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Porto Alegre-RS 2009

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ISSN 1982 6613 Vol. 4, Edição 8, Ano 2009. A CRIATIVIDADE COMO CONDIÇÃO DE SER HUMANO

Ingrid Almeida Veras ingrid.v1@hotmail.com

Porto Alegre-RS 2009

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ISSN 1982 6613 Vol. 4, Edição 8, Ano 2009. A CRIATIVIDADE COMO CONDIÇÃO DE SER HUMANO

Ingrid Almeida Veras1 ingrid.v1@hotmail.com

RESUMO: O ato criador é uma maneira de reformular o mundo e, além do mais, uma forma

de devolvê-lo sintetizado. Isso ocorre no momento em que a apreensão da realidade é considerada o primeiro fato do ato criador. Pois o indivíduo vê o mundo ao seu redor, reformula-o, devolve-o e a partir daí, finca-se nele.

Palavras-Chave: Ato – Criador – Reformula – Mundo – Finca-se.

Conceito

Por que o homem é um ser criativo? Afinal, o que é a criatividade? Mesmo sendo um dos temas mais tratados na história do pensamento humano, e principalmente, na estética, este é um conceito bem difícil de definir. Mas, pode ser possível constatar por meio de um processo pessoal o que venha ser ‘criar’. Sendo assim, nota-se que há uma conexão entre o processo de pensamento e o processo criador. Sem dúvida o processo de pensamento está intrinsecamente ligado à inteligência humana. Para alguns cientistas a inteligência é a capacidade de resolver problemas ou de criar produtos que tenham valor cultural, pode ser também, a capacidade de aprender com a experiência e de se adaptar ao ambiente ao qual cada indivíduo está inserido.

Entretanto, para que a criatividade possa ser exposta é necessário que o homem vivencie diferentes experiências. Pois o ser humano é levado a utilizar seu fantástico raciocínio e intuição nos mais diversos ângulos da vida. Desse modo, a criatividade surge a partir do estado de constante insatisfação e de contínua opção. Não se trata somente de criatividade artística, porém, da criatividade em todo contexto da palavra. Fayga Ostrower (1977), explica que antes da criatividade é importante considerar-se outro aspecto: o da sensibilidade humana.

(...) por se vincular no ser consciente a um fazer intencional e cultural em busca de conteúdos significativos, a sensibilidade se transforma. Torna-se ela mesma faculdade criativa, pois incorpora um princípio configurador

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Bacharel em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail

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ISSN 1982 6613 Vol. 4, Edição 8, Ano 2009. seletivo. Nessa integração que se dá de potencialidades individuais com possibilidades culturais, a criatividade não seria então senão a própria sensibilidade. O criativo do homem se daria ao nível do sensível. (OSTROWER, 1977).

E considera ainda que:

(...) como fenômeno social, a sensibilidade se converteria em criatividade ao ligar-se estreitamente a uma atividade social significativa para o indivíduo. No enfoque simultâneo do consciente, cultural e sensível, qualquer atividade em si poderia tornar-se um criar. (Idem).

Toda criatividade humana transforma-se em elemento cultural, e conseguintemente, pode partir do espírito imaginativo, ou seja, da própria sensibilidade humana. Segundo Cecilia Almeida Salles (1998, p. 2728), “(...) A própria idéia de criação implica desenvolvimento, crescimento e vida; conseqüentemente, não há lugar para metas estabelecidas a priori a alcances mecânicos.”

Por tanto, a criação é movimento! “(...) onde reinam conflitos a apaziguamentos. Um jogo permanente de estabilidade e instabilidade, altamente tensivo. O produto desse processo é uma realidade nova que está permanentemente sendo experienciada e avaliada” pelo ser humano. (Salles, 1998, p. 28).

O fato é que, no mesmo momento em que se pensa em criatividade, se volta também ao pensamento humano. Com isso, pode-se afirmar que o homem é indiscutivelmente um ser criador, pois a criatividade se localiza em cada individuo fazendo parte assim, da sua própria essência, faz-se necessário, porém, encontrá-la no fazer humano. Pois a criatividade não surge simplesmente de uma única vivencia, e sim, a partir de um processo gradativo de vivencias ao longo da vida humana, que com o passar do tempo torna-se potencialmente mais rica, tornando o indivíduo mais capaz de criar, de se projetar, de como fazer e de como exprimir a criatividade dando a ela uma peculiaridade própria para cada ser humano.

