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Avaliação do Potencial de Utilização de Resíduos Hospitalares de Grupo III Para Produção de Combustíveis Derivados de Resíduos

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MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA DO AMBIENTE 2018/2019

A

VALIAÇÃO DO

P

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U

TILIZAÇÃO DE

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ESÍDUOS

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Dissertação submetida para obtenção do grau de

MESTRE EM ENGENHARIA DO AMBIENTE

Presidente do Júri: Cidália Maria de Sousa Botelho

(Professora Auxiliar do Departamento de Engenharia Química da Faculdade de

Engenharia da Universidade do Porto)

___________________________________________________________

Orientador académico: Sílvia Cardinal Pinho

(Professora Auxiliar Convidada do Departamento de Engenharia Metalúrgica e

de Materiais da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto)

Coorientador académico: Manuel Afonso Magalhães da Fonseca Almeida

(Professor Associado com Agregação do Departamento de Engenharia

Metalúrgica e de Materiais da Faculdade de Engenharia da Universidade do

Porto)

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“The greatest enemy of knowledge is not ignorance, is the illusion of knowledge” Stephen Hawking

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i

Agradecimentos

Agradeço desde já aos meus pais que me apoiaram e me guiaram ao longo da minha vida e tornaram tudo isto possível.

À minha orientadora, Prof. Sílvia Pinho, agradeço por ter aceite este tema e de me ter dado todo o apoio necessário ao longo desta dissertação.

Uma palavra de apreço ao Prof. Manuel Fonseca Almeida pelo interesse demonstrado e pelas visitas ao laboratório sempre com uma ajuda disponível.

Agradeço ao Luís, sem ele esta dissertação nunca teria acontecido.

Ao Dr. Paulo Sousa, presidente do SUCH, um obrigado por me ter recebido e falado comigo acerca do que poderia ser trabalhado ao longo desta dissertação.

À Eng.ª Fátima Gonçalves, pela disponibilidade, por me ter ajudado a apresentar um tema em concreto para ser desenvolvido e por ter apoiado esta dissertação ao longo do seu desenvolvimento.

A todos os meus amigos que me deram apoio, que ouviram os meus desabafos e que me distraíram nos momentos em que precisava descansar.

Agradeço ao Tiago, embora estivesses a ter um semestre difícil nunca hesitavas em oferecer ajuda e podia sempre contar contigo para uma pausa, para falar, para ver vídeos, para companhia enquanto escrevia ou para um bilhar no Rolling.

Obrigado Tomás El Tigre, aproximamo-nos mais este semestre e é justo dizer que depois de me ouvir desabafar sobre a dissertação e de inclusive me teres levado a um casamento me deste muito apoio. Eu e tu conseguimos finalmente vencer ao Tiago em bilhar depois de 9 derrotas consecutivas, temos que melhorar o nosso rank.

Agradeço aos meus colegas da sala de ambiente, minha segunda casa, e a quem passou lá noites seguidas a estudar enquanto eu escrevia a tese. As pausas, os desabafos e as conversas ajudaram-me a conseguir acabar este trabalho.

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Avaliação do Potencial de Utilização de Resíduos Hospitalares de Grupo III Para Produção de CDR

ii

Este trabalho foi financiado por: Unidade de Investigação UID/EQU/00511/2019 - Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia – LEPABE - financiado por fundos nacionais através da FCT/MCTES (PIDDAC);

- Projeto “LEPABE-2-ECO-INNOVATION”, com a referência NORTE‐01‐0145‐FEDER‐000005, cofinanciado pelo Programa Operacional Regional do Norte (NORTE 2020), através do Portugal 2020 e do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).

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iii

Resumo

Em toda a história da Humanidade houve produção de resíduos. Porém, apenas em parte dela estes tomaram formas que a natureza não é capaz de processar e assimilar. A crescente preocupação com o estado do Meio Ambiente, fez com que a sociedade também se preocupasse com a forma como deve ser feita a gestão dos resíduos produzidos.

O aumento da produção de Resíduos Hospitalares (RH), que necessitam de formas de tratamento específicas, fez com que os responsáveis pela sua gestão procurassem alternativas, mais eficientes, de os tratar.

Nas últimas décadas as formas de tratamento de RH mais empregues foram a incineração e a autoclavagem. No entanto, a tecnologia das micro-ondas, mais limpa e inovadora apresenta forte potencial de se tornar comum no tratamento de RH. Em Portugal, apenas existe uma unidade de micro-ondas, operada pela Somos Ambiente, ACE, que trata 3 100 t por ano de RH de grupo III.

Após homogeneização e redução de volume, os RH de grupo III após tratamento por micro-ondas são eliminados por deposição em aterro, alternativa de gestão que se visa diminuir. Aliás, a eliminação de resíduos com potencial para ser reciclados ou valorizados, como os RH de grupo III após tratamento por micro-ondas, é algo a evitar.

A utilização dos resíduos como combustíveis alternativos é uma forma de valorização energética eficaz e que já é usada em Portugal pela indústria cimenteira, nos seus fornos de coincineração. Porém, a legislação atual apenas prevê a utilização de Combustíveis Derivados de Resíduos (CDR) obtidos a partir de resíduos não perigosos, o que não engloba os RH perigosos de grupo III.

Tendo em conta que a tecnologia de micro-ondas apresenta uma elevada eficácia na inativação microbiológica, e que após tratamento os RH de grupo III são equiparados a resíduos não perigosos, pode colocar-se a possibilidade de produzir CDR a partir destes resíduos.

Nesta dissertação, pretende-se avaliar a possibilidade de utilizar estes resíduos como CDR, analisando os parâmetros cujo cumprimento as normas Europeia e Portuguesa definem como obrigatório, de forma a poder concluir sobre o seu potencial para essa utilização.

Os valores obtidos para o poder calorífico demonstram a capacidade destes resíduos poderem ser utilizados como um combustível alternativo de forma sustentável. Essa capacidade é também evidenciada pela sua classificação segundo a Norma Portuguesa, NP 4486: 2008, dado que em termos de Poder Calorífico Inferior (PCI) e de teor de mercúrio estes resíduos encontram-se na classe 1, ou seja, demonstram os melhores valores previstos pela norma para esses parâmetros, e em termos de teor de cloro apresentam valores concordantes com a classe 3.

Palavras Chave: Resíduos Hospitalares, Micro-ondas, Valorização energética, Combustíveis derivados

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v

Abstract

In all the history of Humanity, waste production existed, but, only for a part of its history, the wastes took forms that nature couldn’t process or assimilate. With the growth of environmental awareness, society became preoccupied with which ways should be used to manage the produced wastes.

The growth of production of medical waste and the need for a specific treatment made that the ones responsible for the management of such wastes went looking for new and more efficient ways of treating them.

Through the last decades, incineration and autoclaving were the most commonly used technologies for treating medical wastes. However, microwaves, a new and promising technology surfaced, showing strong indications of becoming more common for the treatment of medical waste. In Portugal, only one unit of microwaving treatment exists, managed by Somos Ambiente, ACE, it treats 3 100 tons of group III medical wastes.

However, even having volume reduction and complete mixture of the waste, after microwave treatment, group III medical wastes are eliminated by being deposited in landfills. The objective of reducing the disposal of landfills, eliminating wastes that have the potential of being recycled or used to recover energy, as the group III medical wastes have, is something to be avoided.

Using wastes as alternative fuels is an efficient way of energy recovery which is already used in Portugal by the cement industry in their coincineration facilities. Nevertheless, current laws only recognize nonhazardous wastes as potential refused derived fuel (RDF), which does not include the hazardous medical wastes belonging to group III.

Taking into consideration that microwave technology shows a high efficiency on microbial inactivation and that after treatment, group III medical wastes are equated to nonhazardous waste, there is a possibility of producing RDF from them.

In this thesis, the possibility of using these wastes as RDF, analyzing the parameters set as mandatory by the European and Portuguese standards, to conclude these wastes’ potential of being used to produce RDF.

The heat of combustion determined for the samples, show the capacity of this waste to be used as an alternative fuel efficiently. This ability is also supported by their classification according to the Portuguese standard NP 4486: 2008, since that, in terms of lower heating power and of mercury content this waste ranks in the number 1 class, which means they present the best values expected by the standard, and in terms of chlorine content, they are in class 3.

