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Uma perspetiva de custos da interrupção da gravidez por opção da mulher

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Academic year: 2021

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Uma Perspetiva de Custos da Interrupção da Gravidez por opção

da mulher

Marta Maria Baptista Martins

Dissertação de Mestrado em Gestão dos Serviços de Saúde

Orientadora:

Prof. Doutora Fátima Figueiredo, Professora Convidada do Instituto de Higiene e Medicinal Tropical

Coorientadora

Enfermeira Lina Pereira, Enfermeira Chefe na UCC Cuidar+, Oeiras

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I

Mãe, Pai, Duarte

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II À Doutora Fátima Figueiredo os meus sinceros agradecimentos, por todo o apoio, incentivo, empenho e sabedoria com que sempre me orientou.

À Enfermeira Lina Pereira pelo acompanhamento durante todo este tempo.

Ao Professor Nuno Crespo pelo tempo despendido e pela grande ajuda que me deu.

Aos meus pais, os quais sempre me motivaram e acreditaram que eu iria conseguir, por tudo o que me deram…vida, educação, apoio, amor e carinho, por se esforçarem, para que a minha vida seja cada vez melhor, o meu muito obrigada!

Ao Duarte, por todo o apoio, motivação, amor...agradeço por existires na minha vida e por seres uma parte importante dela.

Às minhas amigas de Mestrado, Elisa, Inês, Margarida, Fayema, Sara e Rita, pelos momentos que passámos no 1.º ano do curso e, um obrigada especial à Margarida por me ter acompanhado sempre.

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III Introdução: A interrupção da gravidez (IG) por opção da mulher foi, em 2009, a terceira causa de morte em Portugal, de acordo com a Federação Portuguesa pela Vida (2009).

Em Portugal, a IG por opção da mulher, tem vindo a aumentar, desde a aprovação da lei, em 2007, com uma ligeira diminuição de 2009 para 2010.

Uma vez que, atualmente, os recursos financeiros são escassos, não só a nível nacional, como a nível Europeu, torna-se importante compreender os custos originados pela mudança na lei 16/2007, nomeadamente na adolescência, período crítico em termos sociais.

O objetivo principal deste estudo é conhecer a(s) estratégias que podem ser implementadas de forma a minimizar os custos para as Entidades do Serviço Nacional de Saúde.

Métodos: O estudo em causa é uma análise descritiva retrospetiva da IG por opção da mulher e da gravidez na adolescência, de 2007 a 2011. Recorreu-se aos dados do INE, da DGS, da Federação Portuguesa pela Vida, da Portaria n.º 781-A/2007 e da Administração Central do Sistema de Saúde.

Resultados: Baseado nos dados acima mencionados constatou-se que foram gastos 30.919.625,05€, tendo em conta o valor mínimo para o custo da IG e da vigilância da gravidez na adolescência ou 69.206.158,82 €, calculando o valor máximo.

Conclusão: Os custos com a IG por opção da mulher e da vigilância da gravidez na adolescência poderiam ser reduzidos com a prevenção sistemática da gravidez na adolescência, bem como da alteração da lei vigente relativa a IG por opção.

Palavras-chave: interrupção da gravidez por opção da mulher; gravidez na

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IV Introduction: The termination of pregnancy (IG) at the option of the woman was in 2009, the third leading cause of death in Portugal, according to the Portuguese Federation for Life (2009).

In Portugal, the termination of pregnancy by choice of women, has increased since the law was passed in 2007, with a slight decrease from 2009 to 2011.

Since, currently, financial resources are scarce, not only nationally, as the European level, it is important to understand all costs of the change in the law 16/2007, particularly in adolescence, a critical period in social terms.

The main objective of this study is to know strategies that can be implemented to minimize the costs to the entities of the National Health Service.

Methods: The study in question is a retrospective descriptive analysis of the IG at the option of women and teenage pregnancy, from 2007 to 2011. Resorted to data from INE, the DGS, the Portuguese Federation for Life, the Administrative Rule no. 781-A/2007 and Central Administration of the Health System.

Results: Based on the above data it was found that was spent € 30,919,625.05, taking into account the minimum cost to the IG and surveillance of teenage pregnancies or € 69,206,158.82, calculating the maximum value.

Conclusion: The costs of the IG at the option of surveillance of women and teenage pregnancies could be reduced with the systematic prevention of teenage pregnancy, as well as changing the current law on IG.

Keywords: termination of pregnancy for women's choice; teenage pregnancy; costs;

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V Introdução ... - 1 - 1. ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL ... - 4 - 1. 1. Adolescência e Gravidez ... - 4 - 1.1.1 Adolescência ... - 4 - 1.1.2 Gravidez na Adolescência ... - 8 -

1.2 – Interrupção da Gravidez por opção da mulher ... - 13 -

1.3 – Prevenção da Gravidez ... - 24 -

1.4 – Análise de custos ... - 30 -

2. Metodologia ... - 32 -

3. Resultados ... - 34 -

3.1 Custo máximo e mínimo por procedimento e total a nível Nacional ... - 34 -

3.2 Custos da IG por opção da mulher em adolescentes ... - 37 -

3.3 Custo das repetições da IG por opção da mulher ... - 39 -

3.4 Custo da vigilância da gravidez na adolescência ... - 40 -

4. Análise e Sugestões ao Projeto de Prevenção da Gravidez vigente em Portugal ... - 44 -

5. E se a Lei sobre a IG fosse alterada? ... - 49 -

6. Discussão, conclusões e sugestões ... - 55 -

7. Referências Bibliográficas ... - 64 - ANEXOS... Anexo I ... Anexo II ... INDICE DE GRÁFICOS VI INDICE DE TABELAS VI

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VI Gráfico 1 - Número total de adolescentes que recorreram à IG por opção com idade inferior a 15

na os e entre os 15 e os 19 anos de idade, por cada ano ... - 38 -

Gráfico 2 - Número de IG por procedimento medicamentoso e cirúrgico, na adolescência, por cada ano ... - 38 -

Gráfico 3 - Número de repetições de IG por opção da mulher, de 2008 a 2010 ... - 40 -

INDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Custo mínimo gasto pelo Estado nas IG por opção da mulher, por cada ano e nos quatro anos e meio ... - 35 -

Tabela 2 - Custo da IG através do procedimento medicamentoso em ambulatório, por cada ano e nos quatro anos e meio ... - 35 -

Tabela 3 - Custo da IG através do procedimento cirúrgica em ambulatório, por cada ano e nos quatro anos e meio ... - 36 -

Tabela 4 - Custo máximo gasto pelo Estado nas IG por opção da mulher, por cada ano e nos quatro anos e meio ... - 36 -

Tabela 5 - Custo da IG através do procedimento medicamentoso com internamento, por cada ano e nos quatro anos e meio ... - 36 -

Tabela 6 - Custo da IG através do procedimento cirúrgico com internamento, por cada ano e nos quatro anos e meio ... - 36 -

Tabela 7 - Número de IG por opção da mulher, por instituição pública e privada por cada ano- 37 - Tabela 8 - Custo por procedimento em ambulatório, de IG por opção da mulher, e custo total, por cada ano e nos quatro anos e meio, na adolescência ... - 39 -

Tabela 9 - Custo por procedimento com internamento, de IG por opção da mulher, e custo total, por cada ano e nos quatro anos e meio, na adolescência ... - 39 -

Tabela 10 - Custo mínimo anual e total das repetições da IG por opção da mulher ... - 40 -

Tabela 11 - Custo máximo anual e total das repetições da IG por opção da mulher ... - 40 -

Tabela 12 - Custo por procedimento de vigilância da gravidez ... - 42 -

Tabela 13 - Cálculo do preço a pagar por cada utente, de acordo com procedimento realizado, através de percentagens diferentes de taxas moderadoras ... - 52 -

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VII ACSS - Administração Central do Sistema de Saúde

APF - Associação para o Planeamento Familiar

ARS – Administração Regional de Saúde

CNAC - Campanha Nacional pelo Aborto e Contraceção

DGS – Direção-Geral de Saúde

GDH - Grupos de Diagnósticos Homogéneos

HPV - Vírus do Papiloma Humano

IVG - Interrupção voluntária da gravidez

IG – Interrupção da gravidez

IST – Infeções Sexualmente Transmissíveis

IG – Interrupção da Gravidez

LVT – Lisboa e Vale do Tejo

MCALG - Movimento para a Contraceção e Aborto Livre e Gratuito

OMS - Organização Mundial da Saúde

PCP – Partido Comunista Português

SIECUS - Sexuality Information and Education Council of the United States

SNS – Serviço Nacional de Saúde

UE – União Europeia

UCSP – Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados

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VIII WHO – World Health Organization

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- 1 -

Introdução

De acordo com Dias et al, “O conhecimento sobre as características da ocorrência da interrupção voluntária da gravidez [IVG] numa população é fundamental para compreender o padrão de fertilidade dessa população, para prevenir os riscos associados à realização da IVG e para planear os serviços, nomeadamente os relacionados com as actividades de saúde materno-infantil e planeamento familiar (…).” (2000: 55).

