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O TRABALHO DO PSICÓLOGO NO CRAS A PARTIR DA RELAÇÃO FAMÍLIA E TERRITÓRIO

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Academic year: 2021

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O TRABALHO DO PSICÓLOGO NO CRAS A PARTIR DA RELAÇÃO FAMÍLIA E TERRITÓRIO

Tayná Ceccon Martins* (Mestranda em Psicologia Social e Institucional; Universidade Estadual de Londrina; Londrina-PR); Rafael Bianchi Silva (Departamento de Psicologia Social e Institucional e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Londrina-PR, Brasil).

contato: taynaceccon@hotmail.com

Palavras-chave: Psicologia. Família. Assistência Social.

O psicólogo em sua atuação no Centro de Referência de Assistência Social – CRAS atende demandas individuais que, por sua vez, são entendidas como derivadas das relações estabelecidas em seu círculo vincular, em especial a família. Através de tais ações, a partir do trabalho social com famílias busca-se a garantia do acesso aos direitos, o desenvolvimento do protagonismo e autonomia dessas famílias de modo a minimizar os riscos em do rompimento dos vínculos (conforme entendimento expresso nos documentos da política de Assistência Social).

Entretanto, é necessário verificar que existem também demandas comunitárias, ou seja, necessidades coletivas de todo um território. O psicólogo pode atuar na perspectiva de potencializar esses espaços para que todo um grupo de pessoas tenham suas vulnerabilidades minimizadas. Nesse sentido, este trabalho vem apontar caminhos possíveis para a articulação dialética entre as necessidades individuais e comunitárias nos territórios e como o psicólogo pode atuar nessa perspectiva, tendo como ponto de partida a análise dos documentos de orientação para o trabalho na proteção social básica. Através disso, busca-se compreender de que alguns caminhos pelos quais o psicólogo fundamenta sua prática nesta política.

A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) aponta três seguranças que devem ser garantidas pela política: a de sobrevivência, a de acolhida e de convívio. A segurança de sobrevivência, relativa a rendimentos e autonomia, significa que o indivíduo e sua família terão uma forma monetária de garantir sua sobrevivência. Já a acolhida corresponde a provisão das necessidades humanas para o direito à alimentação, vestuário e abrigo, sendo que o trabalho a ser realizado no âmbito da política deve ser direcionado para que o indivíduo e sua família consigam adquirir autonomia na provisão dessas necessidades básicas. A

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segurança do convívio garante o fortalecimento dos vínculos familiares para que os indivíduos não se encontrem em situações de isolamento e reclusões. É um trabalho voltado o desenvolvimento das potencialidades, as subjetividades coletivas e as construções políticas, enfrentando situações de discriminação e intolerância (Brasil, 2004).

Ainda que prevendo o fortalecimento dos vínculos destes com a comunidade, a PNAS tem como centralidade de atuação o indivíduo e sua família (ou matricialidade sociofamiliar). A família é o centro da relação entre o indivíduo e a comunidade e o documento pontua que o trabalho com as famílias deve considerar os diversos arranjos familiares, não a entendendo como possuindo um modelo único de referência (Brasil, 2004).

Todavia, em 2009 o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) elaborou um documento de orientações técnicas para o CRAS que trouxe a territorialização como eixo estruturante juntamente com a matricialidade sociofamiliar. Esse eixo aponta para a compreensão das vulnerabilidades do território, seus riscos sociais e as possibilidades, através dele de enfrentamento para as desigualdades sociais.

Na compreensão desse eixo, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) elaborou em 2011 um documento de orientação paras os gestores do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) acerca do trabalho do psicólogo. Nele apontou que a inserção do psicólogo nas políticas públicas contribui para o compromisso social da Psicologia. Propõe a articulação entre a subjetividade e as questões sociais, de modo a desenvolver o trabalho social com os indivíduos e famílias. Entende-se que o sofrimento vivido por eles é percebido por cada um de forma muito particular, o que coloca foco, por um lado na dimensão experiencial do vivido e por outro, para o trabalho com a intersubjetividade.

O documento aponta as relações existentes entre o espaço subjetivo individual e coletivo e oferece bases para que o psicólogo pense sua atuação de forma comprometida com a realidade, o que significa que mesmo trabalhando certas questões com uma determinada família ele precisa verificar o impacto social daquela transformação. Da mesma forma, ao perceber e conhecer a comunidade e seus desafios de atuação nela, precisa dimensionar o impacto individual daquelas ações, pois há uma relação dialética entre a subjetividade individual e coletiva que é reissignificada a cada nova experiência no espaço social.

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Medeiros (2014) aponta que a família deve ser entendida como uma construção histórico-social plural que tem sua transformação juntamente com a totalidade social devendo ser reconhecida e protegida pela sociedade, principalmente pelas políticas públicas e os profissionais que trabalham com elas. Porém, a autora indica os riscos de, ao tomar a família como centro das propostas interventivas, o trabalho social acabe por culpabilizá-las pelas suas dificuldades, em vez de compreender a dinâmica social envolvida e o impacto que as questões da comunidade têm no espaço individual familiar.

