Este documento faz parte do
Repositório Institucional do
Fórum Social Mundial
Memória FSM
Escritório da Secretaria Executiva – Fórum Social Mundial
RELATÓRIO DA V EDIÇÃO
Porto Alegre, Rio Grande do Sul – Brasil
De 26 a 31 de janeiro de 2005
Sumário
1. Introdução - FSM 2005: um laboratório de práticas ... 03
2. Descrição do evento realizado ... 05
3. Mobilização para o FSM 2005 ... 12
4. Números gerais do FSM 2005 ... 13
5. Anexos ... 14
a) Entidades que integram o Comitê Organizador do FSM 2005 ... 14
b) Notas conceituais dos GTs
1. FSM 2005: Grupo de Trabalho de Espaços ... 15
2. FSM 2005: Grupo de Trabalho de Economia Popular Solidária ... 16
3. FSM 2005: Grupo de Trabalho de Sustentabilidade e Meio Ambiente ... 17
4. FSM 2005: Grupo de Trabalho de Cultura ... 19
5. FSM 2005: Grupo de Trabalho de Tradução ... 21
6. FSM 2005: Grupo de Trabalho de Comunicação ... 22
7. Proposta de Mobilização - Fórum Social Mundial 2005 ... 24
1.
FSM
2005:
UM LABORATÓRIO DE PRÁTICAS
A preparação do FSM 2005 representou
para as instâncias do processo – Comitê
Organizador (CO), Secretaria do FSM e
Conselho Internacional (CI) – talvez o seu mais
grande desafio até então. O sucesso da
realização da quarta edição do FSM, em Mumbai
(ex-Bombai), Índia, de 16 a 21 de janeiro, 2004,
contribuiu para a consolidação mundial do
processo FSM.
FSM 2004, em Mumbai, Índia
Além de enriquecer a agenda do FSM,
Mumbai integrou novas e importantes forças ao
processo, alimentando a vontade de fazer do
Fórum uma ferramenta nova e mais útil para
multiplicar ações políticas. O retorno a Porto
Alegre, local definido para a realização da quinta
edição do evento mundial, colocava no
horizonte das instâncias do processo o desafio
da inovação. Essa inovação se concretizou no
Fórum Social Mundial 2005 (FSM 2005) –
realizado entre os dias 26 e 31 de janeiro deste
ano - tanto do ponto de vista da metodologia de
organização de suas atividades quanto do evento
propriamente dito.
Inovações metodológicas e no evento
Desde a primeira edição do FSM, um de
seus maiores desafios era o de estabelecer uma
forma de organização das atividades que fosse
compatível com uma nova cultura política
valorizadora da diversidade, das perspectivas
plurais, que excluísse a hierarquia de temas e
assuntos, e englobasse a luta contra a imposição
de pensamentos únicos e hegemônicos. Foi
buscando atingir esse objetivo que o Conselho
Internacional, reunido na Itália em abril de 2004,
aprovou uma nova metodologia para organizar
as atividades durante o evento.
Três aspectos essenciais da metodologia
do 2005: a) a definição da grade temática do
FSM 2005 de uma maneira mais participativa, a
partir de uma ampla consulta aberta aos
participantes de todas as edições do FSM e de
eventos regionais, locais ou temáticos; b) a
abertura de espaço para a realização somente de
atividades auto-gestionadas, isto é, propostas e
realizadas por organizações participantes do
FSM; e c) o estímulo ainda maior à articulação
entre atores sociais na definição de planos de
ação comuns.
Do ponto de vista do evento de 2005,
uma profunda revisão do conceito e forma de
realização do evento foi realizada, de maneira a
não apenas abrigar os mais de 150 mil
participantes esperados como também para
promover uma maior integração do FSM com o
espaço público da própria cidade e com o
Acampamento Intercontinental da Juventude.
Com esses objetivos em vista, deslocou-se o
eixo central do evento - que de 2001 a 2003 era
sediado principalmente na PUC - para novas
áreas, com características menos tradicionais.
Foto: Ricardo Stricher
Em 2005, o evento FSM avançou para o contorno da orla do Guaíba.
Em 2005 todo o evento FSM avançou
para o contorno da orla do Guaíba, ocupando a
área que se estende desde os Armazéns do Cais
do Porto até o Parque Marinha do Brasil. Desse
modo, o evento FSM procurou afirmar-se
enquanto espaço aberto, que valoriza a noção do
público, fortalecendo as dimensões interpostas
dessa interação entre os sujeitos e seu meio.
Toda a ocupação geo-espacial da área, sua
construção e a montagem dos ambientes
internos teve como diretriz geral a proposta de
trazer para a prática do evento as propostas
defendidas pelos diversos movimentos, ONGs,
redes e campanhas na construção de outro
mundo possível. Assim, o FSM 2005 se traduziu
como um grande laboratório de práticas.
Notas conceituais: desenhando o FSM 2005
A concepção do projeto para o FSM
2005 começou a ser esboçada já na reunião do
CI, em abril de 2004. Em maio, foi realizada em
Porto Alegre a primeira reunião do Comitê
Organizador, composto por 23 entidades
brasileiras, com integrantes do CI e de
organizações locais da cidade e do estado.
Nessa reunião, foram aprofundados os
conceitos gerais para o evento e deu-se início à
estruturação do CO em vários grupos de
trabalho (GTs), responsáveis por discutir e
elaborar propostas em relação ao formato do
evento. Os GTs que se estruturaram foram:
Espaços, Comunicação, Software Livre, Meio
ambiente e Sustentabilidade, Economia Popular
e Solidária, Tradução e Cultura. Mais tarde,
foram criados também os GTs de Mobilização e
de Programa. A versão completa das notas
conceituais preparadas pelos GTs e aprovadas
pelo CO está disponível no site do FSM
(
www.forumsocialmundial.org.br
).
No próximo item, descreveremos como
se deu a transposição para a prática das propostas
expressas nas notas conceituais.
Foto: XPTO
Reunião do Comitê Organizador com integrantes do Conselho Internacional, entre os dias 21 e 23 de maio de 2004, em Porto Alegre (RS), Brasil, na Usina do Gasômetro, definiu que o evento FSM 2005 seria realizado na orla do Guaíba
Foto: Luis Abreu
A necessidade de maior integração entre as diversas atividades desenvolvidas no FSM e os participantes do Acampamento Intercontinental da Juventude foi outra questão levada em consideração ao se definir a mudança do evento para a região da orla do Guaíba
2.
D
ESCRIÇÃO DO EVENTO REALIZADO
*Estruturas do território e infra-estrutura para a realização da atividades
De acordo com as definições da nota conceitual
do GT Espaços, a ocupação do território às
margens do Guaíba seria organizada em áreas
que congregassem um ou mais de um espaço
temático, tendo como base o conceito de
“território”, enquanto espaço que abriga
pessoas, relações sociais, políticas, culturais,
econômicas, e no qual seus habitantes
interagem entre si e com a natureza. A criação
do Território Social Mundial (TSM) buscou
favorecer a construção de afinidades e de
relações sociais, potencializando o
desenvolvimento de um senso comunitário, do
espírito de responsabilidade e do compromisso
entre seus habitantes/ocupantes.
Ao todo, foram organizados 203 espaços para
debates, construídos com distintas tipologias e
representando 41.680 lugares. O Território
Social Mundial compreendeu a área entre os
armazéns do Cais do Porto, passando pela
Praça Seca, praça Brigadeiro Sampaio, Usina do
Gasômetro, Aeromóvel, Parque Harmonia,
Anfiteatro do Pôr-do-Sol e Parque Marinha do
Brasil, abrangendo 102,3 hectares de área na sua
totalidade. Esses auditórios foram distribuídos ao
longo de 11 espaços temáticos, que organizavam
as diversas atividades propostas e realizadas pelos
atores participantes do FSM, a saber:
Pensamento autônomo, reapropriação e socialização dos saberes e das tecnologias (A)
Defendendo as diversidades, pluralidade e identidades (B)
Arte e criação: construindo as culturas de resistência dos povos (C)
Comunicação: práticas contra-hegemônicas, direitos e alternativas (D)
Afirmando e defendendo os bens comuns da Terra e dos povos – Como alternativa à mercantilização e
ao controle das transnacionais (E)
Lutas sociais e alternativas democráticas – Contra a dominação neoliberal (F)
Paz e desmilitarização – Luta contra a guerra, o livre comércio e a dívida (G)
Rumo à construção de uma ordem democrática internacional e integração dos povos (H)
Economias soberanas pelos e para os povos – Contra o capitalismo neoliberal (I)
Direitos humanos e dignidade para um mundo justo e igualitário (J)
Ética, cosmovisões e espiritualidades – Resistências e desafios para um novo mundo (K)
As atividades dos espaços A, B e C foram
realizadas nos Armazéns do Cais do Porto.
