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FEDERALISTAS E REPUBLICANOS DISSIDENTES: A OPOSIÇÃO NO CONTEXTO DAS ELEIÇÕES DE 1922 NO RIO GRANDE DO SUL.

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FEDERALISTAS E REPUBLICANOS DISSIDENTES: A OPOSIÇÃO NO CONTEXTO DAS ELEIÇÕES DE 1922 NO RIO GRANDE DO SUL.

DOBKE, Pablo R.1

Esta comunicação tem por objetivo elucidar alguns pontos característicos dos grupos políticos que conformaram a oposição ao Partido Republicano Riograndense (PRR) durante o pleito de 1922. Esta oposição, sob a chefia do republicano dissidente Joaquim Francisco de Assis Brasil, lançou-se em concorrência às eleições visto o hegemônico domínio político do PRR, que desde 1891 vinha se mantendo a frente do poder no Estado brasileiro do Rio Grande do Sul, sem abrir brechas para a inserção de outro grupo ou partido político na condução do referido Estado. Esta oposição política, formada em sua maioria por membros do Partido Federalista (PF), conhecidos como Maragatos e dissidentes do PRR, travou uma ferrenha luta contra o governo do Republicano Antônio Augusto Borges de Medeiros, que já vinha para o seu quinto mandato como Presidente do Estado, neste embate, e especialmente durante as referidas eleições de 1922, ainda juntaram-se aos opositores diversos setores da sociedade, o que ajudou a aumentar a pressão política sob o governo de Borges de Medeiros, fazendo com que o movimento liderado por Assis Brasil ganhasse mais força a medida de que se incorporavam estas diversificadas adesões. Esta situação política, finalizada tais eleições com a vitória da situação, ainda daria origem ao movimento armado conhecido como “Revolução de 1923”. Cabe ainda ressaltar que este trabalho é parte inicial das pesquisas do Projeto de Doutorado intitulado “Caudilhismo, território e poder: os chefes maragatos Honório Lemes e Zeca Netto durante a Revolução de 1923” desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Maria (PPGH-UFSM) na Linha de Pesquisa “Fronteira, Política e Sociedade”, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Ana Frega e coorientação da Prof.ª Dr.ª Maria Medianeira Padoin. Fazendo parte também do projeto guarda-chuva intitulado “História da América Platina e os processos de construção e consolidação dos Estados Nacionais do século XIX e início do século XX”, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Maria Medianeira Padoin, vinculado ainda ao Grupo de Pesquisa CNPq/UFSM “História Platina: sociedade, poder e instituições” e ao Comitê “História, Regiões e Fronteiras” da “Asociación de Universidades Grupo Montevideo” (AUGM).

1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Maria

(PPGH-UFSM), atuando na Linha de Pesquisa Política, Fronteira e Sociedade. E-mail: pablo_dobke@yahoo.com.br

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INTRODUÇÃO

Cabe ressaltar inicialmente, que este texto faz parte do projeto de Doutorado “Caudilhismo, território e poder: os chefes maragatos2

Honório Lemes e Zeca Netto durante a Revolução de 1923”, que vem sendo desenvolvido na Linha de Pesquisa “Política, Fronteira e Sociedade” da Universidade Federal de Santa Maria, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Ana Frega.

Neste sentido, o referido projeto tem como objetivo analisar a atuação de Lemes e Netto, com base naquilo que se refere às suas redes de relações sociais de poder mantidas nas regiões nas quais eram atuantes, isto é, Lemes na região conhecida como Fronteira Oeste, zona fronteiriça entre o estado brasileiro do Rio grande do Sul e a República Oriental do Uruguai, e Zeca Netto na região sul do mesmo estado. Onde, a partir destas relações, foram conformando-se laços entre diversos agentes, capacitando aos referidos líderes um território de mobilidade baixo suas influências, habilitando desta forma, um “território conservador de poder” (RAFFESTIN, 1993).

Dessa forma, o trabalho aqui apresentado, visa tratar acerca dos grupos opositores, que liderados politicamente pelo dissidente republicano Joaquim Francisco de Assis Brasil, se puseram contra a hegemônica participação do Partido Republicano Rio-grandense (PRR) durante o pleito de 1922. Assim, procuramos elucidar aqui, algumas situações, visando dar um maior embasamento e profundidade a este contexto, proporcionando uma releitura acerca do tema, baseando-nos, sobretudo, na bibliografia existente sobre o objeto.

