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Saneamento Básico. Semestre: Períodos: 6 e 7 Disciplina: Desenvolvimento Sustentável Professora: Saraí Araujo Alves ROTEIRO DE ESTUDO 09:

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Semestre: 2019.1 Períodos: 6° e 7°

Disciplina: Desenvolvimento Sustentável Professora: Saraí Araujo Alves

ROTEIRO DE ESTUDO 09:

Obs.: O presente roteiro NÃO SUBSTITUI o estudo da lei e da jurisprudência sobre a matéria, nem da bibliografia sugerida pela Coordenação da Graduação de Direito.

Saneamento Básico

A efetivação do serviço público de saneamento básico para todo o povo brasileiro é um desafio que o Poder Público ainda levará décadas para alcançar. Em nosso país, considerável parcela da população ainda não tem sequer uma rede de esgotamento sanitário e água potável disponível em sua residência.

De acordo com o sítio Planeta Sustentável, em notícia divulgada em maio de 2009, com base em pesquisa perpetrada pelo Instituto Trata Brasil entre os anos de 2003 e 2007, “a população brasileira produz, em média, 8,4 bilhões de litros de esgoto por dia. Desse total, 5,4 bilhões não recebem nenhum tratamento, ou seja, apenas 36% do esgoto gerado nas cidades do país é tratado. O restante é

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2 despejado sem nenhum cuidado no meio ambiente, contaminando solo, rios, mananciais e praias do país inteiro, sem contar nos danos diretos que esse tipo de prática causa à saúde da população”.

Para tentar melhorar essa situação, a União promulgou a Lei 11.445, de 05 de janeiro de 2007, que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a Política Federal de Saneamento Básico, sendo regulamentada pelo Decreto presidencial 7.217/2010.

Vale frisar que, nos termos do artigo 21, XX, da Constituição de 1988, é competência material da União instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos, bem como é competência comum entre todas as pessoas políticas promover o saneamento básico (artigo 23, IX, da Lei Maior).

Em termos legais, o saneamento básico compreende:

a) Abastecimento de água potável (da captação às ligações prediais);

b) Esgotamento sanitário, consistente na coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários (das ligações prediais até o lançamento final no ambiente);

c) Limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, consistente nas atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas.

d) Drenagem e manejo das águas pluviais urbanas, limpeza e fiscalização preventiva das respectivas redes urbanas.

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3 Vale frisar que os recursos hídricos não integram os serviços públicos de

saneamento básico, tendo regramento próprio dado pela Lei 9.433/1977, que

estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos.

Outrossim, não integram os serviços públicos de saneamento básico as ações nas área executadas por meio de soluções individuais (desde que o usuário não dependa de terceiros para operar os serviços) e as ações de responsabilidade

privada, inclusive o manejo de resíduos de responsabilidade do gerador.

Compete aos demais entes políticos a aprovação de leis sobre o saneamento básico no âmbito regional e local, pois todos têm a missão constitucional de efetivar esse serviço público, observando a normatização geral da União, o que já foi feito na Bahia com a promulgação da Lei Estadual n° 11.172/2008, que instituiu a Política Estadual de Saneamento Básico.

Vale frisar que o STF declarou a inconstitucionalidade de lei editada estadual no julgamento da ADI 1842, ajuizada pelo Partido Democrata Trabalhista, que questionou normas do estado do Rio de Janeiro que tratam da criação de região metropolitana do Rio de Janeiro e da microrregião dos Lagos e disciplinam a administração de serviços públicos.

