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[Recensão a] HINGLEY, Richard. O Imperialismo Romano: novas perspectivas a

partir da Bretanha. Coleção História e Arqueologia em Movimento, dirigida por Pedro

Paulo Funari. Organizadores: Renata Senna Garraffoni, Pedro Paulo Funari, Renato

Pinto. Tradução: Luciano César Garcia Pinto.

Author(s:

Carlan, Claudio Umpierre

Published by:

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Persistent URL: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/33288

Accessed :

27-Sep-2016 06:48:10

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152 PHOÎNIX, RIODE JANEIRO, 16-1: 152-156, 2010.

RESENHA

HINGLEY, Richard. O Imperialismo Romano: novas perspectivas a partir da Bretanha. Coleção

História e Arqueologia em Movimento, dirigida por Pedro Paulo Funari. Organizadores: Renata Senna Gar-raffoni, Pedro Paulo Funari, Renato Pinto. Tradução: Luciano César Garcia Pinto. ISBN: 978-85-391-0062-0. São Paulo: Annablume, 2010, 117 p.

Claudio Umpierre Carlan*

No Brasil, o estudo da História Antiga sempre fi cou legado a um segundo plano. Um local de pouca importância direcionada apenas pelo romantismo e curiosidade sobre civilizações exóticas há muito “desapare-cidas”. O cinema tratou de reforçar esse romantismo exacerbado sobre o tema. Amor e aventura em um mundo perfeito, sem pobreza, miséria, fome. Apenas homens musculosos e mulheres curvilíneas. Por que estudar Anti-guidade num país que não teve contato direto com as civilizações orientais e clássicas? Não “existem” documentos, leia-se, fontes primárias textuais, em nosso país, que retratam esses povos? Qual estudante e pesquisador em Antiguidade que nunca ouviu essas críticas?

Tendo em vista esse cenário de questões, sem perder de vista o debate, o livro O Imperialismo Romano: novas Perspectivas a partir da Bretanha, quatro artigos que compõem a publicação, inéditos na língua portuguesa, de Richard Hingley, descreve uma nova visão sobre a dominação romana na Bretanha, analisando as teorias sobre a romanização; as diversidades e unidades culturais, tanto de Roma, quanto das demais províncias; uma nova

* Doutor em História Cultural pela Unicamp. Professor adjunto da Universidade Fe-deral de Alfenas (Unifal/MG). E-mail: claudiocarlan@yahoo.com.br.

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dimensão historiográfi ca para Muralha de Adriano, atual projeto dirigido por Hingley, com fi nanciamento do Arts and Humanities Research Council, órgão de fomento do governo inglês.

Hingley, professor da Universidade de Durham, na Inglaterra, reali-zou, nos últimos anos, uma verdadeira transformação teórico-metodológica no campo da Arqueologia Clássica e História de Roma, desconstruindo o sistema binário, característica da Europa Ocidental dos séculos XIX e XX. Esse sistema serviu para legitimar o domínio europeu sobre os demais con-tinentes, principalmente o africano e asiático, reforçando as teorias racistas defendidas pelo médico italiano Cesare Lombroso (1835 – 1909) e, no Brasil, pelo antropólogo, médico psiquiatra, professor e legista Raimundo Nina Rodrigues (1862 – 1906), neto de ex-escravos.

Nina Rodrigues defendia a teoria de que o Brasil seria um país culturalmente atrasado pela presença de elementos negros e indígenas. A solução, segundo ele, era “branquear” a sociedade brasileira, através da imigração europeia. A personagem do médico e professor baiano Nilo Argolo, do livro de Jorge Amado, A Tenda dos Milagres, foi baseada em Nina Rodrigues.