Tal entendimento desconsidera a íntima relação entre indivíduo, família e comunidade. Assim a busca da potencialização e o protagonismo é direcionada para que cada núcleo familiar (ou de modo específico, cada indivíduo) consiga resolver seus problemas por si só, deixando em segundo plano o estímulo para que ocupem o espaço público para reivindicar os seus direitos (Medeiros, 2014). A culpabilização das famílias pelas suas condições mostra um formato fragmentado no trabalho social com as famílias. Ela passa a ser constantemente monitorada e cobrada para o seu protagonismo, desprezando a questões sociais mais subjacentes que remetem a compreensão macrossocial da teia de relações que a família encontra-se envolvida

Um importante documento para pensar o trabalho do psicólogo no CRAS é o caderno de orientações do Serviço de Atendimento Integral à Família (PAIF) que em seu segundo volume traz a definição do trabalho social com as famílias apontando que o “[...]objetivo materializa-se a partir do desenvolvimento de ações de caráter ‘preventivo, protetivo e proativo’, reconhecendo as famílias e seus membros como sujeitos de direitos e tendo por foco as potencialidades e vulnerabilidades presentes no seu território de vivência” (Brasil, 2012, p.12).

Nessa definição, é interessante analisar que a centralidade do trabalho continua sendo a família, entretanto, também reitera o reconhecimento de que o trabalho realizado deve ser com foco nas potencialidades e vulnerabilidades presentes no território em que essas famílias vivem. Essa atuação então sai da esfera individual das questões emergentes que envolvem as famílias e abarca a comunidade em que ela vive, para que sejam fortalecidos o convívio e a interação social. Com isso, o psicólogo ao estar em contato com os indivíduos e suas famílias

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precisa entender a comunidade em que eles estão inseridos, de forma a ter um olhar macrossocial sobre o problema.

As ações descritas para o PAIF são a Acolhida, Oficinas com Famílias, Ações Comunitárias, Ações Particularizadas e Encaminhamentos, as quais devem ser planejadas com a família, as organizações e os movimentos populares dos territórios. Dessas, é interessante destacar as oficinas com famílias que são encontros previamente agendados com objetivos específicos tendo no seu escopo de trabalho a relação com a esfera comunitária e territorial. Assim, implica no estimulo ao conhecimento das vulnerabilidades e recursos dos territórios, no fortalecimento de redes de apoio, incentivo do trabalho intersetorial e potencialização da rede de proteção social no território (Brasil, 2012).

Essa ação é de suma importância para perceber a família inserida em um contexto histórico e social e minimizar os efeitos da culpabilização de seus membros pela sua condição, articulando e percebendo que um território com potência e recursos suficientes para que seus membros possam conviver e sobreviver de forma digna, propicia uma minimização dos riscos e vulnerabilidades dos indivíduos e de suas famílias em suas questões particulares.

Das ações presentes no caderno de orientação do PAIF as ações comunitárias fornecem possibilidades para que se pense o território, se articule coletivamente de forma cidadã uma reflexão sobre a coletividade e o fortalecimento da organização comunitária, potencializando a construção de um olhar macrossocial dos problemas que surgem nos territórios. A partir dela que as famílias são incentivadas a ocupar os espaços públicos, sendo o trabalho do psicólogo e demais técnicos, viabilizar o exercício da cidadania e permitir a visibilidade dos indivíduos e suas famílias na comunidade (Brasil,2012).

O mais recente documento acerca do trabalho social com as famílias desenvolvido pelo MDS em 2016 também aponta que a centralidade do trabalho é a família e a reconhece como espaço privilegiado da convivência humana, de proteção e cuidado e que as condições de vida de cada indivíduo dependem mais das condições da sua família de forma geral do que sua questão individual. Aponta ainda, que é necessário aos técnicos e gestores o conhecimento dos territórios sendo que para isso é necessária a realização de mapeamentos, utilização de dados de fontes de pesquisa de modo a compreender a dinâmica da comunidade e poder chegar até a família de forma mais efetiva (Brasil, 2016).

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Entendemos que tais proposições acerca do trabalho do psicólogo nos remete a necessidade de pensar criticamente o papel na política no sentido de viabilizar uma aproximação entre os anseios individuais e coletivos, de forma a escapar da culpabilização e vigilância das famílias. Entendemos que a proteção e prevenção dos riscos sociais é um trabalho a ser realizado em conjunto com essa família.

Por outro lado, é preciso atuar juntamente com outras políticas públicas para pensar a comunidade em que essa família está inserida. Deve-se olhar de forma macrossocial para as vulnerabilidades do território e empreender ações conjuntas para que os recursos e potencialidades desse mesmo território venham a ter um impacto de mudança significativa na vida dessas famílias. Com isso, o psicólogo pode materializar o seu compromisso social de transformar realidades e propiciar novas oportunidades de relações subjetivas e intersubjetivas no espaço social.

Referências

Brasil, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. (2016) Fundamentos

ético-políticos e rumos teórico-metodológicos para fortalecer o Trabalho Social com Famílias na Política Nacional de Assistência Social. Brasília, MDS\SNAS.

Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social (2012) Orientações técnicas sobre o PAIF – volume 2. Brasília, MDS. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. (2009). Orientações

Técnicas Centro de Referência de Assistência Social – CRAS. Brasília, MDS.

Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social (2004) Política Nacional de Assistência Social. PNAS/2004. Brasília, MDS/SNAS.

CFP/CREPOP (2011) Como os psicólogos e psicólogas podem contribuir para avançar o

sistema único de assistência social (suas) – informação para gestoras e gestores. Brasília,

CREPOP/CFP.

Medeiros, A.C.B. (2014) Concepções de família presentes no Congresso Brasileiro de

Assistentes Sociais. Temporalis, 14(28), Brasília, 275-296, Retrivied from:

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