Para a autora Salles (1998, p. 156), “o processo de criação, como processo de experimentação no tempo, mostra-se, assim, uma permanente e vasta apreensão de conhecimento.”

Na visão de Ostrower (1977), é possível considerar a “(...) criatividade um potencial inerente ao homem, e a realização desse potencial uma de suas necessidades.” Ostrower segue mais longe quando esclarece que tais “(...) potencialidades e os processos criativos não se restringem, somente, à arte.”

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ISSN 1982 6613 Vol. 4, Edição 8, Ano 2009. onde ao indivíduo parece facultada uma liberdade de ação em amplitude emocional e intelectual inexistente nos outros campos de atividade humana. Não nos parece correta essa visão de criatividade. O criar só pode ser visto num sentido global, como um agir integrado em um viver humano. De fato, criar e viver se interligam. (OSTROWER, 1977, p. 12).

Para o autor a natureza criativa do ser humano se produz no contexto cultural. Pois, (...) todo indivíduo se desenvolve em uma realidade social, em cujas necessidades e valorações culturais se moldam os próprios valores de vida. No indivíduo confrontam-se, por assim dizer, dois pólos de uma mesma relação: a sua criatividade que representa as potencialidades de um ser único, e sua criação que será a realização dessas potencialidades já dentro do quadro de determinada cultura. Assim, é importante considerar os processos criativos na interligação dos dois níveis de existência humana: o nível individual e o nível cultural. (Idem).

Vale lembrar que o homem vive de hábitos. E grande parte da sua vida é habitual. Os hábitos lhe dão coerência e estabilidade, mas não o levam ao ato de ‘inovar’. A vida habitual oferece ao homem a possibilidade de ter uma continuidade em suas atitudes, mas não a inovação. Para que ele se torne inovador, fazem-se necessárias novas matrizes de pensamento. A pessoa altamente criadora é também altamente versátil no pensar. Faz do seu pensamento um contínuo cultivo numa época, como a de hoje, em que pensar é incômodo.

Embora o mundo já ofereça quase tudo pronto, pensado, formalizado, desde aquilo que o individuo deve comer, até aquilo que ele deve usar. Porém, as grandes inovações não surgiram disto. Surgiram exatamente da revolta do próprio individuo e dos processos de conscientização contra o que lhe é habitual.

Nos processos de conscientização do indivíduo, a cultura influencia também a visão de vida de cada um. Orientando seus interesses e suas íntimas aspirações, suas necessidades de afirmação, propondo possíveis ou desejáveis formas de participação social, objetivos e ideais, a cultura orienta o ser sensível ao mesmo tempo em que orienta o ser consciente. Com isso, a sensibilidade do indivíduo é aculturada e por sua vez orienta o fazer e o imaginar individual. Culturalmente seletiva, a sensibilidade guia o indivíduo nas considerações do que para ele seria importante ou necessário para alcançar certas metas na vida. (OSTROWER, 1977).

Pensando assim, os hábitos são o núcleo indispensável da habilidade do comportamento ordenado. Tendem a tornar-se mecanizados e a reduzir o homem à condição de automação condicionada. Pois o ato criador estabelece uma conexão entre dimensões empíricas não relacionadas pelo hábito, com o objeto de atingir um nível mental mais alto. Ou seja, atingir um nível mental mais alto é um ato de libertação. “A criatividade significa a

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ISSN 1982 6613 Vol. 4, Edição 8, Ano 2009. derrota do hábito pela originalidade.” (KOESTLER, 1964).

Como nem toda a criatividade está determinantemente ligada às artes, é importante lembrar que há a criatividade do humor, a criatividade da arte e a criatividade científica. A criatividade está na aplicação do que se descobriu a partir de alguma necessidade. E para se chegar à descoberta nem tudo é feito ao acaso. O importante não é o fato de se desvendar algo, mas o de saber como fazer uso de tal descoberta.