Em Portugal, embora existam alguns estudos sobre a interrupção da gravidez (IG) por opção da mulher, estes têm maior impacto no estudo psicológico das mulheres que recorreram à IG. Numa altura em que atravessamos uma crise financeira grave, torna-se importante compreender os custos dos cuidados de saúde.

O estudo descritivo, em causa é relevante em termos sociais e económicos, uma vez que, atualmente, vivemos uma situação de escassez de recursos financeiros a nível nacional. Desta forma, torna-se importante compreender os custos originados pela mudança na lei relativamente à IG por opção da mulher, nomeadamente na adolescência, período crítico em termos sociais. Pretende-se conhecer se o financiamento existente para a IG por opção da mulher poderia ser transferido para outro projeto do Serviço Nacional de Saúde (SNS), com uma vasta amplitude, que aposte numa melhor prevenção da gravidez neste grupo etário.

Desta forma, torna-se essencial a procura de estratégias e a implementação de intervenções para a promoção da saúde e prevenção, tratamento e recuperação da doença.

Os objetivos do estudo prendem-se com os custos da interrupção da gravidez, por opção da mulher desde 2007 até 2011 inclusive, os custos da vigilância da gravidez na adolescência, bem como com a análise do programa de prevenção da gravidez vigente no nosso país.

Esta descrição de custos tem a perspetiva do SNS, uma vez que “ (…) é um conjunto ordenado e hierarquizado de instituições e de serviços oficiais prestadores de cuidados

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- 2 - de saúde, funcionando sob a superintendência ou a tutela do Ministério da Saúde. (…) [, tendo como objetivo] a efetivação, por parte do Estado, da responsabilidade que lhe cabe na proteção da saúde individual e coletiva” (Silva, 2011: 1689).

- Descrevem-se alguns conceitos relativamente à adolescência, à gravidez nesta classe etária, à evolução histórica e dados atuais sobre a IG por opção da mulher.

- Serão apresentados alguns dos custos (apenas os custos diretos) no período de 15 de Julho de 2007 até 31 de Dezembro de 2011, relativos a esta questão.

- Pretende-se ainda descrever, analisar o atual projeto de prevenção da gravidez a nível nacional e apresentar propostas de melhoria para o mesmo.

- Na perspetiva de introduzir uma mais-valia na redução de custos para as Entidades do SNS, apresenta-se uma proposta de alteração da lei vigente na IG, por opção da mulher.

Desta forma, para esta análise descritiva os objetivos são:

1. Conhecer qual/quais a(s) estratégia(s) de forma a minimizar os custos para as Entidades do Serviço Nacional de Saúde inerentes às interrupções da gravidez (IG), por opção da mulher.

1.1 Descrever o custo total da interrupção da gravidez, por opção da mulher desde 2007 até 2011;

1.2 Descrever o custo total da reincidência da interrupção da gravidez, por opção da mulher;

1.3 Quantificar os custos associados às interrupções da gravidez, por opção da mulher, em Portugal, por ano;

1.4 Quantificar os custos associados às reincidências das interrupção da gravidez, por opção da mulher, em Portugal, por ano;

1.5 Quantificar o custo médio da vigilância da gravidez na adolescência, em Portugal;

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- 3 - 1.6 Descrever o programa vigente de prevenção da gravidez, em

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1. ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL

1. 1. Adolescência e Gravidez

“É a adolescência com toda a sua fragilidade, onde uma personalidade mal definida se constrói, lentamente, num suporte instável…É o crescer” (Amaral e Grilo, 2007: 44). O presente capítulo é referente à perspetiva do que é a adolescência e, consequentemente, sobre a gravidez nesta etapa de vida de uma pessoa. Desta forma, a primeira parte será sobre a definição de adolescência e como se forma um adolescente, desde a transição de criança até fase adulta. A segunda parte é alusiva à definição de gravidez e maternidade de uma forma geral, confluindo para a gravidez na adolescência, de forma a dar uma perspetiva do jogo de sentimentos vividos pelos adolescentes quando esta situação acontece.

1.1.1 Adolescência

A palavra adolescência descende de “(…) adolescere: crescer, desenvolver-se” (Almeida, 2007: 47), sendo a altura em que se dá uma reaceleração do crescimento do jovem. Esta etapa é considerada a mais agitada da vida humana, existindo um conflito interior no adolescente (idem). Braconnier e Marcelli referem que a adolescência é “(…) um grupo social autónomo, com uma especificidade própria e caracterizando um período de vários anos de existência, (…)” (2000: 39).

Atualmente, na nossa sociedade, é dada importância à infância e à adolescência. No entanto, estes períodos temporais nem sempre foram entendidos como especiais, tornando estes fenómenos recentes. Braconnier e Marcelli, citando Philippe Ariès, mencionam, ainda, que “(…) a criança passava directamente e sem intermediário das saias das mulheres – da sua mãe, da sua «vó» ou «mãe grande» – para o mundo dos adultos. Ela queimava as fases da juventude ou da adolescência. De criança passava imediatamente a pequeno adulto, vestido como os homens ou como as mulheres, no meio deles, sem outra distinção sem ser o tamanho (…)” (2000: 39).

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- 5 - Segundo a World Health Organization (WHO) (2012) a adolescência é definida pelos indivíduos com idade entre os 10 e os 19 anos de idade, sendo entendida e vivida de maneiras diferentes de acordo com as culturas existentes. De acordo com esta organização, a adolescência é um período de mudanças físicas, psicológicas, emocionais, associadas à puberdade.

Segundo Almeida, “A evolução psicológica do adolescente processa-se (…) em quatro campos: no emocional, no sexual, no intelectual e no social” (2007: 57). Este autor refere ainda que existem cinco passos indispensáveis no desenvolvimento do adolescente, sendo eles: “A interiorização das alterações físicas; O estabelecimento de um novo tipo de relações, primeiro isossexuais e, depois, heterossexuais; O aparecimento de um comportamento social responsável; A evolução para uma personalidade em equilíbrio com os valores éticos da cultura vigente [e] A capacidade para planear e orientar as suas actividades futuras” (idem). Estas etapas culminam assim com a aquisição de identidade e de autonomia, que determinam o fim da adolescência.

De acordo com a teoria do desenvolvimento psicossocial, de Erik Erikson, o/a adolescente encontra-se na quinta idade, denominada Identidade versus

Difusão/Confusão. (Sprinthall e Collins, 2003; Erikson, 1971). Esta caracteriza-se pela vertente positiva que corresponde à aquisição da identidade e, pela vertente negativa, relativa a sentimentos de confusão/difusão, defendendo que é na adolescência que se forma a identidade. A identidade é considerada como o desenvolvimento de “ (…) transformações pessoais [como, por exemplo, a maturidade sexual, a interacção e a relação íntima com os pares, modificação da personalidade, resultante da questão «Quem sou eu?»], das exigências sociais e das expectativas em relação ao futuro” (Sprinthall e Collins, 2003: 201-202).

A sexualidade insere-se na construção da identidade, passando também por um processo de maturação e evolução. Quando falamos em sexualidade, não nos podemos cingir apenas à capacidade de reprodução e do ato sexual em si, pois existem fatores psicossociais que influenciam a vivência da mesma (Johnson, 1999). Sucede assim que, “O auto-conceito e identidade psicossexual e a identidade, referem-se ao sentido individual interno da sexualidade, como a imagem corporal, a identificação com o facto

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- 6 - de se ser homem ou mulher e a aprendizagem dos papéis definidos para homem e mulher.” (Johnson, 1999: 757). A sexualidade é, desta forma, “ (…) não apenas um fenómeno biológico, mas também um fenómeno afetivo, emocional, intelectual e social.” (Almeida, 2007: 150).

