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APLICAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL DOS CONFLITOS ARMADOS NA GUERRA AÉREA E O ATAQUE PONTUAL COM AERONAVES REMOTAMENTE PILOTADAS

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Academic year: 2021

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APLICAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL DOS CONFLITOS ARMADOS NA GUERRA AÉREA E O ATAQUE PONTUAL COM AERONAVES REMOTAMENTE

PILOTADAS

Webert Leandro Barreto da Silva* Ivan Muniz de Mesquita** RESUMO

Este trabalho tem como finalidade demonstrar como a Guerra Aérea se comporta diante do Direito Internacional dos Conflitos Armados (DICA), sobretudo quando existe um ataque direto com Aeronaves Remotamente Pilotadas. Nessa linha, procurou-se demonstrar as disposições gerais relativas à aplicação do DICA na guerra aérea, geradas em termos do Direito Internacional, bem como os compromissos humanitários e morais que as nações civilizadas devem respeitar. Para isso, foi necessário analisar e relacionar a estrutura legal que contém as regras de Jus in bello em seus dois aspectos, Direito de Haia e de Genebra, em tudo relacionado à aplicabilidade de seu conteúdo à guerra aérea e ao pessoal que participa de ações de combate.

Palavras-chave: Direito Internacional dos Conflitos Armados. Guerra Aérea. Aeronaves Remotamente Pilotadas.

IMPLEMENTATION OF INTERNATIONAL LAW OF ARMED CONFLICTS IN AIR WAR AND PUNCTUAL ATTACK WITH REMOTELY PILOT AIRCRAFT

ABSTRACT

This work aims to demonstrate how the Air War is made before the International Law of Armed Conflicts (DICA – Acronyms in Portuguese), especially when there is a direct attack with Remotely Piloted Aircraft. In this line, it was tried to demonstrate the general provisions regarding the application of DICA in air war, generated in terms of the International Law, as well as the humanitarian and moral commitments that the civilized nations must respect. For this, it was necessary to analyze and relate the legal structure that contains the rules of Jus in Bello in its two aspects,

* Webert Leandro Barreto da Silva. Mestrando em Ciências Aeroespaciais pela Universidade da Força Aérea (UNIFA). Atualmente é assessor jurídico da Força Aérea Brasileira. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Militar. Contato: webertwlbs@fab.mil.br

** Ivan Muniz de Mesquita. Mestrado em Educação pela Universidade Católica de Brasília (UCB - 2000) e Doutorado em Ciências Aeroespaciais pela Universidade da Força Aérea (UNIFA - 2010). Atualmente é Assessor Jurídico da Secretaria de Economia e Finanças da Aeronáutica (SEFA), onde exerce a função de confiança (DAS -102.2 - Comando da Aeronáutica) e Professor do Programa de Pós-graduação em Ciências Aeroespaciais da Universidade da Força Aérea, ministrando as disciplinas Direito Aeronáutico e Direito Internacional Humanitário. Contato: mesquitaim@uol.com.br

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Law of The Hague and Geneva, in everything related to the applicability of its content to the air war and to the personnel that participates in actions of combat. Keywords: International Law of Armed Conflicts. Air War. Remotely Piloted Aircraft. APLICACIÓN DE LA LEY INTERNACIONAL DE CONFLICTOS ARMADOS EN LA GUERRA

AÉREA Y ATAQUE PUNTUAL CON AVIONES NO TRIPULADOS RESUMEN

Este trabajo tiene como finalidad demostrar cómo la Guerra Aérea se porta frente al Derecho Internacional de los Conflictos Armados, sobre todo cuando existe un ataque directo con Aeronaves Remotamente Pilotadas. En este tema, se intentó demostrar las disposiciones generales relativas a la aplicación del DICA en la guerra aérea, generadas en virtud del Derecho Internacional, así como los compromisos humanitarios y morales que las naciones civilizadas deben respetar. Para ello, fue necesario analizar y relacionar la estructura legal que contiene las reglas de Jus in bello en sus dos aspectos, Derecho de La Haya y de Ginebra, en todo lo relacionado a la aplicabilidad de su contenido a la guerra aérea y al personal que participa de acciones de combate.

Palabras clave: Derecho Internacional de los Conflictos Armados. Conflicto aéreo. Los drones.

1 INTRODUÇÃO

A Guerra é um fenômeno social que se associa, de maneira inevitável, à história da humanidade em toda a parte do planeta. Dessa forma, existe a sujeição em suas origens dos mais fracos aos mais fortes, como já dizia Deiure belli ac pacis (A lei de guerra e paz), um trabalho de 1625 escrito em latim por Hugo Grotius e publicado em Paris, sobre o status legal da guerra, considerado um trabalho fundamental no Direito Internacional.

Nesse ínterim, o Direito Internacional dos Conflitos Armados (DICA) nasce como um conjunto de normas jurídicas internacionais que têm como objetivo limitar, por razões de humanidade, a escolha dos meios e métodos utilizados na guerra, e proteger as pessoas e bens afetados pelo conflito, conceito esse que contém em si o ramo especializado do Direito Internacional que se perfaz em duas linhas: Direito de Genebra e Direito de Haia, os quais se desenvolvem no tempo de forma paralela e conjunta.

Quando se recorre à guerra, o capítulo I, artigo 2°, inciso 4, do Decreto nº 19.841/45, contém uma proibição geral sobre o uso da força, anotando que todos os membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas (BRASIL, 1945).

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O Decreto nº 19.841/45 inclui apenas duas exceções expressas a esta regra geral: Defesa legítima em caso de ataque armado (art. 51) e medidas coercitivas ordenadas ou autorizadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (capítulos VII e VIII da Carta). Além disso, acrescenta, do ponto de vista doutrinário, as “guerras de libertação nacional”, baseadas no princípio da autodeterminação dos povos, consagradas na Carta das Nações Unidas (BRASIL, 1945).