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vii Índice Geral

Agradecimentos ... i

Resumo ... iii

Abstract ... v

Índice de figuras ... ix

Índice de tabelas ... xi

Lista de Siglas e Abreviaturas ...xiii

1. Introdução ... 1

1.1. Relevância do estudo ... 1 1.2. Objetivos ... 3 1.3. Estrutura da Dissertação ... 3

2. Estado da arte ... 5

2.1. Resíduos Hospitalares ... 5 2.1.1.Definição e Classificação ... 5

2.1.2.Gestão dos Resíduos Hospitalares...10

2.1.2.1. Produção, Triagem, Recolha, Transporte Interno e Armazenamento ...12

2.1.2.2. Transporte Externo, Tratamento e Destino Final ...14

2.1.3.Tecnologias de Tratamento ...15

2.1.4.Tecnologias de Tratamento em Portugal ...16

2.1.4.1. Autoclavagem ...17

2.1.4.2. Tratamento por Micro-ondas ...18

2.2. Combustível Derivado de Resíduo (CDR)...21

2.2.1.Definição e Classificação ...21

2.2.2.Produção de Combustíveis Derivados de Resíduos ...23

2.2.3.Tecnologias de Valorização de Combustíveis Derivados de Resíduos ...24

2.2.3.1. Pirólise...24

2.2.3.2. Gaseificação ...25

2.2.3.3. Incineração ...25

2.2.3.4. Coincineração ...26

2.2.4.Utilização de Combustíveis Derivados de Resíduos na Europa ...26

2.2.5.Combustíveis Derivados de Resíduos em Portugal ...26

3. Caso de estudo ... 29

3.1. Caracterização da Unidade de Tratamento ...29

(12)

Avaliação do Potencial de Utilização de Resíduos Hospitalares de Grupo III Para Produção de CDR

viii

4. Metodologia... 33

4.1. Amostragem ... 33

4.2. Determinação da granulometria da amostra ... 34

4.3. Determinação do Poder Calorífico ... 34

4.4. Determinação do Teor de Cloro ... 35

4.5. Determinação do Teor de Humidade ... 35

4.6. Determinação do Teor de Cinzas ... 35

4.7. Determinação dos parâmetros de Especificação Obrigatória ... 36

5. Apresentação e Discussão de Resultados ... 37

5.1. Teor de Humidade e Cinzas ... 37

5.2. Poder Calorífico ... 37

5.3. Teor de Cloro ... 39

5.4. Parâmetros de Especificação Obrigatória ... 40

5.5. Classificação Segundo a NP 4486: 2008 ... 41 5.6. Granulometria da amostra ... 42

6. Conclusões ... 45

Bibliografia ... 47

Anexo A……….……….51

Anexo B………..55

Anexo C………..57

Anexo D………..61

Anexo E………..63

Anexo F………..65

(13)

ix

Índice de figuras

Figura 2.1 - Hierarquia dos resíduos (Chartier et al., 2014) ...10

Figura 2.2 - Elementos funcionais do sistema de gestão integrada de RH (Tavares, 2004) ...11

Figura 2.3 - Código de cores utilizado nos sacos de recolha de RH ...12

Figura 2.4 - Sistema de autoclavagem de pré-vácuo (Chartier et al., 2014) ...18

Figura 2.5 - Micro-ondas de processo em carga (Chartier et al., 2014) ...19

Figura 2.6 - Micro-ondas de processo semicontínuo (Chartier et al., 2014) ...20

Figura 3.1 - Localização das unidades de tratamento por Micro-ondas, de Autoclavagem e Incineração ...29

Figura 3.2 - Equipamento de tratamento por Micro-ondas operado pelo SUCH ...30

Figura 4.1 - Amostra imediatamente após chegada ao laboratório ...33

Figura 4.2 - Amostras referentes a cada mês: (a) Abril; (b) Maio; (c) Junho ...34

Figura 4.3 - Calorímetro utilizado na determinação do Poder Calorífico ...34

Figura 4.4 - Tubos de Kjeldhal enquanto decorre a digestão no banho a 90 ºC ...36

Figura 5.1 - Comparação entre o PCS das amostras de RH e de outros combustíveis ...38

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(15)

xi

Índice de tabelas

Tabela 1.1 - Evolução do valor da TGR (Lei n.º 82-D/2014, de 31 de Dezembro, 2014)... 2

Tabela 1.2 - Percentagem de TGR a pagar por operação de gestão (Lei n.º 82-D/2014, de 31 de Dezembro, 2014) ... 3

Tabela 2.1 - Classificação dos RH segundo a OMS (Chartier et al., 2014) ... 6

Tabela 2.2 - Classificação dos RH segundo a USEPA (Register, 1989) ... 6

Tabela 2.3 - Classificação dos RH segundo a legislação Portuguesa (Despacho nº 242/96, 1996) ... 7

Tabela 2.4 - Classificação dos RH segundo a LER (Decisão n.º 2014/955/UE, 2014) ... 8

Tabela 2.5 - Correspondência entre a LER e a classificação de RH em Portugal (DGS, 2009) ... 9

Tabela 2.6 - Níveis de classificação de inativação microbiológica da STAATT(Chartier et al., 2014; DGS, 2016b) ...16

Tabela 2.7 - Tabela de classes de CDR (IPQ, 2008) ...22

Tabela 2.8 - Produção de material para CDR (APA, 2018b) ...27

Tabela 2.9 - Produção de CDR em Portugal (APA, 2018b) ...27

Tabela 2.10 - Preço de compra de CDR (Caracol, 2016)...28

Tabela 2.11 - Penalização referente ao teor de cloro (Caracol, 2016) ...28

Tabela 3.1 - Composição média dos RH de Grupo III ...31

Tabela 5.1 – Teor de Humidade e Cinzas nas amostras de RH de Grupo III ...37

Tabela 5.2 - Valores de PCS e PCI (t.q.) obtidos para cada amostra de RH de Grupo III ...38

Tabela 5.3 - Valores de PCI exigidos pela NP 4486: 2008 ...39

Tabela 5.4 - Poder calorífico dos vários componentes teóricos de um RH de Grupo III ...39

Tabela 5.5 - Teor de Cloro das amostras de RH de Grupo III...40

Tabela 5.6 - Teor de Cloro dos vários componentes teóricos de um RH de Grupo III ...40

Tabela 5.7 - Parâmetros de especificação obrigatória das amostras de RH de Grupo III ...41

Tabela 5.8 - Classificação do CDR segundo o PCI ...41

Tabela 5.9 - Classificação do CDR segundo o Teor de Cloro...42

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xiii

Lista de Siglas e Abreviaturas

CDR – Combustível Derivado de Resíduos CEN – Comité Europeu de Normalização CER – Catálogo Europeu de Resíduos

CIVTRHI – Centro Integrado de Valorização e Tratamento de Resíduos Hospitalares e Industriais DGS – Direção Geral de Saúde

ETAR – Estação de Tratamento de Água Residuais EUA – Estados Unidos da América

HEPA – High Efficiency Particulate Arrestance LER – Lista Europeia de Resíduos

MWTA – Medical Waste Tracking Act NP – Norma Portuguesa

OMS – Organização Mundial de Saúde PCI – Poder Calorífico Inferior

PCS – Poder Calorífico Superior

PERH – Plano Estratégico dos Resíduos Hospitalares

PERSU – Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos PGRH – Plano de Gestão de Resíduos Hospitalares

POP – Poluentes Orgânicos Persistentes PVC – Policloreto de Vinilo

RARU – Relatório Anual dos Resíduos Urbanos RDF – Refused Derived Fuel

RH – Resíduo Hospitalar RSU – Resíduo Sólido Urbano RU – Resíduo Urbano

SGRU – Sistemas de Gestão de Resíduos Urbanos SNS – Serviço Nacional de Saúde

SRF – Solid Recovered Fuel

STAATT - State and Territorial Association on Alternate Treatment Technologies SUCH – Serviço de Utilização Comum dos Hospitais

TGR – Taxa de Gestão de Resíduos TM – Tratamento Mecânico

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Avaliação do Potencial de Utilização de Resíduos Hospitalares de Grupo III Para Produção de CDR

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UE – União Europeia

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Introdução

1.1. RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Historicamente, os resíduos produzidos pelas atividades humanas não criavam grande preocupação ao homem devido à sua natureza fundamentalmente orgânica sendo, portanto, facilmente assimilados pela Natureza. No entanto, após a revolução industrial, a elevada urbanização, e o crescimento do setor industrial ao longo da primeira metade do século XX levou a que novos produtos fossem introduzidos no mercado, nomeadamente os produtos descartáveis de utilização única. Estes, vistos como símbolos de modernidade vieram alterar a forma como a Humanidade produz resíduos, sendo notório um aumento da sua produção. Todas estas alterações ao longos das décadas, dos padrões de consumo e das atividades humanas resultaram num grande aumento do volume de resíduos produzidos (Hossain et al., 2010; Mota et al., 2004).

