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Os direitos humanos, 50 anos depois

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Academic year: 2021

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Ivan de Carvalho Junqueira

Os direitos humanos, 50 anos depois

Graduando em Sociologia, 1.º ano A – noturno.

É bacharel em Direito, especialista em direitos humanos e autor de: Ato infracional e direitos humanos: a internação de adolescentes em conflito com a lei, publicado em 2014 (ivanjunqueira@yahoo.com.br).

A Festa, de Ivan Ângelo, é obra de primorosa valia. Publicada em 1976, sob

a vigência da ditadura, inovou na linguagem e na forma de abordagem, numa escrita cuidadosa e refinada.

Ambientada na capital das Minas Gerais, perpassa por algumas décadas, dos anos 30 aos 70, com ênfase para o último período, notadamente, de 1964 a 1970. Naquele instante, assistia-se à derrubada de Jango e a chegada, através da força, dos militares ao poder. Noite das mais longas a perdurar intermináveis 21 anos.

O contexto histórico, político e social é fio condutor da narrativa do autor, mui detalhada (nomes, localidades, anos, horas, minutos...), em meio a recursos outros de linguagem: reprodução de notícias, matérias de jornais e depoimentos policiais, considerados mais simples, em alinhavo a um maior formalismo textual, rebuscado. Na crítica que estabelece, não ficção e romance intercalam.

Também o autor nos tira, enquanto leitor, de uma certa zona de conforto. Ivan Ângelo, reconhecidamente, rompe com a padronização literária de então e, porque não, do agora, cuja inspiração transparece escassa.

Às palavras do autor, apresentadas na quarta capa d’A face horrível, outra obra

sua:

Eu escrevo para quê?: para contar histórias, aparecer, ganhar dinheiro, passar tempo, cumprir uma missão na terra? Nada disso. Eu escrevo para mexer um pouco com a cabeça das pessoas, escrevo contra o tirano e o opressor que está dentro das pessoas. E escrevo também contra uma certa maneira de escrever.

O livro ora comentado, no aspecto estrutural, comporta nove tópicos que, apesar da aparente tripartição (Documentário até Preocupações; Antes da Festa e Depois da Festa), encontram-se entrelaçados.

No desenrolar dos acontecimentos, há dois momentos: o evento na praça da Estação e a festa ou, melhor, o antes e o depois. Neste ínterim, a história se desenvolve.

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Ao trabalhar os personagens, um a um, respeitando-os na individualidade, insere-os no todo. Nesse sentido, abre-se espaço para o nordestino, a mulher, o homossexual, dentre outros. Quando não, ele próprio, no papel de personagem-escritor, interage conosco, expondo-nos, ainda, algumas das suas inquietações (n/d, p. 147):

(Anotações do escritor:

Um desperdício deixar passar em branco este momento sem tentar captar o sentido dele, ao menos um esboço que mostre a alguém: era assim, naquele tempo. Era assim que as pessoas se destruíam, que as consciências aceitavam, que os homens se diluíam entre o medo e o dever, que os escritores procuravam esquecer ou não conseguiriam escrever nada.

Sim, eu creio que é isso e que é uma luz e que estou certo. Algumas das minhas histórias podem esperar uma década para serem escritas.).

Aborda, assim, durante a fase antidemocrática, pós-golpe (não revolução, por obséquio): o processo

migratório (Marcionílio e companhia), a urbanização, a emancipação feminina e a liberdade sexual (Andrea, por exemplo), a condição socioeconômica como, também, a luta de classes (Ataíde e Fernando).

Lida, demais disso, com o pré-conceito, o conservadorismo social e o falso moralismo, deveras, tão recorrentes, meio século mais tarde, como na expressão “de uma senhora mãe de um rapaz” (n/d, p. 102):

Cabelo comprido e minissaia. Se tivéssemos proibido, se todas as mães do mundo tivessem proibido essa liberdade quando começou, protegido os corpos de nossos filhos, se nós tivéssemos proibido que eles se juntassem para aquelas danças de uns anos atrás eles não estariam assim, loucos (...).

Ou, advinda “de um delegado de polícia social” (n/d, p. 109):

Do próprio seio do meu povo sinto elevar-se o apelo: protege-nos, faz algo por nós para que termine essa nova angústia, esse novo fanatismo, a loucura mística dos jovens. Estávamos tão confortáveis com a Nova Ordem, tão seguros no nosso trabalho, certos da queda da inflação, da alta da Bolsa, da vitória na Copa, do aumento da renda per capita, do desenvolvimento do Nordeste – e vem essa grande conspiração de fanáticos perturbar nossas certezas.

