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Perceções sobre a autoria do trabalho das agências de notícias: o caso da Agência Lusa

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Academic year: 2020

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Ana Filipa Simões Miranda

Perceções sobre a autoria do trabalho das

agências de notícias: o caso da Agência Lusa

Universidade do Minho

Instituto de Ciências Sociais

outubro de 2019

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Ana Filipa Simões Miranda

Perceções sobre a autoria do trabalho das

agências de notícias: o caso da Agência Lusa

Universidade do Minho

Instituto de Ciências Sociais

outubro de 2019

Relatório de Estágio

Mestrado em Ciências da Comunicação

Área de Especialização em Informação e Jornalismo

Trabalho efetuado sob a orientação da

Professora Doutora Sandra Cristina Santos

Monteiro Marinho

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DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO TRABALHO POR TERCEIROS

Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que respeitadas as regras e boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos direitos de autor e direitos conexos.

Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo indicada. Caso o utilizador necessite de permissão para poder fazer um uso do trabalho em condições não previstas no licenciamento indicado, deverá contactar o autor, através do RepositóriUM da Universidade do Minho.

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A

GRADECIMENTOS

À minha mãe, por ser sempre quem mais acredita em mim e por não me ter deixado desistir a meio deste caminho. À professora Sandra Marinho, orientadora deste Relatório, pela orientação e disponibilidade, mas, sobretudo, pela ajuda e paciência desde o início, à procura do local para o estágio, até ao final deste Relatório. À Sara e ao Diogo. A todos os meus amigos. Pela paciência e ajuda e por serem sempre o lugar

onde me encontro. À Andreia Faria por ter sido uma ótima companheira de estágio e por ter partilhado a secretária

comigo ao longo dos três meses na Lusa. À jornalista da Lusa Cecília Malheiro pelos ensinamentos profissionais, mas também pessoais.

À jornalista da Lusa Suraia Ferreira por me ter despertado o gosto pela área da justiça e pela disponibilidade constante. A toda a redação do Porto da Agência Lusa que me acolheu durante três meses e que foi a minha melhor escola. Por fim, a todos os que colaboraram neste Relatório e tornaram isto possível. Muito obrigada a todos!

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DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e confirmo que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou falsificação de informações ou resultados em nenhuma das etapas conducente à sua elaboração.

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v

R

ESUMO

As agências de notícias têm um papel fundamental para o dia a dia das redações de todos os meios de comunicação social. Disponibilizam rapidamente conteúdos que chegam aos seus clientes prontos a serem publicados. São consideradas fontes de informação credíveis e permitem a cobertura de notícias em todos os territórios e a baixos custos. O online aumentou o uso do seu trabalho e, consequentemente, a sua cópia. Mas o problema desta dependência é o não reconhecimento das agências enquanto fontes e autoras dos trabalhos.

Esta pequena investigação parte da experiência de estágio na Redação do Porto da única agência de notícias de língua oficial portuguesa, a Agência Lusa, e pretende compreender esses aspetos: Que uso é feito do trabalho da Lusa nas redações dos meios de comunicação em Portugal? Qual a perceção que os jornalistas têm sobre a atribuição da autoria ao trabalho da Lusa?

As entrevistas realizadas a 11 jornalistas, da Lusa e de outros meios de comunicação, permitiram perceber que é unânime a opinião sobre o papel central da Agência no trabalho dos outros meios, que a usam diariamente e em todas as secções e que serve sempre como fonte de consulta. É um trabalho mais usado no online, onde a cópia total também é maior. Concluiu-se ainda que, de facto, a atribuição da autoria da Lusa não é feita por todos os jornalistas e que há profissionais que consideram que nem tem de estar atribuída, por ser o “parceiro oculto” dos meios de comunicação social. A sua atribuição constante poderia ainda tornar evidente para os leitores o verdadeiro peso do trabalho da Lusa, o que seria prejudicial para os meios de comunicação.

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vi

A

BSTRACT

News agencies play a key role in day-to-day newsrooms of all media. They quickly deliver content that reaches their customers ready to be published. They are considered credible sources of information and allow news coverage in all territories at low costs. Online has increased the use of its work and consequently its copy. But the problem of this dependence is the non-recognition of the agencies as sources and authors of the works.

This small research starts from the internship experience at Porto newsroom of the only news agency in Portugal, Lusa Agency, and aims to understand these aspects: What use is made of Lusa’s work in the newsrooms in Portugal? What is the perception that journalists have about the attribution of authorship of Lusa's work?

Interviews with 11 journalists from Lusa and other media showed that there is unanimous opinion about the Agency's central role in the work of other media, who use it daily and, in all sections, and always serve as reference source. It is a job most used online where the total copy is also higher. It was also concluded that, in fact, the attribution of authorship of Lusa is not made by all journalists and that there are professionals who consider that it does not even have to be attributed because it is the “hidden partner” of the media. Their constant attribution could also make clear to readers the true weight of Lusa’s work, which would be injurious to the media.

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Í

NDICE

Introdução ... 10

Capítulo 1: Um estágio na Lusa, a única agência de notícias de língua portuguesa ... 12

1.1 Agência Lusa ... 12 1.1.1 Principais diretrizes ... 14 1.1.2 Produtos e serviços ... 16 1.1.3 Estratégia da Lusa ... 18 1.2 A experiência de estágio ... 19 1.2.1 O rigor da agência ... 19 1.2.2 3 meses na Lusa ... 23

1.2.3 As saídas para o terreno ... 28

1.2.4 O peso da Lusa nas outras redações e a atribuição da autoria: as questões que se levantaram... 30

Capítulo 2: A evolução das agências de notícias, a sua preponderância como fontes de informação, o seu papel no ciberjornalismo e a questão da autoria das notícias ... 33

2.1. Génese e evolução das agências de notícias ... 34

2.2 Agências de notícias em Portugal: da Lusitânia à Agência Lusa ... 37

2.2.1. ANI – Agência de Notícias e Informação ... 38

2.2.2. ANOP – Agência Noticiosa Portuguesa ... 39

2.2.3. NP – Notícias de Portugal ... 40

2.2.4. Agência Lusa ... 41

2.3. Agências de notícias como fontes de informação ... 43

2.4. O ciberjornalismo e as agências de notícias ... 48

2.5. Autoria no jornalismo: a referência às agências de notícias ... 56

2.6. Em resumo ... 62

Capítulo 3: Metodologia ... 66

3.1. Pergunta de partida ... 66

3.2. O Modelo de Análise ... 67

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3.2.2. As entrevistas semiestruturadas como instrumento de recolha de dados ... 71

3.2.3. Seleção da amostra: o critério da saturação ... 73

3.2.4. A análise de conteúdo como técnica de análise de dados ... 74

Capítulo 4: Apresentação e discussão dos resultados ... 76

4.1 - É importante uma agência de notícias para o jornalismo? ... 76

4.2 O trabalho da Lusa é usado com que frequência? ... 80

4.3 Os jornalistas atribuem a autoria dos trabalhos da Lusa? ... 81

4.4 É importante atribuir a autoria do trabalho da Lusa? ... 84

4.5 - Os jornalistas da Lusa devem ser vistos como autores dos seus trabalhos? ... 88

4.6 - A atribuição da autoria é importante para os leitores? ... 90

4.7 Online aumentou a cópia do trabalho das agências? ... 91

4.8 Resumo ... 94

Considerações finais ... 97

Referências bibliográficas...100

Anexos ...108

Anexo 1 – Artigo escrito por mim sobre professora agredida na escola por familiares de aluno ... 108

Anexo 2 – Notícia sobre professora agredida na escola por familiares de aluno publicada no site do Jornal de Notícias ... 109

Anexo 3 – Artigo escrito por mim sobre carro que caiu ao Rio Douro ... 110

Anexo 4 – Artigo escrito por mim sobre colisão entre autocarro e um veículo ligeiro ... 111

... 111

Anexo 5 – Artigo escrito por mim sobre iniciativa da Lipor ... 112

Anexo 6 – Guião de entrevistas feitas a jornalistas de vários órgãos de comunicação social 113 Anexo 7 - Guião de entrevistas feitas a jornalistas da Agência Lusa ... 114

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ix

Í

NDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Construção e operacionalização do conceito "Uso do trabalho da Lusa"……… 70

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10

I

NTRODUÇÃO

Imprescindíveis para os trabalhos de todos os meios de comunicação social, as agências de notícias produzem e partilham conteúdos capazes de alimentar a grande maioria dos noticiários. Como “grossistas de informação” funcionam como uma verdadeira máquina: produzem conteúdos que estão prontos a ser publicados e vendem-nos por todos os seus clientes, órgãos de comunicação social, que os usam como querem. Presentes em todos os pontos do globo, tratando todas as questões da sociedade, as agências internacionais e nacionais facilitam e permitem que, com poucos recursos económicos, os meios de comunicação social consigam conteúdos de forma contínua e que não obteriam sem esta ajuda. O online veio aumentar a produção das agências de notícias e torná-las ainda mais centrais para os clientes, pela necessidade permanente de atualizar as informações. No entanto, as agências de notícias vivem como “parceiros ocultos” dos média e os seus jornalistas não são, na maioria das vezes, conhecidos. Entre as várias razões para este fenómeno destaca-se a incorreta (ou não) atribuição da autoria à produção das agências, ainda que os seus trabalhos estejam copiados por todo o lado.

