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ESCORREGAMENTO DE ENCOSTAS EM ÁREAS URBANAS HABITADAS POR POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

SOLANGE HINGST CAMPOI ABREU

ESCORREGAMENTO DE ENCOSTAS EM ÁREAS

URBANAS HABITADAS POR POPULAÇÃO DE BAIXA

RENDA

SÃO PAULO

2007

(2)

SOLANGE HINGST CAMPOI ABREU

ESCORREGAMENTO DE ENCOSTAS EM ÁREAS

URBANAS HABITADAS POR POPULAÇÃO DE BAIXA

RENDA

Orientador: Profª. Dra. Gisleine Coelho de Campos

SÃO PAULO

2007

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Graduação do

Curso de Engenharia Civil da

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SOLANGE HINGST CAMPOI ABREU

ESCORREGAMENTO DE ENCOSTAS EM ÁREAS

URBANAS HABITADAS POR POPULAÇÃO DE BAIXA

RENDA

Trabalho _________________em:______de______________________de 2007 _______________________________________________

Profª. Dra. Gisleine Coelho de Campos

_______________________________________________ Prof° Dr. Wilson Shoji Iyomasa

Comentários:_____________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Graduação do

Curso de Engenharia Civil da

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Dedico à minha família, ao meu esposo Valter e aos meus filhos,

Thiago e Thaissa, pelo carinho, apoio e por sempre desejarem o meu sucesso.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por proporcionar condições físicas e emocionais, para a elaboração desse trabalho de suma importância na minha vida.

Agradecimentos à Professora Gisleine, minha orientadora, em auxiliar-me com paciência e dedicação de uma amiga.

As geólogas, Simone da Silva e Karina Glória, da Defesa Civil da sub-prefeitura M’ Boi Mirim, que gentilmente cedeu arquivo e esclarecimentos verbais sobre áreas de riscos na região da Capela do Socorro.

Ao geólogo Ronaldo Figueiredo, da Defesa Civil do Município de São Paulo, o qual prontamente me esclareceu dúvidas e orientou que caminho tomar para a iniciação desse trabalho.

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RESUMO

O crescimento nos centros urbanos brasileiros, geralmente, ocorre sem um planejamento integrado e sem previsão do crescimento populacional futuro organizado. Áreas que deveriam ser protegidas, como as áreas de mananciais ou de risco, acabam sendo ocupadas de maneira irregular, colocando em risco a população e o meio ambiente. O monitoramento e fiscalização destas ocupações são realizados de maneira demorada e ineficiente, pois faltam pessoas capacitadas para a realização deste tipo de trabalho. A comprovação dessa realidade é apresentada por meio de um estudo de caso – Chácara Bananal - que mostra a existência de moradias em situações precárias nos grandes centros urbanos, sem planejamento prévio de uso do solo, ocupadas pela população de baixo poder aquisitivo.

Palavra chave: Escorregamento de encostas, causas antrópicas, encostas, uso do solo, meio ambiente

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ABSTRACT

The development of urban areas in Brazil usually occurs without an integrated planning and no forecast of future population. Areas that should be protected, as spring or areas of risk, end up being used in a wrong way, putting at risk the people and the environment. The monitoring and supervision of these activities are carried out on a time-consuming and inefficient process, because there are not professionals for carrying out this kind of work. One example of this fact is presented in a case study - Chácara Bananal - which shows the existence of living in precarious situation in large urban centers, without prior planning for using the land, occupied by people with a low purchasing power.

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LISTA DE FIGURAS

1Figura 5.7 – Corte e aterro (BITAR, 1990). Figura 5.8 – Bairro do Lobato – 1992

(CODESAL, 2004) ...21

Figura 5.9 – Retirada de vegetação (BITAR, 1990)...22

Figura 5.10 – São Gonçalo do Retiro, 1995 (CODESAL, 2004). ...23

Figura 5.11 – Lixo doméstico (BITAR, 1990). ...23

Figura 5.12 – Morro do Gavazza Barra, 1998 (CODESAL, 2004). ...24

Figura 5.13 – Movimento de massas (BITAR, 1990). ...24

Figura 5.14 – Rua Irecê Paripe, 2002 (CODESAL, 2004)...25

Figura 5.15 – Vazamento de água e esgoto (BITAR, 1990). ...25

Figura 5.16 – Morro do Gavazza Barra, 1999 (CODESAL, 2004). ...26

Figura 7.1 – Amostra de solo, 2005 (Defesa Civil 2007)...35

Figura 7.2 – Declividade do terreno e achatamento no fundo do vale 2005 (Defesa Civil 2007)...35

Figura 7.4 – Foto tirada via satélite da região da Chácara Bananal (Google Earth, 2007). 36 Figura 7.1.1 – Setor 2 (Google Earth, 2007)...38

Figura 7.1.2 – Moradia feita com sucata, 2005 (Defesa Civil, 2007). ...39

Figura 7.1.3 – Moradia feita de alvenaria 2005 (Defesa Civil, 2007). ...39

Figura 7.1.4 – Moradias feitas com madeiras, 2005 (Defesa Civil, 2007)...40

Figura 7.1.5 – Trincas nas paredes da residência, causadas por aterros mal compactados, 2006 (Defesa Civil, 2007). ...40

Figura 7.1.6 – Solapamento devido ao desmatamento, 2006 (Defesa Civil, 2007). ...41

Figura 7.1.7 – Solapamento devido ao corte, 2006 (Defesa Civil, 2007)...41

Figura 7.1.8 – Lixo lançado na encosta desabitada da Rua Beira Rio, 2006 (Defesa Civil, 2007)...42

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Figura 7.1.9 – Lixo e esgotamento sanitário, 2006 (Defesa Civil, 2007)...42 Figura 7.1.10 – Lançamento de esgoto no córrego, 2005 (Defesa Civil, 2007). ...43 Figura 7.1.11 – Poços indevidamente construídos, 2005 (Defesa Civil, 2007)...43 Figura 7.1.12 – Encanamentos de água apropriados indevidamente, 2005 (Defesa Civil, 2007)...44 Figura 7.1.13 – Nascente aterrada para servir de passagem, 2005 (Defesa Civil, 2007)..44

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LISTA DE TABELAS

1Tabela 5.1 – Fatores Deflagradores dos Movimentos de Massa (BITAR, 1995). ...12 Tabela 5.2 – Agentes / Causas dos Escorregamentos e Processos Correlatos (GUIDICINI e NIEBLE,1976)...13

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LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas PMSP Prefeitura Municipal de São Paulo CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente RMSP Região Metropolitana de São Paulo

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...1 2. OBJETIVO...4 2.1 Objetivo Geral...4 2.2 Objetivo Específico ...4 3. METODOLOGIA ...5 4. JUSTIFICATIVA...6

5. ESCORREGAMENTO EM ENCOSTAS NATURAIS E OCUPADAS ...9

5.1 Definições básicas e classificações de escorregamentos ...10

5.2 Fatores que atuam na deflagração dos escorregamentos...11

5.3 As chuvas como agente deflagrador de escorregamentos...13

5.4 Características Naturais Agravantes dos Processos de Escorregamentos ...14

5.4.1 Relevo...15 5.4.2 Vegetação...15 5.4.3 Pluviosidade ...16 5.4.4 Lençol Freático ...17 5.5 Causas antrópicas ...17 5.6 Estabilização de encostas ...18 a) Água ...19 b) Cortes ...20 c) Aterros ...20 d) Densidade Populacional ...21 e) Tipologia Construtiva ...21

(13)

f) Drenagem ...22

g) Desmatamento ...22

h) Detritos ...23

i) Sobrecargas ...24

j) Cultivo de espécies inadequadas ...25

k) Vazamentos de Água e Esgoto ...25

6. ÁREA DE RISCO COM OCUPAÇÃO CLANDESTINA E DESORDENADA...27

7. CHÁCARA BANANAL ...34

7.1 Setor 2 – Chácara Bananal...37

8. CONCLUSÃO ...46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...47

(14)

1. INTRODUÇÃO

A superfície da Terra vem sendo esculpida por agentes geológicos, climatológicos, biológicos e por ações antrópicas. Algumas mudanças necessitam de milhares de anos para serem percebida, mas outras transformações podem ser vistas em apenas alguns anos.

