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ANÁLISE DA UNIDADE INFORMACIONAL DE INTRODUTOR LOCUTIVO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

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ANÁLISE DA UNIDADE INFORMACIONAL DE INTRODUTOR LOCUTIVO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

BRUNA MAIA ROCHA (UFMG) TOMMASO RASO (UFMG) RESUMO

Neste artigo apresenta-se uma análise das unidades informacionais usadas para introduzir em um enunciado meta-ilocuções como o discurso reportado, a exemplificação, o elenco, a instrução e a comparação. Apresenta-se um resumo da Teoria da Língua em Ato, base teórica dessa pesquisa, e a seguir a metodologia utilizada. A partir da apresentação e da análise dos dados, são mostradas na conclusão as possibilidades de estudos futuros.

Palavras-chave: Introdutores Locutivos – Meta-ilocuções – Teoria da Língua em Ato – Estrutura Informacional

ABSTRACT

This paper presents an analysis of informational units used to introduce meta-illocutions such as reported speech, exemplification, listing, instruction and comparison in an utterance. A summary of Informational Patterning Theory, which is the theoretical basis of this research, is presented and, subsequently, the methodology used. Departing from the presentation and analysis of the data, possibilities of future studies are shown in the conclusion.

Key words: Locutive Introducers- Meta-illocutions- Informational Patterning Theory- Informational Patterning

1. INTRODUÇÃO

Este artigo mostra o resultado da investigação de dez textos de fala espontânea de cerca de 1500 palavras cada um, com o objetivo de identificar e analisar as unidades informacionais chamadas Introdutores Locutivos (INT) em Português Brasileiro (PB). O trabalho baseia-se na Teoria da Língua em Ato (CRESTI 2000; MONEGLIA 2005; CRESTI-MONEGLIA 2008; VALE 2010), explicitada no ponto 2.1 e a análise é realizada graças ao software WinPitch de Philippe Martin. Os textos formam um sub-corpus dentro do sub-corpus C-ORAL-BRASIL, em constituição na UFMG1. Os objetivos

1

O projeto C-ORAL-BRASIL (RASO-MELLO, no prelo a e b) é coordenado por T. Raso e H. Mello e financiado pelo CNPq, pela FAPEMIG, pela UFMG e pelo Banco Santander. Tal projeto prevê a constituição de um corpus que siga as mesmas diretrizes do C-ORAL-ROM (projeto Europeu coordenado pela Universidade de Florença; CRESTI-MONEGLIA (2005); <http://lablita.dit.unifi.it/coralrom>) e que contenha textos de fala espontânea que representem a variedade de Português do Brasil prevalentemente na diatopia mineira. Os critérios de constituição e segmentação do corpus abrem possibilidades de análise da estrutura informacional do Português Brasileiro bem como a comparação entre essa língua e as línguas

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desde trabalho são a identificação das ocorrências dos INT, a sua relação com as diversas meta-ilocuções introduzidas, a análise prosódica de tal unidade e seus correlatos léxico-morfossintáticos em PB.

2. METODOLOGIA

2.1. A TEORIA DA LÍNGUA EM ATO

A Teoria da Língua em Ato se baseia na correspondência entre enunciado e ato de fala (AUSTIN 1962). O enunciado se configura como a menor unidade da fala interpretável pragmaticamente em autonomia, e é identificável graças a uma quebra prosódica percebível como terminal. O enunciado se define também como a “contraparte lingüística de uma ação” (CRESTI 2000). Sua autonomia pragmática se funda de fato na sua capacidade de veicular uma ilocução. Na notação, a quebra terminal é marcada com uma barra dupla (//).

O enunciado pode ser simples, se formado por apenas uma unidade tonal, ou complexo, se formado por duas ou mais unidades tonais2. Os enunciados complexos, portanto, são divididos em unidades tonais delimitadas por quebras prosódicas perceptíveis como não terminais e marcadas na notação com uma barra simples (/). Em princípio, a cada unidade tonal corresponde uma unidade informacional. A única unidade necessária e suficiente para a constituição de um enunciado é o Comentário (COM), dado que esta é a unidade que carrega a força ilocucionária e a única interpretável em isolamento.

representadas no C-ORAL-ROM (Espanhol, Francês, Italiano e Português Europeu). Naturalmente, os dados presentes no corpus poderão ser utilizados para pesquisas das mais variadas áreas da Lingüística e sob orientações teóricas diversas.

