques culturais:

[...] a família na unidade pediátrica é um membro indissociável do processo de saúde e uma unidade de cuidado. Esta condição transfere aos profissionais a incumbência de apoiar a família, fortalecendo-a e orientandoa quando ela se encontrar fragilizada, como acontece, por exemplo, quando um de seus membros adoece. [...]. Ao se deparar com a necessidade da hospitalização da criança, a família pode compreender o hospital como um ambiente estranho, que fomenta sofrimento físico e emocional. Este fato faz com que ela se sinta esgotada, pouco à vontade para cuidar da criança e, geralmente, ignorada em suas necessidades, o que pode tornar a hospitalização uma experiência traumatizante (Sousa et al, 2011, p. 89).

Assim, o tratamento humanizado e humanizante, reduz os problemas emocionais e ajuda a estabelecer um ambiente mais saudável, ainda que diante de dor e sofrimento. A presença da família durante a hospitalização é incontestavelmente importante no tratamento da criança. Porém, ela também precisa ser considerada de forma integral, suas necessidades e fragilidades precisam ser contempladas e ela precisa ser amparada afetivamente, cuidada (Sousa et al, 2011).

A família apresenta carências que precisam ser reconhecidas e atendidas. Muitas famílias demonstram sentimentos ambíguos durante a hospitalização de seus filhos. Esses sentimentos derivam, em grande medida, da perda de controle sobre eles, sobre a doença que os atinge. Algumas nutrem fantasias de que são responsáveis

(12)

Journal of Specialist 12 de 21

pela doença, de que a causaram ou a desejaram em algum momento. Também é comum o desenvolvimento de sentimentos de angústia, choro constante e náusea, como forma de somatização do sofrimento psíquico que vivenciam. Algumas mães, por exemplo, assumem uma atitude defensiva e agressiva, quando na verdade estão vivenciando um profundo sentimento de cansaço e desespero (Schneider & Medeiros, 2011).

Além disso, muitas famílias reproduzem no ambiente hospitalar, práticas de cuidado que costumam realizar em casa. Essas praticas são fundamentadas em costumes culturais e visões de mundo que nem sempre se ajustam a cultura que se estabelece em um hospital (Sousa et al, 2011). O conflito, diante desse quadro, torna o relacionamento entre a equipe de saúde e a família, bastante frágil, apenas a compreensão das dinâmicas internas e emocionais que abatem essas famílias que enfrentam a hospitalização pode ajudar a dirimir as tensões e a promover um ambiente mais saudável.

Schneider e Medeiros (2011, p. 143) alertam para o fato de que “[...] vivenciar a doença se torna um aspecto perturbador para a família, pois a criança necessita de dedicação quase exclusiva [...]”. Assim, muitos pais adoecem juntamente com seus filhos, pois a dinâmica do hospital, o ritmo do trabalho, os longos tratamentos, os eventuais imprevistos, a dor e o sofrimento do filho internado, provocam não raramente, tristeza e depressão entre eles. Segundo os autores:

[...] os pais e a criança precisam ser ajudados ao chegarem ao hospital, sendo que este é um momento crucial e precisa ser considerado com muito bom senso e atenção. Os pais, assim como a criança passam por diferentes estágios. No primeiro momento ocorre o choque e a descrença, ou seja, a negação da realidade; em seguida vem a raiva e o ressentimento, depois aparece a culpa por condutas ou sentimentos em relação ao paciente, e esta, dá lugar à tristeza e depressão, para no final se chegar à aceitação (Schneider & Medeiros, 2011, p. 143).

Porém, apesar das dificuldades enfrentadas pela família, pela criança e pela equipe médica, se predominar o bom senso e o tratamento humanizante, as possibilidades de sucesso na recuperação da criança são bem significativas. Quando no ambiente hospitalar se constitui uma relação de afeto e cooperação entre criança, família e equipe, as chances de sucesso são sempre bem maiores (Sousa et al, 2011), os estudos científicos têm indicado isso. Nesse sentido, o quadro 2 sintetiza as

(13)

informações tratadas até aqui e exibe os aspectos mais cruciais do debate construído nessa reflexão.

