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Autoavaliação da saúde e qualidade da dieta: comparação em idosos hospitalizados

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Academic year: 2020

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* Nutricionista. Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava/PR. E-mail: greiskellyd@gmail.com. ** Nutricionista. Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava/PR. E-mail: matosmvitoria@gmail.com. *** Nutricionista. Doutoranda em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Campinas, Campinas/SP.

Mestrado em Promoção da Saúde pelo Centro de Ensino Superior de Maringá/PR. E-mail: nutridianavaz@ gmail.com.

**** Nutricionista. Doutorado em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Federal do Paraná, Curitiba/PR. Pós-doutorado no Cross Cancer Institute da University of Alberta, Edmonton, Canadá. Curso de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava/PR. E-mail: daltonls68@gmail.com.

***** Nutricionista. Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava/PR. E-mail: marianaav@hotmail.com. ****** Nutricionista. Especialização em Nutrição Clínica pela Universidade Norte do Paraná. Associação de Saúde

Frederico Guilherme Virmond, Guarapuava/PR. E-mail: ivete@ivirmond.com.br.

******* Nutricionista. Mestrado em Segurança Alimentar e Nutricional e doutorado em Medicina Interna e Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Paraná, Curitiba/PR. Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava/PR. E-mail: carynanutricionista@gmail.com.

http://dx.doi.org/10.5335/rv16i3.8488

Autoavaliação da saúde e qualidade da dieta: comparação em idosos

hospitalizados

Greiskelly Didur Klossniak*; Maria Vitória Matos**; Diana Souza Santos Vaz***; Dalton Luiz Schiessel****; Mariana Abe Vicente Cavagnari*****; Ivete Ferreira Rodrigues******; Caryna Eurich Mazur********

Resumo

O estudo objetiva associar a qualidade da dieta e autoavaliação da saúde de idosos hospitalizados. Estudo transversal, reali-zado em um hospital de Guarapuava/PR, com 100 idosos. Foi aplicado um ques-tionário socioeconômico, que também continha perguntas para auto percepção da saúde, recordatório alimentar habitual para mensurar a qualidade da dieta (IQD) de cada indivíduo, cujo foi calculado por meio de índice próprio. Para associação foi utilizado o teste exato de Fisher, correla-ção e análise descritiva. A média de idade foi de 72,39 ± 7,77 anos, sendo 50% do gênero feminino. A autoavaliação sobre a qualidade da dieta, demonstrou que há ne-cessidade de modificação (52%). A maio-ria (41%) classificou seu estado de saúde como ruim. Não houve associação entre o IQD e a autoavaliação da saúde (p > 0,05), demonstrando que a percepção de saúde não interfere na qualidade da dieta. Por-tanto, não houve associação entre a auto

percepção da saúde e a qualidade da dieta em idosos hospitalizados.

Palavras-chave: Dieta. Longevo. Nutrição.

Saúde do idoso.

Introdução

O envelhecimento está associado ao acúmulo de danos moleculares e celula-res, e mudanças que vão além das perdas biológicas (LARSSON et al., 2019). Com o tempo, esses danos levam a uma perda gradual nas reservas fisiológicas e um aumento do risco de contrair diversas doenças e aumentar a morbimortalidade nessa população (OMS, 2015).

Sendo assim, aos 60 anos de idade, os indivíduos possuem maiores chances de serem afetados por doenças não trans-missíveis, incluindo doenças cardíacas,

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acidente vascular cerebral, doenças res-piratórias crônicas, câncer e demências. Existem outras comorbidades crônicas, como a fragilidade (diminuição de massa e força muscular, alteração de marcha e equilíbrio, exaustão, perda de equilíbrio, etc.), que pode ter uma prevalência em torno de 10% em pessoas com idade superior a 65 anos ou agudas como por exemplo, delírio, que pode resultar de várias determinantes tão distintas como uma infecção ou efeitos colaterais de uma cirurgia (OMS, 2015; LARSSON et al., 2019).

