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Influência da expertise musical sobre julgamentos de performances pianísticas em diferentes contextos

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Academic year: 2021

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Ramos, Danilo et al. 2012. “Influência da expertise musical sobre julgamentos de performances pi-anísticas em diferentes contextos.” In Anais do 8º Simpósio de Comunicações e Artes Musicais, editado por Maurício Dottori, 297–302. Florianópolis: Universidade do Estado de Santa Catarina.

de performances pianísticas em diferentes contextos

Danilo Ramos,

1

Wilson Dittrich Filho,

2

Marcio Giacomin Pinho,

3

Solange Bueno,

4

Leila Monarim

5

Departamento de Artes, Universidade Federal do Paraná

1

danramosnilo@gmail.com,

2

wilsondittrich@gmail.com,

3

mgpinho@hotmail.com,

4

bueno_solange@hotmail.com,

5

leilamonarin@gmail.com Resumo:

A expertise é adquirida com horas de estudo. Porém, experts em performance pianística tendem a reconhecer performances de qualidade. O propósito desta pesquisa é avaliar se experts reconhecem uma boa performance. Nove gravações, sendo 3 MIDI, 3 de alunos e 3 de professores/pianistas foram analisadas por três categorias de ouvintes: leigos, alunos e professores de piano. Os resultados mos-traram que os professores utilizaram um repertório maior de critérios técnicos do que os outros grupos. Outro resultado significativo foi em relação às altas notas atribuídas às performances MIDI, sendo que para o grupo de leigos, tais performances foram as mais altas entre as apresentadas.

Palavras-chave:

expertise musical; performance musical; avaliação em música

Introdução e objetivos

A análise de performances é um tema estudado há bastante tempo, com vários enfoques diferentes. Em específico, quanto às análises realizadas por avaliadores com graus de ex-pertise diversos, a literatura mostra que os estudos muitas vezes obtêm resultados oscilantes. Alguns autores não encontram diferenças significativas em análises feitas por especialistas e leigos (Mills 1987) enquanto outros apontam diferenças entre elas (Byo e Brooks 1997; Fiske 1977). Em relação à performance pianística, Wapnick et al. (1993) não encontraram diferenças de análise realizadas por professores e estudantes de piano.

O citado estudo de Wapnick et al. (1993) trata de percepções de preferência musical de trechos diferentes de uma mesma música num experimento com 80 participantes que ouviram 21 trechos da obra Totentanz de Liszt, sendo 7 interpretações distintas do mesmo trecho. Metade dos participantes ouviram trechos lentos e a outra metade, rápidos, e eles deveriam indicar quais dos dois trechos preferiam (ou se preferiam os dois). Os resultados mostraram que os participantes foram mais inconsistentes nas avaliações dos trechos lentos que nos rápidos. Porém, esta consistência independia da experiência pianística dos participantes.

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Entretanto, são raros os estudos que relacionam diretamente os critérios de análise ao tempo de estudo em música, bem como estudos que relacionam gravações MIDI entre as performances, apesar deste tipo de gravação ser cada vez mais utilizada nos meios de co-municação atualmente.

Acerca do que seriam tais critérios técnicos e complexos, os estudos em Cognição Mu-sical sugerem uma lista de elementos que pode dar conta de explicar o quê seria uma boa interpretação pianística em uma obra barroca. Neste sentido, como elementos inerentes à boa interpretação desta obra e do período em que ela está incluída, os autores Magalhães (1988, 127) e Harnouncourt (1988, 19) estabeleceram os seguintes critérios: a) estabilização do andamento de um Menuet; b) estabilização do ritmo de um Menuet, c) onde e quando fazer a agógica na obra executada, d) dinâmica e direcionamento sonoro para a realização de início, meio e fim de frases e períodos; e) equilíbrio entre a sonoridade da mão direita e esquerda; f) hierarquia dos vários planos harmônicos e melódicos; g) escolha das articu-lações entre o legato, non legato e staccato; h) o pedal como suporte para a ênfase de de-terminados aspectos de dinâmica, de cor para cada nota; e i) a escolha dos ornamentos e a sua execução conforme diretrizes do período.

