Metodologia de Pesquisa para
Ciência da Computação
fonte: livro Prof. Raul Sidnei Wazlawick, 2009
Profa. M. Cristina ICMC-USP SCC5921 – Metodologia de Pesquisa em Visualização e Imagens
Capítulo 6
Artigos Científicos
♦ Maneira academicamente reconhecida de divulgação de trabalho científico produto resultante de mestrados e de doutorados, exigido
por muitas instituições
♦ Publicação científica e impacto da publicação como indicadores de confiabilidade e qualidade
♦ Artigos científicos devem refletir rigidamente a metodolodia de pesquisa, e devem ser mais sucintos do que uma monografia clareza e objetividade
Autores
♦ Artigos são, em geral, trabalhos colaborativos: no mínimo, o orientador do trabalho participa efetivamente da confecção de um artigo, além do próprio aluno
♦ Há diversos entendimentos sobre a ordem para a listagem dos autores, mas não há consenso sobre qual seria a forma mais adequada.
♦ A ordem alfabética é bem aceita, no entanto, nem sempre é uma boa solução: muitas vezes a ordem é intrepretada como uma indicação do peso da contribuição. P.ex., o primeiro autor costuma ser o mais importante.
Motivação
♦ Só deve redigir o texto quando sabe o que vai comunicar por mais óbvio que pareça, muitos alunos não fazem desta maneira
♦ Inicialmente, deve-se tentar sintetizar o trabalho em uma única frase; em seguida, desenvolver esta frase apresentando antecedentes, detalhamento, e consequências
♦ Caso não se consiga sintetizar em uma frase, talvez seja necessário
Motivação
♦ Um artigo é a comunicação de uma ideia – não se deve falar por falar;
evitar informação irrelevante ou desconexa
♦ Texto curto com 6 a 12 páginas – não é um tratado sobre uma área do conhecimento, mas a transcrição objetiva e precisa de uma ideia de pesquisa, do desenvolvimento, e das consequências
♦ Deve enfatizar o resultado concreto obtido, mostrando como se chegou a este resultado, e a qual problema real ele se refere
Motivação
♦ O artigo deve apresentar os conceitos necessários para sua compreensão, de acordo com o perfil do público alvo
♦ Por exemplo: um artigo sobre o uso de redes neurais em economia
♦ Em veículos de IA: mencionar apenas qual o modelo usado de rede neural, explicando também todos os conceitos de economia envolvidos
♦ Em veículos de economia: definir o que é uma rede neural e o modelo usado, mas não os conceitos básicos de economia
Motivação
♦ Pergunta a ser feita: “porque estou escrevendo este artigo?”
♦ “para documentar o que tenho feito nos últimos anos”: pouco
interessante
♦ “para melhorar meu currículo”: importante para quem
escreve, mas não para quem lê
♦ “comunicar uma ideia a alguém”: resposta correta
♦ Próximas perguntas: “o que meu artigo quer comunicar?” e “qual é
o público alvo do artigo?” devem ser respondidas categoricamente
Trabalhos Correlacionados
♦ Todo artigo e monografia devem apresentar trabalhos
correlacionados – não é aceitável “ninguém jamais fez algo parecido” o trabalho perde credibilidade
♦ Pesquisar os melhores periódicos e eventos ao longo dos últimos 5
ou 10 anos, e catalogar os trabalhos como “não relacionados”,
“moderadamente relacionados”, ou “fortemente relacionados”
♦ Caso realmente não se encontre nada especificamente semelhante,
Trabalhos Correlacionados
♦ Pode-se inclusive mencionar como a revisão bibliográfica foi feita:
“foram revisados os periódicos x,y, e z de 2003 a 2009 e não foram encontrados trabalhos relativos ao uso de redes neurais para previsão em bolsas de valores; porém foram encontrados os trabalhos moderadamente relacionados....” importante esclarecimento ao leitor, traz respaldo ao autor, caso existam trabalhos fortemente relacionados, mas que tenham sido publicados em veículos pouco expressivos
Contribuição do Artigo
♦ Na confecção de um artigo ♦ Não se deve ser modesto
♦ Mas também não se deve exagerar
♦ Deve-se ser realista com relação aos resultados e à contribuição,
convencendo o leitor de que seus resultados estão corretos
♦ É necessário um trabalho de convencimento, evitando-se lacunas
que levem à invalidação por parte dos revisores usar provas, evidências, e exemplos
♦ A contribuição deve ficar clara, desde o abstract apresentar os
Tipos de artigos
•
Revisão sistemática de literatura, survey
•
v. https://en.wikipedia.org/wiki/Systematic_review
•
Desenvolvimento de teoria
•
Relato de experiência
Tipos de artigos
♦
Artigo teórico
♦ Conjunto de definições teoria
♦ Apresentação de propriedades lógicas demonstráveis indução
matemática, indução estrutural, redução ao absurdo, ...