As atividades do espaço D, na Praça Seca.
As atividades do espaço E, no Parque
Harmonia
As atividades do espaço F e G, entre o Parque
Harmonia e o Anfiteatro do Pôr-do-Sol
As atividades do espaço H, no terreno situado
na esquina da av. Ipiranga com a Beira-Rio
(oposto ao anfiteatro do Pôr-do-Sol)
As atividades dos espaços I, J e K, foram
realizadas no Parque Marinha do Brasil
Foram realizadas também atividades no
auditório Araújo Vianna, situado no Parque da
Redenção, região central da cidade.
Os espaços acima abrigaram cerca de
2.500 atividades, sendo 400 de cultura,
propostas por 5.700 organizações dos cinco
continentes. Além das salas para debates, as
atividades culturais foram desenvolvidas
principalmente nos 14 palcos montados (12
pequenos e 2 grandes), três teatros públicos e
um teatro de arena construído, além de quatro
salas de cinema já existentes. Esses espaços
culturais, conforme definição feita pelo GT de
Cultura, estavam mesclados com os demais
espaços ao longo de todo o território.
Foto: Ireno Jardim
Apresentação da indiana Amit Heri, na cerimônia de abertura do FSM 2005 (26/01/2005).
Além dos auditórios, outras 295 tendas
abrigaram outros tipos de atividades e serviços:
palcos, teatros, salas de cinema;
Tendas de Solidariedade;
4 praças de alimentação;
30 cyber-cafés;
60 quiosques de atendimento;
10 centros de informação;
3 centros de atenção à saúde;
1 centro de vigilância em saúde;
2 postos de Atendimento
Policial;
1 Central de Voluntariado;
1 Central de hospedagem;
720 estandes institucionais e 280
estandes de comercialização;
1 linha especial de transporte
coletivo, 12 linhas regulares
adaptadas de táxi-lotação e 4
pontos fixos de táxi.
Foram construídos ao todo 150.000 m
2de
edificações temporárias para o FSM 2005 no
período entre 29 de novembro de 2004 e 15 de
janeiro de 2005. As obras de drenagem, redes
elétricas, lógica e hidráulica foram concebidas
para atender uma cidade de 35 mil habitantes.
O projeto urbanístico e de ocupação foi
desenvolvido pelo Ateliê de Arquitetura,
composto por um grupo de técnicos e
estudantes das áreas de arquitetura, urbanismo,
ecologia, antropologia e geografia, contratados
para exercer essa função.
A Usina do Gasômetro, sede do escritório
executivo do FSM 2005, foi o epicentro do
evento e congregou a central de comunicação,
agência de câmbio, salas para o CO e CI,
restaurantes e cafés.
Usina do Gasômetro: epicentro e sede administrativa do evento
*Prioridade à economia solidária e oportunidade de geração de renda
Para os empreendimentos solidários, o
fórum sempre se caracterizou como um espaço
significativo onde se encontram consumidores
mais conscientes e defensores do consumo
ético e solidário, que priorizam o ser humano e
a prática ecológica em suas visões de mundo. O
FSM também se constituiu em momento de
intensa atividade econômica, marcadamente
alternativa ao comércio tradicional, abrindo a
oportunidade para a prática de novos conceitos
e princípios, gerando trabalho e renda capazes
de impulsionar os empreendimentos solidários
e suas organizações autogestionárias em redes
de cooperação econômica, política e social.
Até 2003, as operações econômicas
realizadas para a organização dos eventos FSM
em Porto Alegre foram realizadas, com raras
exceções, pelos mecanismos do mercado
tradicional capitalista. Para o FSM 2005 a
proposta elaborada pelo GT de Economia
Solidária e aprovada no âmbito do CO foi a de
mudança de paradigma para a gestão
econômica, fazendo dela uma experiência de
transformação antes, durante e depois do FSM.
No FSM 2005, os empreendimentos populares
e solidários tornaram-se a opção prioritária para
o atendimento das demandas de organização,
produtos e serviços do FSM. Cerca de 2.500
trabalhadores de Empreendimento Solidários
estavam envolvidos na organização do FSM,
respondendo pela confecção de bolsas,
equipamentos eletrônicos, cabines de tradução, pisos
de tendas, etc.
Também foram gerados 1.700 postos de
trabalho em obras civis, 400 postos de trabalho na
desmontagem do evento e um número não estimado
de empregos indiretos. A estimativa é a de que mais de
US$ 60 milhões de renda foram gerados pelo evento à
economia de Porto Alegre, do estado do Rio Grande
do Sul e do Brasil.
Foto: Ricardo Stricher
Aproximadamente 2.500 trabalhadores de empreendimentos solidários foram envolvidos em diversos segmentos de atividades envolvidos na realização do FSM 2005: de confecção a alimentação e obras
*Tipologias construtivas alternativas
No Território Social Mundial, foram utilizadas
quatro tipologias de construção, duas delas que
privilegiam conceitos expressos na nota do GT
Espaços:
a) o sistema EPOTEC – material de
alvenaria leve, coberto com telhas
recicladas de tetrapac. Foram
construídas 27 salas com capacidade
para 100 pessoas nesse sistema, também
utilizado na construção das divisórias
dos armazéns do Cais do Porto;
Foto: Ricardo Stricher
b) Bioconstrução – sistema que utiliza os
materiais oriundos da terra, como a
palha de arroz/trigo, o barro, os troncos
de eucaliptos, bambus e leiva de grama
para a cobertura. Foram construídas 07
salas de atividades com capacidade para
50 e 100 pessoas nesse sistema, todas
localizadas no espaço temático E.
c) Estruturas lonadas – sistema tradicional
de eventos, utiliza lonas e estruturas de
aço/alumínio. Somaram 267 espaços,
entre salas para atividades, cybers,
murais, informações, credenciamento,
tendas solidárias, segurança, saúde, com
capacidades variadas de 50, 100, 200,
600 e 100 pessoas. As quatro praças de
alimentação, as feiras de artesanato e de
agroindústria e os estandes das
organizações ficaram sob a
responsabilidade do GT Ecosol
(Economia Popular e Solidária), sendo
que a organização do FSM subsidiou
duas praças de alimentação e uma feira
d) Espaços construídos – foram
utilizados seis armazéns do Cais do
Porto, os quais foram subdivididos para
compor as necessidades de salas para
discussões e mostras culturais, como o
Museu Vivo da Diversidade, o Memória
Instantânea e as exposições de artes
plásticas (projetos definidos pelo GT de
Cultura), além da Usina do Gasômetro,
epicentro do evento.
Foto: Eduardo Quadros
Foto: Eduardo Quadros
Acima, operário molha leiva de grama que cobre sala bioconstruída
Estrutura lonada Foto: Ricardo Strichter
Cais do Porto, espaço já construído, durante preparativos para receber o FSM 2005
*Benefícios permanentes para a cidade e a população de Porto Alegre
Outro desafio colocado para o FSM 2005 e expresso na nota conceitual do GT Espaços foi o de
priorizar a utilização dos recursos financeiros investidos na organização do evento em intervenções que
se tornassem referências físicas permanentes para a cidade e seu povo, seja a título de qualificação ou de
criação de novos espaços, materializando as práticas do outro mundo possível durante a estada do
processo em Porto Alegre.