Autores Textos Ano de publicação Conclusões

Valverde, D. L. D; Carneiro, M. P. S. R. O suporte psicológico e a criança hospitalizada: o impacto da hospitalização na criança e em seus familiares

2010 Quando uma criança

adoece sua família

adoece junto. A família se vê privada de suas

atividades rotineiras,

sendo imposta pelos

limites que a doença

provocou, esta

desequilibra, pois perde

seus pontos de

referência e

sustentação. Quase

sempre a família mostra um sentimento de culpa pela doença e hospitalização da criança. Schneider, C. M; Medeiros, L. G. Criança hospitalizada e o impacto emocional gerado nos pais

2011 A hospitalização do filho

causa um impacto

emocional muito grande nos pais, como também

mudanças nas suas

rotinas, gerando

angústias e sofrimento ao enfrentar a situação que surgiu de forma inesperada

Sousa et al. A família

unidade pediatria: percepções equipe enfermagem acerca dimensão cuidadora. na de da de da 2011 A família possui necessidades, sendo parte indissociável da assistência

Quadro 2 – Síntese dos textos que discutem o papel das famílias no tratamento de crianças hospitalizadas

Fonte: Organizado pelas autoras, 2018.

Da análise do quadro 2 é possível depreender que os sentimentos que mais são recorrentes nos familiares que vivenciam a situação de internação da criança, são a

(14)

Journal of Specialist 14 de 21

culpa, a ansiedade, a angústia, a tristeza e a impotência diante da doença. Esse quadro gera uma demanda específica por tratamento, pois a família, também adoece junto com a criança e requer atenção especial e assistência.

A equipe de saúde assume, assim, um papel muito relevante em todo o tratamento das crianças hospitalizadas, uma vez que, sua ação não está restrita ao cuidado com o paciente infantil, mas, na prática, se desdobra para atingir de forma humanizada toda a família. Quando a família, também, é tratada, as chances de que ela possa cumprir seu papel como cuidadora, que é muito importante para o sucesso do tratamento hospitalar, se tornam infinitamente maiores (Sousa et al, 2011).

O papel da enfermagem na hospitalização infantil

O cuidado da equipe de saúde não é o único fator que pode ser considerado decisivo na luta pela cura e recuperação da criança, contudo, não há sombra de dúvidas de que um acompanhamento sensível, humanizador e humanizante alivia, em grande medida, o sofrimento do paciente e da família.

Como afirmamos alhures, a criança hospitalizada vivencia inúmeros sofrimentos, “[...] separação, dor, desconforto físico decorrente da intensa manipulação e doença, que influenciam nas esferas afetiva, psicológica e emocional, sendo importante que o enfermeiro reconheça tais sofrimentos” (Santos et al, 2016, p. 647). Por isso o atendimento humanizado é muito importante no processo de cura, pois quando a enfermagem é sensível e se dispõe a compreender a dimensão da doença na vida da criança e da família, ajuda a fortalecê-la e a encher-lhe de esperança.

Compete aos profissionais da enfermagem, portanto, a incumbência de apoiar o paciente e sua família, dando-lhe suporte para que consigam suportar a situação de hospitalização, a mudança de rotina, a ansiedade e o sofrimento. Dar conforto a todos os envolvidos é uma preocupação constante da enfermagem.

De acordo com Monteiro, Rodrigues, Pacheco e Pimenta (2014), em casos muito graves onde o paciente desenvolve uma doença terminal e, portanto, tem a vida limitada, algumas equipes de enfermagem fazem uso dos cuidados paliativos como forma de reduzir o sofrimento:

É importante destacar que, no cuidado paliativo, as medidas de suporte e conforto para o alivio do sofrimento, em virtude do avanço da doença, devem

(15)

ser priorizadas visando ao bem-estar dessa criança. São estratégias de atenção da equipe que implicam o compromisso de oferecer um cuidado integral para melhorar a qualidade de vida da criança e dos seus familiares, destacando ações interativas que se fundamentam na relação de respeito e valorização do ser cuidado, procurando promover sistematicamente o que há de saudável para proporcionar o conforto. O objetivo dos cuidados paliativos pediátricos inclui metas físicas, psicológicas, educacionais, sociais e espirituais. Este cuidado visa melhorar a vida, diminuir o sofrimento e confortar o binômio criança e família (Monteiro et al, 2014, p. 780).

Cuidados paliativos, conforme os autores indicam, representam um tipo de abordagem que procura melhorar a qualidade de vida dos pacientes e familiares diante de doenças muito graves e/ou terminais. Na pediatria, essa abordagem se torna eficaz “[...] com o controle dos sintomas e quando são fornecidos apoio psicológico e espiritual para o paciente e suporte para a família na tomada de decisões” (Monteiro et al, 2014, p. 780).