Do lançamento d’A festa, em 1976, seguiu-se

nove anos de ditadura. No referido período, dos mais obscuros da história, foram inúmeras as atrocidades (torturas, prisões arbitrárias, desaparecimentos forçados) mediante sucessivas violações aos direitos humanos, cometidas por agentes do próprio Estado e que, não obstante, permanecem – todos – impunes.

Nossa singela proposta, ao curso dessas laudas, é, partindo-se daquele momento, incursionar pelos direitos humanos, abordando alguns aspectos, sem qualquer pretensão de esgotá-los. Após um breve introito aos direitos humanos, tratar-se-á da (re) democratização brasileira, com especial destaque à questão da tortura, cujo crime, de lesa-humanidade, é imprescritível e, em adendo, sobre a necessidade de revisão da Lei de Anistia (Lei n.º 6.683/1979) a desconsiderar o ordenamento jurídico nacional e estrangeiro. No final, um pequeno balanço dos direitos humanos, 50 anos depois.

Ainda em tempo: o direito à memória, como outros, é um direito humano. Ao tratar do tema, por si só, extremamente caro à sociedade brasileira (espera-se), mais uma razão sucede. Como filho de preso político, dedico-o a todos os que, na vigência dos anos de chumbo, lutaram, morreram, choraram, se

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foram... e, particularmente, a meu pai, torturado quão milhares de outros, na busca por um país melhor.

Direitos humanos

Os direitos humanos, no pensamento arendtiano, não são um dado, mas um construído. São sempre progressivos, respeitado o momento histórico vivido onde “novos” direitos acabam incorporados ao arcabouço legal.

Historicamente, emergem com o surgimento da própria humanidade. Para uns, na adesão à concepção jusnaturalista, tratam-se de direitos inatos,

a partir do nascimento. A outros, soam exigíveis somente na medida em que positivados no corpo jurídico, vigorando com o tempo.

Já no século XVIII, com a Revolução Francesa, de 1789 e na superação do Ancien Régime,

lançou-se a Declaração de Direitos do Homem e do

Cidadão, de inspiração burguesa e que, embora um marco, incorporou o que lhe convinha, i.e., as prerrogativas desta classe, com destaque para os direitos civis e políticos e, em especial, ao direito de propriedade, tido, inclusive, por inviolável. O homem e o cidadão, diga-se, eram os mais bem sucedidos, do sexo masculino, membros daquela, analisados de forma egoísta e individualizada, desvestidos da realidade concreta e, assim, abstratos.

Os direitos sociais, por sua vez, anseio do proletariado não possuidor dos meios de produção, explorado desde o nascedouro das fábricas, na diuturna luta pelo reconhecimento de direitos trabalhistas, exíguos, vieram somente após, já na segunda metade do século XIX e no limiar do século seguinte.

Os direitos humanos, à égide contemporânea, ganham corpo no decorrer do século XX, logo ao término da 2.ª Guerra Mundial, com seu mar de sangue, campos de concentração e milhões de mortos, marcada pela descartabilidade da pessoa

humana, tratada como res, seguida da chamada internacionalização dos direitos humanos.

Também em resposta a isso, idealizou-se, três anos depois, a Declaração Universal dos Direitos Humanos,

aos 10/12/1948. Do seu brilhantismo, inegável, a despeito do multiculturalismo, extrai-se que: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos” (Artigo I). Assim é que independentemente de cor, etnia, sexo, origem, filiação, status

socioeconômico, credo e/ou preferência sexual, somos – todos – destinatários legítimos. Ao menos,

perante a lei.

Fato é que da teoria à prática, a distância faz-se considerável. No aspecto normativo, propriamente dito, caminhou-se sobremaneira nas últimas décadas, dado o calhamaço de leis, tratados, convenções e declarações, os quais vieram a lume. A par disso, porém, entre o texto jurídico tão bem delineado no papel e a realidade, nua e crua, a diferença é abissal. Violações persistem, infelizmente, e, não raro, na mais completa e cruel naturalidade.

Como afirma BOBBIO (2004, p. 43): “O problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los. Trata-se de um problema não filosófico, mas político”.

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(Re)democratização brasileira e a

Constituição Federal de 1988

(...) a Revolução Brasileira de 31 de março de 1964 teve, conforme decorre dos Atos com os quais se institucionalizou, fundamentos e propósitos que visavam a dar ao País um regime que, atendendo às exigências de um sistema jurídico e político, assegurasse autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da pessoa humana, no combate à subversão e às ideologias contrárias às tradições de nosso povo, na luta contra a corrupção, buscando, deste modo, ‘os meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direito e imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem interna e do prestígio internacional da nossa pátria’ (Preâmbulo do Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964).