Além dos enormes benefícios que o Fórum sempre assegurou à cidade e ao povo de Porto
Alegre, na V edição há uma série de benfeitorias e investimentos permanentes que ficam na cidade,
representando cifras ao redor de R$ 1,5 milhão, como:
Praça Seca: novo espaço cultural de 8 mil metros quadrados ao lado da Usina do Gasômetro
Sede administrativa do Parque Harmonia: casa com 80 metros quadrados
Rampas e pontes nos parques, garantindo acessibilidade aos portadores de deficiências físicas
La Rosca: oito espaços de convivência construídos em madeira
Infovia: na sede da Secretaria Municipal de Esportes, na Administração do Parque Marinha do
Brasil, na administração do Parque Harmonia, nos aramazéns do Cais A, B, A4, A5 e A7, no
anfiteatro Pôr-do-Sol, no auditório Araújo Vianna
Rede de Energia Elétrica: recuperação da rede do parque Marinha e instalação de uma
subestação no Parque Harmonia, além da melhoria da iluminação pública nos parques
Recuperação de toda a rede elétrica no Anfiteatro Pôr-do-Sol
Rede hidráulica: ampliação de rede de água e esgoto no Parque Harmonia
Drenagem no campo de futebol em frente ao anfiteatro Pôr-do-Sol
Pontilhão entre o Anfiteatro e a orla
11 bicicletários construídos em ferro para 25 bicicletas cada um
Fossas sépticas: instaladas seis fossas de dois mil litros cada, que poderão ser reutilizadas em
outras situações, como em condomínios populares
Casas populares: reaproveitamento de materiais permitirá a construção de 50 casas populares
Foto: Eduardo Quadros
Praça Seca, que abrigou o espaço D (Comunicação: práticas contra-hegemônicas, direitos e alternativas): obra realizada é um dos muitos benefícios permanentes que o Fórum Social Mundial deixa para a cidade de Porto Alegre
*Comunicação
Foto: Ricardo Strichter
Em 2005, foi dado um avanço no FSM
em direção a práticas alternativas de
comunicação, dando um salto em direção à
popularização e à inserção de movimentos que
lutam pelos direitos de comunicação. Buscou-se
trabalhar o conceito de comunicação integrada
ao processo FSM como um todo, direcionada a
práticas libertadoras e não mercantilizadas. Isto
se traduziu principalmente na realização de
quatro projetos de mídia compartilhada: Fórum
de Rádios, Fórum de Tvs, Ciranda da
Informação e Laboratório de Conhecimentos
Livres (no Acampamento da Juventude).
Especial atenção foi dada ao software
livre, por se tratar de instrumento importante da
luta pela liberdade do conhecimento. Para isso,
foram tomadas iniciativas que asseguraram seu
uso antes, durante e depois do evento, através
do desenvolvimento de ferramentas e
instrumentos; articulação de diferentes atores
nacionais e internacionais para discutirem essa
questão e organização de espaços dentro do
fórum para dar suporte aos participantes no uso
do software livre.
O software livre também foi usado na
central de imprensa e cyber-cafés espalhados
pelo território e bancos de dados criados para
todo o processo (consulta temática, inscrições,
site do FSM, credenciamento, mailings de
imprensa e boletins).
Rádio - Uma ação inovadora na
comunicação do FSM foi a realização de
boletins de rádios. Com o objetivo de facilitar a
Sala de imprensa na Usina do Gasômetro: espaço para a mídia alternativa e a convencional
divulgação do FSM, especialmente em rádios
comunitárias e rádios de pequenas cidades que
sofrem diversas carências, o Escritório de Porto
Alegre criou o programa O Mundo do Fórum, com
duração de cinco minutos cada, disponibilizado
via telefone 0800 e via Internet. Foram
produzidos 38 programas, sendo 34 em
português e outros quatro, versões condensadas
do programa semanal em inglês, francês,
espanhol e italiano. De modo geral, os
programas traziam informações sobre a
organização do evento e sobre o conteúdo de
atividades da quinta edição, com entrevistados
do Brasil e do exterior, como José Saramago,
Adolfo Perez Esquivel e Boaventura de Sousa
Santos. Com Saramago e Esquivel, foram feitas
também duas entrevistas exclusivas somando, ao
final, um total de 40 programas de rádio.
Transmissão via satélite – Com a
proposta de levar o FSM até quem não poderia
viajar a Porto Alegre, foram providenciados
serviços de captação de atividades e transmissão
via satélite, com sinal de áudio e vídeo
internacional. Isso foi realizado em parceria com
a Radiobras, que instalou uma central de sinais e
disponibilizou o satélite B3 e, em situações
especiais, também o satélite internacional.
Também foram contratadas unidades móveis de
captação e banda em outro satélite.
Não há como quantificar a retransmissão
das atividades, mas foi possível apurar que a
EBU – rede européia de televisões públicas –
distribuiu o sinal do Fórum para 72 televisões
européias. Diversas emissoras do Brasil e
exterior – entre alguns exemplos, do Canadá,
China, Argentina e EUA - entraram em contato
para confirmar a recepção do sinal com boa
qualidade técnica. No Rio Grande do Sul, a
TVE retransmitiu na íntegra a cerimônia de
abertura, de encerramento, shows culturais e
atividades todos os dias do evento.
Comunicadores credenciados -
Foram credenciados 6.823, de 71 países.
Principais delegações: Brasil, Estados Unidos,
França, Itália, Uruguai, Espanha, Peru, Canadá,
Chile e Alemanha.
Para atender esse público de jornalistas,
foi montada na Usina do Gasômetro uma sala
de imprensa com 120 computadores ligados à
internet e 27 pontos para laptop. Além disso,
um espaço especial para os projetos de
cobertura compartilhada foi criado, com 30
computadores também conectados à internet.
Finalmente, também estavam disponíveis para
uso comum da mídia 2 estúdios de rádio, 7
cabines de rádio e 4 estúdios de TV.
Rede wireless - Na Usina do
Gasômetro e no AIJ, foram disponibilizados
pontos de acesso à Internet sem fio (“hot
spots”).
Foto: Ricardo Strichter
Mais de 6.800 jornalistas foram credenciados para o FSM 2005
*Tradução
No FSM 2005, a tradução foi tratada como ação política que busca garantir o intercâmbio entre
organizações e movimentos que se comunicam em línguas diferentes, e promover a reapropriação dos
meios técnicos e mecanismos de tradução por parte dos movimentos sociais. Em 2005, todo o trabalho
relacionado à tradução - intérpretes, tradutores e técnicos – foi voluntário e realizado conjuntamente
com a rede Babels – Nomad.
No total, foram envolvidos 533 intérpretes voluntários de 30 países e 16 idiomas foram
traduzidos, além do português: inglês, francês, espanhol, árabe, japonês, hebraico, alemão, italiano,
coreano, guarani, hindi, quechua, uolof (África), bahasa (Indonésia), russo e libras (linguagem brasileira
de sinais). 39 salas e auditórios foram equipados, permitindo a tradução simultânea de 450 atividades.
Ao todo, foram montadas 112 cabines de tradução, que permitiram a transmissão de atividades on-line,
através da internet.
3.
A
MOBILIZAÇÃO PARA O
FSM
2005
Buscando ampliar o enraizamento do processo FSM no Brasil, o Comitê Organizador deu início a uma
ampla estratégia de mobilização, envolvendo suas seções regionais e locais. Essa estratégia se refletiu na
realização de eventos locais de mobilização, bem como na organização de ônibus de 23 estados
buscando ampliar a participação de movimentos sociais e populares excluídos do evento FSM. A
iniciativa foi avaliada bastante positivamente. Ao total, foram transportadas 1.150 pessoas nesses
ônibus, financiados pelo fundo de solidariedade nacional, constituído pelo CO. A definição desses
grupos de participantes foi dada por comitês de mobilização locais, abertos às diversas organizações
envolvidas ativamente no processo.
Foto: Ireno Jardim Foto: Ireno Jardim
Anfiteatro do Pôr-do-Sol: ponto de chegada da Marcha de Abertura do FSM 2005
Marcha de Abertura do FSM 2005 reuniu mais de 200 mil pessoas de todo o país
4.
N
ÚMEROS GERAIS DO
FSM
2005
Participantes
155 mil cadastrados, incluindo o Acampamento da Juventude.