Santos menciona que para uma parte dos jovens da nossa sociedade, “ (…) a vivência da sexualidade resume-se a carícias, a troca de beijos e ao contacto de pele com pele, de corpo com corpo, mas para muitos outros, as primeiras experiências sexuais ocorrem durante a adolescência.” (2003: 36). De acordo com esta autora existem múltiplos fatores para que os adolescentes iniciem relações sexuais durante esta etapa de vida. Os fatores propostos pela autora são: “O anormal alongamento do intervalo que vai do aparecimento dos instintos sexuais e da capacidade de procriar à estabilidade profissional e económica (…); A procura de autonomia; A procura de identidade sexual; A curiosidade, o desejo de correr riscos (…); As pressões do grupo de pares e do parceiro; O desejo de emancipação; A afirmação da maturidade [e] Pressão dos

mass-media.” (idem).

Conforme diversos estudos, os adolescentes iniciam as suas atividades sexuais mais cedo, não estando, no entanto, associado a uma educação sexual mais sólida, levando à não utilização dos métodos contracetivos (biidem).

Segundo Brazelton e Greenspan (2004) são muitas as famílias que lutam contra a falta de tempo para todos os elementos estarem juntos. Os mesmos autores mencionam que “(…) os progenitores trabalham para ajudar o orçamento ou para aumentar as economias da família, ficando com pouco tempo livre para esta. A educação tem vindo a tornar-se mais impessoal, com uma orientação mais tecnológica, perdendo o seu cariz pessoal. Também as famílias, nas suas relações interpessoais, têm revelado uma tendência para modos de comunicação mais impessoais. O correio electrónico está a substituir os almoços em conjunto e o tempo que se passa em frente do ecrã está a substituir muitas outras formas de interacção pessoal.” (2004: 17-18).

Como menciona Abreu, “ (…) a comunicação verbal na família acerca da sexualidade é apenas uma das fontes possíveis da aprendizagem sexual, mas não é, certamente, a mais importante. De facto, a linguagem afectivo-sexual tem múltiplas expressões. Tomem-se

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- 7 - alguns exemplos, o modo como cada elemento da família exerce o seu papel sócio-sexual e como é, sistematicamente organizado o conjunto familiar, a proximidade ou a distância física, as reacções mínimas acerca de acontecimentos que se relacionem com esta temática, os comentários sobre os comportamentos de outras pessoas ou sobre acontecimentos públicos e o silêncio, voluntários ou involuntários, em torno da temática afectivo-sexual, são factores determinantes na educação sexual no seio familiar.” (2008: 64).

Quando o adolescente se insere na sociedade, os comportamentos e pensamentos que adquire no seu contexto familiar vão complementar-se, reforçar-se, ou desvanecer-se. Em sociedade surgem também muitas questões, pois cada jovem teve particularidades específicas nas suas aprendizagens em família, existindo diversos contextos, correspondentes a diferentes experiências de vida e formas de comunicação, dependendo da própria família, dos amigos, do ensino escolar, com os respetivos professores, os profissionais de saúde que os assistem e as redes sociais existentes.

Desde cedo o Homem inicia a vida social fora de casa, frequentando uma ama, um jardim-de-infância, uma creche, e assim sucessivamente, onde irá estabelecer novas amizades e conhecer novas pessoas com características e personalidades diferentes e específicas. Os grupos de pares começam a formar-se desde então. No entanto, segundo Lourenço a “ (…) pertença a um grupo é uma tarefa crucial para o adolescente porque a ela se liga a definição de si próprio. Quem sou eu?) é indissociável de A quem pertenço? (Soares, 1990). [O grupo de pares] é fonte de segurança e ligação emocional. Mais neutro e mais aberto do que a família, é a forma reassegurante e a força de socialização, espaço onde o adolescente se pode afirmar e que o pode confirmar.” (1998: 106) pois, é na interação com os outros que se vão desenvolvendo competências afetivas, sociais, cognitivas e intelectuais.

Segundo Birren et al (1981), citado por Lourenço, o grupo de pares apresenta três características principais “ (…) – facilitar a separação do indivíduo em relação à família permitindo, com mais segurança, aprender a pensar independentemente e a experimentar outros valores não necessariamente aceitáveis na família, enquanto recebe algum reforço do grupo; - desenvolvimento de um certo grau de conformismo face às

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- 8 - normas, essencial para a sobrevivência social, e a distinção entre limites pessoais e sociais ou convencionais; - desenvolvimento de um autoconceito positivo. É a aceitação do grupo de pares que reassegura o indivíduo de que a sua aceitação foi merecida e não oferecida” (1998: 106).

Durante a adolescência vão-se constituindo novas relações com pares de ambos os sexos. “Integrar um grupo de amigos e namorar faz parte do percurso normal do adolescente, permite caminhar no sentido da adultez. Devendo ser respeitado pela escola e, evidentemente, pela família. O direito à privacidade e intimidade não pode, nunca, ser desprezado” (Lourenço, 1998: 109). Para este autor, “Saudável será que a família veja no grupo do seu filho adolescente, onde já se poderá encontrar aquela ou aquele «especial», um aliado na descoberta de si próprio e da felicidade, nem que para isso dê algumas «turras».” (1998: 109). Assim, pode-se afirmar que desde que uma pessoa entra para a escola, a sua família irá criar um laço inevitável com a mesma. “É o jovem que entra para a escola que vai estabelecer a maior parte da comunicação entre a escola e a família.” (idem). No entanto, devido às expectativas e exigências feitas tanto por parte da escola, como por parte dos progenitores, os jovens, por vezes não conseguem dar respostas adequadas ao que se lhes propõem, como é exemplo, a gravidez na adolescência (biidem). Para se poder compreender os adolescentes e as suas necessidades é essencial que a sociedade, escola, pais, amigos, os ouçam e os acompanhem (Braconnier e Marcelli, 2000). Apesar disto, estes autores referem que “(…) os jovens mantêm-se fiéis a valores transmitidos, tais como a família, o conforto e a segurança, mas adaptam-nos e procuram prolongar certas formas de situação provisória.” (2000: 42).

1.1.2 Gravidez na Adolescência

Gravidez e maternidade são conceitos que normalmente aparecem interligados. No entanto, representam processos distintos, quer do ponto de vista psicológico quer do físico. Canavarro e Pereira afirmam “Todos sabemos que o facto de uma mulher estar grávida, infelizmente, não assegura a posterior realização adaptativa das tarefas maternas” (2001: 19).

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- 9 - O percurso da gravidez apresenta experiências distintas de mulher para mulher, sendo essencial compreender as diferenças e representações, para se poder construir uma gravidez saudável e, consequentemente, uma maternidade saudável.

Assim, a experiência de gravidez e de maternidade dependem das representações mentais que a mulher tem destas, ou seja, depende dos significados que lhes são conferidos. É importante conhecer estas representações para que seja possível compreender melhor “ (…) o comportamento (seja ele ou não adaptativo) de uma mulher grávida ou de uma mulher que é mãe.” (Canavarro e Pereira, 2001: 20).

A gravidez e a maternidade correspondem a períodos de desenvolvimento, pelo que é fundamental resolverem-se tarefas desenvolvimentais. Os autores citados anteriormente (2001) definiram seis tarefas desenvolvimentais principais da maternidade, sendo que estas tarefas na gravidez “ (…) permitem que o projecto de maternidade se continue a construir e consolidar de forma progressiva.” (2001: 20), sendo as seis etapas as seguintes: aceitação da gravidez; diferenciação progressiva, mãe-feto, “ (…) que se traduz na aceitação do feto como entidade separada, como um indivíduo distinto de si própria” (idem: 39); reavaliação da relação criada no passado e no presente com os próprios pais, particularmente com a mãe; preparação do casal para integrar o novo ser na sua relação, na qual a mulher reavalia e reestrutura a relação com o companheiro; sentimentos de ambivalência vividos pela mulher grávida, pois se por um lado anseia a hora do parto para ver o seu bebé, por outro quer prolongar a gravidez de forma a “ (…) adiar o momento do parto e as novas exigências que o nascimento do bebé acarreta.” (biidem: 42) e, por fim, a integração da identidade materna.

