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REPOSITORIO INSTITUCIONAL DA UFOP: Avaliação da resposta imune de camundongos Balb/c vacinados com antígeno de Leishmania chagasi durante um período de desnutrição protéico‐calórica.

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Academic year: 2019

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(1)

 

 

 

 

 

 

AVALIAÇÃO

 

DA

 

RESPOSTA

 

IMUNE

 

DE

 

CAMUNDONGOS

 

BALB/c

 

VACINADOS

 

COM

 

ANTÍGENO

 

DE

 Leishmania

 

chagasi 

DURANTE

 

UM

 

PERÍODO

 

DE

 

DESNUTRIÇÃO

 

PROTÉICO

CALÓRICA

 

(2)

   

FUNDAÇÃO

 

UNIVERSIDADE

 

FEDERAL

 

DE

 

OURO

 

PRETO

 

Reitor 

João Luiz Martins 

Vice‐Reitor 

Antenor Barbosa Junior 

Pró‐Reitor de Pesquisa e Pós‐Graduação 

Tanus Jorge Nagem 

   

NÚCLEO DE PESQUISA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 

Coordenador  

Prof. Dr. Rogélio Lopes Brandão 

 

PROGRAMA DE PÓS‐GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 

Coordenador  

Prof. Dr. Deoclécio Alves Chianca Júnior

(3)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO 

NÚCLEO DE PESQUISAS EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 

PROGRAMA DE PÓS‐GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 

 

 

 

AVALIAÇÃO

 

DA

 

RESPOSTA

 

IMUNE

 

DE

 

CAMUNDONGOS

 

BALB/c

 

VACINADOS

 

COM

 

ANTÍGENO

 

DE

 Leishmania

 

chagasi

 

DURANTE

 

UM

 

PERÍODO

 

DE

 

DESNUTRIÇÃO

 

PROTÉICO

CALÓRICA

 

 

Guilherme Malafaia Pinto 

   

Orientadora 

Profª. Drª. Simone Aparecida Rezende 

Co‐orientadora 

Profª. Drª. Maria Lúcia Pedrosa 

Colaborador 

Prof. Dr. Marcelo Eustáquio Silva 

 

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa 

de  Pós‐Graduação  em  Ciências  Biológicas  do 

Núcleo  de  Pesquisas  em  Ciências  Biológicas  da 

Universidade Federal de Ouro Preto como requisito 

parcial à obtenção do Título de Mestre em Ciências 

Biológicas, área de concentração: Imunobiologia de 

Protozoários. 

 

(4)

                                                         

Dedico esse trabalho à minha esposa 

Aline, que com muito carinho, paciência e 

amor me ajudou a conquistar mais esta 

(5)

AGRADECIMENTOS

 

 

Primeiramente agradeço a Deus pelo seu amor imensurável e pelo seu cuidado todo especial 

em todas as etapas da minha vida. 

Ao avô Nilo e à avó Nilza por tudo que fizeram por mim, pelos esforços sem medida e por 

me  ensinarem  que  tudo  na  vida  é  uma  questão  de  vontade,  trabalho  árduo  e 

determinação. À minha mãe Sônia e ao meu pai Célio por todo apoio a mim dispensado 

e, principalmente, por terem me dado a vida. 

À Aline, que sempre foi e sempre será o grande amor da minha vida, por todas as vezes em 

que me ajudou a solucionar os meus problemas de uma forma mais simples, por todas as 

palavras de motivação, pelo companheirismo, cuidado, amor, amizade e por ser o meu 

alicerce. Agradeço também a minha segunda família (D. Maria, Sr. Jonas e Júnior) pela 

acolhida, confiança e apoio. 

Aos meus amigos, em  especial à Régia,  Fernanda,  Claudinha e Bruno pelos estímulos 

essenciais para o desenvolvimento deste trabalho. 

À minha orientadora, Profª. Drª. Simone Aparecida Rezende, por ter acreditado em mim, 

possibilitando que um grande sonho em minha vida começasse a se tornar real. Além 

disso, agradeço pelos estímulos em todas as etapas deste trabalho e por me fazer 

acreditar que posso ir muito mais além.    

Aos  colegas  do  Laboratório  de  Imunoparasitologia  que  sempre  têm  um  motivo  para 

inúmeras conversas e gargalhadas, em especial ao Eduardo, Roberta, Fernanda e Tiago. 

 À Profª. Drª. Maria Lúcia Pedrosa pela confiança, amizade, privilégio de poder compartilhar 

sua sabedoria e pela co‐orientação, tão importante para o delineamento e execução 

deste trabalho.  

Ao  professor  Dr.  Marcelo  Eustáquio  Silva  por  ter  disponibilizado,  sem  ressalvas,  o 

Laboratório de Nutrição Experimental, contribuindo para a realização deste trabalho. 

À estimada Cida, pela atenção dispensada nos momentos que necessitei de seus préstimos e 

pelo incentivo. Em suma, sou grato a todas as pessoas que, mesmo em sua mais breve 

passagem ou curta convivência me ofereceram sua contribuição, de qualquer natureza, 

(6)

LISTA

 

DE

 

FIGURAS

 

 

Figura I.1  ‐ Diagrama esquemático ilustrando a influência da desnutrição protéico‐calórica 

sobre o sistema imunológico e, consequentemente, sobre o agravamento do quadro 

clínico das doenças ... 03 

Figura I.2  ‐ Crianças com leishmaniose visceral provocada por L. donovani apresentando  hepatoesplenomegalia (Estado de Bihar, Índia)... 05 

Figura I.3  ‐ Infecção in vitro de macrófagos com o parasito L. donovani. (A) Duas formas 

promastigotas flageladas (seta) em contato com macrófago humano... 08 

Figura I.4 ‐ Ciclo de vida dos parasitos do gênero Leishmania... 09 

Figura III.1 ‐ Separação dos grupos experimentais... 20 

Figura III.2  ‐ Curva de crescimento de L. chagasi em Grace´s Insect Medium 10% de SFB,  cultivada em estufa a 25°C. ... 27 

Figura III.3  ‐ Sítio de vacinação por via subcutânea (circulado) na região da base da cauda dos 

camundongos... 28 

Figura III.4 ‐ Sítio de inoculação de parasitos (circulado) nos animais estudados... 29 

Figura IV.1 ‐ Variação da massa corpórea ao longo do período experimental... 34 

Figura IV.2  ‐ Aspecto visual dos animais dos grupos controle (A) e desnutrição (B) registrado na 9ª 

semana experimental, antes do início da recuperação nutricional... 36 

Figura IV.3 ‐ Aspecto visual dos animais do grupo controle (A) e desnutrição (B) sacrificados ao final do 

experimento... 37 

Figura IV.4  ‐ Massa (g) do fígado (A) e baço (B) dos animais dos grupos controle e desnutrição 

determinada no final do experimento... 37 

Figura IV.5  ‐ Curva de sobrevivência dos animais dos grupos controle e desnutrição ao longo do 

período experimental... 39 

Figura IV.6 ‐ Concentração sérica de proteínas totais dos animais dos grupos controle e desnutrição. 41 

Figura IV.7 ‐ Concentração sérica de albumina dos animais dos grupos controle e desnutrição... 44 

Figura IV.8  ‐ Concentração sérica de globulinas dos animais dos grupos controle e desnutrição, ao 

longo do período experimental... 48 

Figura IV.9 ‐ Concentração de hemoglobina no sangue dos animais do grupo controle e desnutrição, 

ao longo do período experimental. ... 50 

(7)

Figura IV.11 ‐ Carga parasitária esplênica dos camundongos dos grupos controle e desnutrição... 55 