Mais de 180 mil participantes, sendo as principais delegações de Brasil, Argentina, Estados Unidos,
Uruguai e França. No final de semana (dias 29 e 30/01) a Brigada Militar estimou a presença de 500 mil
pessoas no Território. Mais de 200 mil participantes da Caminhada de Abertura;
Delegações de 151 países;
6.872 organizações;
Foto: Inês Arigoni
66 povos indígenas – Maior encontro dos povos
indígenas do mundo; 2.500 atividades, sendo 400 de
cultura, propostas por 5.700 organizações dos cinco
continentes.
Foto: Luis Abreu
Cerca de 10.500 pessoas envolvidas diretamente na organização
160 na Coordenação Executiva
3.100 voluntários em áreas como: tradução, cultura, comunicação, logística e serviços, manutenção de
redes e construções, etc. 4.985 trabalhadores de prestadores de serviços atuando nas áreas de: segurança
patrimonial, suporte da rede lógica, redes e edificações, montagem, estandes institucionais e de
comercialização, nas praças de alimentação e central de abastecimento, sonorização, iluminação. 2.300
trabalhadores do serviço público (segurança, transporte, trânsito, iluminação pública, limpeza urbana);
Infra-estrutura e outros dados
750 instalações sanitárias adicionais 900 computadores em rede 21 Km de rede elétrica 16 Km de rede
lógica 140 toneladas de lixo gerado no período, sendo fonte de trabalho e renda para centenas de
trabalhadores e cooperativas; dois mil livros arrecadados pela Biblioteca Social Mundial; 65 mil litros de
água potável consumida apenas por trabalhadores da organização;
Hospedagem não comercial
Solidária:
2.675 vagas ocupadas;
Alternativa: 9.779 vagas ocupadas
5.
A
NEXOS
a) Entidades que integram o Comitê Organizador do FSM 2005
ABONG – Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais
Site: http://www.abong.org.br E-mail: abong@uol.com.br
AMB - Associação de Mulheres Brasileiras
Site: http://www.articulacaodemulheres.org.br E-mail: amb@articulacaodemulheres.org.br
Attac – Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos
Site: http://www.attac.org E-mail: attacsaopaulo@attac.org
Conam - Confederação Nacional das Associações de Moradores
Cáritas Brasil
Site: http://www.caritasbrasileira.org E-mail: caritas@caritasbrasileira.org
CAT – Central Autônoma de Trabalhadores
Site: http://www.cat-ipros.org.br/ E-mail: cat@uol.com.br
CBJP – Comissão Brasileira de Justiça e Paz da CNBB
Site: http://www.cbjp.org.br E-mail: cbjp@cbjp.org.br
Cives – Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania
Site: http://www.cives.org.br
E-mails: cives@uol.com.br, cives@cives.org.br
Clacso – Consejo Latinamericano de Ciencias Sociales
Site: http://www.clacso.org E-mail: clacsofsm@clacso.edu.ar
CMP – Central de Movimentos Populares
Site: http://www.cmp-brasil.org E-mail: cmpnac@uol.com.br
Comitê Organizador do Acampamento Intercontinental da Juventude
Site: http://www.acampamentofsm.org E-mail: acampamento@acampamentofsm.org
Comitê Afro do FSM
kikabessen@hotmail.com
CUT – Central Única dos Trabalhadores
Site: http://www.cut.org.br E-mail: cut@cut.org.br
FBOMs – Fórum Brasileiro de ONGs e
Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
Site: http://www.fboms.org.br/ E-mail: coordenacao@fboms.org.br
GTA – Grupo de Trabalho Amazônico
Site: http://www.gta.org.br
Ibase – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
Site: http://www.ibase.br E-mail: ibase@ibase.br
IPF – Instituto Paulo Freire
Site: http://www.paulofreire.org E-mail: ipf@paulofreire.org
Jubileu Sul Brasil
Site: http://www.jubileesouth.org E-mail: secretariat@jubileesouth.org Site: http://www.jubileubrasil.org.br E-mail: jubileubrasil@terra.com.br
Marcha Mundial das Mulheres
Brasil: http://www.sof.org.br/marchamulheres E-mail: marchamulheres@sof.org.br
Internacional: http://www.marchemondiale.org
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Site: http://www.mst.org.br E-mail: scgeral@uol.com.br
Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
Site: http://www.social.org.br E-mail: rede@social.org.br
UJS – União da Juventude Socialista
Site: http://www.ujs.org.br/ E-mail: ujs@ujs.org.br
UNE – União Nacional dos Estudantes
Site: http://www.une.org.br
b) Notas conceituais dos GTs
1. FSM 2005: Grupo de Trabalho de Espaços
Na aurora da história, havia tantos sistemas técnicos quanto eram os lugares. A história humana é igualmente a da diminuição do número de sistemas técnicos, movimento de unificação acelerado pelo capitalismo. Hoje, observa-se por toda parte, no Norte e no Sul, no Leste e no Oeste, a predominância de um único sistema técnico, base material da mundialização. (Milton Santos, 1994 - Técnica, Espaço, Tempo)
O Gt Espaços reafirma o desenho do FSM 2005 apresentado e discutido em Porto Alegre de 21 a 23 de maio deste ano. O debate desenvolvido sob o olhar das três edições de Porto Alegre e da recente edição do FSM na Índia trouxe o amadurecimento de
necessidades transformando-as em desafios ao FSM2005, o principal deles, a ampliação da
popularização. Esse caráter popular se traduz numa maior integração na dinâmica local, buscando vínculo com elementos simbólicos da cidade, marcando um novo território para a “cidade FSM”. A popularização também é entendida não apenas com a ação de trazer a população para o FSM, como também de levar o FSM para a população.
Outro desafio que surge é o de transformar os recursos que o processo FSM capta para a sua viabilização em benfeitorias permanentes para a cidade e seu povo, que se materializam por meio da qualificação de espaços públicos existentes, como os telecentros, por exemplo, ou pela criação de novos espaços. Isto representa os anseios dos organizadores do FSM, sociedade civil, movimentos sociais, ong´s em evidenciar o FSM como processo e não como evento.
Neste novo formato desejado para o FSM, serão enfatizadas preocupações com o meio ambiente, o cuidado com a redução da poluição visual, o respeito à arquitetura local da cidade. No desenho de espaços novos, serão buscadas práticas de construção que se valem de técnicas locais, reciclagem de materiais e outras práticas como a bio-construção. A contribuição das experiências práticas das três edições do Acampamento da Juventude, tanto em relação à sua concepção quanto à sua implementação, se apresenta também como fundamental.
Uma política que privilegie a comunicação física entre os diversos espaços do FSM além de uma política de acessibilidade universal, que busque o custo mais baixo, o conforto para os participantes, fazem parte deste novo projeto de FSM que agrega de maneira transversal os projetos dos demais GTs do CO: Cultura, Software Livre, Comunicação, Meio Ambiente e Sustentabilidade, Abastecimento e Economia Popular e Solidária e Tradução.
Este desenho do FSM2005 somente pode se viabilizar através de um processo participativo, operacionalizado por facilitadores do GT Espaços. Para isso, o GT entende que é necessário:
- Dialogar com as instâncias locais de participação como o Orçamento Participativo e os Conselhos para explicitar esta nova proposta de desenho para o FSM 2005 e identificar possíveis demandas de espaços públicos que podem ser parte deste desenho;
- Identificar, conjuntamente com os demais GTs do CO e comissões do CI, os espaços necessários para os diversos tipos de atividades
- Trabalhar principalmente com a comissão de Metodologia e Conteúdo e Temáticas do CI, no aprofundamento da visão e de critérios transparentes para a definição dos espaços de cada atividade. - O GT entende que o prazo de decisão/deliberação e a disponibilidade de recursos são pré-condições para a execução desta concepção de FSM.