O ponto central discutido foi a avaliação de legitimidade das disposições normativas ao instituir região metropolitana do Rio de Janeiro e a microrregião dos Lagos (Lei Complementar 87/89) transferindo do âmbito municipal para o âmbito estadual competências administrativas e normativas próprias dos municípios, que dizem respeito aos serviços de saneamento básico (Lei estadual 2.869/97), disposição invalidada pelo STF, pois deve haver compartilhamento do poder decisório entre o estado instituidor e os municípios que os integram, sem que se exijam uma participação paritária relativamente a qualquer um deles:

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Ação direta de inconstitucionalidade. Instituição de região metropolitana e competência para saneamento básico. Ação direta de inconstitucionalidade contra Lei Complementar n. 87/1997, Lei n. 2.869/1997 e Decreto n. 24.631/1998, todos do Estado do Rio de Janeiro, que instituem a Região Metropolitana do Rio de Janeiro e a Microrregião dos Lagos e transferem a titularidade do poder concedente para prestação de serviços públicos de interesse metropolitano ao Estado do Rio de Janeiro. 2. Preliminares de inépcia da inicial e prejuízo. Rejeitada a preliminar de inépcia da inicial e acolhido parcialmente o prejuízo em relação aos arts. 1º, caput e § 1º; 2º, caput; 4º, caput e incisos I a VII; 11, caput e incisos I a VI; e 12 da LC 87/1997/RJ, porquanto alterados substancialmente. 3. Autonomia municipal e integração metropolitana. A Constituição Federal conferiu ênfase à autonomia municipal ao mencionar os municípios como integrantes do sistema federativo (art. 1º da CF/1988) e ao fixá-la junto com os estados e o Distrito Federal (art. 18 da CF/1988). A essência da autonomia municipal contém primordialmente (i) autoadministração, que implica capacidade decisória quanto aos interesses locais, sem delegação ou aprovação hierárquica; e (ii) autogoverno, que determina a eleição do chefe do Poder Executivo e dos representantes no Legislativo. O interesse comum e a compulsoriedade da integração metropolitana não são incompatíveis com a autonomia municipal. O mencionado interesse comum não é comum apenas aos municípios envolvidos, mas ao Estado e aos municípios do agrupamento urbano. O caráter compulsório da participação deles em regiões metropolitanas, microrregiões e aglomerações urbanas já foi acolhido pelo Pleno do STF (ADI 1841/RJ, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 20.9.2002; ADI 796/ES, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ 17.12.1999). O interesse comum inclui funções públicas e serviços que atendam a mais de um município, assim como os que, restritos ao território de um deles, sejam de algum modo dependentes, concorrentes, confluentes ou integrados de funções públicas, bem como serviços supramunicipais. 4. Aglomerações urbanas e saneamento básico. O art. 23, IX, da Constituição Federal conferiu competência comum à União, aos estados e aos municípios para promover a melhoria das condições de saneamento básico. Nada obstante a competência municipal do poder concedente do serviço público de saneamento básico, o alto custo e o monopólio natural do serviço, além da existência de várias etapas – como captação, tratamento, adução, reserva, distribuição de água e o recolhimento, condução e disposição final de esgoto – que comumente ultrapassam os limites territoriais de um município, indicam a existência de interesse comum do serviço de saneamento básico. A função pública do saneamento básico frequentemente extrapola o interesse local e passa a ter natureza de interesse comum no caso de instituição de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, nos termos do art. 25, § 3º, da Constituição Federal. Para o adequado atendimento do interesse comum, a integração municipal do serviço de saneamento básico pode ocorrer tanto voluntariamente, por meio de gestão associada, empregando convênios de cooperação ou consórcios públicos, consoante o arts. 3º, II, e 24 da Lei Federal 11.445/2007 e o art. 241 da Constituição Federal, como compulsoriamente, nos termos em que prevista na lei complementar estadual que institui as aglomerações urbanas. A instituição de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas ou microrregiões pode vincular a participação de municípios limítrofes, com o objetivo de executar e planejar a função pública do saneamento básico, seja para atender adequadamente às exigências de higiene e saúde pública, seja para dar viabilidade econômica e técnica aos municípios menos favorecidos. Repita-se que este caráter compulsório da integração metropolitana não esvazia a autonomia municipal. 5. Inconstitucionalidade da transferência ao estado-membro do poder concedente de funções e serviços públicos de interesse comum. O estabelecimento de região metropolitana não significa simples transferência de competências para o estado. O interesse comum é muito mais que a soma de cada interesse local envolvido, pois a má condução da função de

