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REFLEXÕES ACERCA DAS CONTRIBUIÇÕES DE MALINOWSKI PARA A PESQUISA DE CAMPO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

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Academic year: 2021

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REFLEXÕES ACERCA DAS CONTRIBUIÇÕES DE MALINOWSKI PARA A PESQUISA DE CAMPO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Marlon Leal RODRIGUES NEAD/UEMS/UFMS/UNICAMP Antonio Carlos Santana de SOUZA NEC/UEMS Escrever acerca de Malinowski, entre outros aspectos, é também ressaltar a sua importância para as Ciências Sociais cujo paradigma metodológico baseia-se em um certo modelo das Ciências Exatas à medida que as Ciências Humanas buscam um certo estatuto científico, isto, indiferente ao seu caráter específico ou a sua particularidade que em muito se distancia das ditas Ciências Exatas.

A questão metodológica para as Ciências Humanas sempre se colocou como condição de cientificidade ao passo que para as Exatas, a metodologia diz respeito à busca de um modelo que possua certa universalidade para dar conta dos fenômenos, pois a metodologia, para as Exatas, não se coloca como condição primordial para seu reconhecimento científico, o que não se pode dizer o mesmo para as Humanas uma vez que nela a diversidade dos fenômenos, a complexidade dos dados, o trabalho com o corpus, as interpretações não são dados a priori que dependeria apenas de uma escolha metodológica “acertada”, isto não quer dizer que nas Ciências Exatas não haja estes aspectos, mas estão inseridas em outra ordem.

Enquanto etnógrafo, Malinowski revolucionou a questão metodológica nas Ciências Humanas tendo em vista as abrangências de suas inquietações teóricas que o levaram a busca de uma outra possibilidade metodológica que fosse capaz de instaurar uma “escuta sensível” para apreender, descrever tanto o objeto quanto analisá-lo em toda sua extensão, assim, a partir de suas experiências de campo, relata um pouco de seus fracassos e de seus sucessos que, em última instância, é uma tentativa de compreender, abordar, descrever e interpretar os fatos sociais de forma que um outro, pesquisador, leitor etc., pudesse chegar, elementarmente, as mesmas considerações. No entanto, os relatos de Malinowski se tornaram referências, de maneira geral, para pesquisas de campo em diversas áreas das Ciências Humanas. Seus relatos acabam por propor alguns paradigmas a medida que também contesta outros já aceitos. Em suma, Malinowski apresenta um pouco das inquietações que giram em torno da confiabilidade

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dos resultados das pesquisas de campo na área das humanidades e seu estatuto científico.

É patente em sua obra dedicada à etnografia a narração da dificuldade desde o contato até a elaboração da escrita; afirma que a pesquisa científica deve ser “franca, sincera e imparcial”, questão que é, em alguma medida, uma crítica aos trabalhos de sua época que se caracterizava, em certos aspectos, pela falta de rigor, e, que ainda hoje é ponto de controvérsias e discussões. Essas considerações de Malinowski têm como referência outras ciências, pois ele se vale delas, das Exatas, para desenvolver sua argumentação e resultado de suas experiências, tais como: condições de observação, condições de experimentação, condições de descrição, condição da coleta de dados e relação dos dados com os resultados das observações.

Para ele, nas ciências sociais há um “jogo duplo”, pois o autor é ao mesmo tempo cronista e historiador, considerando que suas fontes são a um só instante acessíveis, pode ser constatada e descrita com rigor; e complexas uma vez que elas não estão em documentos e sim na memória. Isto implica que há uma necessidade, para ele primordial, de distanciamento do material e a apresentação final dos resultados. Neste espaço, entre o dado bruto e a análise existe um vazio a ser trabalhado pela descrição metodológica e sistemática da pesquisa. Neste aspecto ele propõe mostrar o caminho percorrido que leva a interpretação dos dados de forma que um outro poderia chegar as mesmas considerações. Entre o que é constatado e o que de fato é há um conjunto complexo e infinito de elaborações.

A suas pesquisas na Costa Sul da Guiné tratam de uma significativa descrição do primeiro contato que se traduz em momentos de desânimo, de expectativas frustradas, de muitas dificuldades que os “manuais” não se prestavam a resolver.