Durante três meses fui estagiária da Agência Lusa, na redação do Porto, e foi onde confirmei que todos estes aspetos são, de facto, verdade. Uma experiência única, que me permitiu cobrir as várias secções, desde a Política à Cultura, e que me tornou, sobretudo, mais atenta a várias questões. O trabalho da Agência Lusa pauta-se pelo rigor e imparcialidade e é a base de todo o jornalismo produzido em Portugal. O seu trabalho é usado pela maioria dos órgãos de comunicação social nacionais, ainda que poucos tenham noção desta realidade. Foi durante os primeiros dias que percebi a dimensão em que os seus conteúdos são usados e, sobretudo, o uso que lhes é feito. Os media partilham os conteúdos da Lusa e, muitas vezes, não lhe atribuem a autoria. Os media usam-na sempre como base para o seu trabalho e não a mencionam como fonte de informação. A constatação desta realidade logo na primeira semana de estágio levou-me a não ter dúvidas sobre o tema para este Relatório e a levantar duas perguntas de partida: Que uso é feito do trabalho da Lusa nas redações dos meios de comunicação em Portugal? Qual a perceção que os jornalistas têm sobre a atribuição da autoria ao trabalho da Lusa?

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Sendo um assunto pouco estudado, pretende-se, com esta pequena investigação, e tendo sempre como base a experiência de estágio, perceber quais as perceções que os jornalistas da Lusa e dos outros meios de comunicação têm sobre o uso do trabalho da Agência, em particular sobre a atribuição da autoria do trabalho da Lusa. Ao mesmo tempo espera-se contribuir para o desenvolvimento da área.

Por se tratar de um trabalho que tem como base uma experiência de estágio começa-se, num primeiro capítulo, por retratar a Agência Lusa, a única agência de notícias nacional e a maior de língua oficial portuguesa. Aborda-se as suas principais diretrizes, serviços e produtos e reflete-se sobre a experiência de estagiar na Agência durante três mereflete-ses, passando pelas maiores aprendizagens e culminando nas questões que se levantaram ao longo do estágio.

O segundo capítulo é dedicado ao enquadramento teórico, onde é abordado o tema através da perspetiva de vários autores. Sendo este trabalho sobre agências de notícias, percebeu-se que era importante começar por retratar como surgiram e a sua evolução, a nível internacional, até se tornarem num “fenómeno” em todo o mundo, capaz de sustentar todos os noticiários. Também a história das agências de notícias em Portugal é referida, por se entender ser crucial compreender como se desenvolveram estas empresas em território nacional e o caminho percorrido até à criação da Lusa, que acaba por se tornar a única agência e assumir um papel central no jornalismo português. Há ainda espaço para entender como funcionam as agências de notícias enquanto fontes de informação, a contribuição do meio digital para o aumento da produção de conteúdos das Agências e, consequentemente, uma maior notoriedade do uso do seu trabalho. O capítulo termina abordando as questões da atribuição da autoria no jornalismo, de modo a entender a sua importância.

Depois da revisão de literatura, é traçada a metodologia utilizada num pequeno estudo empírico, no terceiro capítulo, enquanto o último é dedicado à análise e interpretação dos dados recolhidos nas 11 entrevistas realizadas a profissionais da Lusa e de outros meios de comunicação, com diferentes cargos hierárquicos. O trabalho termina com as principais conclusões e reflexões sobre o mesmo, assim como as suas principais limitações

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C

APÍTULO

1:

U

M ESTÁGIO NA

L

USA

,

A ÚNICA AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DE LÍNGUA PORTUGUESA

2 de maio de 2018 a 31 de julho de 2018. Três meses como estagiária de uma agência de notícias. A redação do Porto da agência Lusa recebeu-me e deu-me a oportunidade de conhecer os meandros do mundo das agências noticiosas.

Este capítulo dá a conhecer a única agência de notícias de língua portuguesa, a Agência Lusa, onde tive a oportunidade de realizar o estágio curricular. Reflito sobre o meu papel enquanto estagiária, sobre as experiências que mais me marcaram e as minhas aprendizagens. Noto, antes de avançar, que sempre que houver uma referência ao estágio vai ser usada a primeira pessoa do singular devido à proximidade à experiência.

1.1 Agência Lusa

“A Lusa é a maior agência de notícias de língua portuguesa no mundo” e é também a “única agência de notícias portuguesa de âmbito nacional” (www.lusa.pt1). A agência iniciou

oficialmente as suas funções a 1 de janeiro de 1987 e teve como membros fundadores o Estado Português e a Notícias de Portugal (NP). “É herdeira das duas agências noticiosas do pós-25 de Abril de 1974 em Portugal: a Agência Noticiosa Portuguesa (ANOP) e a NP” (Lusa, 2019, secção Introdução).

A Lusa começou por ser uma cooperativa, Agência Lusa – Agência Lusa de Informação, CIPRL (Cooperativa de Interesse Público de Responsabilidade Limitada), mas em 1997 passou a ser uma sociedade anónima com capitais maioritariamente públicos, tendo sido alterada a sua denominação para Lusa – Agência de Notícias de Portugal, S.A. (www.lusa.pt)2.

Atualmente, a empresa conta com oito acionistas, sendo o Estado Português o maior representante (50,14%), seguindo-se a Global Media Group (23,36%), a Impresa – Sociedade Gestora de Participações Sociais, S.A. (22,35%), a NP – Notícias de Portugal, CRL (2,72%), o Público – Comunicação Social, S.A. (1,38%), a Radio e Televisão de Portugal, S.A. (0,03%), O

1 https://www.lusa.pt/about-lusa/estrat%C3%A9gia 2 https://www.lusa.pt/about-lusa/A-Nossa-Hist%C3%B3ria

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Primeiro de Janeiro, S.A. (0,01%) e a Empresa do Diário do Minho, Lda. (0,01%) (www.lusa.pt3).

De acordo com o Relatório e Contas da Lusa de 2018, a agência conta com um capital social de 5.325.000 euros, representado por 2.130.000 ações no valor nominal de 2,50 euros cada (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 8)

Com sede em Lisboa, a Lusa conta, a nível nacional, com um escritório no Porto e jornalistas residentes em quase todas as capitais de distrito e, internacionalmente, com delegações no estrangeiro, nos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e na Ásia, com uma sucursal em Macau e uma delegação em Timor-Leste (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 6). “A Lusa conta também com uma rede de correspondentes, quer a nível nacional, cobertura de todo o território nacional, quer a nível internacional, em cerca de 30 países de todo o mundo” (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 6).

