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VIOLÊNCIA INFANTIL: CONCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS QUE EXECUTAM AÇÕES DE CUIDADOS VOLTADOS ÀS CRIANÇAS VÍTIMAS DE MAUS-TRATOS NO MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA SERRA-MT

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CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE TANGARÁ DA SERRA

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

EDILAINE MONTEIRO DE OLIVEIRA

VIOLÊNCIA INFANTIL: CONCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS QUE

EXECUTAM AÇÕES DE CUIDADOS VOLTADOS ÀS CRIANÇAS

VÍTIMAS DE MAUS-TRATOS NO MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA

SERRA-MT

(2)

ESTADO DE MATO GROSSO

SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE TANGARÁ DA SERRA

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

EDILAINE MONTEIRO DE OLIVEIRA

VIOLÊNCIA INFANTIL: CONCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS QUE

EXECUTAM AÇÕES DE CUIDADOS VOLTADOS ÀS CRIANÇAS

VÍTIMAS DE MAUS-TRATOS NO MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA

SERRA-MT

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Enfermagem da Universidade do estado de Mato Grosso – Campus de Tangará da Serra, como parte dos requisitos para obtenção do grau do Título de Bacharel em Enfermagem, sob orientação da Professora Me. Ana Lúcia Andruchak.

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EDILAINE MONTEIRO DE OLIVEIRA

VIOLÊNCIA INFANTIL: CONCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS QUE EXECUTAM AÇÕES DE CUIDADOS VOLTADOS ÀS CRIANÇAS VÍTIMAS DE MAUS-TRATOS

NO MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA SERRA – MT

Monografia apresentada à Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT, para obtenção do título de Bacharelado em Enfermagem, sob a orientação da Professora Ms. Ana

Lúcia Andruchak.

BANCA EXAMINADORA DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

______________________________________________________________________ Professora Me. Ana Lúcia Andruchak. - Orientadora

Universidade do Estado de Mato Grosso - Campus de Tangará da Serra Departamento de Letras

______________________________________________________________________ Enfermeira Fernanda Luiza de Mattos Silvestre – Enfermeira

______________________________________________________________________ Professora Ms. Marines da Rosa- Examinadora

Universidade do Estado de Mato Grosso – Campus de Tangará da Serra Departamento de Letras

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, criador da vida, por permitir meu crescimento enquanto ser humano preocupado com os outros seres, e por guiar meus passos no decorrer de toda essa caminhada.

Agradeço aos meus pais, pelo exemplo de vida que representam, pela confiança depositada em mim, e pelo apoio incondicional em todos os momentos; e aos meus irmãos pela torcida e incentivo.

Agradeço minha orientadora Professora Mestre Ana Lúcia Andruchak por acreditar na realização desse trabalho e direcionar meus passos em todas as etapas da elaboração. Sem esta ajuda seria impossível concretizar o estudo.

Agradeço à professora Marines Rosa e à professora Fernanda Luiza de Mattos Silvestre, por aceitarem tão prontamente compor a banca avaliadora desse trabalho.

Agradeço às instituições e aos profissionais entrevistados pela prestativa contribuição. Agradeço a todos os colegas da turma, pois com eles compartilhei os mais intensos momentos do curso e aprendi a lutar por ideais comuns.

(6)

