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REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA

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Academic year: 2019

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Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária

ITERRA

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Produção: Instituto Téc11ico de Capacitação e Pesquisa da Reforma AKrdria -!TERRA

Organização: Coletivo Político-Pedagógico do Instituto de Educação Josué de Castro

Projeco gráfico: Zap Desig11

Diagramação e capa: u11aide Busa11ello

Revisão: Daniela Ste/0110

lluscração da capa: Sérgio Furo

Todos os direiros reservados ao !TERRA.

1 •edição: ou cubro 2002

!TERRA- Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária Rua Dr. José Montauri, 181

Cx. Postal, 134

95330-000 - Vcranópolis - RS Fone/Fax: (54)441-1755

Correio eletrônico: icjcastro@veranet.com. br

Sumário

APRESENTAÇÃ0 ... 5

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO JOSUÉ DE CASTRO:

UMA ESCOLA DO MST - SUA GESTÃ0 ... 9 Mateus Trevisan

IEJC: NÚCLEOS DE BASE E SUA ORGANICIDADE ... 27 Antonio de Miranda

O PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NO

ITERRA ... 37 Dior/ei dos Santos e Pedro Ivan Christoffoli

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APRESENTAÇÃO

Tendo presente que escrever é preciso e que através da escrita podemos contar a história de tantos educandos e educadores que passam um significativo tempo de suas vidas estudando e trabalhando no Instituto de Educação Josué de Castro, em Veranópolis, desde sua criação em janeiro de 1995, é que aqui apresentamos o Caderno do !TERRA nº 05.

Atualmente estamos com 10 turmas em funcionamento no IEJC, entre o Tempo Escola e 'lempo Comunidade, envolvendo em torno de 400 educandos e educandas e 30 educadoras e educadores fixos (sendo que alguns destes também são educandas e educandos em Tempo Comunidade).

Trabalhamos com os seguintes cursos:

· Técnico em Administração de Cooperativas - TAC, com Ensino Médio e Profissional, iniciado em 1993 e assumido nesta Escola cm 1995.

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Ioje estão no IEJC a 7a e a 8a turmas deste curso.

·Magistério - Normal de Nível Médio, iniciado cm 1990 e assumido nesta Escola em 1997. Hoje estamos com a 8a turma cm andamento e está previsto o início da 9a turma em novembro de 2002.

· Técnico cm Saúde Comunitária - TSC, com Ensino Médio e Profissional, iniciado em 2001, estando a la Turma em andamento.

· Curso de Ensino Médio com Qualificação Profissional em Comunicação Social, iniciado cm 2002, estando a la turma em andamento.

· Pedagogia da 1erra, a nível superior, iniciado em 2002, em uma parceria do !TERRA com a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, estando a la turma cm andamento.

· Curso de Especialização cm Administração de Cooperativas -CEACOOP, em uma parceria do !TERRA com a Universidade de Brasília. Iniciou como curso de especialização e de extensão. A turma atual é apenas de extensão.

. Supletivo de lo e de 2o Graus. Iniciou cm 1998 com o lo Grau e

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Estamos nos desafiando a ser na prática também uma escola de educação infantil, tendo cm vista a Ciranda Infantil que funciona de forma permanente no IEJC.

Neste Caderno "Instituto de Educação Josué de Castro: Reflexões sobre a prática" trazemos textos produzidos por educandos e educadores, que a partir de suas monografias ou outras experiências de sistematização, contribuem com o processo de reflexão sobre a prática pedagógica em nosso Instituto. Há textos produzidos em diferentes épocas e devem ser lidos situados em seu tempo. Algumas destas reflexões acabaram se traduzindo em ajustes no funcionamento do IEJC e na implementação de seu método pedagógico.

O primeiro texto é do educando Mateus Trevisan. Vindo de uma experiência de escola de acampamento dos Sem Terra para fazer o Curso de Magistério Turma VI no IEJC cm 1997, em sua monografia se debruçou sobre as formas de gestão assumidas no Instituto. Em síntese, vejamos como o olhar investigativo capta o que se vive na realidade numa experiência educativa como esta.

No segundo texto, o educando Antonio de Miranda faz uma síntese de sua monografia realizada no Curso Técnico cm Administração de Cooperativas na turma V do IEJC, concluído em 2000. Aborda a formação dos educandos a partir de sua atuação dentro dos Núcleos de Base. Ao lê-lo podemos perceber a diferença que faz na vida de um educando quando se desafia a pesquisar, analisar e refletir sobre o que acontece no dia a dia do Instituto.

O terceiro texto traz uma reflexão feita pelo educando Diorlei dos Santos (turma VI, TAC - 2002) e pelo educador, seu orientador de monografia, Pedro Ivan Christoffoli. Juntos procuram sintetizar o que significa o processo de organização do trabalho no !TERRA, já que o trabalho neste Instituto é considerado como dimensão fortemente educativa.

E por fim, como quarto texto, temos uma reflexão um pouco diferente das anteriores, mas que consideramos importante publicá-la neste Caderno. A educadora Isabcla Camini, após uma trajetória de sistematização de experiências de educação no MST, traz à tona o desafio de uma sistematização coletiva. Este texto busca desmistificar a idéia de que só escrevem/pesquisam/sistematizam aqueles <JUC estão no

mundo acadêmico. Ao adentrar na leitura, nos convenceremos que os

verdadeiros sujeitos, envolvidos na realidade são os autores legítimos da reflexão e transformação que precisa ser feita a partir desta realidade. Desejando uma boa leitura a todos e todas, esperamos que este conjunto de textos ajude a provocar reflexões sobre nossas ações pedagógicas, a partir das questões que cada educador e educando do Instituto abordou aqui. Também esperamos que ele estimule cada vez mais a prática do registro e da pesquisa, tão importantes para a formação que pretendemos.

Coletivo Político-Pedagógico do IEJC. Veranópolis, outubro de 2002.

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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO JOSUÉ DE CASTRO: UMA ESCOLA DO MST - SUA GESTÃO'

Mateus Trevisan

Introdução

Este texto foi elaborado a partir do trabalho de conclusão de curso apresentado no "Curso de Magistério", turma 6, no ano de 1999. Sua origem está no projeto de pesquisa que buscou aprofundar a constituição do Instituto de Educação Josué de Castro e do seu funcionamento, principalmente dos elementos vinculados a sua gestão.

Após três anos transcorridos, faz-se este pequeno artigo, bastante incompleto dada a abordagem específica, mas principalmente porque a realidade estudada é muito dinâmica e os elementos mais práticos do dia a dia se modificaram muito. Porém as idéias gerais e sua fidelidade aos princípios da educação do MST permanecem.

Optou-se por realizar a abordagem específica da organicidade do Instituto, e aos que desejarem ter um conhecimento mais detalhado do IEJC - Instituto de Educação Josué de Castro, podem consultar os Cadernos do !TERRA, nº 01 e 02, onde consta a memória cronológica e a Proposta Pedagógica.