Na União Europeia (UE), desde 2004, nos 28 estados membros são produzidos anualmente cerca de 2,5 mil milhões de toneladas de resíduos. Destes, 96 milhões de toneladas dizem respeito a resíduos perigosos, dos quais 29 milhões de toneladas são resíduos hospitalares (RH) (Eurostat, 2019). Entre os anos de 2013 e 2017 foram produzidos, a nível nacional, em média 27 mil toneladas de resíduos hospitalares (INE, 2018; Vieira, 2012).

Embora os RH tenham uma baixa representatividade na quantidade de resíduos produzidos na UE, é-lhes dada especial atenção devido à sua potencial perigosidade, quer para o meio ambiente, quer para a saúde pública. Um manuseamento impróprio destes resíduos pode impactar tanto direta como indiretamente os profissionais de saúde, pacientes e o ambiente hospitalar (Hossain et al., 2010; Pinho, 2014).

A natureza, heterogeneidade e perigosidade dos RH obriga a que existam procedimentos e planos de gestão específicos. Em Portugal, até aos anos 80, a gestão de resíduos no geral era vista pelas empresas como um investimento sem retorno o que levou ao afastamento de grande parte dos investidores. No entanto, segundo Caetano (2009), os resíduos possuem também um valor económico, tendo o potencial de criar indústrias, mercados e serviços, criando também empregos estruturais na pirâmide socioeconómica. Em Portugal, a legislação relativa aos resíduos hospitalares é algo recente sendo que a primeira definição de RH foi apresentada no início dos anos 90 e o primeiro plano estratégico em 1999. Atualmente, a legislação Portuguesa divide os RH em 4 grupos cada um com características diferentes dos restantes. Desses quatro grupos, dois dizem respeito aos resíduos não perigosos e os outros dois referem-se aos resíduos perigosos. Quantitativamente, os RH são maioritariamente não perigosos, cerca de 75-90 %, restando 10-25 % de resíduos perigosos, sendo esta a fração que necessita de atenção e tratamento especial (Pinho, 2014).

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Avaliação do Potencial de Utilização de Resíduos Hospitalares de Grupo III Para Produção de CDR

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Como forma de tratamento existem diversas tecnologias em utilização e em estudo. A incineração, pirólise, autoclavagem, desinfeção química, micro-ondas, gaseificação e irradiação são algumas das tecnologias usadas para tratar RH perigosos. A nível nacional são utilizadas quatro tecnologias de tratamento, isto é, a incineração, a autoclavagem, tratamento por micro-ondas e a desinfeção química (DGS, 2016b; Pinho, 2014).

Na convenção de Estocolmo, em 2001, foi feito o apelo a que melhores práticas de tratamento de RH fossem implementadas. Os países participantes desta convenção foram obrigados a reduzirem as emissões de Poluentes Orgânicos Persistentes (POP), originários da incineração de RH. As tecnologias de tratamento de RH alternativas à incineração são consideradas, assim, uma prioridade comparativamente à incineração (Chartier et al., 2014), em particular as micro-ondas que recebem por isso atenção redobrada. No entanto, apesar das emissões de POP poderem ser minimizadas com a utilização de tecnologias alternativas à incineração, o resultado é também um resíduo equiparado aos resíduos urbanos que é encaminhado para eliminação (Despacho nº 242/96, 1996).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), na hierarquia de gestão de resíduos, a eliminação é o último passo a tomar quando já não existem outras possibilidades. Por isso, proceder à eliminação dos RH tratados apenas deverá ser feito se não existir forma de valorizar os resíduos resultantes desse tratamento (Chartier et al., 2014).

O tratamento por micro-ondas é uma tecnologia inovadora, limpa e eficaz na eliminação de patogénicos, obtendo-se no final um resíduo tratado, irreconhecível, homogéneo, composto por partículas muito finas, constituindo um produto potencialmente valorizável ou reciclável. Devido ao processo de fragmentação a que é sujeito, o resíduo apresenta uma redução de cerca de 80 % do volume inicial, embora, a massa de resíduo se mantenha inalterada. Os resíduos tratados usando este método são diretamente encaminhados para aterro de resíduos equiparados a urbanos.

Para além das questões ambientais, existem também incentivos financeiros à valorização dos resíduos em detrimento da sua eliminação. Em Portugal, de acordo com a Lei n.º 82-D/2014, de 31 de Dezembro, está estipulado que as entidades responsáveis por sistemas de gestão de fluxos específicos resíduos, estejam obrigadas ao pagamento de uma Taxa de Gestão de Resíduos (TGR), cujo objetivo é o de incentivar a redução da produção e da eliminação de resíduos. É previsto também um aumento gradual dessa taxa, consoante a Tabela 1.1, pelo que de 2015 até 2020 deve duplicar.

Tabela 1.1 - Evolução do valor da TGR (Lei n.º 82-D/2014, de 31 de Dezembro, 2014)

Ano 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Valor da TGR

[€/t resíduos] 5,5 6,6 7,7 8,8 9,9 11,0

De forma a incentivar a redução da eliminação, esta taxa é cobrada de forma diferente tendo em conta a operação de tratamento final aplicada, de acordo com a Tabela 1.2. No caso particular dos RH do grupo IV que são de incineração obrigatória estão isentos da TGR.

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3

Tabela 1.2 - Percentagem de TGR a pagar por operação de gestão (Lei n.º 82-D/2014, de 31 de Dezembro, 2014)

Operação TGR [%]

D1 – Deposição em aterro 100 D10 – Incineração 70 R1 – Valorização energética 25

Tendo em perspetiva o desvio de deposição em aterro e o aumento da sustentabilidade económica dos sistemas de gestão de RH, a utilização dos que são tratados pelo processo de micro-ondas, como CDR, apresenta-se como uma alternativa que os considera como recursos de valor económico e com vantagens ambientais.

1.2. OBJETIVOS

O objetivo desta dissertação será avaliar o potencial de utilização dos RH do grupo III após tratamento em micro-ondas como um material para a produção de um CDR, passível de ser utilizado por indústrias que usem processos de coincineração em alternativa aos combustíveis fósseis, tornando, assim, mais viável a utilização daquela tecnologia de tratamento de RH.

1.3. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Este texto encontra-se subdividido em 6 capítulos.

O Capítulo 1 faz uma breve introdução ao tema, abordando o panorama da gestão dos resíduos sólidos, apresentando o objetivo do estudo e a forma como o presente documento se encontra estruturado. No Capítulo 2, os temas são abordados de forma mais extensa, particularmente os RH e os CDR, e o panorama atual relativo a esses dois temas.

No Capítulo 3 refere-se ao caso em estudo e nele é feita uma caracterização do resíduo a ser testado tal como uma caracterização da unidade onde se realiza o seu tratamento e eliminação.

No Capítulo 4 aborda-se a metodologia utilizada na determinação dos diversos parâmetros requeridos, explicitando qual as normas utilizadas para determinação de cada parâmetro e qual o procedimento laboratorial que permitiu obter os diversos resultados.

No Capítulo 5 é feita uma apresentação dos resultados obtidos ao longo da dissertação, assim como uma breve discussão acerca do seu significado.