As suas reflexões, de início, diante dos problemas postos configuram a necessidade de uma formação teórica apropriada que possam nortear a pesquisa em suas várias etapas. No primeiro momento, há uma necessidade clara de se estabelecer os objetivos, vencer a barreira da língua, que era um dado novo nas pesquisas de até então, seria o primeiro dos objetivos. Ele distingue dois tipos de material: o morto, que é a descrição física da aldeia, a genealogia, grau de parentesco, objetos etc. e o material pulsante, vivo que são a religião, as ideais, os ideais, as crenças, as magias, as feitiçarias, as tradições e os rituais da tribo.

Para coleta e descrição destes materiais, Malinowski, afirmará em toda a extensão do seu trabalho de forma enfática, a urgência de objetividade científica a partir

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de teorias apropriadas já que a cultura ocidental, branca, está perpassada de estereótipos, preconceitos, opiniões fantasiosas, concepções sem fundamentação, sem consistência considerando que muitas das fontes são provenientes de missionários, viajantes, comerciantes. Para este ponto ele propõe que o pesquisador deve, ele mesmo, coletar o seu material e não depender de informantes, pelo menos os duvidosos que se constituem em sua grande maioria. A questão dele é colocar dois pontos de vista em confronto: o que seria a visão científica, pautada pela objetividade, versus visão do senso comum, caracterizado pela subjetividade.

Dando continuidade às suas reflexões, ele recomenda um contato muito estreito com a aldeia para a coleta bruta dos dados, para isto o pesquisador deve isolar-se do contato com os brancos e procurar integrar-se quase que completamente à vida cotidiana da aldeia até que sua presença possa passar quase que despercebida. É importante assistir de perto os acontecimentos rotineiros, como cozinhar, com fazer higiene, as refeições, as disputas, os eventos triviais, os dramáticos, as festas, a doença e os medos. A partir desta relação, afirma que quase nada pode escapar aos olhares do observador, mas, no entanto, uma outra questão também se coloca, é preciso aprender certas regras de boas para se evitar as más condutas, uma certa sensibilidade na convivência com os nativos. Este tipo de integração, afirma Malinowski, assegura uma boa possibilidade também de êxito da pesquisa.

A preocupação de Malinowski está voltada para a aquisição de instrumentos teóricos que o pesquisador deve possuir para fazer frente ás necessidades da pesquisa. Assim, a teoria deve nortear o trabalho de campo e ao mesmo tempo ser uma certa inspiração que poderá proporcionar boas perguntas e estímulo na relação teoria e campo.

Esses instrumentos teóricos também têm a possibilidade de não deixar o pesquisador se levar por preconceitos, pelos estereótipos e pelas idéias preconcebidas na relação com outra cultura e o modo de seus sujeitos se relacionarem com o mundo.

O pesquisador bem formado teoricamente, na concepção de Malinowski, está em condições de aplicar, com maior precisão científica, as teorias, as leis, os padrões, esquemas, as regras desde a coleta bruta dos dados até a apresentação das análises da pesquisa.

Ele dedica-se à coleta de dados concretos e gerais, considerando que é um drama das ciências humanas a representatividade da amostra e a relação dos dados com a teoria. Para Malinowski, é o método utilizado que vai direcionar o “olhar” do

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pesquisador não só para o que coletar, como também para descrever as instituições de tal forma que seja o suficiente para compreender as regras da vida tribal, a anatomia da cultura como um todo. Uma das complexidades quando se trata desde tipo de coleta de dado da vida social, segundo o autor, diz respeito à não existência de um manual de conduta, isto implica que é preciso formular adequadamente o código de conduta ético e moral, as leis, a estrutura social, descrever as instituições, os rituais de magia e religioso, as ocorrências reais etc., pois, em se tratando de uma comunidade ágrafa, toda a “maquinaria social” está incorporada na mente humana. Neste ponto, outra questão se coloca como o funcionamento está incorporado automaticamente na forma de tradição, isto não quer dizer que eles consigam elaborar o funcionamento da estrutura social. Eles simplesmente as vivem pela força da interação social, assim, torna-se preciso partir dos fatos e das ocorrências concretos para se ter à possibilidade de elaboram tais mecanismos de funcionamento da “maquinaria social”.