É bom destacar que o texto foi elaborado por alguém que faz parte da coletividade do Instituto, primeiramente como aluno e posteriormente assumindo atividades de trabalho e acompanhamento de seus cursos e que por isso pode apresentar falhas ou pecar por falta de informações, além de dificultar o distanciamento para se escrever e melhor analisar o que se vive. A emoção e a tensão permanente tendem a influenciar no jeito de escrever.

l .A organização da coletividade

A atual estrutura de funcionamento do IEJC- Instituto de Educação

l Texto elaborado a pai cir de monografia apresentada para o curso Normal do Insticuco de Educa-ção Josué de Castro, cm junho de 1999.

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Josué de Castro é resultado de mudanças constantes que se fo ram processando no decorrer da história de concepção e fazimento deste Instituto. Por isso, ela não é assim por acaso, é o aprendizado que vamos tendo no avaliar e re-avaliar os erros e acertos, e projetar as novas ações. Mesmo havendo mudado no aspecto organizativo, seus objetivos se mantém os mesmos quando da sua fundação.

Observamos isto em conversa com Cerioli1 , que comenta: "a idéia básica se mantém, o que mudou por exemplo foi a velocidade de implantação, por questões de falta de recursos e coisa assim, mas a idéia básica se mantém desde o início, e que seria de uma escola que atenderia vários interesses, só que ela estaria voltada, de uma forma especial, para a produção agroindustrial e teria oficinas nas várias áreas. O princípio não mudou, o que houve foi uma série de discussões, de ajustes, por questões externas, mas, na minha forma de ver, a primeira rota traçada se mantém ... ".

O conjunto do MST, com as realidades para as quais as pessoas aqui são fo rmadas, tem sido um dos principais determinantes no funcionamento do Instituto de Educação Josué de Castro, pois são as demandas que este apresenta, as suas necessidades que levam a readequação interna.

Com o avanço da luta pela Reforma Agrária, os diferentes momentos por que passa o MST tem exigido cada vez mais uma qualificação da organização. Esta reflexão é desenvolvida nas instâncias da organização e também se refere ao IEJC, exigindo que este cada vez mais possa desempenhar um papel de contribuir na construção da estratégia dos trabalhadores na luta pela Reforma Agrária. Assim as discussões e críticas produzidas em espaços externos ao IEJC também tem contribuído para que se realizem avaliações e alterações no processo de funcionamento desta coletividade.

1.1. Princípios

No Instituto, em vários espaços podemos verificar a aplicação dos princípios de educação e de organização do MST Aqui exploro a gestão do Instituto e o que vem a ser compreendida.

2 !\lembro <lo Colccivo Polícico Pedagógico do IEJC

Considera-se que a gestão deve ser democrática e possa garantir o máximo de participação dos membros da coletividade no processo de tomada das decisões. Assim, para a educação, a gestão democrática é compreendida: "Considerar a democracia um princípio pedagógico significa dizer que, c;egundo nossa proposta de educação, não basta os educadores estudarem ou discutirem sobre ela; precisam também, e principalmente, vivenciar um espaço de participação democrática, educando-se pela e para a democracia social. (MST, p.19 1996)"

"A participação de todos os envolvidos no processo de gestão. Todos devem aprender a tomar as decisões, a respeitar as decisões tomadas no conjunto, a respeitar o que foi decidido, a avaliar o que está sendo feito e a repartir os resultados (positivos e negativos) de cada ação coletiva. Isto t democracia! E só acontece se o coletivo organizar instâncias de participação, desde a direção política ou o planejamento mais geral da atividade de educação, até a esfera específica do aprender e ensinar ou da relação entre quem educa e quem é educando." (MST, p.19, 1996).

'làl concepção foi trazida para o Instituto de Educação Josué de Castro como um princípio político pedagógico e vem norteando o seu funcionamento, levando os membros da organização e uma gestão coletiva dos interesses do Instituto e suas relações com o conjunto mais amplo do MST Busca-se o desenvolvimento de uma consciência para a luta e que sejam sujeitos desse processo.

Se falamos de gestão democrática, temos também que esclarecer o entendimento que temos de democracia e que aqui é traduzido: resolver, de forma organizada, os problemas de um coletivo ou coletividade, exigindo que as pessoas que fazem parte deste processo se organizem para dirigi-lo. Ela exige uma direção coletiva dos interesses, é

"a forma de gestão onde todos são informados, discutem, ajudam a decidir, mas após ter decidido, todos devem se subordinar a decisão feita". (!TERRA, P.15, 1996).

Não entendemos democracia com a possibilidade de voto em eleições. Entendemos democracia como a participação de todos nos processos de informação, decisão, planejamento, execução, controle, avaliação e apropriação dos resultados de um determinado empreendimento social, mas tudo feita de forma organizada. Para cada uma das fases acima ela necessita de mecanismos que devem ser dominados por todos, embora nem todos participem.

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Tratando do assunto, Roscli Salctc Cal<lart3 comenta que: "11a

co11cepçcio de cooperação, a participação, chamada de gestão democrática, é um princípio em que todas as pessoas aprendem a participar e esta participação não se dá a "conta-gotas", participando um pouquinho, um pouquinho até que se aprende a participai; ela tem que ser um processo contínuo incentivado no seu dia-a-dia."

1.2. Estrutura orgânica

A atual estrutura de funcionamento passou a ser discutida no final do ano de t 997 e iniciou sua implantação cm meados de 1998. Ainda não está terminada, e sabe-se que não chegará a estar, pois com o dia-a-dia da prática e reflexão é que vai se fazendo as definições necessárias, ajustes, normatizações etc.

Este processo também permite aos educandos extraírem elementos de sua vivência prática para posterior implementação nas práticas que irão desenvolver junto às suas comunidades de origem.

a) A relação com os setores do MST

Em vista das necessidades pelas quais foi criado, o !TERRA e o IEJC estão diretamente imbricados com o todo do MST, cumprindo com suas determinações.

Cerioli diz que: "A relação básica é de que o ITF.RRA é uma escola e cumpre as tarefas que lhe são delegadas pelo Movimento" e que é acompanhado pelos setores de: Formação; Produção, Cooperação e Meio Ambiente; Satíde; Rducação, Comunicação. Eles ajudam a diswtir a proposta, tornar as decisões e linhas pollticas para o bom andamento do Instituto, buscar recursos e são os responsáveis por ettrsos que se realizam

110 JEJC.

Edgar Kolling4 relata que a relação do Instituto se dá na forma de

uma aprendizagem que vai sendo construída. "O Movimento foi/vai aprendendo e o Instituto vai aprendendo. Porque se ele tomar decisões que não encontram ressonância dentro da organização, ele não tem força para levar adiante, é um processo dinâmico, dialético, pois como a

3 l\leml.ira <lo Secor de Educação do l\IST e <lo Coletivo Político Pedagógico do IEJC. 4 l\lc rnl.iro <lo Secor de Educação do l\IST e do Coletivo Polftico Pedagógico do IEJC.

organização não é homogênea, 110 sentido de e11te11rler o papel do Instituto

ou ter a mesma compreensão em todo o país, há um processo de tensão entre tlmbos, onde os dois aprendem. Se o Instituto se submete de forma passiva, nem cresce nem contribui para a 01ga11ização crescer, por outro lado se ele não respeita a 01ganização como um todo vai ter problemas".