(22)
(23)

5

2

Estado da arte

2.1. RESÍDUOS HOSPITALARES 2.1.1. DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO

A definição de resíduo hospitalar não é universal, variando significativamente entre diferentes países, regiões e organizações. A falta de padronização deve-se essencialmente à denominação dada a estes resíduos, podendo-se encontrar na literatura termos como resíduo hospitalar, resíduo médico, resíduo clínico, resíduo infecioso e outras (Windfeld & Brooks, 2015).

Em 1988, após resíduos hospitalares terem dado à costa em diversas praias dos EUA, o Congresso dos EUA promulgou o “Medical Waste Tracking Act” (MWTA), que, entre outros, definiu resíduos hospitalares como “qualquer resíduo sólido que é gerado no diagnóstico, tratamento, ou imunização de seres humanos ou animais, em pesquisa referente a isso, ou na produção ou teste de produtos biológicos” (Medical Waste Tracking Act of 1988, 1988; U.S. Environmental Protection Agency, 2016).

Em 1999, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou a primeira edição do “The Blue Book”, como é apelidado, com o objetivo de analisar e recomendar métodos seguros, eficientes, baratos, sustentáveis e culturalmente aceitáveis para o tratamento de resíduos hospitalares. Nesse livro, a OMS define resíduos hospitalares como “todos os resíduos gerados por estabelecimentos de cuidados de saúde, instalações de pesquisa e laboratórios. Inclui também os resíduos gerados por fontes “menores” ou “dispersas”, como por exemplo os resíduos gerados no decorrer de tratamentos realizados no domicílio (diálise, injeções de insulina, etc.)”. Anos mais tarde, em 2014, foi editada uma segunda edição deste livro, em que as novas tecnologias e necessidades do tratamento dos resíduos hospitalares foram tidas em conta. No entanto, a definição de resíduo hospitalar manteve-se inalterada (Chartier et al., 2014; Prüss-Üstün, 1999).

Em Portugal, a definição de resíduos hospitalares foi apresentada pela primeira vez no Decreto-Lei nº 310/95 de 20 de Novembro. Nesse documento, os resíduos hospitalares são definidos, de forma muito similar à definição da OMS, como “os resíduos produzidos em unidades de prestação de cuidados de saúde, incluindo as atividades médicas de diagnóstico, tratamento e prevenção da doença em seres humanos ou animais, e ainda as atividades de investigação relacionadas.”

Ao contrário das definições dadas pela OMS e pelos EUA, a definição portuguesa sofreu alterações ao longos dos anos, até ao diploma atualmente em vigor, que estabelece o regime jurídico de gestão de resíduos, o Decreto-Lei nº 73/2011, definindo resíduo hospitalar como sendo “os resíduos resultantes de atividades de prestação de cuidados de saúde a seres humanos ou a animais, nas áreas da prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação ou investigação e ensino, bem como de outras atividades envolvendo procedimentos invasivos, tais como acupuntura, piercings e tatuagens”.

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Avaliação do Potencial de Utilização de Resíduos Hospitalares de Grupo III Para Produção de CDR

6

Esta inconsistência existe não só na definição, mas também na forma como os resíduos hospitalares são categorizados segundo as suas características ou necessidades de tratamento.

Na primeira publicação do livro sobre a gestão de resíduos hospitalares, a OMS sugeriu a divisão dos RH em 8 categorias, sendo que a 1.ª categoria correspondia aos resíduos equiparados a RSU e as restantes 7 categorias correspondiam a resíduos perigosos. Atualmente, essas categorias foram atualizadas para as 7 apresentadas na Tabela 2.1 (Prüss-Üstün, 1999).

Tabela 2.1 - Classificação dos RH segundo a OMS (Chartier et al., 2014)

Resíduos não perigosos Resíduos equiparados a resíduos urbanos

Resíduos perigosos

Cortantes e perfurantes Agulhas, seringas, bisturis, lâminas, vidro partido, etc.

Resíduos infeciosos

Resíduos que sejam suspeitos de conterem patogénicos e que constituam um risco de

transmissão de doenças

Resíduos patológicos Tecidos humanos, órgãos ou fluidos, partes anatómicas, fetos, produtos de sangue não usados Resíduos farmacêuticos,

incluindo citotóxicos

Fármacos expirados, itens contaminados ou que contenham fármacos, resíduos citotóxicos que

contenham substâncias com propriedades genotóxicas

Resíduos químicos Resíduos que contenham substâncias químicas Resíduos radioativos Resíduos que contenham substâncias radioativas

Nos EUA, com a promulgação do MWTA, o governo americano apresenta 5 categorias cuja inclusão na lista dos tipos de RH é obrigatória e 5 categorias adicionais cuja inclusão é opcional visto que, segundo a United States Environmental Protection Agency (USEPA), caso se verifique uma má gestão destas categorias opcionais não se verificará uma ameaça substancial à saúde humana, nem para o ambiente (Environmental Protection Agency, 1989). Estas categorias estão apresentadas na Tabela 2.2.

Tabela 2.2 - Classificação dos RH segundo a USEPA (Register, 1989)

Categorias obrigatórias

Culturas e agentes infeciosos e biológicos associados Resíduos patológicos e quimioterapêuticos

Sangue humano e produtos com sangue Objetos cortantes e perfurantes

Resíduos de animais (ex. Carcaças animais contaminadas)

Categorias opcionais

Resíduos de cirurgia e autópsia Resíduos de laboratório

Resíduos de diálise Equipamento médico descartado

(25)

7 A primeira classificação adotada em Portugal foi descrita no Despacho n.º 16/90 de 21 de Agosto de 1990. Neste documento, foram adotadas medidas de gestão consideradas inovadoras e classificados os resíduos hospitalares em 2 grupos, o grupo A correspondente aos resíduos contaminados e o grupo B correspondente aos resíduos não contaminados.

A classificação atualmente utilizada em Portugal foi definida pelo Despacho n.º 242/96 de 13 de Agosto de 1996. A partir desta data os resíduos hospitalares em Portugal passam a ser divididos em 4 grupos, os resíduos de Grupo I e II considerados resíduos não perigosos e os de Grupo III e IV considerados resíduos perigosos. Os resíduos referentes a cada um dos grupos são descritos na Tabela 2.3.

Tabela 2.3 - Classificação dos RH segundo a legislação Portuguesa (Despacho nº 242/96, 1996)

Resíduos não perigosos Grupo I: Resíduos equiparados a urbanos

Não apresentam exigências especiais no seu tratamento. Contêm-se neste grupo:

a) Resíduos provenientes de serviços gerais (como de gabinetes, salas de reuniões, salas de convívio, instalações sanitárias, vestiários, etc.);

b) Resíduos provenientes de serviços de apoio (como oficinas, jardins, armazéns e outros);

c) Embalagens e invólucros comuns (como papel, cartão, mangas mistas e outros de idêntica natureza);

d) Resíduos provenientes da hotelaria resultantes da confeção e restos de alimentos servidos a doentes não incluídos no grupo III.

Grupo II: Resíduos hospitalares não

perigosos

Não estão sujeitos a tratamentos específicos, podendo ser equiparados a urbanos. Incluem-se neste grupo:

a) Material ortopédico: talas, gessos e ligaduras gessadas não contaminados e sem vestígios de sangue;

b) Fraldas e resguardos descartáveis não contaminados e sem vestígios de sangue; c) Material de proteção individual utilizado nos serviços gerais e de apoio, com exceção

do utilizado na recolha de resíduos;

d) Embalagens vazias de medicamentos ou de outros produtos de uso clínico e ou comum, com exceção dos incluídos no grupo III e no grupo IV;

e) Frascos de soros não contaminados, com exceção dos do grupo IV;

Resíduos perigosos Grupo III: Resíduos hospitalares de risco biológico

São resíduos contaminados ou suspeitos de contaminação, suscetíveis de incineração ou de outro pré-tratamento eficaz, permitindo posterior eliminação como resíduo urbano. Inserem-se neste grupo:

a) Todos os resíduos provenientes de quartos ou enfermarias de doentes infeciosos ou suspeitos, de unidades de hemodiálise, de blocos operatórios, de salas de tratamento, de salas de autópsia e de anatomia patológica, de patologia clínica e de laboratórios de investigação, com exceção dos do grupo IV;

b) Todo o material utilizado em diálise; c) Peças anatómicas não identificáveis;

d) Resíduos que resultem da administração de sangue e derivados;

e) Sistemas utilizados na administração de soros e medicamentos, com exceção dos do grupo IV;

f) Sacos coletores de fluídos orgânicos e respetivos sistemas;

g) Material ortopédico: talas gessos e ligaduras gessadas contaminados ou com vestígios de sangue; material de prótese retirado a doentes;

h) Fraldas e resguardos descartáveis contaminados ou com vestígios de sangue; i) Material de proteção individual utilizado em cuidados de saúde e serviços de apoio

geral em que haja contacto com produtos contaminados (como luvas, máscaras, aventais e outros).