Anunciava Costa e Silva, em 13 de dezembro de 1968, o Ato Institucional n.º 5 (AI-5). Para se

garantir a ordem democrática, ironicamente afirmada, como, também, a dignidade humana inerente a todos e a cada indivíduo, suspendeu-se a possibilidade do

habeas corpus, “...nos casos de crimes políticos, contra

a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular” (Artigo 10), excluindo-se da apreciação do Poder Judiciário “...todos os atos praticados de acordo com este Ato institucional e seus Atos Complementares, bem como os respectivos efeitos” (Artigo 11).

Sequencialmente, assumiu Emílio Garrastazu Médici, aos 30 de outubro de 1969, permanecendo até março de 1974, sucedido por Ernesto Geisel. Brasil: ame-o ou deixe-o, o lema, cuja repressão e truculência,

porém, só aumentara. Já disse Médici: “Aqui, vim para ver, com os olhos da minha sensibilidade, a seca

deste ano, e vi todo o drama do Nordeste. Vim ver a seca de 70 e vi o sofrimento e miséria de sempre”. Não comove.

Na sombra da ditadura militar, verificou-se aberrações de toda ordem, ao florescer de uma política arbitrária, com amparo no cerceamento de uma série de direitos fundamentais, em meio à prática da tortura física e psicológica, maus tratos, estupros, desaparecimentos, prisões desnudadas de quaisquer garantias e centenas de mortos.

N’A festa (n/d, p. 178):

Quando soltaram Ataíde, um mês e dez dias após os acontecimentos da praça da Estação, ele ficou sete horas e meia sem coragem de voltar para casa. Andava, parava numa esquina, hesitava, sentava num banco – sofria discretamente, parecia um homem tomando sol. Tinha quatro medos: a) saber das desgraças que certamente teriam acontecido a Cremilda; b) a mão esmagada, inútil para o trabalho; c) o seu futuro, com aquela mão, ao lado de Cremilda belíssima; d) o ódio.

O Brasil, após duradoura fase autoritária, de abusos e violações diversos, no período entre 1964 a 1985, caminhou, é verdade, em sua faceta minimamente democrática; não o bastante.

De modo gradual, deparamo-nos com a abertura política, após frustração advinda da recusa à emenda Dante de Oliveira. Estabelecida, pois, a Assembleia Constituinte, promulgou-se a Constituição Federal de 1988, aos 5 de outubro.

Desde então, busca-se um novo rumo, incorporando o direito interno, em correspondência – agora – ao direito internacional, documentos atrelados àquela perspectiva, sob o viés novamente

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Assinala-nos SILVA (2007, p. 88):

A luta pela normalização democrática e pela conquista do Estado Democrático de Direito começara assim que se instalou o golpe de 1964 e especialmente após o AI-5, que foi o instrumento mais autoritário da história política do Brasil. Tomara, porém, as ruas, a partir da eleição dos Governadores em 1982. Intensificara-se, quando, no início de 1984, as multidões acorreram entusiásticas e ordeiras aos comícios em prol da eleição direta do Presidente da República, interpretando o sentimento da Nação, em busca do reequilíbrio da vida nacional, que só poderia consubstanciar-se numa nova ordem constitucional que refizesse o pacto político-social.

Mais. A Constituição Federal de 1988 trouxe em seu bojo, expressamente, a dignidade da pessoa humana (de maneira sensata e não demagógica), como um dos fundamentos, já no artigo primeiro. A dignidade representa, por assim dizer, o cerne dos direitos humanos, e, impassível de mensuração.

Com efeito, sem desprestígio à reconhecida importância da Lei Maior, por tudo o que dito e, apesar dos sucessivos remendos ao texto inicial (77 emendas, até o presente), quão penosa têm sido a batalha pela efetivação.

Já não basta dizer que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...” (Artigo 5.º, caput) se, in concreto, as diferenças entre

ricos e pobres só avultam, aumentando ano após ano, não rompendo com a retórica.

Compartilha ÂNGELO (n/d, p. 143):

(Anotação do escritor:

Epígrafe? ‘Verifica-se que 1 por cento da população brasileira participa da renda nacional com uma renda bruta total que é superior ao total da renda de 80 por cento de brasileiros; isto é, que quase novecentos mil

brasileiros ganharam em 1970 uma quantia maior do que a que perceberam 72 milhões de brasileiros; portanto, a renda de 1 por cento de brasileiros é maior do que a soma da renda de 80 por cento’.

