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Violência no namoro: uma investigação com alunos-as do 9º ano de escolaridade

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Academic year: 2020

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outubro de 2014

Ana Cristina Leite Gonçalves

UMinho|20

14

Ana Cristina Leit

e Gonçalv

es

Universidade do Minho

Instituto de Educação

Violência no namoro: uma investigação

com alunos/as do 9º ano de escolaridade

V

iolência no namoro: uma inves

tigação

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Dissertação de Mestrado

Mestrado em Estudos da Criança

Área de Especialização em Intervenção

Psicossocial com Crianças, Jovens e Famílias

Trabalho realizado sob a orientação da

Doutora Maria Teresa Machado Vilaça

Universidade do Minho

Instituto de Educação

Ana Cristina Leite Gonçalves

Violência no namoro: uma investigação

com alunos/as do 9º ano de escolaridade

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AGRADECIMENTOS

Os meus agradecimentos vão desde já para os meus pais que me possibilitaram a frequência deste Mestrado. Agradeço muito à minha mãe por me oferecer sempre o seu apoio e carinho para que eu pudesse desenvolver este projeto, dando força para que eu nunca desistisse em momentos mais difíceis e a quem desde já dedico esta dissertação de mestrado. Agradeço também ao meu sobrinho pelos momentos de alegria ao querer ajudar-me a elaborar o material para o projeto educativo e ao meu namorado por me apoiar e ajudar em muitas das situações em que lhe pedi ajuda. Agradeço ainda aos meus familiares pelo apoio ao longo deste percurso.

Agradeço muito à minha orientadora, a Doutora Teresa Vilaça, pelo acompanhamento e pela ajuda que me deu ao longo da realização deste trabalho, depositando em mim confiança e coragem para o realizar.

Agradeço à Tânia pelo seu apoio e aos meus amigos pelos momentos de descontração. Agradeço desde já todas aquelas pessoas que me ajudaram na realização do meu projeto conseguindo a concretização desta dissertação de mestrado, nomeadamente, aqueles que me apoiaram e deram força para a concretizar.

Também agradeço à orientadora da escola onde realizei o meu estágio e dissertação, que não nomeio para manter o anonimato da instituição, pela disponibilidade e ajuda durante todo o processo e, especialmente, por me ter feito sentir sempre à-vontade na instituição. Agradeço também à direção da escola, à Doutora Isabel e aos/às alunos/as que contribuíram para o meu crescimento pessoal e profissional e que colaboraram na realização do meu trabalho. Um muito obrigada especial às duas docentes que me acompanharam nas sessões com os/as alunos/as na escola, pela generosidade com que colaboraram neste projeto.

Obrigada também às professoras das turmas que disponibilizaram alguns grupos para vir terminar numa das suas aulas a entrevista e a outros/as professores/as que os deixavam ultrapassar os timings de modo a conseguirem estarem presentes até ao final da discussão.

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Violência no namoro: uma investigação com alunos/as do 9º ano de escolaridade

Resumo

Este estudo foi realizado numa escola EB 2 e 3 de Braga onde planifiquei, implementei e avaliei, em quatro turmas do 9º ano de escolaridade, um projeto educativo designado: “Agir para prevenir: Diz não à violência no namoro!”. O objetivo foi avaliar o impacto de um projeto educativo orientado para a ação de alunos/as do 9º ano de escolaridade na prevenção da violência no namoro. Este projeto de intervenção e investigação teve como objetivos i) identificar os tipos de violência entre adolescentes no recreio na escola; ii) caraterizar como evoluiu o conhecimento orientado para a ação de alunos/as do 9º ano na prevenção da violência no namoro durante o desenvolvimento de um projeto educativo orientado para a ação; iii) caraterizar o tipo de ações desenvolvidas por alunos/as do 9º ano na prevenção da violência no namoro durante o desenvolvimento de um projeto educativo orientado para a ação na prevenção da violência no namoro; iv) caraterizar a opinião dos/as alunos/as do 9º ano sobre o projeto educativo orientado para a ação na prevenção da violência no namoro.

Os participantes neste estudo foram alunos/as do 9º ano de escolaridade (N=91), com idades compreendidas entre os 13 e os 17 anos. As técnicas de recolha de dados utilizadas foram a observação participante e não participante, os diários de aula e a entrevista de grupo focal.

Esta investigação começou com um diagnóstico inicial de necessidades observando os recreios na escola e entrevistando professoras para identificar os tipos de violência entre adolescentes. O projeto educativo, baseado na metodologia IVAM (Investigação, Visão, Ação e Mudança), foi desenvolvido com o objetivo de desenvolver a competência para a ação dos/as alunos/as na prevenção da violência no namoro. O projeto foi implementado durante cinco meses em nove/dez sessões de 45 minutos nas aulas de SAE (Saúde, Ambiente e Empreendorismo), utilizando material didático, tal como panfletos, notícias, powerpoint, vídeos, fotos, estudos de caso, marcador de pesquisa e entrevista de grupo focal.

Os primeiros resultados, baseados na observação nos recreios, apontam para a existência de violência física e verbal. Relativamente à violência física foram observados empurrões, bofetadas e pontapés. Quanto à violência verbal foram observados insultos, pressões, gozo, inferiorização e chantagem.

Durante o projeto houve um aumento do conhecimento dos/as alunos/as sobre as consequências e as causas da violência no namoro bem como sobre as estratégias de mudança. Os/as alunos/as também foram capazes de realizar ações de educação pelos pares para prevenir a violência no namoro. No geral quer as sessões desenvolvidas no projeto, quer a ação de formação pelos pares tiveram uma avaliação positiva pelos/as alunos/as.

Os resultados deste estudo mostram como é importante a implementação de projetos educativos na prevenção da violência no namoro orientadas para a ação, como uma das áreas prioritárias da intervenção psicossocial com crianças, jovens e famílias.

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Violence in dating: a research with ninth grade students Abstract

This study was conducted in a Middle School in Braga where I planned, implemented and assessed, in four ninth grade classes, an educational project with the name: "Act to Prevent: Say no to violence in dating!" The purpose was to assess the impact of an action-oriented educational project to ninth grade students on preventing violence in dating. The purposes of this intervention and research project were: i) to identify the types of violence between teens in the school's playground; ii) to characterise how the ninth grade students action-oriented knowledge evolved towards preventing violence in dating throughout the development of an action-oriented educational project; iii) to characterise the kind of actions developed by ninth grade students towards preventing violence in dating during the development an action-oriented educational project towards preventing violence in dating; iv) to characterise the view of ninth grade students on the action-oriented educational project towards preventing violence in dating.

The participants in this study were ninth grade students (N=91) aged between 13 and 17. The data collection techniques used were participant and non-participant observation, class diaries and a focus group interview.

This research began with an initial diagnosis of needs by observing the school playgrounds and interviewing teachers to identify the types of violence among teenagers. The educational project, based on the IVAC methodology (Research, Vision, Action and Change) was developed with the purpose of building on the students' ability to act towards the prevention of violence in dating. The project was implemented throughout a period of five months, in nine/ten sessions of 45 minutes each, in the SAE (Health, Environment and Entrepreneurship) classes through the use of teaching materials such as brochures, news, PowerPoint, videos, photos, case studies, marker research and focus group interview.

The first results, based on the playground observation, point towards the existence of physical and verbal violence. With regard to physical violence, pushing, slaps and kicks were observed. As to verbal violence, insults, pressures, mockery, belittlement and blackmail were observed.

During the project there has been an increase in the students' knowledge with respect to the consequences and causes of violence in dating as well as on the strategies for change. The students were also able to provide training sessions to their peers in order to prevent violence in dating. Overall, both the sessions carried out in the project and the training sessions to the peers, were assessed positively by the students.

The results of this study show how important it is to implement action-oriented educational projects towards the prevention of violence in dating, as one of the priority areas of psychosocial intervention with children, youth and families.

