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ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.2. Adolescência e violência no namoro

É difícil dar uma definição de adolescência, uma vez que cada indivíduo a vive de diversas formas, dependendo da sua maturidade física, emocional e cognitiva (UNICEF, 2011).

A adolescência é um período de passagem da infância para a vida adulta caracterizado pelo desenvolvimento físico, emocional, mental e social do/a adolescente (OMS, 1986), sendo também descrita como um período de transformações e de transição (Alleyne et al., 2011).

A Organização Mundial de Saúde define a adolescência como o período entre os 10 e os 19 anos, e a Organização das Nações Unidas como o período dos 15 aos 24 anos de idade (OMS, 1986).

A adolescência é um período marcado pela instabilidade e por conflitos e é, simultaneamente, o período onde se iniciam as relações de namoro caracterizados pela violência (Caridade, 2008).

A violência no namoro nos/as adolescentes pode ocorrer em qualquer idade, não importa o sexo, a raça, a etnia ou a religião. Além disso, também pode ocorrer em relacionamentos do mesmo sexo (Stader, 2011). Segundo Olsen, Parra e Bennett (2010), “(…) a violência é um aspeto comum nas relações de namoro adolescente” (p. 414), sendo que muitos

jovens adultos são ao mesmo tempo vítimas e agressores (Olsen, Parra, & Bennett, 2010; Malik, Sorenson, & Aneshensel, 1997).

Segundo a United Nations Population Fund (2005) a violência de género é talvez a violência mais permitida socialmente no que diz respeito à violação dos direitos humanos, sendo esta violência aplicada por homens nas mulheres e raparigas. Esta violência de género, pode incluir parceiros íntimos, familiares, conhecidos ou estranhos.

A violência de género é um problema social muito grave que ultrapassa a etnia, o nível económico, social e regional podendo ter consequências a nível do crescimento, desenvolvimento e saúde das adolescentes (Sinclair et al., 2013).

A violência pelo parceiro íntimo (VPI) ou a violência no namoro é um problema social e de saúde pública (Ali & Naylor, 2013; Franklin & Kercher, 2012; Howard, Qi Wang, & Yan, 2007; Malik, Sorenson, & Aneshensel, 1997; Martin et al., 2012; O`Keefe, 2005), que atinge os homens e mulheres de todo o mundo apesar da sua cultura, religião ou quaisquer outras características demográficas (Ali & Naylor, 2013). As estimativas revelam que 25% das mulheres são vítimas de abuso por uma pessoa íntima que conhecem (Franklin & Kercher, 2012). Num estudo verificou-se que a maioria dos agressores (90%) eram conhecidos da vítima, dos quais 52% eram namorados (Sinclair et al., 2013).

Segundo a OMS (2002) as mulheres podem ser violentas com os seus parceiros do sexo masculino, também podendo ocorrer violência em parceiros do mesmo sexo, sendo que a violência cometida pelos homens nas mulheres é superior. Assim, a violência nas relações de intimidade tanto pode ser cometida por homens como por mulheres.

Segundo Ferreira (2011) os/as adolescentes estão num período de desenvolvimento que os/as insere num risco maior de abuso físico e emocional, comparativamente com os adultos. A violência no namoro é uma realidade na qual se deve intervir e prevenir a sua desvalorização nos/nas adolescentes, pois os/as jovens tem-se oposto em falar sobre os casos pela qual passam, não dando a conhecer à sociedade a violência que sofrem (Ferreira, 2011).

O conceito de violência é um conceito muito complexo e em constantes mudanças, sendo que o termo “abuso” e “violência” têm sido, por vezes, vistos como sinónimos (Machado, 2010), não havendo uma definição óbvia de violência sendo um fenómeno complexo (OMS, 2002). Noções do que é admissível ou não, são influenciadas pela cultura (OMS, 2002). A “agressão”, não é sinónimo de violência não sendo a sua única explicação. Contudo, a violência no namoro surge como um trajeto para a violência conjugal (Machado, 2010).