Grupo IV: Resíduos hospitalares

específicos

São resíduos de vários tipos de incineração obrigatória. Integram-se neste grupo: a) Peças anatómicas identificáveis, fetos e placentas, até publicação de legislação

específica;

b) Cadáveres de animais de experiência laboratorial;

c) Materiais cortantes e perfurantes: agulhas, cateteres e todo o material invasivo; d) Produtos químicos e fármacos rejeitados, quando não sujeitos a legislação específica; e) Citoestáticos e todo o material utilizado na sua manipulação e administração.

Com a necessidade de padronizar a classificação de resíduos nos seus estados membros, a UE definiu uma lista harmonizada de resíduos tendo em conta a sua origem e composição. Em 1993, aprovada pela

(26)

Avaliação do Potencial de Utilização de Resíduos Hospitalares de Grupo III Para Produção de CDR

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Decisão n.º 94/3/CE, da Comissão, de 20 de Dezembro de 1993, a EU elabora o Catálogo Europeu de Resíduos (CER). Em 1991 a EU já tinha criado a Lista Europeia de Resíduos Perigosos (LERP) adotado pela Diretiva n.º 91/689/CEE, do Conselho, de 12 de Dezembro, cuja validade não é posta em causa com a criação do CER. Em 2000 o CER é substituído pela LER na Decisão n.º 2000/532/CE, da Comissão, de 3 de Maio, que foi posteriormente revogada pela Decisão n.º 2014/955/EU, da Comissão, de 18 de Dezembro (APA, 2017; Tavares & Pereira, 2005).

Cada um dos resíduos presentes na LER é identificado por um código de 6 dígitos, dos quais os dois primeiros se referem ao capítulo, os dois seguintes ao subcapítulo e os dois últimos ao resíduo específico. Na LER os resíduos hospitalares estão inseridos no capítulo 18, apresentado na Tabela 2.4, na qual, para além do código numérico, se pode também encontrar um asterisco (*) adjacente ao código que significa que o resíduo em questão é considerado perigoso (APA, 2017; Tavares & Pereira, 2005).

Tabela 2.4 - Classificação dos RH segundo a LER (Decisão n.º 2014/955/UE, 2014)

18

Resíduos da Prestação de Cuidados de Saúde a Seres Humanos ou Animais e/ou de Investigação Relacionada (exceto resíduos de cozinha e restauração não provenientes diretamente da prestação de cuidados de saúde)

18 01 Resíduos de maternidades e do diagnóstico, tratamento ou prevenção de doenças em seres

humanos

18 01 01 Objetos cortantes e perfurantes (exceto 18 01 03)

18 01 02 Partes anatómicas e órgãos, incluindo sacos de sangue e sangue conservado (exceto 18 01 03)

18 01 03* Resíduos cujas recolha e eliminação estão sujeitas a requisitos específicos com vista à

prevenção de infeções

18 01 04

Resíduos cujas recolha e eliminação não estão sujeitas a requisitos específicos com vista à prevenção de infeções (por exemplo pensos, compressas, ligaduras, gessos, roupas, vestuário descartável, fraldas)

18 01 06* Produtos químicos contendo ou compostos por substâncias perigosas

18 01 07 Produtos químicos não abrangidos em 18 01 06

18 01 08* Medicamentos citotóxicos e citoestáticos

18 01 09 Medicamentos não abrangidos em 18 01 08

18 01 10* Resíduos de amálgamas de tratamentos dentários

18 02 Resíduos da investigação, diagnóstico, tratamento ou prevenção de doenças em animais

18 02 01 Objetos cortantes e perfurantes (exceto 18 02 02)

18 02 02* Resíduos cujas recolha e eliminação estão sujeitas a requisitos específicos com vista à

prevenção de infeções

18 02 03 Resíduos cujas recolha e eliminação não estão sujeitas a requisitos específicos com vista à

prevenção de infeções

18 02 05* Produtos químicos contendo ou compostos por substâncias perigosas

18 02 06 Produtos químicos não abrangidos em 18 02 05

18 02 07* Medicamentos citotóxicos e citoestáticos

(27)

9 Na Tabela 2.5 apresenta-se a correspondência entre a classificação nacional e a classificação de acordo com a LER.

Tabela 2.5 - Correspondência entre a LER e a classificação de RH em Portugal (DGS, 2009)

Grupos de Resíduos Hospitalares Códigos da Lista Europeia de Resíduos

Saúde Humana Saúde Animal

Grupo I:

Resíduos equiparados a urbanos 20 03 01: Outros resíduos

urbanos e equiparados, incluindo misturas de

resíduos

20 03 01: Outros resíduos

urbanos e equiparados, incluindo misturas de resíduos

Grupo II:

Resíduos hospitalares não perigosos

Grupo III:

Resíduos hospitalares de risco biológico

18 01 03*: Resíduos cujas

recolha e eliminação estão sujeitas a requisitos específicos tendo em vista

a prevenção de infeções

18 02 02*: Resíduos cujas

recolha e eliminação estão sujeitas a requisitos específicos tendo em vista a

prevenção de infeções

Grupo IV:

Resíduos hospitalares específicos

a) Peças anatómicas identificáveis, fetos e placentas, até publicação de legislação específica;

18 01 02: Partes anatómicas e

órgãos, incluindo sacos de sangue e sangue conservado

(exceto 18 01 03)

18 02 02*: Resíduos cujas recolha

e eliminação estão sujeitas a requisitos específicos tendo em

vista a prevenção de infeções

b) Cadáveres de animais de

experiência laboratorial; - c) Materiais cortantes e

perfurantes: agulhas, cateteres e todo o material invasivo;

18 01 01: Objetos cortantes e perfurantes (exceto 18 01 03)

18 Produtos químicos e fármacos rejeitados, quando não sujeitos a legislação específica;

Para produtos químicos: 18 01 06*: Produtos químicos

contendo ou compostos por substâncias perigosas

Para fármacos rejeitados: 18 01 09: Medicamentos não

abrangidos em 18 01 08

Para produtos químicos: 18 02 05*: Produtos químicos

contendo ou compostos por substâncias perigosas

Para fármacos rejeitados: 18 02 08: Medicamentos não

abrangidos em 18 01 09

19 Citoestáticos e todo o material utilizado na sua manipulação e administração. 18 01 08*: Medicamentos citotóxicos e citoestáticos 19 02 07*: Medicamentos citotóxicos e citoestáticos

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Avaliação do Potencial de Utilização de Resíduos Hospitalares de Grupo III Para Produção de CDR

10

2.1.2. GESTÃO DOS RESÍDUOS HOSPITALARES

A gestão dos resíduos hospitalares é um dos grandes desafios da Humanidade, pois à medida que a população mundial e a esperança média de vida aumentam a procura por serviços médicos cresce, originando um acréscimo da produção de RH. Os resíduos hospitalares que sejam sujeitos a uma gestão ineficaz representam um elevado risco de infeção para aqueles que lidam com eles diretamente e também um risco para a população em geral, devido à dispersão de microrganismos no ambiente (Windfeld & Brooks, 2015).

Em 1983, um grupo de peritos da OMS reunidos em Bergen na Noruega, após uma reflexão sobre a importância da gestão dos RH concluíram que “A gestão dos resíduos dos estabelecimentos de prestação de cuidados de saúde deve ser tratada como um sistema…”. Tal como nos restantes tipos de resíduos, a gestão dos RH tem como objetivo o tratamento e/ou eliminação dos resíduos de forma a garantir a segurança e a saúde pública. Essa gestão, pode ser realizada através de vários processos sumarizados numa ordem de referência chamada a hierarquia de gestão dos resíduos, representada na Figura 2.1 (Chartier et al., 2014).