Sendo assim, na primeira parte deste texto abordamos de forma panorâmica a situação política no estado brasileiro do Rio Grande do Sul, fazendo um apanhando desde a instauração republicana com o fim do Império, visando elucidar o referido momento, que culminou com a forte oposição durante as eleições para a presidência do estado em 1922.

Em um segundo momento, passamos a abordar diretamente esta oposição, não nos detendo somente aos federalistas ou aos republicanos dissidentes, abordando também outros grupos, procurando compreender suas estratégias e mobilizações, buscando diversificar este olhar sob o ponto de vista da renovada história política,

2 O lado oposicionista ficou conhecido como maragato devido ao grandioso número de uruguaios que

pertenciam às hostes revolucionárias; estes eram em sua maioria descendentes de espanhóis provenientes da região da Maragateria na Província de León, daí a associação. (FERREIRA FILHO, 1986, p. 34).

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apontando, em certa medida, as relações sociais de poder que balizavam estas adesões e o modo de como elas agiam em diferentes esferas.

Desta maneira, passaremos a compreender melhor o método articulador oposicionista, esquadrinhando a bibliografia existente com o objetivo de ampliar a noção acerca do período e que a partir disto possamos alinhavar de forma mais segura nossas pesquisas.

A SITUÇÃO POLÍTICA SUL-RIOGRANDENSE

Com o fim do Império do Brasil em 15 de novembro de 1889, o então estado do Rio Grande do Sul adotou uma política republicana moldada pelas teorias positivistas de Auguste Comte, com a constituição elaborada e escrita por Júlio de Castilhos – patriarca do PRR – promulgada em 14 de julho de 1891, o Rio Grande do Sul aderiu não só uma forma de governar baseada em uma filosofia republicana, como também uma doutrina partidária que levaria 29 anos até dissolver-se (DOBKE, 2015, p. 77).

Desta maneira, durante os anos finais do século XIX e ao longo da primeira década do século XX, o PRR provou ser uma máquina política imbatível fazendo com que se estabelecesse em grande parte da sociedade sul-riograndense.

Porém, do ano de 1893 a 1895, o estado protagonizou a revolta armada mais sangrenta de sua história, a conhecida Revolução Federalista3, onde liberais e ex-conservadores da época do Império somaram-se a alguns republicanos dissidentes, unidos sob a égide do antigo tribuno Gaspar Silveira Martins e do Partido Federalista (PF), com o intuito de contestar o poder exercido pelo PRR (DOBKE, 2012, p.44).

Finalizada a campanha militar, a energia imposta pelo PRR fez com que os federalistas fossem aniquilados politicamente, afirmando assim a soberania do partido e de Júlio de Castilhos na nova configuração político-partidária do Rio Grande do Sul.

Castilhos comandava o partido e o governo do estado com mão de ferro, até vir a falecer prematuramente em 1903, fazendo com que Antônio Augusto Borges de Medeiros, seu sucessor no comando do partido viesse a também assumir a presidência do estado por cinco vezes.

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Evento político-militar que teve como base a luta entre federalistas, capitaneados pelo tribuno Gaspar Silveira Martins e por republicanos, estes sob a tutela do Presidente do Estado do Rio Grande do Sul, Júlio de Castilhos. (KÜHN, 2007, p. 106). Segundo a historiadora Helga Piccolo (1993), a Revolução Federalista foi significativa para o processo histórico brasileiro, no momento de transição entre a Monarquia para a República, transformando assim a conjuntura social do país. (p. 65).

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Neste sentido a historiadora Sandra Pesavento (1992) coloca que,

nos anos que se seguiram, o PRR consolidou o seu domínio no estado. Enquanto Castilhos governou, nenhum membro da oposição ocupou um cargo público no Rio Grande do Sul, e nenhum deputado federalista teve assento na Assembleia Legislativa ou no Congresso Nacional (p. 48).

Passado este primeiro momento de instabilidade política, a situação de prosperidade econômica no Rio Grande do Sul garantiu com que os perrepistas4 tornassem viáveis outros modelos de governabilidade, implantados, sobretudo, com base na doutrina positivista e nas alianças que regionais que de certa maneira, mantinham os republicanos no poder.