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saneamento básico por apenas um município pode colocar em risco todo o esforço do conjunto, além das consequências para a saúde pública de toda a região. O parâmetro para aferição da constitucionalidade reside no respeito à divisão de responsabilidades entre municípios e estado. É necessário evitar que o poder decisório e o poder concedente se concentrem nas mãos de um único ente para preservação do autogoverno e da autoadministração dos municípios. Reconhecimento do poder concedente e da titularidade do serviço ao colegiado formado pelos municípios e pelo estado federado. A participação dos entes nesse colegiado não necessita de ser paritária, desde que apta a prevenir a concentração do poder decisório no âmbito de um único ente. A participação de cada Município e do Estado deve ser estipulada em cada região metropolitana de acordo com suas particularidades, sem que se permita que um ente tenha predomínio absoluto. Ação julgada parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade da expressão “a ser submetido à Assembleia Legislativa” constante do art. 5º, I; e do § 2º do art. 4º; do parágrafo único do art. 5º; dos incisos I, II, IV e V do art. 6º; do art. 7º; do art. 10; e do § 2º do art. 11 da Lei Complementar n. 87/1997 do Estado do Rio de Janeiro, bem como dos arts. 11 a 21 da Lei n. 2.869/1997 do Estado do Rio de Janeiro. 6. Modulação de efeitos da declaração de inconstitucionalidade. Em razão da necessidade de continuidade da prestação da função de saneamento básico, há excepcional interesse social para vigência excepcional das leis impugnadas, nos termos do art. 27 da Lei n. 9868/1998, pelo prazo de 24 meses, a contar da data de conclusão do julgamento, lapso temporal razoável dentro do qual o legislador estadual deverá reapreciar o tema, constituindo modelo de prestação de saneamento básico nas áreas de integração metropolitana, dirigido por órgão colegiado com participação dos municípios pertinentes e do próprio Estado do Rio de Janeiro, sem que haja concentração do poder decisório nas mãos de qualquer ente (STF, Tribunal Pleno, ADI 1842/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento 06/03/2013, destaques acrescidos).

Princípios Fundamentais

A) Universalização do acesso - Deverão ser adotadas políticas públicas que

levem o saneamento básico a toda a população, progressivamente, na medida da existência de recursos orçamentários disponíveis;

B) Integralidade – Refere-se ao direito dos usuários ao acesso integral a

cada atividade de saneamento básico de acordo com as suas necessidades;

C) Prestação adequada do serviço de saneamento básico conforme a saúde pública e a proteção do meio ambiente – As atividades de saneamento

deverão observar as normas de saúde pública da população e as que regem a atuação sobre o meio ambiente;

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6 D) Disponibilidade em todas as áreas urbanas, de serviços de drenagem e de manejo das águas pluviais, limpeza e fiscalização preventiva das respectivas redes, adequados à saúde pública e à segurança da vida e do patrimônio público e privado – Por este princípio, modificado pela Lei

13.308/2016, o Poder Público está obrigado a perpetrar esses serviços de drenagem e manejo das águas das chuvas em áreas urbanas para garantir a incolumidade do patrimônio das pessoas, a sua segurança e saúde;

E) Adoção de métodos, técnicas e processos que considerem as peculiaridades locais e regionais – Cada localidade terá os serviços de

saneamento básico definidos conforme a sua realidade, que poderá variar bastante pelas condições de urbanização, ambientais, culturais, sociais, econômicas e políticas;

F) Articulação com as políticas de desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção ambiental, de promoção da saúde e outras de relevante interesse social voltadas para a melhoria da qualidade de vida, para as quais o saneamento básico seja fator determinante – A política de saneamento básico não

funcionará isoladamente. Ela precisa ser formulada e implementada conforme as demais políticas, especialmente a Política de Meio Ambiente, de Saúde e de Desenvolvimento Urbano, sob pena de ineficácia;