A ação do homem altera as características originais da superfície, seja para a agricultura, ou a pecuária, mineração ou ocupação urbana, potencializando a instabilidade do terreno, e podendo apresentar grande impacto à natureza e muitas vezes riscos aos seres vivos. As grandes cidades brasileiras, principalmente as regiões metropolitanas, compactuam com o processo acelerado e irreversível de urbanização, caracterizando a expansão das cidades devido ao parcelamento do solo sem diretrizes prévias de implantação.

Os problemas como escorregamentos, colapsos de solo, degradação e esgotamento dos recursos hídricos, contaminação do solo, entre outros, colocam em risco a vida de parcela desta enorme população urbana.

Este quadro expõe a necessidade de se conhecer as características dos terrenos e seu comportamento diante das solicitações próprias de seu uso urbano, destacando-se o meio físico como o componente ambiental que mais interage com o ambiente construído.

Observa-se que há vários tipos de ocupação urbana, de maneira irregular, que freqüentemente são chamadas de invasões. Algumas dessas invasões chegam a condições irreversíveis, tornando os moradores proprietários legalizados das áreas ocupadas, devido à dificuldade de remoção e realocação dos mesmos.

A definição mais apropriada para esse tipo de invasão seria: assentamento habitacional espontâneo, localizado em áreas públicas ou particulares, de forma ilegal em relação à propriedade do solo e cujas moradias encontram-se em desacordo com as leis de uso e

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ocupação do solo, independentemente do número de moradias existentes e da tipologia construtivas dos domicílios (ALMEIDA, 2000).

Não existe uma análise atual exata do número total de famílias e domicílios instalados em favelas, loteamentos e conjuntos habitacionais irregulares, cortiços, casas de fundo, ocupações de áreas públicas sob pontes, viadutos, marquises e nas beiras de rios. No entanto, é visível que o fenômeno está presente na maior parte da rede urbana brasileira. Os especialistas apontam diversos fatores causadores de tal realidade, como, o elevado número de propriedades urbanas ociosas, que não cumprem sua função social, a falta de definições claras no que se refere à regulação e gestão habitacionais, a carência de políticas de moradia e a lentidão das leis. O presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), (BIMBI, 2004), atribui o problema às desigualdades sociais herdadas de um longo processo histórico marcado pela ausência de políticas públicas. Os assentamentos destes tipos de ocupações são realizados sem uma preparação preliminar do terreno, onde não existe infra-estrutura urbana e nenhuma padronização de parcelamento e de ocupação dos lotes, caracterizando a irregularidade e a desordem, e limitando os acessos às edificações e às necessidades básicas da comunidade. Essas ocupações em diferentes áreas urbanas acabam provocando alterações em relação ao uso desejado, prejudicando tanto o meio ambiente quanto a população moradora da cidade em geral.

O presente estudo relata formas errôneas e seus efeitos negativos no uso e ocupação do solo em áreas de preservação ambiental. Um dos fatores atuantes são os escorregamentos em terrenos com elevada inclinação natural, que são deflagrados pela população para construção de suas casas, descaracterizando relevo, tipologia do solo, vegetação nativa da região, índices pluviométricos, lençóis freáticos etc.

As execuções de cortes e aterros excessivos para construção de casas modificam o relevo, sem estudos preliminares, alterando a declividade dos taludes - em muitos casos o

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material de corte é servido de aterro ou lançados nas encostas favorecendo a instabilidade (GEORIO, 2000).

O desmatamento aumenta a possibilidade de movimentação de massas, expondo o solo, minimizando a infiltração das águas pluviais e maximizando o escoamento superficial. Na maioria das vezes são cultivadas espécies de vegetações inadequadas, com características de crescimento, enraizamento e tempo de vida curta, e ao morrerem, tombam naturalmente, gerando o desprendimento do solo.

As casas são construídas próximas das cristas ou nas bases dos taludes, sem fundações adequadas para o tipo de solo. Muitas delas são construídas com vários tipos de materiais tais como: alvenaria; barracos de madeiras; restos de materiais de construções e sucatas.

A dificuldade de acessibilidade às casas faz com que serviços básicos não sejam implantados, tais como: coleta de lixo, rede energia elétrica, distribuição canalizada de água e rede de esgoto, etc. As conseqüências são desastrosas, os resíduos gerados são lançados em córregos ou em encostas ainda desabitadas. A água para consumo é captada de poços perfurados sem nenhuma orientação técnica, ou são roubadas da rede de distribuição local; a contaminação das águas também é aparente, pois os encanamentos que a conduzem passam junto aos de esgoto.

Os territórios irregulares, que não atendem aos parâmetros urbanísticos estabelecidos, ficam oficialmente excluídos do acesso aos serviços e investimentos públicos. A omissão do poder público em implementar um conjunto de medidas voltadas para impedir o surgimento de novos assentamentos clandestinos, e até mesmo a dos próprios moradores coloca em perigo aspectos de interesse coletivo e individual, que interferem significativamente na qualidade de vida da cidade como um todo.

(17)

2. OBJETIVO

As conseqüências do processo de ocupação das encostas são um conjunto de ações desfavoráveis que, juntamente com os fatores climáticos, contribuem para a instabilidade dos maciços de solo. Assim, citam-se o desmatamento e implantação de moradias desprovidas de técnicas construtivas adequadas (cortes e aterros desprotegidos para execução de platô de implantação da moradia, descalçamento de elementos rochosos); a precariedade ou ausência de serviços de infra-estrutura urbana tais como água, esgoto, coleta de lixo, entre outros (com o lançamento de lixo e entulho na encosta; vazamento de esgoto a céu aberto).

2.1 Objetivo Geral

Descrever as características antrópicas que agravam os processos de escorregamentos em encostas urbanas, ocupadas com habitações precárias sem nenhuma ou com insignificantes condições de habitabilidade, ou seja, sem infra-estrutura e, originariamente, sem legalidade da situação fundiária.

.

2.2 Objetivo Específico

Analisar assentamentos irregulares, dentre eles as favelas, que ocupam áreas remanescentes do parcelamento do solo urbano e áreas públicas que se encontram em fundos de vale ou em encostas íngremes, em más condições para a edificação, ou seja, os piores locais disponíveis dentro do contexto urbanizado.

Discussão de casos de escorregamentos próximos à região do Guarapiranga, apontados pela Defesa Civil responsável pela Regional da Capela do Socorro, constituem o estudo de caso deste trabalho.

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3. METODOLOGIA

O presente estudo baseia-se em pesquisas e investigações de casos ocorridos na Região Metropolitana de São Paulo, relatando aspectos da ocupação de encostas na cidade e os fatores contribuintes para o mecanismo de instabilidade de uma encosta com lixo doméstico, por meio de:

• Dados cedidos pela defesa civil do município; • Pesquisas em sites de artigos científicos;

• Livros sobre ocupação de encostas, escorregamento de áreas com grandes declividades, assentamentos irregulares em área urbana associados à degradação do meio ambiente;

• Publicações referentes a habitações em local de risco de deslizamento e contenção de taludes;

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4. JUSTIFICATIVA

O processo desordenado de urbanização atinge indiscriminadamente, encostas íngremes, áreas inundáveis e outros tipos de terrenos expostos a risco, levando à precariedade e à rápida obsolescência da infra-estrutura urbana, bem como a um crescente número de acidentes de natureza geológica-geotécnica, com efeitos que variam desde prejuízos materiais até perdas humanas. Dentre os fenômenos mais freqüentes, destacam-se as erosões, os deslizamentos de encostas, o assoreamento de cursos de água e as inundações. Soma-se a isto, o lançamento indiscriminado de detritos gerados pela ocupação urbana, incluindo lixo, efluentes sanitários e entulho. Cada município possui uma particularidade que deve ser observada para maior e mais completa aplicação dos recursos contra suas conseqüências mais diretas em que ocasionam o escorregamento de encostas.