A prática tem mostrado que o Movimento através, da sua Direção Nacional, toma as decisões mais gerais que são encaminhadas aos setores e instâncias responsáveis pelo Instituto que também formulam contra propostas. Essa lógica também é referendada por Kolling: "de/ato, quem

define, quem dá as linhas gerais tem que ser o A-fovimento, mas é

impo1tante que o Instituto, ao acompanhar o dia-a-dia do andamento, do fazer pedagógico, também tenha uma reflexão e uma postura ativa de fazer o Movimento entender a lógica mais educativa de tuna escola.

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importante manter a tensão em equilíbrio, nem achar que o Instituto

tem autonomia absoluta, nem que o Movimento tem a palavra final. "

Esta tensão existente é muito forre no que se refere ao método de funcionamento do IEJC, já que o MST desenvolve diferentes cursos, coordenado por diferentes setores e com metodologias diferentes. Assim, cm vários fóruns de avaliação da organização são feitas críticas ao funcionamento do IEJC a partir das informações que cada um disponibiliza e das experiências que desenvolve.

Já dentro do Instituto, como instância que o integra, existe a Direção Política, que faz urna espécie de ponte entre o conjunto do MST e o Instituto. A Direção Política se constitui basicamente em um grupo de pessoas, as quais o Movimento Sem Terra delegou a responsabilidade sobre o Instituto. Dela fazem parte representantes dos setores que possuem cursos no IEJC já citados, a direto ri a legal, um responsável indicado pela Direção Nacional e, se necessário, são convidadas outras pessoas. Esta é a instância que responde pelo Instituto perante o Movimento Sem 'le rra.

b) A gestão interna

Todo o funcionamento interno está compreendido em duas dinâmicas, que buscam separar o processo de tomada das decisões, da execução das mesmas, buscando garantir a gestão democrática sem perder a eficiência econômica. Estas duas dinâmicas são denominadas de Democracia Ascendente e Democracia Descendente.

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Democracia Ascendente é o processo em que a participação sobe da base até a Assembléia, passando pelas instâncias de coordenação intermediária.

"Nessa linha ascendente, deve ser garantido o mais amplo espaço para o debate e a participação dos associados. As questões partem dos Núcleos de Base (que devem ser Núcleos de Base do MST). Aí discutem os problemas da cooperativa, os planos de trabalho, os temas que serão posteriormente discutidos nas Assembléia Geral, os documentos e o Jornal do MST, Te. O núcleo é a célula viva da organização. (Cristófolli, p. 80, 1998).

Núcleos de base - NB

Os Núcleos de Base são a primeira instância do processo de Democracia Ascendente. É o espaço de participação das pessoas que integram a coletividade do IEJC. Fazem parte dos NB 's tanto educandos que estão em tempo Instituto, quanto os educandos em tempo comunidade no IEJC e educadores que trabalham no Instituto.

Nele deve se desenvolver a base da participação na gestão do Instituto.

É a instância que garante o espaço para que cada pessoa possa opinar e ajudar a decidir sobre o funcionamento do Instituto e os rumos que ele deve seguir. Também servem para se realizar estudos, discussões do Movimento Sem Terra, avaliar, enfim, se constituem Núcleos de Base do MST Uma das tarefas que os NB's também passam a incorporar é o de acompanhamento do processo formativo de seus membros na sua inserção na coletividade, no cumprimento das tarefas, no desenvolvimento e capacitação de cada um de seus membros. Conforme Regimento Interno:

"É o NB quem responde perante a coletividade pelos deslizes, desvios políticos-ideológicos, indisciplina, falta em tempos educativos, pouco envolvimento nos estudos e trabalhos, responde pelas atitudes e comportamento de seus membros".

"A instância, o caminho por onde se participa é através do Núcleo de Base, este é o canal. Ele é a instância política de elaboração, de planejamento, de tomada de decisões, é ali que se discute, se decide para depois no setor executar" co111jJ/eme111a Mário Lilf.

D:ducando da 1 'forma do Curso Técnico cm Administração de Coopcraci\"as - 'IJ\C e memhro do \l~:n:

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Muitas vezes acontece que, por falta de informação, de domínio do funcionamento, dos princípios que são aplicados no Instituto e do nível de consciência e organização, os NB 's acabam ficando indiferentes diante dos fatos, sem conseguir opinar ou intervindo apenas nas questões mais pequenas. Aqui a capacidade de análise e proposição de cada integrante determina a qualidade das discussões que são feitas e por isso, na distribuição das pessoas é preciso buscar um equilíbrio na constituição do núcleo. Não no sentido de que todos devam pensar da mesma forma, porque justamente a diversidade das características dos componentes dos Núcleos de Base é que permite a riqueza do processo educativo, mas é preciso garantir que esta diversidade esteja distribuída para que o conjunto dos núcleos de base possam ter um bom funcionamento. Logo busca-se o equilíbrio na distribuição de gênero, das pessoas que se destacam por habilidades, pela capacidade intelectual, pela liderança e também das que têm mais dificuldades e limites.

Com o desenvolvimento do processo e o andar de cada curso busca-se trabalhar para que os membros de cada Núcleo de Babusca-se possam cada vez mais qualificar seu processo de participação na coletividade, apropriando-se dos elementos que permitem a estes serem sujeitos do próprio processo.

Coordenação dos Núcleos de Base do Instituto - CNBI

É a instância que tem as discussões mais abrangentes do Instituto. Delas participam coordenadores de cada Núcleo de Base, os supervisores das áreas e responsáveis pelo acompanhamento dos educandos no IEJC.

Como instância que tem o domínio do conjunto do processo, é responsável pelo seu bom funcionamento e o zelo em relação as decisões tomadas pela coletividade.

Pelas suas atribuições, deve tomar todas as decisões necessárias a boa execução das determinações coletivas. Esta instância, além disso, é quem deve se preocupar com o bom fluxo das informações e e.la qualidade das discussões que são realizadas. No caso de os núcleos de base não conseguirem tomar as decisões que são necessárias, a coordenação deve assumir para si esta responsabilidade.

Quem coordena esta instância (1 º, 2º e secretário) dá o ritmo de seu funcionamento. Se eles/as não tiverem as habilidades necessárias de

condução de reunião, de visualização do conjunto do Instituto, acabar- ,

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se-á discutindo pequenas coisas e deixando o trem da história passar por conta própria. Os coordenadores tem a tarefa de preparar a reunião da instância, pensar a pauta, organizar um Informe com Balanço Crítico, analisando o andamento da coletividade.