A palavra violência provém do latim vis, que representa o uso da força e superioridade física contra outra pessoa, referindo-se também às noções de constrangimento. Esta violência pode ser influenciada pelos contextos, pelos locais e realidades (Casique & Furegato, 2006).

Segundo Saltzman, Fanslow, McMahon e Shelley (2002), é considerado vítima a pessoa que é alvo de violência e agressor a pessoa que exerce ou causa violência ou abuso à vítima.

O Centro de Controlo de Doenças (CDC, 2014) refere que a violência no namoro acontece entre duas pessoas num relacionamento íntimo podendo ser descrita por outros termos tais como: abuso no relacionamento, relacionamento violento, abuso no namoro, abuso doméstico e violência doméstica (CDC, s.d). Segundo Saltzman et al. (2002) na violência pelos/as parceiros/as íntimos/as também é incluído ou usado o termo violência no namoro, violência praticada pelo ex-marido, entre outros. No/a parceiro/a íntimo/a estão incluídos os/as namorados/as quer sejam hetero ou homossexuais, os cônjuges, parceiros/as íntimos/as não casados, ex-namorados/as, entre outros (Saltzman et al., 2002). Atualmente, a violência pelo parceiro íntimo adquiriu o termo popular “violência doméstica”, sendo estes dois termos usados como sinónimos (Ali & Naylor, 2013).

Segundo Caridade (2008) a violência na intimidade não é um problema recente mas há uma escassez de estudos em Portugal sobre a violência no namoro nos jovens. O estudo da violência no namoro começou por surguir na América do Norte, nos E.U.A e Reino Unido havendo uma grande investigação nesta área. Já no nosso país é mais recente e em desenvolvimento começando com a violência entre casais e depois nos jovens. De acordo com a mesma autora, a violência no namoro começou a ter mais importância quando foi incluída a violência entre namorados na Lei nº152 do código Penal. Este artigo inclui o infligir maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais a uma pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem tem ou tem mantido uma relação de namoro (Art. 152º do Código Penal).

Para Saltzman et al. (2002) e para o Centro de Controlo de Doenças (2014), as formas de violência podem organizar-se em três categorias, nomeadamente, a violência física, a violência sexual e a violência psicológica e emocional. Sendo referido/a uma quarta por Saltzman et al. (2002) a ameaça de violência física ou sexual, e pelo CDC (2014) o Stalking - perseguição. O Stalking é um padrão de assédio ou ameaças de táticas que não são pretendidas provocando medo à vítima (CDC, 2014).

Na perspetiva de Saltzman et al. (2002) a “violência física” é caracterizada como o uso propositado da força física com o objetivo de causar morte, incapacidade, lesões ou danos em outra pessoa. São exemplos da violência física o empurrar (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; Saltzman et al., 2002), bofetadas (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; Franklin & Kercher, 2012; Howard et al., 2007; Martin et al., 2012; Saltzman et al., 2002), murros (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; Martin et al., 2012; Saltzman et al., 2002), o queimar (Saltzman et al., 2002), o uso de objetos (facas, pistolas) (Ferreira, 2011; Saltzman et al., 2002) ou atirar com objetos à outra pessoa (Ferreira, 2011; Martin et al., 2012). A violência física também acontece quando o/a parceiro/a é apertado/a (Caridade, 2008; CDC, 2014) ou beliscado/a (CDC, 2014), lhe batem (CDC, 2014; Ferreira, 2011; Howard et al., 2007; Martin et al., 2012; OMS, 2002; Saltzman et al., 2002), dão pontapés (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; OMS, 2002), puxões (Caridade, 2008), puxam os cabelos (Ferreira, 2011), dão cabeçadas (Ferreira, 2011), fazem arranhões (Martin et al., 2012) e causam ferimentos (Ferreira, 2011; Howard et al., 2007).

No estudo de Franklin e Kercher (2012), verificou-se que existe um consentimento relativo à violência nas relações interpessoais, onde os participantes concordaram que há situações em que é adequado levar um estalo. Assim admitir a violência traduz-se num aumento da possibilidade de cometer violência física nos relacionamentos.