Nota-se que uma revolução silenciosa nas Forças Aéreas tem transformado o modo que se luta nos conflitos modernos. As mudanças originadas pela tecnologia têm sido muitas e perceptíveis. Novos conhecimentos e novas armas revolucionaram as hostilidades desde tempos imemoriais. Basta pensar na invenção da carruagem, do pó de cânone, do avião ou da bomba nuclear para lembrar como a ciência mudou a paisagem da guerra.

Nesse aspecto, o uso de um novo sistema de armas em situações de conflito armado está claramente sujeito às regras do DICA. Surge, por conseguinte, uma preocupação jurídica de como e por quem essas inovações serão operadas. E no presente cenário de campo de batalha, a Aeronave Remotamente Pilotada (ARP) é o exemplo mais evidente de tais novas tecnologias, as quais se constituem como um passo adicional em um contínuo estratégico de longa data para mover soldados cada vez mais longe de seus adversários e da zona de combate real.

Assim sendo, quanto às revoluções de assuntos militares e às preocupações humanitárias e legais atuais, o uso da ARP aumentou de forma significativa. As ARP constituem o recente passo na evolução da história dos aviões de combate, o que significa um grande salto tecnológico na frente dos inimigos no teatro de uma guerra aérea.

2 BRASIL UMA GRANDE ESTRATÉGIA PARA O SÉCULO XXI

As regras contidas no regulamento de Haia de 28 de fevereiro de 1923 – Guerra Aérea – nunca foram aprovadas com caráter vinculante, ou seja, juridicamente obrigatório. No entanto, quando da conclusão, elas foram consideradas como uma tentativa séria e autoritária de esclarecer e formular regras sobre a condução de hostilidades aéreas. O bombardeio aéreo é provavelmente o método de guerra que afeta mais diretamente os não combatentes. Importa aclarar que não fora encontrado em vigor qualquer acordo internacional que aborde exclusivamente a questão da guerra aérea em termos gerais ou de bombardeios aéreos em particular, exceto a Declaração de Haia de 1907 sobre a guerra contra “balões” de valor limitado. (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 1998).

Historiando algumas Declarações Internacionais, descobriu-se que as primeiras codificações das regras da guerra aérea eram as Declarações de Haia de 1899 (HAGUE, 1899) e 1907 (HAGUE, 1907). A primeira (Declaração I) que proibia o lançamento de projéteis e explosivos de balões e outros métodos de guerra aérea,

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semelhante por natureza, entrou em vigor em 1900, mas de acordo com seus próprios termos, expirou após 5 anos. Ela foi substituída pela segunda (Declaração XIV), que entrou em vigor em 1909, proibindo a descarga de projéteis e explosivos de balões, que tecnicamente poderiam ser considerados ainda em funcionamento. (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 1998).

Sem prejuízo das duas Declarações já citadas, os anexos das Convenções de Haia II e IV, de 1899 e 1907, respectivamente, também fazem uma breve referência à guerra aérea. Nos artigos 29 e 53, a referência é explícita, e nos artigos 25 a 27 está implícita. A experiência da Primeira Guerra Mundial demonstrou claramente a necessidade urgente de regular a guerra aérea por codificação completa, mas a certeza de enorme potencial militar, que já naquela época demonstrava, constituía-se um obstáculo sério para alcançar os acordos necessários. Assim, o artigo 38 da Convenção de Paris de 1919 (antecessora da Convenção de Chicago atualmente em vigor) deixou todas as partes contratantes para completar a liberdade de ação em tempo de guerra, e a Conferência sobre a Limitação de Armamentos Washington 1921-1922 não conseguiu gerar acordos em torno da guerra aérea (PARIS, 1919).

Pouco depois de formulado o projeto de Haia 1923, um importante acordo sobre a guerra aérea foi alcançado: o Protocolo de Genebra sobre guerra bacteriológica e uso de armas químicas (gás) – 1925. Na conferência de Genebra sobre desarmamento em 1932/34, a questão da guerra aérea também foi discutida e, embora a comissão geral da conferência tenha adotado uma resolução sobre o bombardeio aéreo, nenhum acordo vinculativo foi alcançado. O Protocolo de Londres sobre a Guerra Submarina de 1936 também foi considerado por vários Estados como aplicável ao caso de aeronaves militares que atuam contra navios mercantes (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 1998).

Feitas essas observações, seguem-se os assentamentos. 2.1 Da proteção dos feridos, enfermos e náufragos na Guerra Aérea

Uma das principais preocupações do direito internacional dos conflitos armados tem sido explanar sobre a “neutralização” de feridos e doentes, ou seja, aqueles que estão “fora de ação” devido a ferimentos, doença ou como resultado de um naufrágio, permitindo que eles deixassem de ser um alvo legítimo de ataque. As Convenções de Genebra I e II, respectivamente, definem os feridos e doentes protegidos como membros das forças armadas de uma parte no conflito, bem como membros de milícias ou corpos voluntários que fazem parte das referidas forças armadas. Cidadãos feridos e doentes são reconhecidos e protegidos pelo artigo 16 da IV Convenção de Genebra (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 1992).

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Uma consideração muito mais detalhada é feita pelo Protocolo Adicional I de 1977, em seu artigo 42, que naturalmente leva mais em consideração as condições modernas do que seu antecessor de 1923. Ele prevê que nenhuma pessoa que salte de paraquedas de uma aeronave em perigo estará sujeita a um ataque durante a descida. Além disso, o segundo parágrafo acrescenta que um paraquedista descendente de uma aeronave em perigo sobre um território hostil deve enfrentar a possibilidade de se render, a menos que participe de atos hostis. A questão do ataque de soldados de paraquedas exclui as tropas aéreas de uma perspectiva protecionista (BRASIL, 1993).