As restrições à ocupação humana em áreas de preservação são permanentes, aplica-se tanto a áreas rurais quanto à urbana. A aplicação das normas legais a áreas urbanas tem se mostrado complexo, principalmente em razão da expressiva população de baixa renda em precárias condições de sobrevivência no País.

Para proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas, determinam-se funções ambientais relevantes, como preservar recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade e o fluxo gênico de fauna e flora,. Contudo, o acelerado processo de urbanização verificado nas últimas décadas, em boa parte das médias e grandes cidades brasileiras, sobretudo nas regiões metropolitanas, praticamente ignorou as restrições legais e avançou descontrolado sobre as áreas de proteção, produzindo importantes modificações nas características dessas áreas, limitando o desempenho daquelas funções e gerando expressivo passivo ambiental a ser equacionado.

Os efeitos negativos decorrentes desse processo são notáveis, abrangendo aspectos econômicos, ambientais e sociais, como mostram as amplificação de enchentes e inundações e a redução de áreas verdes, além de gastos crescentes aos cofres públicos

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na execução de canais, piscinões e outras obras de drenagem, transtornos e prejuízos a circulação urbana, alterações climáticas, que trazem desconforto térmico, perda de qualidade e quantidade de água, afetando os recursos hídricos e o abastecimento público, entre outros problemas associados.

Em face da realidade atual das áreas de proteção em espaços urbanos, estabeleceu-se uma situação particularmente difícil, tendo em vista a enorme quantidade de habitações nelas instaladas, a maior parte ocupada por contingentes populacionais de baixa renda. Como os morros do Rio de Janeiro, as encostas com altas declividades em São Paulo e Belo Horizonte, o mangue em Salvador, entre outros, ilustra de maneira inequívoca a dimensão significativa do problema. Expõem a uma alternativa habitacional encontrada pela população de baixa renda, a despeito dos crescentes riscos aos quais acaba se submetendo, isto é, deslizamentos, enchentes, inundações, recalques e outros. Com o tempo as funções pretendidas em preservar essas áreas, se perdem, acentuadas pela própria precariedade das habitações e pela degradação ambiental associada, conseqüentemente da ausência de infra-estrutura de saneamento e de problemas como lançamento inadequado de efluentes, descarte aleatório de resíduos domésticos, destruição de vegetação nativa, indução de processos erosivos, impermeabilização do solo, incluindo os efeitos cumulativos dessas práticas.

.

A solução dessa e de outras questões parece estar sendo buscada, sobretudo no campo jurídico. Porém, a várias propostas de alteração das normas legais e que se encontra em andamento, tanto por meio de projetos de lei no congresso Nacional quanto resoluções do CONAMA - (Conselho Nacional do Meio Ambiente), ANEXO A, denotam que, apesar da degradação sócio-ambiental constatada nos assentamentos habitacionais precários em áreas de preservação, particularmente em sítios urbanos, esses casos não têm sido tratados de maneira clara (PESCARINI e BITAR, 2001).

Dessa forma, enquanto o tema não encontra equacionamento sob o ponto de vista legal, impõe-se ao poder público e a sociedade a responsabilidade pela gestão do problema. Consulta a diversos especialistas no assunto, atuantes em órgãos públicos de licenciamento ambiental, consultores privados, organizações não governamentais,

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universidades e institutos de pesquisa, Ministério Público e outras entidades, indicam que o tratamento gerencial da questão, embora sob controvérsias, conta com alguns pontos aceitos pela maior parte desses profissionais:

• Aplicação das normas relativa às áreas de preservação deve ser diferenciada para o ambiente urbano;

• Nas áreas de preservação em ambiente urbano deve ser destinada preferencialmente para fins de lazer, recreação e criação de áreas verdes;

• Uso e autorização para ocupação do solo, situadas em regiões urbanizadas, devem se limitar a locais degradados, mediante indução de projetos que contribuam para a recuperação das funções ambientais;

• Uso e autorização para a ocupação do solo devem estar condicionados á utilidade pública e ao interesse social.

Segundo a opinião de especialistas as áreas de preservação devem ser objeto de ajustamento em face da realidade atual, associando componentes próprios da urbanização de favelas e de reabilitação de funções dessas áreas a serem preservadas. Tal abordagem visa contribuir para o equacionamento do passivo ambiental, gerindo o problema como ferramenta de inclusão social e perspectiva da sustentabilidade ambiental das cidades (BITAR, 1995).

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5. ESCORREGAMENTO EM ENCOSTAS NATURAIS E OCUPADAS

O escorregamento constitui num campo de especialistas relacionados às varias áreas do conhecimento, como: Mecânica dos solos e das rochas, geotécnica, engenharia civil, geologia da engenharia, geologia, geomorfologia, etc.

A importância da análise controle de escorregamento está diretamente relacionada à demanda sócio-econômica oriunda de acidentes e problemas diversos concernentes a instabilização de encostas. Estima em milhares de mortes e dezenas de bilhões de dólares por ano de prejuízos oriundos da deflagração de escorregamento no mundo inteiro.

Em nível nacional, apesar de não se dispor de dados mais exatos, sabe-se que acidentes decorrentes de escorregamentos tem ocorrido em várias cidades brasileiras, muitas vezes, com mais de uma dezena de vitimas fatais, além dos danos econômicos de várias magnitudes associados a instabilizações de talude em obras civis lineares e áreas de mineração.

Pode-se afirmar que os escorregamentos constituem-se num dos processos mais importantes associados à dinâmica superficial do território brasileiro. Esta importância decorre das freqüências e da grande extensão de áreas com potencialidade para ocorrência destes processos.

Este quadro é resultado das características geológicas, geomorfológicas e climáticas do Brasil, acrescidas de alguns processos socioeconômicos verificados no país, como a intensa urbanização e ao empobrecimento geral da população.

Estes fatores contribuem para a instalação de situações de risco nas cidades, a partir da ocupação de áreas naturalmente suscetíveis a escorregamentos sem os critérios técnicos mínimos recomendados.

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Este diagnóstico aponta para uma grande demanda relacionada ao desenvolvimento de técnicas de análise e controle dos escorregamentos voltadas para a realidade ambiental e social do País.

5.1 Definições básicas e classificações de escorregamentos

Os processos de transporte de matéria sólida da dinâmica superficial do nosso planeta podem ser subdivididos em movimentos gravitacionais de massa, definido como todos aqueles que são induzidos pela aceleração gravitacional, e em movimentos de transporte de massa, onde o material movimentado é transportado por um meio qualquer, como água, gelo ou ar.

Os escorregamentos e processos correlatos fazem parte dos movimentos gravitacionais de massa, diretamente relacionados à dinâmica das encostas, distinguindo-se das subsidências e colapsos, também pertencentes a este grande grupo (Guerra, et al., 2005). As encostas podem ser definidas como toda superfície natural inclinada unindo outras duas, caracterizadas por diferentes energias potenciais gravitacionais.

O termo talude é mais empregado para definir encostas próximas a obras lineares, de mineração, etc., tendo um caráter mais geotécnico e relacionado a áreas restritas. Utilizam-se também: talude de corte, para taludes resultantes de algum processo de escavação promovido pelo homem; e taludes artificiais, relacionados aos declives de aterros, constituídos de materiais diversos.