A “violência sexual” consiste no uso da força física para obrigar uma pessoa a ter relações sexuais contra a sua vontade (APAV, s.d; Saltzman et al., 2002) ou, simplesmente em obrigar o/a companheiro/a a ter atos sexuais quando não podem ou não aprovam (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; OMS, 2002); contacto sexual abusivo; a tentativa ou realização do próprio ato sexual com uma pessoa que não tem consciência de tal ato e não consegue recusar a participação devido, por exemplo, ao efeito do álcool ou de drogas ou deficiência (Saltzman et al., 2002). Também podem recorrer à intimidação ou à pressão (APAV, s.d; Saltzman et al., 2002), através de ameaças, humilhações, chantagem e, também, podem drogar ou alcoolizar a vítima de forma a que esta não consiga resistir (APAV, s.d). Outros termos estão relacionados com violência sexual tais como a violação (Caridade, 2008; CDC, s.d; Martin et al., 2012; OMS, 1997); a violência sexual (OMS, 1997), assédio sexual, contacto indesejado, esfregar-se noutra pessoa, puxar a roupa e beliscar (Chiodo et al., 2009).

Para Ferreira (2011) a prostituição ou comportamentos sadomasoquistas também são exemplos de abusos sexuais. A violência sexual pode ser física ou não, são exemplos, o ameaçar

divulgar boatos se o/a parceiro/a rejeitar ter relações sexuais (CDC, 2014). Também para Caridade (2008) e Chiodo et al. (2009), na violência sexual, pode ser usada também a violência física e verbal. Tais atos a nível verbal são os comentários sexuais, gozar ou piadas sexuais (Chiodo et al., 2009).

De acordo com a OMS (1997), uma em cada cinco pessoas do sexo feminino, incluindo adolescentes, têm sido abusadas sexualmente ou fisicamente por um homem na sua vida.

Quanto à “ameaça de violência física ou sexual”, de acordo com Saltzman et al. (2002) é definida pela utilização de palavras, gestos ou armas para transmitir o propósito de causar a morte, incapacidade, lesão ou dano físico a outra pessoa. Igual acontece para transmitir a intenção de obrigar uma pessoa a envolver-se em atos sexuais quando esta não quer ou é incapaz de concordar. Segundo estes autores são exemplo deste tipo de violência ameaçar bater se não tiver relações sexuais.

Por último, a “violência psicológica ou emocional” abrange o trauma causado pelos atos ou ameaça de atos e táticas coercivas (Saltzman et al., 2002), podendo tais atos ser controlar (Caridade, 2008; Saltzman et al., 2002), ocultar informações acerca da vítima, irritar-se porque a vítima não concorda com alguma coisa, negar-lhe o acesso a telefones e transportes (Saltzman et al., 2002), as proibições (Caridade, 2008), o controlar ou impedir de usar dinheiro (Martin et al., 2012; Saltzman et al., 2002) ou outros recursos básicos como o limitar o acesso à informação e assistência (OMS, 2002; Saltzman et al., 2002), isto é, a privação a recursos físicos, financeiros e pessoais (OMS, 1997). Ou seja, a violência emocional acontece quando o/a parceiro/a ameaça o/a outro/a ou afeta a sua autoestima tal como ser intimidado e humilhado/a (CDC, 2014; OMS, 2002; Saltzman et al., 2002), inferiorizado e ignorado (Caridade, 2008). São também exemplos de violência psicológica, isolar ou manter isolada a vítima dos familiares e amigos (CDC, 2014; OMS, 2002; Saltzman et al., 2002) ou seja, impedir o contacto com outras pessoas (Ferreira, 2011), divulgar informações que põe em causa a sua reputação (Saltzman et al., 2002), embaraçando-a de propósito (CDC, 2014), chamar nomes/insultos (Caridade, 2008; CDC 2014; Ferreira, 2011), o desrespeito (Martin et al., 2012), o bullying (CDC 2014), os ciúmes, a obsessão, a chantagem (Caridade, 2008), difamar ou fazer afirmações graves para humilhar ou “ferir” a pessoa, gritar, ameaçar ou perseguir para meter medo (Ferreira, 2011), e, também, o abuso verbal e o assédio (OMS, 1997). A Organização Mundial de Saúde ainda acrescenta o abuso psicológico (OMS, 2002).