Durante o processo do envelheci-mento, várias alterações fisiológicas acontecem no organismo: diminuição da elasticidade dos tecidos e da massa muscular, perda de líquido intracelu-lar, decréscimo da estatura além de mudanças na quantidade e distribuição do tecido muscular subcutâneo, ocorre redução deste tecido nos membros e há um progressivo acúmulo de tecido adi-poso na cavidade abdominal (LARSSON et al., 2019; OIKAWA; HOLLOWAY; PHILLIPS, 2019). Além disso, alterações fisiológicas que limitam o repertório ali-mentar, seja pelas restrições decorrentes de enfermidades crônicas ou das altera-ções de mastigação e digestão, como com as condições de mobilidade, autonomia, independência financeira, condições de saúde e da composição familiar. Esses são fatores decisivos sobre o repertório alimentar, a frequência e a qualidade da alimentação dos idosos (GRANIC; SAYER; ROBINSON, 2019).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) conforme

censo demográfico de 2010, a população idosa correspondia à 7,4%, sendo as re-giões Sudeste e Sul com maior proporção de idosos. Em Guarapuava, Paraná, no mês de junho de 2016 ocorreram cerca de 226 internações de idosos, sendo por causas gerais não classificando por tipos de doenças (BRASIL, 2016).

Ter conhecimentos sobre a dieta pregressa e a qualidade da dieta do idoso e sua auto percepção da saúde se faz necessário para que sejam traçadas estratégias de intervenção nutricional e melhora da atuação da equipe mul-tidisciplinar, tendo em vista também a melhora da qualidade de vida e do prog-nóstico do idoso com doenças crônicas.

Dessa forma, o objetivo do presente trabalho foi associar a qualidade da dieta e autoavaliação da saúde de idosos inter-nados em um hospital de Guarapuava, Paraná.

Métodos

Trata-se de um estudo transversal com amostra por conveniência, que in-cluiu 100 pacientes idosos hospitalizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em um hospital de Guarapuava, Paraná. Não fizeram parte desse estudo pacien-tes com membros amputados e que es-tavam impossibilitados de comunicação. Os critérios de inclusão foram idosos internados com qualquer diagnóstico clínico, no período de junho a agosto de 2016. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Uni-versidade Estadual do Centro-Oeste, CAAE número 55903216.5.0000.0106.

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Os pacientes convidados a participar assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido concordando com a participação no estudo.

Os dados foram coletados por duas pesquisadoras previamente treinadas e calibradas, afim de obter fidedignidade dos dados. Foi aplicado um questionário socioeconômico elaborado para pesquisa, contendo questões sobre: sexo, faixa etária, anos de estudo, renda familiar, número de pessoas que residiam no domicílio, número de medicamentos ad-ministrados, se o paciente fumava e se ingeria bebidas alcoólicas. Em relação ao diagnóstico clínico, o mesmo foi coletado no prontuário do paciente. Foi ainda questionada a aceitação da dieta hospi-talar. Outros dados coletados foram: a prática de atividade física, se o paciente foi hospitalizado no último ano e o nú-mero de vezes. Para autoavaliação de saúde foram elaboradas para esse estudo variáveis categóricas o qual o paciente relatava que sua saúde era: “excelente”, “muito boa”, “ruim”, e “muito ruim”.

Foi utilizado o recordatório alimen-tar habitual (RAH), como instrumento de avaliação dietética, no qual o paciente ou seu acompanhante relatou os alimentos e respectivas porções que eram habitual-mente consumidos por ele durante um dia em seu domicílio. Para o cálculo de Índice de qualidade da dieta (IQD) foi utilizado o aplicativo Nutrabem 2.0®. Para avaliação do IQD foi utilizado pa-râmetro preconizado por Fisberg et al. (2004). A pontuação do índice é obtida por dez componentes característicos de uma dieta saudável, cada um deles é

pontuado de zero a dez. O valor máximo é de cem pontos. Para efeitos de análise foi considerado uma dieta inadequada abaixo de 51 pontos; uma dieta que ne-cessita modificação de 51 a 80 pontos; e uma dieta saudável acima de 80 pontos (FISBERG et al., 2004). O instrumen-to leva em consideração os grupos de alimentos (cereais, pães, tubérculos e raízes; verduras e legumes; frutas; leite e produtos lácteos; carnes, ovos e feijão), gordura total, gordura saturada, colesterol da dieta e variedade da dieta (FISBERG et al., 2004).

Os idosos foram pesados em balan-ça digital com capacidade de 150 kg e a estatura foi aferida em parede sem rodapés com auxílio de uma fita métrica inelástica. O índice de massa corporal (IMC), foi calculado por meio da divi-são do peso em quilogramas (kg) pelo quadrado da estatura (m) e o resultado expresso em kg/m². Para classificação do IMC foi utilizado critérios preconizados por Lipschitz (1994).