Esta situação se manteve até o final dos anos de 1910 e início da década de 1920, onde a forte turbulência econômica no estado do Rio Grande do Sul trouxe uma série de questionamentos, especialmente àquilo relativo a instabilidade no mercado e na produção derivadas do período pós 1ª Guerra Mundial e das crises do café no plano nacional que juntamente com as politicas adotadas pelo governo borgista trouxeram uma forte especulação na moeda estrangeira, inflação regional, alta de juros e arrocho de créditos levando a inúmeras hipotecas no setor estancieiro (AXT, 2007, p.101).

Esta conjuntura amplamente desfavorável levou elites econômicas gaúchas a buscarem novas respostas para a crise junto ao PRR, enquanto este por sua vez, se mostrava incapaz de fornecer soluções. Assim, conclui Maria Antonieta Antonacci (1981) que,

o projeto do PRR esgotou suas possibilidades de viabilização por conter uma perspectiva de desenvolvimento autossuficiente, que buscava para o Rio Grande do Sul uma expansão equilibrada de todos os setores da produção, incompatível com a crescente divisão nacional e internacional do trabalho. Com as crises e depressões do capitalismo pós-guerra, acelerando a concorrência entre as regiões fornecedoras de matéria-prima e bens de consumo, a manutenção do domínio político do PRR e de Borges de Medeiros no Rio Grande do Sul implicava em mudanças, que transcenderam a ideologia positivista que cimentava e orientava este domínio (p. 112-113).

Isto aliado ao descontentamento político e social frente à hegemonia e o autoritarismo exercido pelo chefe do partido, Borges de Medeiros e a toda máquina estatal montada pelo Partido Republicano Rio-grandense, levou cada vez mais a adesão e união da oposição em torno de Assis Brasil.

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Neste contexto, dissidentes republicanos descontentes, federalistas rancorosos com a derrota de 1893-1895 e liberais-democratas desejosos por uma nova política estadual, se uniram no apoio á candidatura de Assis Brasil para o pleito eleitoral de 1922. Antonacci (1981) resume a situação da seguinte forma:

foi o que transpareceu na crise econômica de 1921. Nesta criou-se uma situação de problema social, desencadeando um questionamento à forma de dominação do PRR. Grupos da classe dominante, não atendidos pelo governo de Borges em suas solicitações de amparo a produção, foram levados a procurar outras alternativas políticas para si e para o Rio grande do Sul. Abriu-se assim, espaço social para apoio e adesão á estratégia política das oposições, consubstanciada no projeto liberal-democrático de Assis Brasil, que soube envolver e articular todos os descontentamentos econômicos e políticos no Rio Grande do Sul em 1921/23 (p. 113).

A eleição para presidente do Rio Grande do Sul em 1922, duramente disputada entre os republicanos representados por Borges de Medeiros e as oposições aliadas em torno da liderança de Assis Brasil, trouxeram como consequência uma explosão de violência superior ao normal, devido à realidade pouco comum de presença de uma oposição fortemente organizada com que os republicanos tiveram de lidar no contexto eleitoral (CORTÉS, 2007, p. 35).

Contudo, o PRR não esperava que sua base, a forte constituição de 1891 viesse a trazer problemas naquilo que o partido estava mais acostumado a fazer, vencer as eleições. Durante o pleito de 1922 – quando Borges de Medeiros concorria ao seu quinto mandato – o PRR pela primeira vez viu-se na eminência de perder uma eleição.

Joaquim Francisco de Assis Brasil juntamente com diversas figuras políticas, trataram de mobilizarem-se em todo estado, ganhando a adesão e o apoio de grande parte dos eleitores rio-grandenses, gerando grande desconforto aos borgistas, onde o hegemônico Partido Republicano se via em iminência de perder o pleito eleitoral.

A constituição estadual redigida por Júlio de Castilhos, em 1891, colocava a necessidade de que para ser eleito, o candidato ao governo estadual deveria ter três quartos dos votos (3/4), porém, esses números não eram vistos como problema perante a máquina republicana criada pelo patriarca Castilhos que poderia conseguir quantos votos o partido necessitasse graças ao apoio da ampla rede de relações junto aos coronéis locais nos diversos municípios do estado, que eram cooptados pela máquina partidária do PRR e possuíam enorme lealdade ao chefe republicano Borges de Medeiros, àqueles a quem Loiva Otero Félix (1996) caracterizou como “coronel borgista” (p. 68-69).