Nos países em desenvolvimento, o melhor acesso a cuidados médicos e o facto destes países estarem rapidamente a eliminar equipamento médico de utilização repetida, a favor de equipamentos de utilização única, está a originar um grande aumento dos RH, que necessitam de uma gestão eficaz e correta. Com o aumento da esperança média de vida, e, consequentemente, o envelhecimento da população nos países desenvolvidos, está a assistir-se ao aumento da produção de RH (Windfeld & Brooks, 2015).

A má gestão dos RH é um problema significativo e preocupante nos países em desenvolvimento. Muitos estudos foram conduzidos nestes países de forma a avaliar o sistema de gestão utilizado pelas diversas unidades de prestação de cuidados de saúde. Estes estudos indicaram que os principais obstáculos para uma correta gestão são a falta de financiamento, falta de consciencialização, falta de pessoal treinado, entre outros motivos. Para além disso, a escassez ou a inexistência de legislação nacional e de guias sobre a gestão de RH dificulta também o desenvolvimento de sistemas eficazes e adequados de gestão de resíduos nesses países (Hossain et al., 2010).

Segundo a OMS, todos os indivíduos que entrem em contacto com RH estão em potencial risco de contaminação. Os principais grupos de pessoas em risco são (Chartier et al., 2014):

(29)

11 • Médicos, enfermeiros, auxiliares de saúde e pessoal de manutenção hospitalar;

• Pacientes em unidades de prestação de cuidados ou em cuidados domiciliários; • Visitantes a unidades de prestação de cuidados;

• Trabalhadores em serviços de apoio tal como pessoal de limpeza, lavandarias e porteiros; • Trabalhadores de transporte dos RH;

• Trabalhadores em unidades de gestão de RH.

Embora estes sejam os grupos de pessoas mais sujeitas a risco, não são as únicas potencialmente afetadas pelos RH. As pequenas fontes de RH que englobam resíduos farmacêuticos e infeciosos gerados em cuidados domiciliários, materiais usados em processos de diálise no domicílio, agulhas de injeção de insulina ou mesmo material intravenoso associado ao uso de drogas também não devem ser ignoradas (Chartier et al., 2014).

Dados da OMS indicam que no ano de 2000, os RH corto-perfurantes foram a causa de cerca de 66 000 hepatites B, 16 000 hepatites C e cerca de 200 a 5 000 infeções de HIV em trabalhadores do setor dos RH. Outro estudo documentou que no ano de 2009, no estado Indiano de Gujarat, 240 pessoas contraíram hepatite B após tratamento médico com seringas já usadas adquiridas clandestinamente. Um estudo da Indian Clinical Epidemology Network afirma que 30 % das 3 a 6 mil milhões de injeções administradas cada ano foram realizadas com material usado. Grande parte destes problemas foram atribuídos a falta de treino e de consciencialização do pessoal médico, ou seja, a par de um sistema de gestão bem desenvolvido é preciso apostar na formação e educação direcionada aos profissionais de saúde (Chartier et al., 2014; Harhay et al., 2009).

Em Portugal, o Decreto-Lei n.º 73/2011 de 17 de Junho, atribui a responsabilidade pela gestão dos resíduos ao seu produtor. No Despacho n.º 242/96, de 13 de Agosto, é definido que “cada unidade de prestação de cuidados de saúde deve ter um PGRH adequado as suas características sempre visando garantir o menor risco para pacientes, trabalhadores e público no geral” (Tavares et al., 2007).

O sistema integrado de gestão de RH é composto por um conjunto diverso de operações, as quais podem ser agrupadas nos seguintes elementos funcionais representados na Figura 2.2 (Tavares, 2004):

(30)

Avaliação do Potencial de Utilização de Resíduos Hospitalares de Grupo III Para Produção de CDR

12

2.1.2.1. PRODUÇÃO,TRIAGEM,RECOLHA,TRANSPORTE INTERNO E ARMAZENAMENTO

Na etapa de produção há, desde início, estratégias de prevenção que visam a minimização da produção de resíduos. Segundo a USEPA e o Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU), a redução na fonte define-se como a “redução da quantidade e/ou perigosidade dos resíduos no local onde são gerados, antes de entrarem no sistema de recolha”. Esta redução na origem traduz-se em benefícios em termos de impactes na saúde e no ambiente (Tavares, 2004).

A etapa de triagem, é considerada a fase de maior importância para a minimização e gestão eficaz dos RH. Esta etapa é a base da gestão integrada dos RH nas unidades em que são produzidos, impedindo que haja um cruzamento dos resíduos de incineração obrigatória e/ou resíduos de risco biológico, o que, caso aconteça, representa um risco de contaminação acrescido. Para tal, os profissionais prestadores de cuidados de saúde e os responsáveis pela triagem na origem, devem ter uma correta formação de modo a evitar misturas inadvertidas. Uma correta triagem na origem, para além da diminuição dos riscos para a saúde e ambiente, também origina uma diminuição de custos já que apenas os resíduos com necessidades especiais de tratamento serão encaminhados para centrais de tratamento adequado. E, ainda, permite a reciclagem direta de alguns dos resíduos que não necessitem de tratamento, nem acondicionamento prévio (DGS, 2014; Tavares, 2004).

O acondicionamento, quando feito corretamente, para além da redução de riscos para a saúde dos trabalhadores, dos doentes e dos utentes no geral, facilita as etapas de recolha para transporte interno até ao armazenamento, não prejudicando o normal funcionamento da unidade de saúde. Cada tipo de resíduo deve dispor, portanto, de contentores e sacos específicos, devidamente identificados (DGS, 2014; Tavares, 2004).

No Despacho n.º 242/96, de 5 de Julho, é definido que a triagem e o acondicionamento devem ser efetuados junto do local de produção e os resíduos devem ser acondicionados de forma a ser facilmente identificável a que grupo pertencem. Para tal, este despacho estipula um código de cores representado na Figura 2.3, de forma a que seja claro para todos os intervenientes no processo de gestão qual a categoria de RH com que estão a lidar (Tavares, 2004). Esse código de cores é estipulado como sendo:

• Grupos I e II: Resíduos destes dois grupos devem ser acondicionados em sacos pretos;

• Grupo III: Resíduos deste grupo, tanto nas unidades de saúde como em cuidados domiciliários, devem ser acondicionados em sacos brancos com indicativo de risco biológico;

• Grupo IV: Resíduos deste grupo deverão ser acondicionados em sacos vermelhos, excetuando os corto perfurantes que deverão ser acondicionados em contentores imperfuráveis;

(31)

13 Os sacos deverão ter sempre um tamanho que seja apropriado à produção de resíduos do local onde se encontram. De igual forma a recolha interna dos RH deve ser feita tendo em conta a quantidade de resíduos produzidos e a natureza dos mesmos. A OMS, recomenda que esta recolha seja feita 2 vezes por dia (Tavares et al., 2007; Tavares, 2004).

Para o armazenamento e transporte dos RH, é necessário que existam recipientes ou suportes, escolhidos em função das dimensões dos sacos e que devem sempre ter tampa e pedal. Para os contentores destinados aos RH dos grupos III e IV, o Despacho n.º 242/96, de 13 de Agosto, define regras mais restritas. Estes contentores devem, simultaneamente, servir para o transporte, ser facilmente manuseáveis, resistentes, estanques, mantendo-se hermeticamente fechados, laváveis e desinfetáveis, se forem de uso múltiplo (APA et al., 2011; Tavares et al., 2007).

O transporte interno pode ser dividido em uma ou duas etapas. A primeira etapa é que ocorre dentro da unidade de prestação de cuidados, entre as zonas de produção e o local de armazenamento. A segunda etapa, denominada transporte externo intra-serviços de saúde, ocorre nos casos de prestação de cuidados domiciliários em que há transporte dos resíduos para o hospital ou centro de saúde desde o local de produção, ou seja, da casa onde os cuidados estão a ser prestados (Tavares et al., 2007).