“A gravidez na adolescência desencadeia um conjunto de perturbações não só na

adolescente, que enfrenta diferentes processos de transformação, como também na sua família” (Amaral e Grilo, 2007: 42).

Benoit et al (1998 in Lourenço, 1998), citados por Pedro (2003), consideram que a gravidez na adolescência é um indício de disfuncionamento familiar. As sucessivas alterações do próprio núcleo familiar com o decorrer dos tempos têm, por conseguinte, tornado as famílias incapacitadas de garantir um desenvolvimento saudável dos seus adolescentes. Esta característica conduziu à delegação da educação sexual às escolas.

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- 10 - Almeida fortalece ainda a ideia de que a gravidez na adolescência “ (…) não resulta somente da falência dos métodos anticoncepcionais. (…) A gravidez em adolescentes é, antes de tudo, a falência de um sistema cultural.” (2007: 240).

As causas da gravidez na adolescência são de natureza variável, estando relacionada com diversos fatores. Segundo Santos, estes fatores estão relacionados “ (…) com o processo de desenvolvimento dos jovens, outros com a família e a sociedade. Algumas das características sociais, ambientais ou psicológicas, comumente apontadas são a pobreza, a baixa auto-estima, consumo de drogas, adolescentes vítimas de abuso sexual, negligenciadas ou provenientes de famílias violentas.” (2003: 36). Na verdade, apesar das campanhas existentes acerca do uso dos métodos contracetivos e da informação que chega até às pessoas sobre diversas formas, ainda há um conhecimento escasso sobre a saúde sexual e reprodutiva, tanto do homem, como da mulher, e do planeamento familiar. Por outro lado, mesmo quando os adolescentes conhecem os métodos contracetivos disponíveis atualmente, a utilização destes pode estar comprometida, uma vez que os adolescentes, por vezes, não apresentam a maturidade suficiente para os poderem utilizar responsavelmente. Esta fraca ou inexistente utilização de contracetivos relaciona-se ainda, com as características próprias do desenvolvimento que caracterizam os adolescentes. Estes têm, muitas vezes, um sentimento de invulnerabilidade, não antecipando as consequências que os seus comportamentos poderão ter (Aretaris, 1999).

Uma das razões para a ocorrência da gravidez na adolescência é “ (…) o anormal alongamento do intervalo que vai do aparecimento dos instintos sexuais e da capacidade para procriar à possibilidade profissional e económica de constituir família.” (Almeida, 2007: 232).

Almeida expõe que a adolescente tem múltiplos e complexos motivos que a levam a iniciar precocemente a sua vida sexual, sendo que, “ (…) trata-se de uma procura de identidade, identidade que encontram no seu papel de grávidas” (2007:233). O mesmo autor afirma ainda que por vezes, estas razões estão relacionadas com a necessidade de a jovem afirmar a sua feminilidade, de competir com a mãe ou pelo contrário encontrar pontos comuns com ela. Outros fundamentos, são respeitantes à vontade de magoar e

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- 11 - desafiar os pais, de mostrar a sua revolta contra a família e com a “(…) necessidade de compensação de carências afectivas.” (idem). A acrescentar, de acordo com Braconnier e Marcelli “ (…) algumas adolescentes procuram, por vezes, agressivamente, aceder a um estatuto através da sua gravidez: o de uma mulher adulta, senhora do seu corpo e do seu destino.” (2000: 120). Canavarro e Pereira afirmam ainda que a maternidade “ (…) pode surgir, (…), perspectivada como um porto de abrigo e uma forma gratificante e segura de dar e receber amor.” (2001: 30). Seja qual for o motivo da adolescente é preciso ter sempre em conta que a adolescente grávida ao tomar conhecimento do acontecimento “(…) pode experimentar sentimentos de insegurança, desespero, desorientação, sendo-lhe exigida uma tomada de decisão relativamente ao futuro.” (Amaral e Grilo, 2007: 42).

Segundo Pedro (2003) a gravidez nesta fase de vida acarreta riscos a vários níveis, quer para a saúde da adolescente, quer para a saúde do bebé. Segundo Carpinteiro (2004), as consequências para ambos são de natureza diversa, podendo estas ser orgânicas, psicológicas e sociais.

A gravidez e a maternidade na adolescência representam na sociedade ocidental um problema, tendo muitas vezes consequências negativas na vida dos jovens, particularmente pela dependência económica da jovem, bem como a do companheiro, na maioria dos casos (Figueiredo, 2001). “O contexto de existência muitas vezes associado à maternidade na adolescência é desfavorável sob diversos pontos de vista, sendo particularmente nefasto o efeito das seguintes circunstâncias adversas: baixo nível sócio-económico, baixo nível educativo e monoparentalidade.” (Figueiredo, 2000: 486).

Almeida (2007) refere que em termos educacionais, muitos dos adolescentes acabam por abandonar a escola uma vez que têm de ir trabalhar para sustentar o novo elemento da família, diminuindo assim, a possibilidade de uma melhor formação académica. Estes jovens acabam por procurar um emprego, no qual a sua satisfação, por vezes, é baixa, com pouca possibilidade de sucesso e ascensão na carreira profissional. Amaral e Grilo referem no seu estudo, que, relativamente às “ (…) vivências negativas, destacou-se o abandono escolar, destacou-sendo que os motivos apredestacou-sentados pelas adolescentes grávidas

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- 12 - vão desde não se sentirem bem na escola, à falta de projectos para o futuro (…).” (2007: 43). Figueiredo, através de outros autores, cita as mesmas características relativamente às consequências adversas de uma maternidade precoce: “ (…) níveis menos elevados de ensino; dificuldades económicas; desemprego; emprego mal remunerado, ou instabilidade no emprego; divórcio; monoparentalidade; segunda gravidez; e problemas psicológicos.” (2000: 486).

As adolescentes grávidas constituem um grupo vulnerável na sociedade, porque, por vezes, “Os pais reagem, em geral, com zanga, desapontamento, vergonha e sentimentos de culpa (…).” (Almeida, 2007: 234), recusando a sua presença no lar. Uma vez que é economicamente dependente, a adolescente poderá não ter recursos suficientes para sobreviver, tendo de se dirigir a instituições de solidariedade social que acolhem as grávidas adolescentes e ajudam-nas a desenhar os seus projetos de vida.

Para além das consequências sociais, existem também algumas consequências psicológicas. Amaral e Grilo referem que “Ao saber que está grávida a adolescente pode experimentar sentimentos de insegurança, desespero, desorientação, sendo-lhe exigida uma tomada de decisão relativamente ao futuro.” (2007: 42).

“Ser pai/mãe implica amar, preocupar-se com, e ser capaz de fornecer os cuidados que

a criança necessita para se desenvolver.” (Johnson, 1999: 760). Contudo, os adolescentes ao descurarem e negligenciarem as suas necessidades de desenvolvimento próprias desta faixa etária, torna-se mais difícil a transição para a idade adulta, o que faz com que desenvolvam “ (...) pouca capacidade para compreenderem abstracções e resolver problemas.” (idem).

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1.2 – Interrupção da Gravidez por opção da mulher

Segundo Sereno et al, citando Organização Mundial da Saúde (OMS) (1970), “A interrupção da gravidez, aborto induzido ou aborto electivo pode ser definida como “a interrupção da gestação antes que o embrião ou feto seja viável, ou seja, capaz de levar uma vida extra-uterina independente” (…) Do ponto de vista psicológico, a IG pode ser entendida como uma experiência com importantes significações e implicações emocionais, intimamente relacionadas com as características de personalidade e as experiências prévias de cada mulher, as suas relações interpessoais, as suas crenças religiosas, as suas contingências de vida e o ambiente social, cultural e legal circundante (Stotland, 2000).” (2012: 66).

As opiniões referentes à interrupção da gravidez por opção da mulher nunca foram unânimes. Como Jacobsen refere, “O papel atribuído pela sociedade à mulher, o modo de se conceber feto e gravidez, bem como interesses políticos prevalentes têm delineado decisiva e diversamente a história do aborto desde a antiguidade.” (2009: 102).