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ÍNDICE Agradecimentos Resumo Abstract Lista de Tabelas Lista de Figuras Lista de Quadros Lista de Siglas

Capítulo I – Contextualização do Estudo 1.1. Introdução

1.2. Contextualização geral da investigação 1.3. Problema e objetivos da investigação 1.4. Relevância do tema

1.5. Razões pessoais que conduziram à seleção do tema 1.6. Limitações da investigação

1.7. Organização geral da investigação

Capítulo II – Enquadramento Teórico 2.1. Introdução

2.2. Adolescência e violência no namoro

2.3. A violência no namoro e a influência dos pares, pais e normais sociais 2.4. Prevenção da violência no namoro

Capítulo III – Metodologia 3.1. Introdução

3.2. Descrição geral do estudo

3.3. Projeto educativo orientado para a ação na prevenção da violência no namoro 3.4. Seleção e caracterização dos/as participantes

3.5. Seleção da técnica e instrumentos de recolha de dados 3.6. Elaboração e validação dos instrumentos de investigação

iii v vii xiii xvii xvii xix 1 1 4 4 5 8 8 11 11 23 28 37 37 40 46 49 52

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3.7. Recolha de dados

3.8. Estratégias utilizadas para os/as motivar 3.9. Cuidados éticos ou sua salvaguarda 3.10. Tratamento e plano de análise de dados

Capítulo IV – Apresentação e discussão dos resultados 4.1. Introdução

4.2. Diagnóstico de necessidades

4.2.1. Violência nos recreios no recinto escolar 4.2.2. Conceções iniciais sobre a violência no namoro

4.3. Evolução do conhecimento orientado para ação na prevenção da violência no namoro de alunos/as do 9º ano de escolaridade

4.3.1. O que é o namoro e a violência no namoro 4.3.2. Consequências da violência no namoro 4.3.3. Causas da violência no namoro

4.3.4. Gravidade da violência no namoro e estratégias para eliminar o problema 4.3.5. Visões para o futuro sobre a violência no namoro

4.4. Ações e Mudança

4.5. Avaliação do projeto pelos/as participantes 4.5.1. Avaliação das sessões

4.5.2. Opinião final sobre o projeto Capítulo V – Conclusões e implicações

5.1. Introdução

5.2. Conclusão da investigação 5.3. Impacto da investigação

5.3.1. Impacto da investigação a nível pessoal 5.3.2. Impacto da investigação a nível institucional

5.3.3. Impacto no conhecimento da área de especialização do mestrado 5.4. Implicações para o futuro

Referências bibliográficas 53 54 55 56 57 57 57 59 63 64 89 99 108 123 124 126 126 127 131 131 142 142 142 143 143 145

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Apêndices

1. Planificação do projeto educativo 2. Material didático

3. Diários de aula

4. Protocolo da entrevista e exemplo de uma entrevista 5. Pedido formal na escola

6. Avaliação do desempenho dos pares educadores (Turma A) 7. Avaliação do desempenho dos pares educadores (Turma B) 8. Avaliação do desempenho dos pares educadores (Turma C) 9. Avaliação do desempenho dos pares educadores (Turma D) 10. O que gostaram mais no projeto

11. O que gostaram menos no projeto 12. O que mudariam no projeto Anexos

1. Fichas de avaliação elaboradas pelos/as alunos/as 2. Contrato 153 155 163 197 200 225 227 230 233 235 239 242 244 247 251

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LISTA DE TABELAS 1. Caracterização dos alunos e alunas que participaram no estudo 2. Tipos de violência entre adolescentes no recreio na escola

3. Conceções iniciais dos/as alunos/as sobre a violência no namoro

4. Conceções iniciais dos grupos sobre as consequências da violência no namoro

5. Conceções iniciais dos/as alunos/as individualmente sobre as consequências da violência no namoro

6. Conceções iniciais dos grupos sobre as causas da violência no namoro

7. Conceções iniciais dos/as alunos/as individualmente sobre as causas da violência no namoro

8. O que é o namoro

9. Já ouviram falar sobre diferentes orientações sexuais no namoro 10. O que é o namoro homossexual masculino

11. O que é o namoro homossexual feminino 12. O que é o namoro heterossexual

13. Diferenças entre o namoro homo e heterossexual 14. O que é a violência no namoro

15. Situações de violência no namoro entre gays ou lésbicas que conhece 16. Diferenças na violência no namoro entre homossexuais e heterossexuais 17. Casos de violência física, verbal e social entre namorados que conhecem 18. O que aconteceu na violência física que observaram entre namorados 19. O que aconteceu na violência verbal que observaram entre namorados

20. Casos que conhecem em que o rapaz ameaça contar coisas íntimas da rapariga 21. Casos que conhecem em que a rapariga ameaça contar coisas íntimas do rapaz 22. Adolescentes que conhecem que foram pressionados para terem relações sexuais 23. Situações que viram uma pessoa aproveitar-se do facto de outra estar sobre o uso de álcool ou drogas para ter relações sexuais

24. Casos em que um/a dos/as namorados/as foi vítima de agressão verbal e humilhação através da internet

25. O que faz um rapaz para pressionar a rapariga a ter relações sexuais 26. O que faz uma rapariga para pressionar o rapaz a ter relações sexuais

48 57 60 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 71 72 73 74 74 75 77 78 79 80 81 82 83

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27. Possibilidade de haver casos em que uma pessoa obriga a outra a ter relações sexuais contra a sua vontade

28. Possibilidades de acontecer a uma pessoa da escola alguém aproveitar-se dela por estar sobre o uso de álcool ou drogas para ter relações sexuais

29. Possibilidades de acontecer a pessoas que conhecem no local onde vivem alguém aproveitar-se dela por estar sobre o uso de álcool ou drogas para ter relações sexuais 30. Consequências da violência física entre namorados

31. Consequências da violência verbal entre namorados

32. Consequências para a rapariga por ter relações sexuais forçadas 33. Consequências para o rapaz por ter relações sexuais forçadas

34. Consequências para a pessoa que é ameaçada que vão contar aos outros coisas sobre a sua intimidade

35. O que costuma fazer a pessoa que é ameaçada que vão contar aos outros coisas sobre a sua intimidade

36. Consequências para a pessoa que teve relações sexuais porque a outra se aproveitou do facto de ela estar sobre o efeito do álcool ou de drogas

37. Consequências para uma pessoa que foi vítima de agressões verbais e humilhação através da internet ou de sms no telemóvel

38. O que leva um dos/as namorados/as a ser fisicamente violento com o/a outro/a 39. Causas da violência verbal

40. O que leva o rapaz a pressionar a rapariga para terem relações sexuais 41. O que leva a rapariga a pressionar o rapaz para terem relações sexuais 42. O que pode levar alguém a abusar sexualmente de outra pessoa

43. O que pode levar alguém a abusar sexualmente de pessoas que estão drogadas ou bêbadas

44. Razões porque existe violência no namoro entre os jovens heterossexuais 45. Razões porque existe violência no namoro entre jovens homossexuais 46. Gravidade de casos de violência no namoro na escola

47. Gravidade de casos de violência no namoro no local onde vive

48. Se tivessem um/a amigo/a nestas situações o que faziam para o/a ajudar

49. A quem recorriam para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência no namoro 84 84 85 90 91 92 93 94 95 96 97 101 102 102 103 104 104 105 106 108 109 111 112

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50. Razões porque recorriam às diferentes pessoas para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência no namoro

51. Onde se dirigiam na escola para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência no namoro

52. Razões porque não se dirigiam a ninguém na escola para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência no namoro

53. Razões porque se dirigiam na escola a pessoas diferentes para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência no namoro

54. Razões porque falavam, ou não, com os pais para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência no namoro

55. Razões porque falavam com os amigos para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência no namoro

56. Caraterização das estratégias a usar na escola para prevenir a violência física no namoro adolescente

57. Caraterização das estratégias a usar na escola para prevenir a violência verbal no namoro adolescente

58. Caraterização das estratégias a usar na escola para acabar com a humilhação através da internet ou sms no telemóvel na escola

59. O que podemos fazer para prevenir a violência no namoro no local onde vivemos 60. O que podemos fazer para não haver violência na nossa relação de namoro

61. O que gostaram mais sobre o projeto: "Agir para prevenir: diz não à violência no namoro"

62. O que gostaram menos sobre o projeto: "Agir para prevenir: diz não à violência no namoro"

63. O que gostavam de mudar no projeto "Agir para prevenir: diz não à violência no namoro"

64. Opinião sobre a continuidade do projeto na escola 113 114 114 115 116 117 117 118 119 119 120 127 128 129 129

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LISTA DE FIGURAS

1. Metodologia IVAM: perspetivas a trabalhar dentro dos projetos de educação em sexualidade

2. Visão geral do estudo

34 38

LISTA DE QUADROS

1. Valores nucleares da Rede Europeia de Escolas para a Saúde na Europa 2. Pilares da Rede Europeia de Escolas para a Saúde na Europa