Existem inúmeras classificações de movimentos gravitacionais de massa ou escorregamentos, sendo as mais recentes baseadas nos seguintes critérios básicos:

a) Cinemática do movimento: definida pela relação entre a massa em movimentação e o terreno estável;

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b) Tipo de material: solo, rocha, detritos, depósitos etc., destacando a sua estrutura, textura e contendo água;

c) Geometria: tamanho e forma das massas mobilizadas.

Alguns autores utilizam classificações ou termos relacionados a tipos geológicos, geomorfológicos e climáticos específicos, ou a idade e condições de atividade destes processos. Elas possuem um caráter restrito de aplicação, e os processos por elas descritos sempre podem ser associados ás classificações baseadas nos três critérios, (BITAR, 1995).

5.2 Fatores que atuam na deflagração dos escorregamentos

Os processos de escorregamento envolvem uma série contínua de eventos de causa e efeito que resultam na ruptura de materiais terrestres, quando as solicitações são maiores que a resistência dos terrenos.

Segundo Bitar (1995), pode-se agrupar os fatores que deflagram os escorregamentos em: os que aumentam as solicitações; e os que diminuem a resistência dos terrenos (Tabela 5.1).

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Tabela 5.1 – Fatores Deflagradores dos Movimentos de Massa (BITAR, 1995).

AÇÃO FATORES GEOLÓGICOS/ANTRÓPICOS FENÔMENOS

Erosão, escorregamentos REMOÇÃO DE MASSA (lateral ou

da base) Cortes

peso da água de chuva, neve, granizo, etc.

acúmulo natural de material (depósito) peso da vegetação

SOBRECARGA

construção de estruturas, aterros, etc. terremotos, ondas, vulcões, etc. AUMENTO DA

SOLICITAÇÃO

SOLICITAÇÕES DINÂMICAS

explosões, tráfego, sismos induzidos. PRESSÕES LATERAIS água em trincas, congelamento, material expansivo. CARACTERIÍSTICAS INERENTES

AO MATERIAL (geometria, estruturas, etc.).

característica geomecânicas do material, tensões.

intemperismo=> redução na coesão, angulo de atrito. REDUÇÃO DA RESISTÊNCIA MUDANÇAS OU FATORES VARIÁVEIS elevação do N.A.

Alguns especialistas discutem estes fatores, utilizando a terminologia de agentes e causas, entendendo como causa o modo de atuação de um determinado agente no equilíbrio entre as forças motoras e resistentes.

Na maioria das rupturas, atuam vários fatores simultaneamente, ou um único fenômeno pode produzir os efeitos de aumento da solicitação, e diminuição da resistência do terreno. Atentar apenas para o fator (agente/causa) final responsável pelo movimento, não é somente difícil, mas também pode ser incorreto, já que ele pode representar apenas o gatilho que pôs em movimento uma massa que já estava em processo de ruptura.

Segundo Guidicini e Nieble (1976), a identificação precisa dos fatores responsáveis pela movimentação é fundamental para a adoção das medidas corretivas ou preventivas mais acertadas do ponto de vista técnico-econômico. Em muitos casos, a principal causa não pode ser removida, sendo, portanto, necessário reduzir os efeitos continua ou intermitentemente (Tabela 5.2).

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Tabela 5.2 – Agentes / Causas dos Escorregamentos e Processos Correlatos (GUIDICINI e NIEBLE,1976).

AGENTES/CAUSAS DOS ESCORREGAMENTOS

PREDISPONENTES Complexo geológico, complexo morfológico, complexo climático-hidrológico, gravidade, calor solar, tipo de vegetação original.

PREPARATÓRIOS

pluviosidade, erosão pela água e vento, congelamento e degelo, variação de temperatura, dissolução química, ação de fontes e mananciais, oscilação de nível de lagos e marés e do lençol freático, ação do animais e humana, inclusive de desflorestamento. A G E N T E S EFETIVOS

IMEDIATO Chuvas intensas, fusão do gelo e neve, erosão, terremotos, ondas, ventos, ação do homem, etc.

Efeitos das oscilações térmicas INTERNAS

Redução dos parâmetros de resistência por intemperismo Mudanças na geometria do sistema

Efeitos de vibrações EXTERNAS

Mudanças naturais na inclinação das camadas

Elevação do nível piezométrico em massas homogêneas Elevação da coluna da água em descontinuidades Rebaixamento rápido do lençol freático

Erosão subterrânea retrogressiva

C A U S A S INTERMEDIÁRIAS

Diminuição do efeito de coesão aparente

5.3 As chuvas como agente deflagrador de escorregamentos

As chuvas atuam como principal agente deflagrador dos escorregamentos no contexto da dinâmica climática e geológica do Brasil. Os grandes acidentes relacionados a estes processos registrados no território nacional ocorreram durante o período chuvoso, que varia de região para região.

As chuvas contribuem diretamente para as instabilidades de encostas pelos seguintes mecanismos:

a) Alteamento do nível d água e geração de forças de percolação;

b) Preenchimento temporário de fendas, trincas e/ou estruturas em solos saprolíticos e rochas (fraturas, juntas, etc.), com geração de pressão hidrostática;

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c) Formação de “frentes de saturação”, sem a elevação/formação de N.A. (solo não saturado), reduzindo a resistência dos solos pela perda de coesão aparente (GUIDICINI e NIEBLE, 1976).

A influência da distribuição da chuva no tempo correlaciona-se diretamente com o regime de infiltração no terreno, que, por sua vez, determina a taxa com que a água das chuvas penetra no maciço terroso ou rochoso, diminuindo sua resistência ou aumentando as tensões nele atuantes.

Os índices pluviométricos críticos para a deflagração dos escorregamentos dependem do tipo de processo de instabilização. Os escorregamentos induzidos são deflagrados por índices menores que os escorregamentos naturais. As corridas de massa, em geral, necessitam de índices maiores ainda.

Os escorregamentos em rocha, condicionados por planos de fraqueza, são mais suscetíveis a chuvas concentradas ou imediatas (geração de pressões hidrostáticas), sendo menos afetados pelos índices pluviométrico acumulados nos dias anteriores ao evento.

Estas estreitas relações entre a deflagração dos escorregamentos e os índices pluviométricos têm levado alguns pesquisadores a tentar estabelecer relações empíricas, probabilísticas ou físico-matemáticas entre estes dois parâmetros. O objetivo maior destas correlações entre chuvas e escorregamentos é o de prever temporalmente a ocorrência destes eventos.

5.4 Características Naturais Agravantes dos Processos de Escorregamentos

As características naturais de uma determinada região revelam uma correlação com a ocorrência dos processos de escorregamentos. São elas: relevo, tipo de solo, vegetação, índices pluviométricos e lençol freático (PISANI, 1988).

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5.4.1 Relevo

A declividade e a forma do perfil são as principais características físicas naturais que determinam uma encosta. A declividade é uma característica fundamental a ser avaliada quando do estudo de escorregamentos. É evidente que um terreno com relevo variando de muito suave a quase plano não deve apresentar grandes problemas com relação a escorregamentos.

O perfil que dá a forma das encostas é caracterizado pela variação de sua declividade ao longo de seu comprimento ou de sua extensão transversal. Os perfis mais observados são: retilíneo, convexo e côncavo.

Independentemente do perfil da encosta, a declividade é um dos fatores mais relacionados com o nível de suscetibilidade de risco. Quanto maior a declividade de uma encosta, maior é o movimento de terra necessário para a ocupação, e esses cortes e aterros realizados sem obras de estabilização geram níveis maiores de riscos associados a escorregamentos.