Aquando da recolha dos resíduos do seu local de produção, é necessário que já existam contentores vazios para haver uma imediata reposição em igual número dos contentores cheios recolhidos. Os profissionais encarregues da recolha dos resíduos, devem, no momento, selar devidamente os sacos dos resíduos, quer por atilhos plásticos, quer por selagem a quente, não sendo recomendado usar um nó feito com o próprio saco. O transporte dos contentores não deverá ser realizado recorrendo á gravidade, devido ao risco de derramamento dos resíduos que poderá ocorrer neste caso (Tavares et al., 2007; Tavares, 2004).

O transporte interno é então efetuado entre os serviços produtores e o local centralizado, dentro da unidade de saúde, de armazenamento. Os resíduos, apesar de estarem contentorizados e selados hermeticamente nos contentores devem seguir normas de controlo de infeção, ou seja, devem ser transportados por um circuito interno específico denominado “circuito de sujos”. Este circuito deve ser completamente distinto do “circuito de limpos” onde são transportados comida, roupa lavada, produtos esterilizados e matérias clínicas. Para garantir que tal distinção acontece existe um plano de circulação que deve ser elaborado tendo em conta critérios que minimizem o risco para os doentes, utentes, profissionais, visitantes e público em geral. Em unidades hospitalares podem existir elevadores dirigidos única e exclusivamente ao transporte dos resíduos e de roupa suja (Despacho nº 242/96, 1996; Tavares, 2004).

Não sendo sempre possível a existência de um circuito independente para os sujos, o transporte destes deve ser planificado de forma a não coincidir com outras atividades da unidade de saúde. O transporte aquando da circulação de doentes, da distribuição de comida e do horário de visitas deve ser evitado (Tavares, 2004).

Após efetuado o transporte interno, os resíduos devem ser armazenados em locais específicos da unidade de saúde, havendo um local para os resíduos dos grupos I e II, e outro local para os resíduos dos grupos III e IV, locais esses separados e devidamente identificados. O local de armazenamento deve ser projetado e dimensionado tendo em conta a periodicidade da recolha e/ou da sua eliminação devendo ter uma capacidade mínima de 3 dias de produção. No caso deste prazo ser excedido e até um máximo de 7 dias, o local de armazenamento dever estar munido de equipamento de refrigeração. Deve também ser garantido condições que garantam acesso e limpeza facilitados (Despacho nº 242/96, 1996).

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14

2.1.2.2. TRANSPORTE EXTERNO,TRATAMENTO E DESTINO FINAL

O transporte externo de RH corresponde ao encaminhamento dos mesmo desde o seu produtor até ao tratamento e/ou destino final. Para este transporte, é necessário existirem medidas de segurança de modo a garantir a preservação da integridade física do pessoal, da população e do meio ambiente. A utilização de viaturas adequadas, seguras e fechadas para minimizar os riscos do transporte e o contacto do pessoal com os contentores é uma medida a utilizar no transporte externo de RH (Tavares et al., 2007; Tavares, 2004).

Em Portugal, o transporte de resíduos é regulado pela Portaria n.º 335/97, de 16 de Maio, onde é definido que quando é feito o transporte, tanto o produtor como o detentor devem garantir que este seja feito, seguindo este diploma. O produtor, o detentor e o transportador dos resíduos, segundo este diploma, “respondem solidariamente pelos danos causados pelo transporte de resíduos (Portaria n.º 335/97, 1997). Segundo a Portaria n.º 335/97, de 16 de Maio, o transporte de resíduos apenas pode ser efetuado por:

• O produtor dos resíduos;

• O eliminador ou valorizador de resíduos, licenciado nos termos da legislação aplicável; • Entidades responsáveis pela gestão de RH perigosos (licenciadas pela DGS)

• Entidades responsáveis pela gestão de RSU;

• Empresas licenciadas para o transporte rodoviário de mercadorias por conta de outrem.

No caso em que os RH não sejam compatíveis com RSU, como os resíduos hospitalares de grupo III e grupo IV, nunca poderá haver transporte conjunto, ou utilizar viaturas de RSU para o seu transporte. Os veículos utilizados para transporte de RH perigosos não poderão ser compactadores, já que, dada a sua perigosidade, estes não podem ser comprimidos durante a fase de transporte (Tavares, 2004).

Todo o material utilizado para transporte de RH, viaturas inclusive, deve ser regularmente lavado e desinfetado e só deve ser destinado ao transporte deste tipo de resíduos. As viaturas utilizadas para transporte de RH perigosos, para além de apenas poderem ser utilizadas para esse fim, devem também possuir paredes internas facilmente higienizáveis e apresentarem uma caixa isotérmica (Tavares, 2004). Como o serviço prestado pelos operadores de RH prevê a sua colocação em contentores, a sua higienização está a cargo desses operadores (Tavares et al., 2007).

Na referida Portaria, encontram-se anexadas duas “Guias de Acompanhamento de Resíduos”. O modelo A diz respeito aos resíduos não perigosos, devendo ser preenchida em triplicado e um dos exemplares deve ficar na posse do produtor e os restantes dois exemplares deverão acompanhar o transportador sendo que um desses exemplares será entregue ao destinatário. O modelo B, referente ao transporte de RH perigosos, terá apenas uma guia preenchida. Em ambos os casos, o transportador deverá manter a guia em arquivo durante 5 anos (Portaria n.º 335/97, 1997).

Após o transporte, os resíduos serão tratados por processos específicos com o objetivo da sua descontaminação e inativação dos microrganismos para facilitar o seu manuseamento, reduzir a perigosidade nos casos em que existem resíduos com risco químico e reduzir o seu volume para haver uma menor necessidade de espaço para a sua eliminação (Tavares et al., 2007).

Segundo o Decreto-Lei n.º 239/97, de 9 de Setembro, entende-se como tratamento de resíduos “quaisquer processos manuais, mecânicos, físicos, químicos ou biológicos que alterem as características de resíduos, por forma a reduzir o seu volume ou perigosidade, bem como facilitar a sua movimentação, valorização ou eliminação” (Tavares, 2004).

(33)

15 Embora seja possível, em alguns serviços especializados, existir tratamento de resíduos perigosos na origem, tal não é comum. Durante muitos anos, bastantes unidades de saúdes operavam incineradores de modo a proceder à eliminação na origem. Atualmente, para além da existência de outras técnicas para tratamento que não a incineração, como a desinfeção, os incineradores instalados nas unidades de saúde foram todos encerrados como previsto no PERH (Tavares, 2004).

No que se refere aos RH dos grupos I e II, sendo equiparados a resíduos urbanos ou que não necessitando de tratamento específico podem ser equiparados a urbanos, as entidades responsáveis pelos sistemas dos resíduos sólidos urbanos da região onde estão sediadas as unidades de saúde devem, desde que a produção não exceda os 1 100 litros, incluir estes resíduos nas suas recolhas. Caso a produção exceda os 1 100 litros, devem existir contratos específicos com essas entidades. Portanto, em qualquer uma destas situações, o tratamento e destino final desses resíduos é definido pela respetiva área ou região e é assegurado pelos sistemas municipais de gestão de resíduos (Tavares, 2004).

O destino final mais comum dos resíduos indiferenciados é o aterro sanitário, podendo também existir aproveitamento energético através de incineração com produção de eletricidade. No caso dos resíduos dos grupos I e II que integram o sistema de gestão de RSU, existe a possibilidade da entidade gestora da região estar munida de tratamento mecânico ou tratamento mecânico biológico permitindo assim um reaproveitamento dos resíduos ou a sua reciclagem. Os resíduos do grupo III, de risco biológico, poderão, segundo a legislação em vigor, ser incinerados ou então ser sujeitos a pré-tratamento que permita a sua eliminação como resíduos equiparados a urbanos. Os resíduos de grupo IV, de risco específico são de incineração obrigatória (Despacho nº 242/96, 1996; Tavares, 2004).

2.1.3. TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO

O principal propósito do tratamento dos RH é a redução do seu potencial risco de contaminação, visando também a proteção do meio ambiente. Essa redução de risco passa, fundamentalmente, pela inativação de microrganismos patogénicos de forma a potenciar um manuseamento seguro dos resíduos (Chartier et al., 2014; Hossain et al., 2010).