Os membros da CNBI tem um período determinado pelo qual exercem esta função, podendo serre-indicados ou não. Da mesma forma se for considerado que os mesmos não estão cumprindo as suas atribuições, podem ser indicados novos coordenadores para desenvolver a tarefa.

Assembléia Geral do Instituto de Educação Josué de Castro

Esta é a instância máxima dentro do processo de democracia ascendente. É a instância máxima da coletividade.

São seus participantes: todos os integrantes dos Núcleos de Base mais os integrantes da Direção Política que estiverem no Instituto.

É convocada pela CNBI e normalmente acontece um vez por mês, também podendo ser convocada extraordinariamente.

Nela são decididas questões como:

a) Estar diretamente submetida a Direção Política do Instituto, respeitando os objetivos e planejamento estratégico do mesmo.

b) Apreciar os planos de produção;

c) Apreciar a organização dos postos de trabalho; d) Ratificar o Informe com Balanço Crítico do mês; e) Apreciar a prestação de contas;

f) Apreciar os orçamentos;

g) Encaminhar mudanças no Regimento Interno e Normas de funcionamento;

h) Ratificar a Coordenação dos Núcleos de Base do Instituto -CNBI;

i) Ratificar o Conselho Fiscal;

j) Ratificar a Comissão de Disciplina;

Os documentos e decisões a serem tomadas pelas Assembléias são primeiro debatidas nos núcleos de base, onde se garante a possibilidade

de maior participação efetiva dos membros da coletividade e é possível aprofundar as discussões. Além disso as assembléias são precedidas de uma plenária da coletividade para aprofundar as discussões realizadas nos núcleos, esclarecer as dúvidas, sendo possível unificar as propostas. Logo as assembléias exercem o papel de realizar a ratificação final das questões que já passaram por amplo processo de debate.

Ela reflete o funcionamento das instâncias que a precedem, principalmente dos Núcleos de Base, pois neles é efetuada a discussão do que será levado cm aprovação. Percebe-se assim a capacidade de interferência e questionamento que as pessoas possuem; se elas abraçam a causa e fazem proposições ou se apenas permanecem como telespectadores.

Pela importância que tem no processo, a assembléia também é um momento de união d~ coletividade, onde se vivencia a mística, procede-se informes de interesprocede-se coletivo e procede-se estabelece combinações para o andamento do processo. Uma assembléia bem feita melhora a coesão e ânimo para encarar as tarefas.

Democracia descendente

Essa denominação é dada ao processo democrático interno que parte da aprovação pela Assembléia Geral e vai até a execução das decisões.

"Na etapa de democracia descendente não é mais o espaço de abrir discussões. É o momento de cumprimento das decisões! E a estrutura orgânica deve ser pensada com base nesse pressuposto, de agilidade e eficácia no atingimento dos resultados. "(Cristófolli, p.80 1998).

Ccrioli também faz um esclarecimento sobre a origem do termo e sua relação com o trabalho. · ·

"O trabalho é para executar aquilo que a mesma pessoa pode ter decidido no seu Ntídeo de Base. É uma espécie de retorno ao mesmo princípio, por isso se chama democracia descendente. Porque 11tlo é uma imposição, ela é uma decisão que ela mesma aj11do11 a tomar, qtte é

diferente da relação de patrão, em que o patrão manda fazer aquilo que você não decidiu e é por isso que é visto com uma dimensão de democracia, sendo claro, que o que foi decidido não foi necessariamente pe11sado por uma zínica pessoa, foi pensado pelo conjunto como o que é

executado depois; o trabalho é feito pelo conjunto das pessoas, se tornando uma gestão coletiva dos interesses."

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Coordenação Executiva

É a instância que tem a tarefa de coordenar a execução das atividades a serem desenvolvidas pelo conjunto da coletividade. Para isso deve tomar todos os procedimentos necessários a realização da tarefa, acompanhar a sua execução e informar as instâncias sobre o cumprimento da mesma.

É a instância onde participam os Coordenadores de cada setor; por isso faz-se a leitura do andamento de todas as decisões tomadas e do cumprimento dos planejamentos coletivos.

Deve buscar a organicidade para o bom andamento e cumprimento das decisões estabelecidas e do gerenciamento do dia-a-dia. Diferente de outras instâncias da coletividade, por serem os coordenadores de setores pessoas que permanecem em trabalho no IEJC, há sempre um grupo de pessoas da instância que permanece, o que possibilita a esta manter uma estabilidade maior de procedimentos.

Áreas

Atualmente o sistema de trabalho do Instituto está dividido em 3 áreas: Área Político-Pedagógica, Área Econômica e Área de Moradia. I lá existência destas áreas provém da análise da estrutura e busca-se viabilizar a execução das atividades da melhor forma possível. É a primeira divisão do trabalho.

Em cada uma das áreas existe um supervisor6 que acompanhará o desenvolvimento do trabalho, respondendo pelas questões que dele surgirem e auxiliando os setores a resolver os problemas de maior abrangência.

Os supervisores devem organizar o trabalho e atividades da sua área, distribuir e encaminhar remanejamentos de mão-de-obra, avaliar a eficiência das tarefas, exigir o cumprimento das atividade e verificar a qualidade com que as mesmas foram desenvolvidas.

Setores

São divisões das áreas, podendo ser de número variado. Os encarregados por eles, denominados coordenadores, são indicados pelos supervisores. Os

6 São pessoas indicadas para o exercício <la função pela Direç:io Política do 1 EJC.

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coordenadores recebem as informações dos supervisores e as tratam de executar. Tem autonomia para resolver as questões dentro do seu setor, sem que estas interfiram em decisões maiores que já foram tomadas pela coletividade. Fazem parte do processo de distribuição das tarefas.

Unidades

São caracterizadas pelas funções específicas que desenvolvem, sendo exemplo delas: panifícios, cultura, ensino, portaria. Nelas acontecem os últimos encaminhamentos para a realização do trabalho. As unidades comportam os postos de trabalho, ocupados por pessoas que desempenharão as atividades previstas e delegadas a cada posto.7

Conselho fiscal

Integrado por representantes das turmas e educadores que permanecem no IEJC.

Í~ uma instância que fiscaliza o andamento do processo, verificando: o patrimônio, contas do Instituto, o orçamento, planos de metas e atividades, documentos, normas elaborando pareceres sobre as constatações feitas e auxiliando no seu encaminhamento.

Ele é o "olho" dos membros da coletividade, que pode verificar o cumprimento das atividades de forma mais minuciosa. Por isso seus relatórios têm a tarefa de esclarecer ou apontar limites no andamento da coletividade, permitindo tomar decisões com mais clareza.

Comissão de disciplina

Ela funciona como zeladora do cumprimento da disciplina e combinações coletivas dentro do Instituto, normas e princípios. Deve averiguar as irregularidades e fatos que lhe são solicitados, obtendo dados sobre os mesmos e propor encaminhamentos para as questões levancadas.