Figura IV.12  ‐ Produção  de IFN‐γ pelos  esplenócitos  de  camundongos  dos  grupos  controle  e 

desnutrição... 60 

Figura IV.13  ‐    Produção de  IL‐4  pelos  esplenócitos  de  camundongos  dos  grupos  controle  e 

desnutrição ... 61 

(8)

LISTA

 

DE

 

TABELAS

 

E

 

QUADROS

 

 

Tabela I.1 ‐ Principais estratégias vacinais contra a leishmaniose visceral ... 10 

Tabela III.1  Informações gerais sobre a dieta comercial (Nuvilab CR‐1) ... 22 

Tabela III.2  Composição das dietas experimentais em gramas para cada 1000 g da dieta ... 23 

Tabela III.3  Quantidade de cada componente necessário à avaliação sérica de proteínas... 24 

Tabela III.4  Quantidade de cada componente necessário à avaliação sérica de albumina ... 25 

Tabela  III.5    Quantidade  de  cada  componente  necessário  à  avaliação  sanguínea  de  hemoglobina ... 26 

Quadro III.1 ‐ Protocolo de vacinação utilizado... 28 

Tabela IV.1 ‐ Resultados dos testes estatísticos para a concentração sérica de proteínas totais  dos animais dos grupos controle e desnutrição, antes e após a vacinação ... 42 

Tabela IV.2 ‐ Resultados dos testes estatísticos para a concentração sérica de albumina dos  animais dos grupos controle e desnutrição, antes e após a vacinação... 45 

Tabela IV.3 ‐ Resultados dos testes estatísticos para a concentração sérica de globulinas dos  animais dos grupos controle e desnutrição, antes e após a vacinação... 49 

Tabela  IV.4  ‐  Resultados  dos  testes  estatísticos  para  a  concentração  sanguínea  de  hemoglobina dos animais dos grupos controle e desnutrição, antes e após a vacinação... 51 

   

(9)

LISTA

 

DE

 

SIGLAS

 

E

 

ABREVIATURAS

 

 

ABTS – 3‐etilbenzil‐thiazol‐6‐sulfônico 

AGL – Ácido graxo livre 

Ag. Part. L. chagasi + saponina – Antígeno particulado de L. chagasi associado à saponina 

CB – Circunferência do braço 

CREN – Centro de Recuperação e Educação Nutricional 

DMEM – Meio Esssencial Mínimo Dulbecco 

DPC – Desnutrição protéico‐calórica 

DAT – Teste de hipersensibilidade direta 

DTH – Teste de hipersensibilidade tardia 

ELISA – Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay (Ensaio imunoenzimático)  FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura 

FUNASA – Fundação Nacional de Saúde 

gp: Glicoproteína 

Hi – Hemiglobina 

HiCN – Cianeto de hemoglobina 

IFN‐γ – Interferon gama  IL‐4 – Interleucina 4 

IMC – Índice de massa corpórea 

iNOS – Enzima óxido nítrico sintase induzível 

IZINCG – International Zinc Nutrition Consultative Group 

KMP11 – Proteína 11 de menbrana de kinetoplástidos 

LC – Leishmaniose cutânea 

LCR1 – Antígeno flagelar 1 de L. chagasi 

LV – Leishmaniose visceral 

NK – Natural Killer 

(10)

OMS – Organização Mundial da Saúde 

ONU – Organização das Nações Unidas 

PBS – Solução salina tamponada com fosfato 

PCR – Reação em cadeia da polimerase 

RIFI – Reação de imunoflourescência indireta 

rIFN‐γ –  Interferon gama recombinante 

RMBH – Região Metropolitana de Belo Horizonte 

RTPCR – Reação em cadeia polimerase após transcrição reversa 

Sb+5 – Antimoniais pentavalentes 

SDS – Metaloenzimas superóxido dismutases 

SFB – Soro fetal bovino 

SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação 

Th – Linfócito T “Helper”  TNF – Fator de necrose tumoral 

(11)

RESUMO

 

 

A desnutrição protéico‐calórica (DPC), as deficiências dos elementos ferro e zinco e a 

leishmaniose visceral (LV ou calazar) constituem importantes problemas de saúde pública, os 

quais afetam milhões de pessoas no mundo todo. Apesar de ser amplamente aceito que a 

imunidade  ou  a  susceptibilidade  a  doenças  infecto‐parasitárias  estão  diretamente 

relacionadas com o estado nutricional do hospedeiro, os mecanismos que governam a 

relação entre a PEM e a LV são múltiplos e pouco explorados. Especificamente sobre os 

efeitos da DPC sobre a vacinação contra a LV, nenhum estudo foi encontrado. Assim, foi 

avaliado neste estudo os efeitos da DPC associada à deficiência de ferro e zinco na resposta 

imune de camundongos BALB/c   induzida pela vacinação com antígeno de Leishmania 

chagasi administrada durante um período de deficiência nutricional. Inicialmente os animais 

foram divididos  em dois grupos:  desnutrição (alimentados com dieta contendo 3% de 

caseína e deficiente em ferro e zinco) e controle (alimentados com dieta contendo 14% de 

caseína, contendo concentrações adequadas de ferro e zinco). Após o estabelecimento da 

desnutrição  (avaliada  através  do  acompanhamento  semanal  da  massa  corpórea  e  da 

medição de parâmetros bioquímicos: concentração de proteínas totais, albumina, globulinas 

e hemoglobina), os animais receberam os tratamentos. Camundongos dos grupos controle e 

desnutrição foram inoculados com solução salina tamponada com fosfato (PBS), saponina 

(adjuvante vacinal) ou com antígeno (Ag) de L. chagasi + saponina (vacina) (três doses dos 

tratamentos e da vacina foram aplicadas nos animais pela via subcutânea com uma semana 

de  intervalo).  Após  uma  semana  da  vacinação,  os  camundongos  desnutridos  foram 

recuperados nutricionalmente e quatro semanas após a terceira dose da vacina, todos os 

animais  foram  desafiados com 1  x  107 formas promastigotas  de  L.  chagasi  pela  vida 

endovenosa. Quatro semanas após o desafio, os camundongos foram sacrificados e a carga 

parasitária hepática e esplênica, bem como a produção das citocinas IFN‐γ e IL‐4 e de óxido 

nítrico (NO) por esplenócitos, foram determinadas. Foi observado que a vacina de Ag de L. 

chagasi  +  saponina  causou  uma  redução  significativa  na  carga  parasitária  hepática  e 

esplênica nos animais do grupo controle (redução de 96,1% e 94,9%, respectivamente). 

Entretanto,  nos camundongos  vacinados durante a DPC, a  vacina  causou uma menor 

(12)

redução) quanto do baço (81,4% de redução).  Além disso, observou‐se que a vacina induziu 

uma  menor  produção  de  IFN‐γ  (estatisticamente  significativa)  nos  animais  do  grupo 

desnutrição em comparação com os animais do grupo controle. Com relação à IL‐4, foi 

observado que a vacina suprimiu a produção da citocina nos animais do grupo controle e 

desnutrição em comparação com os animais inoculados com PBS. Não foram detectados 

níveis significativos de NO pelo método utilizado. Os dados deste estudo mostram que a 

PEM associada à deficiência de ferro e zinco alteram a resposta imune de camundongos 

BALB/c induzida pela vacina de Ag de L. chagasi + saponina, mesmo após a recuperação 

nutricional. Considerando que é desejável o desenvolvimento de uma vacina eficaz contra a 

LV e que a resposta imune às vacinas depende do estado nutricional dos indivíduos, este 

estudo visa contribuir com o entendimento da relação existente entre a DPC e a LV.  