De lá para cá... Pouca coisa mudou.

Sob o ponto de vista formal, todos somos iguais. Materialmente, a estrada ainda é enorme, apesar da proximidade geográfica.

A Constituição, assinala Ferdinand Lassalle (2014, p. 27), é “...a soma dos fatores reais do poder que regem um país”. Se a sua essência é desrespeitada, se a Constituição escrita não corresponder à realidade, reduzir-se-á, fatalmente, a uma “folha de papel”.

Tortura

(...) O pau-de-arara consiste numa barra de ferro que é atravessada entre os punhos amarrados e a dobra do joelho, sendo o ‘conjunto’ colocado entre duas mesas, ficando o corpo do torturado pendurado a cerca de 20 ou 30 cm do solo. Este método quase nunca é utilizado isoladamente, seus ‘complementos’ são eletrochoques, a palmatória e o afogamento. (...) (In: Brasil: nunca mais. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1985, p. 34).

De consonância à Constituição de 1988, artigo 5.º, XLIII:

A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.

Também em âmbito interno, editou-se a Lei n.º 9.455/1997, a qual “define os crimes de tortura

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e dá outras providências”, sob o governo Fernando Henrique Cardoso.

(...) que foi conduzido às dependências do DOI-CODI, onde foi torturado nu, após tomar um banho pendurado no pau-de-arara, onde recebeu choques elétricos, através de um magneto, em seus órgãos genitais e por todo o corpo, (...) foi-lhe amarrado um dos terminais do magneto num dedo de seu pé e no seu pênis, onde recebeu descargas sucessivas, a ponto de cair no chão, (...) (Op. cit., 1985, p. 35).

Dentro do sistema global, assevera a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que: “Ninguém será

submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante” (Artigo V). Em reforço, diz o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, de 1966:

Ninguém poderá ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Será proibido, sobretudo, submeter uma pessoa, sem seu livre consentimento, a experiências médicas ou científicas (Artigo 7.º),

ratificado pelo Brasil, contudo, só em 1992. No específico, acresça-se a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, de

1984, ratificada em 1989:

“(...), e teve introduzido em suas narinas, na boca, uma mangueira de água corrente, a qual era obrigado a respirar cada vez que recebia uma descarga de choques elétricos; (...)” (Op. cit., 1985, p. 36).

No interior do sistema regional interamericano, mencione-se a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica), de

1969, ratificada em 1992: “Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral” (Artigo 5.º, 1), onde: “Ninguém deve ser

submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o devido respeito à dignidade inerente ao ser humano” (Artigo 5.º, 2). Pela Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, adotada em 1985 e incorporada ao direito

pátrio no ano de 1989:

(...) os Estados-partes tomarão medidas efetivas a fim de prevenir e punir a tortura no âmbito de sua jurisdição. Os Estados-partes assegurar-se-ão de que todos os atos de tortura e as tentativas de praticar atos dessa natureza sejam considerados delitos em seu direito penal, estabelecendo penas severas para sua punição, que levem em conta sua gravidade (Artigo 6.º).

“(...) a interroganda quer ainda declarar que durante a primeira fase do interrogatório foram colocadas baratas sobre o seu corpo, e introduzida uma no seu ânus. (...)” (Op. cit., 1985, p. 39).

Há, portanto, um expressivo conjunto de normativas a cuidar do assunto em tela, prova de que a prática da tortura, repugnante e abominável sob múltiplos aspectos, torna-se fonte de relevante preocupação entre os países, de maneira geral.

Ainda n’A festa (n/d, p. 179-180):

No fim da primeira semana de desaparecimento de Ataíde, chegaram dois homens querendo saber coisas estranhas sobre ele: onde estavam as armas, os livros, quem eram os amigos deles, o que ela fazia, se saía muito, com quem saíam.

(...)

Sumiram três dias. Apareceram juntos novamente, disseram que a tinham seguido para ver se falava a verdade.

(...)

Voltaram no dia seguinte. Ela não estava. Esperaram, foram até a casa do pai dela, obrigaram-na a acompanhá-los para interrogatórios, disseram que se fizesse

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aquilo outra vez o Ataíde ia pagar, que não saísse mais de casa sem a ordem deles. (...)

Voltaram no dia seguinte, muito satisfeitos com a obediência dela. Disseram: se você for boazinha conosco, hoje não batemos nele (...). Mas você tem de dar para nós dois, cada dia um. Tem uma coisa: se a gente não fizer acordo, não sei não, ele vai acabar capado. Ela deu.

