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Os jornalistas atribuem a autoria dos trabalhos da Lusa?

Capítulo 4: Apresentação e discussão dos resultados

4.3 Os jornalistas atribuem a autoria dos trabalhos da Lusa?

“Não costumo citá-la como fonte de informação, tal como os meus colegas de trabalho, uma vez que sempre nos foi dito que não era necessário fazê-lo” (Entrevistado 8).

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A segunda pergunta de partida - “Qual a perceção que os jornalistas têm sobre a atribuição da autoria ao trabalho da Lusa?”– tem como dimensões a prática dos jornalistas e da redação onde se inserem; a atribuição ou não da autoria do trabalho à agência, e a perceção que têm sobre se essa atribuição é ou não importante. Assim, é tempo agora de analisarmos os resultados obtidos para a primeira dimensão.

Esta primeira dimensão tinha como indicador “Atribuir ou não a autoria do trabalho da Lusa” e foi, provavelmente, a pergunta que gerou respostas mais diferentes entre os entrevistados da Lusa e os dos outros meios de comunicação.

De um lado, os jornalistas da Lusa entrevistados concordam todos que é mais frequente verem notícias da agência onde ela não aparece identificada. Do outro, os restantes entrevistados, que assumem, inicialmente, que citam sempre a Lusa como fonte, assim como os seus colegas da redação. No entanto, alguns, no decorrer da conversa, admitem que pode haver situações em que, de facto, a notícia sai sem estar assinada pela Lusa. Apenas um entrevistado assumiu que embora nunca tenha copiado na íntegra um trabalho da agência, não tem o hábito de a citar como fonte de informação por essa ser uma prática da redação onde está inserido. Houve também apenas um entrevistado que assumiu que só cita a Lusa como fonte quando se trata de conteúdos exclusivos da agência ou de informações que carecem de um rigor acrescido. Curiosamente, estes dois entrevistados que assumiram não citar a Lusa trabalham em televisão. Este aspeto foi curioso na medida em que durante toda a entrevista estes entrevistados casavam muitas das suas opiniões e tinham ideias e hábitos diferentes dos jornalistas dos outros meios de comunicação. Percebeu- se também que há uma aceitação por parte dos jornalistas dos vários tipos de comunicação social para que este grupo tenha comportamentos diferentes.

“Não te consigo dizer uma percentagem, mas imagina se eu vir dez peças, às vezes, em um terço ou até metade não aparece Lusa. Ou então, aparece ‘com Lusa’, mas o trabalho é todo Lusa” (Entrevistado 3).

Notou-se neste ponto da conversa vários aspetos interessantes. O primeiro, e onde os jornalistas da Lusa e os dos outros meios de comunicação social, sobretudo de jornais, convergem nas suas respostas é no facto de a maior parte destas atribuições à Lusa aparecer com o nome do jornal ou jornalista em que a notícia é publicada. Onde eles diferem é nas suas razões: por um

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lado, os jornalistas da Lusa acreditam que esta atribuição à agência é feita desta forma para parecer que é um trabalho maioritariamente desenvolvido pelo jornalista do meio de comunicação e que usou a Lusa em apenas alguns aspetos. Por outro, os jornalistas entrevistados dos outros meios de comunicação explicam que quando copiam na íntegra o trabalho da Lusa a notícia sai assinada só Lusa, mas quando há alguma alteração, pequena ou grande, sai o nome do jornalista ou do órgão com Lusa (por exemplo: Jornal X/Lusa; Jornalista A/Lusa).

“Se copiamos, assumimos. Não temos problema em assumir que é um trabalho da agência. Se for o caso não há tentativa nenhuma de apagar isso” (Entrevistado 1).

Outro aspeto interessante foi o facto de, à exceção dos jornalistas televisivos, todos terem assumido que costumam copiar na íntegra o trabalho da agência e é nesses casos em que mais sentem necessidade de atribuir a Lusa como fonte de informação e autora do trabalho. Entre as várias razões, os jornalistas destacaram que o fazem, porque também não gostariam de ver o seu trabalho publicado por outros e sem estar assinado ou estar assinado com o nome de outro jornalista. Ainda assim, assumem que tentam sempre que o trabalho seja publicado com algumas alterações, sobretudo nas versões em papel, mas que, em muitos casos, estas alterações surgem por indicação dos editores. No online, há, na maioria das vezes, uma menor preocupação em retirar as referências à agência, devido à pressa com que a notícia tem de ser publicada, e é o meio onde os jornalistas assumem todos que há uma maior cópia do trabalho da agência.

“No escrito tiram as referências à Lusa e não há, na maior parte das vezes, qualquer identificação de que aquela é uma notícia da Agência Lusa. No papel é mais notório e flagrante essa retirada e essa falta de atribuição” (Entrevistado 9).

Notou-se ainda que, dos jornalistas entrevistados, os que já tinham pertencido à Lusa têm uma maior sensibilidade para este aspeto, pois conhecem a realidade de estar nos dois lados. Todos referem que atribuem a autoria, ainda que a notícia tenha poucas informações da agência,

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pois quando trabalhavam na Lusa não gostavam da forma como os meios de comunicação tratavam o seu trabalho.

Neste ponto também nenhum dado surpreendeu, tendo ido ao encontro do que foi avançado durante a parte teórica. Lembro aqui Wolf (2006), que referia que as agências “raramente aparecem nos noticiários e nos jornais como origem efetiva de tudo o que é comunicado” (secção 3.5.3. As agências); Boumans (2016) que também reconheceu este problema e demonstrou que embora o papel das agências esteja a crescer, a dependência dos órgãos de comunicação em relação aos seus conteúdos raramente é reconhecida pelos seus clientes e que a atribuição incorreta às agências tem sido empiricamente demonstrada em vários países; ou ainda Boyer (2011) que entrevistou o chefe do balcão nacional de notícias da AP Deutscher Dienst (AP-DD), que assumiu que existem vários jornais que publicam notícias como se fossem os autores das mesmas, mas quando analisadas percebe-se que a maioria é material de agência e que esta não está é reconhecida como fonte. De facto, neste estudo, não houve essa análise posterior às notícias e aos órgãos de comunicação, pois não era o objetivo da investigação.

“Quando usas um texto da Lusa atribuis à Lusa, não podes fazer de outra maneira. Ou não deves. Como também não gostavas que pegassem no teu trabalho e colocassem noutro lado qualquer e não dissessem que era teu” (Entrevistado 5).

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