“Os seus cerca de 250 jornalistas produzem diariamente centenas de notícias escritas, fotografias, vídeos, registos áudio e produtos multimédia diversificados, entre os quais serviços telefónicos, notícias por SMS e infografias e serviços, procurando atender às necessidades específicas de clientes nacionais e estrangeiros. São muitos os utilizadores dos mais diversos serviços especializados da Lusa: a maioria dos órgãos de comunicação social de expansão nacional, regional e local em Portugal, as agências noticiosas internacionais, os organismos da administração pública, as embaixadas e os consulados portugueses no estrangeiro, as autarquias, as empresas públicas e privadas, os principais órgãos de comunicação social das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, as associações de emigrantes, e os média dos países africanos de língua oficial portuguesa, além de particulares, que necessitam de uma informação rápida e concisa”. (Lusa, 2019, secção Introdução)

Para dar respostas aos seus clientes, a Lusa contava, a 31 de dezembro de 2018, com “250 efetivos”, sendo 201 jornalistas (Relatório e Contas da Lusa de 2018, pp. 30 e 31).

Tal como afirmam Turmo e Lassa (2008), “qualquer meio de comunicação, por grande ou pequeno que seja, pode dispor praticamente instantaneamente da informação que se gera em qualquer parte do mundo, unicamente com a contratação dos serviços de agência” (p. 82). De facto, com o serviço da Lusa os clientes têm acesso de imediato à informação e para muitos órgãos de comunicação este serviço é mais económico do que contratar jornalistas.

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Sendo o Estado o maior acionista da agência, a Lusa tem de prestar um serviço público ao país. Assim, a Lusa e o Estado assinaram um contrato de prestação de serviço noticioso e informativo de interesse público para o triénio de 2017/2019. Na cláusula segunda deste documento pode ler-se que a Lusa desenvolve as suas atividades com base: a) na “recolha, tratamento e divulgação da informação noticiosa sobre a atualidade nacional e internacional, nos formatos de texto, fotografia, áudio e vídeo”; b) na “cobertura informativa nacional e dos acontecimentos internacionais”; c) na “cobertura informativa acurada nos países de língua oficial portuguesa e das comunidades portuguesas no estrangeiro”; d) na “distribuição de informação sobre a atualidade portuguesa (…) assumindo-se como meio fundamental de divulgação, à escala global, de acontecimentos nacionais”; e) “procura constante de atualização e modernização tecnológica”; f) “preservação, manutenção e disponibilidade do acervo histórico do seu Centro de Documentação de texto e de imagem”; g) “disponibilização de apoio, nomeadamente no domínio tecnológico e no campo da formação profissional, às empresas portuguesas do setor da comunicação social, bem como a outras empresas ou agências noticiosas” (Contrato de Prestação de Serviço Noticioso e Informativo de Interesse Público para o triénio de 2017/2019, pp. 1 e 2). Para tal, a Lusa “tem de estar presente no território nacional, assegurar a cobertura das comunidades falantes de língua portuguesa, bem como a cobertura dos locais de importância geostratégica, com produtos e serviços diversificados” e “deve assegurar a existência de uma estrutura funcional que dê garantias de prestação do serviço noticioso e informativo de interesse público que lhe está atribuído” (Contrato de Prestação de Serviço Noticioso e Informativo de Interesse Público para o triénio de 2017/2019, p. 2).

Para dar resposta a estas premissas a empresa está organizada em torno de editorias, de delegações e de correspondentes, enquadradas pela Chefia de Redação e pela Direção de Informação (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 6).

1.1.1 Principais diretrizes

O principal objetivo da Lusa é, conforme o escrito na secção Estratégia no site da agência, “afirmar a [sua] importância nacional e internacional” e ajustar “qualitativamente os seus serviços e a sua presença no território nacional e no espaço lusófono, no âmbito da circulação

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democrática e plural da informação noticiosa e no da defesa dos interesses estratégicos externos do Estado Português” (www.lusa.pt4).

A empresa tem ainda valores muito rígidos que todos os profissionais devem seguir. Segundo Daychoum (2007), por valores entendem-se “os compromissos e princípios éticos nos quais a organização baseia a sua conduta” (p. 35). Assim,

“além do interesse público, os princípios que orientam a produção noticiosa da Lusa são: a clareza – facilmente inteligível; o rigor – equilíbrio, separação entre factos e opiniões, identificação das fontes; isenção – autonomia, distanciamento e independência perante os factos e opiniões divulgados; a pluralidade – neutralidade perante as forças políticas, neutralidade e equilíbrio dos conteúdos emitidos, representação das forças e correntes políticas, ideológicas, culturais, sociais e religiosas existentes na sociedade; a fiabilidade – garantia de confiança; e a tempestividade da informação – produção e divulgação da informação quase em simultâneo com o tempo próprio da sua ocorrência”. (www.lusa.pt5) A agência e os seus trabalhadores regem-se também por um Código de Ética, que é “uma importante base para fortalecer a cultura da empresa e representa uma referência fundamental no âmbito do respetivo desempenho, na prática profissional dos seus colaboradores e no relacionamento com todos os stakeholders” (www.lusa.pt6). Neste documento é referido que “os

colaboradores da Lusa devem pautar o seu comportamento com independência perante todos os poderes, nomeadamente, político, económico, financeiro e religioso, e subordinar a sua atividade profissional aos legítimos interesses da empresa” (Código de Ética da Agência Lusa, s/data, secção 4.10. Independência).

Além disso, todos os jornalistas devem reger-se pelo Código Deontológico, que é, segundo Gradim (2000), um documento “conciso e bastante completo” onde se “estipula nos dez pontos que o compõem, e de forma muito clara, os princípios deontológicos a atender pelos jornalistas e candidatos a jornalistas” (p. 116).

4 https://www.lusa.pt/about-lusa/estrat%C3%A9gia 5 https://www.lusa.pt/about-lusa/estrat%C3%A9gia

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1.1.2 Produtos e serviços

Tal como é referido no Livro de Estilo da Lusa (2019), “uma parte significativa da informação produzida e consumida no – e sobre – o espaço de língua portuguesa tem como origem a agência Lusa” (secção Introdução).

Atualmente, a agência disponibiliza aos seus clientes vários tipos de serviço: alertas, temáticos, notícias de texto, agenda, fotos, serviços especiais (Info3E e Agenda Financeira), arquivo, newsletters, vídeo, títulos, SMS, infografias e áudio (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 21).

De acordo com o documento Relatório e Contas da Agência Lusa de 2018, “a produção editorial da Lusa voltou a crescer, pelo terceiro ano consecutivo, totalizando 240.770 conteúdos anuais” (p.14), tendo sido produzidos “uma média diária de 660 conteúdos jornalísticos” (p. 15). Especificamente, a agência produziu 51.612 conteúdos fotográficos, 11.132 de áudio, 2.063 conteúdos mistos, 170.105 de texto e 5.858 de vídeo (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 15).

O texto é o conteúdo mais produzido, tendo a Lusa, em 2018, distribuído, em média, 466 notícias neste formato, diariamente (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 15), sendo, por isso, “o principal fornecedor de notícias para os média portugueses” e “uma referência para a informação em todos os países de língua portuguesa” (www.lusa.pt7).

Em 2018, foram produzidos, em média, 141 conteúdos fotográficos pela agência, por dia (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 15), sendo, depois do texto, o tipo de conteúdo mais criado nesse ano. Esta produção faz da Lusa

“o maior fornecedor em Portugal de imagens da atualidade. Como uma das agências fundadoras da EPA – European Pressphoto Agency, a Lusa é distribuidora exclusiva para Portugal das fotos das restantes agências europeias integrantes, a somar à vasta equipa de repórteres fotográficos. O serviço de fotografia cobre diversas temáticas e retrata o que de mais importante acontece em Portugal e no mundo”. (www.lusa.pt8)

Sendo a Lusa a única agência de notícias de língua portuguesa em Portugal tem de cumprir o contrato de serviço público que celebrou com o Estado e, mais do que qualquer outro

7 https://www.lusa.pt/products/product_texto 8 https://www.lusa.pt/products/product_fotografia

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meio de comunicação, o seu trabalho tem de se pautar pelo rigor e independência. Assim, no ano 2018, a agência cumpriu “todas as metas celebradas com o Estado” (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 15).

Segundo o Relatório e Contas da Lusa de 2018 as áreas da Política Nacional (24%), Economia, Negócios e Finanças (17%), Desporto (11%) e Sociedade (9%) são as que contaram com mais conteúdos produzidos (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 16). Destacou-se também a secção Artes, Cultura e Entretenimento (6%), onde foram produzidas cerca de 25.293 notícias, representando, assim, um aumento (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 16).