 

Palavras‐chave: desnutrição protéico‐calórica, vacinação, Leishmania chagasi, leishmaniose 

visceral, camundongo, recuperação nutricional, BALB/c, IFN‐γ, IL‐4 

(13)

ABSTRACT

 

   

Protein‐energy malnutrition (PEM), zinc and iron deficiency, and visceral leishmaniasis (VL or 

kala‐azar)  are  important  problems  of  public  health,  which  affect  millions  of  people 

worldwide. Despite accepted that the immunity or susceptibility to infectious diseases is 

directly related with the nutritional status of the host, the immunologic mechanisms that 

govern  the  relationship  between  the  PEM  and  VL  are  multiple  and  little  explained. 

Specifically on the effect of combined protein, iron and zinc deficiency in the immune 

response induced by a vaccine against VL, no study was found. Thus, this study evaluated the 

effect of PEM in immune response (of BALN/c mice) induced by Leishmania chagasi antigen 

vaccine administrated during a period of nutritional deficiency. Initially the mice were 

divided into two groups: malnutrition (fed with diet containing 3% casein and deficient in 

iron and zinc) and control (fed with diet containing 14% casein and sufficient in iron and 

zinc). After malnutrition establishment (evaluated through the weekly measurement of total 

body weight and determination of biochemical parameters: concentration of total proteins, 

albumins, globulins and haemoglobin), the animals received the treatments. Control and 

malnutrition mice were inoculated with phosphate buffered saline (PBS), saponin (adjuvant) 

or with L. chagasi antigen plus saponin (vaccine) (three doses of the treatment and of the 

vaccine were administrated by subcutaneous rout with a one week interval). One week after 

vaccination, malnourished mice were nutritionally repleted and 4 weeks after the third 

vaccine  dose,  all  mice  were  challenged  with  1  ×  107  L.  chagasi  promastigotes  given 

intravenously in the lateral tail vein. Four weeks after challenge, mice were killed, and spleen 

and liver parasite load as well as the production of IFN‐γ and IL‐4 and nitric oxide (NO) by 

splenocytes, were determined. It was observed that L. chagasi antigen plus saponin vaccine 

caused a significant reduction in parasite load in liver and spleen from mice of control group 

(94.9% and 96.1% of reduction, respectively). However, in mice vaccinated during the PEM, 

the vaccine caused a smaller reduction (statistical significant) in parasite load in liver (57.7% 

of reduction) and in spleen (81.4% of reduction). Furthermore, it was observed that vaccine 

induced  a  smaller  production  of  IFN‐γ  (statistical  significant)  in  malnutrition  mice  in 

(14)

vaccine suppressed the cytokine production in mice from control and malnutrition groups in 

comparison with mice inoculated with PBS. NO was not detected by the method used. These 

data suggest that PEM associated with iron and zinc deficiency may alter immune response 

of BALB/c mice induced by L. chagasi + saponin vaccine, even after nutritional repletion. 

Considering that VL may be one of a few parasitic diseases that are probably controllable by 

vaccination and that the response to prophylactic vaccine depends on nutritional status, this 

study seeks to contribute with the understanding of the relationship between PEM and VL. 

 

Keywords:  Protein‐energy  malnutrition,  vaccination,  Leishmania  chagasi,  visceral 

leishmaniasis, mice, nutritional repletion, BALB/c, IFN‐γ, IL‐4 

(15)

SUMÁRIO

 

 

DEDICATÓRIA ... iv 

AGRADECIMENTOS... v 

LISTA DE FIGURAS... vi 

LISTA DE TABELAS...viii 

LISTA DE SIGLAS ... ix 

RESUMO... xi 

ABSTRACT ...xiii 

APRESENTAÇÃO ...xvii 

  CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO ... 01 

1 – Desnutrição protéico‐calórica ... 01 

1.1 – Aspectos gerais ... 01 

1.2 – Desnutrição protéico‐calórica e sua relação com o sistema imune ... 02 

2 – As leishmanioses ... 03 

2.1 – Leishmaniose visceral: características gerais e epidemiológicas... 4 

2.2 – Ciclo biológico dos parasitos do gênero Leishmania... 07 

2.3 – Vacinas contra a leishmaniose: uma breve revisão ... 09 

3 – O sinergismo entre a desnutrição protéico‐calórica e a leishmaniose visceral ... 13 

4 – Deficiências de ferro e zinco e suas relações com a interação “parasito/hospedeiro” ... 16 

CAPÍTULO II – OBJETIVOS ... 19 

2.1 – Objetivo geral ... 19 

2.2 – Objetivos específicos... 19 

  CAPÍTULO III – MATERIAL E MÉTODOS... 20 

3.1 – Modelo animal ... 20 

3.2 – Delineamento experimental ... 21 

3.3 – Dietas experimentais... 22 

3.4 – Avaliação nutricional dos animais ... 23 

3.4.1 – Proteínas totais ... 24 

3.4.2 – Albumina ... 25 

(16)

3.4.4 – Hemoglobina ... 25 

3.5 – Cultura de L. chagasi... 26 

3.6 – Preparo da vacina de antígeno particulado de L. chagasi... 27 

3.7 – Vacinação ... 28 

3.8 – Inoculação dos camundongos ... 29 

3.9 – Quantificação de parasitos... 29 

3.10 – Obtenção de células mononucleares do baço para dosagem de citocinas e NO ... 30 

3.11 – Dosagem de IFN‐γ, IL‐4 e NO... 31 

3.12 – Análises estatísticas... 33 

  CAPÍTULO IV – RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 34 

4.1 – Avaliação da massa corpórea dos animais estudados ... 34 

4.2  –  Avaliação  da  massa  corpórea dos  animais recuperados  nutricionalmente  após a  desnutrição protéico‐calórica ... 36 

4.3 – Sobrevivência e mortalidade ao longo do período experimental... 39 

4.4 – Avaliação dos parâmetros bioquímicos (concentração de proteínas totais, albumina,  globulinas e hemoglobina) ... 41 

4.4.1 ‐ Avaliação da concentração sérica de proteínas totais ... 41 

4.4.2 ‐ Avaliação da concentração de albumina ... 43 

4.4.3 ‐ Avaliação da concentração de globulinas... 47 

4.4.4 ‐ Avaliação da concentração de hemoglobina ... 49 

4.5 – Aspectos relacionados à avaliação da capacidade protetora da vacina e à avaliação da  resposta imune ... 52 

4.5.1 ‐ Avaliação da carga parasitária hepática e esplênica dos animais vacinados ... 53 

4.5.2  ‐ Avaliação da produção  das citocinas IFN‐γ e IL‐4  e de óxido  nítrico por  esplenócitos cultivados in vitro ... 59 

  CAPÍTULO V – CONCLUSÕES ... 64 

  CAPÍTULO VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS... 66 

  CAPÍTULO VII – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 67 

(17)

A  desnutrição  protéico‐calórica  (DPC)  e a leishmaniose  visceral (LV) constituem 

importantes  problemas  de  saúde  pública  que  afetam  milhões  de  pessoas.  Quando 

analisados em conjunto, os índices epidemiológicos da LV e a prevalência da DPC são 

responsáveis por milhões de mortes no mundo todo. No que se refere à DPC, grande 

número de pesquisas tem sido conduzido em animais de laboratório permitindo maiores 

esclarecimentos sobre os mecanismos complexos que regem as suas conseqüências e as 

suas  causas.  Alguns  autores  induzem  desnutrição  nos  animais  durante  a  gestação, 

diminuindo o teor protéico da dieta das fêmeas grávidas (Neggers & Singh, 2006; Millis & 

Offiah, 2007), outros logo após o nascimento e durante a amamentação (Ferreira et al., 

2005), diminuindo o teor protéico da dieta oferecida à ninhada, e ainda outros após o 

desmame como nos trabalhos recentes de Lyn et al. (2007), Xavier et al. (2007), Coutinho et 

al. (2007), Borelli et al. (2007), Schuler et al. (2008), Fock et al. (2008), Chatraw et al. (2008) 

e Vituri et al. (2008).  