5.4.2 Vegetação

Entre as causas antrópicas, o desmatamento tem um papel importante como desencadeador dos movimentos de massa. A cobertura vegetal constrói ao longo do tempo um sistema radicular que estrutura as camadas superficiais do solo, similar a uma tela ou manta protetora. A vegetação forma uma malha, às vezes densa, de raízes dispostas paralelamente à superfície do terreno e esta dá às camadas superiores um aumento significativo de resistência ao cisalhamento. Esse fenômeno é bem explorado pela engenharia civil que utiliza gramíneas como agentes protetores de taludes artificiais. A retirada da camada de vegetação que protege o solo desencadeia, em pouco tempo, a deterioração e conseqüente perda de resistência do sistema radicular. Pode-se afirmar que a resistência do solo aumenta proporcionalmente a resistência de um sistema radicular por ele coberto. Evidencia-se que o sistema radicular, mesmo depois da vegetação ser cortada, continua a dar resistência durante algum tempo até que esteja totalmente deteriorado. É importante levantar historicamente os desmatamentos

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ocorridos, pois um solo nu pode aparentar estabilidade devido a um sistema radicular ainda ativo e entrar em colapso sem que seja observado o motivo, que é o enfraquecimento que ocorre debaixo do solo.

A floresta em encostas, possui o efeito de limitação das áreas de escorregamentos à montante. A vegetação forma uma verdadeira barreira para o material que escorrega, segurando-o ou diminuindo a velocidade e a força das massas em movimento e protegendo a área que está à jusante. Este efeito protetor diminui os danos causados em obras de infra-estrutura e edificações, minimizando, portanto, as perdas socioeconômicas. O estudo do papel da cobertura vegetal em relação ao balanço hídrico também é importante para o sistema de estabilidade de encostas. A camada de vegetação em um solo forma uma barreira de interceptação das águas pluviais e tem os seguintes efeitos:

• Proteger o solo contra os impactos das gotas de chuva;

• Prolongar o período de precipitação, pois a barreira que é formada pela vegetação retém parte da precipitação, que goteja após o evento, dissipando a energia e reduzindo a intensidade;

• Reter um grande volume de água em todos os componentes da camada vegetal, reduzindo a quantidade de água a atingir o solo. Essa quantidade retida varia em função das características da vegetação e da chuva.

Neste trabalho não foi ignorada a evidência de que para se edificar residências, sistemas viários e outras construções, há necessidade de remoção da vegetação, mas ressalta-se que não há necessidade de remoção total da vegetação, como é freqüente nas tipologias das ocupações em encostas brasileiras.

5.4.3 Pluviosidade

O principal agente acelerador dos movimentos gravitacionais de massa é a água. Portanto, no período chuvoso é que ocorre a maioria absoluta dos acidentes relacionados a escorregamentos em encostas. A água atua na desestabilização de uma encosta de várias formas:

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• Eleva o grau de saturação do solo e conseqüentemente diminui sua resistência; • Aumenta o peso específico do solo, devido à retenção da parte infiltrada da água; • Provoca infiltração nos vazios, fissuras e juntas dos maciços ou em parte deles,

gerando pressões hidrostáticas ou hidrodinâmicas, que podem ocasionar a ruptura de um talude.

Gera o escoamento superficial, podendo ocasionar diferentes tipos de erosões (laminar, em sulcos e boçorocas) que aumentam a instabilidade nas encostas.

5.4.4 Lençol Freático

A localização do lençol freático, mais ou menos profundo, tem influências sobre a suscetibilidade a escorregamentos. Quando há o surgimento d’água, indicando áreas de lençol freático raso e/ou "aflorante", as edificações e as obras de terraplenagem exigem cuidados especiais. Obras de drenagem são necessárias para manter a estabilidade dos solos, pois, sem elas, a saturação e outros efeitos provocados pela presença da água ocasionam instabilizações, podendo gerar escorregamentos.

5.5 Causas antrópicas

O homem vem-se constituindo o mais importante agente modificador da dinâmica das encostas. O avanço das diversas formas de uso e ocupação do solo em áreas naturalmente suscetíveis aos movimentos gravitacionais de massa acelera e amplia os processos de instabilização.

A identificação da ação antrópica como importante agente indutor de escorregamento no Brasil não pode ser considerada novidade. Gonçalves (1992) apresenta um oficio da Câmara de Vereadores da Comarca da Bahia, datado de 1671, que atribui como causa para o escorregamento ocorrido nas ladeiras da Conceição e Misericórdia (Cidade Baixa) em abril daquele ano “as imundícies lançadas nos despenhadeiros”. Este ofício solicitava permissão ao rei para levantar paredões a fim de impedir o lançamento de lixo nas encostas.

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As principais modificações oriundas das interferências antrópicas indutoras dos movimentos gravitacionais de massa são apresentadas abaixo:

- Remoção da cobertura vegetal;

- Lançamento e concentração de águas pluviais/servidas;

- Vazamento na rede de abastecimento, esgoto e presença de fossas; - Execução de cortes com geometria incorreta (altura/inclinação); - Execução deficiente de aterros (compactação, geometria, fundação); - Lançamento de lixo nas encostas/taludes (GEORIO, 2000)

5.6 Estabilização de encostas

Quando se objetiva identificar o mecanismo de instabilidade de uma encosta ou talude visando à elaboração de projeto de contenção, ou mesmo a recomendação de medidas emergenciais para se evitar a ampliação de acidentes, deve-se proceder a uma caracterização geológico-geotécnica específica. Esta é realizada com a determinação de parâmetros quantitativos e qualitativos das unidades geológicas presentes na área estudada, em diferentes níveis ou escalas de abordagem, e tendo os seguintes objetivos básicos:

a) Determinação das características do processo de instabilização por meio da identificação dos seus agentes/causas geometria; mecanismo de movimentação; natureza e estado do material mobilizado e comportamento no tempo;

b) Identificação, caracterização e mapeamento espacial das unidades geológico-geotécnicas presentes na área de estudo;

c) Correlação entre as unidades mapeadas e o processo de instabilização;

d) Previsão dos comportamentos destas unidades ante as solicitações impostas por alguns tipos de obras de contenção.

O princípio que norteia este roteiro é a abordagem por aproximações sucessivas, com detalhamentos oriundos de um sistema de retorno alimentados pela formação e avaliação de um modelo fenomenológico do processo de instabilização.

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O termo modelo fenomenológico no presente texto refere-se à identificação dos agentes e causas, geometria, mecanismo de instabilização, natureza e estado do material mobilizado e o seu comportamento no tempo.

Da dinâmica natural das encostas fazem parte os escorregamentos e os processos correlatos, mas a freqüência e a intensidade desses fenômenos são aumentadas pelo uso e pela ocupação impróprios de seus solos.

A maioria dos acidentes geológicos, associados a escorregamentos acontecidos em áreas urbanas no Brasil, foi deflagrada pela ocupação inadequada das encostas. As descrições desses acidentes deixam claras as irregularidades na ocupação e a falta de infra-estrutura destas.

Sabe-se que o agente mais detectado para a indução de acidentes em áreas de encostas urbanas é a ocupação indevida, ou seja, ocupação que não leva em conta as características físicas e suas limitações. Dependendo dessas características, como tipo de solo, declividade, vegetação, índices pluviométricos, redes de drenagem, erosões e outras, as encostas podem ser ocupadas, desde que as edificações e infra-estrutura atendam às limitações impostas pelo meio físico.