Deve trabalhar e propor métodos educativos na perspectiva de construir a disciplina da coletividade, não apenas agindo como instância investigativa.

7 Um aprofundamento maior sobre a organização do trabalho pode ser encontrado neste caderno em texto específico.

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b) Instrumentos de gestão

São os elementos que os sujeitos do processo tem a sua disposição para desenvolverem a gestão da coletividade. Eles são importantes para se garantir a sua vitalidade e a participação das pessoas. São disponi-biliz.ados como pauta de discussão, cada qual com sua instância específica e responsáveis determinados. São documentos que são discutidos ou espaços em que se contribui diretamente na gestão, normalmente perpassam pelos vários espaços e instâncias.

Organização pedagógica

Para a organização pedagógica de cada curso e do Instituto, foram estabelecidos documentos como o Proposta Pedagógica do IEJC, em que se sistematiza os objetivos e o método pedagógico. Além deste existem as Propostas Pedagógicas de cada curso, cm conformidade com o Proped IEJC. Para a aplicação elabora-se o Promet - Projeto Metodológico. Este documento estabelece como serão realizadas as etapas dos cursos. Ele estabelece a aplicação prática das linhas gerais estabelecidas na proposta do curso e faz os ajustes que são necessários no decorrer da caminhada de cada uma das turmas. l ~ elaborado pela coordenação dos cursos e pelos responsáveis pelo acompanhamento, a partir da análise da situação das turmas e em vista dos objetivos que precisam ser alcançados.

Conforme a caminhada que as turmas vão desenvolvendo e o domínio que passam a ter do próprio processo de vivência, os educandos são convidados a discutir as metas de cada etapa e as atividades de ensino e capacitação que serão desenvolvidas.

Organização econômica e do trabalho

Em vista da melhor organização do trabalho nas diferentes unidades do IEJC, são organizados planos de produção mensal, em que são discutidas e determinadas as diversas metas a serem cumpridas. Este documento é elaborado com membros das unidades e debatido nos núcleos de base a fim de ser ratificado pela coletividade. Com a aprovação também cabe a todos a dedicação cm vista de cumprir com o que foi determinado.

J\. partir das metas de produção e pedagógicas de cada etapa de curso é organizado um orçamento mensal do IEJC, estabelecendo as receitas e despesas a serem efetuadas no período. J\. cada final de mês é elaborada e apresentada a prestação de contas, demostrando o que foi ou não realizado.

A organização econôm ica mexe com os membros da coletividade, principalmente po r afetar diretamente interesses individuais e coletivos, principalmente as atividades que implicam diretamente na sobrevivência, como é o caso da alimentação, ou atividades de lazer, como as viagens e atividades de campo.

Os recursos provêm da mantenedora do IEJC, mas também são estabelecidas metas de geração de renda pelos educandos e educadores, através das unidades de trabalho e principalmente via prestação de serviços externos a pessoas da comunidade.

A circulação de informações

No Instituto são utilizados vários mecanismos em vista de faz.cr circular as informações dentro da coletividade e permitir que, de posse delas, as pessoas possam melhor participar e opinar sobre as decisões a serem tomadas. Estes mecanismo vão, desde o uso permanente de vários murais, dos espaços de reuniões, de relatórios, informativos diários até momentos de plenária e discussão coletiva.

Avaliação do processo

A avaliação é desenvolvida em diferentes âmbitos e permanentemente. São feitas avaliações de educadores e educandos, deste o aproveitamento de estudos (disciplinas), de capacitação (oficinas), da vivência social e do desempenho na gestão e no trabalho.

Este processo de avaliação permite que se possa medir os avanços individuais e coletivos e apontar onde permanecem deficiências que precisam ser superadas.

2. A construção diária

A "arquitetura social" cm que funciona o instituto, é bastante complexa e geri-la não cem sido uma tarefa fácil ou simples; pelo contrário, exige um esforço muito grande daqueles que trabalham e estudam, enfrentando várias jornadas extras de trabalho e demoradas reuniões.

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ajustados permanentemente, restados e aplicados, para que se possa construir um ambiente e uma organização o mais eficiente possível no cumprime nto das suas tarefas.

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Uma questão de permanente conflit0 está vinculado aos elementos da democracia e a aut0nomia que 6 dada as instâncias do IEJC, princi-palmente aos educandos, para que possam decidir.

Os educandos passam períodos em Tempo Comunidade enquamo outras turmas estão no Instituto; isto faz com que o trem não pare e vão acontecendo modificações no andamento. Existem modificações propostas pelos próprios educandos e outras que são de responsabilidade das instâncias, que tem a tarefa de responder pelo Instituto perante o MST Quando os educandos retornam do TC, levam um certo tempo para compreender em que "estação embarcaram" e como está se desenvolvendo o Instituto.

Por isso muitos não entendem o que foi feito e não assumem responsabilidades pela sua gestão. Para Cerioli, "o pessoal está no nível da reclamação, não chegaram a um encaminhamento, dizer se queriam que fosse diferente, encaminhar a instância e propor as mudanças. As pessoas ainda não estão no nível da gestão, estão no nível da reivindicação, isso q uc dizer· elas não estão se assumindo como escola, elas estão reivindicando da escola. Se isso ocorre, a rigor, é estar olhando como um outro e não como alguém que é a própria escola( ... ). Por não ser o único sujeito do processo, sente-se meio agredido na democracia porque as pessoas sempre acham que são o centro da história e tem dificuldades de que os outros também sejam sujeitos, deixando a sensação de que o processo está fugindo das mãos, do controle, sem se dar por conta de que o próprio movimento é assim. Tem coisas que a gente não está na instância que decide, mas está na instância que executa."

Assim, é sempre necessário se desenvolver um esforço para chegar a esta compreensão coletiva e proporcionar espaços de auwnomia do que se pode decidir cm cada moment0 e instância. Boa parte destas definições constam no Regimento Interno do Instituto, mas a cada vez que são tomadas decisões que implicam na vida das demais pessoas gera um processo de discussão e adaptação gradativa as mudanças feitas. Precisa de um tempo para madurar e analisar. O fato de restringir a participação a alguns aspectos também limitou o interesse e a participação das pessoas, já que não decidem, não há razão de ficarem discutindo.

O importante também é frisar que o direito de decidir é dado conforme a responsabilidade que cada pessoa e que cada instância tem. Assim, por exemplo, os educandos podem decidir o que fazer com a renda que eles gerarem ou com um percentual estabelecido pelo MST

e não com o conjunto do orçamento. Para tantO, algumas regras são estabelecidas. Autonomia com responsabilidade.