Quando eles voltaram no dia seguinte, ela não quis dar.

(...)

Os sequestradores voltaram com um gravador. Ataíde gritava. Eles falavam para Ataíde que tinham estado com ela, comido na frente e atrás. Silêncio e depois gritos, sons mecânicos, gritos. Ela cedeu. Cedeu todos os dias sem falar nada. Quando iam embora, pedia que soltassem Ataíde, pelo amor de Deus. Eles diziam que ele estava ótimo e que ia ser solto qualquer dia, dependia dela. Queriam novas variações, ela obedecia. Vieram umas quinze vezes, depois faltaram um dia, dois dias, ela angustiada e quase louca por Ataíde, querendo mesmo que eles viessem e lhe metessem por todos os lados, mas que Ataíde não sofresse, estava assim na angústia do terceiro dia quando bateram na porta e ela foi atender e era Ataíde.

Nota-se que o reconhecimento tardio então relacionado, no particular, ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (26 anos após publicado) como,

também, à Convenção Americana de Direitos Humanos (23

anos depois) não é obra do acaso ou mero desleixo. Tal morosidade é, por evidente, consequência direta da instauração dos governos militares no Brasil.

Em O que é isso, companheiro?, registra

GABEIRA (1996, p. 198-199):

Mas os mecanismos de tortura que estavam sendo postos em prática eram a própria razão em marcha. Os grupos de analistas estudavam nossos interrogatórios; os computadores eletrônicos trabalhavam para responder às

perguntas mais elementares a respeito de cada preso, num tempo recorde; médicos desenvolveram uma grande capacidade de apontar os limites da resistência física, de recuperar feridos para novas sessões e tortura, de dissimular as marcas. O progresso dera à tortura dimensões e qualidades inéditas na história do Brasil. Deixaram de lado as palmatórias, os cigarros e charutos apagados no corpo, dos tempos de Filinto Müller. Entrávamos na era da eletrônica e das ciências do comportamento e víamos isso, dentro da cadeia, graças à barbaridade.

O termo “tortura” pode ser definido como: “... qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir estas pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência (...)” (Artigo 1.º, Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes).

À narrativa de GABEIRA (1996, p. 201):

Na PE e na Operação Bandeirantes, antes de começar a torturar alguém, de um modo geral apresentavam para a pessoa um companheiro que já tivesse sido torturado. De preferência, alguém que fosse considerado importante na esquerda, um líder. E antes de começar a torturar davam dezenas de pequenas ordens, para fazer ver ao preso que ele estava sob controle completo, para quebrar profundamente sua vontade. E, quando perguntavam, tinham o costume de gritar, todos ao mesmo tempo, para evitar muita reflexão. Às vezes, chamavam um prisioneiro

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para rodar a manivela que daria o choque no outro prisioneiro, fazendo com que muitos tivessem a experiência do torturador e quebrando as diferenças que poderiam existir.

A tortura, por sua gravidade, constitui crime de lesa-humanidade. Ofende não apenas a localidade na qual incide, mas, toda a comunidade estrangeira. É brutal forma de violência – atentatória aos direitos humanos –, utilizada em larga escala no Brasil e por toda a América Latina, de modo institucionalizado, durante os golpes militares.

A história do país, desde os primórdios, é marcada por profunda violência em meio ao extermínio dos índios, dizimados, e a escravidão, o último a aboli-la no continente.

Ainda hoje, lamentavelmente, em que pese o manto democrático, desde 1988, encontra guarida por entre os entes e a obscuridade do sistema de justiça, em especial, criminal. Do cometimento de um delito pelo acusado e no primeiro contato com a delegacia de polícia, passando pelo crivo do Ministério Público e do Poder Judiciário, até a execução da sentença em uma penitenciária qualquer para animalizados e indignos.

A tortura, instrumento inaceitável, é delito atemporal e imprescritível, cujos autores devem ser, sem margem à dúvida, investigados, processados e punidos, comprovada a culpabilidade. Seja cometida no presente ou cinco décadas atrás.