De acordo com Galeotti (2004), citada por Jacobsen “(…) a linha divisória fundamental da história do aborto encontra-se no século XVIII quando, a partir dos descobrimentos médicos e sob ratificação dos Estados nacionais que se consolidaram após a Revolução Francesa, começou-se a privilegiar a vida do feto, futuro trabalhador e soldado.” (2009: 102). Antes desta data esta questão era fundamentalmente da mulher, uma vez que “O feto, (…), era considerado simples apêndice do corpo da mãe.” (Idem).

Durante o século XIX até às décadas de 1960 e 1970, o Estado assume outra tendência, a de “(…) privilegiar a vida do feto mediante uma repressão mais intensa do aborto. As mulheres passam a ser castigadas com severidade e a discussão em torno da hominização, (…), simplesmente desaparece, uma vez que a medicina confirmava a existência do feto como uma entidade autónoma.” (Jacobsen, 2009: 103).

Até à segunda metade do século XX a interrupção da gravidez era ilegal na maior parte do globo. “Na década de 50 inicia-se o processo de introdução de legislação destinada a permitir a interrupção voluntária da gravidez em condições seguras, procurando dar resposta à clara percepção de que o aborto inseguro e clandestino representava um risco para a saúde das mulheres, provocando em muitos casos a sua morte. Nas décadas de

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- 14 - 60, 70 e 80 o processo vai estender-se à maioria dos Estados Europeus.” (Juventude Socialista, 2006: 7).

Para abordar o tema sobre a despenalização da IG por opção da mulher, existiram ao longo dos tempos conferências e convenções para dar respostas a esta situação. Assim, em 1979, “A Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, (…), prevê que todos os Estados garantam aos homens e mulheres os mesmos direitos para decidir livre e responsavelmente sobre o planeamento familiar; em 1974 no Cairo, A Conferência Internacional das Nações Unidas sobre a População e Desenvolvimento, (…), considerou que o aborto ilegal e sem segurança representa uma dos mais graves problemas de saúde pública da actualidade; em 1995, em Pequim, a plataforma de acção resultante da quarta Conferência das nações Unidas sobre as Mulheres, (…), afirma o direito das mulheres em controlarem e decidirem livre e responsavelmente sobre todos os assuntos que dizem respeito à sua saúde sexual e reprodutiva e, ainda, O Parlamento Europeu, no seu relatório sobre saúde sexual e reprodutiva de 2002, recomenda aos Estados membros da união Europeia que, no contexto de uma política integrada de planeamento familiar, de informação sobre contracepção e de criação de serviços especializados de saúde sexual e reprodutiva, a interrupção voluntária da gravidez seja legal, segura e universalmente acessível a fim de salvaguardar a saúde das mulheres.” (idem).

Torna-se importante compreender o que se passava nos outros países e as soluções encontradas pelos mesmos. A legislação relativamente à IG, por opção da mulher foi adotada nas décadas de 70 e 80 do século XX, na maioria dos Estados. Em 2006 a maioria dos Estados Europeus permitem a realização da interrupção da gravidez não desejada por opção e solicitação da mulher. “Alemanha, Dinamarca, França, Itália, Áustria e Grécia é permitida a interrupção da gravidez por solicitação da mulher até às 12 semanas.” (Juventude Socialista, 2006: 8), sendo que na Suécia a interrupção pode ser realizada até às 18 semanas e, na Holanda, Finlândia e Reino Unido até às 24 semanas (idem).

Em Portugal, “O primeiro posicionamento escrito sobre o direito ao aborto, reporta a 1974, (…). Defendia-se o direito ao aborto livre e gratuito por decisão da mulher, assim

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- 15 - como a necessidade de campanhas pela educação sexual. O manifesto de lançamento da MCALG – Movimento para a Contracepção e Aborto Livre e Gratuito, em 1975, exigia: “Abolição da lei fascista sobre o aborto; contracepção e aborto livre e gratuito; difusão de contraceptivos nas escolas, bairros, fábricas e zonas rurais; informação sexual livre de conceitos pseudo moralistas; não ao aborto unicamente terapêutico decidido por juntas médica”.” (Tavares, 2003: 1).

Em 1977, “ (…) o texto da Petição dirigida à Assembleia da República, (…) reclamando a alteração do artigo do Código Penal de 1886 criminalizador do aborto, alterava o discurso ate aí produzido.” (idem). O aborto é assim visto como um problema de saúde pública, sendo que “ (…) 2 mil mulheres morriam em Portugal pela prática de aborto clandestino (…).” (biidem) e anualmente eram realizados cem mil abortos de forma ilegal e insegura.

Em 1979, a Campanha Nacional pelo Aborto e Contraceção (CNAC) apresentava como ideias: primordiais: “ (…) as mulheres arriscam-se a morrer com o aborto clandestino; o aborto é a 3ª causa de morte materna; faltam creches; o primeiro direito de uma criança é nascer desejada. No entanto, não deixava de colocar que o direito ao aborto era um direito democrático elementar.” (Tavares, 2003: 1).

Em 1980 saiu outro comunicado da CNAC com o tema dos direitos das mulheres à saúde e no aborto clandestino, tendo sempre em conta que a maternidade deve ser consciente, vivida e, acima de tudo, desejada. Contra estes argumentos do não ao aborto clandestino e sim à despenalização da interrupção da gravidez, encontra-se a Igreja Católica, que refere segundo João Paulo II, na Exortação Apostólica, Familiaris

Consortio, citado por Tavares, que “ (…) o aborto é a destruição de um “ser humano” e

de que “a vida humana mesmo débil e com sofrimento, é sempre um esplêndido dom do Deus da Bondade”.” (2003: 4).

Segundo a Direção Nacional da Associação para o Planeamento Familiar (APF), “A despenalização da IG por opção da mulher começou por ser uma reivindicação dos movimentos de mulheres no pós 25 de Abril. Foi objecto de debates parlamentares em 1982, 1983/84, 1997, 1998 e 2004.” (2006: 5).

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- 16 - Desta forma, até 1984 a realização da interrupção da gravidez era ilegal e punível em Portugal, em qualquer circunstância. O que prevaleceu antes da alteração do Código Penal, com a aprovação da lei n.º 6/84 de 11 de Maio da despenalização em algumas situações de aborto foi o grave problema de saúde pública que existia com o aborto clandestino e o “flagelo social” (Tavares, 2003) apesar de se ter em conta, a liberdade de escolha e o direito à decisão individual. Esta lei veio admitir “ (…) a despenalização da interrupção voluntária da gravidez nos casos em que fosse indispensável para remover perigo de morte ou lesão grave e irreversível para a saúde física ou psíquica da mulher, em casos de grave doença ou malformação do feto e em caso de violação.” (Juventude Socialista, 2006: 9).

No entanto, esta nova lei era restritiva “ (…) quanto à admissibilidade da interrupção da gravidez com fundamento em lesão da saúde psíquica de mulher (…).” (idem). Esta restrição e a ausência de políticas assentes no planeamento familiar levaram a que se mantivesse o aborto clandestino entre 1984 e 1994. “De facto, apesar dos números oficiais indicarem a realização de 716 interrupções da gravidez legais naquele período, a APF estimava para 1993 a realização de cerca de 16 mil abortos clandestinos. Para além disso, no mesmo período, deram entrada nos hospitais 730 casos de complicações de saúde relacionadas com o aborto clandestino, valores que, ainda que subavaliados, ultrapassam o numero de interrupções da gravidez legais. Finalmente, e para o mesmo período, a Direcção Geral de Saúde (DGS) estima a morte de 46 mulheres vítimas de aborto clandestino.” (biidem).

Ao longo do tempo e, até 1997 foram feitas campanhas de despenalização da interrupção da gravidez por opção da mulher. Estas campanhas tinham em conta a existência do aborto clandestino em Portugal, que este mata e é um problema de saúde pública, sendo necessário terminar com o aborto ilegal e clandestino. Outros argumentos utilizados estavam relacionados com uma paternidade consciente, com a necessidade da existência de planeamento familiar para a sociedade, sendo que este não é suficiente para prevenir uma gravidez não desejada e pela saúde das mulheres. Ou seja, está em causa que “O recurso ao aborto deve ser reduzido e prevenido através do uso de contracepção segura e eficaz. (…) [e] o direito à saúde.” (APF, 2006: 7).