2

Veja-se CRESTI-FIRENZUOLI (2002) para os padrões mais importantes (tópico-comentário e comentário-apêndice)

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Cada unidade informacional possui função, distribuição dentro do enunciado e perfil entonacional característicos. O Tópico (TOP)3 é a unidade que funciona como campo de aplicação da força ilocucionária do COM, ou seja, delimita semanticamente o COM, aparecendo sempre antes deste, ainda que não sempre imediatamente antes. É a única unidade além do COM que possui foco funcional. Enquanto a forma e a posição do foco da unidade de COM variam com base na ilocução veiculada, o foco do TOP está sempre à direita da unidade. Tanto o COM quanto o TOP podem ser seguidos por uma unidade que, de modo geral, realiza a integração textual da unidade que acompanha. Trata-se do Apêndice de Comentário e do Apêndice de Tópico (APC e APT, respectivamente4).

Além dessas unidades, Cresti classifica também os Parentéticos (PAR)5, os Auxílios Dialógicos (AUX)6 e os Introdutores Locutivos (INT)7. Os PAR são unidades com função metalingüística através das quais o falante fornece informações ao interlocutor sobre como interpretar o conteúdo do enunciado. São freqüentemente modalizadores8 e possuem um perfil nivelado ou com pequenos movimentos, F0 normalmente mais baixa que o resto do enunciado e, freqüentemente, maior velocidade de elocução. Os AUX são unidades com função interacional, ou seja, não compõem o texto do enunciado propriamente dito, mas regulam o bom funcionamento da interação. Cresti classifica os

3

Para aprofundamento sobre a unidade de tópico veja-se SIGNORINI (2004a e 2004b); FIRENZUOLI-SIGNORINI (2003). Para o PB, veja-se RASO-MELLO (no prelo b).

4

Para algumas observações sobre tópico, apêndice de comentário e apêndice de tópico em PB, veja-se RASO-MELLO (no prelo b); ALVES DE DEUS (2008) e ULISSES (2008).

5

Para aprofundamento sobre a unidade de parentético veja-se TUCCI (2004) para o Italiano; VALE (2010) para o PB e MOTA (2010) para o Espanhol.

6

Para aprofundamento sobre os auxílios dialógicos (marcadores discursivos) veja-se FROSALI (2008) para o Italiano, MAIA ROCHA-RASO-ANDRADE (2009); RASO-GOULART (2009) e MAIA-ROCHA-RASO (no prelo) para o PB.

7

Para aprofundamento sobre a unidade de introdutor locutivo veja-se GIANI (2003 e 2004) e CORSI (2009).

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principais AUX em conativos (CNT), alocutivos (ALL), fáticos (PHA), incipitários (INP), conectores discursivos (DCT) e expressivos (EXP).

2.2. OS INTRODUTORES LOCUTIVOS

Em relação aos Introdutores Locutivos (INT), as informações às quais se tem acesso no presente momento são principalmente relativas a pesquisas sobre a língua italiana. O uso de um INT sinaliza ao interlocutor que espaço locutivo que segue (geralmente Comentários e, mais raramente, Listas de Tópicos ou Parentéticos) possui um ponto de vista unitário. Esse espaço mantém o mesmo ponto de vista ainda que composto por padrões complexos, como TOP, COM, AUX etc. Quando o espaço locutivo seguinte é um Comentário, o INT sinaliza que a unidade sucessiva contém uma meta-ilocução e que, portanto, sua ilocução convencional não opera no momento da interação. Pode-se dizer, então, que o INT marca a suspensão pragmática do enunciado, instaurando nele um HIC ET NUNC diferente. As meta-ilocuções introduzidas pelo INT são as de Discurso Reportado (DR), instrução, elenco, comparação e exemplificação.

Quanto à distribuição dessas unidades informacionais, na maioria das vezes elas precedem o COM que carrega a meta-ilocução introduzida mas podem preceder também uma Lista de Tópicos ou um Parentético. Os INT possuem modalidade, a qual é necessária para determinar a natureza da meta-ilocução por eles introduzida. Se a modalidade é alética, o valor ilocucionário introduzido pelo COM é o de discurso reportado ou em alguns casos de elenco; se a modalidade é epistêmica, o valor ilocucionário introduzido pelo COM é o de exemplificação; se a modalidade é deôntica, o valor ilocucionário introduzido pelo COM é um conselho ou uma instrução.