3. Matriz das dimensões, objetivos e questões da entrevista

32 33 52

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LISTA DE SIGLAS

APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vitima CDC – Centro de Controlo de Doenças

E.U.A – Estados Unidos da América

GAAF – Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família

GAPAE – Gabinete de Apoio à Promoção do Ambiente Escolar GIAA – Gabinete de Informação e Apoio ao Aluno

IPJ – Instituto Português da Juventude IVAM – Investigação, Visão, Ação e Mudança LNES – Linha Nacional de Emergência Social OMS – Organização Mundial de Saúde

PPOA – Plano de Ocupação de Alunos no Período Escolar RNEPS – Rede Europeia de Escolas Promotoras de Saúde SAE – Saúde, Ambiente e Empreendorismo

SHE – Schools for Health in Europe (Escolas para a Saúde na Europa) VIH – Vírus de Imunodeficiência Humano

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CAPÍTULO I

CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

1.1. Introdução

Neste primeiro capítulo, depois desta breve introdução (1.1), faz-se uma contextualização geral da investigação (1.2). Em seguida, apresenta-se o problema e os objetivos de investigação (1.3), a relevância do tema (1.4), as razões pessoais que conduziram à seleção do tema (1.5) e as limitações da investigação (1.6). Para terminar, descreve-se a organização geral desta dissertação (1.7).

1.2. Contextualização geral da investigação

No âmbito da saúde mental, os estudos têm vindo a mostrar que existe violência no namoro na faixa etária correspondente ao 3º ciclo do ensino básico e também no 11º ano (Giordano, Soto, Manning, & Longmore, 2010), começando frequentemente os relacionamentos de namoro no início da adolescência, normalmente entre os 13 e 15 anos (Leen, Sorbring, Mawer, Holdsworth, Helsing, & Bowen, 2013; Bonomi, Anderson, Nemeth, Bartle-Haring, Buettner, & Schipper, 2012), no grupo de pares (Connolly, Craig, Goldberg, & Pepler, 2004; Leen et al., 2013). O estudo de Bonomi et al. (2012) mostra que 64.7% das mulheres e 61.7% dos homens referiram ter sido vítimas de alguma forma de violência no namoro, sendo que alguns tipos de violência no namoro acontecem mais cedo do que outros.

De acordo com a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) (s.d.), a violência no namoro é definida como um acontecimento que ocorre no contexto das relações de namoro na adolescência, em que um/a dos/as parceiros/as, ou ambos/as, recorrem à violência com o objetivo de exercer poder ou controlo sobre o/a outro/a parceiro/a, podendo esta violência ser exercida através da violência física, verbal, emocional/psicológica, sexual, social e financeira.

Segundo Mpiana (2011), a violência praticada pelo/a parceiro/a na adolescência não tem sido muito levado em conta pela literatura e pelos adultos em geral. Contudo, os efeitos dessa violência são catastróficos e prejudiciais para as vítimas, pois os resultados da violência

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sexual nos/nas jovens podem ser a gravidez indesejada, a infeção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e outras doenças sexualmente transmissíveis (Mirsky, 2003; Ohnishi, Nakao, Shibayama, Matsuyama, Oishi, & Miyahara, 2011; Population Council, 2004; Sinclair, Sinclair, Otieno, Mulinge, Kapphahn, & Golden, 2013; United Nations Population Fund, 2005), o aborto (Mirsky, 2003; Sinclair et al., 2013), podendo estes ser precoces e repetidos (United Nations Population Fund, 2005), o abandono escolar precoce (Mirsky, 2003; Sinclair et al., 2013), a idealização do suicídio (Chiodo, Wolf, Crooks, Hughes, & Jaffe 2009; Sinclair et al., 2013), a pobreza, disfunções emocionais ao longo da vida, complicações interpessoais, salário reduzido e desemprego (Sinclair et al., 2013). Além das consequências referidas anteriormente, a violação não só tem como consequências as doenças sexualmente transmissíveis para a vítima como também pode ter consequências para o bebé podendo ser transmitidas essas doenças ao feto em caso de gravidez (Sinclair et al., 2013).

De acordo com O´Keefe (2005) é provável que o uso de violência física e emocional tenha implicações nas relações íntimas dos/as adolescentes no futuro, em adultos/as. Além disso, é particularmente importante ter em atenção que as influências, o observar violência em casa quando eram crianças e o consumo de álcool agravam o risco de violência sendo que a exposição ou o ser vítima de violência sexual põem em causa o bem-estar psicológico dos/as adolescentes em idade escolar, a curto e longo prazo, e pode resultar na perda de autoestima, depressão, medo, raiva e um maior risco de suicídio (Mirsky, 2003), desenvolvendo um maior risco de ter problemas de saúde (Organização Mundial de Saúde, 1997). Também devido à violência sexual, ao assédio ou à coerção os/as jovens evitam a escola, não conversam nas aulas, têm problemas de concentração, não confiam nos/as funcionários/as da escola, isolam-se, têm um baixo rendimento escolar e provavelmente acabam por abdicar dos estudos (Mirsky, 2003).

Esta investigação vai ao encontro do o objetivo das escolas promotoras de saúde. O seu objetivo é promover a saúde e o bem-estar de toda a comunidade escolar com o intuito de acabar com as desigualdades na saúde. Para tal, é necessário o desenvolvimento de planos educativos que permitam o desenvolvimento social na promoção da saúde de toda a comunidade escolar e não escolar (Schools for Health in Europe, 2009).

Para permitir atingir os objetivos da educação para a saúde na comunidade escolar, a Direção Executiva de cada agrupamento/escola designa um/a docente dos 2.º ou 3.º ciclos do ensino básico para exercer as funções de coordenador/a da educação para a saúde (Despacho

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nº 2506/2007, de 20 de fevereiro). O/A diretor/a de turma, o/a professor/a responsável pela educação para a saúde e educação em sexualidade, bem como outros professores envolvidos na educação sexual possuem a responsabilidade de elaborar, no início do ano escolar, o projeto de educação em sexualidade da turma, devendo as escolas disponibilizar aos/às alunos/as um gabinete de informação e apoio no âmbito da educação para a saúde e educação em sexualidade, que deverão ser assegurados por profissionais com formação nestas áreas e funcionar, obrigatoriamente, pelo menos uma manhã e uma tarde por semana (Lei nº 60/2009 de 6 de Agosto).

No âmbito da legislação nacional sobre a Rede de Escolas para a Saúde na Europa, as escolas devem ter em funcionamento um Gabinete de Informação e Apoio ao Aluno (GIAA) (Decreto-lei nº 60/2009, de 6 de Agosto, artigo nº 14) que no âmbito da educação para a saúde e educação sexual deve organizar-se de acordo com os normativos legais seguintes:

1 -Os agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas do 2.º e 3.ºciclos do ensino básico e do ensino secundário devem disponibilizar aos alunos um gabinete de informação e apoio no âmbito da educação para a saúde e educação sexual;

2 -O atendimento e funcionamento do respetivo gabinete de informação e apoio são assegurados por profissionais com formação nas áreas da educação para a saúde e educação sexual;

3 -O gabinete de informação e apoio articula a sua atividade com as respetivas unidades de saúde da comunidade local ou outros organismos do Estado, nomeadamente o Instituto Português da Juventude; 4 -O gabinete de informação e apoio funciona obrigatoriamente pelo menos uma manhã e uma tarde por

semana;

5 -O gabinete de informação e apoio deve garantir um espaço na Internet com informação que assegure, prontamente, resposta às questões colocadas pelos alunos;

6 -As escolas disponibilizam um espaço condigno para funcionamento do gabinete, organizado com a participação dos alunos, que garanta a confidencialidade aos seus utilizadores;

7 -Os gabinetes de informação e apoio devem estar integrados nos projetos educativos dos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas, envolvendo especialmente os alunos na definição dos seus objetivos; 8 -O gabinete de informação e apoio, em articulação com as unidades de saúde, assegura aos alunos o

acesso aos meios contraceptivos adequados. (Art.10º)

O mesmo decreto-lei enumera quais são as competências e habilitações que devem ser asseguradas pela equipa que coordena os GIAA, nomeadamente:

a) Gerir o gabinete de informação e apoio ao aluno; b) Assegurar a aplicação dos conteúdos curriculares;

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c) Promover o envolvimento da comunidade educativa;

d) Organizar iniciativas de complemento curricular que julgar adequadas. (Art.8º)

Para um melhor funcionamento destes gabinetes é fundamental o apoio e participação ativa dos encarregados de educação da população estudantil.