G) Eficiência e sustentabilidade econômica - É preciso que os serviços

públicos de saneamento básico observem o Princípio da Eficiência, que determina que a Administração Pública alcance os melhores resultados com o mínimo de recursos financeiros. Outrossim, o Poder Público arrecadará taxas e

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7 tarifas pela cobrança, quando específicos e divisíveis, a exemplo da taxa de lixo e de esgoto;

H) Utilização de tecnologias apropriadas, considerando a capacidade de pagamento dos usurários e a adoção de soluções graduais e progressivas -

O Poder Público deverá se valer das tecnologias de saneamento mais avançadas, inclusive observando o menor impacto ambiental, que deverão ser observadas progressivamente, caso não haja recursos disponíveis no sistema (reserva dos limites orçamentários);

I) Transparência das ações, baseada em sistemas de informações e processos decisórios institucionalizados – Decorre do Princípio da Publicidade

da Administração Pública, podendo os usuários integrar órgãos colegiados de controle social do saneamento básico;

J) Controle social – Conjunto de mecanismos e procedimentos que

garantem à sociedade informações, representações, técnicas e participações nos processos de formulação de políticas, de planejamento e de avaliação relacionados aos serviços públicos de saneamento básico, a exemplo da participação nos órgãos colegiados.

K) Segurança, qualidade e regularidade – O saneamento básico deve ser

prestado pelo Poder Público de modo que não atente contra a segurança da população, devendo possuir um padrão mínimo de qualidade e não ser interrompido, salvo expressa autorização legal em sentido contrário.

L) Integração das infraestruturas e serviços com a gestão eficiente dos recursos hídricos – Há uma ligação umbilical da Política de Saneamento

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8 Básico por a Política de Recursos Hídricos, pois parte dos serviços de saneamento básico envolvem as águas;

M) Adoção de medidas de fomento à moderação do consumo de água -

Este princípio foi inserido pela Lei 12.862/2013, objetivando que haja uma preocupação na gestão de saneamento básico com a redução do consumo de água especialmente com o afastamento do desperdício no uso irracional.

Exercício da Titularidade e Prestação

A prestação dos serviços públicos de saneamento básico poderá ser diretamente prestada pelo Poder Público, ou então ser delegada aos particulares por contrato administrativo a sua organização, regulação, fiscalização e prestação, na forma do artigo 241 da Constituição Federal.

É dever do titular do serviço (entes políticos) formular a sua política pública de

saneamento básico, observadas as seguintes premissas:

a) Elaborar o plano;

b) Definir se a prestação será direta ou delegada;

c) Criar instrumentos para garantir o atendimento mínimo essencial à saúde pública;

d) Fixar os direitos e deveres dos usuários e mecanismos de controle social. e) Estabelecer sistema de informações sobre os serviços, articulado com o Sistema Nacional de informações em Saneamento;

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9 f) Intervir e retornar a operação dos serviços delegados, por indicação da entidade reguladora, nos casos e condições previstos em lei e nos documentos contratuais.

Caso haja delegação para pessoa jurídica que não pertença à Administração Pública, esta dependerá da celebração de contrato administrativo com o poder concedente, precedido de licitação.

Assim, em regra, é vedada a delegação por convênio ou instrumentos

similares, salvo duas exceções:

a) Os celebrados até o dia 06.04.2005, data da vigência da Lei 11.107, que dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios públicos;

b) As autorizações para a prestação por usuários organizados em cooperativas ou associações (condomínio ou localidade de pequeno porte).

Se houver a celebração de contrato administrativo, são condições de validade do instrumento a existência do plano de saneamento; de estudo comprovando a viabilidade técnica e econômico-financeira da prestação universal e integral dos serviços; existência de normas de regulação, inclusive do órgão de fiscalização; se for contrato de concessão, prévia audiência e consulta pública.