Quanto à distribuição dos conteúdos por país, em 2018, 71% dos conteúdos produzidos foram referentes a Portugal (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 17). Já os eventos de Agenda desceram de 88.344 em 2017 para 81.477 em 2018, representando uma média diária de 223 eventos (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 18).

Os clientes da agência podem ainda aceder a um arquivo, onde toda a informação é guardada e classificada. Os arquivos “têm um acervo de mais de dez milhões de notícias e imagens. Todos os clientes podem encontrar na Lusa as referências de que necessitam quando tratam acontecimentos passados ou quando pretendem conhecer a história de factos e personagens” (www.lusa.pt9).

O ano 2018 ficou marcado também pela recomposição da rede nacional e internacional de correspondentes, a criação da Direção de Inovação e Novos Projetos, a entrada em funcionamento da nova Direção de Informação e pela assinatura de vários acordos de cooperação, por exemplo com um grupo de media chinês. Ao mesmo tempo, a empresa atingiu “um valor recorde ao nível de investimento (cerca de 800 mil euros, o triplo da média dos dez anos anteriores)”, o que permitiu “incrementar o desenvolvimento tecnológico da Agência, bem como dar início à melhoria das condições de trabalho da sede e nalgumas delegações” (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 2). Também houve mudanças no logótipo da Lusa, que ficou “mais moderno, mais dinâmico, permitindo melhores e mais diversificadas aplicações em vários suportes” (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 2).

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1.1.3 Estratégia da Lusa

No documento Relatório e Contas de 2018 é referido que a estratégia para esse ano tinha sido orientada por sete pontos: 1) “aumentar a produção noticiosa (vídeo, texto, fotos e áudio) nos países africanos de língua oficial portuguesa e reforçar a presença da Agência em Macau e na China Continental”; 2) “recompor a rede interna e externa de correspondentes, bem como da redação central”; 3) “reforças as equipas de multimédia e tradução”; 4) “melhorar o rendimento disponível dos trabalhadores”; 5) “aumentar a notoriedade da marca Lusa”; 6) “melhorar as condições físicas e sociais de trabalho na sede e nas delegações do exterior”; 7) “inovar no plano editorial e comercial, lançando novos serviços e produtos” (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 5). O reforço da rede nacional e internacional permitiu que a agência produzisse “agora muito mais conteúdos em inglês” e que aumentasse “a sua produção de vídeo e áudio, bem como de texto e fotos” (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 5).

O novo portal na internet, lançado no final de 2017, “afetou também inevitavelmente o trabalho da área editorial” durante 2018 e colocou a “Lusa a organizar, processar e disseminar informação de forma clara, visível e focada, para e sobre o mundo lusófono” (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 12).

“Este novo site significou também, para a Lusa, um salto muito grande de consolidação de operações de conteúdos no backoffice, a possibilidade de importação de diferente tecnologia e novas ferramentas de trabalho com as quais pode desenhar e criar novos serviços, comerciais ou gratuitos”. (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 13)

Também em 2018 foram “ancorados” na página da internet da Agência “novos sites com conteúdo editorial”, para criar “novos serviços de valor acrescentado (casos da Agenda Financeira, ferramenta de planeamento para empresas, e do Info3E, ferramenta de informação estratégica de gestão)” e para “abrir novas áreas de disponibilização de informação de interesse coletivo, numa lógica pura de serviço público” (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 13). Neste último caso inserem-se a Carta de Portugal, “site georreferenciado com informação útil sobre todos os municípios do País”, e o EyeData, “dedicado à informação estatística”, que permite “ver e comparar diferentes variáveis socioeconómicas de Portugal, da União Europeia, da CPLC e do resto do mundo” (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 13).

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No final do ano passado, a Lusa desenvolveu ainda “dois novos sites temáticos – um sobre o combate às fake news e o outro sobre os 20 Anos da passagem administrativa de Macau para a China” (Relatório e Contas da Lusa de 2018, p. 14).

1.2 A experiência de estágio

Entre maio e julho de 2018 integrei a redação da Lusa do Porto e contribui para a sua produção noticiosa. Um trabalho que se revelou, muitas vezes, um verdadeiro desafio dado o rigor que a agência exige aos seus profissionais e colaboradores. Ser estagiária da Lusa foi uma experiência muito enriquecedora e que me permitiu perceber melhor as dinâmicas do mundo do jornalismo aprendidas na licenciatura e no mestrado.

1.2.1 O rigor da agência

O primeiro ensinamento transmitido a um estagiário quando chega à Lusa é sobre o rigor que implica trabalhar em agência. Talvez seja por esse rigor que é exigido que a empresa aposta numa formação inicial de três dias, na sede da empresa, sobre como funciona, a importância do seu trabalho e, essencialmente, como se escreve para a Lusa.

No primeiro dia os estagiários são recebidos pelo chefe de redação, Paulo Nogueira, pela diretora comercial, Mónica Garcia, e pela coordenadora de estágios, Sofia Branco, que nos fazem uma breve apresentação da agência e dão-nos a conhecer o edifício de Lisboa e o seu funcionamento. Seguem-se duas formações com a jornalista Sofia Branco: a primeira sobre “Ética e Deontologia”, onde é abordada a deontologia no jornalismo, em especial na agência; e a segunda, intitulada “Noticiário de agência, características e especificidades, acompanhamento e reação, Livro de Estilo”, onde é apresentado o Livro de Estilo da Lusa e os seus pontos mais importantes, que todos os trabalhadores da agência devem seguir quando fazem o seu trabalho.

“A produção de uma peça de agência tem normas muito mais rígidas do que um texto jornalístico em geral. No entanto, em vez de limitar a criatividade profissional, as normas de agência constituem um excelente exercício do domínio da língua, pela precisão de linguagem e pela clareza que exige o trabalho final”. (Lusa, 2019, secção Introdução)

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O Livro de Estilo da Lusa é, de facto, o primeiro documento que nos é fornecido e aquele que é obrigatório saber. Tal como é referido no Livro de Estilo (2019), “a Lusa assegura uma informação rápida, factual, isenta e rigorosa”.

A acompanhar o Livro de Estilo, os estagiários e os jornalistas que trabalham para a Lusa devem conhecer o seu Prontuário – um documento organizado de forma alfabética, que deve ser consultado sempre que surgir alguma dúvida sobre as palavras, pois explica como as expressões devem ser empregues.

A estes junta-se, como referido anteriormente, o Código de Ética da Lusa, que enumera um conjunto de normas que todos devem conhecer e respeitar no que à conduta profissional e a relações pessoais diz respeito. Os jornalistas da agência devem também reger-se pelo Código Deontológico dos Jornalistas, tal como mencionado anteriormente.

Ainda no primeiro dia, o jornalista Nuno Pêgas falou sobre “O peso da Agenda na agência”, dando a conhecer o trabalho que é desenvolvido nesta editoria, como funciona e a sua importância também para os outros meios de comunicação social. O dia de formação terminou com o jornalista Filipe Pedro que nos apresentou o Luna, o sistema informático da Lusa, onde estão todos os conteúdos produzidos pela agência.

No segundo dia, e aproveitando ser o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, foi-nos proposto irmos assistir às conferências “Em nome do jornalismo”, realizadas nas instalações da representação da Comissão Europeia, em Lisboa. Dos seis painéis apresentados, que contaram com jornalistas de várias nacionalidades, tivemos de escolher um e realizar um pequeno exercício para ser depois avaliado pela jornalista Sofia Branco.

No último dia de formação, o jornalista Paulo Nogueira deu-nos uma formação sobre o lead, denominada “Construção de Leads: regras e exemplos práticos”. Tratando-se do primeiro parágrafo da notícia, é este que chama, ou não, a atenção do leitor, devendo, por isso, ter toda a informação relevante. Na Lusa um lead não excede, preferencialmente, as 37 palavras e a fonte tem de estar presente, sendo também de enorme importância o verbo que se utiliza, pois é ele que dá “tom” à notícia. De seguida, tivemos uma formação sobre “Técnicas de redação: a arte de fazer títulos curtos e de escrever de forma simples, criatividade em jornalismo de agência e palavras ‘proibidas’”, com a jornalista Rosa Paiva. Na Lusa, o título tem de ser uma síntese precisa da notícia e não pode ter mais de 80 caracteres. Palavras como “ontem” e “amanhã” não entram no vocabulário da agência.