Plano de trabalho
- Identificar facilitadores responsáveis de repassar a demanda de espaços de seu respectivo GT (nome; entidade; telefone; e-mail e nome do GT) e para acompanhar as reuniões do GT espaços; - Realizar o estudo de viabilidade dos espaços e território já propostos para o FSM2005;
- Elaborar e acompanhar o projeto de espaços/território do FSM2005 a ser executado por uma estrutura de escritório de Porto Alegre;
- Planejamento estratégico: definição de um calendário e de prazos que permitam a viabilização das demandas de espaço para o FSM (pacto de datas entre os GT´s); - Mapear alternativas de espaços para o FSM não somente para atividades como também de
acomodações (para movimentos populares), sendo esta uma das questões essenciais para popularização do FSM;
- Definição dos critérios de alocação das atividades nos espaços;
- Acompanhamento da alocação das atividades nos espaços;
- Transformar os relatos e materiais produzidos pelo GT em uma publicação no final do processo do FSM2005.
2. FSM 2005: Grupo de Trabalho de Economia Popular Solidária
No Fórum Social Mundial 2005 a Economia Popular
Solidária dará um passo de qualidade na construção de
um outro mundo possível!
Foram quatro edições do FSM com uma caminhada significativa, em que o debate das concepções e propostas aproximou as experiências de trabalho autogestionário e solidário de todo o mundo,
demonstrando o caráter universal desta alternativa de organização da economia e do trabalho sem
exploradores e explorados baseada na inclusão social. O FSM, para os empreendimentos solidários, sempre se caracterizou como um momento especial porque estabeleceu um encontro com os consumidores mais conscientes e defensores do consumo ético e solidário, e que priorizam o ser humano e a prática ecológica em suas visões de mundo. O FSM também se constitui no momento de intensa atividade econômica,
marcadamente alternativa ao comércio tradicional, em que a economia solidária tem a oportunidade de praticar novos conceitos e princípios e gerar trabalho e renda capazes de impulsionar os empreendimentos solidários e suas organizações autogestionárias em redes de cooperação econômica, política e social.
Do FSM 2003 para o FSM 2005 a Economia Popular Solidária está mais organizada e madura. Neste período construiu fóruns municipais, regionais, estaduais e nacional, envolvendo empreendimentos solidários, entidades de apoio e gestores públicos. Ampliou o número de empreendimentos solidários, mais
amadurecidos nas práticas de autogestão e inserção na atividade econômica. Implantou a prática de redes de cooperação solidária na ação econômica e sofreu repercussões positivas de sua experiência no último Fórum em Porto Alegre. Conquistou a formação da Secretaria Nacional de Economia Solidária vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego em 2003.
Do ponto de vista da organização do FSM, consolidou-se, nos marcos da proposta política de um outro mundo é possível, novas gestões políticas, ideológicas e culturais, refletidas no próprio evento. Porém, as operações econômicas decorrentes foram realizadas, com exceções, pelos mecanismos do mercado
tradicional capitalista. Para o FSM 2005, a proposta é a mudança de paradigma para a gestão econômica, fazendo dela uma experiência de transformação antes, durante e depois do FSM. De ações periféricas em Fóruns anteriores, a Economia Popular Solidária passa a ser a primeira opção para o atendimento das
demandas de organização, produtos e serviços do Comitê de Organização e deve buscar atender as necessidades e desejos dos participantes do FSM 2005. As demandas viabilizadas pelas empresas tradicionais terão um caráter complementar.
A orientação desta gestão econômica realizada pelo Comitê de Organização em articulação com a Economia Popular Solidária deve ter como eixos orientadores: o boicote às multinacionais; o combate aos transgênicos; as práticas de moeda social e as práticas ecológicas. Os Encontros de Empreendimentos Solidários que ocorrem entre junho e agosto em nível estadual e nacional são momentos importantes para a organização
de núcleos autogestionários por segmento econômicos, já indicando representações formando aglutinações iniciais que, junto com as instâncias permanentes da Economia Popular Solidária, dêem início à auto-organização visando o FSM 2005.
O CO do FSM 2005 formou o Grupo de Trabalho da Economia Popular Solidária, entre outros, para auxiliá-lo na tarefa de realizar o planejamento estratégico, através do mapeamento das demandas do FSM 2005 e da oferta dos empreendimentos solidários, construção dos arranjos de redes para a sustentação na escala necessária do Fórum, e a articulação entre os interlocutores da Economia Popular Solidária para a execução.
O mapeamento das demandas do FSM 2005 para análise de possibilidades e potencialidades de atendimento pela Economia Popular Solidária iniciará pelos seguintes segmentos: Alimentação; agricultura; hospedagem; transporte; segurança; limpeza; kit-delegado; agenciamento de viagens; turismo; cultura; confecção; vestuário; produtos em geral; artesanato; jornalismo; comunicação; material visual; produção gráfica; birô eventos; infra-estrutura.
Para que as atividades da Economia Popular Solidária sejam uma experiência de transformação antes, durante e depois do FSM 2005 é necessário garantir o
protagonismo dos empreendimentos solidários e suas articulações através dos núcleos autogestionários por segmento econômicos formados inicialmente nos encontros estaduais de empreendimentos solidários de junho e, assim, viabilizar o acúmulo posterior ao FSM. Na construção da participação está inserido a definição dos critérios de perfil dos empreendimentos solidários, os processos de formação e assessoria, controle de qualidade dos produtos e serviços e a articulação entre empreendimentos.
Necessidade inerente à atividade econômica, em particular para os empreendimentos solidários, o financiamento deve ser tratado em sua dinâmica política de parceria com busca coletiva de linhas voltadas para a Economia Popular Solidária, e a captação de recursos para o fomento à produção e serviços de diferentes agentes identificados com o movimento, com a coordenação do Comitê de Organização.
Neste FSM 2005 deve-se potencializar a interação entre os seminários e oficinas sobre Economia Popular Solidária e as atividades econômicas em curso durante os debates. Os dois espaços podem se multiplicar qualitativa e quantitativamente numa síntese entre teoria e prática gerando novas experiências. A construção econômica do FSM 2005 com a efetiva participação da Economia Popular Solidária deve ser um dos temas prioritários do debate com os depoimentos diretos dos trabalhadores e das trabalhadoras.
O Grupo de Trabalho é composto pelas entidades do Comitê de Organização e entidades da Economia Popular Solidária parceiras no planejamento e execução técnica da tarefa. A base operacional do GT é junto ao Escritório do FSM 2005, em Porto Alegre.
3. FSM 2005: Grupo de Trabalho de Sustentabilidade e Meio Ambiente 1. Cenário
A discussão sobre sustentabilidade esteve presente de forma crescente, desde o primeiro Fórum Social Mundial. Em 2001, quando do nascimento do FSM, de forma quase tímida; em 2002, nos dias que antecederam ao II FSM, lotando dois dos salões da PUC de Porto Alegre com o evento “Um mundo sustentável é possível - Desafios da sustentabilidade planetária”. Já em 2003, o III FSM inscreveu cerca de 250 atividades de alguma forma voltadas para a temática do meio ambiente e da sustentabilidade. Um número sem dúvida expressivo, considerando-se o total estimado de cerca de 1.200 atividades autogeridas. Mas vale ressaltar um ponto: a maioria delas estava inscrita num só eixo, reservando-se praticamente um mesmo espaço, um mesmo público, os mesmos interlocutores. Pouquíssimas dessas atividades conseguiram sensibilizar platéias mais amplas; a maior parte delas voltava-se para dentro do próprio “setor” ou grupo associado aos proponentes do evento, sem muito espaço para o diálogo e para alianças intersetoriais com os demais participantes do processo do FSM.
Os atores que se engajam no FSM partem da premissa de que “um outro mundo é possível” e são movidos por variado conjunto de valores, bandeiras, estratégias de ações, conflitos e problemas prioritários. Há, de fato, grande diversidade – essencial e oportuna, a qual deve ser conhecida, reconhecida e ser objeto de diálogo. De nossa parte, não temos qualquer dúvida de que a receita para esse “outro mundo possível” precisa obrigatoriamente passar pelo cuidado com o ar que respiramos, com a água que bebemos, com a terra que plantamos, com o planeta em que vivemos. Assim como sabemos que essa água, essa terra e mesmo esse ar estão sendo distribuídos e usados de forma insustentável, excludente e ambientalmente injusta.