A violência pode acontecer pessoalmente ou eletronicamente através de mensagens de texto ou de colocar fotos sexuais do/a parceiro/a online (CDC, 2014). De acordo com Stader (2011), a escassa investigação sobre esta problemática também contribui para a sua falta de reconhecimento. O uso de telefones e das redes sociais para controlar e ameaçar é denominado de cyberbullying. Há pouca investigação sobre a violência no namoro através de meios eletrónicos mas, como refere Stader (2011) “ (…) o cyberbullying pode ser mais comum do que se pensa” (p. 141).

Também para a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (s.d) a violência social acontece quando a vítima é envergonhada em público e quando proíbe-o/a de conviver com os/as amigos/as ou familiares. Além disso, também acontece quando o/a namorado/a mexe no seu telemóvel, contas de correio eletrónico ou redes sociais sem o seu consentimento.

Em síntese, a violência abrange os comportamentos físicos, emocionais e sexuais abusivos (Ferreira, 2011).

Para demonstrar algumas das opiniões dos/as jovens acerca da violência no namoro, no estudo qualitativo de Martin et al. (2012) foram constituídos quatro grupos focais (n=32) com adolescentes com idades entre os 13 e os 24 anos, em situação de risco de violência no namoro. Os/as adolescentes descreveram a “relação de drama” como diversas formas de abuso, tais como abuso verbal, emocional, físico e sexual, e o “desrespeito”.Eles/as identificam o “desrespeito” como sendo uma forma de abuso emocional e verbal. Quando questionados/as acerca do que é o abuso sexual e físico os/as adolescentes deram exemplos como bater, socos, estalos, arranhões, atirar com coisas e violação. Também referiram como abuso o controlo de dinheiro e a estragos de propriedade.

Segundo a OMS (1997), a violência cometida em mulheres e raparigas pode ter como consequências as lesões, o homicídio, o trauma mental, a incapacidade crónica. Além disso, as vítimas de violência no namoro estão mais propensas a ter um rendimento escolar mais baixo, a consumir mais álcool, a envolver-se em lutas físicas (CDC, s.d) e a suicidar-se (CDC, s.d; OMS, 1997).

Como foi referido no capítulo um a propósito das razões que conduziram à seleção do tema foi mencionado o consumo de substâncias como fator de risco da violência no namoro. Segundo McDonell, Ott e Mitchell (2010) o descontrolo pelo consumo de substâncias pode levar a que os/as jovens não controlem aquilo que dizem e o que fazem, originando conflitos, não tendo muita consciência dos efeitos que isso tem no seu relacionamento com outras pessoas.

O`Keefe (2005) além dos conflitos ainda acrescenta que é possível que o uso de argumentos possam originar o uso de violência entre os/as adolescentes.

Além dos fatores de risco referidos no capítulo um, também a mudança frequente de parceiro ou ter diversos parceiros sexuais (Alleyne et al., 2011; CDC, s.d; McDonell, Ott & Mitchell, 2010) e o conhecimento de quem é vítima e agressor nas redes de pares que experienciaram a violência no namoro é um fator de risco para a violência no namoro (McDonell, Ott, & Mitchell, 2010). Além destas, a idade da primeira relação sexual, a redução do uso de preservativo, o ter relações sexuais forçadas e consequentes fatores psicossociais que demonstram sentimentos de tristeza e de desespero, demonstram que a violência no namoro e as relações sexuais forçadas estão relacionadas com estes comportamentos sexuais de risco e que esses comportamentos variam conforme o sexo (Alleyne et al., 2011).

Outros fatores de risco são descritos pelo Centro de Controlo de Doenças (CDC, s.d) tais como: considerar que é correto o uso de ameaças ou de violência para conquistar o que querem para exprimir a frustração ou a raiva; ser impossível controlar a raiva ou frustração; sair com colegas violentos; ter um amigo que está numa relação de namoro violenta; estar deprimido ou ansioso; ter problemas de aprendizagem ou outros problemas na escola; não ter o controlo e apoio dos pais e ter um historial de comportamento agressivo ou bullying.