O acima dito não se aplica quando o paraquedista inimigo lança atrás de suas próprias linhas, caso em que se pode argumentar que não há nenhuma boa razão para considerar estritamente fora de ação em termos fundados nos objetivos de guerra estabelecidos na Declaração de São Petersburgo em 1868, isto é, “enfraquece as forças militares do inimigo” (PETESBURG, 1868).

Nesse ínterim, importa destacar a proteção aos feridos que o DICA fornece em seu Protocolo Adicional I de 1977, artigo 10 (2) (BRASIL, 1993): “Em todas as circunstâncias serão humanamente tratados e receberão, na medida do possível e no mais curto prazo, os cuidados médicos exigidos por seu estado. Não se fará entre eles nenhuma distinção que não seja baseada em critérios médicos”.

A disponibilidade de transporte aéreo e, mais particularmente, de helicópteros médicos, tem um impacto potencial considerável na acessibilidade das instalações de tratamento em casos graves. O mandato do Protocolo Adicional I de 1977 para o melhor tratamento possível com o menor atraso possível envolve pelo menos um paciente em um hospital de campanha que não pode ser salvo pelas instalações médicas imediatamente disponíveis no local, mas que poderiam ser salvas por instalações mais avançadas, localizadas a uma certa distância. Ele deve ser transportado para lá, se possível, e, na maioria dos casos, um helicóptero médico será o único meio viável de fazê-lo. Qualquer obrigação está claramente sujeita a consideráveis limitações práticas, que são reconhecidas pelo Protocolo com o uso das palavras “exequível em toda a extensão”, uma expressão claramente relacionada com o conceito de “necessidade militar” (BRASIL, 1993).

2.2 Da Busca e do Resgate Aéreo

Com relação a esta área, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha indica que a localização e o resgate dos feridos, doentes e náufragos são necessários para o tratamento desses e que as Convenções de Genebra de 1949 I e II realçam que, após ações militares, e o tempo todo em terra, os beligerantes devem tomar medidas dentro de seus meios para que, sem demora, busquem e protejam os náufragos, feridos e doentes e os protejam dos saques e abusos (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 1992).

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O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (1998) relata que, em busca e salvamento aéreo, os helicópteros, tanto em terra como no mar, são os aviões ideais para esse trabalho devido à sua capacidade de serem suspensos no ar e sua capacidade de pousar e decolar em espaços restritos, especificando que as aeronaves médicas em geral devem ser respeitadas e protegidas, desde que ao sobrevoar um território hostil ou disputado, as rotas de voo tenham sido acordadas.

As normas das quatro Convenções de Genebra de 12 de agosto de 1949 são inequívocas a esse respeito, mas foram feitas, é claro, antes do impressionante desenvolvimento moderno da tecnologia de asas rotativas. Antes, as primeiras tentativas de relacionar as normas legais anteriores às normas de 1949 não são consideradas muito satisfatórias (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 1998).

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (1998) mostra que a Real Força Aérea Britânica (RAF) usava avião anfíbio Walrus e outros tipos de hidroaviões para este fim de resgate ar/água, esses, porém, eram aeronaves meramente militares engajadas em ação humanitária sem reivindicar um status de proteção.

Além disso, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (1998) cita a Luftwaffe com hidroaviões equipados, Heinkel, marcados com emblemas de proteção da Cruz Vermelha, para uso como ambulância aérea e para resgate de pessoal do mar.

A Segunda Convenção de Genebra de (1949) dispõe no artigo 30 que os navios hospitalares e os navios de salvamento protegidos não devem de modo algum impedir os movimentos dos combatentes e também que, nas áreas de contato, eles inevitavelmente agem com risco, embora isso não autorize um ataque deliberado a eles (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 1992). No entanto, as restrições pré-1949 ao tamanho dos navios hospitalares são agora inaplicáveis e o artigo 27 a esse respeito prevê que “[...] pequenas embarcações empregadas pelo Estado ou por instituições de salva-vidas oficialmente reconhecidas para operações de resgate costeiro, devem ser respeitados e protegidos, tanto quanto os requisitos operacionais permitirem.”

Desde que tais navios tenham sido adequadamente marcados e notificados de acordo com a Convenção, a proteção acordada para as aeronaves de resgate costeiras parece estar suficientemente clara hoje – se eles forem corretamente designados e usados somente para propósitos humanitários.

O Protocolo Adicional I de 1977, relativo a tais aeronaves em “zonas de combate”, no artigo 26 (1) estipula que:

Nas partes da zona de contato que estão dominadas efetivamente por forças amigas e nas áreas cujo domínio efetivo não está claramente estabelecido, assim como em seus espaços aéreos, a Proteção das aeronaves sanitárias só poderá ser plenamente eficaz através de um acordo prévio entre as autoridades militares competentes das Partes em conflito,

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conforme o previsto no artigo 29. As aeronaves sanitárias que, na ausência de tal acordo, operem por sua conta e risco, deverão, contudo, ser respeitadas quando tenham sido reconhecidas como tais. (BRASIL, 1993).

Nessa senda, esperar até que um status de proteção explícita seja concedido a aeronaves militares cometidas ad hoc em missões humanitárias de resgate é imperioso, apesar da lei sobre o assunto ser clara. A exigência das Convenções de Genebra de 1949 é clara e sintetiza o contexto de busca e resgate (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 1992), qual seja:

Após cada combate, as Partes no conflito tomarão, sem demora, todas as medidas possíveis para procurar e recolher os náufragos, os feridos e os doentes, protegê-los contra a pilhagem e os maus tratos e assegurar-lhes os cuidados necessários, assim como para procurar os mortos e impedir que eles sejam despojados.

2.3 Da Proteção do Transporte Aeromédico

No artigo 36 da Primeira Convenção de Genebra de 1949 e no número 39 da Segunda Convenção de Genebra (1949), há explanada a proteção a ambulâncias aéreas enquanto voam em rotas, horários e alturas acordados entre as partes beligerantes e a proibição de voos sobre território inimigo, salvo acordo em contrário; e as aeronaves devem obedecer às ordens de desembarque para inspeção, devendo ser autorizadas a continuar se forem consideradas legalmente. No caso de um pouso não voluntário no território controlado pelo inimigo, a tripulação e os pacientes serão expostos à captura, mas esses manterão seu direito a cuidados médicos (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 1992).