Para análise estatística os dados foram organizados em planilha e após procedeu-se analise descritiva dos dados (frequências, médias, desvio-padrão, mediana, mínimo e máximo). Foi uti-lizado o teste de Kolmogorov-Smirnov para determinação de normalidade da amostra. A comparação das variáveis ca-tegóricas foi realizada por meio do teste exato de Fisher. Para associação do IQD com outras variáveis foram utilizadas as correlações de Pearson e Spearmann, de acordo com a distribuição de normalida-de. A análise foi realizada com auxílio do

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software SPSS versão 22.0, com nível de significância de 5% (p < 0,05).

Resultados

Participaram do estudo 100 idosos, com média de idade de 72,39 ± 7,77 anos, sendo 50% do sexo feminino. A média de renda familiar foi de 1.594,38 ± 930,19 reais. A maioria (81%) apresen-tava menos de quatro anos de estudo. O diagnóstico clínico mais presente na internação (36%) foi de doenças pulmo-nares (Pneumonia, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, Bronquite), 24% dos idosos eram tabagistas (Tabela 1

).

Tabela 1 - Perfil socioeconômico e de saúde de idosos hospitalizados. Guarapuava, 2016. (n =100). Variáveis n Sexo Feminino 50 Masculino 50 Faixa etária De 60 a 69 anos 39 De 70 a 79 anos 43 80 ou mais anos 18 Anos de estudo

Menos que 4 anos 81 De 4 a 10 anos 18 Mais que 10 anos 1

Diagnóstico clínico Pulmonar 36 Ósseo-muscular 13 Hepáticas 12 Cardiovasculares 11 Outros 28 Variáveis n Renda familiar Até 1 SM 39 Mais que 1 SM 61

Número de moradores no domicilio

De 1 a 2 moradores 54 De 3 a 4 moradores 36 5 ou mais moradores 10 Número de medicamentos utilizados De 0 a 1 ao dia 19 De 2 a 3 ao dia 80 4 ou mais ao dia 1 Etilismo 8 Tabagismo 24

Nota: * SM = Salário mínimo (R$ 880,00 referen-te ao mês de agosto/2016).

A aceitação da dieta hospitalar foi considerada boa por 69% dos ido-sos. Entretanto a qualidade da dieta, mensurada pelo IQD, mostrou que há necessidade de modificação em 52% da amostra e a maioria (56%) classificou o estado de saúde como ruim/muito ruim, como demonstrado no Figura 1.

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Figura 1 - Percentuais de aceitação e qualidade da dieta e auto percepção da saúde de idosos hospitalizados. Guarapuava, 2016 (n = 100). 4 40 41 15 46 52 2 69 14 17 0 10 20 30 40 50 60 70 80

Excelente ou muito boa Boa Ruim Muito ruim Dieta inadequada Necessita de modificação Dieta saudável Boa Ruim Indiferente Au to av al iaç ão da saú de Q ual idade da dieta Ac ei taç ão da di et a hos pi tal ar

Conforme apresentado na Tabela 2, os pacientes que relataram reinterna-ções hospitalares anteriores referiram

sua percepção de saúde com ruim e muito ruim (p < 0,05).

Variáveis Autoavaliação da Saúde p Boa/Excelente Ruim/Muito ruim

Sexo Feminino 18 32 0,080 Masculino 26 24 Diagnósticos clínicos Pulmonar 11 25 Ósseo-muscular 7 6 Hepáticas 6 6 0,280 Cardiovasculares 7 4 Outros 13 15

Internações no último ano 0,030

Uma a duas 41 43

Três ou mais 3 13

Prática de atividade física

Sim 3 2 0,650

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Variáveis Autoavaliação da Saúde p Boa/Excelente Ruim/Muito ruim

Magreza 22 23 Eutrofia 15 20 0,480 Excesso de peso 7 13 Etilismo Sim 6 2 0,130 Não 38 54 Tabagismo Sim 10 14 0,820 Não 34 42 Qualidade da dieta Dieta inadequada 18 28 Necessita de modificação 25 27 0,660 Dieta saudável 1 1

Nota: Significativo para p < 0,0 5; Teste exato de Fisher. A dieta considerada inadequada de acordo com

IQD perfez 46% da amostra. Os cereais integrais foram pouco con-sumidos, assim como as frutas. Já as oleaginosas não foram relatadas

por nenhum dos idosos. Os alimen-tos mais consumidos foram cereais refinados, carne bovina, suína e hortaliças (Tabela 3).

Tabela 3 - Variáveis descritivas referentes às porções de Índice de Qualidade da Dieta (IQD) de idosos hospitalizados. Guarapuava, 2016 (n = 100).