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A jornalista Elsa Alves ensinou-nos sobre “Fontes: ouvir todos os envolvidos, o contraditório, as regras de identificação e a utilização das fontes anónimas”. Esta foi uma das formações mais importantes, pois as fontes são, sem dúvida, muito relevantes para a agência. Na Lusa não há notícias sem fontes e esta é uma regra que nenhum jornalista pode esquecer quando está a escrever. Tal como aprendido na licenciatura e no mestrado, as fontes são imprescindíveis para a prática jornalística e há vários tipos, mas na Lusa elas são sempre a base da notícia ou a base para o contacto com outras fontes. Assim, no Livro de Estilo são mencionadas as várias classificações que as fontes podem ter e como estas devem ser usadas pelos jornalistas da agência.

“As notícias têm sempre fonte. Por regra, a fonte deve ser identificada. A fonte não identificada é uma fórmula que pode ser utilizada quando as fontes pedem o anonimato por razões justificadas (por exemplo, receio de represálias), mas confiável. As fontes não identificadas têm de ser caracterizadas (fontes ligadas ao processo, fontes de uma instituição, fontes presentes numa reunião, etc.) (…) No caso de dispor de uma informação credível dada por uma fonte não identificada, a agência, ao noticiá-la, não utiliza expressões como ‘soube a Lusa’ ou ‘a Lusa apurou’”. (Lusa, 2019, secção Recolha e seleção da informação, subsecção Fontes)

No final da formação tivemos a oportunidade de ter uma conversa intitulada “Agência da Memória”, com António Caeiro, João Pinheiro de Almeida e Natal Vaz, que contaram as suas experiências como jornalistas internacionais ao serviço da Lusa.

Estes três dias de formação são, no meu ponto de vista, uma mais valia para os estagiários, pois é uma forma de termos contacto com a realidade da empresa antes de começarmos a trabalhar nela. É também uma vantagem na medida em que, como a maioria dos estagiários está a terminar a licenciatura ou o mestrado, ainda não conhecem a realidade do meio profissional. Ainda que só com a prática da escrita dos textos se comece a perceber e entender como é, de verdade, produzir para a Lusa, a formação dá-nos umas luzes muito claras e orientadoras.

Realmente, escrever peças para a Lusa revelou-se, por vezes, difícil. A linguagem tem de ser simples para que todos os que recebem a informação consigam entender o que se quer dizer, mas, ao mesmo tempo, tem de ser cuidada. A reportagem é, como nos outros meios, o local onde o jornalista pode ser mais criativo, mas, ainda assim, não há espaço para “grandes floreados”.

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Na Lusa, cada frase só pode ter uma ideia, assim como cada parágrafo, seguindo-se o lema: “uma frase, uma ideia, uma informação” (Lusa, 2019, secção Normas Gerais, subsecção Escrita viva e rigorosa). As frases têm de ser simples e diretas e o sujeito deve ser, sempre que possível, referido no início da frase.

Segundo o Livro de Estilo da agência, nas notícias “é obrigatório o uso da técnica da pirâmide invertida”, ao contrário das reportagens e entrevistas, onde “pode ser dispensável” (Lusa, 2019, secção A escrita das notícias, subsecção Estrutura da notícia). Esta técnica permite que as notícias sejam alteradas com facilidade e que o leitor entenda o que está a ler de forma rápida.

“Além da preocupação de fazer o leitor ‘entrar’ rapidamente no assunto, a divisão por parágrafos sucessivamente menos importantes visa permitir aos utilizadores do noticiário das agências desaproveitar o fim da notícia, caso não tenham espaço ou tempo para a reproduzir na íntegra”. (Zamith, 2005, p. 178)

Outra das características da escrita de agência, e uma das que tive mais dificuldade em me habituar, é a ideia de que os estrangeirismos têm, quase sempre, tradução em português, e, por isso, devem ser evitados. O exemplo mais comum era site, que pode ser substituído, por exemplo, por página da internet.

É importante também entender que os leitores não sabem obrigatoriamente o mesmo que o jornalista que está a escrever a notícia. Por exemplo, Marcelo Rebelo de Sousa pode ser, para a maioria dos portugueses, reconhecido de imediato como o Presidente da República, mas um leitor de outro país pode não saber quem ele é. Então, a pessoa tem de ser identificada, sempre, com o cargo e o nome. Em caso de notícias que tenham desenvolvimentos anteriores é necessário explicar o contexto no final da peça, recorrendo a notícias que tenham sido escritas anteriormente.

Um dos pontos mais importantes para a agência é o tempo. Se é certo que para as agências de notícias este sempre foi um ponto central do seu trabalho, a verdade é que a internet veio acentuar a necessidade do trabalho objetivo e rigoroso, mas rápido. Tal como referem Camargo e Aguiar (2016),

“a velocidade, que sempre foi fator definidor das agências, é exacerbada com a adoção dos dispositivos móveis. O usuário que leva o ‘jornal’ no bolso, sob a forma de um telemóvel, quer ter acesso a notícias a um ritmo mais acelerado que a antiga periodicidade dos média analógicos”. (Camargo e Aguiar, 2016, p. 37)

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Para a Lusa importa ser a primeira a noticiar os acontecimentos e isso implica muito esforço dos jornalistas, que nunca podem esquecer e comprometer o rigor da escrita. De facto, a maior noção que um jornalista estagiário adquire na Lusa é sobre o rigor. A informação que é ali produzida alimenta quase a totalidade dos noticiários portugueses e, por isso, o espaço para o erro é mínimo. As notícias Lusa são reconhecidas pela sua qualidade e isso deve ser sempre a prioridade dos profissionais.

1.2.2 3 meses na Lusa

7 de maio de 2018. O dia em que a redação do Porto da Agência Lusa me recebeu e me acolheu naquele que seria o local onde passaria os três meses seguintes, como jornalista estagiária. 31 de julho de 2018. A última saída em reportagem e o último adeus.

Apesar de a Agência Lusa não ter sido a minha primeira opção para realizar o estágio curricular, revelou-se a melhor escolha. O trabalho de agência é muito exigente e rigoroso, mas é também um ponto de partida importantíssimo para o trabalho dos outros meios de comunicação. De facto, estes três meses na Lusa serviram para aplicar os conhecimentos que tinha adquirido na licenciatura e no mestrado e, embora não tenha sido a minha primeira experiência no mundo profissional do jornalismo, aprendi muito e durante o estágio senti-me sempre integrada na redação.

O meu estágio na Agência Lusa começa a 2 de maio. Como referido anteriormente, os estagiários da agência iniciam o seu percurso com uma formação de três dias, na redação de Lisboa, onde aprendem as normas de funcionamento, as regras de escrita e o rigor do trabalho de agência. Aqui há também um contacto com as várias secções que existem e o trabalho realizado em cada uma: agenda, multimédia, desporto, sociedade, país, internacional/lusofonia, cultura, economia e política.

Efetivamente, o meu primeiro dia de estágio foi a 7 de maio, quando cheguei à redação do Porto, onde estive durante os três meses seguintes. Como a redação é mais pequena, enquanto estagiária tinha a possibilidade de escolher cobrir desporto “ou tudo o resto”, sendo que optei pela segunda hipótese.

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A primeira tarefa que é atribuída aos estagiários é a realização das rondas, que consiste em telefonar para o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) do Porto, a Polícia de Segurança Pública (PSP) do Porto e para as corporações de Bombeiros do Porto, Vila Nova de Gaia, Gondomar, Valongo, Matosinhos e Maia. Estas rondas têm de ser acompanhadas pela verificação da página da internet da Proteção Civil, onde estão disponíveis as ocorrências do momento, e devem ser feitas, mais ou menos, a cada duas horas.