A hipótese principal do presente estudo é a de que as avaliações em relação às gravações MIDI sejam as mais baixas, seguidas pelos alunos e depois pelos concertistas. Espera-se que os leigos utilizem critérios subjetivos em suas análises, que os alunos sejam mais téc-nicos e que os professores utilizem prioritariamente critérios mais complexos e téctéc-nicos.

O período barroco em especial foi o escolhido porque a idéia era a de selecionar uma música que fosse bem familiar a todos os públicos que seriam pesquisados, ou seja, aos leigos, alunos e professores de piano. Por isso a escolha do Minueto em Sol Maior de J. S. Bach, BWV Anh. 114.

Assim, o objetivo deste estudo é entender como leigos, alunos de música e professores realizam as análises de performances musicais, incluindo, dentre as performances avaliadas, músicas realizadas inteiramente de forma digital, através de execução de uma partitura por um instrumento MIDI.

Materiais e métodos

Participantes: fizeram parte do experimento 45 participantes maiores de 18 anos, di-vididos em 3 grupos: 15 participantes sem nenhum tipo de estudo de música (leigos), 15 participantes alunos de curso de graduação em piano e 15 participantes professores uni-versitários de piano. Todos os participantes eram residentes na cidade de Curitiba, Paraná.

Material e equipamento: para as gravações foram utilizados um piano da marca Es-senfelder, modelo vertical residencial e um estúdio portátil digital BOSS MICRO-BR. As avaliações foram feitas individualmente com fones de ouvido ligados em aparelhos de som portáteis onde os participantes ouviam as faixas gravadas. Os experimentos foram reali-zados em salas brancas, onde os participantes preenchiam formulários divididos em 3 par-tes.

Material musical: foram preparadas 9 faixas contendo as partes A e B (sem repetição) do Minuto em Sol Maior de J. S. Bach BWV Anh. 114 ao piano, sendo que, destas, 3 faixas foram gravadas por professores / concertistas atuantes da cidade de Curitiba; 3 gravadas por alunos maiores de dezesseis anos e com 4 a 6 anos de estudo de piano; e 3 faixas MIDI,

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preparadas somente com as notas escritas na partitura, sem variações de pulso, dinâmica, fraseados ou qualquer outro elemento estético.

Procedimento: numa primeira etapa, foram realizadas gravações com 6 pianistas, sendo 3 concertistas e 3 alunos com experiência de 3 a 5 anos de estudo do instrumento. Nesta etapa, os pianistas foram contatados através de telefonemas e, no horário agendado, chegavam ao ambiente de gravação, experimentavam o piano e gravavam quantas vezes achassem necessário até que se satisfizessem com uma das versões. Além disso, foram pre-paradas 3 faixas MIDI, através do programa Finale 2.0, somente com as notas escritas na partitura original, sem indicações de dinâmica, fraseado e ornamentação. Com as faixas prontas, estas foram gravadas de forma aleatória em 45 discos, enumerados para que o controle dos mesmos fosse adequado. Na segunda etapa, (aplicação do experimento), o participante entrava na sala, recebia as instruções do aplicador do teste juntamente com o formulário. O participante então, colocava o fone de ouvido e escutava um dos discos, com as 9 (nove) faixas em sequencia aleatória e preenchia a primeira parte do formulário na qual ele dava notas de acordo com o seu grau de satisfação para cada gravação. Seguida-mente, aós escolher 3 das faixas (uma com nota alta, outra média e outra baixa), o parti-cipante ouvia novamente as gravações escolhidas e justificava sua nota para cada uma delas na segunda parte do formulário. Por último, o participante deveria responder algumas questões relacionadas ao experimento, e à sua trajetória como músico e/ou aluno se fosse o caso.