Neste contexto, esta investigação visou avaliar o impacto de um projeto educativo no GIAA orientado para a ação de alunos/as do 9º ano de escolaridade na prevenção da violência no namoro.

1.3. Problema e objetivos da investigação

Tendo em atenção que a problemática da violência no namoro nos/as adolescentes tem surgido, cada vez mais, como uma preocupação na promoção da saúde nesta faixa etária, e, simultaneamente, é pouco reconhecida por eles/as, sendo estes/as, por vezes, vítimas de violência e não a reconhecem como tal, este estudo visa “avaliar o impacto de um projeto educativo no GIAA orientado para a ação de alunos/as do 9º ano de escolaridade na prevenção da violência no namoro”.

Neste sentido, os objetivos desta intervenção/investigação foram os seguintes: 1. Identificar os tipos de violência entre adolescentes no recreio na escola;

2. Caraterizar como evoluiu o conhecimento orientado para a ação de alunos/as do 9º ano na prevenção da violência no namoro durante o desenvolvimento de um projeto educativo orientado para a ação;

3. Caraterizar o tipo de ações desenvolvidas por alunos/as do 9º ano na prevenção da violência no namoro durante o desenvolvimento de um projeto educativo orientado para a ação;

4. Caraterizar a opinião de alunos/as do 9º ano sobre o projeto educativo orientado para a ação na prevenção da violência no namoro.

1.4. Relevância do tema

O tema desta investigação é muito atual e de grande pertinência para a promoção da saúde na sociedade, em geral, e na escola, em particular. A adolescência é o período de desenvolvimento oportuno para intervir, para educar e informar, por isso, as intervenções de prevenção da violência no namoro devem ser adequadas às necessidades de desenvolvimento

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de cada pessoa (Mpiana, 2011) e grupo. Neste sentido, é necessário uma prevenção e intervenção nesta faixa etária, que tenha em consideração que neste grupo etário é difícil intervir no que concerne à violência no namoro (Martin, Houston, Mmari, & Decker, 2012) pois, constata-se que os/as adolescentes que sofrem de violência no namoro aceitam essa violência, tendem a permitir comportamentos violentos no contexto de outras relações e utilizam esses mesmos comportamentos nos seus relacionamentos (McDonell, Ott, & Mitchell, 2010).

Para tal, é necessário que haja o desenvolvimento e a implementação de projetos educativos em contextos escolares e não escolares que promovam a aquisição de conhecimento sobre este problema social, não só nos/as adolescentes mas também na sociedade em geral. 1.5. Razões pessoais que conduziram à seleção do tema

As razões que me levaram à elaboração desta dissertação partem de um interesse pessoal sobre o tema da violência no namoro nestas idades, pois fala-se com mais frequência na violência doméstica, não dando tanta atenção a este problema social que, por vezes, não é denunciado e nem levado em conta, tornando-se desconhecido pela sociedade e pelos/as próprios/as adolescentes, tal como se verificou na revisão de literatura. Além disso, os fatores de risco e de proteção associados à violência no namoro também são geralmente desconhecidos, que, por um lado, põe em risco os/as adolescentes e, por outro lado, pode impedir a prevenção deste problema social.

Segundo Ohnishi et al. (2011) os/as jovens não reconhecem alguns atos de violência como sendo violência, por exemplo, não reconhecem o assédio verbal como assédio, tal como, não reconhecem como violência o controlar as atividades ou comportamentos do/a namorado/a, o forçar a ter relações sexuais desprotegidas contra a sua vontade e o mexer nos objetos do/a parceiro/a como a bolsa ou carteira ou verificar os registos do seu telemóvel sem permissão. Apoiando estes dados deste mesmo estudo, aproximadamente metade dos participantes masculinos não identificou a falta de uso do contracetivo para prevenir a gravidez, as doenças sexualmente transmissíveis e pegar em dinheiro da sua namorada como forma de violência.

De acordo com o Centro de Controlo de Doenças (CDC, 2014; CDC, s.d) as relações com violência podem começar muito cedo e muitas das vezes os/as adolescentes julgam que alguns comportamentos, como provocar ou chamar nomes, são comportamentos “normais” num relacionamento e fazem parte da relação. Contudo, estes comportamentos nas relações de

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namoro podem transformar-se em abusivos e progredir para outras formas de violência mais graves, tal como a violação e a violência física (CDC, s.d). Além disso, têm efeitos graves a longo e a curto prazo tendo um efeito negativo na saúde dos/as adolescentes ao longo do seu percurso de vida (CDC, 2014) e no seu desenvolvimento emocional (CDC, s.d). Muitas vezes os/as adolescentes e adultos não têm conhecimento que há violência no namoro entre os/as adolescentes (CDC, s.d).

É necessário demonstrar aos/às adolescentes e adultos em geral que devem denunciar a violência e não terem medo de o fazer pois, como é verificado na literatura, as mulheres consideram que a violência é normal e não a denunciam por vergonha, porque pensam que se irão prejudicar ou por não estarem preparadas para falar sobre o assunto (Mirsky, 2003). Também muitos/as adolescentes não acusam os casos de violência por terem medo de contar à família e aos amigos (CDC, 2014).

Matos, Negreiros, Simões e Gaspar (2009), explicaram que o consumo de tabaco, álcool ou outras drogas antes dos 12 anos, bem como o historial de agressão precoce, o insucesso escolar precoce, o reduzido envolvimento familiar, a criminalidade parental e a débil supervisão parental, encontram-se entre os fatores de risco que conseguirão predeterminar o envolvimento de crianças e jovens em atos violentos, quer como vítimas, quer como agressores. Por me estar a especializar numa área de Intervenção Psicossocial com Crianças, Jovens e Famílias todos estes fatores permitiram que desenvolvesse um projeto educativo que capacitasse os/as jovens para que estes/as pudessem identificar os fatores de risco e de proteção de modo a prevenir a violência no namoro. Estes projetos deveriam ser implementados em todas as escolas para controlarem estes determinantes da violência, alguns deles tão frequentes nas escolas.

A minha motivação para esta investigação foi ainda reforçada pela minha reflexão sobre a categorização dos fatores de risco para a violência no namoro referidos pelos vários autores revistos. Os fatores de risco associados à violência no namoro são: os fatores sociodemográficos, tal como a idade, etnia, área onde vivem e religião (Malik, Sorenson, & Aneshensel, 1997; Vézina & Hébert, 2007); os fatores individuais, como a depressão, comportamentos antissociais (Vézina & Hébert, 2007); baixa autoestima (Ali & Naylor, 2013; Vézina & Hébert, 2007); comportamentos ou pensamentos suicidas (Chiodo et al., 2009; Vézina & Hébert, 2007); uso de álcool (Alleyne, Coleman-Cowger, Crown, Gibbons, & Vines, 2011; CDC, s.d; Mirsky, 2003; Matos et al., 2009; McDonell, Ott, & Mitchell, 2010; Vézina & Hébert, 2007) e drogas (Ali &

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Naylor, 2013; Alleyne et al., 2011; CDC, s.d; Malik, Sorenson, & Aneshensel, 1997; McDonell, Ott, & Mitchell, 2010; Vézina & Hébert, 2007); os fatores ambientais ligados à família ou à sociedade que incluem, nomeadamente, abuso sexual na infância (Vézina & Hébert, 2007); observar violência interparental (Caridade, 2008; CDC, s.d; Franklin & Kercher, 2012; Malik, Sorenson, & Aneshensel, 1997; Mirsky, 2003; Olsen, Parra, & Bennett, 2010; Oliveira & Sani, 2009; Vézina & Hébert, 2007); observar violência na comunidade (CDC, s.d; Malik, Sorenson, & Aneshensel, 1997; O´Keefe, 2005; OMS, 1997; Vézina & Hébert, 2007), sendo que a exposição à violência na comunidade pode intensificar a prática de violência nos relacionamentos íntimos e além disso haver uma maior aceitação dessa violência (O`Keefe, 2005). Ainda acrescentam as características dos pares (Vézina & Hébert, 2007), ou influência dos pares (Caridade, 2008; Leen et al., 2013).