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Assis Brasil com fortes indícios de vencer as eleições e temendo uma possível fraude, solicitou a Assembleia Estadual uma comissão para analisar e divulgar o resultado final do pleito. Sendo presidida por Getúlio Vargas (na época deputado pelo município de São Borja) na companhia de mais dois republicanos, a comissão realizou o seu devido papel e seguindo a tradição do PRR, declarou Borges de Medeiros como vencedor o que por consequência, acabou por desencadear na campanha armada conhecida por Revolução de 1923.

OS GRUPOS OPOSICIONISTAS

A coligação que se aglutinou em torno da campanha de Assis Brasil para a presidência do estado em 1922, não configurava de forma alguma em um grupo coeso. Como já fora dito, o grupo oponente foi formado por uma série de agentes que descontentes com a política borgista trataram de organizarem-se para por em prática uma oposição capaz de estremecer o domínio do PRR.

Neste sentido, as maiores forças dentro desta coligação recaiam sob os federalistas, os democratas e os dissidentes republicanos, que tinham como principais lideranças os seguintes indivíduos: Maciel Júnior, Wenceslau Escobar e Raul Pilla por parte dos federalistas; Assis Brasil e Fernando Abbott pelo lado dos democratas e representando os dissidentes republicanos as tradicionais famílias Pinheiro Machado e Mena Barreto (FÉLIX, 1996, p. 152).

Porém outros importantes setores contribuíram para a força oposicionista. Desta forma, Eduardo Rouston Junior (2012) coloca que,

a campanha assisista foi reforçada pelos dissidentes de 1915 como os “Pinheiro Machado”, os “Menna Barreto”, entre outros. O movimento operário também tomou parte na campanha oposicionista, numa resposta à repressão da greve de 1919. Engrossaram ainda as fileiras opositoras considerável parcela do estudantado urbano e dos praças do Exército Nacional estacionados no Estado. Em Porto Alegre, acadêmicos fundaram o Centro Cívico, em julho de 1922, engajando-se na campanha. As novas gerações de estudantes batiam-se de frente pelo dogma da liberdade profissional e pela não exigência de diplomação, previstos na Constituição de 14 de Julho (p. 173-174).

Visto o diversificado ramo de adesões ao movimento oposicionista liderado por Assis Brasil, calcado à situação eleitoral em evidência, estes nos fazem refletir o que

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mencionou René Rémond (2003) a respeito das eleições, especialmente no pós Primeira Guerra. Desta maneira, o autor menciona que,

uma eleição é também um indicador do espírito público, um revelador da opinião pública e de seus movimentos. Começou a crescer o interesse pela relação da eleição com o que estava a montante dela – as correntes e tendências – tanto quanto pelo que resultava dela (p. 40).

Assim, a consciência politica se torna um fator revestido de distintas interpretações políticas, faz da comunidade um agente atuante por via das relações sociais, reconhecendo então esta atitude política diante dos acontecimentos, sendo então, o mencionado conjunto de oposição política “um elemento de reconhecimento de ideais” e formador do poder e afinidades que dele emanam (CHARLOT, 1982, p. 13).

Neste contexto, cabe destacar que desta junção oposicionista de 1922, surgiu no ano de 1924 a chamada “Aliança Libertadora”, que por sua vez, deu origem ao Partido Libertador em 1928, que em 1930 fundiu-se com o tradicional rival, o Partido Republicano Rio-grandense, formando a Frente Única Gaúcha (FUG) (KÜHN, 2007, p. 114-115).

Retornando aos grupos que compuseram o movimento oposicionista de 1922, como já antes mencionado, os federalistas assumiram um papel preponderante nesta atuação. Situados, principalmente na região fronteiriça entre o estado do Rio Grande do Sul e a República Oriental do Uruguai, estes se destacavam por serem grandes latifundiários pecuaristas, que acossados politicamente pelo PRR, viram na eleição de Assis Brasil um modo de reverter esta situação, além da esperança de uma reformulação na política econômica que os assolava.