Os principais agentes indutores de processos de escorregamentos em encostas ocupadas são as provocadas pela ação humana. Estas ações antrópicas são:

a) Água

É o agente determinante e pode ser dividida em:

• Águas pluviais: concentração e escoamento de água no solo exposto, ocasionando infiltrações e erosões;

• Águas servidas: lançamento de águas servidas em vários pontos da encosta, ocasionando infiltrações constantes;

• Abastecimento: existência de redes de água com técnicas precárias, originando vazamentos, contaminações e infiltrações;

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• Sumidouros: elementos que ocasionam infiltrações, contaminações e elevação da umidade do solo.

b) Cortes

A execução de cortes excessivos nas encostas para a implantação de edificações e acessos sem nenhum estudo preliminar do solo e do sistema de drenagem, bem como os cortes sem a sustentação por meio de obras de engenharia, acentuam a declividade natural da encosta. (Figura 5.7)

c) Aterros

A execução de aterros, sem o devido cuidado técnico, apresentando altura e declividade dos taludes incompatíveis com a resistência do solo (Figura 5.8) e com as pressões neutras devidas a fluxos internos de água, envolve:

• O reaproveitamento do próprio material do corte, às vezes sobre o solo; • O material de entulho de obras de construção civil;

• O bota-fora de diferentes tipos de solo misturados aleatoriamente;

• Os lançamentos de cima para baixo nas encostas, formando planos diagonais, que favorecem a instabilidade;

• Os lançamentos sobre a vegetação rasteira existente; • O lixo doméstico e outros, ricos em material orgânico; • A falta de qualquer forma de compactação.

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Figura 5.7 – Corte e aterro (BITAR, 1990). Figura 5.8 – Bairro do Lobato – 1992 (CODESAL, 2004)

d) Densidade Populacional

O adensamento das ocupações em áreas remanescentes das primeiras ocupações, ou seja, as primeiras ocupações nas encostas se apropriam de áreas melhores, normalmente com menos declive e mais acessibilidade. Para as que surgem posteriormente restam as áreas de pior acesso e as com declividades mais acentuadas. Esse aumento da densidade pode pôr em maior risco todo o conjunto.

e) Tipologia Construtiva

• Formam-se, freqüentemente nas áreas de encosta, habitações das classes de baixa renda, muitas vezes constituindo as favelas;

• Edificam-se com materiais e técnicas construtivas que não apresentam segurança quanto à resistência das edificações, independentemente dos outros fatores;

• São construídas em terrenos muito próximas à base dos taludes, naturais ou de corte, não permitindo nenhuma área de segurança para depósito de material mobilizado;

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Não se harmonizam com a topografia, quase sempre se instalando em patamares e em um único pavimento, necessitando sempre de cortes e aterros excessivos.

f) Drenagem

Obras de drenagem e estabilização executadas sem nenhuma técnica construtiva conveniente, com materiais e formas inadequadas ou a ausência de qualquer tipo de obra de drenagem de águas superficiais.

g) Desmatamento

A retirada de vegetação de uma encosta para a construção de casas ou mesmo para o cultivo resulta na exposição do solo, aumentando a possibilidade de haver escorregamento e/ ou movimentos de massas, arbustos e árvores, provoca um aumento de infiltração de águas pluviais, diminuição da retenção das copas, (Figura 5.9), aumento do escoamento superficial, diminuição da evapotranspiração, portanto, abalo geral no ciclo hidrológico. O desmatamento retira a camada aérea da vegetação e elimina a resistência dos sistemas radiculares, que são formas de estruturas utilizadas pela engenharia civil para estabilizar taludes (Figura 5.10). As encostas com vegetação são mais difíceis de apresentarem movimentos de massa, principalmente escorregamentos. A simples presença de vegetação não significa que uma certa encosta não vá apresentar problemas, mas diminui muito a possibilidade de que isto venha a acontecer, (PISANI, 1988).

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Figura 5.10 – São Gonçalo do Retiro, 1995 (CODESAL, 2004).

h) Detritos

Na época das chuvas o acúmulo de lixo principalmente doméstico e demais detritos aumenta de peso pelo encharcamento, caracterizados por serem muito instáveis, lançados em áreas ainda não ocupadas e

geralmente de maior declividade ou misturados às camadas de solos nos aterros. Por ser um material incoerente tende a escorregar, iniciando o processo de escorregamento do solo da encosta. Os movimentos causados pelo acúmulo de lixo (Figura 5.11) nas encostas adquirem caráter muito destrutivo devido à grande quantidade de água que é colocada em movimento de uma só vez (Figura 5.12).

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Figura 5.12 – Morro do Gavazza Barra, 1998 (CODESAL, 2004).

i)

Sobrecargas

Em locais impróprios, a retirada de material para a implantação das fundações e o próprio peso da estrutura pode afluir para os movimentos de massas (Figura 5.13).

Os efeitos das cargas das áreas edificadas, próximas ao topo dos taludes naturais e de cortes ou sobre aterros lançados, agravam regiões que naturalmente podem apresentar problemas de instabilidade (Figura 5.14).

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Figura 5.14 – Rua Irecê Paripe, 2002 (CODESAL, 2004).

j)

Cultivo de espécies inadequadas

O cultivo de bananeiras em encostas é um hábito brasileiro. A referida espécie não é adequada devido às suas características de crescimento, tempo de vida e raízes. A bananeira apresenta um sistema radicular que não forma uma manta protetora, tem um tempo de vida curto e ao morrer tomba naturalmente, desprendendo-se do solo, gerando material solto e favorecendo os escorregamentos.

k) Vazamentos de Água e Esgoto

Sistemas de águas e esgotos que apresentam vazamentos contribuem para que o solo fique instável (Figura 5.15) aumentando a possibilidade de processos erosivos e movimentos de massa. Mesmo pequenos e constantes vazamentos são capazes de encharcar o solo com o passar do tempo, principalmente em locais com coberturas

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de cimento, que não permitem a e vaporação da água.

Um problema sério é colocado quando as casas construídas nas encostas não são servidas por sistema coletivo de saneamento e cada residência lança seu próprio esgoto em sumidouros (Figura 5.16).

Figura 5.16 – Morro do Gavazza Barra, 1999 (CODESAL, 2004).

Este procedimento além de provocar o rápido encharcamento do solo contribui para a poluição da água subterrânea, que muitas vezes é usada através de poços ou fontes situadas a jusante.

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6. ÁREA

DE

RISCO

COM

OCUPAÇÃO

CLANDESTINA

E

DESORDENADA

Os problemas ligados à moradia no Brasil sempre foram um sério agravante de ordem socioeconômico. Como resultado de tal situação observam-se os mais variados tipos de ocupação urbana, de maneira irregular, as chamadas “invasões”. As mesmas chegam a condições tão irreversíveis que, na maioria dos casos, os moradores obtêm concessões para legalização das áreas ocupadas. Este trabalho apresenta uma solução para um problema que preocupa ambientalistas e administradores municipais, principalmente no que se refere as constantes e rápidas mudanças que ocorrem nas áreas. Particularmente nas grandes cidades brasileiras, especialmente nas capitais estaduais, nas últimas décadas, o surgimento de favelas em áreas de preservação (encostas, talvegues e margens de rios e lagoas), principalmente, tem sido um agravante desse problema. Diante destes fatos percebe-se a importância dos mapeamentos cadastrais realizados nas áreas ocupadas. Estas, no entanto, são apenas indicadas por seus perímetros não se individualizando os imóveis. A dificuldade da quantificação das ocupações irregulares – favelas – conduz a busca de novos procedimentos para atingir esse objetivo. Normalmente essa quantificação é realizada diretamente em campo, porém o deslocamento dentro dessas áreas é difícil porque a comunidade não vê com bons olhos a circulação de estranhos em seu espaço.

Ao longo dos tempos o termo favela tem apresentado várias mudanças, as quais acompanham quase sempre a evolução da situação socioeconômica de seus moradores. A definição mais apropriada para favela, nos dias atuais, seria: assentamento habitacional espontâneo, localizado em área pública ou particular, de forma ilegal em relação à propriedade do solo e cujas edificações encontram-se em desacordo com as leis de uso e ocupação do solo, independentemente do número de unidades habitacionais existentes e das tipologias construtivas dos domicílios (ACKERMANN e BITAR, 2005).

Caracterizado por favelas, este processo de produção do espaço urbano diferencia-se dos loteamentos clandestino, no tocante ao parcelamento do solo, por não seguir diretrizes prévias de implantação.