♦ Toda afirmação precisa de fundamentação por meio de
referência bibliográfica, prova lógica, relato de observação direta, ou ainda como hipótese ou definição
Tipos de artigos
♦
Relato de experiência
♦ Informação sobre experimento e suas observações
♦ Mostra como a situação observada se reflete em outras
situações generalização
♦ Evitar detalhes irrelevantes sempre válido
♦ O relato deve se concentrar nas ideias, não no experimento em
si
Tipos de artigos
♦
Artigos sobre Métodos
♦ Muito comum em ciência da computação ♦ Apresentar o método e suas vantagens
♦ Comparar com métodos anteriores fundamental para
aceitação do artigo
♦ Adotar métricas bem definidas de comparação
♦ Ênfase nas novas ideias, não no procedimental adotado
♦ Abordar também as limitações, muito embora com precaução
Escrita científica
♦
Portal da escrita científica:
Veículos de Publicação
♦ Há inúmeros veículos que atendem à demanda por divulgação
científica variam em qualidade, impacto, e seletividade
♦ Deve-se escolher o veículo em função da real contribuição e inovação
do trabalho
♦ Perante uma recusa, aproveitar a análise crítica recebida e melhorar
sua qualidade
♦ Estilo
♦ Periódico: mais importante em todas as ciências, divulga os
trabalhos mais relevantes; no entanto, em ciência da computação ainda há um número relativamente pequeno de periódicos
♦ Evento: importante em ciência da computação; agilidade e
rapidez entre submissão e divulgação problemas em análises comparativas com outras ciências
Veículos de Publicação
♦ Estilo
♦ Workshop/seminário: eventos satélites de conferências. Em
geral, de abrangência reduzida; poucos são considerados relevantes. Muitos evoluem para conferências
♦ Livros/Capítulos de livros: bastante valorizados e de grande
abrangência, embora geralmente não sejam resultado de teses e monografias; têm como objetivo divulgar conhecimento consolidado
Veículos de Publicação
Evento x Periódico
♦ Eventos: possuem prazo (deadline) para submissão, sendo avaliados
por um comitê de programa; os eventos mais competitivos são muito seletivos (baixa taxa de aceitação), portanto, os artigos
competitivos são os que apresentam um elevado grau de maturidade após a aceitação, os artigos recebem poucas modificações. Processo é ágil.
♦ Periódicos: envio contínuo, processo de revisão do artigo mais
longo e interativo. Possivelmente discussão com revisores e comitê
editorial, com inúmeras sugestões de alteração. Esse processo pode
Capes-Qualis
♦ Sistema criado pela CAPES-Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior
♦ Serve como métrica para avaliar a pós-graduação e atividade
científica no Brasil critério usado para
♦ destinação de recursos
♦ auditoria de uso de recursos
♦ classificação qualitativa dos programas de pós-graduação ♦ guiar a comunidade científica brasileira
Qualis-Capes
♦ Como funciona?
♦ A cada 4 anos (quadriênio) a CAPES recebe relatórios (sistema
Sucupira) dos programas de pós-graduação do Brasil, de todas
as áreas
♦ Nestes relatórios são reportados, entre outras informações, os
veículos de divulgação científica usados por cada programa
♦ Os veículos passam a integrar o Qualis, e serão qualificados de
maneira estratificada: A1 é o estrato de maior qualidade, seguido de A2, B1, B2, B3, B4, B5, e C, este último considerado
de menor qualidade
♦ A CAPES organiza os dados de todas as áreas. Como cada área
tem suas especificidades, um comitê de avaliação de cada área
é responsável por elaborar documentos de área que
Por razão do sistema Qualis considerar múltiplas áreas, cada qual com autonomia para fazer sua avaliação, muitos veículos científicos recebem estratificações diferentes quando
considerados em diferentes áreas
A estratificação Qualis é usada para ponderar a produção dos programas de pós-graduação segundo a tabela:
http://www.capes.gov.br/acessoainformacao/
Qualis-Capes
♦ A avaliação completa dos programas de pós-graduação considera múltiplos critérios, como detalhado no respectivo documento de área, v. http://www.capes.gov.br/avaliacao/documentos-de-area-
♦ A avaliação dos veículos de publicação obedece a políticas
atualizadas periodicamente, decididas segundo a dinâmica científica observada em diferentes momentos
Qualis-Capes
♦
O resultado da estratificação dos periódicos na avaliação
Qualis-Capes é oficialmente divulgado pelo sistema
WebQualis
♦
Cada comitê apresenta planilhas e documentos contendo os
Qualis-Capes: como usar
♦
Importante conhecer e considerar ao definir os veículos aonde
publicar seus resultados;
♦
Mas não o mais importante: há diversos fatores a considerar. O
Qualis não substitui o conhecimento da área e dos seus
veículos;