3. Frutos da caminhada

Um dos elementos que permite avaliar a contribuição da escola para a organização é a presença de educandos que nela se formaram e que hoje contribuem nas instâncias do MST em seus diferentes setores e estados. Muitos são anônimos, podem estar no escritório de uma cooperativa, trabalhando na escola de um acampamento ou assenta-mento, outros se incorporaram a instâncias de coordenação e percorrem regiões ou estados do Brasil. O importante é que o Movimento também soube incorporar e aproveitar, cm todas as suas diversas atividades, estas pessoas, cada qual com a sua habilidade.

O fato de os educandos terem passado pelo IEJC e nele terem se capacitado durante 3 anos, permite o desenvolvimento de características pessoais que contribuem para o desenvolvimento das tarefas, nem sempre apresentadas por todos, mas que compõe o perfil da maioria.

"O espírito de iniciativa; a agilidade de encaminhamentos diante de uma tarefa;; uma racionalidade maior na hora de tomar as decisões; maturidade na administração de conflitos interpessoais; melhor organização do tempo; preocupação com o planejamento; hábito de registar o que se discute e debate nas reuniões; diminuição do machismo; disposição de se colocar para ajudar outros estados; disposição de continuar estudando (muitos querem fazer um curso superior); mais facilidade de relacionamento com as pessoas; mais faci lidade de expressão oral e capacidade de intervir tomando posição; novos gostos e costumes cm relação ao esporte, ao lazer; cultura cm geral; capacidade de liderança." (Caldart, 1996, p.26)

Nos dias mais atuais podemos tomar como exemplo o próprio funcionamento do IEJC, em que muitas das pessoas que nele hoje prestam serviços a organização já foram estudantes de algum dos cursos e hoje trabalham permanentemente no Instituto ou se deslocam a ele para realizar o acompanhamento específico de alguma de suas turmas.

Neste tempo de experiência tornou-se cada vez mais comprovado que "a forma, forma". Que a vivência das atividades objetivadas é um dos determinantes na formação da consciência dos sujeitos. Esta vivência de uma experiência de participação coletiva na gestão de uma escola tem permitido construir uma nova lógica, um novo jeit0 de educar.

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O educador Bernardo Mançano Fernandes,8 que esteve na escola

ministrando aulas de geografia, dá sua opinião: "olha, a primeira vez que eu fui dar aula no Instituto de Educação Josué de Castro eu não acreditei no que eu vil Quando eu vi os alunos gerindo, a estrutura de organização, a gerência do Instituto e sua forma de funcionamento, o compromisso com que ele faz, eu fiquei um pouco surpreso porque é diferente de tudo que está aí. E por outro lado está diretamente relacionado com a sociedade que o Movimento Sem Te1Ta propõe construir; então já é uma experiência de nova sociedade. Quando você vê o compromisso, os alunos tem que trabalhar, tem que arrecadar dinheiro, tem que conseguir daqui, de lá, e mesmo assim conseguem fazer o que eles precisam fazer e cada vez estão fazendo melhor: Então eu acho que tudo isso coloca o Instituto Josué de Castro como uma escola do futuro, como essa escola do campo que n6s queremos construir."

O fato de as pessoas poderem a cada dia contribuir, seja na discussão ou na realização direta das atividades para a construção da escola e garantia da sua própria formação é o que trás satisfação para as mesmas, é o que permite dizer "isto eu ajudei a fazer". "É reconhecer o peso educativo que tem o trabalho na secretaria, na administração, na produção; é tttna forma de entender que nenhum processo educativo pode acontecer apenas por discursos, por falar, por leituras; ele tem que acontecer por práticas, além da dimensão de um exercício de gestão democrática, ele é também um tempo pedagógico. Porque vincula teoria e prática, vincula fazer e pensar, é reconhecer que o trabalho é uma matriz pedag6gica, que é educativa," afirma Miguel Arroyo9 •

Muitos elementos já foram construídos e muitas dificuldades ainda se encontram. Estas questões irão aparecer a cada dia e a cada turma que iniciar, mas o importante é cada vez mais caminhar para a solução das mesmas e que a vivência seja o mais real possível, por isso mais plena de suas potencialidades educativas.

8 Educador no 1 EJC e membro do Setor de Educação do MST, coautor do livro Josué de Castro -Vida e Ohra da edicora Expressão Popular.

9 Encreviscado na J Conferência Nacional da ~:ducação do Campo, após ter assistido urna

apresen-tação do Insticuco em urna das plenárias de experiências. Também ministra aulas no lnsticuto e assessora o Secor c.le Educação do MST

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Bibliografia

BOGO, Adernar. A Vez dos Valores, São Paulo, 1998. Caderno de Formação nº 26

CALDART, Roseli Salete. A formação dos Trabalhadores no MST: um estudo sobre o curso Técnico em Administração de Cooperativas -TAC. Porto Alegre, UFRGS, 1996

CALDART, Roseli Salete. Educação em Movimento - Formação de Educadoras c Educadores no MST. Vozes, São Paulo, 1997 CERIOLI, Paulo Ricardo. Educação para a Cooperação -A experiência

do Curso Técnico em Administração de Cooperativas do MST. São Leopoldo, UNISINOS, 1997

CRISTÓFOLI, Pedro 1 van. Eficiência Econômica e Gestão Democrática nas Cooperativas de Produção Coletiva do MS'J: São Leopoldo, UNISINOS, 1998.

IEJC. Regimento do Instituto de Educação Josué de Castro, Veranópolis, 2002-11-04

TTERRA. Memória Cronológica, fevereiro de 2001. Cadernos do ITERRA nº 01

ITERRA. Proposta Pedagógica do Instituto de Educação Josué de Castro, Veranópolis, maio de 2001. Cadernos do !TERRA nº 02. !TERRA. Proposta Pedagógica da Escola de Ensino Supletivo Josué

de Castro. Veranópolis, 1996.

ITERRA. Proposta Pedagógica. Veranópolis, 1996

MST. Princípios da Educação no MST. São Paulo, 1996. Caderno de Formação nº 08

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IEJC: NÚCLEOS OE BASE E SUA ORGANICIDADE

Antonio de Miranda

1. Introdução

Este texto é fruto da monografia realizada no Curso Técnico de Administração de Cooperativas - TAC (turma 5) do Instituto de Educação Josué de Castro, cm setembro de 2000. Aqui pretendo, de forma sintética, abordar a formação dos educandos, que se dá a partir dos núcleos de base10 do Instituto, bem como a democracia, tentando

explicar como os educandos e educadores se comportam diante dos relacionamentos e das contradições enfrentadas no dia a dia do processo pedagógico. Também pretendo esclarecer a dimensão formativa dos educandos, a chegada no Instituto no início do curso e o nível de entendimento, deles, analisar, no decorrer do processo, a sua evolução na compreensão geral da sociedade.

Tento fazer um resgate de como os núcleos de base estão estruturados e qual a sua composição e formação cm seu papel formativo. A partir desse assunto, abordar como as pessoas se comportam dentro do processo e sua visão de democracia.