Na introdução, escrita por Pedro Paulo Funari, professor titular de História Antiga da Unicamp e diretor da coletânea História e Arqueologia em Movimento; Renata Senna Garraffoni, professora adjunta da Universi-dade Federal do Paraná e o doutorando Renato Pinto, do programa de Pós-graduação da Unicamp (que estudou com Hingley na Inglaterra), apresentam para o leitor as contribuições brasileiras sobre o estudo da Antiguidade. Essas contribuições que, durante muitos anos, fi caram ligadas ao exótico ou “perfumaria”, vêm, a cada ano, ganhando notoriedade nos meios acadêmicos, nacionais e internacionais.

Recentemente, em 2009, durante um congresso sobre Antiguidade Tardia, realizado na cidade de Segóvia, Espanha, o historiador Peter Brown, da Universidade de Princeton, elogiou publicamente a produção dos histo-riadores brasileiros sobre Antiguidade. Segundo Brown, trata-se de obras únicas, tendo, na maioria dos casos, um novo foco documental aliado a uma narrativa muito rica. Brown, leitor de Euclides da Cunha, Machado de Assis e Mário Quintana, que, segundo ele, são escritores voltados para o social, como os poetas da sua terra natal, a Irlanda, é um entusiasta da nossa produção sobre o Mundo Antigo.

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154 PHOÎNIX, RIODE JANEIRO, 16-1: 152-156, 2010. Os vários movimentos nacionalistas da década de 1970 deram início a um processo único, sem volta, na historiografi a sobre o Império Romano. Essa renovação, infl uenciada por Edward Said, coloca por terra a política europeia da superioridade branca (leia-se branco europeu) sobre as demais etnias. O padrão cultural europeu, considerado superior aos demais, começa a ruir dentro do mundo acadêmico. Martin Bernal propôs algo semelhante ao defender a tese do

Modelo Antigo Revisado, no qual a civilização grega teve sua origem nos povos

semitas e afro-asiáticos, sendo infl uenciada diretamente por fenícios e egípcios. Segundo Bernal, historiadores antigos, como Heródoto, identifi cam essa infl u-ência oriental. O modelo antigo revisado ataca e critica o Modelo Ariano, que advém do eurocentrismo e racismo dos séculos XVIII e XIX.

O uso do passado para legitimação da identidade britânica e da po-lítica imperialista na modernidade é algo que Bernal já havia descrito nos três volumes sobre o modelo antigo revisado, intitulado Black Athena. O discurso do poder da Europa foi fundamental para ofi cializar uma interven-ção política e militar nos continentes Asiático e Africano. Afi nal, segundo o modelo ariano, assim defi nido por Martin Bernal, os indo-europeus foram os primeiros a povoar a Grécia Antiga e infl uenciaram diretamente a cultura europeia, sua legítima herdeira. Por razões políticas, esqueceram, ou melhor, fi ngiram esquecer, a infl uência Oriental em Cnossos e Micenas (a porta dos leões, em Micenas, muito lembra a porta dos leões de Hattusa, capital do Império Hitita).

Seguindo essa mesma linha, Hingley critica não apenas o processo de romanização, mas a produção historiográfi ca moderna sobre esse processo. A Inglaterra, juntamente com os demais países colonialistas europeus, se autolegitimaram herdeiros da cultura clássica greco-romana.

Durante muitos anos, o Império Romano foi o único modelo de Estado centralizado com que os jovens reinos bárbaros germânicos tiveram contato. Reis da Europa Medieval viam em Roma um modelo a ser seguido. Era o único exemplo que tinham sobre uma unifi cação. Durante o Renascimento Carolíngio, século VIII, Carlos Magno estabeleceu leis segundo as quais tudo que lembrasse a cultura romana fosse preservado. O papa João Paulo II, em seus discursos, fez uma alusão à importância de Carlos Magno e seu avô, Carlos Martel, para a Europa cristã e a União Europeia. Segundo Hingley, vários líderes políticos valeram-se da imagem do Império Romano (p. 28) para legitimar o seu poder político.