Análise de dados: foi aplicado o teste ANOVA para comparar as médias das avaliações entre os 3 grupos e posteriormente o post-hoc Newman-Keubs para uma análise pareada entre as médias dos grupos. O delineamento experimental empregado foi 3 x (grupos de participantes - profissionais x leigos x alunos) e 3 x gravações (por experts, por alunos e MIDI).

Resultados

A Figura 1 (na próxima página) representa as médias de julgamento das avaliações dadas por leigos, alunos e professores para cada um dos grupos (alunos, experts e MIDI). O teste ANOVA indicou diferenças nas avaliações entre os grupos, independentemente das performances avaliadas (F=9,616; p= 0,000168); mostrou também diferenças das ava-liações entre os 3 tipos de performance independentemente do grupo de ouvintes (F=16,181; p=0,000001); e apresentou uma interação entre os grupos de ouvintes e os tipos de performances avaliadas (F=3,42; p=0,01). O post-hoc Newman-Keuls mostrou que, para o grupo de leigos, as médias das avaliações das performances MIDI foi maior que as atri-buídas pelos alunos e professores. As performances dos alunos também foram mais valo-rizadas pelos leigos e as performances dos experts foram equivalentemente altas em todos os grupos. Outro resultado diz respeito aos julgamentos realizados por alunos e professores, que foi praticamente o mesmo. Numa análise interna de cada grupo, realizada através do teste post-hoc Newman-Keuls, foi possível verificar que os leigos avaliaram as performances MIDI com scores mais altos que as execuções feitas por alunos (p=0,02156) e experts (p=0,029201), e que não houve diferença entre as performances de alunos e experts. Os resultados mostram que os alunos, em suas avaliações, consideraram as performances MIDI equivalentes às performances de alunos e às de experts, e indicam ainda que experts

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foram avaliados com scores mais altos que alunos (p=0,001754). As análises dos dados dos professores indicam que as performances MIDI foram avaliadas com scores mais altos que as execuções de alunos (p=0,027667); experts foram avaliados com scores mais altos que alunos (p=0,000377) e os scores dados aos experts foram equiparados ao scores dados às gravações MIDI.

Figura 1.1 — gráficos que representam as médias dos julgamentos dados por cada grupo de participante (leigos, alunos e professores)

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Discussão

Conforme foi visto, as notas dadas por alunos e professores não tiveram diferenças es-tatísticas significativas, o que corrobora outros estudos feitos com análise de performance como em Hewitt e Smith (2004). Porém houve diferenças nas avaliações feitas pelos leigos e os dois outros grupos (alunos e professores).

Ao analisar-se os questionários respondidos no experimento no tocante aos critérios utilizados para os julgamentos, percebe-se que a maioria dos professores levou em consi-deração muitos dos elementos que integram a citada lista elaborada através da bibliografia sobre o que seria uma boa performance. Os itens mais citados foram sonoridade, equilíbrio, fraseado, utilização de dinâmicas e ornamentação barroca devida, conforme pode-se ob-servar nos exemplos abaixo transcritos extraídos dos questionários:

“Andamento mais calmo, o que permite maior clareza na ornamentação. Boa regularidade rítmica. Existe direção no fraseado, há expressão musical maior. A execução está de acordo com os parâmetros de interpretação presentes no estilo barroco, mais precisa-mente na obra de Bach.” (professor tratando de uma performance de um concertista) “Problema rítmico entre as partes A e B, leve descontrôle (sic) no ornamento no final da

parte A, nota errada. Se o intérprete for um novato na obra de Bach poderia ser conside-rada uma excelente execução. Não diferenciou os toques, ou seja, não inovou nos toques e articulação.” (professores ao justificar nota dada a uma faixa executada por aluno)

Já os alunos não utilizaram tantos critérios técnicos, sendo que a maioria citou apenas o andamento e as ornamentações, como, por exemplo, neste depoimento de um aluno ao tratar de uma performance de um expert: “Apesar de não ser totalmente satisfatória, gostei mais dessa execução pela clareza com que foi tocada, especialmente os ornamentos. O an-damento também estava ideal, e o toque não estava tão ‘batido’, como em outras faixas.”