RESUMO

O presente estudo busca evidenciar os cuidados realizados por instituições que atendem crianças vítimas e sob risco de violência em Tangará da Serra, tendo o intuito de identificar os profissionais que executam esses cuidados e a efetividade dos mesmos no desenvolvimento físico, psicológico e social das crianças, pois os maus-tratos contra crianças constituem um grave problema em nossa sociedade, incluindo-se desde maus-tratos físicos, emocionais/negligência, até mesmo abuso sexual e outras formas mais graves de violência, representando além de um problema social inquestionável, também um grave problema de saúde pública, pois afeta a saúde individual e coletiva exigindo a formulação de políticas específicas e organização de serviços peculiares ao setor, essenciais para sua prevenção e tratamento. A base teórica desse estudo abrange o conceito de violência e as formas que esta pode ser apresentada, o olhar do Estatuto da Criança e do Adolescente sobre a violência e os cuidados à criança, e a relação entre violência e saúde pública. A metodologia é de cunho qualitativo, desenvolvendo-se através de um estudo de campo com realização de entrevistas semi estruturadas com os funcionários das instituições que compõe a rede de atenção às crianças e adolescentes vítimas e sob risco de maus-tratos, utilizando como técnica a gravação em áudio, para coletar dados mais específicos sobre os programas desenvolvidos e os cuidados ofertados por cada instituição, a fim de compreender todo o funcionamento e as responsabilidades de cada uma frente aos casos de violência contra crianças e adolescentes, analisando a freqüência e continuidade dos mesmos e a real efetividade desses cuidados em todas as etapas do desenvolvimento psicossocial dos indivíduos beneficiados. Portanto, ao buscar compreender como os casos de crianças e adolescentes vítimas de maus tratos e violências em geral são tratados no município, esta pesquisa evidencia como esse trabalho é executado pelas instituições e as dificuldades enfrentadas por elas nos cuidados efetuados diariamente, revelando que apesar de existir programas voltados à prevenção e recuperação desses abalos, ainda enfrentam problemas relacionados a recursos humanos e financeiros, principalmente pelo fato da estrutura de atendimento do município não crescer com a mesma velocidade que cresce a demanda por atendimento.

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ABSTRACT

(8)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 09

CAPÍTULO I ... 11

1. A VIOLÊNCIA NO CONTEXTO SOCIAL E FAMILIAR ... 11

1.1. O CONCEITO DE VIOLÊNCIA ... 11

1.2. VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR ... 12

1.3. O OLHAR DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE SOBRE A VIOLÊNCIA E OS CUIDADOS ÀS CRIANÇAS ... 15

1.4. A VIOLÊNCIA E A SAÚDE PÚBLICA ... 17

CAPÍTULO II ... 19

2. METODOLOGIA ... 19

CAPÍTULO III ... 22

3. ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ... 22

3.1. CONCEPÇÕES DA PSICÓLOGA DO ABRIGO "Casa da Criança” ... 22

3.1.1 Concepções sobre maus-tratos ... 22

3.1.2 A rotina de atendimentos ... 23

3.1.3 Avaliação do desenvolvimento psicossocial ... 25

3.1.4 Traumas sofridos ... 26

3.1.5 Superando os traumas... 29

3.1.6 Crianças com traços de rebeldia ... 30

3.2. CONCEPÇÕES DA COORDENADORA DO ABRIGO "Casa da Criança” .... 32

3.2.1 Sobre a concepção de maus-tratos ... 32

3.2.2 Permanência das crianças no abrigo ... 32

3.2.3 Acompanhamento da vida escolar ... 33

3.2.4 Quanto aos atendimentos específicos com profissionais de saúde ... 34

3.2.5 Quanto às visitas ... 35

3.2.6 Quanto aos maus-tratos sofridos ... 35

3.2.7 Elo de confiança entre crianças e funcionários ... 37

3.2.8 Educando as crianças ... ...37

3.3. CONCEPÇÕES DA CONSELHEIRA TUTELAR ... 38

3.3.1 Sobre a rotina e funcionamento do Conselho Tutelar ... 38

(9)