Depois, os estagiários começam por fazer notícias breves, compostas por três ou quatro parágrafos, através de notas de imprensa ou de comunicados que chegam à redação. No meu primeiro dia fiz uma sobre uma operação rodoviária feita pela PSP do Porto. Este foi o primeiro momento em que me deparei com as regras e normas que me tinham ensinado na formação. Foi também a primeira vez que verifiquei a dificuldade que pode ser fazer um lead que contenha 37 palavras e um título que não pode ultrapassar os 80 caracteres, mas que têm de ter toda a informação importante.

Foi no meu segundo dia de estágio, e durante a realização de uma das rondas, que tive a oportunidade de dar, pela primeira vez, uma notícia em primeira mão. Durante a última ronda da tarde, por volta das 18:30, a PSP do Porto avançou-me que uma professora tinha sido agredida por familiares de um aluno na Escola Primária do Bairro do Lagarteiro, no Porto. Como já se encontrava na redação apenas uma jornalista e o editor regional da Lusa, Miguel Sousa Pinto, foi-me proposto ser eu a escrever a notícia, que seria, depois, vista pela jornalista (anexo 1).

Minutos depois, a notícia que tinha sido elaborada por mim estava a ser reproduzida nos sites de outros jornais, com poucas ou nenhumas alterações no texto, mas assinadas, em alguns casos, pelo órgão de comunicação. O Jornal de Notícias foi o exemplo que mais me chamou a atenção, pois retirou as expressões que mostravam que a notícia tinha sido elaborada pela Lusa, como “avançou à Lusa fonte da PSP do Porto”, e noticiou sem a referência à agência, mas sem alterar quase mais nada do texto escrito por mim (anexo 2).

Na Lusa, os estagiários só podem assinar as suas peças a partir do final do primeiro mês de estágio, por isso esta notícia saiu assinada pela jornalista que se encontrava na redação. A agência usa esta política por considerar que só no final do primeiro mês os estagiários têm capacidades e competências para assinarem as suas peças. Contudo, no meu ponto de vista, penso que esta política não faz grande sentido, visto que as peças são sempre corrigidas por um

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editor. As notícias acabam por ser publicadas, ainda que, por vezes, com algumas alterações, mas com o nome de outro jornalista. Por isso, penso que deveriam sair com o nome do estagiário, ainda que acompanhada da assinatura de um jornalista ou editor responsável pela sua edição.

Esta minha primeira semana de estágio viria a ser uma semana bastante produtiva e uma semana em que daria algumas notícias em primeira mão, recebidas durante as rondas. No dia 10 de maio tive, uma vez mais, a oportunidade de dar uma “última hora” e foi a primeira vez que percebi o frenesim que se instala numa redação quando algo importante acontece e quando se tem a necessidade de atualizar e confirmar a informação constantemente.

Durante a primeira ronda da tarde, por volta das 14:30, os Bombeiros Sapadores de Vila Nova de Gaia avançaram, ainda sem muitas informações, que um carro teria caído ao Rio Douro, no Cais de Gaia. Naquele momento, como ainda não havia mais informações, tive de escrever um parágrafo com o que se sabia e, posteriormente, fui atualizando a notícia com o resto das informações.

O meu trabalho durante aquela tarde foi acompanhar os diretos nas televisões e os sites dos órgãos de comunicação, assim como telefonar para as entidades responsáveis para confirmar e saber mais pormenores. Tal como mencionado anteriormente, na Lusa não há notícias sem fontes e, por isso, nessa tarde, enquanto os outros órgãos de comunicação social avançavam com algumas informações, eu só pude noticiá-las quando alguma autoridade me confirmava. Wolf (2006), cita Golding e Elliot (1979), que afirmam que “até nos órgãos de informação fortes e organizados se verifica, na fase de recolha, uma enorme utilização das notícias de agência” (Golding e Elliot, 1979, citados em Wolf, 2006, 3.5.1. A recolha dos materiais informativos). De facto, neste dia percebi que muitos dos órgãos de comunicação utilizavam a informação que a agência avançava, apesar de estarem no local.

No final, depois de o carro ter sido retirado do rio e de a situação ficar resolvida no local, tive de escrever uma notícia com toda a informação relevante e com todas as fontes que tinha contactado no decorrer da tarde. (anexo 3).

A semana terminou com outra notícia avançada pelo CDOS e pelos Bombeiros de Leixões de um acidente entre um autocarro e um veículo ligeiros, que provocou quatro feridos, um deles com gravidade. Mais uma vez, a notícia embora produzida por mim saiu assinada por outro jornalista (anexo 4).

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Durante o primeiro mês de estágio os estagiários produzem, essencialmente, notícias breves e podem acompanhar os jornalistas nas suas saídas, sendo que depois os ajudam na realização da sua notícia e escrevem uma notícia própria como exercício. Assim, este é um mês essencialmente de aprendizagem e de integração na redação. Em junho, logo que pude começar a assinar as minhas peças, comecei a escrever e publicar notícias mais desenvolvidas.

Atualmente, na agência Lusa, à semelhança do que acontece nos outros meios de comunicação, a grande maioria das notícias são produzidas sem o jornalista ter de sair da redação.

“A realidade é que, em todas as redações, o jornalismo sentado tem, de facto, vindo a ganhar terreno sobre o jornalismo de terreno. O normal agora é os jornalistas passarem a maior parte do tempo na redação e apenas uma pequena parte do tempo na rua, exatamente ao contrário do que acontecia anteriormente. Na origem da mudança – que reduz os jornalistas ao papel quase exclusivo de selecionar e hierarquizar a informação –, está a diminuição do número de trabalhadores, mas não só: a redução dos orçamentos e o aumento do leque de fontes de informação também tiveram, neste ponto, um contributo significativo”. (Tulha, 2012, p. 9)

De facto, tal como é referido por Tulha (2012), na Lusa também é praticado o “jornalismo sentado”, visto que o contacto com as fontes é, sempre que possível, feito via telefone, de forma a evitar a deslocação do jornalista ao local e, assim, evitar gastos económicos desnecessários. A entrevista por telefone, embora seja comum no jornalismo, pode ter algumas limitações.

“A entrevista por telefone, por não permitir o ‘olho no olho’, diminui a capacidade de persuasão e perceção do repórter: fica mais complicado, por exemplo, convencer a fonte a dar uma informação que ela hesita em fornecer ou perceber se ela se mostra particularmente vulnerável durante um determinado tema”. (Oyama, 2008, secção Antes, subsecção Por telefone, por e-mail)

Sempre que não é possível através do telefone é também frequente o contacto através do e-mail. Assim, foram frequentes as vezes em que tive de ligar ou mandar um e-mail para as fontes de informação para que conseguisse aprofundar e desenvolver as minhas peças. Foi o caso da primeira notícia publicada com a minha assinatura, a de uma conferência na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto apresentada pelo arquiteto Sir Peter Cook. Aqui, para escrever o texto, tive de entrar em contacto com a organização e perceber o que iria acontecer e

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noticiar o evento sem parecer uma nota de agenda. Foi também o caso de uma das últimas notícias produzidas enquanto estagiária da Lusa, em que tive de contactar a empresa de recolha e tratamento de lixos Lipor para escrever sobre uma iniciativa que ajuda instituições com os resíduos recolhidos em festas e romarias (anexo 5).

Uma questão pertinente de que me fui apercebendo ao longo do estágio é que a internet é uma boa fonte de informação, mas os jornalistas não devem privilegiar este meio, devendo preferir o contacto direto com as fontes.

Segundo os editores e jornalistas com quem fui falando sobre o assunto, isto acontece pela questão da credibilidade. Foi-me explicado que ainda que na internet exista muita informação e que possa ser real, a verdade é que não é possível comprovar, em várias situações, na totalidade, a sua veracidade. A isto junta-se a questão de as notícias terem todas como base uma fonte que dá a informação diretamente a um jornalista da Lusa, pois uma notícia escrita com base numa informação recolhida por uma fonte é, na maioria das vezes, mais credível do que a produção de um texto com algo que se encontrou na internet.

Como referido, a notícia até pode surgir por algo que o jornalista viu na internet, mas o texto tem de ser desenvolvido com base em fontes. No Livro de Estilo da Lusa (2019), está salientado que a utilização da informação disponível na internet, “deve ser feita com cuidados adicionais, dada a impossibilidade de controlo total dos conteúdos recolhidos neste universo, que engloba sites, plataformas de mensagens, redes sociais digitais e correio eletrónico”(secção Recolha e seleção da informação, subsecção Internet).