Entretanto,  os  mecanismos  que  relacionam  a  DPC  e  a  infecção  por  parasitos 

causadores da LV, tampouco entre a DPC e a vacinação anti‐LV, ainda não estão totalmente 

compreendidos. Assim, este trabalho propôs um modelo experimental de DPC associada às 

deficiências de ferro e zinco que se assemelha em muitos aspectos ao que acontece na 

população infantil brasileira, com o intuito de avaliar a relação entre a DPC e a resposta 

imune à vacina de antígeno de L. chagasi de camundongos BALB/c, vacinados durante um 

período de DPC. A despeito da importância do problema, nenhum trabalho experimental 

disponível  na  literatura,  envolvendo  as  bases  imunológicas  entre  a  DPC  e  a  LV,  foi 

encontrado.  

A seguir serão apresentados os capítulos referentes ao presente estudo, os quais 

abordarão de forma  seqüencial uma  revisão  da literatura (na qual os aspectos  gerais 

relacionados com a LV e com a DPC, bem como os efeitos das deficiências de ferro e zinco 

sobre o  sistema  imune,  são  descritos), os  objetivos geral e  específico do  trabalho, a 

metodologia empregada, os resultados e a discussão dos mesmos e, por fim, as conclusões. 

Segue  ainda um  capítulo  de  considerações  finais que  antecede  a  lista  de  referências 

(18)

   

1. Desnutrição protéico‐calórica   

1.1. Aspectos gerais 

Segundo  Hughes  &  Kelly  (2006),  o  termo  desnutrição  designa  uma  desordem 

resultante  de  uma  dieta  inadequada  devido  a  uma  falha  na  absorção  de  elementos 

dietéticos, ou ainda, com alguma freqüência, devido a um inadequado aproveitamento 

biológico dos alimentos ingeridos, geralmente motivado pelo acometimento de doenças 

infecciosas (Monteiro, 2003). A DPC, juntamente com a anemia e a deficiência de vitamina A, 

representa um dos mais sérios problemas de saúde pública, apresentando grande influência 

na qualidade de vida das populações (Castro et al., 2005). 

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estimou em 

2004 que 852 milhões de pessoas no mundo apresentavam desnutrição entre os anos de 

2000 e 2002, sendo a maioria em países em desenvolvimento (FAO, 2004). Dados mais 

recentes da OMS (2005b) mostram que, nestes países, a desnutrição é responsável, direta 

ou indiretamente, por 54% das 10,8 milhões de mortes de crianças com idade inferior a 5 

anos.  

Projeções feitas pela Organização das Nações Unidas (ONU) sugerem que, por volta 

do ano de 2025, 1 bilhão de pessoas, de uma população mundial estimada em 8 bilhões, 

poderão sofrer de DPC. Enquanto em termos relativos tem‐se notado algum progresso nos 

últimos 40 anos, em termos absolutos o número de desnutridos tem diminuído muito 

pouco.  A  situação  é  particularmente  preocupante  na  África,  onde  o  crescimento 

populacional excede a capacidade de produção de alimentos (de Onis et al., 2004). 

No Brasil, os dados do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas divulgados 

em 2003, apontam o país como o detentor do maior número de pessoas com deficiência 

nutricional da América do Sul: 15,6 milhões de pessoas, ou 8% da população (ONU, 2003). 

Embora inquéritos populacionais realizados com a população envolvendo diferentes faixas 

(19)

Coutinho et al. (2008) confirma o alto índice de desnutridos que ainda é identificado no país. 

Ao realizarem  uma análise  do perfil  nutricional da população  brasileira, esses autores 

concluíram que o conjunto de dados disponíveis sobre diferentes grupos etários confirma a 

alta prevalência da DPC no país, principalmente em regiões mais pobres.  

 

1.2. Desnutrição protéico‐calórica e sua relação com o sistema imune 

A correlação entre as áreas de nutrição e imunologia, conforme discutido por Field et 

al. (2002), foi formalmente reconhecida no início da década de 1970 quando medidas da 

função do sistema imunológico foram introduzidas como componentes de avaliação do 

estado nutricional de pacientes. Atualmente, tem sido amplamente aceito que a imunidade 

ou a susceptibilidade a diversas doenças infecto‐parasitárias estão diretamente relacionadas 

ao estado nutricional dos indivíduos. Segundo Schaible & Kaufmann (2007), a DPC é a causa 

mais  comum  de  imunodeficiência  sendo  usualmente  complexas,  freqüentemente 

envolvendo não somente proteínas e calorias, mas também variados níveis de deficiências 

de micronutrientes. Estes nutrientes incluem o fosfato, zinco, cobre, ferro, selênio e as 

vitamina  A,  E  e  vitaminas  do  complexo  B,  capazes  de  influenciar  diretamente  a 

susceptibilidade a diversas infecções humanas.  

A DPC é capaz de causar várias alterações no sistema imunológico, as quais são 

responsáveis por uma maior susceptibilidade a várias doenças. Chandra (1974) e Keusch et 

al. (1987) relataram que crianças desnutridas apresentaram significativa diminuição da 

função de células T e um aumento do número de células com falhas no processo de 

diferenciação. Resultados  similares  foram relatados  por  Parent  et al.  (1994),  os quais 

observaram involução do timo em pacientes infantis desnutridos. Todos os componentes do 

sistema do complemento – exceto o C4 – estão diminuídos em pacientes desnutridos, 

particularmente o C3 e o fator B (Smythe et al., 1971; Sirisinha et al., 1973; Chandra, 1975). 

Tanto a resposta imune celular quanto a resposta imune humoral são diretamente afetadas 

em situações de DPC (Stiehn, 1980; Suskind, 1980; Mcmurray, 1981; Najera et al., 2004). Em 

decorrência da involução do timo, que em geral ocorre mais precocemente no quadro de 

DPC, tanto a estrutura quanto a função deste órgão são prejudicadas e, conseqüentemente, 

a resposta de células T é reduzida (Najera et al., 2001; Savino, 2002). Outros estudos, 

conforme discutido por Cunningham‐Rundles et al. (2005), demonstraram que a deficiência 

(20)

Vários estudos demonstram que as deficiências nutricionais podem cronificar e/ou 

agravar o quadro clínico de algumas doenças, tais como a tuberculose (Metcalfe, 2005), a 

infecção pelo HIV (Centeville et al., 2005) e a LV (Harisson et al., 1986; Celf et al., 1987). 

Outras doenças podem ser citadas:  poliomielite, difteria, tétano, hepatite B e C, hanseníase, 

dengue, encefalite japonesa e infecções intestinais por nematóides (OMS, 2005c). Além 

disto, vários são os estudos que demonstraram que, além de agravar o quadro clínico de 

diversas doenças infecto‐contagiosas, a DPC aumenta as chances de morte prematura em 

crianças (Pelletier, 1991; Toole & Malkki, 1992; Man et al., 1998; Buitron et al., 2004). A 

figura a seguir sumariza os principais efeitos da DPC sobre o sistema imunológico, os quais 

podem agravar o quadro clínico de várias doenças. 

 

 

Figura I.1. Diagrama esquemático ilustrando a influência da desnutrição protéico‐calórica sobre o sistema 

imunológico e, consequentemente, sobre o agravamento do quadro clínico das doenças.    