Howard et al. (2007) referem que ser vítima de violência física no namoro foi associada a descrições de sentimentos tristes e sem esperança, ao stress emocional, a múltiplos episódios de luta física, a tentativa de suicídio e, em práticas sexuais recentes de alto risco com vários parceiros num curto período de tempo e desprotegidas. Neste estudo com adolescentes femininas que frequentavam o 9º e 12º ano, cerca de uma em cada dez raparigas referiram que foram vítimas de violência física no namoro e que o/a namorado/a a feriu, bateu ou deu uma chapada propositadamente. Os resultados deste estudo também mostraram que 10,3% de raparigas referiu ter sido vítima de violência física no namoro. As adolescentes neste estudo que tinham sido feridas fisicamente pelo seu/sua namorado/a tendiam mais a ter sofrimento emocional, a ter comportamentos relacionados com a violência, uso de substâncias e a envolver- se em comportamentos sexuais de risco. Além disso, as raparigas negras tinham 50% mais de probabilidade de relatar violência no namoro do que as raparigas brancas. O estudo mostrou que é possível que as raparigas que se envolvem em lutas físicas possam também usar esse comportamento nos seus relacionamentos de namoro (Howard et al., 2007).

Caridade (2008) implementou dois estudos, um quantitativo e um qualitativo com jovens do ensino universitário, secundário e de cursos profissionais. No estudo quantitativo, há um número significativo de jovens que praticam atos violentos ou são violentos nas suas relações íntimas. Com uma amostra de 4667 sujeitos, com idades compreendidas entre os 13 e os 29 anos, sendo 42.2% rapazes e 57.7% raparigas, verificou que existe 30% de perpetração global, 18% de violência física e 23% de violência emocional. Para esta investigadora, os “(…) agressores e vítimas situam-se maioritariamente nas faixas etárias mais velhas e os estudantes inseridos em contextos de maior formação académica (ensino universitário) assumem mais frequentemente o recurso a condutas violentas na sua intimidade relacional (…)” (p.157).

No segundo estudo de investigação qualitativa, Caridade (2008) procurou investigar as crenças, atitudes e a posição dos jovens face aos diversos tipos de violência (física, psicológica e sexual). Neste estudo, tal como no projeto educativo que implementei, a investigadora utilizou o focus group, técnica de pesquisa através da interação entre o grupo sobre um determinado tema proposto pelo investigador permitindo observar a interação dos/as participantes sobre esse tema (Morgan, 1997).

Neste estudo qualitativo, foram investigados três tipos de grupos formativos: jovens universitários, jovens do secundário e jovens que já não estudam. Foram constituídos nove grupos de discussão onde participaram 49 sujeitos com média de idade de 19.7 anos, nos quais, 51% eram do sexo feminino e 49% do sexo masculino. Os resultados indicaram que os/as jovens em geral reconhecem o tema da violência no namoro como muito pertinente e compreendido como uma realidade cada vez mais comum no namoro jovem.

Quanto às causas que levam à violência no namoro, os/as jovens, apontam para a exposição à violência familiar, a interação com pares violentos, a dimensão cultural e educacional e fatores intrapessoais dos agressores, como por exemplo, o ciúme exagerado, a falta de confiança, impulsividade e a obsessão.

Neste estudo, os/as jovens consideram que as condutas violentas que são praticadas no namoro, tender-se-ão a repetir no casamento e os atos a serem mais intensos quando o agressor se sentir mais seguro e com um maior controlo sobre a vítima.

