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Rami, uma cultura em extinção

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Academic year: 2021

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Rami, uma cultura em extinção

O rami é uma cultura permanente com duração de cerca de 20 anos. No entanto, uma lavoura média produz cerca de nove anos, contando a partir do segundo ano, com máximos rendimentos entre as idades de três a cinco anos, depois dos quais entra em processos de rendimentos decrescentes.

Podem ser feitos até 4 cortes anuais. A colheita é realizada em 2 ou 3 semanas, após este período as fibras perdem o teor de qualidade. A qualidade e o rendimento de fibra, por sua vez, dependem do corte, da variedade da planta e de fatores climáticos.

A fibra do rami, pertencente à família das fibras longas, tem em média 150 a 200 milímetros de comprimento, a exemplo do linho, juta, sisal e cânhamo. Apresenta alta resistência, sendo considerada três vezes superior à do cânhamo, quatro vezes à do linho e oito vezes à do algodão.

O processo de beneficiamento é constituído da descorticagem e da desgoma. A primeira etapa é feita ainda no campo, através de máquinas desfibradoras ou descorticadoras, sendo as mais utilizadas conhecidas como piriquitos, que separam as cascas das hastes. Já a desgomagem é feita nas indústrias via processos químicos.

Em termos de processo produtivo, esta cultura apresenta baixo padrão tecnológico, sendo bastante intensiva no uso da mão-de-obra, da qual exige muito esforço físico. Além disso, a máquina piriquito utilizada na sua descorticagem é perigosa e ineficiente, redundando na alta incidência de acidentes de trabalho.

- utilização

• O rami pode ser utilizado em diversos segmentos: fabricação de tecidos, cordas e barbantes, como também pode gerar a celulose para a produção de papel moeda, devido à sua resistência. Além disso pode ser empregada na fabricação de mangueiras, pneus, fios de pára-quedas, etc.

Tecidos

O rami é mais abrasivo que o linho, de forma que os tecidos são mais ásperos e menos agradáveis ao uso, embora essas características possam ser bastante minimizadas através de processos de acabamento e/ou misturas com algumas fibras sintéticas.

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Apesar dessas características, os tecidos são facilmente laváveis, apresentando grande vantagem na retenção de corantes quando comparado a qualquer outra fibra vegetal. Além disso, seu emprego é extremamente adequado nos países de clima quente, como o Brasil.

Os tecidos de rami têm boa aceitação no mercado, podendo ser considerados como um produto substituto muito próximo do linho, com a vantagem ser relativamente mais barato.

Em geral, é vendido ao consumidor final como se fosse linho ou com o nome de “linho rami”, pois, dificílmente as pessoas conseguem distinguir o rami do linho, seja sob a forma de roupa pronta ou de tecido para ser confeccionado.

- aspectos econômicos

Apesar da queda substancial da produção de rami, o Brasil ainda é o terceiro maior produtor mundial, atrás apenas da China e das Filipinas.

A cultura do rami está totalmente concentrada no Paraná, principalmente no município de Londrina. Essa região reflete todo o panorama da cultura do rami no Brasil, de forma que todos os índices de área e produtividade nacionais desse cultivo são devidos à plantação de rami realizada no Paraná.

O número de produtores no município de Londrina gira em torno de 130, sendo fundamentalmente compostos por pequenos produtores, com uma área média de 15 hectares, aproximadamente.

A produção nacional que já atingiu 54.599 toneladas em 1972, passou para 4.970 toneladas na safra 95/96, apresentando uma queda bruta de 91% neste período.

Neste mesmo período, a área plantada reduziu de 23.099 hectares em 1972, para apenas 2.550hectares na safra 1995/96.

tabela 1 Brasil:Principais Indicadores Anos Área (ha) % em relação a 1972 Produção (t) % em relação a 1972 1970 19.211 (16,8) 47.691 (12,7) 1971 22.749 (1,5) 53.941 (1,2) 1972 23.099 - 54.599 - 1973 26.725 15,7 44.418 (18,6) 1974 16.770 (27,4) 35.790 (34,4) 1975 12.360 (46,5) 23.780 (56,4)

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1976 9.675 (58,1) 18.500 (66,1) 1977 8.200 (64,5) 14.020 (74,3) 1978 6.400 (72,3) 7.220 (86,8) 1979 6.350 (72,5) 8.980 (83,6) 1980 7.016 (69,6) 17.283 (68,3) 1981 7.325 (68,3) 10.259 (81,2) 1982 968 (95,8) 9.657 (82,3) 1983 4.670 (79,8) 9.583 (82,4) 1984 4.495 (80,5) 9.625 (82,4) 1985 4.887 (78,8) 10.004 (81,7) 1986 5.530 (76,1) 7.000 (87,2) 1987 7.100 (69,3) 15.500 (71,6) 1988 8.162 (64,7) 19.060 (65,1) 1989 8.030 (65,2) 9.193 (83,2) 1990 7.139 (69,1) 10.183 (81,3) 1991 5.559 (75,9) 7.999 (85,3) 1992 5.224 (77,4) 6.955 (87,3) 1993 4.696 (79,7) 7.079 (87,0) 1994 3.482 (84,9) 3.992 (92,7) 1995 2.913 (87,4) 2.922 (94,6) 1996 2.550 (89,0) 4.970 (90,9) Fonte: Secretaria de Agricultura do Paraná

A previsão para a safra de 1996/97 é desalentadora, com redução de todos os indicadores, sendo:

• queda de 29% da área plantada (1800 hectares)

• queda de 20% a 30% da produção (3500 a 3900 toneladas)

Estes índices mostram que está cultura esta sendo praticamente erradicada do Brasil.