Os três meses de estágio na Lusa foram, de facto, uma ótima escola. A licenciatura, o mestrado e o estágio profissional que tinha tido a oportunidade de realizar num jornal local já me tinham dado muitas noções sobre o mundo do jornalismo, mas a experiência da Lusa foi a mais enriquecedora. Durante o estágio ouvi várias vezes os profissionais da Lusa dizerem que quem sabe escrever para agência depois facilmente consegue adaptar-se a outro órgão de comunicação, para além de que são, provavelmente, os profissionais mais bem preparados do meio. Realmente, o rigor e, sobretudo, a imparcialidade pedida a um jornalista foram as características que mais notei e apreendi desta experiência.

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1.2.3 As saídas para o terreno

A minha primeira saída em reportagem aconteceu a 14 de maio e foi para assistir ao 2.º Debate do Território Habitacional do Centro Histórico do Porto, promovido pela União de Freguesias do Centro Histórico do Porto, devido ao problema dos despejos. Aqui, fui acompanhar uma jornalista que, embora me tenha ajudado, me incentivou a tentar fazer um trabalho como se ela não estivesse lá. Assim, tive de estar atenta a todos os tópicos discutidos que achei mais pertinentes e escrever uma notícia, mas apenas como exercício.

Esta foi uma prática que se revelou comum: escrever notícias como forma de exercício para que, depois, algum jornalista visse e corrigisse e me identificasse os erros, de forma a evitá-los no futuro. Este exercício de correção revelou-se bastante útil, pois, por vezes, quando escrevia não reparava em alguns erros que cometia e em algumas limitações ou bengalas que tinha. Assim, a partir do momento em que me começaram a chamar a atenção para esses pormenores, consegui começar a evitá-los. Os jornalistas tinham sempre o cuidado de apontar o que estava mal, mas realçar o que era bem feito, e no final dos três meses os meus textos já eram publicados com poucas alterações e correções.

A minha primeira saída sozinha, apenas acompanhada por outra estagiária, aconteceu por iniciativa nossa, a 21 de maio. Tratou-se da apresentação de uma vídeo instalação de Pedro Barateiro, na estação de São Bento, no Porto, e serviu, uma vez mais, como exercício, para ver se numa próxima vez conseguiríamos sair em reportagem sozinhas. Esta foi a primeira vez que tive de preparar com maior rigor a minha saída e pensar em algumas perguntas para fazer durante as entrevistas.

A participação de Marcelo Rebelo de Sousa na Grande Conferência dos 130 anos do Jornal de Notícias, a 1 de junho, foi a primeira reportagem em que acompanhei uma jornalista e pude assinar as peças. Esta foi também a saída mais complicada que tive. À azáfama habitual de jornalistas à volta do Presidente da República juntaram-se grupos de manifestantes e pessoas que o queriam ver e comprovei o quão complicado pode ser trabalhar em algumas condições.

Num primeiro momento, tive de perceber a razão das várias manifestações, recolher informações sobre o ambiente e acompanhá-lo na sua chegada ao Palácio da Bolsa, no Porto. Depois de transmitir e partilhar informações com a jornalista tive de escrever uma notícia sobre aqueles acontecimentos, ao mesmo tempo que ia prestando atenção à conferência.

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Uma das maiores dificuldades do serviço foi perceber o que seria notícia, sobretudo durante o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa. Neste dia foi imprescindível a ajuda da jornalista Cecília Malheiro, que me mostrou e ensinou como um jornalista tem de saber fazer várias tarefas ao mesmo tempo e a importância de estarmos em contacto com os jornalistas dos outros órgãos, para trocarmos ideias e opiniões.

Ao longo dos três meses tive a oportunidade de sair a maior parte dos dias em reportagem, para desenvolver uma notícia minha ou para ajudar um jornalista, e tive a sorte de conseguir estar em contacto com vários assuntos e áreas. As reuniões da Câmara Municipal de Matosinhos e do Porto e julgamentos acabaram por se tornar, devido ao meu interesse, as reportagens mais recorrentes.

Se, por um lado, as reuniões da Câmara Municipal de Matosinhos eram quase sempre rápidas e, por isso, com poucos assuntos a noticiar, por outro lado as da Câmara Municipal do Porto revelaram-se, muitas vezes, complicadas. Esta foi uma área que me despertou interesse de imediato, mas também onde senti alguma dificuldade devido aos seus meandros específicos. Nas reuniões mais longas e com muitos assuntos debatidos, havia dificuldade em perceber o que, realmente, importava, o que já tinha sido noticiado pela Lusa e o tratamento que deveria ser dado ao assunto. A minha última saída aconteceu no meu último dia de estágio e, curiosamente, foi para assistir a uma reunião da Câmara Municipal do Porto.

Já os julgamentos e os assuntos de justiça foram, de facto, as áreas que mais gostei de tratar. Aqui, contei com a ajuda essencial da jornalista Suraia Ferreira, que é quem costuma tratar estes assuntos na área do Porto e que tanto me ensinou. A reportagem que mais me marcou foi o caso de dois homens que tinham obrigado uma menor a prostituir-se. Tive a oportunidade de conseguir acompanhar o caso quase na totalidade, pois assisti a uma sessão do julgamento e, depois, à leitura da sentença.

Durante os meses de junho e julho vários jornalistas da Lusa iam tirando férias, sendo que comecei a ter mais oportunidades de sair em reportagem sozinha. Aqui, a responsabilidade tornava-se maior, pois a agência ia noticiar a minha perceção sobre os assuntos, com os dados que conseguisse recolher.

Consegui ir a serviços diversos e perceber a versatilidade que um jornalista deve ter. Num dia podia estar a cobrir cultura e noticiar um ensaio de imprensa sobre uma peça de teatro dos

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alunos da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo e no dia seguinte sair em reportagem para ir a uma conferência de imprensa promovida pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, sobre a jovem colombiana agredida na noite de São João.

Embora na Lusa existam várias editorias e jornalistas que tratam só determinados assuntos, a verdade é que, como a redação do Porto é mais pequena, os jornalistas têm de estar preparados para cobrir várias áreas. Normalmente, os jornalistas especializam-se nos assuntos de uma editoria, mas há alturas, sobretudo em época de férias, em que podem ter de cobrir áreas a que não estão habituados.

Para mim, enquanto estagiária, o facto de não me ter especializado em nenhuma área foi bom, pois permitiu-me ter conhecimento sobre muitos assuntos e, assim, ir percebendo quais eram os que gostava mais e aqueles que me sentia menos confortável a cobrir. Ainda assim, senti, por vezes, dificuldade em alguns temas, sobretudo nos relacionados com a política, pois sentia que me faltava o enquadramento dos assuntos. Nestes momentos, tinha de recorrer à linha da Lusa e ver o que já tinha sido escrito sobre o tema, assim como pesquisar nos outros meios de comunicação outros pontos de vista. Nas ocasiões em que tive de ir acompanhando alguns assuntos continuamente, senti que já me era mais fácil escrever sobre eles e compreendê-los.

Tive ainda a oportunidade de acompanhar uma reportagem multimédia sobre o “Pipa Chá”, um chá que envelhece em pipas do vinho do Porto. A ideia foi perceber o trabalho que é feito numa reportagem, o papel do jornalista, do fotógrafo e do operador de imagem e, depois, a forma como se escreve o texto e se monta a peça para as televisões.

As saídas em reportagem foram, realmente, a parte mais entusiasmante deste estágio. O facto de não ter ficado em nenhuma secção específica deu-me a oportunidade de vivenciar várias experiências e de contactar com várias realidades. Foi desafiante perceber como um jornalista tem de se adaptar a cada serviço e perceber que, muitas vezes, pela falta de visibilidade da agência em relação a outros meios, o trabalho dos seus jornalistas pode ser mais dificultado.

1.2.4 O peso da Lusa nas outras redações e a atribuição da autoria: as questões que se levantaram

Como referido anteriormente, o uso de notícias produzidas pela Lusa pelos outros meios de comunicação social era algo já conhecido por mim antes de iniciar o estágio. Ainda assim, foi

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na primeira semana de estágio, quando comecei a ter contacto com os takes produzidos pela agência, que me apercebi melhor da situação.