Por outro lado, o Protocolo Adicional I (1977), em seu artigo 24, traz que a proteção geral é feita estabelecendo que as aeronaves médicas devem ser respeitadas e protegidas. Inclusive o referido Protocolo estabelece uma escala de proteção e sua efetividade, que varia de acordo com o grau de controle sobre o território de sobrevoo, geralmente nos seguintes termos (BRASIL, 1993):

1. Em território controlado por forças amigas, ou em mar sob controle, a ideia de proteção é aplicada sem prestar contas ao inimigo, mas é estabelecido que tal notificação fosse na prática desejável, especialmente quando as rotas de voo estão dentro da faixa de sistemas de mísseis de superfície e ar.

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2. Nas zonas de contato, as aeronaves médicas devem ser respeitadas depois de reconhecidas, mas, por outro lado, voam por sua conta e risco, a menos que tenha sido assegurado um acordo prévio ao voo.

3. Aeronaves médicas de um voo beligerante sobre terra ou mar, sob controle adverso, são protegidas somente se um acordo de pré-voo tiver sido concluído com autoridades inimigas competentes.

4. A aeronave que voar em ausência dos termos acordados, violar os termos de tal acordo por causa de erro ou em um voo de emergência, deve tentar identificar-se e dar razões às autoridades inimigas que, por sua parte, emitem ordens para terra (ou outras medidas apropriadas) a fim de que não recorram ao ataque.

5. Aeronaves médicas em um conflito armado não podem ser usadas para obter vantagens militares, inclusive usá-las como um escudo para proteger alvos militares. Isso inclui o trabalho de inteligência, transferência de pessoas que não estão feridas, doentes, náufragos, pessoal médico e religioso e carga diferente para equipamentos médicos e suprimentos desse tipo.

2.4 Da Inspeção e Perda de Proteção

A I Convenção de Genebra (1949), no parágrafo 21, declara que a proteção não deve cessar, a menos que as aeronaves sejam usadas para atender, além de suas obrigações humanitárias, atos prejudiciais ao inimigo, e somente depois de um aviso apropriado, indicado em todos os casos necessários, um prazo razoável e que tenha sido ignorado (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 1992).

Claramente, se uma suposta aeronave “médica” participa de ataques, as unidades atacadas terão o pleno direito de responder e um “aviso” nesse caso seria infundado. Uma circunstância mais provável, porém, surgiria da suspeita de que uma aeronave médica estava sendo usada para transportar tropas ou equipamento militar. Isso seria, obviamente, muito mais difícil de rever por observação externa. Consequentemente, um padrão para a inspeção de aeronaves médicas é estabelecido.

A esse respeito, a I Convenção de Genebra (1949) em seu artigo 36 dispõe que as aeronaves médicas devem obedecer a cada ordem de aterrissagem. Eventualmente, no caso de uma aterrissagem imposta, a aeronave com seus ocupantes pode continuar seu voo após o exame (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 1992).

A disposição acima é corroborada pelo Protocolo Adicional I (1977), que, em seu parágrafo 30, indica que aeronaves médicas voando sobre áreas sob controle

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inimigo ou em disputa devem estar aptas a obedecer a ordens, a fim de pousar ou, em casos apropriados, descer na água. Após o pouso ou descida, em resposta a um pedido ou por qualquer outro motivo, a aeronave pode ser inspecionada para confirmar sua reivindicação de status de proteção (BRASIL, 1993).

De acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (1998), a inspeção deve ser rápida, e a condição dos feridos e doentes deve, antes de qualquer evento, ser protegida de efeitos adversos. Se for averiguado na inspeção o bojo de uma aeronave médica que esteja em conformidade com os fundamentos legais e não houver violação de nenhum contrato anterior quando for necessária, deve ser permitido continuar o voo com os ocupantes pertencentes à parte contrária.

2.5 Da Proteção de Unidades Médicas Marítimas e Terrestres na Guerra Aérea Hospitais e navios hospitalares obviamente exigem proteção na guerra aérea. A II Convenção de Genebra de 1949 exige, no artigo 43, que os navios-hospital sejam pintados de branco com cruzes vermelhas escuras (meia lua, quando apropriado), pintados em cada lado do casco e em superfícies horizontais, para dar a maior visibilidade possível.

O artigo 22 também exige que os navios-hospital militares sejam notificados ao inimigo dez dias antes de seu primeiro emprego, incluindo a tonelagem bruta registrada, o comprimento e o número, idealmente, também, a ordem dos mastros e chaminés. Os navios-hospital utilizados p elas organizações de ajuda devem ser similarmente notificados de acordo com o artigo 24, tais medidas claramente garantem proteção razoável contra uma aeronave voando baixo e com boa visibilidade.

Considerações muito semelhantes aplicam-se no caso de unidades hospitalares em terra. Os hospitais devem, é claro, usar o emblema de proteção de uma forma visível do ar “como as considerações militares permitirem”. A distinção entre unidades médicas militares e civis é amplamente descartada pelos artigos 22 e 23 do Protocolo Adicional I de 1977, mas, de qualquer forma, nenhuma seria, como tal, um alvo legítimo de ataque (BRASIL, 1993).

Pode-se dizer que existem previsões para a designação de “zonas de segurança” entre Estados beligerantes. A Quarta Convenção de Genebra de 1949 prevê no artigo 15 que qualquer arte no conflito poderá, quer diretamente, quer por intermédio de um Estado neutro ou de um organismo humanitário, propor à Parte contrária a criação, nas regiões onde se combate, de zonas neutras destinadas a proteger dos perigos dos combates, sem qualquer distinção, os feridos e os doentes, combatentes ou não combatentes e os civis que não participam nas hostilidades e que não se dediquem a qualquer trabalho de natureza militar durante a sua permanência nestas zonas (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 1992).