Das ações esperadas, em variadas frentes, caminhou-se a passos lentos, muito aquém do exigível. Das poucas exceções, a edição da Lei n.º 9.140/1995 que “reconhece como mortas pessoas desaparecidas em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas, no período

de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979, e dá outras providências”, ainda assim, no terreno indenizatório e, mais recente, com a criação e implementação da Comissão Nacional da Verdade (Lei n.º 12.528/2011), sob o governo Dilma Rousseff, tendo por objetivos:

I – esclarecer os fatos e as circunstâncias dos casos de graves violações de direitos humanos mencionados no caput do

art. 1o; II – promover o esclarecimento circunstanciado dos casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados, ocultação de cadáveres e sua autoria, ainda que ocorridos no exterior; III – identificar e tornar públicos as estruturas, os locais, as instituições e as circunstâncias relacionados à prática de violações de direitos humanos mencionadas no caput do art. 1o e suas

eventuais ramificações nos diversos aparelhos estatais e na sociedade; IV – encaminhar aos órgãos públicos competentes toda e qualquer informação obtida que possa auxiliar na localização e identificação de corpos e restos mortais de desaparecidos políticos, nos termos do art. 1o da Lei no 9.140, de 4 de dezembro de 1995; V – colaborar com todas as instâncias do poder público para apuração de violação de direitos humanos; VI – recomendar a adoção de medidas e políticas públicas para prevenir violação de direitos humanos, assegurar sua não repetição e promover a efetiva reconciliação nacional; e VII – promover, com base nos informes obtidos, a reconstrução da história dos casos de graves violações de direitos humanos, bem como colaborar para que seja prestada assistência às vítimas de tais violações (Artigo 3.º),

com resultados ainda aguardados.

Não se trata, por favor, de revanchismo, “caça às bruxas”, oportunismo ou sentimentalismo. Ocorre que o Brasil, histórica e juridicamente, duas décadas e meia após a Constituição designada

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com o seu passado recente, temeroso por acordar, mas cujo pesadelo de terríveis 21 anos não se esvai, batendo-lhe à porta insistentemente. A ferida não fecha. Como se a malfadada Lei de Anistia, de 1979

e, na sequência, a abertura política, tivessem sido suficientes, absolvendo a todos. Ledo equívoco.

Lei de Anistia

Que sonha com a volta Do irmão do Henfil Com tanta gente que partiu Num rabo de foguete Chora! A nossa Pátria Mãe gentil Choram Marias e Clarisses No solo do Brasil... (O bêbado e a equilibrista, João Bosco e Aldir Blanc)

A Lei n.º 6.683/1979, sob o governo João Figueiredo, denominada Lei de Anistia, considerou,

em pé de igualdade, torturados e torturadores, nivelando-os. Anistia (do grego, amnestia) significa

esquecimento. A incongruência é verificada logo de início, no artigo 1.º:

É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares.

No parágrafo 1.º: “Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política”.

Referida legislação viola – frontalmente – a Constituição Federal de 1988 e, por tabela, várias normativas internacionais de proteção aos direitos humanos, algumas delas, acima referidas.

Crimes conexos, esclarece PIOVESAN (2010, p. 100):

...são os praticados por uma pessoa ou grupo de pessoas, que se encadeiam em suas causas. Não se pode falar em conexidade entre os atos praticados pelo delinquente e pelas ações de sua vítima. A anistia perdoou a estas e não àqueles; perdoou as vítimas e não os que delinquem em nome do Estado. Ademais, é inadmissível que o crime de tortura seja concebido como crime político, passível de anistia e prescrição.

Por oportuno, informe-se do Projeto-Lei n.º 573/2011, da autoria de Luiza Erundina (PSB-SP), intuindo dar interpretação autêntica ao disposto no art. 1º, § 1º, da Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979, reparando-se a incompatibilidade supra.

Também no Congresso Nacional, tramita no Senado Federal, o Projeto-Lei n.º 237/2013, de iniciativa do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), o qual pede a revisão da Lei de Anistia, “...de maneira a promover sua adequação aos princípios fundamentais que inspiram a Constituição de 1988 e o sistema de tratados internacionais sobre direitos humanos dos quais o Brasil é signatário”.

No ano de 2010, sentenciou a Corte Interamericana de Direitos Humanos, no caso Gomes

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Por se tratar de violações graves de direitos humanos, e considerando a natureza dos fatos e o caráter continuado ou permanente do desaparecimento forçado, o Estado não poderá aplicar a Lei de Anistia em benefício dos autores, bem como nenhuma outra disposição análoga, prescrição, irretroatividade da lei penal, coisa julgada, ne bis in idem ou qualquer excludente similar de responsabilidade para eximir-se dessa obrigação (...) (XI – Reparações, § 256, b),

enfatizando-se que:

As disposições da Lei de Anistia brasileira, que impedem a investigação e sanção de graves violações de direitos humanos, são incompatíveis com a Convenção Americana, carecem de efeitos jurídicos e não podem seguir representando um obstáculo para a investigação dos fatos do presente caso, nem para a identificação e punição dos responsáveis, e tampouco podem ter igual ou semelhante impacto a respeito de outros casos de graves violações de direitos humanos consagrados na Convenção Americana ocorridos no Brasil. (XII Pontos Resolutivos, § 325, 3).