Foi, como já mencionei, depois de ter visto a notícia por mim escrita sobre a professora agredida por familiares de um aluno na Escola Básica do Lagarteiro, no Porto, que me interroguei ainda mais sobre a forma como as notícias da Lusa costumam ser utilizadas. Foi também nesta altura que tive noção de que os jornalistas da agência podem, e costumam, ver o seu trabalho reproduzido na íntegra nos outros meios de comunicação, mas sem que a Lusa seja identificada na notícia.

À medida que ia lendo notícias em vários jornais ou vendo as notícias nas televisões comecei a prestar mais atenção ao assunto e a verificar que eram muito semelhantes entre si. Algumas notícias, aquelas que eu escrevia ou que tinha a oportunidade de ler na linha da Lusa, estavam, depois, espalhadas por todo o lado.

O facto de a Lusa ser a base dos noticiários nacionais não foi o que mais me chamou a atenção, mas sim o facto de ser, muitas vezes, usada como fonte de informação sem ser mencionada. Pior eram as notícias que tinha visto jornalistas da Lusa escrever estarem publicadas noutros locais, como se tivessem sido os outros meios de comunicação a produzi-las.

Ainda que soubesse que a Lusa fornece um serviço e que os outros meios de comunicação pagam para ter acesso aos seus conteúdos, o que me inquietava era, essencialmente, o tratamento dado às notícias e o facto de por várias vezes a Lusa não ser mencionada no texto publicado.

Comecei a questionar-me sobre isto, assim como aos jornalistas da redação, e a prestar atenção diariamente ao assunto. Sempre que o assunto era abordado a resposta era igual: esta é uma questão que já é discutida há algum tempo, mas sobre a qual não se pode fazer nada, porque os meios de comunicação pagam para ter a informação.

Ainda assim, o problema principal pareceu-me sempre ser à volta da ética, sobre se seria correto para os jornalistas da agência verem os seus pares usarem os seus trabalhos sem os identificarem, ou melhor, se será ético por parte dos outros jornalistas usarem o trabalho da agência sem identificarem a sua autoria.

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É destas questões que levantei logo no início do estágio na agência e que fui, ao longo dos três meses, acompanhando e prestando atenção que surgem os problemas a estudar nesta investigação. Assim, o objetivo deste trabalho é abordar as perceções sobre a importância que a Agência Lusa tem no jornalismo português ao longo dos próximos capítulos. Mais concretamente, ao longo deste trabalho, pretendo perceber a relevância do trabalho da Agência Lusa para os outros meios de comunicação, através da perceção que os jornalistas têm do uso que os meios de comunicação fazem dele. Ao mesmo tempo, quero perceber a perceção sobre a atribuição da autoria que têm os jornalistas da Lusa e dos outros órgãos de comunicação, abordando, também, a questão do jornalismo online, para entender se este novo meio acentuou, ou não, o uso dos conteúdos desenvolvidos pela agência. Assim, esta investigação vai contar com duas perguntas de partida, que servirão de fio condutor: “Que uso é feito do trabalho da Lusa nas redações dos meios de comunicação em Portugal?” e “Qual a perceção que os jornalistas têm sobre a atribuição da autoria ao trabalho da Lusa?”.

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C

APÍTULO

2:

A

EVOLUÇÃO DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

,

A SUA PREPONDERÂNCIA COMO FONTES DE INFORMAÇÃO

,

O SEU PAPEL NO CIBERJORNALISMO E A QUESTÃO DA AUTORIA DAS NOTÍCIAS

As agências de notícias vieram alterar o jornalismo e o modo como é feito, modificando, nomeadamente, as rotinas das redações. Desde a criação das primeiras agências de notícias que o seu trabalho e rigor foram reconhecidos. São, por isso, atualmente, um meio fundamental para os outros órgãos de comunicação social e uma base importante no jornalismo.

Entre as várias vantagens de recorrer ao trabalho das agências de notícias estão as de caráter económico. Pagar para ter acesso às informações provenientes das agências é, na maioria das vezes, a única solução para os meios de comunicação social terem acesso às informações provenientes dos vários pontos do mundo.

Sendo a Agência Lusa a única agência de língua portuguesa, a sua relevância e a dependência dos outros órgãos de comunicação social tornam-se ainda mais evidentes. As agências de notícias em geral, e a Lusa em particular, alimentam muita da informação publicada nos sites dos vários meios de comunicação portugueses. No entanto, este uso exagerado do trabalho das agências levanta várias questões, de entre as quais se destaca, sobretudo, o uso da sua cópia integral e a incorreta, ou inexistente, referência às agências como fontes de informação e, especialmente, como autoras do trabalho. São vários os meios de comunicação social que usam, frequentemente, o trabalho das agências e não lhes atribuem a autoria.

Importa agora explicitar os principais conceitos abordados neste Relatório, a partir das perspetivas de vários autores. Neste capítulo, onde se refletirá sobre a problemática deste trabalho, o principal destaque irá para as agências de notícias e a sua importância para o jornalismo; a história das agências de notícias em Portugal e a sua evolução até à criação da Agência Lusa; o papel das agências enquanto fontes de informação para os outros órgãos de comunicação; o ciberjornalismo e as agências no mundo online, dada a importância de perceber se este meio acentuou o uso não identificado do trabalho das agências; e, finalmente, a questão da atribuição da autoria no jornalismo, de modo a entender o uso que é feito das notícias das agências, que são tantas vezes partilhadas por outros meios de comunicação sem a respetiva autoria.

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2.1. Génese e evolução das agências de notícias

As agências de notícias assumem um papel de destaque no jornalismo. São um pilar para todos os meios de comunicação e imprescindíveis para o trabalho de todas as redações. Através da contratação dos seus serviços, as redações conseguem, de forma económica, estar em contacto, de forma quase instantânea, com a realidade de todas as partes do mundo. Assim, Golding e Elliot (1979) resumem o trabalho das agências como “uma primeira campainha de alarme para as redações” (Golding e Elliot, 1979, citados em Wolf, 2006, secção 3.5.3 “As agências”).

Serrano, Moral e Alonso (2004) salientam que as agências de notícias converteram-se “numa fórmula padrão para aceder à informação internacional por parte dos media nacionais”, sendo que, por isso, podem ser definidas como “empresas de comunicação que trabalham para outras empresas de comunicação, realizando o envio contínuo e permanente dos eventos noticiosos que ocorreram em áreas não acessíveis pelos meios de comunicação” (p. 139). Entre as várias definições de agências de notícias, os autores escolheram a de Rodríguez Alonso (2004), que afirma que

“são organizações que recolhem factos e notícias dos seus correspondentes em diferentes lugares da sua área de atividade e transmitem-nas imediatamente ao escritório central, onde, depois de tratarem da informação, a enviam, o mais rápido possível, aos seus clientes, conhecidos na gíria jornalística como assinantes” (Rodríguez Alonso, 2004, citado em Serrano, Moral e Alonso, 2004, p. 139).

Já em 1953, a UNESCO tinha definido agências de notícias como

“empresas que têm como objetivo procurar notícias e, de uma forma geral, os documentos da atualidade, tendo exclusivamente como motivo a expressão ou a representação de factos e a sua distribuição a um conjunto de empresas de informação e, excecionalmente, a particulares, com o fim de, mediante um pagamento em prazos fixos e em condições conformes com as leis e costumes comerciais, lhes assegurar um serviço de informação tão completo e imparcial quanto possível”. (UNESCO, 1953, p. 24)

Foi na primeira metade do século XIX, conhecida por Revolução Industrial da Imprensa, que surgiram as primeiras agências de notícias, beneficiando, segundo Crato (1983), “os gostos, os interesses e a capacidade de compreensão das camadas menos instruídas da sociedade” (Crato, 1983, p. 40). Sousa (2008) acrescenta que o “contexto jornalístico, empresarial, social e

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Figura 3 Construção e operacionalização do conceito "Uso do trabalho da Lusa"
Figura 4 Construção e operacionalização do conceito "Autoria"

Referências

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