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- 17 - Em 1997, foram apresentados novos projetos na Assembleia da República sobre a despenalização da IG por opção da mulher, “ (…) visando a exclusão de punição da interrupção voluntária da gravidez quando realizada das primeiras 12 semanas a pedido da mulher.” (Juventude Socialista, 2006: 10). Estes projetos não foram aprovados, mas, no entanto, foi feita uma revisão do Código Penal. A 28 de Junho de 1998 foi efetuado um referendo para aprovar uma nova alteração, que admitia a IG até às 10 semanas a pedido da mulher e realizada em estabelecimento de saúde autorizado. No entanto, neste referendo existiu uma abstenção de quase 70%, não havendo na altura qualquer alteração à lei, mantendo-se assim o flagelo social, com a existência do aborto clandestino (idem). De acordo com a Direção Nacional da APF, “ (…) a vitória dos opositores à despenalização do aborto acabou por travar quaisquer mudanças legais e manter a situação.” (2006: 5).

Em 1999, conforme resultados do estudo realizado pela APF, constata-se que o número de abortos clandestinos se mantinha elevado, referindo que “ (…) “os dados apresentados reafirmam uma enorme discrepância entre uma pequena ilha de legalidade e segurança, e o oceano da ilegalidade e insegurança a que continuam a estar sujeitas as mulheres portuguesas que têm necessidade de interromper uma gravidez que, por diversos motivos, não desejam ou não podem prosseguir”.” (Vilar, 1998/99: 3).

Em 1997 a lei de 1984 sofreu uma alteração. Desta forma, a Lei n.º 90/97 de 30 de Julho, altera os prazos de exclusão de ilicitude nos casos de IG. Assim passa-se a ler no artigo 142, alínea c) “Houver seguros motivos para prever que o nascituro virá a sofrer, de forma incurável, de doença grave ou malformação congénita, e for realizada nas primeiras 24 semanas de gravidez, comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis, excepcionando-se as situações de fetos inviáveis, caso em que a interrupção poderá ser praticada a todo o tempo [e na alínea d)] A gravidez tenha resultado de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual e a interrupção for realizada nas primeiras 16 semanas.” (Diário da República, 1. a série — N.º 174—30 de Julho de 1997: 3930).

A 19 de Outubro de 2006 a Assembleia da República aprovou a seguinte pergunta para o referendo de 8 de Março de 2007: “Concorda com a despenalização da interrupção

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- 18 - voluntária da gravidez, ser realizada por opção da mulher, nas primeiras dez semanas em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?” (Juventude Socialista, 2006: 12).

Em 2007, foi aprovada uma nova lei, após o referendo. A Lei n.º 16/2007 de 17 de Abril, relativamente à exclusão da ilicitude nos casos de interrupção voluntária da gravidez, apresenta alterações no artigo 142:

“1 - Não é punível a interrupção da gravidez efectuada por médico, ou sob a sua direcção, em estabelecimento de saúde oficial ou oficialmente reconhecido e com o consentimento da mulher grávida, quando: (…)

c) Houver seguros motivos para prever que o nascituro virá a sofrer, de forma incurável, de grave doença ou malformação congénita, e for realiza nas primeiras 24 semanas de gravidez, excepcionando-se as situações de fetos inviáveis, caso em que a interrupção poderá ser praticada a todo o tempo; (…)

e) For realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas de gravidez.

2— A verificação das circunstâncias que tornam não punível a interrupção da gravidez é certificada em atestado médico, escrito e assinado antes da intervenção por médico diferente daquele por quem, ou sob cuja direcção, a interrupção é realizada, sem prejuízo do disposto no número seguinte.

3— Na situação prevista na alínea e) do n.º 1, a certificação referida no número anterior circunscreve- se à comprovação de que a gravidez não excede as 10 semanas.

4— O consentimento é prestado:

a) Nos casos referidos nas alíneas a) a d) do n.º 1, em documento assinado pela mulher grávida ou a seu rogo e, sempre que possível, com a antecedência mínima de três dias relativamente à data da intervenção;

b) No caso referido na alínea e) do n.º 1, em documento assinado pela mulher grávida ou a seu rogo, o qual deve ser entregue no estabelecimento de saúde até ao momento da intervenção e sempre após um período de reflexão não inferior a três dias a contar da data da realização da primeira consulta destinada a facultar à mulher grávida o acesso à informação relevante para a formação da sua decisão livre, consciente e responsável. 5— No caso de a mulher grávida ser menor de 16 anos ou psiquicamente incapaz, respectiva e sucessivamente, conforme os casos, o consentimento é prestado pelo

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- 19 - representante legal, por ascendente ou descendente ou, na sua falta, por quaisquer parentes da linha colateral.

6— Se não for possível obter o consentimento nos termos dos números anteriores e a efectivação da interrupção da gravidez se revestir de urgência, o médico decide em consciência face à situação, socorrendo-se, sempre que possível, do parecer de outro ou outros médicos.

7— Para efeitos do disposto no presente artigo, o número de semanas de gravidez é comprovado ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges

artis.»” (Diário da República, 1.a série—N.º 75—17 de Abril de 2007: 2417).

Assim, com esta nova lei passam a existir procedimentos, métodos específicos e esclarecidos para as mulheres que optam pela interrupção da gravidez.

Nos serviços de saúde, os profissionais de saúde poderão fornecer informações e/ou dar apoio através de: “Linhas telefónicas de atendimento sobre contracepção e interrupção da gravidez (…); Consulta de apoio à interrupção da gravidez dos Hospitais; Médico de Família; Consulta de Planeamento Familiar dos Hospitais e Centros de Saúde.” (Direcção-Geral da Saúde, 2007: 6).

Os procedimentos que se têm que ter em conta antes de uma IG por opção da mulher são: a consulta prévia, o apoio psicológico e pelo assistente social e as escolhas a fazer relativamente ao local da intervenção e ao método.

A consulta prévia é obrigatória e realizada antes da IG por opção da mulher. Para a marcação desta consulta, a mulher deve dirigir-se a um serviço de saúde ou a um médico à escolha. Segundo a Direcção-Geral da Saúde, “Se esse médico for objector de consciência e não concordar com a interrupção da gravidez, deve informar a mulher e indicar-lhe, de imediato, outros técnicos/serviços a que pode recorrer.” (2007: 9). Outra questão a ter em conta é relativamente aos riscos de uma IG por opção da mulher, que “ (…) são tanto menores quanto menor for o tempo de gestação, [sendo que] o período entre a marcação e a consulta não deve ser superior a 5 dias.” (idem).

Nesta consulta a mulher confirma a sua opção e intenção de recorrer à IG, é questionada relativamente à sua história clínica; é determinado o tempo de gestação, sendo este

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- 20 - mesmo confirmado por ecografia; a mulher é também informada sobre os diferentes métodos de interrupção da gravidez (cirúrgica e medicamentosa), são dadas informações sobre o processo; existe um esclarecimento sobre métodos contracetivos (dispositivo intrauterino, pílula, adesivo transdérmico, implante subcutâneo, preservativo masculino e feminino, anel contracetivo, diafragma, espermicidas, esterilização feminina – laqueação de trompas, esterilização masculina – vasectomia), para que a mulher possa escolher um e, a mulher ou responsável legal (para mulheres menores de 16 anos) assina o consentimento livre e esclarecido (Direção-Geral da Saúde, 2007). No final é marcada nova consulta onde será realizada a interrupção da gravidez, sendo obrigatório um período de reflexão de três dias entre a primeira consulta e a seguinte (idem).

Este período de reflexão serve também para a mulher pedir apoio psicológico ou de assistente social. O apoio psicológico neste caso está disponível para as mulheres poderem falar acerca da sua tomada de decisão de interromper a gravidez e o apoio da assistente social está disponível para as mulheres que pretendem seguir com a gravidez (Direção-Geral da Saúde, 2007).

As escolhas que uma mulher pode fazer são: se pretende que seja num hospital público ou privado ou se pretende que seja sem hospitalização, em ambulatório, sendo que neste caso a interrupção será medicamentosa.

“A interrupção cirúrgica da gravidez pode ser praticada ate à 10ª semana de gravidez, e

terá que ser feita obrigatoriamente num estabelecimento de saúde oficial ou oficialmente reconhecido. A interrupção medicamentosa da gravidez pode ser praticada ate à 9ª semana de gravidez em regime de ambulatório, num estabelecimento oficial ou oficialmente reconhecido.” (Direção-Geral da Saúde, 2007: 13).