É preciso, sobretudo, que a enfermagem desenvolva a capacidade de reconhecer

as peculiaridades que envolvem a doença e seu tratamento. Paciente e família reagem de forma diferente dependendo do tipo de doença que se manifesta e da forma como o tratamento é conduzido. Uma das possibilidades que a enfermagem tem encontrado é a de incluir a criança no processo de tratamento, tornando-a um sujeito ativo e valorizando suas expressões de vontade, respeitando seu tempo e desejos. Santos et al (2016) afirmam que:

Estudo nacional apontou que o enfermeiro reconhece a importância de preservar a autonomia da criança, de possibilitar que expresse seus sentimentos, de respeitar seu tempo de maneira flexível e atender seus desejos de acordo com sua condição clinica. Esta postura facilita o estabelecimento de parceria e contempla as suas necessidades. No âmbito internacional, estudo mostrou que a maioria dos profissionais de saúde reconhece a importância de incluir a criança nas decisões a serem tomadas acerca de seu tratamento, levando-a a se sentir parte do processo, o que facilita sua colaboração (Santos et al, 2016, p. 647) .

As informações derivadas de pesquisas científicas indicam ainda, que as crianças conseguem, inclusive, gerenciar a própria dor nos casos de pós-operatório, o que revela o quanto a sua inclusão nas tomadas de decisão no que tange aos cuidados terapêuticos tem sido eficaz. Essa perspectiva, porém, deriva de uma compreensão adotada pela enfermagem, em que o paciente é o centro das atenções e quem mais sofre em tudo o que ocorre na hospitalização, daí que ele tem o direito de saber o que se passa, de pensar em soluções junto com a equipe de saúde e a de direcionar

(16)

Journal of Specialist 16 de 21

estratégias mais adequadas para cuidar do próprio corpo, uma vez que, “[...] as crianças são as melhores fontes de informação sobre suas experiências e sentimentos” (Santos et al, 2016, p. 647). É preciso recordar que:

A Enfermagem é uma arte e ciência que requer do enfermeiro uma compreensão e aplicação de conhecimento e técnicas específicas com vistas a possibilitar tudo aquilo que o paciente necessita para realizar-se como ser independente, total e completo. [...] o enfermeiro deve estar atento às singularidades e particularidades da criança e da família que se encontram sob seus cuidados, para assim, agir de maneira consciente, reflexiva e crítica no atendimento de suas necessidades (Silva et al, 2013, p. 69).

Nesse sentido, os cuidados da enfermagem podem ser considerados como peças chave no enfrentamento a doença e as dificuldades que envolvem a hospitalização. A enfermagem, com sua experiência e técnica, deve procurar inserir a família na condução dos procedimentos terapêuticos. Além da própria criança que deve ser protagonista de seu tratamento, a família, requer cuidados e, quando ciente de seu papel e função no enfrentamento à doença, sente-se mais importante e valorizada. Assim:

As ações de cuidado não devem somente se prender a cumprir atribuições técnicas de realização de procedimentos das práticas paliativas, mas também devem representar um elo, informando, orientando, dedicando um tempo para a família e para a criança; deixando-as expressar seus sentimentos, medos, anseios e esperanças; permitindo assim, que vivenciem e criem condições para o enfrentamento do processo (Monteiro et al, 2014, p. 780).

Cuidar do outro envolve atitudes e ações que, muitas vezes são simples, como um toque, uma atenção, uma disposição em ouvir, carinho e consideração genuína. Não é, portanto, apenas a realização de técnicas e procedimentos formais o que configura o trabalho da enfermagem, tudo vai muito além. Não é raro ouvir relatos em que os enfermeiros afirmam tentar oferecer apoio emocional, espiritual e religioso aos pacientes. Esse suporte, que extrapola a função médica, simboliza o desejo espontâneo de ajudar e a compreensão que o profissional tem de que existem dimensões que são evocadas no momento em que uma doença invade a vida de uma criança e de uma família (Monteiro et al, 2014).

(17)

Dar qualidade de vida implica, dessa forma, na busca por estratégias que diminuam o sofrimento e que tragam algum tipo de conforto, de esperança, de fé em dias melhores. Estudos realizados com crianças hospitalizadas acerca da percepção que desenvolvem sobre a enfermagem (Santos et al, 2016), indicam que demonstram que elas reconhecem a importância do trabalho da equipe de saúde, mas que, também, tem percepções diferenciadas sobre as abordagens adotadas por ela. Os estudos, também indicaram que as crianças preferem o tratamento carinhoso, engraçado, empático. Que se sentem mais seguras quando os enfermeiros explicam tudo que estão fazendo e que associam à presença do enfermeiro a possibilidade de cura. Assim, é possível concluir que “[...] a proximidade entre enfermeiro e criança favorece a identificação das suas necessidades de saúde enquanto hospitalizada” (Santos et al, 2016, p. 650). É papel deste profissional, portanto, colocar em prática métodos que minimizem a dor e desenvolver cuidados de atenção para com a criança que a ajudem a enfrentar este período.