Ostrower (1977), explica que:

Quando se configura algo e se o define, surgem novas alternativas. Essa visão nos permite entender que o processo de criar incorpora um princípio dialético. É um processo contínuo que se regenera por si mesmo e onde o ampliar e o delimitar representam aspectos concomitantes, aspectos que se encontram em oposição e tensa unificação. A cada etapa, o delimitar participa do ampliar. Há um fechamento, uma absorção de circunstâncias anteriores, e, a partir do que anteriormente fora definido e delimitado, se dá uma nova abertura. Da definição que ocorreu, nascem as possibilidades de diversificação. Cada decisão que se toma representa assim um ponto de partida, num processo de transformação que está sempre recriando o impulso que o criou.

E o potencial criador pode ser elaborado a partir de múltiplos níveis da essência do homem que se encontra no

(...) ser sensível-cultural-consciente, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se e as vivências podem integrar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, se amplia.

O ato criador é uma maneira de reformular o mundo e, além do mais, uma forma de devolvê-lo sintetizado. Isso ocorre no momento em que a apreensão da realidade é considerada o primeiro fato do ato criador. Pois o indivíduo vê o mundo ao seu redor, reformula-o, devolve-o e a partir daí, finca-se nele.

Na mesma ordem de pensamento, entendemos o fazer e o configurar do homem como atuações de caráter simbólico. Toda forma é forma de comunicação ao mesmo tempo em que forma de realização. Ela corresponde, ainda, a aspectos expressivos de um desenvolvimento interior na pessoa, refletindo processos de crescimento e de maturação cujos níveis integrativos consideramos indispensáveis para a realização das potencialidades criativas. Aos processos de maturação se vinculam, por sua vez, a espontaneidade e a liberdade no criar. (OSTROWER, 1977).

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ISSN 1982 6613 Vol. 4, Edição 8, Ano 2009. mais profundo, tem como uma das premissas a percepção consciente. Também reconhece que há teorias que falam exatamente o oposto, pois vê no consciente um fator negativo para a criação, dado sua eventual tendência de reprimir a criatividade espontânea. Nesse caso, e em época atual, o consciente está sendo reprimido, manipulado, massificado, enrijecido, altamente racionalizado, vivendo em um meio cultural que em sua filosofia de vida é racionalista e reducionista, com mínima capacidade de criar. Entretanto, Ostrower considera essa consciência, repressiva e esmagadora, como uma deformação do consciente.

Há muito, o ser humano vive alienado de si mesmo. As riquezas materiais, os conhecimentos sobre o mundo e os meios técnicos de que hoje se dispõe, em pouco alteraram essa condição humana. Ao contrário, o homem contemporâneo, colocado diante das múltiplas funções que deve exercer pressionado por múltiplas exigências, bombardeado por um fluxo ininterrupto de informações contraditórias, em aceleração crescente que quase ultrapassa o ritmo orgânico de sua vida, em vez de se integrar como ser individual e ser social, sofre um processo de desintegração. Aliena-se de si, de seu trabalho, de suas possibilidades, de criar e de realizar em sua vida conteúdos mais humanos. (OSTROWER, 1977).

Dessa forma, o ato de criação traz a partir da necessidade, a possibilidade de entrar neste movimento criador, e que tal movimento desencadeia na subjetividade humana uma vontade potencializadora de superar a alienação imposta pelo poder opressor. Tornando assim a condição de ser humano, num desenvolvimento concreto a partir da experiência ao qual o sujeito vai se constituindo. Permitindo ao sujeito a aceitação de ser um ser criador, e, devolvendo-lhe a consciência de sua própria e autentica criatividade para daí aceitar a sua condição de ser humano.

REFERÊNCIAS

ESCHER, M. C. Liberation I. Disponível em: http://cognoscomm.com/mm/M.C.Escher-LiberationI.jpg. Acesso em: 14/12/2008. (Imagem – Marca D’água).

SALLES, Cecilia Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: Annablume, 1998.

KOESTLER, A. The act of creation. London: Pan Books, 1964.

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