O gráfico a seguir mostra o comportamento da produção e consumo a partir de 1970.

Gráfico..

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0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 Consumo Produção

Fonte: Carta Têxtil - Jun/96

mil toneladas

Em 1984, a crise do setor foi interrompida tendo em vista o aumento da demanda mundial e o acréscimo dos preços internacionais. Em conseqüência, a produção local aumentou e o Brasil passou a ser exportador, segundo a Secretaria de Agricultura do Paraná.

Em 1988, a demanda mundial voltou a cair e os preços internacionais despencaram contribuindo para um completo descolamento da produção nacional vis-a-vis ao consumo, ou seja, a produção caindo acentuadamente, as importações crescendo e o consumo apresentando ligeira recuperação, principalmente no período 1990/93.

Outro fator que corroborou para a desestruturação deste segmento, foi o processo de abertura do mercado interno, face à redução das alíquotas de importação dos produtos do setor têxtil.

As indústrias locais sentem a concorrência dos produtores asiáticos, sobretudo da Coréia e da China, como em outros segmentos da cadeia têxtil. Ressalte-se também que está ocorrendo uma mudança na sua utilização: de fios mais rústicos (sacarias, cordas) para fios mais nobres (tecidos).

Em conseqüência, a crise deste setor afetou profundamente as empresas que fazem o beneficiamento do rami, a exemplo da Toyo Sen-I do Brasil, Itimura Têxtil e Carambeí - Indústria Têxtil Ltda que são as maiores empresas que atuam neste segmento.

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F Carambeí - Indústria Têxtil Ltda: é a maior empresa consumidora de rami

para tecidos. Está trabalhando com apenas 33% da capacidade instalada, pois, no pico produzia cerca de 3600 toneladas/ano e hoje foi reduzida a apenas 1200 toneladas/ano.

F Itimura Têxtil: anteriormente produzia sacaria para produtos agrícolas,

sendo um deles o algodão. A queda da produção de algodão afetou negativamente a demanda de sacarias, sendo um dos fatores que determinaram o fechamento da unidade industrial. Atualmente ficaram apenas com o plantio do rami.

F Toyo Sen-I do Brasil: de capital japonês, atua no segmento de tops e

alvejado penteado. Chegou a processar 500 toneladas mensais de rami bruto, vem operando com menos de 100 toneladas mensais. Apresenta sérios riscos de sair do mercado.

Ressalte-se que a Barbero e a Fama que fabricam tecidos de linho também produzem tecidos de rami.

- Conclusão

O cultivo de rami encontra-se numa situação bastante delicada, pois, a baixa demanda do produto tem provocado o abandono das lavouras, até mesmo a produção no campo, sendo poucos os produtores que estão colhendo e estocando suas safras, e conseqüentemente, elevando o desemprego.

Os produtores ainda continuam nesta atividade porque o rami é uma cultura difícil de ser erradicada, pois os rizomas permanecem no solo, dificultando o preparo da terra para outras lavouras.

Em resumo, os principais problemas enfrentados pelo setor dizem respeito fundamentalmente a:

ü baixa qualidade das fibras; ü monocultura;

ü baixa competitividade do rami, comparado às outras culturas; ü defasagem tecnológica; e;

ü tendência de queda da produção.

Os principais problemas relativos a mão-de-obra são: ü condições precárias de trabalho;

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ü processos altamentes demandantes de esforço físico; ü mão-de-obra volante, sem vínculo empregatício; ü elevadas taxas de acidentes de trabalho;

As principais justificativas apontadas para a redução desta cultura no Brasil, são:

þ

os produtos chineses são colocados no País a preços inferiores ao custo de produção local. Ressalte-se que além dos baixos salários pagos na China, esta cultura é altamente subsidiada em virtude de ser grande demandadora de mão-de-obra, contribuindo dessa forma para o aumento da produção chinesa.

þ

diferença entre os custos financeiros interno e externo, facilitando as importações de fibra, fios e tecidos através de financiamentos a prazos superiores a 180 dias, ao passo que o prazo médio das compras internas é praticamente à vista.

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Concluindo, as perspectivas para a retomada da produção são ainda muito obscuras. Permanecendo a situação reinante ceteris-paribus, no limite, em alguns anos haverá a erradicação da cultura do rami no país.

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Vale ressaltar que, considerando um preço médio de US$ 1,02/kg em 1995, o valor da produção atual está orçada em apenas US$ 5 milhões.

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