Vale frisar que os contratos não poderão conter cláusulas que prejudiquem as atividades de regulação e de fiscalização ou o acesso às informações sobre os serviços contratados.

No caso de municípios próximos e de pequeno porte econômico, é muito interessante a adoção da prestação regionalizada dos serviços de saneamento

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básico, por meio de um único prestador para os entes locais, desde que haja

uniformidade de fiscalização e regulação dos serviços, inclusive de sua remuneração e compatibilidade de planejamento.

A prestação regionalizada poderá ser desempenhada por uma empresa privada delegatária, ou mesmo por uma entidade da Administração Indireta municipal, estadual ou federal.

Planejamento e Regulação

Deverá o titular do serviço público de saneamento básico elaborar o plano de saneamento como integrante de sua política, que poderá ser específico para cada serviço, assegurada a ampla divulgação à população (audiências e consultas públicas).

O plano de saneamento básico deverá conter, no mínimo:

a) Diagnóstico da situação e de seus impactos nas condições de vidas, utilizando sistema de indicadores sanitários, epidemiológicos, ambientais e socioeconômicos e apontando as causas das deficiências detectadas;

b) Objetivos e metas de curto, médio e longo prazos para a universalização, admitidas soluções graduais e progressivas, observando a compatibilidade com os demais planos setoriais;

c) Programas, projetos e ações necessárias para atingir os objetivos e as metas, de modo compatível com os respectivos planos plurianuais e com outros

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11 planos governamentais correlatos, identificando possíveis fontes de financiamento;

d) Ações para emergências e contingências;

e) Mecanismos e procedimentos para a avaliação sistemática da eficiência e eficácia das ações programadas.

Destaque-se que os planos de saneamento básicos deverão ser compatíveis com os planos de recursos hídricos (planos diretores que fundamentam a Política de Recursos Hídricos), assim como deverão ser revistos em prazo não superior a quatro anos, antes do Plano Plurianual.

Na esfera federal, o Plano Nacional de Saneamento Básico foi aprovado pelo Decreto 8.141/2013, com a finalidade de estabelecer um conjunto de diretrizes, metas e ações para o alcance de níveis crescentes dos serviços de saneamento básico no território nacional e a sua universalização (art. 1°).

Ademais, o Poder Público deverá atuar como agente normativo e regulador da prestação dos serviços públicos de saneamento básico, mormente quando a prestação for delegada a empresas privadas, podendo ser exercida diretamente pelo poder concedente ou, mediante delegação, por meio de convênio de cooperação, a órgão ou entidade de outro ente da Federação ou a consórcio público do qual não participe, instituído para gestão associada de serviços públicos.

Frise-se que a função regulatória deverá observar os princípios da

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12 financeira da entidade reguladora, assim como da transparência, tecnicidade, celeridade e objetividade das decisões, tendo os seguintes objetivos:

a) Estabelecer padrões e normas para a adequada prestação dos serviços e para a satisfação dos usuários;

b) Garantir o cumprimento das condições e metas estabelecidas;

c) Prevenir e reprimir o abuso do poder econômico, ressalvada a competência dos órgãos integrantes do sistema nacional de defesa da concorrência;

d) Definir tarifas que assegurem tanto o equilíbrio econômico e financeiro dos contratos como a modicidade tarifária, mediante mecanismos que induzam a eficiência e eficácia dos serviços e que permitam a apropriação social dos ganhos de produtividade.

No mais, deverá ser assegurada a publicidade dos relatórios, estudos, decisões e instrumentos equivalentes que se refiram à regulação ou à fiscalização dos serviços, bem como aos direitos e deveres dos usuários e prestadores, a eles podendo ter acesso qualquer do povo, independentemente da existência de interesse direto, exceto documentos considerados sigilosos em razão de interesse público relevante, mediante prévia e motivada decisão.