O método cirúrgico “ (…) consiste na remoção do conteúdo uterino por aspiração ou curetagem, [recorrendo a] anestesia local ou geral. (…) Uma hospitalização de algumas horas é suficiente numa situação de interrupção da gravidez, mesmo se praticada sob anestesia geral.” (Direção-Geral da Saúde, 2007: 14). As complicações deste método são raras e é um método eficaz, com uma “ (…) taxa de sucesso médio de 99,7%.” (idem).

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- 21 - O método medicamentoso “ (…) consiste na administração de 2 medicamentos diferentes com intervalo de 36/48 horas. Este método não necessita de hospitalização, mas a toma dos comprimidos deve ser feita rigorosamente de acordo com a indicação médica. (…) está contra-indicado quando coexistam algumas doenças ou situações clínicas como a gravidez ectópica. (…) os efeitos da interrupção medicamentosa da gravidez são comparáveis aos de um aborto espontâneo e incluem hemorragia e dores abdominais ligeiras ou moderadas. Por vezes podem ocorrer náuseas, vómitos e diarreia. (…) É obrigatória uma consulta médica de controlo após a toma dos medicamentos, para verificar se a interrupção foi bem sucedida. (…) Será marcada uma consulta de planeamento familiar.” (Direção-Geral da Saúde, 2007: 16-17). As complicações deste método são raras e, “Em cerca de 2 a 5% dos casos, a expulsão do conteúdo uterino não será completa e a mulher necessitará de realizar uma aspiração/curetagem para concluir o processo.” (idem).

Os estabelecimentos oficiais ou oficialmente reconhecidos a nível nacional podem ser observados no Anexo I.

Após a apresentação da história da interrupção da gravidez por opção da mulher a nível nacional, torna-se importante conhecer os dados estatísticos, desde 2007 até 2011.

Assim sendo, relativamente ao ano 2007 (15 de Julho a 31 de Dezembro), segundo o estudo estatístico-epidemiológico das interrupções da gravidez por opção da mulher, realizadas em Portugal a pedido da Direcção-Geral da Saúde, verifica-se que das 6287 mulheres que realizaram uma interrupção da gravidez, 6107 foram opção da mulher, o que corresponde a 97,2% dos motivos para as interrupções. É de valorizar que 58,1% foram em Lisboa e Vale do Tejo e 19,2% foram efetuadas no Norte do país, como é possível observar na tabela 20 (anexo II).

Ainda relativamente ao ano 2007, torna-se relevante ter conhecimento dos dados relativamente à faixa etária. É possível constatar através da tabela 21 (anexo II), que 0,4% das IG, por opção da mulher, foram realizadas por mulheres com menos de 15 anos, 10,2% por mulheres com idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos. A maioria destas interrupções foi realizada por mulheres entre os 20 e os 34 anos de idade, com 65,8% do total.

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- 22 - No gráfico 4, que se encontra no anexo II, pode ser observado que as maiorias das IG, por opção da mulher, são realizadas por mulheres solteiras (57%), seguido das mulheres casadas (32%).

Outro dado importante para compreender a evolução estatística da IG por opção da mulher, são as interrupções de repetição. Assim sendo, em 2007, a maioria das mulheres realizou a primeira IG, por sua opção, com 79,2%, sendo que 15,8% já tinham realizado uma IG. “Nas mulheres que já tinham realizado uma IVG anterior, destaca-se o facto de 8,1% das mulheres afirmarem terem realizado uma no presente ano.” (DGS, 2007: 18), como pode ser observado nas tabelas 22 e 23, no anexo II.

Em 2007, o procedimento mais utilizado para realizar a interrupção da gravidez foi o medicamentoso, com 64,7% do total, como é possível analisar na tabela 24 (anexo II).

No ano 2008, das 18.607 interrupções da gravidez, 18.014, correspondem a interrupções por opção da mulher, e, em 2009 das 19.848 IG, 19.222 foram por opção da mulher, o que corresponde a 96,81% e 96,85% do total em cada ano respectivamente.

Tanto no ano 2008, como em 2009 as regiões de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) e Norte foi onde se realizou o maior número de IG por opção, com 9.793 e 3.627 (2008), respectivamente e 10.519 e 3.904 no ano de 2009, respectivamente por região, como pode ser observado nas tabelas 25 e 26, que são apresentadas no anexo II.

Em 2008 e em 2009, existiu um aumento das interrupções da gravidez por opção, na adolescência, dos 15 aos 19 anos de idade, com 97 IG em menores de 15 anos, em 2008 e 128 IG na mesma faixa etária em 2009. Na faixa etária dos 15 e os 19 anos, 2.085 (2008) e 2.258 (2009) adolescentes optaram pela IG. Tal como aconteceu no ano 2007, o maior número de IG e, consequentemente a maior percentagem decorreu nas faixas etárias entre os 20 e os 34 anos.

Relativamente aos dados sobre as IG por opção da mulher, por número de IG anteriores, é possível constatar que de ano para ano existe um aumento. No entanto, a maioria das melhores tanto em 2008, como em 2009, recorreu pela primeira vez à IG, como 80,3% e

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- 23 - 79,17%, respetivamente. Em 2008, 15,22% das mulheres já tinham realizado uma IG por opção e em 2009, 16,38%.

Tanto em 2008, como em 2009 o procedimento mais utilizado continuou a ser o medicamentoso, com uma percentagem de uso de 67,89% e 67,09%, respectivamente, como aconteceu em 2007. Enquanto o uso do procedimento medicamentoso foi aumentando, o uso do procedimento cirúrgico com anestesia geral e local aumentou de 2008 para 2009. Em 2008 foram realizadas 5.756 IG com procedimento cirúrgico, correspondendo a 31,96% e, em 2009 foram realizadas 6.245 com o mesmo procedimento, correspondendo a 32,49%.

Em 2010, houve um total de 19.436 interrupções da gravidez. Destas, 18.911 foram por opção da mulher, o que significa que existiu uma diminuição de IG, por opção da mulher, neste ano, relativamente ao ano de 2009. No entanto, a IG por opção continua a ter maior percentagem, com 97,3%, comparando com os outros motivos para a realização da IG, sendo a grave doença ou malformação congénita do nascituro, o segundo motivo com maior percentagem, com 2,26%.

No ano de 2010, também Lisboa e Vale do Tejo e Norte continuam com o maior número de IG, por opção da mulher. Destaca-se Lisboa e vale do Tejo com 10.468, correspondendo a 55,35% e no Norte com 4.050, equivalente a 21,42%.

Relativamente à IG, por opção da mulher, por faixa etária, a distribuição tem sido constante ao longo dos anos, como é possível observar no quadro 3 (anexo II), referente a 2010. Na adolescência existiram 2.284 interrupções por opção, que perfaz um total de 12,07%. Dos 20 aos 34 anos continua a observar-se a maior percentagem das IG por opção da mulher.

No ano 2010, 75,41% das mulheres nunca tinha realizado anteriormente uma IG, como é possível observar no quadro 4 (anexo II). Em 2010, 3.673 mulheres já tinham realizado um IG em anos anteriores, correspondendo a 19,42% e 727 tinham realizado 2, equivalendo a 3,84%.

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- 24 - No que toca aos procedimentos para a realização da IG, o método medicamentoso continua em 2010 a ser o mais utilizado, com 66,28%, contra 33,14% do método cirúrgico com anestesia geral ou local.

Nas unidades do SNS a maioria das interrupções (95,8%) são realizadas utilizando o método medicamentoso e nas unidades privadas a quase totalidade das interrupções são realizadas pelo método cirúrgico (97,8%), como é possível constatar no gráfico 5 (anexo II).

1.3 – Prevenção da Gravidez

“Saúde Reprodutiva é um estado de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade, em todos os aspectos relacionados com o sistema reprodutivo, suas funções e processos.” (DGS, 2008: 5).