2. As leishmanioses 

As leishmanioses constituem um grupo de doenças causadas por protozoários do 

gênero Leishmania que afeta milhões de pessoas no mundo, podendo apresentar desde 

lesões cutâneas até a forma visceral, a mais grave. Sabe‐se que o amplo espectro de formas 

clínicas que pode ser visto nas leishmanioses está estreitamente associado às espécies de 

Leishmania e ao estado imunológico do paciente (Desjeux, 2004; OMS, 2005a). 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as leishmanioses ocorrem em 88 

(21)

observada uma incidência anual de 1‐1,5 milhões de casos de leishmaniose cutânea (LC) e 

cerca de 500 mil casos de LV, também conhecida como calazar. Mais de 90% dos casos de LC 

ocorrem em países como Irã, Afeganistão, Síria, Arábia Saudita, Peru e Brasil. Com relação à 

LV, cerca de 90% dos casos estão concentrados nas áreas rurais e suburbanas de países 

como a Índia, Sudão, Bangladesh, Nepal e Brasil. Cerca de 350 milhões de pessoas estão sob 

o risco de contrair a doença e estima‐se que um aumento significativo de casos em todo o 

mundo  poderá  ocorrer  nos  próximos  anos,  principalmente  em  regiões  tropicais  e 

subtropicais (Desjeux, 2004; OMS, 2005a; Bern et al., 2008). No Brasil, de acordo com 

Gontijo  &  Melo  (2004),  em 19 dos  27  estados  brasileiros  já  foram  registrados  casos 

autóctones de LV, e de 1999 a 2004, ocorreram em média 3.500 casos humanos, sendo a 

maioria na região Nordeste do país. 

Conforme  proposto  por  Levine  et  al.  (1980),  os  parasitos  causadores  das 

leishmanioses pertencem ao reino Protista, sub‐Reino Protozoa, filo Sarcomastigophora, 

classe Zoomastigophora, ordem  Kinetoplastida, família Trypanossomatidae e ao gênero 

Leishmania. Os insetos vetores são fêmeas de dípteros flebotomíneos pertencentes ao 

gênero Phlebotomus, exemplificado pela espécie Phlebotomus (Phlebotomus) papatasi no 

Velho Mundo (Ready, 2000; Rogers & Titus, 2003). No Novo Mundo, os insetos vetores 

pertencem ao  gênero  Lutzomyia,  exemplificado  pelas espécies Lutzomyia longipalpis e 

Lutzomyia intermedia, principalmente em  países como  o  Paraguai, Argentina e  Bolívia 

(Marcondes, et al., 1998; Silva & Gomes, 2001; Ferro, et al., 1995; Rogers & Titus, 2003). No 

Brasil, a transmissão da LV se dá principalmente pela picada de fêmeas de insetos da espécie 

Lu. longipalpis. A espécie está bem adaptada ao ambiente peridomiciliar, alimentando‐se em 

uma  grande  variedade  de  hospedeiros  vertebrados,  incluindo  animais  domésticos  e 

silvestres, além do próprio ser humano (Monteiro et al., 2005). 

 

2.1. Leishmaniose visceral: características gerais e epidemiológicas 

A LV é uma doença causada por protozoários parasitos constituintes do complexo 

Leishmania  donovani  que  inclui  três  espécies  de  LeishmaniaLeishmania  donovani  e 

Leishmania infantum em países do Velho Mundo e Leishmania chagasi em países do Novo 

Mundo (Laison & Shaw, 1987). Vale salientar que, a identidade desta última espécie tem 

sido objeto de questionamento desde 1999, com base no estudo de Maurício et al. (1999) e 

(22)

espécie. No Brasil, a LV é causada pela espécie L. chagasi, como descrito primeiramente por 

Evandro Chagas em 1936 (Chagas, 1936) e apenas um estudo no Estado da Bahia relatou 

casos de visceralização provocada por L. amazonensis (Barral et al., 1991). Na ocasião, foram 

notificados 11 casos. 

Quanto às características clínicas, a LV em humanos é uma enfermidade infecciosa 

generalizada, tendo sua forma clássica caracterizada por febre irregular e de longa duração, 

hepatoesplenomegalia  (Figura  I.2),  linfadenopatia,  anemia,  leucopenia, 

hipergamaglobulinemia, hipoalbuminemia, emagrecimento, edema e estado de debilidade 

progressivo  levando  à  caquexia  e  até  mesmo  ao  óbito  caso  o  paciente  não  receba 

tratamento  específico  (Galvão‐Castro,  1984).  Além  disso,  observam‐se  as  formas 

oligossintomática  (caracterizada  por  febre  baixa  ou  ausente, hepatomegalia e  discreta 

esplenomegalia),  aguda  (caracterizada  por  início  brusco)  e  a  refratária  (resultado  de 

evolução da doença que não respondeu ao tratamento) (FUNASA, 2000).  

 

Figura I.2. Crianças com leishmaniose visceral provocada por L. donovani apresentando 

hepatoesplenomegalia (Estado de Bihar, Índia) (Murray et al., 2005).   

De um modo geral, o diagnóstico da LV é baseado no exame clínico, no histórico 

fornecido  pelo  paciente  e  pelo  diagnóstico  laboratorial.  Com  relação  ao  diagnóstico 

laboratorial, este pode ser realizado por (i) ensaios sorológicos (pesquisa por anticorpos anti‐

Leishmania), entre os quais se destacam o ensaio imunoenzimático (ELISA) e a reação de 

imunofluorescência indireta (RIFI) (Sundar & Rai, 2002; Gontijo & Melo, 2004), e/ou por (ii) 

exames  parasitológicos,  realizados em  material coletado  por punção  da medula  óssea 

(mielograma), baço, linfonodos ou fígado, onde o material é examinado em lâminas onde se 

(23)

demonstração do parasito pode ser realizada através do crescimento dos parasitos após 

inoculação de material proveniente do paciente em animal susceptível (Sundar & Rai, 2002). 

O diagnóstico molecular, utilizado a partir da década de 1980 e realizado sem a necessidade 

de  isolamento  dos  parasitos  em  cultura,  pode  ser  realizado  através  de  métodos  de 

hibridização com sondas específicas e técnicas de amplificação de ácidos nucléicos, incluindo 

a reação em cadeia da polimerase (PCR) para detecção de DNA, e da reação em cadeia da 

transcriptase reversa após transcrição reversa (RT‐PCR) para detecção de RNA do parasito 

(Schalling & Oscam, 2002; Sundar & Raí, 2002; Gontijo & Melo, 2004).  

O tratamento clássico da LV envolve o uso de antimoniais pentavalentes (Sb5+), como 

o antimoniato de metilglucamina, considerado a primeira opção terapêutica (Sundar & Rai, 

2005; Ministério da Saúde, 2006; Gradoni, 2008). Conforme discutido por Rath et al. (2003), 

o composto é obtido sinteticamente a partir do ácido antimônico e da N‐metil‐glucamina, 

sendo a última obtida previamente a partir da aminação redutora da glicose em presença de 

metilamina. O medicamento provoca regressão rápida das manifestações clínicas da doença, 

além de causar a morte do parasito (Rath et al., 2003), sendo observado um alto índice de 

cura, podendo alcançar mais de 95% (Berman, 2006).  

Quando não há melhora clínica, a droga de escolha é a anfotericina B, usada sob 

orientação e acompanhamento médico em hospitais de referência, em virtude da sua 

toxicidade (Ministério da Saúde, 2006; Bern et al., 2006; Gradoni, 2008). Em gestantes a 

anfotericina B é a droga indicada para o tratamento (Ministério da Saúde, 2006). Trata‐se de 

uma droga derivada de uma cepa de Streptomyces nodosus, que pode alcançar um índice de 

90% de cura, conforme verificado no estudo desenvolvido por Santos et al. (2002a).  