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O parcelamento tende a decorrer, podendo assumir tanto configurações mais regulares quanto caóticas. A despeito de se encontrar uma definição de favela baseada em características de edificações, não reside aí a principal faceta deste tipo de assentamento, pois neles podem ser encontradas tanto habitações toscas (barracos de madeira), até habitações de alvenaria com todos os acabamentos.

Existem vários níveis de pobreza na população de uma favela não só entre elas, pois uma favela recente de periferia tende a ser mais pobre, na média, que uma antiga e consolidada localizada nas imediações de bairros privilegiados, como também no interior das favelas grandes e consolidadas, especialmente quando situada em áreas valorizadas. Os assentamentos destes tipos de ocupações são realizados sem uma preparação preliminar do terreno, onde não existe infra-estrutura urbana e nenhuma padronização de parcelamento e de ocupação dos lotes. O que determina o traçado urbano, caracterizado pela irregularidade, são as limitações impostas pelo meio, as necessidades de acessibilidade às edificações e as limitações técnicas da comunidade. Estas características implicam em problemas com relação à dotação de infra-estrutura, trafegabilidade, etc., produzindo valores espaciais marcados pela variedade e singularidade dos ambientes.

Uma das marcas mais salientes do insucesso do sistema econômico-social existente em nosso país são as favelas que desde o surgimento das primeiras sua população sempre foi, de alguma forma, marginalizada socialmente.

A impotência do Estado em resolver a questão das favelas prejudica não só uma parte da sociedade (os moradores dessas favelas), mas ela como um todo, pois, ao ocuparem as diferentes áreas urbanas, acabam provocando alterações em relação ao uso pretendido, penalizando tanto o meio ambiente quanto à população moradora da cidade em geral (ALMEIDA e ABIKO,2000).

A dimensão dos problemas ambientais tem se avolumado de forma crescente no contexto urbano metropolitano brasileiro. Sua lenta resolução tem provocado um descontrole em alguns setores estratégicos para a garantia da qualidade de vida - aumento desmesurado de enchentes, dificuldades na gestão dos resíduos sólidos e interferência crescente do

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despejo inadequado de resíduos sólidos, impactos cada vez maiores da poluição do ar na saúde da população e contínua degradação dos recursos hídricos.

É cada vez mais notória a complexidade dos processos e a transformação deste cenário urbano crescentemente não só ameaçado, mas diretamente afetado por riscos e agravos sócio ambientais.

A sociedade se torna crescentemente reflexiva, o que significa dizer que ela se torna um tema e um problema para si própria. A sociedade se torna cada vez mais autocrítica e, ao mesmo tempo, em que a humanidade põe a si em perigo, reconhece os riscos que produz e reage diante disso. A sociedade global vê obrigada a autoconfrontar-se com aquilo que de positivo e negativo criou.

Nas cidades, configura-se uma lógica perversa de distribuição de riscos, que afeta desigualmente a população. Os desafios metropolitanos que se colocam nos dias atuais é que as cidades criem as condições para assegurar uma qualidade de vida que possa ser considerada aceitável, não interferindo negativamente no meio ambiente do seu entorno e agindo preventivamente para evitar a continuidade do nível de degradação, notadamente nas regiões habitadas pelos setores mais carentes (ACKERMANN e BITAR, 2005).

Dado o atual quadro urbano, é inquestionável a necessidade de implementar políticas públicas orientadas para tornar as cidades social e ambientalmente sustentáveis como uma forma de se contrapor ao quadro de deterioração crescente das condições de vida. A necessária reflexão sobre as possibilidades de tornar a cidade sustentável, mostra o desafio teórico que está colocado em relação à formulação de propostas que contribuam para alcançar objetivos de sustentabilidade nas cidades. É cada vez mais notória a complexidade desse processo de transformação de um cenário urbano crescentemente, não só ameaçado, mas diretamente afetado por riscos e agravos sócio-ambientais.

Para as metrópoles, a denominação “riscos ambientais urbanos” pode englobar uma grande variedade de acidentes, em diversificada dimensão e socialmente produzidos.

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Cotidianamente a população, em geral a de mais baixa renda, está sujeita aos riscos das enchentes, escorregamentos de encostas, contaminação do solo e das águas pela disposição clandestina de resíduos tóxicos industriais, acidentes com cargas perigosas, vazamentos em postos de gasolina, convivência perigosa com minerações, através do ultralançamento de fragmentos rochosos e vibrações provenientes da detonação, etc, (BITAR, 2000).

Não há como negar a estreita relação entre riscos urbanos e a questão do uso e ocupação do solo, que entre as questões determinantes das condições ambientais da cidade, é aquela onde se delineiam os problemas ambientais de maior dificuldade de enfrentamento e, contraditoriamente, onde mais se identificam competências de âmbito municipal.

Historicamente, os processos de ocupação de muitas metrópoles brasileiras evitaram até meados do século XX, os terrenos mais problemáticos à ocupação (altas declividades, solos frágeis e suscetíveis à erosão), que se encontravam mais distantes das áreas centrais, onde a pressão pela ocupação era menos intensa.

Entretanto, a partir dos anos 50, com a exacerbação dos processos de periferização e mais intensamente nos últimos 30 anos ocorrem dois movimentos simultâneos: a intensificação das intervenções na rede de drenagem, com obras de retificação e canalização dos rios, o aterramento das várzeas e sua incorporação à malha urbana e a explosão na abertura de loteamentos de periferia.

O uso e ocupação na instalação dos processos de urbanização subordinou-se aos interesses das classes de renda alta e média alta. Os loteamentos periféricos são territórios irregulares que não atendem aos parâmetros urbanísticos estabelecidos, ficam oficialmente excluídos do acesso aos serviços e investimentos públicos e as melhorias são conseguidas através de obras pontuais e corretivas.

Os impactos negativos do conjunto de problemas ambientais resultam principalmente da precariedade dos serviços e da omissão do poder público na garantia das condições de

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vida da população, mas também é reflexo do descuido e da omissão dos próprios moradores, inclusive nos bairros mais carentes de infra-estrutura, colocando em perigo aspectos de interesse coletivo. Isto também traz à tona a contraposição do significado dos problemas ambientais urbanos e as práticas de resistência dos que têm e dos que não

têm, representados sempre pela defesa de interesses individuais que interferem

significativamente na qualidade de vida da cidade como um todo (ACKERMANN e BITAR, 2005).

As grandes metrópoles brasileiras vivem uma crise ambiental severa, como resultado de práticas gerenciais inadequadas das autoridades locais, assim como também da falta de atenção, da omissão, da demora em colocar em prática ações que reduziriam os problemas crescentes e prejudiciais, que estão vinculados às seguintes questões:

a) A redução de áreas verdes, o que implica na excessiva impermeabilização do solo e na multiplicação de áreas críticas de ocorrência de enchentes, com impactos ambientais, sociais e econômicos sobre toda a estrutura da cidade, perdurando praticamente por todo o ano;

b) A falta de medidas práticas mais definidas, de curto prazo e de políticas para controlar a poluição do ar;

c) Uma procrastinação séria na rede de transporte público, e em diversos casos de metrô e de outras alternativas mais adequadas para o transporte público, de forma a possibilitar uma redução no uso dos automóveis;

d) Uma procrastinação séria na expansão das redes de esgotos;

e) A contaminação da maioria dos mananciais de água e dos rios dentro das cidades, e o risco que isto significa para a população, principalmente nas áreas de enchentes;

f) A exaustão das alternativas convencionais para o despejo de lixo e os problemas resultantes da contaminação das águas subterrâneas e de superfície pelo chorume.

A dinâmica da urbanização pela expansão de áreas suburbanas produziu um ambiente urbano segregado e altamente degradado, com efeitos muito graves sobre a qualidade de vida de sua população. Espaços imprestáveis e inadequados para moradias saudáveis foram usados:

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a) morros; b) pântanos e;

c) áreas de proteção aos mananciais de água doce.