Este tipo de fatores pode ter influência no relacionamento, podendo a vítima de agressão num relacionamento amoroso não dar significado algum às agressões que sofre e considerá-los irrelevantes e os agressores desconsiderarem a alteração do seu comportamento agressivo (Caridade, 2008).

Segundo Caridade (2008), “A violência no contexto familiar tem sido um dos elementos mais referenciados pela literatura enquanto fator de risco para a violência intima” (p. 85).

Estes fatores mostram a importância de implementar e desenvolver projetos educativos nas escolas que capacitem os/as jovens para os identificar e controlar uma vez que, por vezes, estes fatores estão presentes no seu dia-a-dia na escola e na comunidade.

O contato com um contexto muito diversificado que esta investigação com intervenção psicossocial na escola me proporcionou, permitiu-me ter novas oportunidades de aprendizagem, que proporcionaram novas aquisições de conhecimentos na área de intervenção psicossocial com jovens, como a seguir se explica.

Em primeiro lugar, permitiu-me conhecer as suas características individuais, as suas relações de apoio emocional, os seus recursos e qualidades. Em segundo lugar, esta investigação com intervenção psicossocial na escola foi muito importante para mim pois adquiri mais conhecimentos e competências para elaborar um projeto educativo para jovens com idades compreendidas entre os 13-17 anos e fiquei a conhecer um pouco mais sobre o seu dia-a-dia nos recreios da escola e o seu envolvimento neste tipo de projetos de intervenção, o que me ajudou a compreender melhor a minha identidade profissional nesta especialização de mestrado.

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1.6. Limitações da investigação

Foram alguns os obstáculos que existiram durante a elaboração deste estudo. Em primeiro lugar, o tempo disponível para a realização das entrevistas, que era de 45 minutos, não foi suficiente pois com os atrasos dos/as alunos/as a entrevista durava apenas cerca de 30 minutos. Também a nível da transcrição dos resultados tive alguma dificuldade na transcrição das discussões em grupo focal pois, como foi um estudo com um período de tempo curto de relacionamento com os/as participantes, na transcrição dessas discussões em áudio, por vezes, falavam ao mesmo tempo e não identificava a voz da pessoa que estava a falar, o que dificultou a sua transcrição, tal como também é identificado por investigadores que mencionam que “Um dos aspectos que torna a transcrição difícil é o reconhecimento de quem fala, quando existem várias pessoas a falar ao mesmo tempo” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 138). Uma alternativa para ultrapassar este obstáculo seria fazer a gravação vídeo da discussão de grupo focal para que se conseguisse identificar mais facilmente a voz dos/as participantes.

Em segundo lugar, um outro obstáculo foi o imenso barulho e as brincadeiras de alguns/mas colegas durante a discussão em grupo focal o que dificultava a sua audição, tal como o desinteresse por parte de alguns/mas participantes. Não sei se seria devido ao facto de certos grupos serem maiores do que outros, mas como refere Morgan (1997), os grupos com menos participantes têm um melhor funcionamento quando os/as participantes se interessam no tema e respeitam os/as restantes participantes. Segundo o mesmo autor os grupos maiores podem ter alguma dificuldade no que respeita às discussões, pois pode ser difícil orientá-las e além disso, corre-se o risco de todos falarem ao mesmo tempo, sendo difícil apanhar dados importantes da conversa. Outro obstáculo é relativamente aos gravadores, pelo facto de eles apanharem alguns ruídos de fundo (Krueger, 1998).

Quanto às sessões que foram realizadas foram todas marcadas pelo constante barulho em sala de aula que demonstrava que os/as alunos/as iam para as aulas de Saúde, Ambiente e Empreendorismo (SAE) com a predisposição para a brincadeira e a conversa, uma vez que esta disciplina, é de avaliação qualitativa e não quantitativa e, por isso, talvez, os/as alunos/as reagissem assim.

1.7. Organização Geral da Dissertação

Esta dissertação está organizada em cinco capítulos. O primeiro capítulo (Contextualização do Estudo) depois de uma breve introdução (1.1), faz uma contextualização

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geral da investigação (1.2), descreve o problema e objetivos da investigação (1.3), a relevância do tema (1.4), as razões pessoais que conduziram à seleção do tema (1.5), as limitações da investigação (1.6) e, por fim, a organização geral da dissertação (1.7).

No segundo capítulo (Enquadramento Teórico), depois de uma breve introdução (2.1), apresenta-se o referencial teórico acerca da adolescência e violência no namoro (2.2), a violência no namoro e a influência dos pares, pais e normas sociais (2.3) e, por fim, a prevenção da violência no namoro (2.4).

No terceiro capítulo (Metodologia) após uma introdução (3.1), faz-se uma descrição geral do estudo (3.2), apresenta-se o projeto educativo orientado para a ação na prevenção da violência no namoro (3.3) e justifica-se como foi feita a seleção dos participantes no estudo e faz-se a sua caracterização (3.4). Posteriormente, justifica-faz-se a opção pela técnica e instrumentos de recolha de dados selecionados (3.5), a forma como foram elaborados e validados os instrumentos de investigação (3.6), descreve-se como se procedeu à recolha de dados e os obstáculos encontrados (3.7), as estratégias utilizadas para motivar os/as participantes (3.8), os cuidados éticos ou sua salvaguarda (3.9) e, para terminar, o tratamento e plano de análise de dados (3.10).

No quarto capítulo (Apresentação e discussão dos resultados), após uma breve introdução (4.1), faz-se a apresentação e discussão dos resultados do diagnóstico de necessidades (4.2), que incluiu a violência nos recreios no recinto escolar (4.2.1) e as conceções iniciais sobre a violência no namoro (4.2.2). Em seguida apresentam-se os resultados obtidos durante o projecto educativo relacionados com a evolução do conhecimento orientado para a ação na prevenção da violência no namoro de alunos/as do 9º ano de escolaridade (4.3), nomeadamente, os resultados acerca do que é o namoro e a violência no namoro (4.3.1), as consequências da violência no namoro (4.3.2), as causas da violência no namoro (4.3.3), a gravidade da violência no namoro e as estratégias para eliminar o problema (4.3.4). Também se descrevem as visões dos/as alunos/as para o futuro que desejam em relação à violência no namoro (4.3.5). Posteriormente, descrevem-se as ações realizadas pelos/as alunos/as (4.4) e as mudanças que ocorreram produzidas por essas ações evidenciadas na avaliação do projeto pelos/as participantes (4.5), nomeadamente, a avaliação das sessões (4.5.1) e a opinião final sobre o projeto (4.5.2).

No quinto capítulo (Conclusões e Implicações) faz-se uma breve introdução (5.1) e descrevem-se as principais conclusões do estudo (5.2). Seguidamente, é analisado o impacto

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desta investigação (5.3), tanto a nível pessoal (5.3.1), como a nível da instituição em que se realizou (5.3.2), e, também, é feita uma análise do impacto deste estudo ao nível do conhecimento na área de especialização do mestrado (5.3.3). Por último, descrevem-se as implicações para o futuro (5.4).

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CAPÍTULO II

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.1. Introdução

Neste segundo capítulo, faz-se uma breve introdução onde se descreve os objetivos da revisão teórica, a sua sequência, as opções na seleção da informação e conteúdos, bem como a organização do capítulo. Esta revisão teórica tem como objetivo o aprofundamento de saberes teóricos acerca do tema da violência no namoro, e tudo aquilo que o envolve, tais como, as suas causas e fatores de risco associados e as suas consequências. Também se procura apresentar uma visão internacional e nacional do que se tem vindo a investigar relativamente ao tema (2.1), adolescência e violência no namoro (2.2), a violência no namoro e a influência dos pares, pais e normas sociais (2.3), prevenção da violência no namoro (2.4).

2.2. Adolescência e violência no namoro

É difícil dar uma definição de adolescência, uma vez que cada indivíduo a vive de diversas formas, dependendo da sua maturidade física, emocional e cognitiva (UNICEF, 2011).

A adolescência é um período de passagem da infância para a vida adulta caracterizado pelo desenvolvimento físico, emocional, mental e social do/a adolescente (OMS, 1986), sendo também descrita como um período de transformações e de transição (Alleyne et al., 2011).