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Os INT não possuem forma fixa de curva entonacional, não possuem foco, apresentam velocidade muito alta e, na grande maioria das vezes, valores de F0 mais baixos que os valores apresentados pelo COM seguinte, estabelecendo claro contraste entonacional entre a unidade que introduz a meta-ilocução e a meta-ilocução introduzida. Esse contraste é o principal indicador da suspensão pragmática. As características prosódicas da unidade de INT podem ser visualizadas nas figuras abaixo, nas quais observa-se a F0 medida em Hertz no eixo das ordenadas e o tempo medido em segundos no eixo das abcissas.

FIGURA 1

*REG: falei /=INT= tá lindo //=COM= (Meta-ilocução de Discurso Reportado) FIGURA 2

(6)

*REG: aí o quarto /=INT= nũ tinha banheiro /=CMM= nũ tinha telefone /=CMM= nũ tinha campainha /=CMM= nũ tinha nada //=CMM9

(Meta-ilocução de elenco)

FIGURA 3

*HMB: por exemplo /=INT= um jantar /=SCA= pra poucas pessoas //=COM= (Meta-ilocução: Exemplificação)

A etiquetagem é realizada após a segmentação dos textos em unidades tonais. No processo de etiquetagem são atribuídos valores informacionais às unidades tonais previamente marcadas. Assim, no exemplo apresentado pela FIGURA 1, por exemplo, foram atribuídos valores informacionais de Introdutor Locutivo (indicado pela etiqueta INT) à primeira unidade tonal e de Comentário (etiqueta COM) à segunda unidade tonal.

Durante este estudo inicial sobre os Introdutores Locutivos em PB, foram encontrados não somente INT com F0 mais baixa que a F0 do COM (os quais constituem a grande maioria), mas também INT com valores de F0 mais altos do que os valores apresentados pelo COM seguinte, como pode ser observado a partir da FIGURA 4. Nesse exemplo o contraste também é evidente, mas dada a F0 muito baixa da ilocução o INT foi realizado

9

A sigla CMM indica um Comentário Múltiplo, ou seja, uma ilocução que, por sua própria natureza, precisa ser constituída de mais unidades de COM.

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mais alto. Assim, casos como esse parecem ser muito raros e justificados por uma F0 muito baixa da unidade de COM e a necessidade de um contraste entre essa F0 e a F0 da unidade de INT.

FIGURA 4

*BRU: então ela começa assim /=INT= olá //=COM= (Meta-ilocução de Discurso Reportado)

2.3. A AMOSTRA UTILIZADA E A IDENTIFICAÇÃO DOS INT

Foram analisados 10 textos de aproximadamente 1.500 palavras cada um, pertencentes ao C-ORAL-BRASIL: 5 de tipologia dialógica (na qual decidiu-se englobar tanto diálogos quanto conversações) e 5 de tipologia monológica. Tais textos são transcritos em formato CHAT10 implementado para a anotação prosódica (MONEGLIA-CRESTI 1997). Abaixo observa-se uma tabela com as características dos textos utilizados na amostra.

TABELA 1

TIPOLOGIA SITUAÇÃO PARTICIPANTES

DIALÓGICA Duas amigas fazem as compras do mês em FLA e REN

10

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um supermecado.

DIALÓGICA Quatro faxineinas de um condomínio conversam durante a pausa do serviço

EDE, JUN, MAR e JUL

DIALÓGICA Amiga ensina à outra a usar o software WinPitch.

BRU e HEL

DIALÓGICA Engenheiro ensina a um pedreiro o que fazer em uma obra de um sítio

PAU e ROG

DIALÓGICA Seis professores de uma faculdade privada discutem questões relativas ao trabalho

MMM, CFR, LAT, THI, RAN, GLE

MONOLÓGICA Jovem fala sobre sua vontade de sair do interior e estudar na capital

MIC

MONOLÓGICA Mulher conta como foi o parto de seu último filho.

REG

MONOLÓGICA Chefe de cozinha dá dicas para a escolha de um prato para um jantar.

HMB

MONOLÓGICA monólogo de um senhor que conta a história de uma cobra da cidade de Araçuaí.

MAI

MONOLÓGICA Entrevista com uma professora de Inglês da rede pública de ensino

SHE

A análise foi feita em dois níveis distintos: um perceptual (HART; COLLIER; COHEN, 1990) e outro acústico. O primeiro tem como base a percepção do pesquisador, dado que segundo a Teoria da Língua em Ato o falante possui a competência para identificar ao longo do continuum da fala quebras prosódicas terminais e não-terminais. O segundo conta com a utilização do software WinPitch que permite a visualização dos principais fatores prosódicos envolvidos na produção da fala (F0, intensidade, duração), os quais são essenciais para a etiquetagem informacional.