Para os/as jovens deste estudo, a violência física envolve bofetadas, empurrões, puxões, apertões, socos e pontapés. No que diz respeito à violência psicológica, mencionam o controlo e as proibições, os insultos, os ciúmes, a chantagem, a obsessão e o ignorar e inferiorizar o/a companheiro/a. Para estes/as jovens, a violência psicológica tem um maior impacto pelos

danos que causam no dia-à-dia à vítima, considerando-a a mais frequente, sendo os ciúmes e as discussões entendidos como idênticos. No que diz respeito, à violência física esta será mais fácil de identificar pela visibilidade do abuso. Por fim, quanto à violência sexual, para estes/as jovens, consiste na prática de atos sexuais não desejados e violação, podendo ser usada também a violência física e verbal. Os/as jovens relativamente à violência sexual pouco se pronunciaram e mostraram algum constrangimento no debate do tema, remetendo-se, por vezes, ao silêncio. Quanto às causas que levam a este tipo de violência os jovens mencionam a pressão dos pares como sendo importante, explicações de natureza psicológica ou desenvolvimental.

Os/as jovens neste estudo entendem que as vítimas tendem a não denunciar a violência de que são vítimas, principalmente porque têm vergonha. Também não abandonam a relação devido ao demasiado envolvimento emocional que lhes impossibilita identificar os comportamentos violentos do parceiro.

Neste estudo, as respostas dos/as jovens consoante o género foram diferentes. No que diz respeito à frequência da violência física, os rapazes referem os empurrões, puxões, abanões, socos e pontapés e as raparigas estalos e agarrar os braços. Quanto à frequência da violência psicológica, os rapazes referem os insultos e chantagem e as raparigas referem o controlo, proibições, os ciúmes e a obsessão pela relação. Por fim, quanto à frequência da violência sexual, os rapazes referem a violação e forçar o parceiro ao ato sexual, as raparigas referem os toques indesejáveis e também o forçar o parceiro a atos sexuais. Para terminar, os ciúmes são vistos pelos/as jovens em geral como válidos quando existem situações de infidelidade, desculpando a agressão.

Num outro estudo nacional de Ferreira (2011) participaram 668 estudantes do ensino secundário no qual foram excluídos 495 por não terem tido qualquer tipo de violência no namoro e 3 por terem preenchido incorretamente o questionário que foi aplicado para realizar a sua investigação. As idades dos sujeitos eram entre os 15 e 19 anos dos quais 62.9% eram raparigas e 37.1% rapazes. 170 indivíduos considera que na sua relação de intimidade já teve algum tipo de violência verificando-se que 51.8% dos inquiridos são ao mesmo tempo vítimas e agressores, 30% são agressores e 18.2% são vítimas.

Quanto aos diferentes tipos de violência a violência com maior percentagem é a violência emocional (vítima 57.6% e agressor 60.6%), de seguida a violência física (vítima 33.6%, agressor 48.2%) e em último a violência sexual (vítima 4.8%, agressor 1.8%).

Na violência física, os comportamentos tais como puxar os cabelos (6.5%), dar bofetadas (14.1%), ameaçar com armas ou uso da força física (1.8%), dar um murro (5.9%), atirar com objetos à outra pessoa (5.9%), dar pontapés ou cabeçadas (4.1%), empurrões violentos (11.8%), dar uma sova (1.8%), causar ferimentos sem assistência médica (9.4%) entre outros foram indicados pelos/as jovens vítimas como exemplos de agressão física.

Quanto à violência emocional, comportamentos como insultar, difamar ou fazer afirmações graves para humilhar ou “ferir” (21.2%), impedir o contacto com outras pessoas (44.1%), partir ou danificar coisas (5.3%), gritar ou ameaçar para meter medo (14.7%), perseguir na rua ou em local de estudo para causar medo (1.2%) entre outros foram identificados pelas vítimas como exemplos de agressão emocional. Por fim, na violência sexual o comportamento identificado pelas vítimas foi o forçar a outra pessoa a manter atos sexuais contra a sua vontade (4.1%) como exemplo de agressão sexual. Neste sentido, o comportamento “impedir o contacto com outras pessoas” (44.1%) foi o mais referido pelos/as participantes.

Numa outra fase do inquérito ao qual responderam apenas 33% dos/as participantes (n=56 dos N=170) às reações em relação à violência na intimidade, o tentar conversar/dialogar com o/a companheiro/a foi o mais referido pelos/as participantes (22.4%) como forma de