Ao longo dos anos, várias tecnologias de tratamento de RH têm sido utilizadas com o objetivo de reduzir o risco que estes resíduos constituem tanto para o ambiente como para a saúde pública. Segundo a OMS, a seleção da tecnologia de tratamento aplicada aos RH deverá ter em conta critérios como: ser rentável, fácil implementação, e garantir o mínimo impacto ambiental. Não ignorando a minimização do risco para as instalações onde será implementada e também a minimização do impacto na saúde humana. Essa escolha terá de ter em consideração alguns fatores, que dependendo do local irão definir a tecnologia escolhida. Fatores como as características dos resíduos, capacidades e necessidades tecnológicas, fatores ambientais e de segurança, e os custos terão de ser tidos em consideração (Chartier et al., 2014; Hossain et al., 2010).

Os RH perigosos, na sua maioria, são potencialmente infeciosos, por isso, os processos de tratamento utilizados têm como principal função a desinfeção destes resíduos. Um dos grandes desafios da esterilização dos RH é a eliminação de 100% da vida microbiológica o que é praticamente impossível, por isso, utiliza-se um parâmetro chamado “6 log10” que representa uma probabilidade de 1 em 1 milhão

de sobrevivência dos microrganismos altamente resistentes (Chartier et al., 2014).

A State and Territorial Association on Alternate Treatment Technologies (STAATT) definiu um sistema de classificação, em termos de desinfeção e esterilização, específico para os RH. Os diferentes níveis de inativação microbiológica encontram-se na Tabela 2.6.

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Avaliação do Potencial de Utilização de Resíduos Hospitalares de Grupo III Para Produção de CDR

16

Tabela 2.6 - Níveis de classificação de inativação microbiológica da STAATT(Chartier et al., 2014; DGS, 2016b)

Nível I Inativação de bactérias vegetativas, fungos e vírus lipofílicos numa redução de 6 log10 ou superior

Nível II Inativação de bactérias vegetativas, fungos, vírus hidrofílicos/lipofílicos, parasitas e micobactérias

numa redução de 6 log10 ou superior

Nível III

Inativação de bactérias vegetativas, fungos, vírus hidrofílicos/lipofílicos, parasitas e micobactérias numa redução de 6 log10 ou superior e inativação de esporos de Bacillus stearothermophilus e de

esporos de Bacillus subtilis, numa redução de 4 log10 ou superior

Nível IV Inativação de bactérias vegetativas, fungos, vírus hidrofílicos/lipofílicos, parasitas, micobactérias

e de esporos de Geobacillus stearothermophilus numa redução de 6 log10 ou superior

Este sistema de classificação foi criado com o objetivo de avaliar o desempenho dos diferentes processos utilizados no tratamento dos RH. Em Portugal, segundo a Direção Geral da Saúde (DGS), os processos de tratamento alternativos à incineração devem no mínimo garantir o nível III recomendado pela STAATT (Chartier et al., 2014; DGS, 2016b).

2.1.4. TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO EM PORTUGAL

Em Portugal, a gestão de RH de grupo I e grupo II é feita em conjunto com a de RSU, sendo que apenas é necessário tratamento específico para os RH de grupo III e grupo IV (APA et al., 2011).

Para os resíduos de grupo IV o recurso à incineração é obrigatório enquanto que para os de grupo III embora a incineração seja uma possibilidade, existem tratamentos alternativos, tais como autoclavagem, micro-ondas e desinfeção química, para proceder à sua desinfeção e posterior deposição em aterro para resíduos não perigosos (APA et al., 2011).

Os processos de desinfeção utilizados para resíduos do grupo III podem ser divididos em processos físicos que incluem a autoclavagem e o tratamento por micro-ondas, e processos químicos que correspondem à desinfeção química/por biocida (DGS, 2016b).

Relativamente ao tratamento dos RH por desinfeção química recorrendo a germicida, existe em Portugal uma entidade licenciada para o efeito, a Cannon Hygiene Portugal, Lda. que possui 6 centros de serviço distribuídos por Portugal em Portimão, Setúbal, Lisboa, Leiria, Castelo Branco e Porto. Este processo de tratamento é viável para os pequenos produtores de RH. O germicida é colocado no contentor ainda no local de produção sendo posteriormente os contentores encaminhados para as unidades da entidade gestora onde são armazenados, reembalados e posteriormente depositados em aterro de resíduos não perigosos (DGS, 2014).

No que concerne à autoclavagem, existem duas empresas em Portugal licenciadas ao abrigo da Portaria nº 174/97, a Ambimed – Gestão Ambiental, Lda. que dispõe, para o efeito, de quatro unidades de tratamento em Aljezur, Beja, Barreiro e Braga, e o SUCH – Serviço de Utilização Comum dos Hospitais que possui uma unidade de autoclavagem em operação no CIVTRHI localizado no Eco Parque do Relvão na Chamusca.

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17 O tratamento dos RH por micro-ondas é realizado na única unidade existente em Portugal e que fica situada no Eco Parque do Relvão, gerida pelo SUCH.

2.1.4.1. AUTOCLAVAGEM

Desde há mais de um século que a autoclavagem tem sido usada na esterilização de instrumentos médicos, sendo que ao longo das últimas décadas tem sido adaptada e implementada no tratamento de resíduos infeciosos. Atualmente, devido ao facto de ser uma tecnologia conhecida, e por ser capaz de atingir uma inativação biológica de nível IV, a autoclavagem é a tecnologia alternativa à incineração mais utilizada para tratar resíduos hospitalares (Chartier et al., 2014; Ghasemi & Yusuff, 2016; Oliveira, 2012).

Uma das vantagens da autoclavagem para tratamento de RH é o facto de ter a possibilidade de tratar um grande espectro de resíduos, sendo até tecnicamente possível, dando tempo e temperatura adequada, efetuar o tratamento de pequenas quantidades de tecidos humanos, mas que devido a questões éticas, culturais, legais ou religiosas não é utilizada (Chartier et al., 2014).

Um autoclave consiste num compartimento metálico, construído para aguentar altas pressões, selado e ligado a um sistema de tubagens e válvulas que injetam, e retiram, vapor no interior da câmara metálica. Os resíduos sujeitos a tratamento são colocados no interior da câmara, onde é injetado vapor a sobrepressão (3 a 3,5 bar), e onde permanecem entre 20 e 30 minutos podendo ser atingidas temperaturas até 135ºC. Este processo tem como objetivo a destruição dos agentes patogénicos ou a sua inativação a um nível que já não constituam risco. Durante o tratamento o interior da câmara onde se encontram os resíduos é sujeita a ciclos de compressão e descompressão de forma a garantir que o vapor entra em contacto com todas as superfícies (APA et al., 2011; Chartier et al., 2014).

Sendo o ar um isolante eficaz, parte do processo de autoclavagem passa pela sua remoção do interior da câmara, passo essencial para garantir a eficaz penetração do calor nos resíduos. Ao contrário da autoclavagem utilizada para esterilização de instrumentos, no tratamento de resíduos, o ar removido no início do processo necessita de tratamento de modo a evitar que agentes patogénicos em aerossol sejam libertados. Este tratamento é usualmente feito forçando a passagem do ar por vapor ou então utilizando um filtro de partículas de alta eficiência (HEPA) (Chartier et al., 2014).

Consequentemente, os autoclaves podem ser classificados em três categorias de acordo com a forma como é realizada a remoção do ar de dentro da câmara:

• Deslocamento gravítico • Pré-vácuo

• Pulsação de pressão

Nos autoclaves de deslocamento gravítico, como o vapor de água é menos denso que o ar, a remoção deste é feita por injeção de vapor na câmara que força a sua expulsão. No caso dos autoclaves de pré-vácuo, o ar é removido da câmara antes da introdução do vapor realizando um vácuo controlado, tornando o processo de desinfeção mais célere devido a uma maior eficiência na remoção de ar e na desinfeção dos resíduos. Este método de remoção de ar previamente à injeção de vapor embora seja mais eficiente apresenta maiores custos (Chartier et al., 2014; Oliveira, 2012). O exemplo de um autoclave de pré-vácuo encontra-se representado na Figura 2.4.

Referências

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