Após ter efetuado a coleta de material a partir das ocorrências concretas, o autor propõe que esse material coletado seja trabalhado e transformado em esquemas, quadros sinóticos, diagramas que permitem elaborar muitas questões e ainda a possibilidade de colocar questões novas.

Daí em diante a abordagem parte de dois pontos importantes. O primeiro discuti a relação trabalho científico versus trabalho amador, cuja importância, Malinowski, ressalta a necessidade de um aporte teórico e capacidade de elaborar e de mostrar os resultados, já que, eles não falam por si só; no segundo ponto, aborda só a coleta de dados deve se constituir em certa relação prolongada com os nativos com também é preciso vivenciar a vida cotidiana uma vez que é na vivência que se tem à possibilidade de visualizar o esqueleto social, apreender os acontecimentos habituais e os singulares que mostram os imponderáveis da vida real, desde as ambições, as amizades e as hostilidades, ou seja, mergulhar na vida dos nativos. Neste aspecto, uma outra questão também se apresenta como preponderante, não basta apenas registrar e apreender a rotina, é necessário fazê-la também a partir da perspectiva do nativo que implica em ser capaz de ouvir e assistir a tudo pacientemente.

Assim, Malinowski aprofunda a questão da observação dos fenômenos que devem também incluir o ponto de vista do nativo, isto diz respeito às idéias, aos sentimentos, aos impulsos, a maneira de examinar as formas típicas de pensar e sentir os acontecimentos, registrar as expressões lingüísticas, as frases e seus contextos habituais de uso. O autor ainda propõe que para apreender os sentidos e significados dos dados

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objetivos torna-se importante fazê-lo a partir da língua dos nativos, ou seja, dominá-la para compreender o alcance dos sentidos dos dados, considerando ainda a mera tradução para o pidgin é sempre uma transposição ou tradução precárias.

Ao sintetizar a tarefa do pesquisador em três pontos básicos, a saber: 1) o material coletado deve abranger a organização da tribo e a anatomia de sua cultura a partir de métodos estatísticos; 2) apreender os imponderáveis da vida real de forma minuciosa; e 3) elaborar uma lista etnográfica de declarações, expressões típicas, folclore, fórmulas mágicas e a mentalidade dos nativos; Malinowski deixa bem evidente que suas propostas tiveram origem em sua experiência de campo que rompe com uma certa tradição de pesquisa de até então, pois sua grande contribuição revolucionou a concepção metodológica nas Ciências Humanas.

Para as considerações finais, após as reflexões e propostas de Malinowski, as pesquisas de campo tomaram um outro rumo, abriu novas perspectivas de abordagens tanto teóricas, quanto de caráter pragmático. As propostas dele tiveram como ponto de apoio para reflexão, a necessidade de fato descrever ou compreender não apenas o funcionamento das instituições, mas como elas se constituíram e ainda em que esta constituição está assentada, que sem dúvida não é simplesmente nos acontecimentos “aparentes” ou nas narrativas dos nativos, mas, sobretudo, na mentalidade que não se fala, mentalidade que os nativos não indagam sua origem e nem os porquês simplesmente, e se é possível apreendê-la em alguma extensão, esta possibilidade está no mergulhar longamente nos acontecimentos dos imponderáveis da vida real dos nativos e assim tentar descrever alguns de seus aspectos.

À guisa de conclusão preferimos citar o próprio Malinowski:

“(...) através da compreensão da natureza humana em uma forma bastante distante e estranha para nós, talvez possamos encontrar alguma luz para a nossa própria. Neste caso e somente neste caso será justo sentirmos que valeu a pena compreender esses nativos, suas instituições e costumes e que conseguimos algum proveito do kula.”

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MALINOWSKI, B. 1 – Objetivo, método e alcance desta pesquisa. In: GUIMARÃES, A. Z. (org.). Desvendando as máscaras sociais. 2a ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, s/d. pp. 39-61.

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