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2.6 Do Direito ao Status de Prisioneiro de Guerra

A proteção concedida aos prisioneiros de guerra pela Terceira Convenção de Genebra de 1949 (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 1992) e pelo Protocolo Adicional I de 1977 (BRASIL, 1993) não contém, por si só, qualquer referência específica à guerra aérea, ao contrário das regras aplicáveis ao pessoal capturado em terra ou na guerra naval. Essa proteção repousa, no entanto, no direito básico ao status do prisioneiro de guerra, que é de considerável importância na guerra aérea.

É bem conhecido que as categorias básicas de pessoal, assim qualificadas, estão estabelecidas na III Convenção de Genebra de 1949, artigo 4 (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 1992). O grupo primário inclui os membros das forças armadas de uma parte do conflito (internacional), bem como membros da milícia ou do corpo de voluntários que fazem parte de tais forças armadas.

Um número de categorias análogas é adicionado, incluindo as tripulações de aeronaves civis das partes no conflito, que não se beneficiam de tratamento mais favorável sob qualquer outra regra do direito internacional.

Outros grupos são membros de milícias ou corpos voluntários, incluindo movimentos organizados de resistência, que estão sob comando responsável por suas ações, têm um sinal distintivo visível à distância, carregam armas abertamente e atendem às exigências do jus in bello; são, em verdade, membros do apoio civil que acompanham as forças armadas, incluindo especificamente os “membros civis de tripulações de aeronaves militares” e as pessoas que se revoltam em massa como resposta a uma invasão, sem tempo para formar organizações militares.

As categorias de pessoas a quem foi expressamente negado o status legal de “combatente” e, consequentemente, de prisioneiro de guerra, incluem mercenários e espiões. Os mercenários, como são “soldados da fortuna”, têm uma longa e desonrosa história militar. O Protocolo Adicional I de 1977 define essas pessoas no artigo 47, especialmente recrutadas para lutar em um conflito quando não são membros das forças armadas nacionais ou residentes nacionais ou territoriais de uma Parte (BRASIL, 1993).

Nota-se que essa participação direta nas hostilidades é motivada simplesmente pelo espírito de lucro e ganho privado, sendo financiada por um pagamento ainda maior do que o oferecido aos membros equivalentes das forças armadas em questão.

Da mesma forma, o status de prisioneiro de guerra é expressamente negado aos espiões pelo Protocolo Adicional I de 1977, artigo 46 (BRASIL, 1993). No entanto, especifica-se que um membro das forças armadas uniformizado, que coleta informações, não será considerado um “espião” e nem será um membro das forças armadas de um Estado no território sob ocupação; a menos que passe a agir com falsos pretextos ou deliberadamente de forma clandestina.

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Importante pontuar, também, que um membro das forças armadas que não viva em território sob ocupação adversa e participe, naquele território, de atos de espionagem, seu status como prisioneiro de guerra não pode ser negado e não pode ser tratado como espião, salvo no caso de ser capturado antes de se juntar às forças armadas a que pertence.

Agora, no aspecto específico da guerra aérea, pode-se afirmar que o pessoal da Força Aérea que cumpre as condições especificadas tem direito, é claro, ao status de prisioneiro de guerra em caso de captura, incluindo membros civis de tripulações, que devem ser considerados até mesmo para equipes de manutenção civil ligadas a unidades militares.

Uma vez nas mãos do inimigo, o prisioneiro de guerra pode ser interrogado, mas não pode ser forçado a revelar informações de inteligência. Eles são obrigados a dar apenas seu nome, classificação, data de nascimento e número de série ou informações equivalentes. Os militares em conflitos armados devem receber cartões de identificação, dando pelo menos essa informação, que é de valor suficiente; isso, claro, se o preso não puder, por razões médicas ou linguísticas, entregar as informações necessárias.

2.7 Do ataque de Aeronaves Remotamente Pilotadas na Guerra Aérea – aspectos jurídicos

Um fundamental princípio do DICA vem a estabelecer que os meios e métodos de guerra não são ilimitados. Nessas ocasiões, é caracterizado o Princípio da Limitação, o qual se reflete em uma série de normas baseadas em tratados que restringem meios e métodos de convulsão bélica específicos.

São incluídos, nos meios e métodos de guerra, as armas em sentido amplo e o modo como elas são empregadas. Dessa forma, o Direito Internacional dos Conflitos Armados limita tanto os tipos de armas, quanto a maneira como podem ser utilizados – artigo 22 do IV Regulamento de Haia (HAGUE, 1907b).

Ao denotar o marco regulatório do emprego de armas no DICA, nota-se que as normas gerais estão compreendidas nos tratados, em particular no Protocolo Adicional I às Convenções de Genebra. Quando se mergulha nas disposições dos tratados, percebe-se que essas são mais detalhadas que as normas do direito consuetudinário dos conflitos. No entanto, vale ressaltar que somente um Estado que faz parte de um tratado específico está obrigado pelas disposições respectivas, enquanto que todas as partes envolvidas num conflito devem respeitar o direito consuetudinário.

Nesse particular, apresentam-se alguns tratados que proíbem ou impõem restrições ou limitações sobre o emprego de armas específicas para o conflito armado:

• Declaração de São Petersburgo que objetiva proibir o uso de determinados projéteis em tempo de guerra (projéteis explosivos de peso inferior a 400g) – 11 dez. 1868 (PETESBURG, 1868);

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• Declaração sobre balas que se expandem – 29 jul. 1899 (HAGUE, 1899b); • Convenção relativa às leis e aos costumes da guerra terrestre – 18 out.

