A Bíblia nos relata que quando João, o Batista, nasceu, as pessoas que acompanhavam a gravidez de Isabel, depois do nascimento do menino, ficaram admiradas com os
acontecimentos incomuns que ocorreram. O testemunho de Zacarias, logo após a escolha do nome de seu filho, fez com que as pessoas reconhecessem a ação de Deus no que estava ocorrendo e logo as notícias foram divulgadas por toda a região montanhosa da Judéia e todos que ouviam indagavam: O que virá a ser este menino?
Essa pergunta demonstra que as pessoas estavam curiosas sobre o futuro daquela criança. Muitas vezes agimos assim também, diante do que observamos em relação à educação da criança. Ficamos a perguntar: O que será desta criança?
Na maioria das vezes, a indagação demonstra apenas uma curiosidade, no entanto, em se tratando da formação da criança, todos nós temos responsabilidade, independente de sermos pais ou não, ou de estarmos diretamente responsáveis por uma criança.
A nós foi dada a tarefa de “cantar as gerações vindouras os louvores do Senhor, assim como a sua força e as maravilhas que tem feito” (Salmo 78.4) para que a criança possa pôr em Deus a sua esperança.
Diante dessa verdade bíblica, tomamos consciência de que, como participantes de uma comunidade cristã, temos responsabilidades com a educação da criança. A criança depende de nós e para assumirmos esta responsabilidade precisamos ter uma visão correta de quem é a criança, o que ela precisa e qual deve ser o nosso papel na sua formação.
Quem é a criança?
A criança é uma pessoa, foi criada à imagem e semelhança de Deus, assim sendo, tem seus pensamentos, vontades e capacidade para amar, agir e reagir diante das situações que vivencia. De sua vida fazem parte bolas, bonecas, carrinhos, pipas, bicicletas, árvores, terra, videogames, cadernos, lápis, mochilas, termômetros, remédios, correria, risos, choros e é em meio a esse movimento que ela vai construindo sua história e formando sua identidade.
A Bíblia nos revela que a criança também é pecadora. A bondade original dela foi afetada pelo pecado (Romanos 3.23) e, como consequência, ela se rebelará contra a verdade, por isso, precisa conhecer o amor de Deus e os valores do seu reino.
Ela, com seu jeito especial de ser, é capaz de nos ensinar muitas lições: “Vamos orar que Deus vai ajudar”, “Muita calma nessa hora”, “Feche a torneira, senão a água vai acabar”, “Você precisa colocar umas roupas mais elegantes”, “Essa música não é de Deus”, “Sabia que Jesus ama você”. Essas pequenas lições do dia-a-dia que ela nos dá, nos fazem refletir sobre a nossa maneira de viver.
Ela também nos questiona, pergunta, não se contenta com as respostas, pede mais
explicações, quer atenção, carinho, beijos, abraços, tempo, brinquedos, balas, revistas e muito mais.
No convívio com a criança, vamos descobrindo que ela também é gente que ri, chora, para, senta, levanta, bate, apanha, fala e cala. Está atenta a tudo que acontece ao seu redor. Tem o seu potencial e suas necessidades que precisam ser atendidas por gente como você, para tanto, você deve saber:
O que a criança precisa
A criança é um ser que está em processo de formação e precisa de amor, que é demonstrado através dos cuidados que recebe quando suas necessidades são atendidas. Ela precisa do amor para poder crescer e se desenvolver emocional, física e espiritualmente. É por meio dele que a criança vai estabelecendo vínculos com aqueles que cuidam dela, pois à medida que suas necessidades básicas são atendidas, ela vai percebendo que é amada e corresponde a esse amor.
A criança precisa ouvir a verdade sobre seu comportamento e aprender a lidar com esta verdade para que possa se desenvolver e aprender a ser uma pessoa equilibrada, que saiba lidar com os “nãos” da vida e, consequentemente, encarar as frustrações que certamente irão ter que enfrentar.