Nossa civilização caminha para a desestabilização do planeta, comprometendo das mais variadas maneiras a vida da maioria absoluta de seus habitantes. Essa certeza e a preocupação que ela gera não estão ainda presentes, entretanto, nos “corações e mentes” dos(as) responsáveis pela maioria das demais atividades do Fórum. A maioria do que clamam por justiça e direitos humanos por vezes deixam de incorporar nos debates a dimensão do direito e da justiça ambiental. Os que lidam com a democratização das políticas globais e nacionais e, portanto, com a “governança”, eventualmente deixam de perceber que os desafios da sustentabilidade demandam a criação e aprimoramento de mecanismos e valores próprios do controle social e da cidadania planetária, e deixam de valer-se de experiências de gestão participativa na área sócio-ambiental. E são precisamente as suas consciências, vontades, desejos e certezas que precisamos conquistar para a justeza da nossa luta. É nesse sentido que nos propomos a trabalhar por maior inserção da nossa temática na pauta do evento. Ou melhor: na própria cultura/ideologia que alicerçam o FSM.
2. Objetivo, estratégias e táticas
O processo do FSM constitui-se em oportunidade fundamental para ampliar o diálogo inter-setorial sobre o que é para nós a utopia da sustentabilidade. Nesse sentido, os portadores das mensagens e experiências voltadas para ela devem buscar encontrar formas e contextos de comunicar-se com outros segmentos e atores da sociedade civil participantes do Fórum Social Mundial cujo eixo de mobilização, trabalho ou concepção de mundo ainda não lidam com os desafios e visões da sustentabilidade. Nesse sentido e a partir das premissas anteriormente exposta, definimos as seguintes estratégias e táticas:
2.1. Transversalidade
É preciso que nos engajemos para que a sustentabilidade seja um compromisso de todos, sendo sua busca debatida e praticada em todos os Grupos de Trabalho (GTs) e no FSM de uma maneira geral, penetrando todos os debates. Cabe-nos buscar o diálogo por meio da apresentação das questões de sustentabilidade de forma que ela seja compreendida por todos os participantes do Fórum, permitindo a criação de sinergias com outros grupos e atores sociais e, assim, integrando-se às agendas da sociedade civil. Enfatizamos, portanto:
· a importância de atuarmos em conjunto com os outros GTs criados pelo Comitê Organizador Brasileiro (COB), principalmente os de Espaços, Economia Popular e Solidária, e Cultura;
· a inserção transversal da vertente ambiental nos trabalhos do FSM, permitindo a troca de experiências e a articulação para ações eficazes, que se contraponham a um processo de globalização excludente, que se caracteriza também pela criação de grandes passivos ambientais, pela desestruturação de comunidades tradicionais e pela destruição dos recursos naturais;
· o acompanhamento da lista e a participação em reuniões presenciais do GT Conteúdo e Metodologia, do Conselho Internacional do FSM, trabalhando na perspectiva de a sustentabilidade tornar-se uma diretriz programática na estrutura (formato e logística) e no conteúdo (discussões e alianças) compatível com o lema do FSM - “Um outro mundo é possível”;
· o fato de que, através da ampla divulgação desta Nota Conceitual esperamos, contribuir, ainda, para uma maior inserção da questão da sustentabilidade, de maneira transversal, nos vários fóruns regionais e temáticos que estão acontecendo no mundo todo rumo ao FSM 2005 de Porto Alegre;
· a busca de diálogo entre os vários setores da sociedade civil que participam do FSM faz sentido tanto para a construção ou consolidação de alianças como para superar a fragmentação de análises e propostas sobre o estado atual do planeta. A própria consolidação de diversas redes e grupos de trabalho, temáticos e/ou regionais, contribuiu muitas vezes para uma fragmentação da atuação e da análise do quadro global e nacional, embora tenha permitido
fazer avançar a capacidade de intervenção de ONGs em questões mais focadas (conservação de mata atlântica, comércio, energia, desertificação e pobreza no semi-árido, entre outros). O FSM deve ser uma oportunidade estratégica de avançar na consolidação desses grupos, capacitando-os para ações e proposições de políticas;
· a importância de estabelecermos novos métodos e abordagens para superar essas leituras fragmentadas. Nesse sentido, devemos buscar formas de associar o debate sobre valores, ética e direitos com as ações e políticas de sustentabilidade, para que as reflexões e recomendações adquiram sentido prático e funcional.
2.2. Cultura, visão de mundo e sustentabilidade
O GT Sustentabilidade e Meio Ambiente vai contribuir para a busca de alternativas para um outro mundo que passam obrigatoriamente pela construção da sustentabilidade cultural, política, econômica, social e ambiental. Propomos que o conceito da sustentabilidade seja trabalhado nos diferentes espaços físicos das atividades do FSM, em campanhas de educação ambiental que se integrem ao movimento de construção da concepção desse mundo novo que desejamos. Para isso, defendemos algumas ações práticas:
· a elaboração e a adoção de critérios ambientais na definição dos espaços onde as atividades do FSM serão realizadas;
· o mesmo vale para a produção de resíduos, alimentação, utilização e produção de materiais, que deverão considerar o impacto ambiental de cerca de 100 mil participantes do evento;
· assim, comprometemos-nos a elaborar e executar, junto a várias parcerias, uma proposta de “Lixo Zero” durante o Fórum Social Mundial, baseada na experiência de eventos anteriores, nacionais e internacionais. O Lixo Zero pretende integrar a triagem de resíduos recicláveis, o reaproveitamento de resíduos orgânicos, a reciclagem de papéis,
campanhas para economizar água e consumo de produtos sustentáveis, e a realização de feiras ecológicas;
· propomos campanhas de não-comercialização e de boicote aos produtos das linhas Coca-Cola e Pepsi-Cola, como símbolos das produções das grandes empresas transnacionais e corporações multinacionais;
· integrando a sustentabilidade à logística do FSM e a promoção da economia popular e solidária, propomos a denúncia e o repúdio ao consumo de transgênicos. Para o fornecimento de alimentação nos locais dos debates, defendemos os alimentos oriundos da produção de base familiar, preferencialmente orgânicos, proporcionando a seus produtores oportunidades de comercializar seus produtos e divulgar a sua produção, não apenas junto aos participantes, mas também junto ao público em geral;
· finalmente, entendemos que a construção de uma cultura da sustentabilidade é imperiosa para a promoção deste conceito: é preciso aceitar a alteridade, inverter valores, mudar hábitos, transformar padrões, quebrar tabus e derrubar preconceitos para propor novos paradigmas, fundados em outra percepção de desenvolvimento e de sucesso, de necessidade e de felicidade. Outro mundo é possível se outros modos de ver, crer, pensar, sentir e fazer se tornarem utopia, desejo e realidade.
4. FSM 2005: Grupo de Trabalho de Cultura A cultura no FSM 2005
Grupo de Cultura do Comitê Organizador Brasileiro
Este texto é um resumo de idéias desenvolvidas nos últimos anos pelo Grupo de Trabalho de Cultura do Fórum Social Mundial. Este grupo funciona em São Paulo, mas recebeu colaborações de companheir@s de vários estados
brasileiros. Ele reúne, ainda, algumas contribuições internacionais (Índia, Argentina, França e Itália) e é, sobretudo, um convite para novas reflexões sobre a centralidade da cultura no processo do Fórum Social Mundial.
Em um mundo que sobrevaloriza a mercadoria, a arte e a cultura são transformadas em meios sofisticados de acumulação de capital, reproduzindo a lógica mercantil. Vários modelos de organização social relacionam-se de forma perversa com os bens culturais, impondo critérios unicamente de mercado à sua produção, distribuição e apropriação. A produção artística e cultural contemporânea, em especial após o advento da “indústria cultural”, tem se confundido num ritmo vertiginoso com práticas de mercado, advindo daí uma concepção fetichizada da cultura e da arte, como se contivessem, em si mesmas, valores universais ou universalizantes. Este estado de coisas reforça a concorrência e o individualismo, contribuindo para a alienação, a passividade e a despolitização.
