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INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO BRASIL: DILEMAS E DESAFIOS

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INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO BRASIL: DILEMAS E DESAFIOS

NEVES, Clara Cruz*; CUNHA, Beatriz Mendonça; PEREIRA, Ruth Oliveira; SILVA, Daniel Pereira; VASCONCELOS, Cleiton Rodrigues

Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal de Sergipe * email: clara_cruz97@hotmail.com

Resumo: O Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) é um órgão responsável pela elaboração de produtos e processos inovadores, a fim de comercializá-los com a indústria e, desta forma, promover um aumento na taxa de crescimento do país. A presente pesquisa buscou identificar o panorama da inovação tecnológica no Brasil, China, Espanha, Irlanda e Alemanha, para que fosse possível enquadrar a posição do Brasil perante as demais nações. Através de uma revisão na literatura especializada e da utilização de dados disponibilizados pela Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OECD), constatou-se que estes países repassam poucos recursos para este setor, conforme dados demonstrados.

Palavras-chave: Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), Barreiras, Financiamento, Brasil.

1. INTRODUÇÃO

A evolução e o aprimoramento de produtos e serviços tornam-se fundamentais diante das constantes transformações do mercado. Como, em nações emergentes, empresas de pequeno porte não possuem estruturas adequadas para o desenvolvimento de atividades de pesquisa, buscam auxílio nas entidades que as possuem: as universidades (BENEDETTI e TORKOMIAN, 2011).

Oriunda dessa necessidade surgiu o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), denominado como “Núcleo ou órgão constituído por uma ou mais ICT com a finalidade de gerir sua política de inovação” pela Lei n°10.973/2004, que regulamenta a criação dos NIT’s (BRASIL, 2004).

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Estes são de suma importância para as universidades que visam a comercialização do conhecimento acadêmico (O’KANE et al., 2015).

O número de NIT’s vem crescendo ao longo das décadas, principalmente na Ásia, devido ao fato de que, mantendo a relação universidade-indústria na linha, o resultado acaba sendo benéfico para ambas as partes (LIEW et al., 2012). Nações emergentes, como o Brasil, ainda avançam nessa atividade, já que somente a partir da criação da Lei de Inovação em 2004 é que os NIT’s foram criados.

As barreiras existentes nesse processo, como a burocracia, a incerteza da negociação, o tempo exigido da firma, dentre outras, reforçam a afirmativa. Baseada no panorama apresentado, a presente pesquisa foi desenvolvida a fim de apresentar alguns dos obstáculos e os esforços empreendidos pelas instituições públicas e privadas para superá-los.

O trabalho, através de uma investigação na literatura especializada, buscou informações sobre o desempenho da inovação tecnológica nos países: Brasil, China, Espanha, Irlanda e Alemanha. Tais nações foram escolhidas para mostrar este fator em três continentes diferentes: América do Sul, Europa e Ásia. Desta forma, através da utilização de dados obtidos com a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OECD), será constatado o panorama brasileiro.

2. CENÁRIO DA COLABORAÇÃO UNIVERSIDADE-INDÚSTRIA

Nesta seção será evidenciada a conjuntura da inovação tecnológica em alguns países ocidentais e orientais, para que, desta forma, haja uma discussão acerca disto.

2.1. Inovação tecnológica: uma abordagem geral

A China, segunda maior economia mundial, possui muitas empresas que fazem a utilização da “inovação imitativa”. Tal processo foi denominado desta maneira pois estas instituições absorvem o conhecimento de parceiras estrangeiras, fazendo modificações no produto, já que adiciona-se funcionalidades, melhora-se a qualidade, devolvendo-o para o mercado com uma redução do custo (YU et al., 2015).

De acordo com Caldera e Debande (2010), que fizeram a utilização de dados universitários da Espanha, instituições com Escritórios de Transferência de Tecnologia (ETT’s), equivalentes

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contratos de pesquisa. Estes autores ainda afirmam que as universidades que possuem uma extensa e equipada estrutura científica à sua volta, propiciam um efeito positivo no desempenho da transferência de tecnologia.

Os ETT’s presentes nas universidades da Alemanha, segundo Hülsbeck et al. (2011), são estruturas englobadas na organização administrativa. Estas possuem autonomia para associar a pesquisa acadêmica com o capital financeiro, a fim de se haver um maior intercâmbio entre usuários e fornecedores da tecnologia.