Embora tenham sido adotadas medidas básicas para o controle da doença, tais como 

tratamento dos casos humanos, eutanásia de cães soropositivos e a redução da população 

de vetores, a importância da LV tem aumentado significativamente em decorrência do 

processo de urbanização e das alterações nas condições ambientais naturais (Bevilacqua et 

al., 2001). Para se ter uma idéia, em 2005, segundo a OMS, a LV foi responsável por 59 mil 

mortes em todo o mundo (OMS, 2005a). No Brasil, no período de 2001 a 2006, foram 

notificados 20.635 casos, de acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação 

(SINAN). Só em 2006, 4.526 casos foram identificados, sendo a maioria (52,9%) no nordeste 

brasileiro (Ministério da Saúde, 2009). Em outras regiões, tem‐se observado inúmeros casos 

(24)

propícias para a manutenção do seu ciclo de vida. Na Região Sudeste, onde 18,5% dos casos 

notificados em 2006 foram registrados, um acréscimo nas notificações tem sido observado e 

na Região Centro‐Oeste, onde 15,0% dos casos de LV notificados no ano de 2006 foram 

registrados, uma tendência similar ao aumento das notificações é observada (SINAN, 2008). 

No Estado de Minas Gerais, a maior incidência da LV ocorre na região metropolitana 

de Belo Horizonte (RMBH) e no vale dos rios Jequitinhonha, São Francisco e Doce (Silva et 

al., 2001). Na capital mineira, é nítido o processo de urbanização da LV, o que pode ser visto 

em todas as cidades brasileiras de grande porte. Desde 1993 a população convive com a LV, 

introduzida a partir de municípios vizinhos. A proximidade entre as habitações e a alta 

densidade populacional contribui para a rápida expansão da LV no ambiente urbano. De 

acordo com Gontijo & Melo (2004), na RMBH o percentual de municípios com notificação 

elevou‐se de 6, no biênio 1994/1995, para 15 no biênio 1998/1999. 

Segundo  Kroeger  (2007),  medidas  profiláticas  eficazes  são  requeridas  para  a 

erradicação da LV em áreas endêmicas. Além disso, o referido autor sugere como medidas 

importantes no combate à doença o uso de spray residual no interior das casas aliado ao uso 

de inseticidas e armadilhas de captura do inseto vetor, bem como estratégias ambientais 

governamentais, tais como aquelas ligadas à prevenção dos desmatamentos e queimadas de 

áreas naturais. Além disso, deve‐se considerar que a eutanásia de cães soropositivos é 

também uma medica recomendada pela OMS para o controle da LV. 

 

2.2. Ciclo biológico dos parasitos do gênero Leishmania 

O ciclo de vida dos parasitos do gênero Leishmania é do tipo heteroxênico, isto é, 

envolve hospedeiros mamíferos e o inseto vetor susceptível. No hospedeiro mamífero, 

inclusive no homem, o desenvolvimento biológico dos parasitos é similar entre as diferentes 

espécies:  formas  promastigotas  metacíclicas  (formas  infectantes)  são  introduzidas  no 

hospedeiro  através  da  picada  da  fêmea  do  inseto  vetor  (Killick‐Kendrick,  1979).  No 

hospedeiro vertebrado, rapidamente tais formas entram em contato com fagócitos (Figura 

I.3A) transformando‐se, no interior destes, em formas ovais não flageladas denominadas 

amastigotas (Figura I.3B). As formas amastigotas replicam no interior dos fagolisossomos das 

células do sistema fagocítico mononuclear, principalmente macrófagos, e a partir destes os 

parasitos são disseminados para macrófagos adjacentes (Gossage et al., 2003). 

(25)

   

Figura I.3. Infecção in vitro de macrófagos com o parasito L. donovani. (A) Duas formas promastigotas 

flageladas (seta) em contato com macrófago humano. (B) Formas amastigotas (setas) no interior dos 

macrófagos de camundongos. (Murray et al., 2005)   

Fora do hospedeiro mamífero, o ciclo de vida dos parasitos do gênero Leishmania 

ocorre somente no trato digestivo do inseto vetor e o seu desenvolvimento é mais complexo 

(Walters, 1993). A infecção inicia‐se quando o inseto ingere sangue contendo macrófagos 

infectados  com  formas  amastigotas.  Durante  o  trajeto  pela  porção  anterior  do  trato 

digestivo, ou ao chegar ao estômago, os macrófagos se rompem liberando as amastigotas. 

Estas se transformam rapidamente em promastigotas procíclicas que apresentam flagelos 

curtos e iniciam a multiplicação no inseto (Kamhawi, 2006). A seguir, as promastigotas que 

migram em direção à porção anterior do trato digestivo do vetor atingem um estágio 

infectante,  ou  seja,  se  transformam  em  promastigotas  metacíclicas.  Os  mecanismos 

envolvidos nesse processo in vivo são pouco elucidados, porém in vitro, sabe‐se que a 

metaciclogênese é induzida por baixo pH (Zakai et al., 1998), condições de anaerobiose 

(Mendez et al., 1999) e pela diminuição da concentração de tetrahidrobiopterina (co‐fator 

essencial para as atividades catalíticas das enzimas oxidonitrito sintase e pteridina redutase) 

(Cunningham et al., 2001).   A Figura I.4 ilustra de modo esquemático o ciclo de vida dos 

parasitos do gênero Leishmania.   

(26)

 

Figura I.4.  Ciclo  de  vida dos  parasitos  do  gênero Leishmania.  Adaptado  de 

Chappuis et al. (2007).    

Vale salientar que, diferentes espécies de mamíferos, tais como roedores e canídeos, 

atuam como reservatórios naturais dos parasitos do gênero Leishmania e servem de fonte 

de  infecção  para o  vetor.  Enquanto  o cão  é apontado  como o principal reservatório 

doméstico para espécies que causam a LV, raposas e lobos funcionam como reservatórios 

silvestres (Deane & Deane, 1955a; Deane & Deane, 1955b; Deane & Deane, 1962; Lainson & 

Shaw, 1987). 

 

2.3. Vacinas contra a leishmaniose: uma breve revisão 

Como já descrito, os antimoniais pentavantes (Sb5+) são a primeira opção terapêutica 

utilizada no Brasil em casos de LV, assim como na maioria dos demais países onde a doença 

é prevalente. Porém, as doses desses medicamentos indicadas no tratamento da doença 

(27)

tais drogas têm sido relatadas e frequentemente têm sido associadas à resistência dos 

parasitos aos antimoniais pentavalentes (Balaña‐Fouce et al., 1998; Sundar, 2001; Maltezou, 

2008; Polonio & Efferth, 2008; Janvier et al., 2008). A segunda linha de tratamento, a 

anfotericina B, também tem apresentado falhas no tratamento da doença e muitas vezes 

provoca prejuízos ao funcionamento dos rins, órgãos alvo para a toxicidade deste fármaco 

(Rath et al. 2003). 

Dessa forma, pode‐se notar que a quimioterapia utilizada no tratamento específico 

da LV não é completamente eficiente no combate à doença. Portanto, a adoção de medidas 

terapêuticas alternativas,  aliadas  à  vacinação, é  um  ponto  crucial  e  importante  a  ser 

considerado. Diversas preparações têm sido propostas e estudos têm sido conduzidos com a 

finalidade de se desenvolver uma vacina que apresente resultados satisfatórios na proteção 

contra a infecção por parasitos do gênero Leishmania.  

De  um  modo  geral,  pode‐se  dividir  a  busca  por  uma  vacina  eficaz  contra  as 

leishmanioses em 3 gerações, no que se refere ao processo de produção (Kedzierski & 

Handman, 2006; Khamesipour et al., 2006; Tabbara, 2006). A primeira geração se inicia com 

o primeiro estudo de vacinação terapêutica desenvolvido por Salles‐Gomes (1939) contra a 

LC humana e se estende até os dias atuais. Essa geração é caracterizada pelo emprego de 

preparações antigênicas tipicamente constituídas por antígenos brutos, obtidos através de 

técnicas de atenuação ou fixação das espécies de interesse. Vale salientar que, no estudo de 

Salles‐Gomes  (1939),  o  autor  inoculou  formas  promastigotas  de  Leishmania  ssp. 

dermotrópicas mortas pelo fenol, em pacientes com LC e observou uma redução significativa 

no diâmetro das lesões e das reações adversas ao tratamento, realizado em paralelo, à 

medida que os regimes de vacinação prosseguiram.  