1907 (HAGUE, 1907);

• Protocolo sobre a proibição de uso na guerra de gases asfixiantes, tóxicos ou similares e de meios bacteriológicos – 17 jun. 1925 (GENEVA, 1925); • Convenção sobre a proibição de utilizar técnicas de modificação ambiental

com fins militares ou outros fins hostis (GENEVA, 1976);

• Convenção sobre Proibição ou Restrição do emprego de certas armas convencionais que podem ser consideradas excessivamente nocivas ou de efeitos indiscriminados (GENEVA, 1980);

• Convenção Internacional sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção, Estocagem e Uso de Armas Químicas e sobre a Destruição das Armas Químicas Existentes no Mundo, assinada em Paris, em 13 de janeiro de 1993 (BRASIL, 1999);

• Convenção sobre Munições Cluster (DUBLIN, 2008).

Dessa forma, como bem pontuado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (2016), se uma arma específica corresponde a um tipo de arma cujo emprego esteja restringido ou limitado, seu uso deve cumprir com todas essas limitações. Com efeito, as armas e as maneiras de utilizá-las não devem causar males supérfluos ou sofrimentos desnecessários aos combatentes, sendo findadas para atingir um objetivo militar específico.

Ora, assegura-se, então, que se deve tomar todas as precauções factíveis para preservar e evitar danos colaterais às pessoas civis, não devendo ser empregadas armas nem métodos para causar danos excessivos, duradouros e graves ao meio ambiente natural.

Em paralelo às proibições de certos tipos de armamentos pelo DICA, não é temerário afirmar que um ataque por uma ARP pode cair em uma casa cheia de civis e se tornar uma ameaça vital dentro de um conflito armado. É nesse campo que as questões legais para o emprego desses veículos devem ser cuidadosas, visto que a lei proíbe certas armas, devido à natureza e às decisões de segmentação que venham a ocorrer.

Qualquer arma, seja ela uma bola, uma aeronave tripulada ou uma aeronave não tripulada, é capaz de ser usada em violação da lei do conflito armado, por exemplo, direcionando-a intencionalmente em civis ou conscientemente usando-a para processar ataques, o que irá causar perdas civis desproporcionais, não obstante pode ser considerada, aos militares, como vantagem antecipada do ataque.

Da mesma forma, erros na fragmentação das decisões, falhas técnicas nos sistemas de orientação e assim por diante em ataques que não tenham as consequências esperadas ou intencionais podem fazer parte da ação ofensiva de uma Força Armada. Todavia, a questão a ser debatida aqui é sobre a arma usada

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pela ARP como tal, não o fato de que poderia ser usada de forma inadequada. Portanto, tentar-se-á considerar as questões legais que surgem com o uso das aeronaves remotamente pilotadas. De forma crucial, as ARP entregam uma força letal considerável ao alvo, fazendo com que o direcionamento da arma para um alvo seja sua capacidade essencial.

Embora não seja tripulado, o veículo geralmente será controlado de uma estação terrestre, com um operador humano no controle, o qual se responsabiliza pela ação de usar a ARP para atacar um objeto ou pessoa. Alguns estudiosos não entendem que o operador tem informações suficientes e claras para formar uma base adequada para decisão e, em vez de discutir a natureza jurídica da ação, as objeções parecem ser fundamentadas na ética, e podem ser resumidas na questão se é apropriado para uma das partes do conflito usar um método de ataque livre de risco pessoal e que atinge alvos direcionados sem serem vistos (BOOTHBY, 2011).

Deveras, as ARP funcionam, para os fins taxados neste trabalho, em um lançamento de um veículo não tripulado ao ar, que procura geralmente em uma área preestabelecida objetos que estejam em conformidade com algoritmos registrados nos sistemas de controle de armas dessa aeronave. Quando um objeto é observado por sensores de bordo, a ARP vai identificar o alvo e evidenciar ao piloto a decisão de atacar ou não o objeto – isso, porque, não se trata nesta pesquisa sobre as aeronaves autônomas.

Entende-se que essa decisão será baseada na precisão da correspondência entre o que é observado e os dados pré-definidos no sistema de enlace de dados entre à estação remota e às aeronaves propriamente ditas. Nesse ponto, cabe destacar que qualquer ARP é objeto de revisão legal, em conformidade com o artigo 36 do Protocolo Adicional I às Convenções de Genebra (BRASIL, 1993). Veja-se:

Quando uma Alta Parte Contratante estude, desenvolva, adquira ou adote uma nova arma, ou novos meios ou métodos de combate, terá a obrigação de verificar se seu emprego, em certas condições ou em todas as circunstâncias, estaria proibido pelo presente Protocolo ou por qualquer outra norma de Direito Internacional aplicável a essa Alta Parte Contratante. Frisa-se que qualquer Estado que adquira tecnologia desse tipo deve atingir conclusão jurídica com base no Direito Internacional dos Conflitos Armados e sua interpretação deve levar em consideração particularidades da tecnologia sob revisão.

Aeronaves Remotamente Pilotadas dão aos instrumentos bélicos acoplados e baseados em computador a tarefa complexa de fazer o piloto decidir o que deve ser atacado, quando o ataque deve ocorrer, como o ataque deve ser processado, talvez qual arma deve ser usada, qual deve ser o ângulo de ataque, a altitude a partir da qual

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a arma será lançada e assim por diante. Em verdade, não existe tratado ou regra do direito consuetudinário que proíba ou restrinja especificamente o uso dessa tecnologia de ataque. A tomada de decisão deve, no entanto, ser considerada à luz das regras do DICA mencionadas anteriormente, que regulam todos os ataques, por ARP ou não.

O princípio legal da discriminação exige que a ARP seja capaz de dirigir a arma em um objetivo militar específico e que os efeitos do ataque sejam limitados. Essa regra significa que se a operação ou controle do armamento é tal que a arma atingirá objetivos militares e civis ou objetos civis sem distinção, a regra provavelmente será quebrada.