É nos adolescentes que a prevenção da gravidez tem um maior impacto, uma vez que são o futuro da sociedade e que ainda estão a construir o seu pensamento, a sua personalidade, ideias e ideais, como já foi abordado no capítulo “A Adolescência”. Segundo o Decreto de Lei 259/2000 de 17 de Outubro, são “ (…) considerados como alvos prioritários das atividades de planeamento familiar, os adolescentes e, nesse sentido, devem ser implementadas medidas para atrair e fixar este grupo etário, designadamente, através de horários flexíveis, atendimento desburocratizado e sem restrição de áreas de influência” (DGS:2008: 7).

A dificuldade/problema com que nos deparamos nos dias de hoje remete para a vivência de uma sexualidade saudável pelos adolescentes. Diariamente, somos “bombardeados” pela comunicação social e publicidade com conteúdo erótico explícito, ao mesmo tempo anunciado de uma maneira superficial, desprovido de conteúdo emocional e/ou afetivo. Surge então uma questão polémica sobre a educação sexual, informação e planeamento familiar, onde autores defendem que ensinar sobre contraceção evitará a maioria das gravidezes na adolescência e/ou interrupções da gravidez por opção da mulher, nesta faixa etária. Outros, por outros motivos, como os pedagógicos, centrados nos valores e

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- 25 - na afetividade, defendem que a aprendizagem sobre contraceção estimula e encoraja os jovens para a relação (Greenberg et al, 1992 in Lourenço, 1998). Presumivelmente, a maioria dos adolescentes tenderá a viver a sexualidade desta maneira, em busca de uma satisfação de prazer imediata, podendo adotar comportamentos de risco, como tendo vários parceiros sexuais e/ou relações sexuais desprotegidas (Almeida, 2007). Gonçalo menciona que “A raiz do problema está para além da existência de lacunas informativas. A lacuna não é só saber, ou ouvir, falar, mas saber praticar ou usar contracetivos, mas é também a implementação da educação dos afetos – ou seja informar formando” (2002: 15). O verdadeiro desafio é “reeducar” os jovens emocionalmente, pois só assim, poderão viver a sexualidade de uma forma plena e saudável.

De acordo com a APF, “Sendo socialmente modelada, a sexualidade humana e as suas regras morais foram sendo construídas e modeladas nas transformações sociais mais globais, nas mudanças que se foram produzindo nas mentalidades e nas instituições com ela mais relacionadas, nomeadamente a conjugalidade e o campo das relações familiares.” (2009).

Neste desafio de reeducar os adolescentes, existem na sociedade, diversas redes de suporte, estando incluídos os pais, a escola, os pares, associações e os profissionais de saúde, entre outros (APF, 2009; DGS, 2008).

Assim, de forma a realizar uma correta abordagem à prevenção da gravidez é preciso ter em conta a prevenção primária, secundária e terciária. A prevenção primária, inclui intervenções que “ (…) incluem, embora não se limitem a, a educação sobre a sexualidade a crianças pequenas” (Johnson, 1999: 759). A prevenção secundária consiste em tornar acessíveis os métodos contracetivos para os/as jovens sexualmente ativos (as). Relativamente à prevenção terciária, esta “ (…) deve fornecer cuidados pré-natais de fácil acesso, planeamento familiar e cuidados de acompanhamento para crianças e filhos de adolescentes” (Johnson, 1999: 759).

A escola tem um papel importante na formação das crianças e jovens, no seu crescimento pessoal e na articulação com as suas famílias, pelo que faz todo o sentido

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- 26 - abordar nesse espaço o tema da sexualidade. A “ (…) sexualidade faz parte da vida, do corpo, das relações entre as pessoas, do crescimento pessoal e da vida em sociedade” (APF, 2009).

Com a implementação da educação sexual nas escolas, pretende-se, entre outros aspetos, ajudar os jovens a vê-la como positiva, atuando de forma responsável e saudável. Assim, pode-se afirmar que a educação sexual nas escolas, “ (…) ajuda a prevenir os riscos associados à vivência da sexualidade, nomeadamente as gravidezes não desejadas e as infecções sexualmente transmissíveis” (APF, 2009: s.p.).

Em 1984, a Lei n.º 3/84 de 24 de Março – Direito à Educação Sexual e ao Planeamento Familiar, veio reforçar a ideia que a educação sexual nas escolas é uma necessidade e um direito das crianças, jovens e famílias. Ficou assim definido o papel do Estado como responsável pela implementação de conhecimentos científicos sobre o corpo humano e a própria sexualidade (APF, 2009; Diário da República – I Série-A).

Esta Lei continuou a ser trabalhada e em 2000, surgiu nova regulamentação apelando à melhoria nos acessos aos cuidados de saúde sexual e reprodutiva nos adolescentes. Assim, o Decreto-Lei n.º 259/2000, de 17 de Outubro, regulamenta a lei n.º 120/99, de 11 de Agosto, preconiza que a organização curricular dos ensinos básico e secundário deve considerar a abordagem da promoção da saúde sexual e da sexualidade humana, tanto numa perspetiva interdisciplinar como em contextos próprios que incluíssem programas sobre a temática (APF, 2009). Neste sentido e, de acordo, com o nível de desenvolvimento da criança e/ou adolescente existem determinadas metas a atingir na área de educação sexual, que podem ser observados na Portaria n.º 196-A/2010 de 9 de Abril.

Vivemos numa sociedade diversificada, na qual, sobre esta temática, existem diversas opiniões e valores, baseadas nas componentes de intimidade e relações interpessoais. Assim, em 2006, o Despacho 15987/2006, refere que a educação sexual passa a ser parte integrante do projeto de educação para a saúde. Assim, são promovidos estilos de vida saudáveis na experiência da sexualidade (APF, 2009).

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- 27 - A educação sexual engloba um grande conjunto de áreas de aprendizagens como, por exemplo, a afetividade e valores, personalidade e as competências que cada indivíduo tem para lidar com a sua intimidade. De entre os vários contextos em que o adolescente se insere, os mais importantes para a temática, interrupção voluntária da gravidez e gravidez na adolescência, são a escola, o grupo de pares, a família e o seu devido seguimento por profissionais de saúde nas diversas instituições. Também os mass media podem atingir uma grande influência no comportamento dos jovens pois, como foi referido no capítulo “A Adolescência”, a publicidade tem um forte impacto nesta geração.

Assim torna-se importante que se defina o que é ser sexualmente responsável. Segundo o portal da saúde, “ (…) significa respeitar e usufruir de direitos fundamentais já consagrados em declarações internacionais e na legislação de muitos países, incluindo a portuguesa [,] (…) implica que as pessoas não sofram qualquer tipo de pressão, discriminação ou violência” (APF, 2009).

Para a APF (2009), baseando-se na List Behaviors of Sexually Healthy Adults, da autoria da Sexuality Information and Education Council of the United States (SIECUS), as atitudes sexualmente responsáveis e saudáveis são: apreciar o seu próprio corpo, procurar informação que possa melhorar a vivência sexual e a saúde reprodutiva, assumir que o desenvolvimento individual envolve a dimensão sexual e que esta pode implicar, ou não, ter relações sexuais, interagir com ambos os géneros, respeitando as diferenças, assumir a sua orientação sexual e aceitar a das outras pessoas, exprimir o afeto e a sexualidade de formas adequadas, desenvolver relações com base no respeito mútuo, tomar decisões informadas, comunicar e dialogar com a família, com parceiros e colegas, utilizar métodos que impeçam a gravidez indesejada, evitar comportamentos que facilitem a transmissão de infeções sexualmente transmissíveis, prevenir o abuso sexual, aceitar quem tenha estilos de vida diferentes, distinguir comportamentos portadores de bem-estar daqueles que podem ser nocivos, procurar apoio para o acompanhamento e cuidados pré-natais, realizar exames periódicos para avaliar a sua saúde sexual, promover o acesso à informação sobre saúde sexual e reprodutiva, exercer o dever democrático, apoiando ações que influenciem decisões políticas relativas à

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Tabela  2  -  Custo  da  IG  através  do  procedimento  medicamentoso  em  ambulatório,  por  cada  ano  e  nos  quatro anos e meio
Tabela 4 - Custo máximo gasto pelo Estado nas IG por opção da mulher, por cada ano e nos quatro anos  e meio
Tabela 7 - Número de IG por opção da mulher, por instituição pública e privada por cada ano
Gráfico 2 - Número de IG por procedimento medicamentoso e cirúrgico, na adolescência, por cada ano
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