A Organização Mundial de Saúde define a adolescência como o período entre os 10 e os 19 anos, e a Organização das Nações Unidas como o período dos 15 aos 24 anos de idade (OMS, 1986).

A adolescência é um período marcado pela instabilidade e por conflitos e é, simultaneamente, o período onde se iniciam as relações de namoro caracterizados pela violência (Caridade, 2008).

A violência no namoro nos/as adolescentes pode ocorrer em qualquer idade, não importa o sexo, a raça, a etnia ou a religião. Além disso, também pode ocorrer em relacionamentos do mesmo sexo (Stader, 2011). Segundo Olsen, Parra e Bennett (2010), “(…) a violência é um aspeto comum nas relações de namoro adolescente” (p. 414), sendo que muitos

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jovens adultos são ao mesmo tempo vítimas e agressores (Olsen, Parra, & Bennett, 2010; Malik, Sorenson, & Aneshensel, 1997).

Segundo a United Nations Population Fund (2005) a violência de género é talvez a violência mais permitida socialmente no que diz respeito à violação dos direitos humanos, sendo esta violência aplicada por homens nas mulheres e raparigas. Esta violência de género, pode incluir parceiros íntimos, familiares, conhecidos ou estranhos.

A violência de género é um problema social muito grave que ultrapassa a etnia, o nível económico, social e regional podendo ter consequências a nível do crescimento, desenvolvimento e saúde das adolescentes (Sinclair et al., 2013).

A violência pelo parceiro íntimo (VPI) ou a violência no namoro é um problema social e de saúde pública (Ali & Naylor, 2013; Franklin & Kercher, 2012; Howard, Qi Wang, & Yan, 2007; Malik, Sorenson, & Aneshensel, 1997; Martin et al., 2012; O`Keefe, 2005), que atinge os homens e mulheres de todo o mundo apesar da sua cultura, religião ou quaisquer outras características demográficas (Ali & Naylor, 2013). As estimativas revelam que 25% das mulheres são vítimas de abuso por uma pessoa íntima que conhecem (Franklin & Kercher, 2012). Num estudo verificou-se que a maioria dos agressores (90%) eram conhecidos da vítima, dos quais 52% eram namorados (Sinclair et al., 2013).

Segundo a OMS (2002) as mulheres podem ser violentas com os seus parceiros do sexo masculino, também podendo ocorrer violência em parceiros do mesmo sexo, sendo que a violência cometida pelos homens nas mulheres é superior. Assim, a violência nas relações de intimidade tanto pode ser cometida por homens como por mulheres.

Segundo Ferreira (2011) os/as adolescentes estão num período de desenvolvimento que os/as insere num risco maior de abuso físico e emocional, comparativamente com os adultos. A violência no namoro é uma realidade na qual se deve intervir e prevenir a sua desvalorização nos/nas adolescentes, pois os/as jovens tem-se oposto em falar sobre os casos pela qual passam, não dando a conhecer à sociedade a violência que sofrem (Ferreira, 2011).

O conceito de violência é um conceito muito complexo e em constantes mudanças, sendo que o termo “abuso” e “violência” têm sido, por vezes, vistos como sinónimos (Machado, 2010), não havendo uma definição óbvia de violência sendo um fenómeno complexo (OMS, 2002). Noções do que é admissível ou não, são influenciadas pela cultura (OMS, 2002). A “agressão”, não é sinónimo de violência não sendo a sua única explicação. Contudo, a violência no namoro surge como um trajeto para a violência conjugal (Machado, 2010).

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A palavra violência provém do latim vis, que representa o uso da força e superioridade física contra outra pessoa, referindo-se também às noções de constrangimento. Esta violência pode ser influenciada pelos contextos, pelos locais e realidades (Casique & Furegato, 2006).

Segundo Saltzman, Fanslow, McMahon e Shelley (2002), é considerado vítima a pessoa que é alvo de violência e agressor a pessoa que exerce ou causa violência ou abuso à vítima.

O Centro de Controlo de Doenças (CDC, 2014) refere que a violência no namoro acontece entre duas pessoas num relacionamento íntimo podendo ser descrita por outros termos tais como: abuso no relacionamento, relacionamento violento, abuso no namoro, abuso doméstico e violência doméstica (CDC, s.d). Segundo Saltzman et al. (2002) na violência pelos/as parceiros/as íntimos/as também é incluído ou usado o termo violência no namoro, violência praticada pelo ex-marido, entre outros. No/a parceiro/a íntimo/a estão incluídos os/as namorados/as quer sejam hetero ou homossexuais, os cônjuges, parceiros/as íntimos/as não casados, ex-namorados/as, entre outros (Saltzman et al., 2002). Atualmente, a violência pelo parceiro íntimo adquiriu o termo popular “violência doméstica”, sendo estes dois termos usados como sinónimos (Ali & Naylor, 2013).

Segundo Caridade (2008) a violência na intimidade não é um problema recente mas há uma escassez de estudos em Portugal sobre a violência no namoro nos jovens. O estudo da violência no namoro começou por surguir na América do Norte, nos E.U.A e Reino Unido havendo uma grande investigação nesta área. Já no nosso país é mais recente e em desenvolvimento começando com a violência entre casais e depois nos jovens. De acordo com a mesma autora, a violência no namoro começou a ter mais importância quando foi incluída a violência entre namorados na Lei nº152 do código Penal. Este artigo inclui o infligir maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais a uma pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem tem ou tem mantido uma relação de namoro (Art. 152º do Código Penal).

Para Saltzman et al. (2002) e para o Centro de Controlo de Doenças (2014), as formas de violência podem organizar-se em três categorias, nomeadamente, a violência física, a violência sexual e a violência psicológica e emocional. Sendo referido/a uma quarta por Saltzman et al. (2002) a ameaça de violência física ou sexual, e pelo CDC (2014) o Stalking - perseguição. O Stalking é um padrão de assédio ou ameaças de táticas que não são pretendidas provocando medo à vítima (CDC, 2014).

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Na perspetiva de Saltzman et al. (2002) a “violência física” é caracterizada como o uso propositado da força física com o objetivo de causar morte, incapacidade, lesões ou danos em outra pessoa. São exemplos da violência física o empurrar (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; Saltzman et al., 2002), bofetadas (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; Franklin & Kercher, 2012; Howard et al., 2007; Martin et al., 2012; Saltzman et al., 2002), murros (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; Martin et al., 2012; Saltzman et al., 2002), o queimar (Saltzman et al., 2002), o uso de objetos (facas, pistolas) (Ferreira, 2011; Saltzman et al., 2002) ou atirar com objetos à outra pessoa (Ferreira, 2011; Martin et al., 2012). A violência física também acontece quando o/a parceiro/a é apertado/a (Caridade, 2008; CDC, 2014) ou beliscado/a (CDC, 2014), lhe batem (CDC, 2014; Ferreira, 2011; Howard et al., 2007; Martin et al., 2012; OMS, 2002; Saltzman et al., 2002), dão pontapés (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; OMS, 2002), puxões (Caridade, 2008), puxam os cabelos (Ferreira, 2011), dão cabeçadas (Ferreira, 2011), fazem arranhões (Martin et al., 2012) e causam ferimentos (Ferreira, 2011; Howard et al., 2007).

No estudo de Franklin e Kercher (2012), verificou-se que existe um consentimento relativo à violência nas relações interpessoais, onde os participantes concordaram que há situações em que é adequado levar um estalo. Assim admitir a violência traduz-se num aumento da possibilidade de cometer violência física nos relacionamentos.

A “violência sexual” consiste no uso da força física para obrigar uma pessoa a ter relações sexuais contra a sua vontade (APAV, s.d; Saltzman et al., 2002) ou, simplesmente em obrigar o/a companheiro/a a ter atos sexuais quando não podem ou não aprovam (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; OMS, 2002); contacto sexual abusivo; a tentativa ou realização do próprio ato sexual com uma pessoa que não tem consciência de tal ato e não consegue recusar a participação devido, por exemplo, ao efeito do álcool ou de drogas ou deficiência (Saltzman et al., 2002). Também podem recorrer à intimidação ou à pressão (APAV, s.d; Saltzman et al., 2002), através de ameaças, humilhações, chantagem e, também, podem drogar ou alcoolizar a vítima de forma a que esta não consiga resistir (APAV, s.d). Outros termos estão relacionados com violência sexual tais como a violação (Caridade, 2008; CDC, s.d; Martin et al., 2012; OMS, 1997); a violência sexual (OMS, 1997), assédio sexual, contacto indesejado, esfregar-se noutra pessoa, puxar a roupa e beliscar (Chiodo et al., 2009).