2. Núcleos de base

A forma de organicidadc do Instituto de Educação Josué de Castro é a mesma forma de organicidade do MST, pois é composta por núcleos de base, que são instâncias de avaliação, opinião, proposição e decisão q uc conseguem dar mais agilidade e coesão na participação das pessoas quando nas tomadas de decisão e nas elaborações das propostas, estejam elas num acampamento, assentamento ou em outros espaços educativos. Os núcleos de base no Instituto de Educação Josu6 de Castro não nasceram por acaso. E les são o resgate histórico das experiências vivenciadas na prática pelo MST. Estes são a fo rça motora no processo

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de gestão do IEJC. Seu mérodo, o jeito de funcionar diante das discussões e das contradições internas, pelo seu processo de formação a partir da prática e da realidade, dão o tom e a diferença no Instituto Nesta experiência educativa, quem dá o ritmo e faz o movimento para tudo funcionar são os educandos e os educador. Neste Instituto não há diferença entre educandos e educadores, cada um tem suas responsabilidades, mas nenhum é superior ao outro. Tenta-se primar relação de subordinação entre iguais, que ora o educador, ora o educando coordena o processo. A construção do respeito entre ambos é um aprendizado, que às vezes chega a ser doloroso para ambos os níveis.

Nesta caminhada, o IEJC já percorreu grandes caminhos rumo a sua organicidade e a formação de novos seres humanos. Internamente, podemos perceber que no início, os núcleos não eram bem constituídos como um núcleo de base, eram núcleos de militantes do MST, onde recebiam tarefas para desenvolver, no cunho mais político, tanto internamente junto aos educandos como fora do IEJC, junto a sociedade. Eram pessoas que já tinham uma maior caminhada e mais conhecimento político do MST onde deviam ser os formadores e o exemplo diante dos demais educandos e da sociedade. Com o tempo essa lógica mudou e o Instituto seguiu o jeito do MST funcionar, onde todos estão nuclcados. Nem sempre as turmas que passavam pelo Instituto de Educação Josué de Castro estavam num núcleo de base, pois as mesmas se organizavam por grupos de estudos. Os trabalhos e as decisões e encaminhamentos eram feitos pelos setores de trabalho, pois eles se constituíam uma instância de base e execução das atividades aprovadas cm assembléias.

Os Núcleos de base, a exemplo do MST, surgiram a partir da reestruturação do Instituto, cm 1998, com o objetivo de serem núcleos de base do MST e para se aprofundar nos estudos referentes a organicidade do IEJC e da própria organização do Movimento. 'làmhém tinham a tarefa de discutir os rumos políticos que o MST e o IEJC deveriam seguir. Ou seja, para ajudar a dar rumo a um processo de formação da personalidade humana, os núcleos eram para ser o educador, a célula que movimentava o processo e fazia as pessoas serem sujeitos formadores de seu próprio destino e na construção de uma nova sociedade.

dificul<lades de entendimento político e de acompanhar os conteúdos dados pelos professores. Neste caso, o núcleo de base não tinha o papel de fazer discussão política os encaminhamentos de propostas, seu objetivo era estudar e entender o que estava acontecendo com o companheiro em dificuldades.

Haviam brigadas organizadas que se responsabilizavam pelos trabalhos extras, que não estavam nos postos de trabalhos ou que não eram esperadas. Nesse caso a participação dos educandos era direta e o processo de formação mais acirrado, pois a responsabilidade era deles mesmos, inclusive de pensar como administrar e realizar estas atividades extras. Estas eram oportunidades que proporcionavam um melhor acompanhamento por parte dos próprios educandos, no sentido de um ser o educador do outro.

Os núcleos de base seriam a base da democracia no Instituto dentro da proposta que se tem, pois as pessoas que fazem parte de um núcleo, estão também dentro de um setor de trabalho. Neste caso, elas deveriam ter o conjunto das informações dentro do IEJC em mãos para poder discutir, sugerir propostas e encaminhamentos para o avanço da organização. Todos deveriam estar informados, tanto das fragilidades, como dos avanços. Os educandos participavam das discussões, tomadas de decisões, encaminhamentos e do cumprimento dos mesmos, ou seja, havia momentos em que juntos discutiam e aprovavam e outros, que apenas se cumpre o que foi aprovado coletivamente.

3. Os núcleos de base e a democracia

Quando falamos em democracia, falamos em participação coletiva, da base nas discussões e encaminhamentos, respeitando as instâncias dentro dos princípios organizativos do Movimento Sem Terra. Para nós, está claro que as discussões e as tomadas de decisão devem respeitar a participação da maioria, sem cair no basismo e nem perder a autoridade, caindo no centralismo de não dar espaço para as discussões, ficar preso e amarrado, não dando encaminhamento algum.

Primeiro é preciso analisar a democracia ligada à organização e às necessidades internas, respeitando as normas e os princípios do f\Iovimcnto. Isto significa fidelidade à militância que trabalha para a causa do povo, que tem clareza política, que se subordina às decisões

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primeiro ponto que temos que levar em consideração para discutir democracia. Saber que, em primeiro momento, é difícil entender seu papel, pois cada pessoa quer fazer as coisas de sua cabeça, conforme suas vontades individuais, mas quem está convicto de seu papel não discute a decisão coletiva do MST. Claro que temos que ter a maior participação da base, do povo, mas, não se pode deixar que quem não tem clareza dos objetivos tome as decisões, colocando a perder tudo o que a história nos ensinou e o que já conquistamos. Nesse aspecto, os educandos, quando chegam no Instituto, vivendo em núcleos de base, percebem que são uma parte diante do todo. Por isso as decisões precisam ser bem analisadas para tomar decisões inteligentes.

Temos que primeiro preparar os militantes para ter clareza do papel que exercemos na história, dar condições para entender tudo isso, e ajudar a tomar as decisões e dar rumo a organicidade do MST

O segundo aspecto é voltado para a responsabilidade da instância quando assumida. Nesse caso não dá para ficar toda hora consultando a base, se dá para fazer ou não as atividades que foram discutidas e encaminhadas em momentos anteriores. As Instâncias, setores, devem ter autonomia para encaminhar as decisões, desde que sejam dentro da linha estratégica. Os setores responsáveis têm o papel de encaminhar com segurança, sem se preocupar em consultar novamente a base para saber a forma que deve ser feito. A base precisa ter o entendimento de que teve a participação dela no momento da discussão e decisão.

É necessário entendermos que no MST, as decisões são tomadas pelas instâncias mas são discutidas pela base organizada em núcleos onde a mesma dá sugestões, levanta propostas de como enfrentar as dificuldades e avanços encontrados no MST É necessário que possamos trabalhar a formação antes das pessoas irem para o IEJC, possam ter o entendimento político e com o tempo, consigam entender e dominar nossos princípios para contribuir nas discussões e ajudar nos encaminhamentos para a organização da classe trabalhadora no geral.