Estes federalistas, apesar de representarem a minoria na Assembleia, obtiveram um destacado papel atuando na Câmara dos Representantes, como pode ser bem observado na Dissertação de Mestrado de Eduardo Rouston Junior (2012), onde o autor demonstra esta atuação desde o ano de 1913 até 1924. Rouston Junior (2012) salienta que durante o pleito de 1922 a bancada oposicionista contava com três figuras aguerridas no combate ao borgismo. Assim o autor menciona que,

é bom lembrar que naquele ano [de 1922], a oposição era sustentada por uma bancada composta por “três dos seus mais combativos representantes”, [...] Gaspar Saldanha, José Alves Valença e Arthur Caetano da Silva. [...], estes três deputados fizeram parte da legislatura mais importante do período republicano, fosse pelo teor político do debate, fosse pela ampliação da

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bancada oposicionista, que pela primeira e única vez contaria com mais de dois representantes (ROUSTON JUNIOR, 2012, p. 171).

Desta maneira, a oposição federalista composta por seus representantes na Câmara e pelos líderes locais, que sediados em distintas regiões do estado, conformaram a base de operações atuante, não só no referido pleito eleitoral, como também na sequente Revolução de 1923.

Já entre os chamados republicanos dissidentes, podemos colocar também a figura do líder político Assis Brasil. Apesar deste se considerar durante o período como democrata, conformou o grupo fundador do PRR junto com Júlio de Castilhos em 1882, sendo considerado um dos republicanos históricos. Neste contexto de dissidências, muitos republicanos abandonaram o partido as vésperas da eleição, como bem exemplifica Antonacci (1981), ao mencionar o parlamentar Antonio Monteiro que em discurso na Assembleia denota sua descrença em Borges de Medeiros, se dizendo contrário a sua reeleição (p. 68).

Desta maneira, Antonacci (1981) observa que,

as mais graves dissidências republicanas ocorreram em função da direção e da orientação política imprimida ao PRR por Borges de Medeiros. Com isso, quando foi projetada a candidatura de Assis Brasil, em nome de um combate à concentração de poderes em Borges de Medeiros e uma liberalização do regime no Rio Grande do Sul, os dissidentes republicanos aderiram ao movimento (p. 77).

O grupo dos democratas organizava-se como um convergente de todas as oposições, especialmente àquelas que não possuíam representação política mais avultada. Teve início com Assis Brasil e Fernando Abbott, dois dissidentes republicanos que organizaram o Partido Republicano Democrático, que já em sua fundação em 1908 trataram de congregar os federalistas, não conseguindo a adesão de todas as parcelas do Partido Federalista, especialmente a liderada por Antunes Maciel (ANTONACCI, 1981, p. 74).

Outros agentes que aderiram ao discurso assisista foram os trabalhadores, especialmente os ligados ao movimento operário que desde o fim da década de 1910 já vinha entrando em indisposições como o governo de Borges de Medeiros, mesmo que durante a greve geral de 1917, este interveio a favor dos trabalhadores, garantindo-os benefícios e contrariando interesses empresariais (AXT, 2007, p. 101).

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A gota d’água deste embate ocorreu em outra greve, desta vez em 1919, onde o movimento operário foi reprimido com violência, pondo grande parte deste contra o governo borgista, aderindo assim a campanha de Assis Brasil. Segundo Silvia Petersen (1992, p. 249), o movimento sindical viu na luta política entre bosrgistas e assisistas a chance de reforçarem suas reivindicações.

Mesmo com a tendência de grande parte do operariado estar em consonância naquilo que se refere a oposição ao governo, durante a campanha eleitoral, os assisistas “trabalhavam intensamente no meio operário, o que torna visível, neste momento, a importância que assume a cooptação da classe trabalhadora” (PETERSEN, 1992, p. 249).

Outro setor que teve um papel preponderante na oposição a Borges de Medeiros está ligado à imprensa. Os jornais oposicionistas, neste contexto, atuaram de forma a construir politicamente a figura de Assis Brasil, assim como a desconstrução do PRR e do borgismo.