De resto, os usuários terão direito ao amplo acesso às informações; prévio conhecimento dos seus direitos e deveres das penalidades a que podem estar sujeitos; acesso a manual de prestação de serviço e de atendimento ao usuário, elaborado pelo prestador e aprovado pela respectiva entidade de regulação e o acesso a relatório periódico sobre a qualidade da prestação dos serviços.

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Aspectos Econômicos e Sociais

Sempre que for possível, será preciso se buscar a sustentabilidade econômico-financeira dos serviços de saneamento básico, devendo-se cobrar pela prestação dos seguintes serviços:

a) De abastecimento de água e esgotamento sanitário (preferencialmente na forma de tarifas e outros preços públicos);

b) De limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos (taxas ou tarifas e outros preços públicos), observando a renda dos beneficiários, as características dos lotes e o peso/volume coletado por residência;

c) De manejo de águas pluviais urbanas (na forma de tributos, inclusive taxas), observada a renda dos beneficiários e as características dos lotes.

Dentre outras, a cobrança deverá observar as seguintes diretrizes:

1) Priorizar os serviços essenciais à saúde pública;

2) Inibir o desperdício (progressividade de taxa ou preço público); 3) Ampliar a acessibilidade das pessoas com baixa renda;

4) Buscar recuperar o investimento;

5) Remunerar adequadamente os prestadores e

6) Estimular o uso de tecnologias modernas e eficientes.

Aliás, poderão ser criados subsídios tarifários e não tarifários (fiscais) para as pessoas que não disponham de recursos para arcar com o pagamento. Demais

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14 disso, os reajustes das tarifas dos serviços de saneamento básico serão promovidos no intervalo mínimo de 12 meses.

Por sua vez, as revisões tarifárias poderão ser periódicas (objetivando a distribuição dos ganhos de produtividade com os usuários e a reavaliação das condições de mercado) ou extraordinárias (quando ocorrido algum fato excepcional não previsto).

Poderão os serviços de saneamento básico ser interrompidos nas seguintes situações:

I – situações de emergência que atinjam a segurança de pessoas e bens;

II – necessidade de efetuar reparos, modificações ou melhorias de qualquer natureza nos sistemas;

III – negativa do usuário em permitir a instalação de dispositivo de leitura de água consumida, após ter sido previamente notificado a respeito (prévio aviso com prazo não inferior a 30 dias);

IV – manipulação indevida de qualquer tubulação, medidor ou outra instalação do prestador, por parte do usuário; e

V – inadimplemento do usuário do serviço de abastecimento de água, do pagamento das tarifas, após ter sido formalmente notificado (prévio aviso com prazo não inferior a 30 dias).

Entretanto, a interrupção ou a restrição do fornecimento de água por inadimplência a estabelecimentos de saúde, a instituições educacionais e de

internação coletiva de pessoas e a usuário residencial de baixa renda beneficiário de tarifa social deverá obedecer a prazos e critérios que preservem condições mínimas de manutenção da saúde das pessoas atingidas.

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15 Ademais, se previsto na normatização, mediante contrato específico, os grandes usuários poderão negociar as suas tarifas com o prestador.

Aspectos Técnicos

A prestação dos serviços públicos de saneamento básico deverá respeitar os requisitos mínimos de qualidade, inclusive regularidade, a continuidade e aqueles relativos aos produtos oferecidos, ao atendimento dos usuários e às condições operacionais e de manutenção dos sistemas, de acordo com as normas regulamentares e contratuais, com parâmetros mínimos para a potabilidade da água definidos pela União, especialmente por Resolução do CONAMA.

Ademais, o licenciamento ambiental das unidades de tratamento de esgotos sanitários e efluentes considerará as etapas de eficiência a serem alcançadas progressivamente, a fim de se adequar à legislação ambiental, com processo simplificado para as unidades de pequeno porte.

Nesse sentido, foi aprovada a Resolução CONAMA 377/2006, que dispõe sobre licenciamento ambiental simplificado de Sistemas de Esgotamento Sanitário, aplicável às unidades de transporte e de tratamento de esgoto sanitário, separada ou conjuntamente, de pequeno e médio porte.