Para Ferreira (2011) a prostituição ou comportamentos sadomasoquistas também são exemplos de abusos sexuais. A violência sexual pode ser física ou não, são exemplos, o ameaçar

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divulgar boatos se o/a parceiro/a rejeitar ter relações sexuais (CDC, 2014). Também para Caridade (2008) e Chiodo et al. (2009), na violência sexual, pode ser usada também a violência física e verbal. Tais atos a nível verbal são os comentários sexuais, gozar ou piadas sexuais (Chiodo et al., 2009).

De acordo com a OMS (1997), uma em cada cinco pessoas do sexo feminino, incluindo adolescentes, têm sido abusadas sexualmente ou fisicamente por um homem na sua vida.

Quanto à “ameaça de violência física ou sexual”, de acordo com Saltzman et al. (2002) é definida pela utilização de palavras, gestos ou armas para transmitir o propósito de causar a morte, incapacidade, lesão ou dano físico a outra pessoa. Igual acontece para transmitir a intenção de obrigar uma pessoa a envolver-se em atos sexuais quando esta não quer ou é incapaz de concordar. Segundo estes autores são exemplo deste tipo de violência ameaçar bater se não tiver relações sexuais.

Por último, a “violência psicológica ou emocional” abrange o trauma causado pelos atos ou ameaça de atos e táticas coercivas (Saltzman et al., 2002), podendo tais atos ser controlar (Caridade, 2008; Saltzman et al., 2002), ocultar informações acerca da vítima, irritar-se porque a vítima não concorda com alguma coisa, negar-lhe o acesso a telefones e transportes (Saltzman et al., 2002), as proibições (Caridade, 2008), o controlar ou impedir de usar dinheiro (Martin et al., 2012; Saltzman et al., 2002) ou outros recursos básicos como o limitar o acesso à informação e assistência (OMS, 2002; Saltzman et al., 2002), isto é, a privação a recursos físicos, financeiros e pessoais (OMS, 1997). Ou seja, a violência emocional acontece quando o/a parceiro/a ameaça o/a outro/a ou afeta a sua autoestima tal como ser intimidado e humilhado/a (CDC, 2014; OMS, 2002; Saltzman et al., 2002), inferiorizado e ignorado (Caridade, 2008). São também exemplos de violência psicológica, isolar ou manter isolada a vítima dos familiares e amigos (CDC, 2014; OMS, 2002; Saltzman et al., 2002) ou seja, impedir o contacto com outras pessoas (Ferreira, 2011), divulgar informações que põe em causa a sua reputação (Saltzman et al., 2002), embaraçando-a de propósito (CDC, 2014), chamar nomes/insultos (Caridade, 2008; CDC 2014; Ferreira, 2011), o desrespeito (Martin et al., 2012), o bullying (CDC 2014), os ciúmes, a obsessão, a chantagem (Caridade, 2008), difamar ou fazer afirmações graves para humilhar ou “ferir” a pessoa, gritar, ameaçar ou perseguir para meter medo (Ferreira, 2011), e, também, o abuso verbal e o assédio (OMS, 1997). A Organização Mundial de Saúde ainda acrescenta o abuso psicológico (OMS, 2002).

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A violência pode acontecer pessoalmente ou eletronicamente através de mensagens de texto ou de colocar fotos sexuais do/a parceiro/a online (CDC, 2014). De acordo com Stader (2011), a escassa investigação sobre esta problemática também contribui para a sua falta de reconhecimento. O uso de telefones e das redes sociais para controlar e ameaçar é denominado de cyberbullying. Há pouca investigação sobre a violência no namoro através de meios eletrónicos mas, como refere Stader (2011) “ (…) o cyberbullying pode ser mais comum do que se pensa” (p. 141).

Também para a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (s.d) a violência social acontece quando a vítima é envergonhada em público e quando proíbe-o/a de conviver com os/as amigos/as ou familiares. Além disso, também acontece quando o/a namorado/a mexe no seu telemóvel, contas de correio eletrónico ou redes sociais sem o seu consentimento.

Em síntese, a violência abrange os comportamentos físicos, emocionais e sexuais abusivos (Ferreira, 2011).

Para demonstrar algumas das opiniões dos/as jovens acerca da violência no namoro, no estudo qualitativo de Martin et al. (2012) foram constituídos quatro grupos focais (n=32) com adolescentes com idades entre os 13 e os 24 anos, em situação de risco de violência no namoro. Os/as adolescentes descreveram a “relação de drama” como diversas formas de abuso, tais como abuso verbal, emocional, físico e sexual, e o “desrespeito”.Eles/as identificam o “desrespeito” como sendo uma forma de abuso emocional e verbal. Quando questionados/as acerca do que é o abuso sexual e físico os/as adolescentes deram exemplos como bater, socos, estalos, arranhões, atirar com coisas e violação. Também referiram como abuso o controlo de dinheiro e a estragos de propriedade.

Segundo a OMS (1997), a violência cometida em mulheres e raparigas pode ter como consequências as lesões, o homicídio, o trauma mental, a incapacidade crónica. Além disso, as vítimas de violência no namoro estão mais propensas a ter um rendimento escolar mais baixo, a consumir mais álcool, a envolver-se em lutas físicas (CDC, s.d) e a suicidar-se (CDC, s.d; OMS, 1997).

Como foi referido no capítulo um a propósito das razões que conduziram à seleção do tema foi mencionado o consumo de substâncias como fator de risco da violência no namoro. Segundo McDonell, Ott e Mitchell (2010) o descontrolo pelo consumo de substâncias pode levar a que os/as jovens não controlem aquilo que dizem e o que fazem, originando conflitos, não tendo muita consciência dos efeitos que isso tem no seu relacionamento com outras pessoas.

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O`Keefe (2005) além dos conflitos ainda acrescenta que é possível que o uso de argumentos possam originar o uso de violência entre os/as adolescentes.

Além dos fatores de risco referidos no capítulo um, também a mudança frequente de parceiro ou ter diversos parceiros sexuais (Alleyne et al., 2011; CDC, s.d; McDonell, Ott & Mitchell, 2010) e o conhecimento de quem é vítima e agressor nas redes de pares que experienciaram a violência no namoro é um fator de risco para a violência no namoro (McDonell, Ott, & Mitchell, 2010). Além destas, a idade da primeira relação sexual, a redução do uso de preservativo, o ter relações sexuais forçadas e consequentes fatores psicossociais que demonstram sentimentos de tristeza e de desespero, demonstram que a violência no namoro e as relações sexuais forçadas estão relacionadas com estes comportamentos sexuais de risco e que esses comportamentos variam conforme o sexo (Alleyne et al., 2011).

Outros fatores de risco são descritos pelo Centro de Controlo de Doenças (CDC, s.d) tais como: considerar que é correto o uso de ameaças ou de violência para conquistar o que querem para exprimir a frustração ou a raiva; ser impossível controlar a raiva ou frustração; sair com colegas violentos; ter um amigo que está numa relação de namoro violenta; estar deprimido ou ansioso; ter problemas de aprendizagem ou outros problemas na escola; não ter o controlo e apoio dos pais e ter um historial de comportamento agressivo ou bullying.

Howard et al. (2007) referem que ser vítima de violência física no namoro foi associada a descrições de sentimentos tristes e sem esperança, ao stress emocional, a múltiplos episódios de luta física, a tentativa de suicídio e, em práticas sexuais recentes de alto risco com vários parceiros num curto período de tempo e desprotegidas. Neste estudo com adolescentes femininas que frequentavam o 9º e 12º ano, cerca de uma em cada dez raparigas referiram que foram vítimas de violência física no namoro e que o/a namorado/a a feriu, bateu ou deu uma chapada propositadamente. Os resultados deste estudo também mostraram que 10,3% de raparigas referiu ter sido vítima de violência física no namoro. As adolescentes neste estudo que tinham sido feridas fisicamente pelo seu/sua namorado/a tendiam mais a ter sofrimento emocional, a ter comportamentos relacionados com a violência, uso de substâncias e a envolver-se em comportamentos envolver-sexuais de risco. Além disso, as raparigas negras tinham 50% mais de probabilidade de relatar violência no namoro do que as raparigas brancas. O estudo mostrou que é possível que as raparigas que se envolvem em lutas físicas possam também usar esse comportamento nos seus relacionamentos de namoro (Howard et al., 2007).