No início da década de 1990, com o avanço das técnicas de biologia molecular, 

começaram  a  surgir  os  primeiros  candidatos  constituídos  por  subunidades  definidas, 

denominados antígenos recombinantes que marcaram a segunda geração de vacinas. Mais 

recentemente, no final da década de 1990 e início dos anos 2000, com o avanço dos estudos 

do genoma de diferentes agentes infecciosos, começaram a surgir as vacinas de terceira 

geração, constituídas de genes que codificam antígenos do parasito, clonados em vetores 

contendo promotores  eucarióticos,  as  quais  apresentam uma aplicação promissora  no 

controle das leishmanioses. Além disso, as vacinas de 3ª geração apresentam diversas 

(28)

facilidade de manipulação e preparação de formas multigênicas; (II) imunização com DNA, 

resultando na expressão de antígenos do parasito na sua forma nativa e (III) indução de uma 

resposta imune celular e humoral prolongada, devido à persistência da expressão antigênica 

(Gurunathan, 1998; Gurunathan, 2000). 

O fato é que ao longo destas 3 gerações vacinais diversos estudos investigaram a 

possibilidade de criação de uma vacina eficaz contra as leishmanioses. No Brasil, destacam‐

se os trabalhos realizados pelo grupo de pesquisa em leishmaniose do Departamento de 

Parasitologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o qual ganhou destaque 

mundial no desenvolvimento de uma vacina contra a leishmaniose. Este grupo desenvolveu 

a Leishvacin, uma vacina composta pela espécie L. amazonensis (IFLA/BR/67/PH8) (Mayrink 

et al., 1985; Mayrink et al., 2002). Embora promissora na época de sua criação, a vacina 

apresentou posteriormente, em estudos de teste clínico III, conduzidos no Equador e na 

Colômbia, uma baixa proteção (Armijos et al., 2004; Velez et al., 2005).   

Diversos estudos com modelos animais têm apresentado candidatos importantes 

para o desesenvolvimento de vacinas contra a LV. Dentre eles destacam‐se: proteína LACK 

de 36 kDa (p36/LACK) (Gomes et al., 2007a); cisteína protease (Rafati et al., 2005); proteína 

B1  (HASPB),  expressa  nas  formas  amastigota  e  promastigota  de  várias  espécies  de 

Leishmania (Stager et al., 2000; Moreno et al., 2007); antígeno flagelar de L. chagasi 1 (LCR1) 

(Wilson et al., 1995); antígeno leishmanial ORFF (proteína presente nas formas amastigotas 

e promastigotas de Leishmania, sobretudo em formas amastigotas de L. dononavi) (Tewary 

et al., 2005) e antígeno KMP‐11 (Basu et al., 2005; Carrillo et al., 2008). Destacam‐se ainda 

os estudos que utilizaram vacinas de antígeno particulado de L. chagasi, como por exemplo, 

os desenvolvidos pelo grupo de pesquisadores em LV do Laboratório de Imunoparasitologia 

no Instituto de Ciências Exatas e Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) 

(Vilela et al., 2007; Grenfell, 2007).  

No  estudo  de  Borja‐Cabrera  et  al.  (2008),  os  autores  relataram  o  ensaio  de 

imunogenicidade da vacina Leishmune (FML‐saponina) realizado em 550 cães soronegativos 

saudáveis de áreas endêmicas e epidêmicas do Brasil durante 2 anos de experimentação. 

Neste  estudo,  os  autores  não  apenas  confirmaram  o  potencial  protetor  descrito 

previamente para a vacina (da‐Silva et al., 2001; Borja‐Cabrera et al., 2002) como re‐

(29)

Ainda sobre o desenvolvimento de uma vacina eficaz contra a LV, há de se ressaltar a 

vacina desenvolvida pela Hertape Calier em parceria com a UFMG, denominada Leish Tec®. 

Fernandes et al. (2008) investigaram a imunogenicidade e a imunidade protetora (frente à 

infecção por L. chagasi) induzida pela vacinação contendo a proteína A2 e saponina em cães 

da  raça  Beagle.  Os cães  vacinados  produziram  altos  níveis de  IgG  total  e  IgG2  anti‐

Leishmania, um aumento significativo da produção de IFN‐γ após incubação de células 

mononucleares do peritônio com Ag de Leishmania e permaneceram negativos para os 

testes  sorológicos  convencionais  de  diagnóstico  da  LV.  Assim  esta  vacina,  permite  a 

diferenciação sorológica entre os animais vacinados e infectados, uma exigência importante 

para o controle da LV canina. Os principais diferenciais desta vacina são: (I) a tecnologia 

empregada na sua produção, baseada na moderna técnica de biotecnologia molecular, 

fornecendo ao produto recombinante diversas vantagens; (II) a sua composição, antígeno 2 

de superfície de parasito (proteína A2), eleito como um dos melhores antígenos capazes de 

induzir resposta imune protetora contra a LV; (III) a resposta imune induzida, que faz com 

que o animal,  mesmo depois  de  vacinado, continue negativo nos  exames sorológicos 

utilizados para  diagnóstico  da doença, não interferindo nos inquéritos epidemiológicos 

realizados, bem como (IV) a ausência de reações adversas (dor, queda de pêlo e prostração).  

A Tabela I.1 apresenta uma síntese dos trabalhos mencionados, os quais envolveram 

o estudo de vacinas contra a LV. 

 

Tabela I.1. Principais estratégias vacinais contra a leishmaniose visceral 

Antígeno 

Modelo  experimental 

utilizado 

Efeito da 

vacinação  Referências 

Antígeno p36/LACK  Camundongo  Proteção  Gomes et al., 2007 

Cisteína protease  Cão  Proteção  Rafati et al., 2005 

Antígeno 2 de superfície 

do parasito  Cão  Proteção  Fernandes et al., 2008 

Proteína B1 (HASPB)  Camundongo  Proteção  Stager et al., 2000; Moreno et 

al., 2007 

Antígeno flagelar de L. 

(30)

Tabela I.1. Continuação 

Antígeno 

Modelo 

experimental  utilizado 

Efeito da 

vacinação  Referências 

Antígeno leishmanial 

ORFF  Camundongo  Proteção  Tewary et al., 2005 

Antígeno KMP‐11  Hamster  Proteção  Basu et al., 2005; Carrillo et 

al., 2008 

Antígeno particulado de 

L. chagasi  Camundongo  Proteção 

Vilela  et  al.,  2007;  Grenfell, 

2007 

FML‐saponina  Cão   Proteção 

Da Silva et  al.,  2001; Borja‐

Cabrera et al., 2002; Borja et  al., 2008. 

 

3. O sinergismo entre a desnutrição protéico‐calórica e a leishmaniose visceral 

Sabe‐se que a importância da LV reside não somente na sua alta incidência e ampla 

distribuição,  mas também  na  possibilidade  de  assumir  formas  graves  e  letais  quando 

associada a deficiências nutricionais e a infecções concomitantes (Gontijo & Melo, 2004). De 

acordo com Gomes et al. (2007b), o estado nutricional dos indivíduos infectados com 

Leishmania ssp. tem um papel significativo na evolução clínica da LV, especialmente em 

crianças com idade inferior a 5 anos. Estudos têm demonstrado que a alta susceptibilidade a 

infecção, neste grupo de risco, pode ser explicada pela imaturidade imunológica típica desta 

faixa etária, associada ao quadro de DPC, muito comum em áreas endêmicas de LV (Badaró 

et al., 1986; Campos Jr., 1995; Harrison et al., 1986; Celf et al., 1987; 1987; Dye & Willians, 

1993; Maciel et al., 2008). 