Ademais disso:

O Estado deve conduzir eficazmente, perante a jurisdição ordinária, a investigação dos fatos do presente caso a fim de esclarecê-los, determinar as correspondentes responsabilidades penais e aplicar as sanções e consequências que a lei preveja (...)” (XII Pontos Resolutivos, § 325, 9).

Na América Latina, países como Argentina, Chile e Uruguai, por exemplo, estão anos à frente nesta matéria, de ressaltar-se, inclusive, a revogação de leis e decretos, outrora editados, inibidores das apurações, dada a incompatibilidade diante das normativas atuais em sede de direitos humanos. No território chileno, v.g., o Decreto-lei n.º 2.191/1978

– “lei de amnistia” – acabou invalidado, por ferir,

como a lei brasileira, o ordenamento internacional, ao prever a anistia aos crimes cometidos, naquele país, de 1973 a 1978, sob a ditadura de Augusto Pinochet, das mais sanguinárias, cujas vítimas, entre torturados, mortos e desaparecidos, chegam a 40 mil.

Em vários países, não no Brasil, torturadores vêm sendo conduzidos para o banco dos réus, julgados e condenados. Por vezes, o idoso de hoje, acima de qualquer suspeita, pode ter sido o algoz de ontem, cuja responsabilização, ainda que vagarosa, urge. É imprescindível.

Cinquenta anos depois

Continuamos a lutar, 50 anos depois...

Já sob a insígnia democrática, tem-se vivenciado inúmeras violações aos direitos humanos, que não param; crescem. Os erros cometidos, definitivamente, não serviram de mínimo aprendizado.

Defender os direitos humanos, ainda hoje, transparece até mesmo ofensa para não poucos indivíduos, afinal, sob uma visão míope, servem à “proteção de bandidos”, nada mais. Tal discurso, por infelicidade, acaba reproduzido em larga escala, por parcela da mídia sensacionalista e pela população mais desatenta e, portanto, cooptável, sem maior confrontação.

A herança ditatorial insiste em nos rondar. Algo aparentemente superado, de maneira repentina, emerge do falso calabouço e, nova vez, vêm a atormentar aqueles que, embora não muitos, não perderam a capacidade de indignar-se.

Considerando, somente, o período pós-1988, partindo da promulgação da Constituição Federal,

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nominada cidadã e na égide do Estado, dentro do

contexto, chamado – figurativamente – democrático de direito, a situação é desanimadora. No tocante à dimensão formal, elege o ordenamento jurídico, com brilhantismo, a cidadania e a dignidade da pessoa humana dentre os seus fundamentos (CF, artigo 1.º, II e III), tendo por objetivo, entre outros, “construir uma sociedade livre, justa e solidária” (CF, artigo 3.º, I). Adiante, consagra: “Todos são iguais perante a lei...” (CF, artigo 5.º, caput), na esteira da Declaração

da ONU (Resolução n.º 217-A, III), de 1948.

Ressalvada a boa intenção do legislador, nobre, é no campo material que tais prerrogativas vão se deformando, cujos sujeitos de direitos perante a lei,

na prática, não são mais do que objetos.

Palavras como Carandiru (1992), Yanomami (1993), Vigário Geral (1993), Candelária (1993), Eldorado dos Carajás (1996), entre tantas outras, permeiam o cotidiano, mas, que, com o passar dos dias, caem no esquecimento, na espera do próximo evento, banalizado.

Lutar pelos direitos humanos, hoje, é questionar a própria sociedade em que se vive, violenta e desigual. É, sobretudo, posicionar-se diante das mazelas sociais, não obstante a conivência e indiferença de muitos, insensíveis a isso. A violência, tal qual estabelecida, aflige a todos, indistintamente, inclusive, aqueles que, carecedores de um melhor entendimento no tocante aos direitos humanos, não se veem quão portadores destes.

A violência impõe-se sob diversas formas, assumindo contornos variados, ora de maneira explícita, ora mais acobertada.

O ranço autoritário persiste. 25 anos da Magna Carta, e, pessoas passam fome, sem teto para

morar, sem vida digna para viver. Teimam em existir, resistir, num percurso não raras vezes abreviado, para as quais não parece haver futuro senão o da vala comum de algum cemitério, reduzidas às estatísticas ou estudos sociológicos.