Conforme Boehm e Hogan (2013), estruturalmente, a comercialização do conhecimento científico da Alemanha e da Irlanda são bem comparáveis. Mas, na infraestrutura econômica elas se diferem, uma vez que os germânicos são uma das maiores economias mundiais e são tradicionais na interação universidade-indústria. Por sua vez, a indústria irlandesa é formada, principalmente, por subsidiárias multinacionais, que pouco colaboram com a economia local.

Boehm e Hogan (2014) salientam que a questão financeira não é a única barreira existente na relação irlandesa universidade-indústria. Visto que os agentes do governo e os pesquisadores possuem pontos de vistas diferentes com relação ao retorno do investimento e o tempo para tal, existindo uma pressão para a divulgação dos resultados obtidos.

Com dados publicados pela OECD (2015), a Tabela 1 mostra que os países analisados investem pouco em P&D. Dentre estes, a Alemanha, com grande tradição no ramo, é a que menos repassa recursos do P&D para o ICT; em contrapartida, a Irlanda é a que mais o faz.

Tabela 1 – Despesas das empresas em Pesquisa & Desenvolvimento – DEPD, 2013 (OECD, 2015)

Total de DEPD (porcentagem do PIB)

DEPD em ICT

(porcentagem do PIB) Proporção

CHINA (2013) 1,55% 0,30% 19,35%

ESPANHA (2012) 0,67% 0,11% 16,42%

ALEMANHA (2012) 1,96% 0,25% 12,76%

IRLANDA (2011) 1,09% 0,48% 44,03%

A experiência no ramo da inovação, na maioria dos casos, contribui para a redução da incerteza, principalmente no âmbito das finanças e do conhecimento (D’ESTE et al., 2012). Por outro lado, estes autores, baseados em estudos, dizem que quanto maior o engajamento de uma empresa com P&D e outros tipos de inovação, maior a importância dada à barreira quando esta é transposta.

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Além das citadas, existem barreiras que podem existir em quaisquer países: as jurídicas, administrativas, ou seja, as institucionais, pois dependem do Estado (PLOTNIKOVA et al., 2015). Sendo assim, este pode influenciar nos processos ocorrentes na indústria, facilitar e/ou dificultar a entrada ou saída da inovação para o mercado. Estes fatores vão depender da legislação vigente, assim como da necessidade e do empenho dos governos em fazer a inovação acontecer.

2.2. O panorama da inovação tecnológica no Brasil

A fim de proporcionar o desenvolvimento, a sociedade necessita tornar-se empreendedora. O Brasil deu o primeiro passo nesse caminho ao sancionar a Lei de Inovação Tecnológica, que estabeleceu os procedimentos legais para criação e comercialização da inovação (FIGUEIREDO, 2008).

Tal lei tinha como objetivo a criação de um contexto favorável ao aumento da interação entre empresas, universidades e institutos científicos e tecnológicos (ICT’s), para que, através de projetos inovadores, produtos e processos fossem gerados (MATIAS-PEREIRA e KRUGLIANSKAS, 2005).

Devido ao fato da lei ter sido implantada recentemente, o país ainda encontra muitas barreiras para comercializar sua inovação. Na ordem econômica, os principais obstáculos são a escassez de fontes de financiamento, elevados custos de inovação e riscos econômicos excessivos (NEGRI e KUBOTA, 2008). Este argumento é evidenciado na Tabela 2, que mostra a discrepância entre o número de empresas que fazem uso da inovação e o percentual de investimento financeiro.

A fim de evidenciar o investimento na inovação tecnológica no Brasil, a Figura 2 mostra a receita das empresas que a implementam e o quanto repassam para este setor (OECD, 2015). O gráfico ressalta o quão ínfimo este índice é se comparado à sua totalidade. Estes dados constatam que o país ainda tem um longo caminho a percorrer se quiser progredir no ramo.

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Tabela 2 – Inovação e P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) em empresas brasileiras, 2011 (OECD, 2015)

Total de Companhias Companhias com Inovação Proporção

ICT DA INDÚSTRIA 3235,432415 1676,7374291 51,82%

ICT DE SERVIÇOS 4876,305015 1891,41144359 38,79%

TELECOMUNICAÇÕES 1030,463046 268,03837782 26,01%

TOTAL DO SETOR ICT 8111,73743 3568,148865 43,99%

TOTAL 128698,9617 36505,906125 28,37%

Dados do Gabinete de Estatísticas da União Europeia (EUROSTAT, 2013) afirmam que o investimento da Espanha no setor industrial corresponde a 0,66% do PIB, enquanto a Irlanda investe 1,14% e a Alemanha 1,91%. Como o Brasil investe 1,30%, baseado em dados de 2011, publicados pela OECD (2015), percebe-se que muito ainda precisa ser feito para alcançar o país alemão, que tem tradição na transferência de tecnologia.