♦
V. impacto (JCR, índice H, ...)
♦
Fundamental é se informar para escolher veículos que tenham
credibilidade e evitar os caracterizados como “predatory
publishing”
Capítulo 7
Ética no Envio de Artigos
♦ Principais aspectos éticos
♦ Artigos originais devem ser submetidos a um único veículo de cada
vez, a menos que o veículo adote uma política específica de aceitar tal
prática, mediante aviso
♦ Publicar um artigo implica que ele, ou partes dele, não serão
publicados em outros lugares
♦ Não se deve publicar várias versões de um mesmo trabalho em
diferentes veículos, mesmo que a apresentação seja
significativamente diferente (autoplágio) no entanto, há diversos veículos que aceitam novas versões de um mesmo trabalho desde que
satisfaçam algumas condições como 30% de novo conteúdo; pode-se
ainda explorar o mesmo trabalho segundo diferentes aspectos, o que pode gerar novas contribuições e artigos
Ética no Envio de Artigos
♦ Principais aspectos éticos
♦ O texto de um artigo deve ser sempre 100% original, a menos de pequenos trechos reproduzidos que devem vir entre aspas e com
indicação do autor (ainda que se trate de você mesmo)
♦ As figuras de um artigo devem ter sido geradas pelo autor. Reprodução de figuras de outras publicações requer autorização do detentor dos direitos
♦ Reuso de figuras é aceitável em dissertações/teses não publicadas com objetivo comerciais, mas devem ser devidamente creditadas
Plágio
♦
Apropriação indevida de ideias ou textos de outras
pessoas
♦
Na era da Internet, tornou-se muito fácil plagiar; no
entanto, tornou-se ainda mais fácil detectar o plágio
♦
Duas formas principais de plágio:
♦
Copia literal de textos de outras pessoas para a
confecção integral ou parcial de trabalhos
♦
Copia de ideias em textos que, mesmo usando
Plágio
•
https://www.turnitin.com/pt/blog/cinco-tipos-plagio-mais-frequentes
•
http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/09/14/quatro-tons-de-plagio-academico/
•
http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/08/20/plagio-academico-derruba-ministros-checos/
A Lei Brasileira
♦
Lei 9.610 de 19/02/1988, consolida a legislação sobre
direitos autorais:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm
♦
Responde a uma pergunta frequente: uma instituição
que financia uma bolsa torna-se detentora dos
direitos sobre o que for produzido pelo bolsista?
♦
“Artigo 6º. Não serão de domínio da União, dos
estados, do Distrito Federal ou dos municípios as obras
por eles simplesmente subvencionadas”
♦
O artigo 7 lista os tipos de obras protegidos pela lei, e o
artigo 8 lista os tipos de obras que não são protegidos
pela lei
A Lei Brasileira
A lei brasileira considera o plágio como crime,
prevendo multa e prisão
É interessante observar que não há graus de plágio
perante a lei, qualquer plágio é plágio;
Plágio
•
Seção 4 do Código de Boas Práticas Científicas da
FAPESP estabelece que o plágio deve ser
considerado como má conduta grave, definindo-o
como
“a utilização de ideias ou formulações verbais, orais
ou escritas de outrem sem dar-lhe por elas, expressa
e claramente, o devido crédito, de modo a gerar
razoavelmente a percepção de que sejam ideias ou
formulações de autoria própria.”
Plágio
♦
Legislação anti-plágio brasileira é uma das mais
rígidas do mundo
♦
Não é necessário o registro de uma obra, basta
provar sua autoria
♦
Os recursos de busca da internet facilitaram a
detecção de plágio; há sítios web e sistemas para
identificar trabalhos fraudulentos
Plágio
♦
Para evitar caracterizar plágio
♦
Colocar cópias literais de texto entre aspas
♦
Citar a fonte
♦
Ter muita cautela com reuso de texto (seu ou alheio)
e de figuras (idem)
•
Para um pesquisador, a capacidade de relatar a pesquisa é
tão importante quanto a capacidade de realizá-la: escrever
(monografia, artigo, projeto de pesquisa) é habilidade
essencial de um pesquisador
Ética em pesquisa
•
Questões éticas vão muito além do plágio de texto!
•
http://blogs.estadao.com.br/herton-
escobar/estudo-falso-e-aceito-para-publicacao-em-mais-de-150-revistas/
Ética em pesquisa
•
Questões éticas vão muito além do plágio de texto!
•
https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,a-descoberta-de-uma-fraude-em-pesquisas,70002505464
•
https://www.nature.com/articles/466438a
•
http://ccnmtl.columbia.edu/projects/rcr/rcr_authorship/intr
Peer review
•
Revisão por pares: outra componente da atividade
acadêmica
•
Utilizada na avaliação de artigos e de projetos de
pesquisa submetidos a financiamento, entre outros
•
https://authorservices.wiley.com/Reviewers/journal
Peer review
•
Quais são as questões éticas?
•
Na emissão de pareceres para projetos de pesquisa
•
Na avaliação de artigos
Bibliografia
• DAVIS, M. Scientific papers and presentations. San Diego: Academic Press, 1997.
• ECO, H. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 1985.
• GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.
• GIL, A. C. Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1994.
• LAKATOS, E. M., MARCONI, M. de A. Fundamentos da metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1996.
• MATTAR NETO, J. A.. Metodologia científica na era da informática. São Paulo: Saraiva, 2002.
• MEDEIROS, J. B.. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2000.
• OLIVEIRA, S. L.. Tratado de metodologia científica: projetos de pesquisas, TGI, TCC, monografias, dissertações e teses. São Paulo: Pioneira, 2001. • SALOMON, D. Como fazer uma monografia. 4ªEdição. São Paulo: Martins