3.3.3 Vínculo com casas de apoio as crianças ... 43

3.3.4 Quanto às situações de maus-tratos enfrentados ... 48

3.3.5 Quanto à reinserção familiar e social ... 49

3.3.6 Crianças envolvidas em meios a drogas, bebidas e prostituição ... 51

3.4. CONCEPÇÕES DA ASSISTENTE SOCIAL DO CREAS ... 53

3.4.1 Sobre a instituição ... 53

3.4.2 Componentes da equipe técnica do CREAS... 55

3.4.3 Procedimentos tomados quando a violência ou maus-tratos ocorre com a criança ou adolescente ... 57

3.4.4 Serviços desenvolvidos com crianças vítimas de maus-tratos e violência familiar ... 58

3.5. CONCEPÇÕES DA ASSISTENTE SOCIAL DO CRAS ... 60

3.5.1 Sobre o CRAS e os objetivos da instituição ... 60

3.5.2 Equipe do CRAS ... 62

3.5.3 Identificação de pessoas que sofrem abalos na família ... 64

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 66

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 70

ANEXO I ... 72

ANEXO II ... 74

ANEXO III ... 77

ANEXO IV ... 79

(10)

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa busca evidenciar os cuidados realizados por instituições que atendem crianças sob risco e vítimas de violência no município de Tangará da Serra, tendo o intuito de identificar os profissionais que executam essas atividades e a efetividade desse trabalho no desenvolvimento físico, psicológico e social das vítimas.

O interesse pela pesquisa surgiu no decorrer do curso de Bacharelado em Enfermagem, durante a disciplina de Saúde da Criança e Adolescente, através de aulas práticas desenvolvidas em instituições de abrigamento. A curiosidade em saber mais profundamente os cuidados competentes e efetuados por cada instituição e a vontade de contribuir com as mesmas foram os fatores que subsidiaram esse estudo.

Para que o estudo fosse possível buscamos informações sobre os cuidados oferecidos às crianças vítimas de maus-tratos em Tangará da Serra, atendidas pela “Casa da Criança”, pelo Conselho Tutelar, e pelo CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), além de informações sobre os trabalhos realizados pelo CRAS (Centro de Referência de Assistência Social). Como sustentação ao estudo, realizamos um aprofundamento teórico sobre o que tem sido previsto sobre violência infantil nas leis de proteção à criança e leis em gerais. Portanto buscamos durante a pesquisa responder a seguinte questão: Como a sociedade identifica e trata a violência infantil em Tangará da Serra?

(11)

entre os órgãos, quais os procedimentos tomados quando da denúncia de maus-tratos contra crianças, principalmente em casos que exigem a medida extrema de abrigamento.

(12)

CAPÍTULO I

1 A VIOLÊNCIA NO CONTEXTO SOCIAL E FAMILIAR

1.1 O CONCEITO DE VIOLÊNCIA

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define violência como o uso intencional de força ou poder físico, como ameaça ou concretamente, contra si mesmo, outra pessoa, um grupo ou comunidade, causando ou possibilitando lesões, morte, danos psicológicos ou privações.

Em uma reflexão histórica e social da violência, nota-se que a mesma acompanha a humanidade desde os seus primórdios, podendo ser observada em registros de documentos da antiguidade como na narrativa bíblica de Caim e Abel (MINAYO, 2006a).

Segundo a autora, mesmo sendo o Brasil um país protegido pelo mito da cordialidade, a violência sempre esteve presente em todas as épocas históricas, por exemplo: na aculturação dos povos indígenas pelos jesuítas no momento da colonização, na escravidão dos negros, na ditadura política, bem como no comportamento machista que vela os abusos contra crianças e mulheres.

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A partir da abrangência e das conseqüências individuais e coletivas da violência, esta passa a ser compreendida como problema de saúde pública, além de problema social. Estão, passa a surgir incentivo para o desenvolvimento de políticas de prevenção da violência, como o Estatuto da Criança e do Adolescente, criado em 1990 pela lei 8.069/90 (BRASIL, 2006a), que objetiva oferecer uma proteção integral, física, psíquica e moral, as crianças e adolescentes, pois em qualquer uma das situações de violência, na maioria das vezes, estes representam os grupos de indivíduos mais vulneráveis e fragilizados política e juridicamente, na proteção, na promoção ou garantia de seus direitos de cidadania.