Algumas equipes têm utilizado com significativo sucesso os recursos lúdicos:

Os recursos lúdicos são utilizados como recurso atenuante do difícil processo de hospitalização. Sua diversidade, mesmo não impedindo que a criança vivencie momentos dolorosos, possibilita que ela extravase sentimentos de raiva e hostilidade provocados pelo tratamento e por suas consequências. Além de contribuir para a aproximação entre todas as pessoas envolvidas no processo de hospitalização, contribui para a humanização e o enriquecimento do ambiente hospitalar. Para a criança, brincar é a principal atividade no hospital, pois a função lúdica é divertida e proporciona distração, alegria e prazer (Monteiro et al, 2014, p. 781)

O ato de brincar mostra-se primordial para a garantia do bem estar mental, emocional e social da criança. No ambiente hospitalar a brincadeira assume uma função importante no tratamento, pois reduz o impacto negativo provocado pelo trauma da hospitalização. As crianças relaxam quando brincam e esquecem por momentos todo o ineditismo produzido pela doença, sobretudo, a brincadeira “[...] diminui o estresse da separação e os sentimentos de estar longe de casa, ajudando a criança a sentir-se mais segura em um ambiente estranho” (Monteiro et al, 2014, p. 781).

Mas, durante muito tempo esse tipo de análise foi desprezado porque o foco das atenções da equipe da enfermagem era somente a cura da doença. O olhar voltado apenas para o corpo como objeto biológico nem sempre deixava brechas para a

(18)

Journal of Specialist 18 de 21

compreensão do ser em sua totalidade. Nesse sentido, a própria dinâmica cotidiana da enfermagem serviu como lente para a superação de uma abordagem tão reducionista.

Atualmente, não somente por conta dos estudos e pesquisas que deram, sem dúvida, pistas importantes de como aperfeiçoar o tratamento, mas fundamentalmente, pela própria experiência acumulada, sabe-se que elementos como “[...] Dar conforto à criança; Cuidar da família; Atender às necessidades da criança; Proporcionar qualidade de vida à criança; Dar apoio espiritual, emocional e religioso; Estar mais próximo da criança, mostrando-se disponível” (Monteiro et al, 2014, p. 782) são fundamentais para o sucesso do tratamento infantil.

As crianças de seis a dez anos já têm consciência de sua doença e já conseguem compreender informações relativas a ela. Reconhecem em seu corpo sintomas que indicam algo fora da normalidade e elaboram conceitos sobre o que estão vivendo (Santos et al, 2014). Nem sempre o que pensam sobre o momento é positivo, como vimos anteriormente, muitas acreditam que estão sendo punidas por alguma coisa que fizeram e nutrem um sentimento de culpa muito destrutivo. Por conta disso, é cada vez mais importante que a equipe de enfermagem da pediatria esteja preparada para lidar com esse momento, que seja sensível a dor e a insegurança que as crianças desenvolvem e que cooperem de alguma forma para reduzir o sofrimento.

A figura 1 sintetiza alguns dos aspectos mais relevantes sobre o papel da enfermagem na hospitalização infantil.

(19)

Figura 1 – Papel da enfermagem na hospitalização infantil Fonte: Organizado pelas autoras, 2018.

A análise da figura 1 permite dimensionar o quanto a enfermagem é importante para dirimir as seqüelas da hospitalização infantil, momento sempre tão traumático e sofrido para os envolvidos, sejam as crianças, sejam seus familiares. O tratamento humanizado parece ser a base para que toda a condução terapêutica priorize o cuidado integral à criança.

Todas as ações estão entrelaçadas, desde a perspectiva de dar conforto à criança, que envolve a tentativa de reduzir a dor e o sofrimento e a perspectiva de oferecer alguma qualidade de vida mesmo dentro do hospital, até a possibilidade e necessidade de cuidar da família da criança dando apoio emocional, espiritual e social. A enfermagem, assim, assume um papel determinante no tratamento da criança internada e é, sem dúvida, um dos elementos mais importantes na luta pela recuperação e saúde.

(20)

Journal of Specialist 20 de 21

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A hospitalização infantil é um momento muito difícil e traumático para as crianças e seus familiares. Diante de um novo e inesperado acontecimento como uma doença, as pessoas se vêem repentinamente expostas a situações desconfortáveis, a um ambiente estranho e a quebra da rotina. Em geral, o processo é sofrido para todos os envolvidos.