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Caridade (2008) implementou dois estudos, um quantitativo e um qualitativo com jovens do ensino universitário, secundário e de cursos profissionais. No estudo quantitativo, há um número significativo de jovens que praticam atos violentos ou são violentos nas suas relações íntimas. Com uma amostra de 4667 sujeitos, com idades compreendidas entre os 13 e os 29 anos, sendo 42.2% rapazes e 57.7% raparigas, verificou que existe 30% de perpetração global, 18% de violência física e 23% de violência emocional. Para esta investigadora, os “(…) agressores e vítimas situam-se maioritariamente nas faixas etárias mais velhas e os estudantes inseridos em contextos de maior formação académica (ensino universitário) assumem mais frequentemente o recurso a condutas violentas na sua intimidade relacional (…)” (p.157).

No segundo estudo de investigação qualitativa, Caridade (2008) procurou investigar as crenças, atitudes e a posição dos jovens face aos diversos tipos de violência (física, psicológica e sexual). Neste estudo, tal como no projeto educativo que implementei, a investigadora utilizou o focus group, técnica de pesquisa através da interação entre o grupo sobre um determinado tema proposto pelo investigador permitindo observar a interação dos/as participantes sobre esse tema (Morgan, 1997).

Neste estudo qualitativo, foram investigados três tipos de grupos formativos: jovens universitários, jovens do secundário e jovens que já não estudam. Foram constituídos nove grupos de discussão onde participaram 49 sujeitos com média de idade de 19.7 anos, nos quais, 51% eram do sexo feminino e 49% do sexo masculino. Os resultados indicaram que os/as jovens em geral reconhecem o tema da violência no namoro como muito pertinente e compreendido como uma realidade cada vez mais comum no namoro jovem.

Quanto às causas que levam à violência no namoro, os/as jovens, apontam para a exposição à violência familiar, a interação com pares violentos, a dimensão cultural e educacional e fatores intrapessoais dos agressores, como por exemplo, o ciúme exagerado, a falta de confiança, impulsividade e a obsessão.

Neste estudo, os/as jovens consideram que as condutas violentas que são praticadas no namoro, tender-se-ão a repetir no casamento e os atos a serem mais intensos quando o agressor se sentir mais seguro e com um maior controlo sobre a vítima.

Para os/as jovens deste estudo, a violência física envolve bofetadas, empurrões, puxões, apertões, socos e pontapés. No que diz respeito à violência psicológica, mencionam o controlo e as proibições, os insultos, os ciúmes, a chantagem, a obsessão e o ignorar e inferiorizar o/a companheiro/a. Para estes/as jovens, a violência psicológica tem um maior impacto pelos

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danos que causam no dia-à-dia à vítima, considerando-a a mais frequente, sendo os ciúmes e as discussões entendidos como idênticos. No que diz respeito, à violência física esta será mais fácil de identificar pela visibilidade do abuso. Por fim, quanto à violência sexual, para estes/as jovens, consiste na prática de atos sexuais não desejados e violação, podendo ser usada também a violência física e verbal. Os/as jovens relativamente à violência sexual pouco se pronunciaram e mostraram algum constrangimento no debate do tema, remetendo-se, por vezes, ao silêncio. Quanto às causas que levam a este tipo de violência os jovens mencionam a pressão dos pares como sendo importante, explicações de natureza psicológica ou desenvolvimental.

Os/as jovens neste estudo entendem que as vítimas tendem a não denunciar a violência de que são vítimas, principalmente porque têm vergonha. Também não abandonam a relação devido ao demasiado envolvimento emocional que lhes impossibilita identificar os comportamentos violentos do parceiro.

Neste estudo, as respostas dos/as jovens consoante o género foram diferentes. No que diz respeito à frequência da violência física, os rapazes referem os empurrões, puxões, abanões, socos e pontapés e as raparigas estalos e agarrar os braços. Quanto à frequência da violência psicológica, os rapazes referem os insultos e chantagem e as raparigas referem o controlo, proibições, os ciúmes e a obsessão pela relação. Por fim, quanto à frequência da violência sexual, os rapazes referem a violação e forçar o parceiro ao ato sexual, as raparigas referem os toques indesejáveis e também o forçar o parceiro a atos sexuais. Para terminar, os ciúmes são vistos pelos/as jovens em geral como válidos quando existem situações de infidelidade, desculpando a agressão.

Num outro estudo nacional de Ferreira (2011) participaram 668 estudantes do ensino secundário no qual foram excluídos 495 por não terem tido qualquer tipo de violência no namoro e 3 por terem preenchido incorretamente o questionário que foi aplicado para realizar a sua investigação. As idades dos sujeitos eram entre os 15 e 19 anos dos quais 62.9% eram raparigas e 37.1% rapazes. 170 indivíduos considera que na sua relação de intimidade já teve algum tipo de violência verificando-se que 51.8% dos inquiridos são ao mesmo tempo vítimas e agressores, 30% são agressores e 18.2% são vítimas.

Quanto aos diferentes tipos de violência a violência com maior percentagem é a violência emocional (vítima 57.6% e agressor 60.6%), de seguida a violência física (vítima 33.6%, agressor 48.2%) e em último a violência sexual (vítima 4.8%, agressor 1.8%).

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Na violência física, os comportamentos tais como puxar os cabelos (6.5%), dar bofetadas (14.1%), ameaçar com armas ou uso da força física (1.8%), dar um murro (5.9%), atirar com objetos à outra pessoa (5.9%), dar pontapés ou cabeçadas (4.1%), empurrões violentos (11.8%), dar uma sova (1.8%), causar ferimentos sem assistência médica (9.4%) entre outros foram indicados pelos/as jovens vítimas como exemplos de agressão física.

Quanto à violência emocional, comportamentos como insultar, difamar ou fazer afirmações graves para humilhar ou “ferir” (21.2%), impedir o contacto com outras pessoas (44.1%), partir ou danificar coisas (5.3%), gritar ou ameaçar para meter medo (14.7%), perseguir na rua ou em local de estudo para causar medo (1.2%) entre outros foram identificados pelas vítimas como exemplos de agressão emocional. Por fim, na violência sexual o comportamento identificado pelas vítimas foi o forçar a outra pessoa a manter atos sexuais contra a sua vontade (4.1%) como exemplo de agressão sexual. Neste sentido, o comportamento “impedir o contacto com outras pessoas” (44.1%) foi o mais referido pelos/as participantes.

Numa outra fase do inquérito ao qual responderam apenas 33% dos/as participantes (n=56 dos N=170) às reações em relação à violência na intimidade, o tentar conversar/dialogar com o/a companheiro/a foi o mais referido pelos/as participantes (22.4%) como forma de resolver o problema entre eles/as. As pessoas a quem recorrem foram identificadas com preferência os amigos/as (11.8%).

Os/as participantes (n=49), quando questionados/as acerca do motivo da situação pela qual houve violência, referiram os ciúmes (38.8%) e as discussões (16.3%). Quanto à solução para resolver o problema de violência no namoro os/as alunos/as referiram o diálogo (22.4%), o fim à relação (16.3%) e voltar ao relacionamento (4.1%).

Segundo a mesma autora, a violência na intimidade é um acontecimento muito presente nos/as jovens adolescentes portugueses pelo facto de uma percentagem significativa de intervenientes ter-se envolvido em situações de violência, sendo os abusos emocionais os mais comuns.

Neste estudo, é possível ter havido uma banalização da violência pela parte dos/as participantes devido à “(…) possível dificuldade que os adolescentes, por vezes, apresentam na identificação de comportamentos violentos” (Ferreira, 2011, p. 42).

O estudo de Ohnishi et al. (2011) mostrou que apesar de haver pouca percentagem de violência no namoro no Japão, há um aumento da iniciação sexual precoce nos/as alunos/as do ensino médio e um maior predomínio de infeções sexualmente transmissíveis e de abortos

Referências

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