Variáveis Média Desvio-padrão Mediana

Aves, pescados e ovos 1,47 1,96 0,96

Cereais e pães integrais,

tubér-culos e raízes 0,41 0,93 0,00 Frutas 0,57 0,96 0,00 Hortaliças 8,41 10,56 5,35 Leguminosas 1,49 1,30 1,30 Leite e derivados 0,75 0,76 0,69 Oleaginosas 0,00 0,00 0,00 Óleos vegetais 1,40 0,94 1,22 Açúcares e doces 0,92 1,58 0,37

Carnes bovina e suína 2,22 2,91 0,46

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Variáveis Média Desvio-padrão Mediana

Gorduras de origem animal 0,02 0,10 0,00 IQD – Pontuação total 51,47 13,48 53,17

De acordo com as correlações ob-servadas no quadro 1, quanto maior a qualidade da dieta maior é o IMC do paciente (r² = 0,980; p < 0,05). Houve uma tendência estatística quando se associa a renda familiar com o IQD (p = 0,070) porém com uma correlação fraca (r² = 0,180). Quando comparada com a

autoavaliação da saúde a correlação foi fraca, inversa e sem significância (r² = -0,070; p > 0,05). Já, a idade do paciente, anos de estudo, número de moradores no domicílio, internações no último ano e medicamentos utilizados não tiveram boa correlação com o IQD.

Tabela 4 - Coeficiente de determinação (r2) e p valor entre o índice de qualidade da dieta (IQD) e fatores associados em idosos hospitalizados. Guarapuava, 2016 (n = 100.

Variáveis p

Idade* 0,980 0,870

Renda familiar* 0,180 0,070

Autoavaliação da saúde** -0,070 0,510

Anos de estudo* -0,060 0,580

Número de moradores no

do-micílio* 0,090 0,340

Internações no último ano* -0,210 0,030

Medicamentos utilizados* 0,010 0,270

IMC* 0,980 0,020

Nota: *Relativo à correlação de Pearson; **Relativo à correlação de Spearmann.

Discussão

Nesta pesquisa foi constatada mé-dia de idade de, aproximadamente, 72 anos, sendo metade do sexo feminino. As doenças pulmonares foram o diagnósti-co clínidiagnósti-co mais presente, seguida pelas doenças ósseo-musculares. A qualidade da dieta, mensurada pelo IQD, mostrou que há necessidade de modificação em pouco mais da metade da amostra. A maioria dos idosos classificou seu estado

de saúde como ruim. A dieta foi consi-derada inadequada de acordo com IQD perfez parte da amostra. Notou-se que os cereais integrais foram pouco consu-midos, assim como as frutas.

Dessa forma, sabe-se que o envelhe-cimento da população apresenta carac-terísticas diferentes de acordo com as condições de vida de cada país e região. No geral, as condições necessárias para alcançar a longevidade melhoraram no mundo inteiro, levando a um aumento

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da população considerada na terceira idade (COSTA; MATIAS, 2005). Quando se trata de idosos mais velhos, o estrato formado por indivíduos com 75 anos ou mais de idade apresenta maior cresci-mento relativo (49,3%) nos últimos dez anos, quando comparado ao total da população idosa (BRASIL, 2009).

A média de idade dos idosos parti-cipantes do estudo foi mais de 70 anos, em 1940, a esperança de vida do brasi-leiro sequer atingia os 50 anos de idade (45,5 anos) (BRASIL, 2009). Os avanços no setor da saúde e as melhorias nas condições gerais de vida da população contribuíram para que, 71 anos mais tarde, este indicador atingisse 74,08 anos, em 2011, próximo a idade média dos idosos estudados. Segundo a projeção de população do IBGE, em 2050 esse indicador deverá chegar aos 81,3 anos (BRASIL, 2009).

Embora com o aumento da longevi-dade, a pessoa idosa corre maior risco de passar a viver com enfermidades crô-nicas por um longo período, o que pode comprometer sua qualidade de vida. Essa condição exige políticas públicas de atenção que possibilitem a oferta de cuidados continuados e integrados às pessoas idosas (GONÇALVES et al., 2006; LEITE, 2009; LARSSON et al., 2019).