Em regra, toda edificação permanente urbana será conectada às redes

públicas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário disponíveis e

sujeita ao pagamento de tarifas e de outros preços públicos decorrentes da conexão e do uso desses serviços (ressalvadas as disposições em contrário das normas do titular, da entidade de regulação e de meio ambiente).

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16 Ademais, em regra, a instalação hidráulica predial ligada à rede pública de

abastecimento de água não poderá ser também alimentada por outras fontes, ressalvadas as disposições em contrário das normas do titular, da

entidade de regulação e de meio ambiente.

Entretanto, em caso de ausência de redes públicas de saneamento básico, serão admitidas soluções individuais de abastecimento de água e de afastamento e destinação final dos esgotos sanitários, observadas as normas editadas pela entidade reguladora e pelos órgãos responsáveis pelas políticas ambiental, sanitária e de recursos hídricos.

Em casos extremos de escassez ou contaminação das águas, a lei permite a adoção de mecanismos tarifários de contingência, com o objetivo de cobrir custos adicionais decorrentes, garantindo o equilíbrio financeiro da prestação do serviço e a gestão da demanda.

De acordo com o STF, no julgamento do REsp 1.366.331, de 16.12.2014, “não

pode haver discricionariedade do Poder Público na implementação das obras de saneamento básico. A não observância de tal política fere os

princípios da dignidade da pessoa humana, da saúde e do meio ambiente equilibrado. Mera alegação de ausência de previsão orçamentária não afasta a obrigação de garantir o mínimo existencial. O município não provou a inexequibilidade dos pedidos da ação civil pública. Utilizando-se da técnica hermenêutica da ponderação de valores, nota-se que, no caso em comento, a

tutela do mínimo existencial prevalece sobre a reserva do possível. Só não prevaleceria, ressalta-se, no caso de o ente público provar a absoluta inexequibilidade do direito social pleiteado por insuficiência de caixa – o

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17 Logo, para que o município se escuse temporariamente da implementação do serviço público de saneamento básico, é necessária a demonstração cabal da inexistência de recursos públicos disponíveis para as obras, não bastando a mera alegação genérica da cláusula da reserva do possível para livrar o ente político local de sua responsabilidade.

Política Federal de Saneamento Básico

Os artigos 48 e 49 da Lei 11.445/2007 previram as diretrizes e os objetivos a serem adotados na formação da Política Federal de Saneamento Básico, a ser composta por planos, programas, projetos e ações promovidas por órgãos e entidades federais, isoladamente ou em cooperação com outros entes da Federação, ou com particulares.

A) Diretrizes:

I - prioridade para as ações que promovam a eqüidade social e territorial no acesso ao saneamento básico;

II - aplicação dos recursos financeiros por ela administrados de modo a promover o desenvolvimento sustentável, a eficiência e a eficácia;

III - uniformização da regulação do setor e divulgação de melhores práticas, conforme o disposto na Lei nº 9.984, de 2000;

IV - utilização de indicadores epidemiológicos e de desenvolvimento social no planejamento, implementação e avaliação das suas ações de saneamento básico; V - melhoria da qualidade de vida e das condições ambientais e de saúde

pública;

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18 VII - garantia de meios adequados para o atendimento da população rural,

inclusive por meio da utilização de soluções compatíveis com as suas características econômicas e sociais peculiares;

VIII - fomento ao desenvolvimento científico e tecnológico, à adoção de tecnologias apropriadas e à difusão dos conhecimentos gerados;

IX - adoção de critérios objetivos de elegibilidade e prioridade, considerados fatores como nível de renda e cobertura, grau de urbanização, concentração populacional, porte populacional municipal, áreas rurais e comunidades tradicionais e indígenas, disponibilidade hídrica, riscos sanitários, epidemiológicos e ambientais;

X - adoção da bacia hidrográfica como unidade de referência para o planejamento de suas ações;

XI - estímulo à implementação de infra-estruturas e serviços comuns a Municípios, mediante mecanismos de cooperação entre entes federados.