No  estudo  pioneiro realizado  por Actor  (1960)  envolvendo  modelo  murino,  os 

resultados obtidos possibilitaram concluir que a DPC, associada à deficiência de vitaminas, 

está diretamente relacionada com o aumento da susceptibilidade a infecção por parasitos 

causadores da LV. Harrison et al. (1986) e Badaró et al. (1986), através de observações 

epidemiológicas, concluíram que a DPC é um sério fator de risco para o desenvolvimento da 

LV em humanos. Badaró et al. (1986) evidenciaram que 45% das crianças com LV sofriam de 

desnutrição  moderada  ou  grave  antes  do  aparecimento  da  LV,  sendo,  portanto,  a 

desnutrição considerada fator de risco para o desenvolvimento da doença.  

Harrison et al. (1986), em um estudo com crianças brasileiras expostas à infecção por 

(31)

(CB) e área muscular do braço. Foi verificado que crianças com LV, que foram seguidas após 

o tratamento, apresentavam área gordurosa e área muscular do braço que correspondia a 

66% e 81% das áreas de seus familiares sadios, pareados por sexo e idade, que viviam na 

mesma casa. O estudo encontrou ainda diferenças maiores quando comparou as crianças 

que apresentaram LV aos vizinhos sadios, pareados por sexo e idade, encontrando área 

gordurosa e área muscular do braço correspondentes a 41% e 75% das áreas encontradas 

nos vizinhos sadios. 

Cerf et al. (1987) em estudo prospectivo também avaliaram o estado nutricional de 

crianças  expostas  à  infecção  por  L.  chagasi  no interior  da  Bahia. O  grupo  encontrou 

similarmente aos achados de Badaró et al. (1986), alta prevalência (77%) de DPC nas 

crianças com LV, constatada através de baixo peso para idade. Foi também observado que 

82% das crianças com LV possuíam baixa altura para idade, comparado com um percentual 

de 55% em crianças não‐infectadas por L. chagasi. Os dados neste estudo mostraram ainda 

que, das 31  crianças que após avaliação inicial desenvolveram LV, 45,5% apresentavam DPC 

grave ou moderada e, destas crianças desnutridas que desenvolveram LV, somente 22% 

apresentavam anticorpos anti‐Leishmania no momento da avaliação nutricional.  

Recentemente destaca‐se o estudo de Maciel et al. (2008), no qual os autores 

estudaram a influência do estado nutricional de 149 crianças, no Rio Grande do Norte, com 

LV na resposta à infecção com L. chagasi e verificaram que modificações nos aspectos 

nutricionais  estão  associadas  diretamente  com  o  curso  da  infecção.  Observou‐se  que 

crianças com LV ativa apresentaram estado nutricional comprometido em relação às demais 

crianças estudadas, segundo o índice de massa corpórea (IMC) e a CB/altura. Além disso, o 

nível de vitamina A foi menor nas crianças com LV aguda com 43% de prevalência de retinol 

sérico  <  20  µg/dL. Entretanto,  poucos  trabalhos  desenvolvidos  investigaram  de modo 

específico as bases imunológicas da associação “DPC e LV”. 

Apenas um trabalho envolvendo especificamente os aspectos imunológicos entre 

esta associação foi encontrado na literatura. Neste estudo, Anstead et al. (2001) avaliaram o 

efeito da DPC associada às deficiências de ferro e zinco na resposta imune inata, bem como 

na visceralização dos parasitos após infecção experimental (camundongos BALB/c) com 

promastigotas metacíclicas de L. donovani. Neste trabalho, os autores estudaram diferentes 

grupos, os quais receberam dietas com diferente conteúdo protéico (6, 3 e 1% de proteína), 

(32)

e  zinco  em  níveis  adequados.  Os  autores  constataram  que  os  grupos  experimentais 

alimentados com as dietas hipoprotéicas e deficientes em ferro e zinco, inoculados com 5 x 

106 promastigotas metacíclicas de L. donovani, apresentaram maior carga parasitária no 

fígado, baço e linfonodos quando estes foram avaliados 3 dias após a infecção. Além disso, 

elevados níveis de prostaglandina E2 (PGE2) e diminuídos níveis de IL‐10 foram observados 

nos animais submetidos à DPC associada às deficiências de ferro e zinco. Nos camundongos 

do grupo controle, a atividade da enzima óxido nítrico‐sintase induzível (iNOS) no fígado e 

baço foi significativamente maior do que a atividade desta enzima nos animais desnutridos.  

Com relação às deficiências de micronutrientes, estas estão geralmente associadas à 

DPC e também podem agravar o quadro infeccioso pré‐existente (Bhaskaram, 2002).  Vários 

estudos  têm  indicado  que  a deficiência  de  micronutrientes  influencia  não  somente a 

susceptibilidade  do  hospedeiro  a  doenças  infecciosas,  como  também  o  curso  destas. 

Segundo  Blössner  &  de  Onis  (2005),  mesmo  níveis  moderados  de  deficiência  de 

micronutrientes, tais como ferro, vitaminas, iodo e zinco, detectados por testes bioquímicos, 

podem provocar sérios prejuízos à saúde humana. Para se ter uma idéia, estima‐se que 

aproximadamente  2  bilhões  de  pessoas  apresentem  anemia  ferropriva,  decorrente  da 

deficiência  do  elemento  ferro  na  dieta,  enquanto  outras  2  milhões consomem  dietas 

deficientes do elemento iodo e 254 milhões deficientes da vitamina A (Allen et al., 2006). De 

acordo com dados da OMS referentes aos índices de mortalidade, por volta de 800 mil 

mortes por ano podem ser atribuídas à deficiência de ferro,  e um  número similar à 

deficiência de vitamina A. Estudos desenvolvidos entre 1995 e 2004 mostram que, nas 

Américas, 141 milhões de pessoas apresentaram anemia ferropriva, 75 milhões insuficiência 

na absorção do iodo e outras 16 milhões apresentaram deficiência da vitamina A (De Benoist 

et al., 2004; OMS, 2001).  

O estudo de Ames (1999) mostrou que a deficiência de fosfato, ferro, zinco e das 

vitaminas B12, B6, C ou E pode causar alterações no DNA das células, lesões oxidativas, ou 

ambas,  alterando  a  resposta  imunológica  do  hospedeiro.  Baseando‐se  em  exames 

conduzidos na Índia, Europa, Estados Unidos e Canadá, Chandra (2002) constatou que mais 

de 35% das pessoas com idade superior a 50 anos apresentaram deficiência de uma ou mais 

vitaminas e/ou micronutrientes. 

Imagem

Figura I.1. Diagrama  esquemático ilustrando a influência da desnutrição  protéico‐calórica sobre o sistema  imunológico e, consequentemente, sobre o agravamento do quadro clínico das doenças.  
Figura  I.2.  Crianças  com  leishmaniose  visceral  provocada  por  L.  donovani  apresentando  hepatoesplenomegalia (Estado de Bihar, Índia) (Murray et al., 2005). 
Figura  I.3.  Infecção in  vitro  de  macrófagos  com  o parasito  L. donovani. (A)  Duas  formas  promastigotas  flageladas  (seta)  em  contato  com  macrófago  humano.  (B)  Formas  amastigotas  (setas)  no  interior  dos  macrófagos de camundongos. (Mu
Figura  I.4.  Ciclo  de  vida  dos  parasitos  do  gênero  Leishmania.  Adaptado  de  Chappuis et al. (2007).  
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Referências

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