Houve uma homogeneidade da amostra estudada em relação ao sexo. Porém, pesquisas têm sugerido que as taxas de mortalidade mais elevadas dos homens em idades mais jovens poderiam permitir que, na velhice, a composição do grupo etário masculino fosse mais

favo-rável que o feminino (PERLS; KUNKEL; PUCA, 2002; OIKAWA; HOLLOWAY; PHILLIPS, 2019). Isto resultaria, dife-rentemente do apresentado nesta pes-quisa, num grupo heterogêneo no qual haveria um número maior de idosas mais fragilizadas e susceptíveis do que idosos (CAMARGO; PERPÉTUO; MACHADO, 2005; CAMARGO; RODRIGUES; MA-CHADO, 2009; LARSSON et al., 2019). Além disso, sugere-se que as condições de saúde das mulheres podem ser reflexo de condições econômicas, sociais e cultu-rais desiguais, nos diversos momentos de suas vidas (GOLDANI, 1999; BARRETO et al., 2002).

Grande parte dos idosos estudados apresentava baixa escolaridade (menos de quatro anos de estudo). Lima e Bueno (2009) encontraram um número reduzido de anos de ensino formal frequentado pe-los idosos. Os autores sugerem a relação com a realidade pregressa de quem hoje conta com 80 ou mais anos de idade, em que o acesso à educação era difícil para essa população.

No presente estudo houve predomi-nância das doenças pulmonares. Sabe-se que entre as causas de doença e óbito em idosos, a doença pulmonar obstruti-va crônica se destaca devido à sua alta prevalência e caráter progressivo. As doenças pulmonares podem ter impacto negativo na alimentação, especialmente pela inapetência e dispneia, sintomato-logia frequente nesses pacientes, sobre-tudo quando essas doenças cronificam, tais sinais e sintomas tornam-se comuns, prejudicando a nutrição e que por con-sequência acabam depletando o estado

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nutricional do idoso (PATTERSON et al., 2017). A infecção respiratória tam-bém vem sendo apontada como uma das principais causas de morbimortalidade entre os idosos, podendo estar associada à exacerbação clínica da doença pulmo-nar obstrutiva crônica (NICHOLSON et al., 1997; PATTERSON et al., 2017). Segundo dados do SUS (BRASIL, 2016) o número de interações hospitalares de idosos devido ao diagnóstico doenças pulmonares em Guarapuava/PR foi de 70 pacientes no mês de junho de 2016. No presente estudo foi obtida 36% da amostra com o mesmo diagnóstico.

A autoavaliação de saúde consti-tui-se em um interessante preditor de morbidade, mortalidade e declínio funcional, e vem sendo frequentemente utilizada em pesquisas direcionadas aos idosos, por revelar a percepção integrada do indivíduo envolvendo as dimensões biológica, psicológica e social (GILTAY; VOLLAARD; KROMHOUT, 2012).

A maioria dos idosos (56%) auto ava-liou sua saúde como ruim/muito ruim. Há evidência de que a autoavaliação da saúde ruim ou muito ruim, se associa a diversos fatores como: sedentarismo, baixo peso e obesidade, doenças crônicas, maior uso de medicamentos, e incapaci-dade funcional. Estudo de Moraes, Mo-reira e Luiz (2011) também demonstrou que a autoavaliação piora com a idade, contudo esta relação não foi avaliada no presente estudo.

Também em estudo com idosos, Car-doso et al. (2014) encontraram 30,9% de avaliações como ruim ou péssima, estando muito próximo ao presente

estudo. Neste mesmo estudo o uso de medicamentos também se mostrou asso-ciado a autoavaliação do estado de saúde ruim/ péssima. Sendo o consumo médio de medicamentos maior para quem identificou-se neste tipo de avaliação (SILVA et al., 2012). No presente estudo 80% da amostra faz uso de dois a três medicamento ao dia.

As reinterações hospitalares foram associadas com a percepção de saúde (p < 0,05). Sabe-se que, devido às questões biopsicossociais o idoso tem declínio cognitivo e quanto maior o número de medicamentos utilizados diariamente e a dependência em serviços de saúde, maior sua culpa diante de situações, como doenças recorrentes. Com isso, percebe-se que a percepção de saúde fica deteriorada, assim como, provavelmente, ocorreu no presente estudo.

A maioria dos idosos relatou ter uma boa aceitação da dieta hospitalar, apesar da maior parte não ter boa qualidade nutricional da alimentação consumida no domicílio. É importante lembrar que o IQD foi determinado a partir de instrumento de avaliação alimentar a longo prazo, estabelecido a partir do recordatório alimentar habitual. Nesse sentido, mensurar a qualidade da dieta torna-se importante nessa população, pois presume-se que os idosos, devido as alterações fisiológicas, podem ter uma alimentação deficitária com baixa qualidade nutricional.