1.2 VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR

A violência intrafamiliar está presente desde a antiguidade, sendo compreendida como aquela que ocorre entre pessoas com laços familiares, dessa forma, não está relacionada apenas ao espaço físico onde ocorre, mas às relações em que é construída e efetuada. Quando ocorre a violência intrafamiliar, existe a quebra da função de ambiente seguro e saudável que a família deveria representar para seus membros. Ela deixa de ser um porto seguro para se transformar em um ambiente de risco a integridade física e psicológica (GABATZ, 2008, p. 21).

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Atualmente, a violência é reconhecida como um grave problema de saúde pública, pois é um problema que vem atingindo, indiretamente, todos os grupos sociais, caracterizando-se não só pela violência física, mas pela violência psicológica, de ordem econômica, social e sexual. Assim é fundamental que a assistência à criança vítima de maus-tratos bem como a sua família seja realizada por uma equipe multiprofissional preparada.

As formas em que a violência se apresenta, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2001a) são:

Violência Física: acontece quando uma pessoa tenta causar ou causa dano não acidental, através da força física ou de alguma arma que pode resultar ou não em lesões internas, externas ou ambas.

Violência Psicológica: ocorre quando uma pessoa causa ou tenta causar dano à identidade, à auto-estima ou ao desenvolvimento de outra pessoa;

Violência Econômica ou Financeira: caracteriza-se pelos atos destrutivos ou omissões em que uma pessoa afeta a saúde emocional e a sobrevivência de outras. A negligência encontra-se incluída nesse tipo de violência.

Violência Sexual: constitui-se de qualquer ação em que através de força física, intimidação psicológica ou coerção, uma pessoa obriga outra, contra a vontade desta, ao ato sexual ou a expõe em interações sexuais que possam gerar sua vitimização.

As formas de violência sexual são:

Abuso Sexual: É qualquer prática sexual exercida ou não contra a vontade da criança ou adolescente, provocando estímulos sexuais através do contato sexual ou corporal pelo toque ou do exibicionismo.

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são induzidas a manter relações sexuais com um adulto, que detém poder, em troca de algo de valor para a mesma.

Pedofilia: Caracteriza-se pela atração, desejo ou impulso sexual direcionado a crianças ou mais especificamente, jovens menores de 17 anos. Ocorre quando um indivíduo mantém relação sexual com uma criança de até 12 anos. Porém, um jovem de 16 anos que pratica esse ato com uma menina de 10 anos também é considerado pedófilo.

Assédio Sexual: É uma chantagem. Consiste sempre num ato de poder, sendo o assediador um superior hierárquico da vítima. Trata-se de uma insinuação ou proposta sexual verbal, subentendida, gestual ou física repetida e não desejada por uma das partes. Pode ser também uma chantagem: “se você não fizer o que eu quero, eu posso prejudicar ou perseguir

você”.

Estupro: Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. Nos casos em que a vítima tem menos de 14 anos a violência é presumida, independente do consentimento dela/dele.

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Na família podem se perceber alguns fatores predisponentes a formação de um ambiente de risco para a violência, como a idade baixa dos pais, a quebra da unidade familiar, presença de alcoolismo e/ou dependentes químicos, doenças mentais, crise conjugal, crises financeiras, e gestação indesejada.

Além disso, quando a criança vivencia a violência cotidianamente e passa a aceitá-la como algo normal, que faz parte da sua vida, um dia quando irá exercer o papel paterno ou materno tende a reproduzi-la. Dessa forma, a violência à criança perpassa as gerações, justificando-se como instrumento de educação, sendo culturalmente aceito pela sociedade como algo comum.

Segundo essa lógica, Oliveira (2006, p. 12) apud Gabatz (2008, p.31) nos diz que crianças que sofreram violência, se transformam em homens e mulheres que “poderão

perpetuar a violência, na medida em que percebem que através da violência física e outras formas, conseguirão „obediência‟, o respeito na Sociedade em que vivem, passando de geração a geração”, ocorrendo um círculo vicioso em que “as crianças recebem todos os

impactos de situações de desajustes, perdendo os seus vínculos afetivos e tornando-se adultos agressivos, potencializando cada vez mais situações agressivas” (KORN et al., 1998).