Tais níveis de análise permitem a aplicação dos três critérios utilizados na identificação das unidades informacionais do enunciado: o critério funcional (identifica a função da

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unidade no enunciado), o critério distribucional (identifica a posição da unidade dentro do enunciado) e o critério entonacional (identifica as características prosódicas da unidade).

Assim, buscou-se identificar as unidades que correspondem às características dos INT: ter a função de introduzir no enunciado uma meta-ilocução, uma lista de TOP ou um PAR; por distribuição, a posição imediatamente anterior ao COM que carrega a meta-ilocução ou o espaço unitário determinado pela lista de TOP ou pelo PAR; e por entonação um perfil caracterizado por velocidade alta, duração curta, F0 baixa (na grande maioria das vezes) e ausência de foco funcional. Nessa amostra não foi encontrado nenhum caso de INT que introduza uma lista de TOP ou um PAR. Após a identificação dos INT foi verificada a natureza das meta-ilocuções introduzidas por eles e feita a análise dos correlatos léxico-morfossintáticos dos INT.

3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Nos 10 textos analisados foram encontrados 85 Introdutores Locutivos, 45 deles em textos de tipologia monológica e 40 em textos de tipologia dialógica.

A análise das meta-ilocuções introduzidas pelos INT apresenta o seguinte resultado: TABELA 2

Meta-ilocuções introduzidas Freqüência Exemplo

Discurso Reportado 64 *REG: falei /=INT= tá lindo //=COM=

Exemplificação 20 *HRM: por exemplo /=INT= um jantar

/=SCA= pra poucas pessoas //=COM=

Elenco 1 *REG: aí o quarto /=INT= nũ tinha

banheiro /=CMM= nũ tinha telefone

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/=CMM= nũ tinha nada //=CMM=

Comparação 0 -

Instrução 0 -

Como pode ser observado através da tabela 2, a meta-ilocução mais introduzida pela unidade de INT é a de Discurso Reportado, seguida das meta-ilocuções de exemplificação e de elenco. Nesses textos as meta-ilocuções de comparação e instrução não foram observadas. Na TABELA 3 podemos observar as meta-ilocuções introduzidas levando-se em conta a tipologia interacional específica:

TABELA 3

Meta-ilocuções introduzidas Dialógicos Monológicos

Discurso Reportado 33 30

Exemplificação 7 14

Elenco 0 1

Quanto às características léxico-morfossintáticas dos INT, foram verificados os seguintes resultados:

TABELA 4

Características Freqüência Exemplo

Sintagmas Verbais 69 *REG: falei /=INT= no SUS não /=CMM= minha filha /=ALL= no susto //=CMM=

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Sintagmas Adverbiais 7 *MIC: &he /=TMT11= igual /=INT= tem um amigo /=SCA= da família da minha mãe /=TOP= que ele /=SCA= é /=SCA= diretor /=COM= de teatro //=APC=

Sintagmas Nominais 5 *MIC: então /=INP= ele /=INT= ah não /=INP= mas aqui em Sete Lagoas tem cursos bons / cê faz aqui em Sete Lagoas //=COM=

Sintagmas Preposicionais

4 *HRM: por exemplo /=INT= um jantar / pra poucas pessoas //=COM=

Os INT mais freqüentes são constituídos por Sintagmas Verbais, seguidos daqueles constituídos por Sintagmas Adverbiais, Sintagmas Nominais e Sintagmas Preposicionais.

Considerando que são constituidos principalmente por SV, as características morfossintáticas dos INT dizem respeito principalmente à conjugação dos relativos verbos, os quais aparecem predominantemente nos tempos presente e passado do modo indicativo.

Lexicalmente, os Introdutores muito freqüentemente são constituídos por verba dicendi, principalmente o verbo falar, como pode ser visto abaixo na TABELA 5. Outros verba

dicendi ou putandi que constituem INT na amostra utilizada são pensar, dizer etc.

Verbos que não fazem parte da categoria dos verba dicendi/putandi mas foram também encontrados como INT foram: escrever, estar, ligar, virar, ficar, vir etc, os quais adquirem de fato valor semântico de verba dicendi ou putandi. Serializações verbais

11

A sigla TMT é usada para indicar a tomada de tempo feita pelo falante através, nesse caso, de uma hesitação.

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também usadas como INT são virar falar ou pegar falar. Nos exemplos abaixo optou-se por etiquetar somente as unidades de INT e COM.