Assumpção et al. (2014) em trabalho conduzido em Campinas, encontraram um escore médio do IQD de 62 pontos. No Município de São Paulo, os idosos

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avaliados no ano de 2008 apresenta-ram 62,8 pontos, valor que é bastante próximo ao observado em Campinas (ANDRADE, 2013). No presente estu-do a pontuação média encontrada foi de 51,47 pontos, sinalizando dieta que precisa de modificação e que há muito a avançar na melhoria da qualidade da alimentação desses idosos. Entre os pontos para melhorar essa alimentação encontram-se: aumentar o consumo de cereais integrais, frutas e oleaginosas. Esses alimentos são importantes pois regulam a função intestinal, o controle glicêmico e pressórico, além de possuí-rem antioxidantes fundamentais princi-palmente para as respostas imunológica e inflamatória do organismo.

Os resultados vão de encontro com os de Assumpção et al. (2014) que tam-bém indicaram piores pontuações nos componentes de cereais integrais, sódio, leite e derivados, frutas totais e frutas integrais. Juan et al. (2008) e Hiza et al. (2012) ao analisarem idosos com 65 anos ou mais incluídos no National Health and Nutrition Examination Survey, também encontraram escores baixos para grãos integrais, sódio e leite, no entanto a pontuação de frutas totais foi bastante elevada.

Dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico demostram que a ingestão de frutas e hortaliças tende a aumentar com a idade, mas ainda é inferior ao mínimo de 400 g/dia reco-mendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2015). A presente pesquisa apresentou correlação entre IMC e IQD,

quanto maior o IMC do paciente melhor a qualidade da dieta, podendo ser decor-rente da presença de doenças crônicas não transmissíveis - geralmente comuns na faixa etária estudada, estas tendem aumentar a preocupação do idoso em relação à sua dieta, melhorando assim a sua qualidade e, provavelmente, au-mentando seu peso corporal.

A limitação do estudo foi que no período de coleta de dados, a cidade se encontrava em inverno intenso, sendo os idosos mais propensos às doenças e com diagnósticos clínicos similares de-vido ao clima. Além disso cabe colocar que o recordatório alimentar habitual não é o melhor método para avaliar o consumo alimentar. O questionário de autopercepção de saúde não é validado, isso também pode ser considerada uma limitação potencial do estudo.

Conclusão

A ingestão alimentar não interfere na autoavaliação de saúde de idosos hospitalizados. A autoavaliação da saúde foi considerada ruim e a dieta habitual necessita de modificações. Os idosos encontravam-se hospitalizados devido a doenças pulmonares e maioria apresen-tava magreza, não houve associação da autoavaliação da saúde com as demais variáveis do estudo. Há aplicabilidade do questionário de autoavaliação da saúde e sua associação com a dieta habitual, por meio desses dados pode-se promover um cuidado de saúde holístico e integral ao paciente, especialmente ao idoso. Sugerem-se outros trabalhos com esta temática, com maior número amostral a

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fim de confirmar ou não a relação entre dieta e a percepção da saúde.

Self- rated health and diet quality:

comparison elderly hospitalized

Abstract

This study aim associate diet quality and self-assessment of hospitalized elder-ly. Cross-sectional study in a hospital in Guarapuava/PR, Brazil, with 100 elderly. A socioeconomic questionnaire was ap-plied, which also included questions for self-perception of health, the usual food day was used to measure the quality of the diet (QDI) of each individual, which was calculated by means of their own index. Fisher’s exact test, correlation and descrip-tive analysis were used for association. The mean age was 72.39 ± 7.77 years, being 50% female. Self-assessment of diet quali-ty, measured by QDI, showed that there is a need for modification (52%). The majo-rity (41%) rated their health status as poor. There was no association between QDI and self-rated health (p > 0.05), demonstra-ting that health perception does not interfe-re with diet quality. Theinterfe-re was no associa-tion between self-perceived health and diet quality among hospitalized elderly.

Keywords: Diet. Elderly. Nutrition. Health.

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Tabela 1 - Perfil socioeconômico e de saúde de  idosos hospitalizados. Guarapuava,  2016
Figura 1 - Percentuais de aceitação e qualidade da dieta e auto percepção da saúde de idosos  hospitalizados
Tabela 3 - Variáveis descritivas referentes às porções de Índice de Qualidade da Dieta (IQD) de  idosos hospitalizados
Tabela 4 - Coeficiente de determinação (r2) e p valor entre o índice de qualidade da dieta (IQD)  e fatores associados em idosos hospitalizados

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