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O autor descreve que o mito de uma herança germânica, através dos saxões ou celtas, povos considerados pré-romanizados, teve um papel importante na Inglaterra durante a Idade Moderna. A partir do século XIX, pouco antes da unifi cação, o I Reich alemão utilizou as chamadas “invasões bárbaras” para legitimar a sua origem e História (Wagner e Brahms fi zeram o mesmo na música, contando o passado germânico). Em 1871, já no II Reich, Bismarck é representado como um cavaleiro teutônico. A Inglaterra necessitava de um modelo próprio, não saxão: encontrou o romano.

Hingley analisa a importância dos historiadores e arqueólogos da Era Vitoriana e Eduardiana, na realização de uma associação da Grâ-Bretanha com Roma. A elite inglesa, o gentleman, era educado dentro de uma ótica clássica, defendida pelo sistema de ensino britânico. Até aproximadamente o fi nal da Primeira Grande Guerra, a nobreza e a burguesia inglesas falavam e escreviam fl uentemente o grego e o latim. Winston Churchill e Robert Baden–Powell (fundador do escotismo) escreveram vários trabalhos em que estabeleceram um paralelo entre o Império Romano e o Britânico.

O autor realiza uma análise crítica da obra do historiador positivista e arqueólogo inglês Francis Haverfi eld (1860–1919), professor da Uni-versidade de Oxford, um dos primeiros a tratar da romanização como um fenômeno britânico, comparando o Império Romano com Império Britânico, seu “legítimo herdeiro”. Haverfi eld atribui à civilização europeia um valor diferente como um todo, sendo descendente direta da civilização romana. Francis John Haverfi eld formou e infl uenciou uma grande leva de pesqui-sadores voltados para a Antiguidade – Thomas Ashby (1874–1931), um dos primeiros estudantes e futuro diretor da Escola Britânica de Roma; e o arqueólogo e fi lósofo R. G. Collingwood (1889 – 1943), autor do livro Ideia

da História, fi guram entre seus principais alunos.

Como isso, historiadores vitorianos e eduardianos, assim defi nidos por Hingley, preocuparam-se em identifi car um paralelo, uma linha de continuidade no desenvolvimento cultural das civilizações clássicas até o presente, legitimando a ideologia imperialista e o racismo do fi nal do século XIX. Infelizmente, como o racismo, preconceito e a xenofobia, muito dessas teorias arianas, segundo Bernal, ainda estão presentes no século XXI.

Um dos grandes méritos do livro consiste em apresentar um estudo detalhado e aprofundado das propriedades relacionadas à economia local e às formas de assentamento rural na Bretanha (modelo para outras províncias

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156 PHOÎNIX, RIODE JANEIRO, 16-1: 152-156, 2010. do Império), e os sistemas complexos de organização social, não fi cando preso às restritas fontes literárias do período.

O prefácio, escrito pela professora Norma Musco Mendes, da UFRJ, defi ne a obra como uma “rejeição às posturas etnocêntricas, uma visão crítica à visão colonialista europeia”, ou seja, distante da conservadora História a partir da perspectiva dos vencedores.

Hingley não fi ca preso a críticas, e sim analisa, de forma imparcial, os pontos positivos e negativos tanto da romanização quanto da “moderna” globalização. Além de se tratar de um livro original, de alta qualidade aca-dêmica, também confi gura uma decidida visão interdisciplinar. Portanto, trata-se de uma leitura obrigatória para todos os que buscam interpretações bem ancoradas nas documentações originais, escritas, arqueológicas ou iconográfi cas, nos recentes debates acerca do campo da História Antiga, Teoria e da Filosofi a da História.

Referências bibliográfi cas

BERNAL, M. Blach Athena. The afroasiatic roots of Classic Civilization. Rutgers: New Brusnwick, 1987.

DA SILVA, G. J. História Antiga e usos do passado. Um estudo de apropriações da Antiguidade sob o regime de Vichy (1940-1944). São Paulo: Annablume/ Fapesp, 2007.

FUNARI, P. P. A.; CARLAN, C.U. Arqueologia Clássica e Numismática. Textos

Referências

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