1.3 O OLHAR DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE SOBRE A VIÔLENCIA E OS CUIDADOS À CRIANÇA

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efeitos legais que criança é a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente, aquela entre doze e dezoito anos de idade.

O Estatuto da Criança e do Adolescente institui que é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência (BRASIL, 2006a).

Em seu Art. 5º, dispõe sobre a violência contra a criança e o adolescente, legitimada por inúmeras vezes pela sociedade, sendo considerada nesse artigo como crime.

Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais (BRASIL, ECA, 2006a).

Depois do Estatuto da Criança e do Adolescente proliferaram as „casas-abrigo‟ destinadas a acolher crianças desamparadas ou tuteladas pela justiça, porém, com o claro propósito de servir de abrigo temporário. Assim, o abrigo representa uma medida de proteção para as crianças e adolescentes, uma vez que estes não possam permanecer com sua família de origem ou de seus responsáveis. Sendo fundamental que a assistência prestada pelo abrigo às crianças vítimas de maus-tratos seja realizada por uma equipe de profissionais idoneamente preparados, auxiliando a criança para que a mesma possa enfrentar essa situação sem maiores prejuízos em seu processo de desenvolvimento biopsicossocial.

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oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos; oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e farmacêuticos; e manter arquivo de anotações onde constem todos os dados que possibilitem a identificação da criança e a individualização do atendimento.

O Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe que “é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante vexatório ou constrangedor” (BRASIL - ECA; 2006).

1.4 A VIOLÊNCIA E A SAÚDE PÚBLICA

A violência, além de ser uma questão social inquestionável é também uma importante questão de saúde, pois afeta a saúde individual e coletiva, exigindo a formulação de políticas específicas e organização de serviços peculiares ao setor, essenciais para sua prevenção e tratamento, de modo a promover a saúde (MINAYO, 1997, p520). Dessa forma, a idéia de saúde vinculada ao processo de construção de uma vida saudável está relacionada ao ambiente e ao estilo de vida de cada ser humano.

Segundo a Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Causas Externas, o processo de violência causa conseqüências para os indivíduos, famílias e comunidades, em curto e longo prazo, devido às lesões, traumas e agressões, que geram incapacidades físicas, psicológicas e emocionais. Causa ainda, conseqüências para o sistema de saúde, como o aumento dos gastos com emergência, assistência e reabilitação, geralmente, muito mais custosos que a maioria dos procedimentos convencionais.

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afetar também o indivíduo responsável pelo ato de violência, pois além de implicar custos com encarceramento, esta pessoa deixa de contribuir com o desenvolvimento de sua família e de seu país; por produzir uma alta carga de morbidade e mortalidade, que atinge especialmente as crianças, as mulheres e os jovens; por requerer grandes recursos financeiros para a atenção médica dos afetados; e por afetar de maneira negativa o desenvolvimento social e econômico das comunidades e países (SCHRAIBER et al, 2006).

Além desses fatores, a violência se torna um tema da saúde pelo impacto que provoca na qualidade de vida das pessoas; pelas lesões físicas, psíquicas, espirituais e morais que acarreta; e pela exigência de atenção de cuidados dos serviços médicos e hospitalares; além de fazer parte das preocupações quando se trabalha o conceito ampliado de saúde. Nessa lógica, diz Agudelo (1990), que “a violência afeta a saúde porque representa um risco maior para a realização do processo vital humano, pois ameaça a vida, altera a saúde, produz enfermidades e provoca a morte como realidade ou possibilidade próxima”.

Para Minayo et al (1994, p. 265), muita coisa pode ser feita pelos profissionais de saúde, como atender de forma minuciosa a criança e sua família, observando a relação existente, orientando educativamente e encaminhando casos suspeitos de maus-tratos, exploração econômica, prostituição infantil, entre outros.