Em nome de valores com os quais não temos qualquer identidade (Frei Betto e Michel Löwy, num texto parra o FSM 2003, idenficaram três destes valores: o dólar, o euro e o iene!), surgem práticas totalitárias que tentam impor um modelo único de produção do imaginário. Se o mundo não pode ser resumido à mercadoria, as práticas culturais, em sua enorme diversidade de manifestações, e as atividades artísticas, devem ser, necessariamente, um espaço ativo para o exercício livre das idéias e a superação das desigualdades de toda ordem.
A luta por um, ou vários, mundos possíveis, é inseparável da luta por outras concepções e práticas artísticas e culturais, opostas à idéia do pensamento único, em geral eficazmente difundido pelos meios de comunicação de massa. Este esforço envolverá muitos sujeitos sociais e o reforço de valores como a solidariedade, a justiça, a igualdade, a autonomia, a autodeterminação e o respeito à diversidade.
O Fórum Social Mundial pretende ser um espaço de encontro e articulação para grupos de artistas e movimentos culturais que procuram aprofundar suas reflexões e definir caminhos para a transformação social. Neste sentido, é preciso reconhecer a força política das identidades sociais e culturais (a negritude, o feminismo, as religiões, as minorias sexuais) e seu poder organizador de lutas setoriais articuladas frente aos adversários comuns. Isto significa reafirmar a utopia de criar “sociedades plurais” baseadas, simultaneamente, na diversidade (cultural) e na luta contra a desigualdade (social e econômica).
Ao desconstruir a lógica mercantil da cultura dominante, o FSM deve evidenciar de forma prática novas operações simbólicas, potencializando, assim, um novo tipo de mobilização que contribua para a construção de práticas culturais, artísticas, sociais e políticas emancipadoras. Para isso, é preciso abordar o bem cultural – e o complexo processo que ele envolve – em sua totalidade, da produção à circulação, dos conceitos aos modos de operação.
A arte desempenhou papel fundamental na história da humanidade, a percepção profunda de sua própria época e das contradições sociais nela expressas, e seu poderoso papel libertador, não deveriam ser subestimados, nem tampouco submetidos aos cânones da indústria do entretenimento. No âmbito dos movimentos políticos, a arte não pode se reduzir a acompanhamento de outras práticas, consideradas centrais, ou a mero instrumento de doutrinação.
Também é necessário refletir sobre o papel dos meios de comunicação de massa e da imprensa. O violento processo de globalização tem, entre tantos outros efeitos, incorporado parte da mídia e dos sistemas de comunicação,
transformando-os em superconglomerados do controle da informação e do imaginário. A independência jornalística, por exemplo – segundo os ideais liberais da função da imprensa –, tornou-se impraticável, ou muito difícil, nos novos marcos do capitalismo. A contradição entre mercado e democracia se manifesta também no lugar social que a imprensa ocupa no mundo de hoje. O mercado não é capaz de prover o direito à informação de que deveria ser titular o cidadão. A imprensa invadida pelo entretenimento subalterno e pífio, torna-se pífia e subalterna.
Além de questionar o controle do imaginário, é indispensável a reflexão sobre as "formas" como nos relacionamos com os bens culturais. Precisamos, portanto, discutir as condições de produção e exercitar novas maneiras de expressão cultural e artística, incluindo, por exemplo, nossas relações cotidianas, nossa ordem de prioridades e os tipos de atividades que organizamos (mesas-redondas “quadradas”, debates “de mão única”, diálogos “monológicos” etc.). A fim de exercitar estas novas maneiras de expressão, o Fórum Social Mundial reconstruiu seu formato. O FSM 2005 será concebido e construído, simultaneamente, como evento (o que é, em certa medida, inevitável) e também como processo, permitindo, assim, relativizar a noção de acontecimento isolado e pontual e, por outro lado, destacando sua dinâmica horizontal e continuada. Ele será desenhado a partir de perspectivas integradoras e articuladas. Seu processo pretende ser mais representativo e popular. O encontro será realizado na orla do Guaíba, em espaço aberto e
aglutinador; os grupos de economia popular e solidária abastecerão o encontro e a preocupação com um ambiente sustentável e de respeito à natureza serão fundamentais.
O FSM é um espaço aberto à pluralidade cultural e facilitador de uma convivência baseada na diversidade, com a tarefa de, mais do que apontar soluções, multiplicar iniciativas que se transformarão em ações. É a partir da multiplicidade de
culturas que se constroem outros valores, novas formas de sociabilidade e referências simbólicas. No FSM 2005, devemos pensar a cultura como instrumento que favoreça o intercâmbio entre atores sociais que vivem sob o peso da cultura e da arte hegemônicas.
O GT de Cultura do FSM pretende acolher e apoiar o maior número possível de formas culturais e artísticas, valendo o pressuposto delas expressarem a recusa de tendências hegemônicas impostas pelos processos da globalização neoliberal e por todas as formas de neocolonização. Portanto, a construção de atividades culturais e artísticas em Porto Alegre 2005 deverá estar em sintonia com a Carta de Princípios do FSM.
Em meio a tantas novidades as culturas representadas no FSM terão papel fundamental para garantir diversidade e participação popular, para que isto ocorra, é necessário à integração e envolvimento de artistas, grupos que trabalham com arte, movimentos populares e organizações, não apenas durante o Fórum, em Porto Alegre, mas desde já, atuando como protagonistas nesta construção.
Um convite tentador, cheio de desafios
A Cultura teve papel decisivo na construção do FSM 2004, em Mumbai. Noventa por cento dos grupos participantes eram artistas envolvidos em atividades práticas artísticas. Por isso, o GT de Cultura considera indispensável incentivar e criar condições para a participação maciça de artistas e ativistas da área cultural no processo de facilitação das
atividades e articulações do FSM 2005.
É nosso desafio desenvolver o processo de discussão de forma realmente coletiva, valorizando a participação e permitindo a circulação de informações. Queremos assegurar, também, o diálogo com o conjunto das estruturas que organizam o FSM 2005, incluindo outros Grupos de Trabalho (metodologia, mobilização, comunicação etc) o Acampamento da Juventude, o Comitê Gaúcho e o Secretariado Internacional.
O GT de Cultura apresenta para o FSM 2005 propostas de grandes espaços coletivos de ação, pensados e realizados no FSM 2003 e adaptados agora ao novo formato e metodologia do FSM. As propostas são as seguintes: Memória Instantânea (projeto de vídeo-documentação e exibição), Museu Vivo da Diversidade (espaço aglutinador da memória dos Fóruns Sociais Regionais, Nacionais e Continentais; atelier vivo de interação e integração de diversas expressões culturais) e Diálogos de Rua (facilitar a interlocução e organização das propostas que têm a intenção de ocupar as ruas de Porto Alegre com apresentações e debates). A partir destes espaços de ação, pretendemos acolher boa parte das iniciativas culturais que estão sendo propostas na Consulta Temática. Os outros milhares de atividades que acontecerão no FSM 2005 serão atividades auto-gestionadas e contarão com apoio e, se possível, infra-estrutura fornecida pelo GT de Cultura.
Será grande o esforço para transformar o FSM 2005 em expressão de um encontro latino-americano, representante das camadas populares do continente, com caráter menos “institucional”.
Contamos com a sua participação neste Grupo de Trabalho para atuar ativamente na construção desta grande festa. Esta nota é um convite para que você e sua organização participem deste desafio.
5. FSM 2005: Grupo de Trabalho de Tradução A Tradução como Militância
A mudança de paradigma proposta para o processo FSM envolve mudanças metodológicas, organizativas e logísticas. Essa mudança é essencial para a construção de um FSM mais inclusivo, democrático e participativo assim como para o avanço do processo como um todo. O trabalho voluntário deve ser um componente intrínseco a esse avanço, que deve integrar processos culturais, um espaço sustentável e práticas de economia solidária, do conhecimento livre, uma comunicação abrangente. Estes elementos devem ser considerados pelo CO e por todas as entidades envolvidas no FSM como dimensões políticas do processo.