De considerável relevância serão os sensores, a tecnologia de orientação e outras instalações do veículo e em que medida essas permitirão a plataforma para direcionar ataques a objetivos militares. Importante também aclarar a maneira pela qual o veículo se destina a ser usado, como as missões serão planejadas, a informação do espaço de batalha que suportará planeamento da missão, os tipos de alvo que a máquina irá utilizar, os tipos de localização em que é planejado para montar tais ataques e assim por diante.

Ao lado das características físicas da aeronave e do armamento, devem ser estabelecidas as devidas precauções na tomada de decisões de ataque. Então é pertinente que se considere se o equipamento e seu método pretendido de emprego permitirá que as precauções necessárias sejam tomadas.

As regras de precauções começam afirmando que cuidados constantes devem ser tomados para poupar civis e objetos civis. É de saber que as regras fornecem para aqueles que planejam ou decidem um ataque o seguinte: fazer tudo o que for praticável ou praticamente possível para verificar que o objetivo do ataque seja um objetivo militar.

Para Boothby (2011), existem, no entanto, regras adicionais de precaução. Elas exigem que aqueles que planejam ou decidem um ataque também devem: tomar todas as precauções viáveis nos meios e métodos de ataque para evitar e, em qualquer caso, para minimizar a perda acidental de vidas e lesões civis, danos a objetos civis; e abster-se de decidir lançar um ataque que pode ser esperado para causar perda acidental de vidas civis, ferimentos a civis, danos a objetos civis ou uma combinação desses que seria excessiva em relação ao concreto e vantagem militar direta antecipada.

Além disso, um ataque deve ser cancelado ou suspenso se tornar claro que o objetivo não é um objetivo militar, ou está sujeito a proteção, ou quando se espera que o ataque tenha efeitos colaterais excessivos. Considerando, ainda, que um aviso prévio efetivo deve ser dado, a fim de alertar a população civil, a menos que as circunstâncias não permitam.

A principal questão para determinar a legitimidade do emprego da ARP é se o sistema é capaz de ser utilizado de acordo com o princípio da Distinção. E se equipado com tecnologia de sensores ligada a algoritmos, a resposta é provável

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ser sim. A questão principal para qualquer um que planeje usar esse equipamento em uma ocasião particular será assegurar que qualquer ataque em particular pelo sistema está em conformidade com todos os requisitos legais.

Lado outro, compreende-se que o DICA denota suas ações de ataque com algumas restrições e com uma seleção de objetivos militares – tendo a ARP um papel precípuo nesse cenário. De valer que a definição de objetivo é apresentada em dois enfoques: o jurídico e o militar. Como pontuado por Cinelli (2016, p. 228), para a doutrina militar brasileira um objetivo militar é um elemento tangível, material (força, região, instalação, população e outros), em relação ao qual se vai operar para obter determinado efeito e, também, é um elemento material específico em relação ao qual se desenvolve o esforço militar numa operação, contribuindo para a obtenção do efeito desejado. Já para o DICA, objetivos militares são bens que por sua natureza, localização, finalidade ou utilização contribuem efetivamente para a ação militar e cuja destruição total ou parcial, captura ou neutralização, oferecem uma vantagem militar precisa. Assim, entende o autor que faltam à definição militar elementos essenciais ao atendimento do princípio da Limitação.

No campo atual dos novos conflitos é perceptível que a evolução tecnológica faz com que haja um curto espaço de tempo para se definir um ataque, seja em alvos tradicionalmente relacionados às esferas táticas ou topográficas, sejam vinculados à identificação política, religiosa ou cultural. Dessa maneira, a seleção dos objetivos militares foi ganhando força e não se restringindo apenas ao campo, atuando, sobretudo, no ambiente aéreo.

Nesse ponto, sob os olhares complacentes da Teoria dos Cinco Anéis de Warden (1988), as ações com ARP representam um alinhamento com a doutrina da Força Aérea Brasileira (DCA 1-1, 2005), conduzindo o planejador ao respeito legal concreto e visando uma maior precisão e seletividade nos alvos a serem atacados, o que reduz o risco de danos colaterais (BRASIL, 2012).

De forma correlata, perfilhando-se o emprego de ARP num conflito armado e a teoria estratégica de Warden (1988), tem-se que: deve existir uma apreciação do objetivo específico pelo estrategista (no DICA, essa vertente está ligada à Distinção); deve ter um nível necessário de paralisia (no DICA, isso se alinha com a Necessidade Militar); e deve analisar o inimigo por meio dos Centros de Gravidade, cuja destruição é de acordo com o nível da paralisia (no DICA, evidencia-se a Proporcionalidade).

Portanto, o que foi apresentado aqui é uma linha de pensamento na trilha regulatória da nova tecnologia que se aporta nas Forças Armadas, a qual efetivamente implementa as restrições existentes e que não tolera as opções de destruição em massa, de modo que não há armamentos ilimitados, nem opções de produzir algo que não seja preciso, discriminatório e proporcional. Certamente, danos colaterais, sob essas suposições, não são um mal necessário. Isso vai acontecer, mas é possível reduzi-lo drasticamente, porque a tecnologia para isso está lá.

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo geral deste trabalho foi determinar as disposições gerais relativas à aplicação do DICA na guerra aérea, geradas em termos do Direito Internacional, bem como os compromissos humanitários e morais que as nações civilizadas devem respeitar, sobretudo no escopo de um ataque por Aeronaves Remotamente Pilotadas.

Para isso, foi necessário analisar e relacionar a estrutura legal que contém as regras de Jus in bello em seus dois aspectos, como Haia e Genebra, em tudo relacionado à aplicabilidade de seu conteúdo à guerra aérea e ao pessoal que participa de ações de combate.

O trabalho foi analisado e discutido com uma abordagem crítica das poucas disposições que o jus in bello refere-se à guerra aérea, tais como busca e salvamento, transporte aero médico para a recuperação e cuidado de feridos, doentes ou náufragos, o estado de proteção às instalações terrestres mais relevantes e os navios-hospitais, como também tudo relacionado com os direitos e garantias inerentes ao prisioneiro de guerra – pessoal possivelmente envolvido em ações de combate aéreo. Tampouco escapou a essa análise crítica relacionada à limitação dos meios de combate e condução de hostilidades na guerra aérea.