(20)

CAPÍTULO II

2 METODOLOGIA

Desenvolveu-se um estudo de campo, com pesquisa do tipo qualitativa, caracterizada pela investigação que utiliza dados em forma de palavras, discurso, ou outras maneiras não numéricas de expressão, que segundo Oliveira (2002, p. 117), possui a facilidade de poder descrever a complexidade de uma determinada hipótese ou problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou formação de opiniões de determinado grupo e permitir, em maior grau de profundidade, a interpretação das particularidades dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos.

A pesquisa qualitativa efetuou-se por meio de entrevistas como instrumento de coleta de dados. As entrevistas foram sustentadas por um roteiro de questões semi-estruturadas, que para Queiroz (1988) apud Duarte (2000) trata-se de uma técnica de coleta de dados que supõe uma conversação continuada entre informante e pesquisador e que deve ser dirigida por este de acordo com seus objetivos.

A princípio, as entrevistas seriam realizadas apenas no Abrigo Casa da Criança, e no Conselho Tutelar, porém, foi sentido a necessidade de realizá-las também no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), pois essas instituições também compõe a rede de atenção às crianças e adolescentes em Tangará da Serra.

(21)

mesmo fazendo parte de uma rede assistencial, constituem programas e desenvolvem atividades diferenciadas que precisam ser compreendidas.

Como técnica de entrevista utilizou-se a gravação em áudio, visto que eram perguntas com respostas extensas, entendendo que seriam melhor captadas as respostas, bem como facilitaria a realização de um diálogo não havendo preocupação com anotações e possível perca de informações.

Para o desenvolvimento dessas entrevistas, a princípio, realizou-se uma primeira etapa denominada „contato prévio‟ com os responsáveis de cada instituição. Cumprindo a parte formal da pesquisa, foram enviados ofícios para respaldo na elaboração das entrevistas. Este primeiro contato foi de extrema importância para o bom andamento e a obtenção de excelente aceitação dos sujeitos a colaborarem com a pesquisa, pois a partir dos mesmos foi possível fazer o reconhecimento das atividades desenvolvidas por cada instituição da rede de proteção e cuidados às crianças e adolescentes, facilitando o entendimento e a elaboração dos questionários que compõe cada entrevista.

Nesta etapa também se realizou a escolha dos funcionários a serem entrevistados, usando como requisito o vínculo e o contato existente entre cada representante das instituições com os indivíduos beneficiados. Dessa forma, os entrevistados são funcionários que lidam diretamente e cotidianamente com as crianças e adolescentes vítimas e sob o risco de violência e maus-tratos em gerais.

(22)

efetividade desses cuidados em todas as etapas do desenvolvimento psicossocial das crianças e adolescentes beneficiados.

As entrevistas efetuadas no abrigo “Casa da Criança” foram direcionadas à coordenadora e à psicóloga, buscando compreender todo o funcionamento do abrigo, as parcerias, a rotina diária, as atividades desenvolvidas pelas crianças, a rotina e freqüência do acompanhamento psicológico e social das crianças.

No Conselho Tutelar foi desenvolvida uma entrevista direcionada a uma conselheira, para entender o trabalho no município de Tangará da Serra, aprofundando a compreensão do que é de competência dessa instituição, o olhar estava voltado para como reconhecem os casos de violência intra familiar e maus-tratos, as formas de intervenção realizadas e os respectivos encaminhamentos.

No Centro de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS), a entrevista foi direcionada à assistente social, buscando entender os objetivos da instituição junto à rede de proteção à criança e ao adolescente, as atividades e os programas abrangentes, os acompanhamentos e a relação com o Conselho Tutelar e com o poder judiciário.

No Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), a entrevista também foi aplicada a assistente social, procurando compreender as atividades preventivas realizadas, os programas executados pela instituição, as parcerias e os encaminhamentos que desenvolvem.

Os excelentes resultados obtidos com a realização das entrevistas só foram possíveis devido à colaboração dos responsáveis das instituições e dos funcionários entrevistados, que foram atenciosos e receberam a proposta de forma prestativa.