Tal mudança também deve envolver a nossa
abordagem em relação à tradução (em seus aspectos lingüísticos, culturais e técnicos). Até o FSM 2003 a tradução foi tratada como mais um “serviço” a ser contratado no mercado. Na construção do FSM 2005, essa relação será radicalmente diferente: não será tratada apenas como uma “questão econômica”. Entendemos que tradução, no processo FSM, é
militância. Trata-se de uma ação política que busca
garantir que os movimentos que se comunicam em línguas diferentes se entendam e promover a reapropriação dos meios técnicos e mecanismos de tradução por parte dos movimentos sociais. Traduzir as atividades do FSM significa tornar possível a
participação consciente de mais pessoas e contribuir concretamente para liberar este processo de relações mercantilizadas.
Dentro dessa perspectiva, uma decisão política importante é a de que todo o trabalho relacionado à tradução, que compreende intérpretes, tradutores e técnicos, será voluntário e que os equipamentos levarão em conta a economia solidária e o uso de software livre. Os intérpretes e técnicos voluntários são atores do processo FSM. Portanto, na preparação do FSM 2005, a tradução deixa de ser um “serviço” e passa a constituir um esforço de convergência e militância: uma maior diversidade de idiomas leva a uma representação mais ampla de culturas e, portanto, a uma maior participação. As interpretações e traduções, assim como o apoio técnico necessário, serão realizados por profissionais, ativistas e voluntárias/os, engajadas/os em construir o movimento altermundialista e anti-guerra, multiplicando as possibilidades de debate e convergência entre movimentos de idiomas diferentes e permitindo a participação ativa de milhares de militantes no processo internacional do FSM, independente de seu
conhecimento de línguas.
Objetivos
- O trabalho relativo à tradução deve ser totalmente
voluntário e será realizado conjuntamente com a rede Babels - Nomad.
- Buscaremos dar prioridade para a participação de tradutores/as da região do FSM (estados brasileiros do sul e sudeste e países do Cone Sul), formando núcleos. - Convocaremos pessoas que, além do seu idioma materno, dominem um outro idioma e, sobretudo, intérpretes e tradutores profissionais com experiência que se disponham a realizar esse trabalho voluntário como parte de uma militância para com o movimento altermundialista e contra a guerra.
- Enfocaremos línguas que tenham “simbologia política” no contexto do FSM (mesmo que relativamente pouca gente as fale, como é o caso de delegações de regiões de conflito – Palestina, Iraque, Afeganistão etc), sobretudo de áreas para onde desejamos expandir o FSM, como a África.
- Procuraremos identificar necessidades específicas de delegações de regiões/países que não falem as línguas usuais do FSM, buscando a ampliação de idiomas oficiais: castelhano, inglês, francês, português, árabe, chinês, russo, hindi, telegu, japonês, quéchua, suahili e, se possível, coreano, tailandês, italiano e alemão. - Durante o processo de inscrição de atividades para o FSM 2005, é preciso estabelecer um prazo final para que as entidades participantes solicitem tradução das suas atividades.
- As entidades participantes devem se comprometer, em favor da qualidade da tradução, a possibilitar que cada tradutor/a tenha acesso a temas e textos das atividades que deverá traduzir, com antecedência.
- Os/as voluntários/as deverão chegar pelo menos dois dias antes do início do FSM para um trabalho de integração.
Observações:
- As entidades participantes que teriam condições de pagar a tradução mas usufruem do trabalho voluntário serão solicitadas a contribuir para um “fundo de solidariedade” que irá apoiar o trabalho dos
tradutores/as voluntários/as (passagens, alimentação, etc.)
- A proposta da Babels diz respeito única e exclusivamente ao evento do FSM. Outros eventos paralelos, embora relacionados ao FSM, não estão incluídos.
6. FSM 2005: Grupo de Trabalho de Comunicação Propostas para uma outra comunicação no FSM
A comunicação do próximo Fórum Social Mundial deve dar um salto em direção à popularização e à inserção de movimentos que lutam pelos direitos de comunicação. Para isso, a comunicação não pode ser pensada de um ponto de vista tradicional, mas sim, como uma política de comunicação integrada as demais comissões, instâncias e em
consonância com conjunto de propostas do FSM. A comunicação quando encarada apenas como divulgação, furta-se, de estabelecer o debate profundo e necessário sobre qual comunicação queremos e de maneira radical e inovadora oferecer sentidos a uma comunicação libertadora e não mercantilizada em benefício dos povos.
Um espaço de debate e proposições faz se necessário para o estabelecimento dessa política, um espaço que
compreenda as diferentes formas de fazer e respeitando a lógica de cada movimento de comunicação. Esse papel pode ser cumprido pelo papel do GT de Comunicação do CO. Em interlocução constante com a Comissão de Comunicação do Conselho Internacional do FSM (CI), ele deve, como primeira ação, buscar a participação de grupos, entidades, movimentos que estejam engajadas nas propostas do FSM, da mídia alternativa, independente, comunitária, popular, sindical, entre outras. Atento às novas propostas de comunicação, o GT também deve procurar parcerias com o software livre, as artes visuais, a publicidade, o cinema, e outros movimentos que trabalhem com o conceito de conhecimento livre.
A Internet é a grande ferramenta para divulgação e mobilização no processo FSM, mas a popularização que se almeja para o processo FSM impõe que sejam criadas alternativas para a inclusão daqueles que se encontram fora da rede mundial de computadores. Faz-se necessário estimular de redes de comunicação que em algum momento materializem em papel, ou em ondas de rádio, as informações sobre o FSM para alcançar aqueles que hoje não estão no processo. É importante também construir uma noção de processo, para que o cidadão, onde quer que esteja, aproprie-se e multiplique as informações, tendo noção que ele faz parte da construção desse movimento. As barreiras de idioma e os obstáculos da linguagem devem ser pensados, para que a informação seja compreendida onde quer que chegue. Outro salto, a ser dado , é na junção das áreas de conhecimento e o apoio às iniciativas de comunicação alternativas, independentes, populares, mídias experimentais para assim, potencializar a comunicação do FSM. Sob o guarda-chuva conceitual “conhecimentos livres” podemos concatenar as áreas de hipermídia, software livre (SL), hardware livre, arte digital, reciclagem de sucata eletrônica, Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), tradução e transmissão, a fim de oferecer sentidos políticos às ações e usos de conhecimentos que, se dispersos ou mercantilizados, não se popularizam.
O GT de Comunicação do CO pode contribuir para a criação do FSM como um espaço de aprendizado, em que, pessoas, independente da formação, possam perceber sua capacidade de construir e gerenciar meios de comunicação a partir de suas realidades locais e dos recursos disponíveis, criar redes, compartilhar conhecimentos e projetos populares de comunicação. Um espaço de aprendizado compartilhado, “experimentante e desenvolvedor” de uma comunicação horizontal, democrática e nova.
Objetivos
· Ampliar sua composição incorporando outras organizações, grupos coletivos, movimentos de mídia alternativa e outros campos da comunicação (publicidade, cinema, ativistas de mídia, artes visuais, teatro) interessados na discussão de que comunicação o FSM deve propor, incentivar e desenvolver.
· Estimular a articulação e formação de redes de informação alternativas que envolvam as assessorias de comunicação das entidades do CO e de outras organizações, redes e grupos coletivos, que apóiem o trabalho de informação do FSM, antes, durante e depois do evento.
· Ativar a relação com os comunicadores da mídia alternativa e comercial interessados no FSM . (Observação: a discussão sobre a relação com a mídia deverá ser aprofundada em reuniões específicas).
· Estabelecer parcerias com o software livre e outros movimentos que trabalhem com o conceito de conhecimento livre. · Buscar mecanismos de popularização do FSM para públicos excluídos digitalmente
· Animar o debate sobre a política de comunicação do processo FSM, partindo do pressuposto de que é necessário reconstruir o sentido dessa expressão a partir das práticas de organização e movimentos de mídia no FSM 2005. · Buscar sensibilizar as diversas instâncias do FSM sobre a importância da ampliação da rede alternativa de mídia na popularização do FSM e dos conteúdos debatidos no FSM.
· Sugerir temas estratégicos de debate relacionados à comunicação
· Acompanhar o andamento das definições em relação à infra-estrutura necessária de comunicação e buscar formas de concretizar essas necessidades tendo em consideração as necessidades dos novos movimentos de mídia e limites de