Olhando criticamente para a questão prática dentro do Instituto, percebe-se que tem uma grande confusão no entendimento de como é o funcionamento do mesmo, principalmente no que se refere à participação nas decisões coletivas. As pessoas não conseguem fazer uma boa discussão. Quando fazem é com uma visão basista, querendo que tudo passe pela discussão, desde a implementação das propostas, que em muitos momentos já foram discutidas por outras instâncias e pelos

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próprios núcleos de base. O problema reside na questão de que as turmas ficam apenas uma parte do ano no Instituto, a cada 50 dias mudam as turmas e as pessoas têm dificuldade em entender que algumas decisões foram tomadas quando ainda estavam em tempo comunidade . E caso algum não tenha discutido, acha que ele não tem a responsabilidade de implementar.

Observa-se no entanto, que há pessoas que não têm a clareza política do funcionamento do MST, por isso têm dificuldades de entender o que é proposto no Instituto.

Quando pessoas do Instituto de Educação Josué de Castro tentam fazer com que as discussões e propostas sejam executadas e colocadas em prática, algumas vezes são chamadas de autoritárias, querem mandar no Instituto. Esta postura demonstra que ainda não conseguem ver a dimensão do Instituto e nem a forma de organização do MST.

Também se percebe que nem todos conseguem ter uma definição clara do que é democracia. Uma outra confusão que gera é a transição dos educandos no tempo Escola11 e o Tempo Comunidade12

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quando retornam os seus Estados de origem, deixam trabalhos e metas produtivas do Tempo Escola encaminhadas para outra turma cumprir. Isto tem gerado muita confusão. Entre os que chegam há os que dizem que "não fomos nós que encaminhamos, então não temos o compromisso de executar tais atividades". Nesse sentido, observa-se que as pessoas não têm a clareza do funcionamento de coletivo e que ainda falta muito confiança de turma para outra.

Claro que é difícil entender essa lógica de funcionamento pelo meio cultural no qual vivemos, mas temos que ter convicção de que nosso compromisso com a sociedade nos faz acreditar que é possível mudar a existência das pessoas e transformar o indivíduo em sujeito formador de sua própria história, a partir de sua prática vivenciada num novo jeito de educar e se educar coletivamente.

Percebe-se que apesar de todas as deficiências e desencontros que ocorrem dentro do Instituto, a estrutura organizada dessa natureza só

11 Período em que os educandos permanecem fazendo atividades de estudo no próprio Instituto.

12 Período em que os educandos permanecem cm seus coletivos de origem desenvolvendo ativi-dades práticas

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funciona por causa dos núcleos de base, pois na democracia ascendenteu eles têm um papel fundamencal nas tomadas de decisões através ele seus coordenadores nas instâncias de decisão. Os núcleos de base geram todas as discussões que são de interesse do Instiruto e das turmas de educandos/escudantes, e as discussões que são de interesse dos núcleos geralmente são resolvidas dentro do próprio núcleo de base. O que se refere ao coletivo como um todo, é discutido nos núcleos e encaminhado para as instâncias decidirem, ou seja, na Coordenação dos Núcleos de Base do Instituto de Educação Josué de Castro ou nas assembléias, com a participação de todos.

O que se percebe é que nem todos os núcleos conseguem fazer uma discussão aprofundada sobre o conjunto do Instituto, pois falta entendimento do processo e agilidade por parte de quem coordena o processo formativo. Em muitos momentos, as pessoas ficam mais interessadas no que diz respeito a elas mesmas e não ao que diz respeito ao coletivo, o que as leva a se preocupar mais com a tarefa e não com a qualidade dos resultados.

Percebe-se que os núcleos de base conseguem ser instância de decisão no processo porque os coordenadores fazem parte da coordenação do Instituto de Educação Josué de Castro, ajudando a tomar as decisões necessárias. E quando a decisão é mais estratégica, que diz respeito ao andamento de todo o coletivo, as propostas são levadas para a assembléia, momento em que todos participam diretamente, tanto na tomada de decisões, como no encaminhamento das linhas políticas assumidas no conjunto por um determinado período.

Em muitos momentos não se tem uma avaliação aprofundada do nível de consciência das pessoas que passam no IEJC e nem é levado em consideração o tempo de MST e o nível de conhecimento prático que os mesmos têm. Por isso demora muito tempo para as pessoas se adapcarem ou assumir as atividades do Tempo Escola.

Observa-se, no entanto, que os educandos, quando chegam pela primeira vez no Instituto, já encontram uma organicidade constituída e em muitos momentos o seu núcleo de base já esta pré-definido, o que

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e das proposcas feicas para o avanço du colcrivo. Conceíco utilizado até o ano de 2001.

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exige engajamento imediato no processo para tocar as atividades dentro de um curto período de tempo, para se alimentar ou estudar, pois aqui se aprende a fazer fazendo. Em alguns momentos isto é questionado pelos educandos, que muitos educadores, e em grande parte não são questionados. As pessoas criam uma certa dependência, faltando iniciativa de fazer as atividades e até mesmo de propor e encaminhar. Começam a reclamar da coordenação e de quem está acompanhando: "porque é que os mesmos não o fazem"? Não se dão conta que os responsáveis para realizar as atividades são os próprios educandos. Aos educadores também lhes é reservada responsabilidades de fazer.

A grande maioria das pessoas que vêm para o Instituto de Educação Josué de Castro são acampados ou assentados e o poucos têm conhecimento do funcionamento do MST em seu local de origem e da sua regional. Quando chegam no Instituto logo já assumem como coordenadores de núcleos de base, que ao mesmo tempo compõe a coordenação geral do Instituto. Nesse caso, a responsabilidade a eles atribuída é, muitas vezes, maior do que seu conhecimento e condições para tal. Por essas razões começam as cobranças, muitos reclamam e entram cm desespero. No primeiro momento não é avaliada a função que os mesmos vão assumir; de imediato, estes são cobrados como se tivessem uma longa caminhada na luta, ou seja, exigimos que encontrem respostas concretas diante de problemas que surgem.

Olhando do ponto de vista prático isto é muito importante pois faz com que as pessoas se dediquem cada vez mais para dar respostas diante das exigências e desafios cotidianos. Por outro lado, cm determinados momentos, isto gera resistência, As pessoas não conseguem entender o método de formação apresentado pelo MST, confundem seu papel, sua responsabilidade e não ajudam encaminhar as coisas, porque tem maior laço de convivência junto aos educandos e acabam agindo pelo lado do amiguismo. Com isso as pessoas fazem uma grande confusão, não aceitam as decisões tomadas por outras instâncias, muitas vezes por elas mesmas, pois discutem que devem fazer tal atividade até tal tempo e se não cumprem dizem que é porque é muito. Caso cobrados diante da responsabilidade, dizem que as pessoas agem pelo autoritarismo. O que vemos é que em muitos momentos é necessário que se tenha maior diálogo com as pessoas para que elas possam entender a razão que leva o Movimento a propor esta formação humana e qual é o resultado que a história cobra de cada um de nós que passamos por este Instituto e por este Movimento.

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