XII - combate à perda de água e racionalização de seu consumo pelos usuários;

XIII-A - estímulo ao desenvolvimento e ao aperfeiçoamento de equipamentos e métodos economizadores de água;

XIV-A - promoção da segurança jurídica e da redução dos riscos regulatórios, com vistas a estimular investimentos públicos e privados no setor; e

XV-A - estímulo à integração das bases de dados do setor.

B) Objetivos:

I - contribuir para o desenvolvimento nacional, a redução das desigualdades regionais, a geração de emprego e de renda, a inclusão social e a promoção da saúde pública;

II - priorizar planos, programas e projetos que visem à implantação e à ampliação dos serviços e das ações de saneamento básico nas áreas ocupadas por populações de baixa renda, incluídos os núcleos urbanos informais consolidados, quando não se encontrarem em situação de risco;

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19 III - proporcionar condições adequadas de salubridade ambiental aos povos indígenas e outras populações tradicionais, com soluções compatíveis com suas características socioculturais;

IV - proporcionar condições adequadas de salubridade ambiental às populações rurais e às pequenas comunidades;

V - assegurar que a aplicação dos recursos financeiros administrados pelo poder público dê-se segundo critérios de promoção da salubridade ambiental, de maximização da relação benefício-custo e de maior retorno social;

VI - incentivar a adoção de mecanismos de planejamento, regulação e fiscalização da prestação dos serviços de saneamento básico;

VII - promover alternativas de gestão que viabilizem a auto-sustentação econômica e financeira dos serviços de saneamento básico, com ênfase na cooperação federativa;

VIII - promover o desenvolvimento institucional do saneamento básico, estabelecendo meios para a unidade e articulação das ações dos diferentes agentes, bem como do desenvolvimento de sua organização, capacidade técnica, gerencial, financeira e de recursos humanos, contempladas as especificidades locais;

IX - fomentar o desenvolvimento científico e tecnológico, a adoção de tecnologias apropriadas e a difusão dos conhecimentos gerados de interesse para o saneamento básico;

X - minimizar os impactos ambientais relacionados à implantação e desenvolvimento das ações, obras e serviços de saneamento básico e assegurar que sejam executadas de acordo com as normas relativas à proteção do meio ambiente, ao uso e ocupação do solo e à saúde.

XI – vigência encerrada

XII - promover a educação ambiental destinada à economia de água pelos usuários; e

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Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento do

Saneamento Básico (REISB)

Coube à Lei 13.329/2016 criar o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento do Saneamento Básico – REISB, com o objetivo de estimular a pessoa jurídica prestadora de serviços públicos de saneamento básico a aumentar seu volume de investimentos por meio da concessão de créditos tributários, que vigorará até o ano de 2026, sendo necessário que os projetos sejam atestados pela Administração da pessoa jurídica beneficiária nas demonstrações financeiras dos períodos em que se apurarem ou se utilizarem os créditos.

Beneficiar-se-á deste do REISB a pessoa jurídica que realize investimentos voltados para a sustentabilidade e para a eficiência dos sistemas de saneamento básico e em acordo com o Plano Nacional de Saneamento Básico, assim consideradas as medidas que objetivem o alcance das metas de universalização do abastecimento de água para consumo humano e da coleta e tratamento de esgoto; à preservação de áreas de mananciais e de unidades de conservação necessárias à proteção das condições naturais e de produção de água; à redução de perdas de água e à ampliação da eficiência dos sistemas de abastecimento de água para consumo humano e dos sistemas de coleta e tratamento de esgoto e à inovação tecnológica.

No entanto, não se poderão beneficiar do REISB as pessoas jurídicas optantes pelo Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidas pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte – Simples Nacional, de que trata a Lei Complementar n° 123, de 14 de dezembro de 2006, as pessoas

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21 jurídicas tributadas pelo imposto de renda com base no lucro presumido ou arbitrado.

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