Além disso, esta ocupação freqüentemente consistiu em habitações pobres em áreas com escassos serviços urbanos, se caracterizando pela enorme desigualdade na distribuição de renda. A periferia da cidade não é provida de serviços urbanos básicos e tem sido ocupada pelos grupos de renda menos privilegiados.

Não só em São Paulo, mas no Brasil, em razão da insuficiência da rede de esgotos, há um montante significativo de lançamento de esgotos a céu aberto, conexões clandestinas no sistema de águas pluviais e lançamento direto nos rios. As cidades são constantemente afetadas por um número crescente de enchentes em pontos críticos das cidades, áreas de risco entre áreas de enchentes e escorregamentos.

A questão do despejo dos resíduos sólidos também tem se tornado altamente

problemática na maioria das cidades que não dispõem de espaços adequados para o despejo.

Condições precárias de habitação em favelas e loteamentos periféricos aumentam o déficit de infra-estrutura urbana; sua localização em áreas críticas de risco e barrancos multiplica as condições predatórias à urbanização existente e seu impacto de degradação ambiental.

Toma-se como referência para explicitar a problemática, o caso da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), que possui uma área de 8.051km² com uma população superior a 17 milhões de habitantes, distribuída em uma área urbanizada e de maneira desordenada em 1.747km² dessa área. A RMSP ocupa cerca de 0,1% do território brasileiro e é o terceiro maior conglomerado urbano do mundo. Nas décadas de 1970 e 1980, o crescimento populacional na RMSP foi originado pela migração de outras regiões do país e do estado. Mais recentemente, na década de 1990, ocorreu uma migração num ritmo

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intenso dentro da própria RMSP para a região de mananciais, no sentido do centro da metrópole à periferia.

As periferias caracterizam-se por concentrar bolsões de pobreza, abrigando a maior parte da população de baixa renda, situação essa agravada pelos intensos conflitos com relação ao uso e ocupação do solo. Isto provoca um aumento dos processos de ocupação por atividades irregulares como invasões, favelas e loteamentos clandestinos (BITAR, 1999).

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7. CHÁCARA BANANAL

Chácara Bananal é um bairro formado a partir de uma invasão, localizado na zona sul de São Paulo, quase divisa com o município de Itapecerica da Serra e está situada entre a Estrada do Embu Guaçu km 30,5 e a Estrada dos Funcionários Públicos, Jardim Ângela. A área tem aproximadamente 130.000m², e pertence parte ao (INCRA) e parte a particular. Não há uma resposta com exatidão sobre quem é o verdadeiro proprietário; não existe escritura ou documentos que provem com veracidade a posse. A única informação concreta diz respeito à invasão, que segundo o relato da geóloga da Defesa Civil, Silva, S. 2007 (comunicação pessoal), existe um processo em andamento de reintegração de posse, que se arrasta há mais de 20 anos.

O bairro, propriamente dito, tem hoje aproximadamente 1800 famílias de baixa renda ou nenhuma renda, apossadas de pequenos terrenos ou lotes, com casas de alvenarias, barracos de madeiras, restos de materiais de construção e sucatas.

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) juntamente com a Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP) realizou o mapeamento de risco em áreas de encostas da Chácara Bananal, para avaliação geral do crescimento populacional em áreas de mananciais e de preservação ambiental, que ocorreram sem controle. Esse mapeamento é utilizado para formulação de diretrizes, voltadas às necessidades da população e ligadas a preservação do meio ambiente com qualidade de vida.

A avaliação feita pelo IPT e PMSP citado acima, a Chácara Bananal foi dividida por setores, numerados de acordo com a caracterização da ocupação, infra-estrutura, tipologia de edificação e padrão de ocupação, propendendo à probabilidade de ocorrência de riscos de deslizamento e acidentes naturais.

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As características geológicas da área foram analisadas e encontradas gnaisses1 e migmatitos2 com solos saprolíticos3.

Os migmatitos podem ter estrutura muito variável, desde rocha maciça, homogênea, granitóide até a combinação heterogênea de duas ou mais fácies distintas (foto 6).

Os solos saprolíticos são freqüentemente designados como solo residual ou, mais especificamente, solo residual jovem.

As características geomorfológicas da área em estudo apresenta-se com colinas baixas, variações médias nas suas declividades e o fundo do vale mostra-se achatado (Figuras 7.2).

Figura 7.1 – Amostra de solo, 2005 (Defesa Civil 2007).

Figura 7.2 – Declividade do terreno e achatamento no fundo do vale 2005 (Defesa Civil 2007)

1 Gnaisses: é derivada da composição granítica, resultante da metamorfose de rochas sedimentares. 2 É uma mistura de formação de rochas metamórficas na qual, um componente é representado por material granítico ou granitóide derivado de fusão parcial, que ocorre quando o conjunto rochoso atinge condições de forte metamorfismo sob alta pressão de água;

3 Resultam da decomposição e/ou desagregação “in situ” da rocha, mantendo ainda, de maneira nítida, a estrutura da rocha que lhe deu origem;

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Os setores 1 e 4 estão próximos as estradas e encontram-se densamente ocupadas por residências com fundações e de alvenaria; não existe distância relevante entre as moradias. Os taludes de corte e naturais chegam em alguns casos com altura de 3m. Aa declividades do terreno apresentam-se entre 10 o e 30o. A área está praticamente toda desmatada e impermeabilizada (Figura 7.4).

Devido a distancia das estradas, os setores 2 e 3 proporcionam dificuldade ao acesso; apresentando ainda alguns bolsões de áreas verdes com espaçamento entre as moradias. As casas são precárias e frágeis com inúmeros cortes e aterros sem acompanhamento técnico. Nestes setores a declividade atinge até 60º, aumentando o risco de escorregamentos.

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Um dos setores que mais se identificou com o propósito do estudo, que é avaliar incidência de escorregamentos de encostas em áreas urbanas habitadas por população de baixa renda, foi o setor 2, devido sua declividade e sua propensão a risco de escorregamentos.

7.1 Setor 2 – Chácara Bananal

O setor fica entre a Rua do Carvoeiro e a Rua Beira Rio tem somente parte da encosta com moradias instaladas precariamente e onde há a possibilidade de expansão e adensamento dessa ocupação (Figura 7.1.1).

Ressalta-se que a declividade desse setor atinge 60°, os taludes de corte oscilam entre 2 e 4m de altura, a vegetação natural foi totalmente removida da encosta, o setor não contém sistemas de drenagem, sendo plantadas no local vegetações rasteiras, que aumentam o escoamento superficial, potencializando a ocorrência de escorregamentos e processos correlatados. Como cicatrizes de deslizamento, trincas, processos erosivos lineares, solapamento e ação direta da água das chuvas.

A análise de risco fundamenta-se pelas ações antrópicas, como: saneamento básico, a presença de vegetação inadequada, corte e aterro sem fiscalização técnica, lixo domestico e detritos, que resultam deflagração dos deslizamentos.

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Rua Beira Rio

Rua do Carvoeiro

Figura 7.1.1 – Setor 2 (Google Earth, 2007).

Com a retirada da vegetação natural da encosta para construção de casas ou para o cultivo de plantações inadequadas à região, aumentou a presença de vegetação rasteira. O aumento dessa vegetação inadequada resulta na exposição de grande parte do solo,

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com árvores de médios e grandes portes sem apoio em diversos trechos dos taludes, com risco de tombamento.

As moradias são construídas com materiais e técnicas construtivas que não apresentam segurança quanto à resistência das edificações; muitas são de madeiras, restos de materiais de construção, algumas feitas com sucatas (Figuras 7.1.2, 7.1.3 e 7.1.4).

Figura 7.1.2 – Moradia feita com sucata, 2005 (Defesa Civil, 2007).

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