A disciplina é essencial para o desenvolvimento saudável de qualquer pessoa. É ela quem vai ajudar a criança a ter autocontrole e assumir o comando da própria vida, sem precisar
depender que outros lhe digam o que fazer quando se tornar adulta.
Atualmente, vemos muitos responsáveis por crianças deixando-as fazer o que bem entendem, muitas vezes, o adulto fica à mercê da vontade dela, assim, a criança fica sem um referencial de autoridade e a consequência disso estamos vendo atualmente na sociedade: muitas
crianças, adolescentes e jovens que não respeitam ninguém, que acham que podem fazer tudo que têm vontade. Isto ocorre porque não foram educadas em relação as suas vontades, assim, por não terem recebido um “Não”, acabam sem aprender a tolerar suas frustrações e não aprendem também que vontade dá e passa.
A criança precisa saber o que é certo e errado e cabe ao adulto dizer-lhe, mesmo que a princípio ela se rebele e queira impor a sua vontade. É a firmeza e constância do adulto que ensinará a criança a ser obediente e a respeitar aqueles que representam autoridade. Ela tem que aprender a assumir as consequências de suas escolhas, pois assim irá aprender a ter responsabilidade, ser perseverante naquilo que faz e assumir as consequências de seus erros e não ficar transferindo para outros a culpa por aquilo que não dá certo em sua vida.
Para darmos à criança o que ela precisa, devemos ter consciência de qual deve ser o nosso papel na formação dela.
O papel do adulto na formação da criança
É no convívio com o grupo social a que pertence que a criança vai se desenvolvendo. Este grupo tem seus símbolos e as relações têm seus significados, que a criança vai assimilando a partir daquilo que ouve e vê e também da comunicação que estabelece com o outro através da linguagem que aprende a usar. Neste processo de interação, o adulto tem o papel de
apresentar o mundo para a criança e de formar a criança para o mundo.
É na convivência que a criança aprende a ser gente, pois vai adquirindo a forma de viver daqueles que são mais experientes. A sua formação sofrerá influências dos valores das pessoas com as quais convive e também das práticas religiosas e educacionais a que se
submete. Caberá ao adulto, que é o mais experiente, transmitir os conhecimentos que foram acumulados ao longo do tempo, inclusive os bíblicos.
Em Deuteronômio 6.4-10, temos o registro de quando Moisés transmitiu ao povo de Israel as leis do Senhor, e a orientação era para que o povo transmitisse as leis aos filhos. As leis eram o conteúdo do ensino, e a maneira de ensinar esse conteúdo era no contato diário que tinham uns com os outros ao levantarem, ao andarem, ao deitarem e também ao visualizarem as leis em locais estratégicos da casa. Vemos que nessa orientação está a valorização das interações sociais, pois era no contato com o outro que a criança deveria ir aprendendo as leis do Senhor e internalizando a maneira de viver do seu povo.
Concluindo
Vemos assim que nós adultos somos, sim, responsáveis pela formação da criança. Nós temos que assegurar à criança o conhecimento tanto acadêmico, quanto o relativo às regras sociais e também o bíblico, pois a criança inserida nos mais variados ambientes tem um mundo
organizado por regras e códigos que ela precisa conhecer e aprender a respeitar.
A criança é gente que depende de nós, o que ela é e o que virá a ser vai depender da
formação que receber. Somos educadores e estamos servindo de modelo para ela. Cabe a nós a tarefa de instruí-la no caminho em que deve andar, pois nos caminhos da vida ela estará em contato com muitos que também influenciarão suas vidas, por isso, precisamos estar atentos aos tipos de pessoas que estão em contato com ela, para tanto, é necessário exercer uma vigilância constante e também estarmos em oração, colocando a criança diante do trono do Senhor, pedindo que os anjos dele acampem ao redor dela e a livre do mal.
Paulo ao escrever aos membros da igreja de Corinto deu-lhes a recomendação para que fossem imitadores dele como ele era de Cristo. Você pode dizer isto a uma criança?
Lídia Pierott
Coordenadora Nacional de AM
BIBLIOGRAFIA
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