Alguns poucos ricos, bem ao lado de milhões

de cidadãos somente na lei, que, tendo a rua como

morada, fazem do papelão a cama; do crack, o alimento; do cachorro vira-lata, o fiel escudeiro.

Na sociedade presente, a violência passa a ser tolerável, abrindo campo, outrossim, a discursos conservadores, mais à direita, encampando os noticiários.

Eis que índios, como Galdino, são queimados e mortos, afinal, pensavam os autores tratar-se de brincadeira. Homossexuais são assassinados, pelo mero fato de sê-los. Quando não, Sandros acabam exterminados, indesejáveis desde o nascimento (temíveis, sob o viés lombrosiano, já no berçário), seja na condição de vítimas ou, depois, estigmatizados como algozes. Mas, quem se importa?

Nas lides criminais, por exemplo, o lema é “justiça com as próprias mãos”. Olho por olho, dente por dente. Indivíduos são torturados e amarrados a postes, sem qualquer pudor, “um a menos”, é o que pensam. O tribunal é ali mesmo, aos nossos olhos, onde populares legislam, julgam e condenam, sem ampla defesa ou contraditório. A atuação dos justiceiros ou grupos de extermínio encontra-se legitimada. Tudo na mais perfeita naturalidade.

Na ânsia por “justiça”, mata-se muito. A cada ano, são registrados 50.000 assassinatos no país, mais de uma centena por dia. De 1980 para cá, enterrou-se um milhão de vítimas de homicídios. E não há guerra civil (?).

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Num outro prisma, pena de morte, prisão perpétua, redução da idade de responsabilização penal, tipificação continuada de novos delitos e elevação das penas, passam a ser vistas como tábuas de salvação, mas que nada resolvem.

Sem contar, ainda, a perniciosa militarização da polícia, um dos reflexos da ditadura e, assim, incompatível com a pretendida democracia. A Constituição Federal de 1988, progressista frente aos direitos e garantias fundamentais, tão bem dispostos no artigo 5.º, pelo menos, sob o ponto de vista formal, em nada inovou no aspecto supra, preservando um modelo retrógrado e autoritário. Vale dizer, não condizente com o alardeado Estado Democrático de Direito.

Também se assiste, no decorrer das últimas décadas, ao encarceramento em massa. Nas masmorras carcerárias pelo Brasil, são mantidos mais de meio milhão de vivos quase mortos, cerca de 200 mil apenas no estado de São Paulo, enjaulados como animais, como se humanos não fossem. Some-se, ainda, no estado, quase 10 mil adolescentes privados da liberdade, cuja excepcionalidade da medida de internação, nem de longe, é respeitada pelo Poder Judiciário, que, ao reverso, incorpora o discurso da lei e ordem. Um erro, deveras, não justifica outro.

Demais disso, vivenciamos a violência étnica e de gênero, na sombra de uma sociedade elitista e sexista, além da intolerância religiosa e contra aqueles que, em nada, creem, aos pés de um Estado que se apregoa laico.

Em lembrança a Bertold Brecht:

Primeiro levaram os negros Mas não me importei com isso Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários Mas não me importei com isso Eu também não era operário Depois prenderam os miseráveis Mas não me importei com isso Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados Mas como tenho meu emprego Também não me importei Agora estão me levando Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém Ninguém se importa comigo.

Ao dizer de SANTOS (2011, p. 125): “Sem direitos de cidadania efetivos a democracia é uma ditadura mal disfarçada”.

Encerro por aqui. Há 50 anos do golpe, no 30.º aniversário das Diretas Já.

Para José Roberto Junqueira, in memoriam.

Referências Bibliográficas:

ÂNGELO, Ivan. A festa. Rio de Janeiro; São

Paulo: Record/Altaya, n/d. Coleção Mestres da Literatura Brasileira e Portuguesa. v. 39.

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. Carlos

Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

BRASIL: nunca mais. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,

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GABEIRA, Fernando. O que é isso, companheiro? 2. ed.

Companhia das Letras: São Paulo, 1996. LASSALLE, Ferdinand. O que é uma Constituição?

Leme, SP: CL Edijur, 2014.

PIOVESAN, Flávia. Direito internacional dos direitos humanos e Lei de Anistia: o caso brasileiro. In: TELES, Edson e SAFATLE, Vladimir (Orgs.). O que resta da ditadura: a exceção

brasileira. São Paulo: Boitempo, 2010, p. 91-107. SANTOS, Boaventura de Sousa. Para uma revolução

democrática da justiça. 3. ed. São Paulo: Cortez,

2011.

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

Referências

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