Ou este outro aluno, que ao tratar de uma faixa MIDI, justifica sua nota da seguinte maneira: “Marcação rítmica muito ‘quadrada’, falta ornamentações características da peça, pouca clareza nas articulações.”

Os leigos basearam-se principalmente na agradabilidade, e na segurança do intérprete, como é possível observar nas seguintes justificativas: “O som saiu mais limpo, mas não senti segurança no tocar.” (leigo ao justificar nota dada à faixa MIDI). Ou ainda: “Preferi esta faixa pois o ritmo estava mais suave. O compasso musical pareceu mais contínuo, fa-zendo com que desse vontade de ouvir mais vezes.” (leigo ao justificar a nota atribuída a uma faixa executada por um concertista).

Dessa forma, a hipótese inicial do estudo foi parcialmente corroborada, já que pode-se perceber que professores, alunos e leigos, utilizaram critérios diferentes para as avalia-ções, conforme o tempo de estudo em música. Este contínuo estudo confirma a existência de vários padrões de audição. Segundo Levitin ”quando ouvimos música, estamos perce-bendo sete atributos ou dimensões diferentes: altura, ritmo, andamento, contorno, timbre, volume e localização espacial“ (Ilari 2006, 26).

Entretanto, as gravações MIDI não obtiveram as piores notas para todos os grupos, sendo mais bem avaliadas que as gravações dos alunos por professores, tendo sido equi-paradas aos concertistas por alunos e professores, sendo a melhor avaliada pelos leigos.

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Pode-se inferir que as notas altas das gravações MIDI sejam resultado, dentre outras coisas: a) da audição de música com grande taxa de compressão, como por exemplo, nos arquivos de formato MP3, cuja conseqüência é a perda de variações dinâmicas, timbrísticas, e talvez até da própria individualidade da performance do intérprete como um todo; b) da escuta através de fones ou alto-falantes de qualidade não profissional, o que contribui para a perda do referencial de boas performances; c) da utilização cada vez maior de gravações MIDI pela indústria cultural, em especial no rádio e na TV; d) do uso da mesma pulsação e métrica nas músicas produzidas pela indústria, que faz com que o uso da agógica (fluidez rítmica) na música não seja algo natural ao ouvinte moderno.

Assim, sugere-se a elaboração de novos estudos acerca do tema, principalmente com a inserção de faixas MIDI, para uma avaliação mais profunda acerca de como são avaliadas performances musicais que utilizam novos meios de reprodução atuais.

Referências

Byo, J. L., e Brooks, R. 1994. “A comparison of junior high musicians’ and music educators’ perform-ance evaluations of instrumental music”. Contributions to Music Education 21: 26-38.

Fiske, H. E. 1997. “Relationship of selected factors in trumpet performance adjudication”. Journal of Research in Music Education 25: 256-263.

Harnoncourt, N. 1988. O Discurso dos sons. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Hewitt, M. P., and Smith, B. P. 2004. “The Influence of Teaching-Career Level and Primary Perform-ance Instrument on the Assessment of Music PerformPerform-ance”. Journal of Research in Music Educa-tion 4: 314-27.

Ilari, B.S. (org.) 2006. Em Busca da Mente Musical. Curitiba: Ed. UFPR. Magalhães, H. de. 1988. Bach, Prelúdios e Fugas. São Paulo: Novas Metas.

Mills, J. 1987. “Assessment of solo musical performance: A preliminary study”. Bulletin of the Council for Research in Music Education 91: 119-125.

Wapnick, J., Flowers, P., Alegant, M., and Jasinskas, L. 1993. “Consistency in piano performance eval-uation”. Journal of Research in Music Education 41: 282-292.

Referências

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