Do ponto de vista emocional, os sintomas mais comuns durante a internação são o medo, a negação, a ansiedade, a culpa e a raiva. As crianças podem ser afetadas profundamente por esse processo, pois há uma interrupção brusca no seu ritmo de vida, o que as fragiliza e traumatiza. Os pais, por sua vez, sentem-se impotentes, culpados e angustiados com a possibilidade da morte, da perda, da separação. Eles precisam de ajuda, pois, o apoio familiar no tratamento é de suma importância no processo de recuperação.

Compete a enfermagem, dessa maneira, a função de identificar e compreender esse quadro. Mas não apenas. Em um cenário marcado por tantos sentimentos negativos, a enfermagem exerce um papel especial. Ao desenvolver um trabalho humanizado ela consegue tratar, ao mesmo tempo, a criança e seus familiares, dando apoio, respeito, carinho, escuta e solidariedade, além de um trabalho competente.

Este estudo revelou, ainda, que os profissionais da enfermagem devem ter a sensibilidade para reconhecer as especificidades de cada sujeito e de seus quadros clínicos, buscando incluir a criança no próprio processo de tratamento da doença e dando a ela a oportunidade de agir com protagonismo nos cuidados de sua vida.

REFERÊNCIAS

Gomes, G. L. L; Nóbrega, M. M. L. (2015). Ansiedade da hospitalização em crianças: proposta de um diagnóstico de enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem. set - out, p. 963-970.

Monteiro, A. C. M; Rodrigues, B. M. R. D; Pacheco, S. T. A; Pimenta, L. S. (2014). A atuação do enfermeiro junto a criança com câncer: cuidados paliativos. Revista de Enfermagem. UERJ, Rio de Janeiro, Nov/dez. p. 778-783.

(21)

Rossato, A. L; Boer, N. (2002). O impacto emocional da hospitalização em crianças de seis a dez anos. Disciplinarum Scientia. Série: Ciên. Biol. e da Saúde, Santa Maria, v.3, n.1, p. 145-164.

Sanchez, M. L. M; Ebeling, V. L. N. (2011). Internação infantil e sintomas depressivos: intervenção psicológica. Rev. SBPH vol.14 nº 1, Rio de Janeiro - Jan/Jun. p. 186-199.

Santos, P. M; Silva, L. F; Depiante, J. R. B; Cursino, E. G; Ribeiro, C. A. (2016). Os cuidados de enfermagem na percepção da criança hospitalizada. Revista Brasileira de Enfermagem – REBEn (internet). Jul-Ago, p. 646-653.

Schneider, C. M; Medeiros, L. G. (2011). Criança hospitalizada e o impacto emocional gerado nos pais. Unoesc & Ciência – ACHS, Joaçaba, v. 2, n. 2, p. 140-154

Silva, T. P; Leite, J. L; Santos, N. L. P; Silva, I. R; Mendonça, A. C. A; Santos, M. J. C; Silva, L. J. (2013). Cuidados da enfermagem à criança com câncer: uma revisão integrativa da literatura. Ver. Enferm. UFSM. Jan-Abril, p. 68-78.

Sousa, L. D; Gomes, G. C; Silva, M. R. S; Santos, C. P; Silva, B. T. (2011). A família na unidade de pediatria: percepções da equipe de enfermagem acerca da dimensão cuidadora. Ciênc. Enferm. (Internet). Jun. p.87-95. Disponível em: http://www.scielo.cl/pdf/cienf/v17n2/art_10.pdf.

Valverde, D. L. D; Carneiro, M. P. S. R. (2010). O suporte psicológico e a criança hospitalizada: o impacto da hospitalização na criança e em seus familiares.Psicologia PT – O portal dos psicólogos. Disponível em www.psicologia.pt.

Journal of Specialist v.2, n.2, p.21-21, Abr - Jun, 2018

Referências

Documentos relacionados

Para reverter essa situa~ão, o setor tel que se tornar aais eficiente e versátil no trata.ento dos recursos florestais.. Pelas suas características tecnológicas, as quais perlitel

Como já destacado anteriormente, o campus Viamão (campus da última fase de expansão da instituição), possui o mesmo número de grupos de pesquisa que alguns dos campi

ACC CB#36 = American College of Cardiology Conferencia de Bethesda; ESC = Sociedade Europeia de Cardiologia; CMD = cardiomiopatia dilatada; CMV = cardiomiopatia hipertrófica; CAVD

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

Nessa situação temos claramente a relação de tecnovívio apresentado por Dubatti (2012) operando, visto que nessa experiência ambos os atores tra- çam um diálogo que não se dá

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

A prova do ENADE/2011, aplicada aos estudantes da Área de Tecnologia em Redes de Computadores, com duração total de 4 horas, apresentou questões discursivas e de múltipla