TABELA 5

Verbo Frequência Exemplo

Falar 56 *JUL: eu falei /=INT= ela que tá com dez anos //=COM=

Pensar 4 *HMB: eu acho que as pessoas pensa assim /=INT= não //=COM=

Ligar 2 *BRU: e / minhas amigas aqui me ligavam /=INT= vão fazer tal coisa //=COM=

Dizer 1 *FLA: como diz ocê /=INT= não precisa //=COM=

Estar 1 *REG: aí ea tá assim /=INT= No’ / que chique / não sei o quê //=COM=

Vir 1 *MIC: porque / as pessoas chegam pra senhora

empolgadas / falando / que têm vontade de fazer isso e aquilo / e a senhora vem /=INT= ah / não é bom o curso //=COM=

Escrever 1 *BRU: a Lívia escreveu pra mim assim /=INT= Bruna / eu não sou mosca morta como você //=COM=

Ficar 1 *REG: no carro eu ficava com o Haroldo /=INT= corre Haroldo //=COM=

Pegar falar 1 *HEL: a Lívia / depois que cê foi embora até eu liguei / peguei falei /=INT= hoje eu vou ligar pra todo mundo //=COM=

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Virar falar 1 *REG: e a médica virou falou assim /=INT= o’ / ea nũ tá tendo hemorragia nem nada / desiste //=COM=

Observou-se também na amostra que, contrariamente à tendência verificada na Língua Italiana, no PB os INT são frequentemente omitidos em longas sequências de Discursos Reportados de falantes diferentes. Em PB, fatores prosódicos parecem ser usados com mais frequência para indicar a mudança de falantes, enquanto em Italiano parece ser sempre presente a unidade de INT (com exceção de raríssimos casos). Na FIGURA 5 abaixo tem-se um exemplo em que a falante JUL reproduz uma sequência de discursos reportados de falantes diferentes sem no entanto usar diversos INT, utilizando tal unidade informacional apenas para introduzir um dos enunciados que compõem o discurso reportado e utilizando, a partir disso, a prosódia como elemento de distinção entre os falantes. No exemplo abaixo são usados graficamente o negrito e o itálico para marcar a diferenciação dos falantes envolvidos na interação.

FIGURA 5

*JUL: e’ falou assim /=INT= se cê tivesse dinheiro pra pagar cê passava a roleta //= COM= eu vou passar / moço //=COM= mas o ônibus tá cheio //=COM= nũ interessa //=COM= cê tinha que ter passado //=COM= mas eu sou homem trabalhador / cê nũ

pode fazer isso comigo não //=COM= se ocê fosse trabalhador cê tinha pagado a

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4. CONCLUSÃO

A partir das análises realizadas, nota-se que os INT são ligeiramente mais freqüentes em textos de tipologia monológica, os quais, por definição, apresentam enunciados maiores e de estrutura mais complexa. Levando-se em consideração que a amostra utilizada nesse estudo não é suficiente para que generalizações possam ser feitas, as conclusões tiradas a partir desses dados deverão ser verificadas em amostras maiores. É provável que uma distinção entre trechos narrativos e trechos acionais dentro de uma tipologia dialógica leve a confirmar essa impressão de maior ocorrência de INT em diálogos.

Outra conclusão é a de que a meta-ilocução mais introduzida pela unidade informacional aqui estudada é a meta-ilocução de Discurso Reportado, a qual corresponde a 75% das meta-ilocuções presentes nessa amostra.

Como um estudo piloto, este trabalho levantou a hipótese de que os Introdutores Locutivos do Português Brasileiro podem ser omitidos quando situacionalmente é clara a introdução de uma meta-ilocução, ou seja, quando a prosódia realiza a função de marcar a mudança dos falantes reportados. Em Língua Italiana, ao contrário, tal fenômeno parece não ser observado.

Outra hipótese levantada a partir deste trabalho é o maior uso de INT em PB que em Italiano. No estudo de CORSI (2009) foram encontrados 160 INT em uma análise sobre 39.414 palavras. Neste trabalho foram encontrados 85 INT em uma análise sobre 15.000 palavras. Se fazemos as proporções temos que possivelmente a unidade em questão é mais frequente em PB que em Italiano, impressão que poderá ser confirmada em estudos posteriores.

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Como possibilidade de estudo futuro tem-se a análise das potencialidades da Teoria da Língua em Ato para o estudo do Discurso Reportado, meta-ilocução mais introduzida pelas unidades informacionais aqui analisadas.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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