As tentativas de regular a guerra aérea tiveram um relativo sucesso, tendo gerado certo grau de consenso sobre o assunto, o que, em todo caso, é lamentável admitir, tem sido mais ausente na atualidade.

O principal objetivo da lei de guerra é a proteção de pessoas e bens, bem como evitar danos colaterais desnecessários. De acordo com o Manual de Normas Internacionais que regem as Operações Militares (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 2016), o Direito Internacional dos Conflitos Armados é um conjunto de normas que, por razões humanitárias, procura limitar os efeitos dos conflitos armados. Esse ramo do direito internacional público protege as pessoas que não participam ou que deixaram de participar das hostilidades e restringe os meios e métodos de guerra disponíveis para as partes em conflito.

Em relação à natureza da guerra em geral e ao uso do poder aéreo das Aeronaves Remotamente Pilotadas em particular, múltiplos fatores, além do controle da força atacante, influenciam ou podem afetar sua habilidade de atacar seus alvos com precisão. Não menos pode acontecer com as ações das forças de defesa antiaérea, que envidam todos os esforços para garantir que a munição do atacante não atinja o objetivo desejado. Muitas dessas ações defensivas são fatores sobre os quais os atacantes não têm controle e, em alguns casos, sobre os quais nenhuma das partes tem controle.

O Protocolo Adicional I às Convenções de Genebra de 1977 constitui o esforço mais recente para regulamentar o exercício do poder aéreo como tal, e seus benefícios e omissões foram discutidos e analisados com algum detalhe nas páginas anteriores (BRASIL, 1993).

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto nº 19.841, de 22 de outubro de 1945. Promulga a Carta das Nações Unidas, da qual faz parte integrante o anexo Estatuto da Corte Internacional de Justiça, assinada em São Francisco, a 26 de junho de 1945, por ocasião da Conferência de Organização Internacional das Nações Unidas. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro, RJ, 1945.

BRASIL. Decreto nº 2.977, de 1° de março de 1999. Promulga a Convenção Internacional sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção, Estocagem e Uso de Armas Químicas e sobre a Destruição das Armas Químicas Existentes no Mundo, assinada em Paris, em 13 de janeiro de 1993. Dário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 199p.

BRASIL. Decreto nº 849, de 25 de junho de 1993. Promulga os Protocolos I e II de 1977 adicionais às Convenções de Genebra de 1949, adotados em 10 de junho de 1977 pela Conferência Diplomática sobre a Reafirmação e o Desenvolvimento do Direito Internacional Humanitário aplicável aos Conflitos Armados. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1993.

BRASIL. Ministério da Defesa. Comando da Aeronáutica. Planejamento, DCA 1-1 Doutrina Básica da Força Aérea Brasileira, 2012.

BOOTHBY, H William. Autonomous Systems: precautions in attacks. 34 Round Table on Current issues of International Humanitarian Law. International Institute of Humanitarian Law. September 2011.

CINELLI, C.F., Direito Internacional Humanitário: ética e legitimidade na aplicação da força em conflitos armados. Curitiba, PR, Juruá, 2. ed., 2016.

COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA. Convenções de Genebra de 1949. Genebra: Comitê Internacional da Cruz Vermelha, 1992.

COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA. La Guerra Aérea en relación con el Derecho Internacional Humanitario, 1998. Disponível em: https://www.icrc.org/ spa/resources/documents/misc/5tdm2f.htm. Acesso em: 20 fev. 2019.

COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA. La Guerra Aérea en relación con el Derecho Internacional Humanitario. Acesso em: 25 de fevereiro de 2018 https:// www.icrc.org/spa/resources/documents/misc/5tdm2f.htm

COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA. Manual de Normas Internacionales que rigen las operaciones militares. Genebra: Comitê Internacional da Cruz Vermelha, 2016.

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COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA. Violência e uso da força. Genebra: Comitê Internacional da Cruz Vermelha, 2009.

DUBLIN. Convenção sobre Munições Cluster (CCM). Conferência Diplomática realizada em Dublin, Irlanda. 2008.

GENEVA. Convention on Prohibitions or Restrictions on the Use of Certain Conventional Weapons Which May Be Deemed to Be Excessively Injurious or to Have Indiscriminate Effects, Geneva, 10 October 1980.

GENEVA. Convention on the Prohibition of Military or Any Other Hostile Use of Environmental Modification Techniques, adopted by the UN General Assembly, Res. 31/72, 10 December 1976.

GENEVA. Protocol for the prohibition of the use in war of asphyxiating, poisonous or other gases, and of bacteriological methods of warfare, Geneva, 17 June 1925. HAGUE. Convention (II). Convention (II) with Respect to the Laws and Customs of War on Land, The Hague, 29 July 1899.

HAGUE. Convention (IV). Convention (IV) respecting the Laws and Customs of War on Land, The Hague, 18 October 1907.

HAGUE. Declaration concerning Expanding Bullets Declaration (IV, 3) concerning Expanding Bullets, The Hague, 29 July 1899(b).

HAGUE. Regulations concerning the Laws and Customs of War on Land, annexed to Convention (IV) respecting the Laws and Customs of War on Land, The Hague, 18 October 1907 (b).

PARIS. Treaty of Versailles. Versailles, 28 June 1919.

PETERSBURG. Declaration Renouncing the Use, in Time of War, of Explosive Projectiles Under 400 Grammes Weight, St. Petersburg, 29 November–11 December 1868.

WARDEN III, J. A. The air campaign planning for combat. Washington: National Defense University Press Publication, 1988.

Recebido em: 25 fev. 2019. Aceito em: 6 ago. 2019.

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