Figura 2 – Investimento das empresas brasileiras em P&D, 2011 (OECD, 2015)

Baseado em dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015), a Tabela 3 evidencia que há um aumento da contribuição do setor de serviços para o Produto Interno Bruto (PIB) do país. Comparando as informações, pode-se perceber que

0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%

Despesa com P&D (bilhões de reais)

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os índices da indústria vêm caindo, aumentando ainda mais a diferença para os números dos serviços.

Dessa forma, analisando os dados da Figura 2 e da Tabela 3, nota-se que, mesmo o setor de serviços possuindo grande importância para a economia do Brasil, o governo investe neste cerca de menos da metade do que investe na indústria. Tal fato é um bom contribuinte para o retardamento do crescimento econômico nacional.

Tabela 3 – PIB trimestral por setor, considerando média de 1995 igual a 100 (IBGE, 2015) I Trimestre de 2015 II Trimestre de 2015 Variação

INDÚSTRIA 138,9 136,9 - 2 pts

SERVIÇOS 171,8 173 1,2 pts

Aliado à produtividade, o crescimento nas vendas possibilita às empresas um lucro em grandes proporções. Assim, o conhecimento internacional flui através do fornecimento de informações acerca de produtos e processos, inovações, dentre outros (CIRERA et al., 2015). Mas, para isto ocorrer, além da econômica, outras barreiras devem ser transpostas, podendo citar: o tempo gasto para instaurar o projeto na firma, a incerteza que ronda o processo e a burocracia, que atrasa, dificulta e desestimula empresas e pesquisadores a seguirem na relação universidade-indústria (FREITAS et al., 2013). Entretanto, os NITs e o apoio público no desenvolvimento das pesquisas são facilitadores da colaboração com a indústria.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo forneceu informações acerca da conjuntura da colaboração universidade-indústria em alguns países: Brasil, China, Espanha, Irlanda e Alemanha. Foi constatado que estes países pouco investem no ramo, devido a diversas circunstâncias. Dentre as principais barreiras tem-se a burocracia e o financiamento, fatores cruciais no processo de comercialização da inovação.

Dessa forma, a pesquisa identificou algumas lacunas existentes no processo em questão: a burocracia e o pouco investimento. A partir deste, futuros trabalhos podem ser desenvolvidos a fim de buscar minimizar as barreiras do processo de transferência de tecnologia da universidade para a indústria, para que os países sejam capazes de se desenvolverem ainda mais.

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Agradecimentos

Os autores agradecem ao apoio do CNPq, CAPES e FAPITEC/SE, bem como dos Programas Institucionais de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UFS), ao Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI/UFS), e à Extensão (PIBIX/UFS) da Universidade Federal de Sergipe.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENEDETTI, M.H.; TORKOMIAN, A.L.V. Uma análise da influência da cooperação Universidade-Empresa sobre a inovação tecnológica. Gestão e Produção, v.18, n.1, p.145-158, 2011.

BOEHM, D.N.; HOGAN, T. ‘A jack of all trades’: the role of PIs in the establishment and management of collaborative networks in scientific knowledge commercialisation. The Journal of Technology Transfer, v.39, p.134-149, 2014.

BOEHM, D.N.; HOGAN, T. Science-to-Business collaborations: A science-to-business marketing perspective on scientific knowledge commercialization. Industrial Marketing Management, v.42, p.564-579, 2013.

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A STUDY ABOUT THE INDICATORS OF

TECHNOLOGICAL INNOVATION IN BRAZIL

NEVES, Clara Cruz*; CUNHA, Beatriz Mendonça; PEREIRA, Ruth Oliveira; SILVA, Daniel Pereira; VASCONCELOS, Cleiton Rodrigues

Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal de Sergipe * email: clara_cruz97@hotmail.com

Abstract: The Technology Transfer Office (TTO) is an institution responsible for developing innovative products and processes in order to market them with industry and thus promote an increase in the country's growth rate. This paper sought to identify the panorama of technological innovation in Brazil, China, Spain, Ireland and Germany, to make it possible to frame the position of Brazil in the face of other nations. Through a review of the literature and use of data published by the Organisation for Economic Cooperation and Development (OECD), it was found that these countries pass on few resources to this sector, as demonstrated data.

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