Quase sempre estes jornais estavam ligados aos grupos políticos de oposição, entre eles podemos citar: A Opinião Pública (fundado em 1896, como o porta-voz dos anti-castilhistas), O Rebate (fundado em 1914, alinhado ao assisismo e com forte postura contrária ao governo) e O Jornal da Manhã (fundando por dissidentes do PRR em 1922 especialmente para o contexto eleitoral), estando estes três arregimentados na cidade de Pelotas. Da cidade de Bagé, podemos citar o jornal Correio do Sul, fundado em 1914 pelos federalistas Fanfa Ribas, Félix Contreiras Rodrigues, Heitor Mércio e Tomáz Cirne Colares, o jornal servia como órgão do Diretório Central do Partido Federalista do município (BRITTO, 2007, p. 85; RIBEIRO, 2014, p. 23).

Estes setores da sociedade que aderiram à luta partidária junto a Assis Brasil foram tratados pelo poder governista como um bando de desordeiros, sem objetivos ou ideais políticos, imbuídos em uma luta que apenas queria desestabilizar a ordem no Rio Grande do Sul, algo extremamente caro aos borgistas. Para Borges de Medeiros e o PRR, não havia espaço para a oposição política no estado, pois este deveria ser exclusivamente comandado pelos republicanos.

Esta situação de desdém evidenciada pelo lado borgista para com seus opositores, ficou ainda mais evidente no período pós-eleição, durante a Revolução de 1923, onde os revolucionários eram comumente chamados de bandoleiros, bandidos, depredadores do bem público etc...

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Neste contexto de depreciação ainda imposta pelo lado situacionista, que no ano de 1924 é editado pela revista ilustrada Kodak o “Albúm dos Bandoleiros”, que foi um álbum fotográfico impresso, em homenagem às oposições político-partidárias. A publicação tinha por objetivo responder as críticas direcionadas aos oposicionistas, pejorativamente apelidados de “bandoleiros” pelos adversários vinculados a Borges de Medeiros e ao Partido Republicano Rio-Grandense (DAL FORNO, 2015, p. 8).

Assim, Dal Forno (2015) ratifica que,

O Álbum dos Bandoleiros foi composto por uma coletânea de imagens fotográficas, legendas explicativas com o uso efusivo de adjetivos glorificantes para os “bandoleiros” e também textos-documentos acerca dos diversos personagens, curiosidades, localidades e acontecimentos da guerra civil e das oposições político-partidárias no Rio Grande do Sul. Seu conteúdo tinha como objetivo “homenagear” e “destacar” o protagonismo dos oposicionistas e combater e responder às “críticas” e “difamações” dos republicanos situacionistas (p. 13).

Desta maneira, as oposições ao borgismo ganharam uma homenagem de seus correligionários, tentando reverter o flagelo sofrido durante o período de 1922-1923 e permanecendo assim, na memória das gerações futuras.

ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES

A situação política vivida pelo estado do Rio Grande do Sul por momentos de extrema conturbação, exigindo posições enérgicas da oposição no que tocam suas estratégias. Os setores da sociedade aqui elencados, sofriam com a imposição das políticas impostas pelo governo, isso fez com que diversos grupos se arregimentassem em torno de Assis Brasil para lutarem contra a arbitrariedade governista.

A interação entre estas oposições reflete a abordagem do político desenvolvida por Pierre Rosanvallon (2010), onde este diz:

compreendo o político ao mesmo tempo a um campo e a um trabalho. Como campo, ele designa o lugar em que se entrelaçam os múltiplos fios da vida dos homens e mulheres; aquilo que confere um quadro geral a seus discursos e ações; ele remete a existência de uma sociedade que, aos olhos de seus partícipes, aparece como um todo dotado de sentido. Ao passo que, como o trabalho, o político qualifica o processo pelo qual um agrupamento humano, que em si mesmo não passa de mera população, adquire progressivamente as características de uma verdadeira comunidade. (p. 71 – 72).

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A sintonia entre estes agentes foi o verdadeiro mote político de uma ideologia que aparece obscurecida aos olhos da historiografia, tratando estes atores político-sociais apenas como uma elite oligarca em luta por suas regalias ou operários lutando por melhores condições.

Desta maneira, os apontamentos elencados aqui nos remetem ainda mais a necessidade de profundizar estes indícios para refletirmos acerca de nosso projeto que foi apresentado acima, pois a complexidade do referido momento não pode ser explicada de forma tão sucinta, é preciso amplia-la e difundi-la para que outras questões sejam feitas, assim como outras perspectivas e suas futuras considerações.

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REFERÊNCIAS

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Referências

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