(23)

CAPÍTULO III

3 ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

Neste capítulo estaremos discutindo os dados coletados durante a realização das entrevistas. Os dados que se apresentam foram separados por sujeitos entrevistados, bem como por categorias de análise criadas a partir das questões utilizadas como estrutura guia para as entrevistas.

O termo concepção, segundo Aurélio (2000) é o ato ou efeito de conceber, gerar ou de formar idéias, dessa forma, esse termo é utilizado nesse capítulo, representando as idéias formadas por cada indivíduo entrevistado a partir do roteiro de questões que norteia cada entrevista.

3.1 CONCEPÇÕES DA PSICÓLOGA DO ABRIGO “Casa da Criança”

3.1.1 Concepções sobre maus-tratos

Quando perguntado sobre maus tratos na infância nos é apresentado uma concepção geral de violência infantil como podemos ver na fala a seguir:

“maus-tratos é toda e qualquer abuso direcionado à pessoa humana, mas falando de

criança, tratam-se dos maus-tratos emocionais e maus-tratos de cunho físico, como agressões, xingamentos, abuso sexual, violência moral, incluindo humilhações que as crianças passam. Na verdade, tudo que é caracterizado para um adulto também é caracterizado para uma criança. Então, maus-tratos como violência social, moral,

(24)

A concepção acima apresentada se assemelha ao que preconiza a OMS quando detalha a violência como “uso intencional de força ou poder físico, como ameaça ou concretamente, contra si mesmo, outra pessoa, um grupo ou comunidade, causando ou possibilitando lesões, morte, danos psicológicos, ou privações”. Dessa forma, a psicóloga nos transmite uma

informação técnica e geral a respeito do tema.

Podemos perceber que existe uma compreensão aprofundada sobre esse conceito por parte dessa profissional que trabalha diretamente com crianças vítimas de violência, permitindo-nos perceber que ela está atenta aos processos de violência a infância, preconizados pela legislação.

3.1.2 A rotina de atendimentos

Quando questionada sobre os atendimentos realizados por ela às crianças, nos fornece informações sobre quais são as crianças que recebem atendimento psicológico, como podemos observar:

“Nem todas as crianças tem essa necessidade (...), Depois de um determinado tempo, já é possível perceber quem tem demanda realmente emocional severa ou não. Então as crianças que tem uma demanda emocional mais severa são as que recebem atendimento psicológico. Porém, esporadicamente, existem situações em que as crianças são trabalhadas em grupo, e então todas acabam recebendo

atendimento”.

(25)

curto período que esse atendimento é disponibilizado, pois segundo a psicóloga esse atendimento ocorre duas vezes na semana, não sendo diariamente, como podemos também comprovar na fala a seguir:

“Porém, mesmo que atendesse a semana inteira integralmente, ou que houvesse mais

profissionais, talvez ainda não fosse suficiente”.

Posso perceber com essa fala que a psicóloga está preocupada com os atendimentos ofertados, destacando que o trabalho realizado não supre completamente a demanda da instituição quanto ao atendimento psicológico, e esse fato é extremamente relevante no que diz respeito à recuperação psicossocial dessas crianças vítimas de violência intrafamiliar, pois precisam ter um atendimento integral de qualidade, onde suas necessidades não sejam apenas percebidas, mas supridas através das intervenções realizadas pelos funcionários capacitados, como psicólogo e pedagoga. Acreditamos que devido a demanda apresentada, se faz necessário mais profissionais para assistir as necessidades psicológicas das crianças vítimas de violência em Tangará da Serra.

Na seqüência, a psicóloga ressalta a importância de não rotular as crianças que vivem no abrigo, como podemos observar a seguir:

“E a questão não é o rótulo, não é a gente vitimizar, estigmatizar as crianças do abrigo. Então não são todas que precisam de terapia, alguns precisam só de um acompanhamento, de uma orientação, e na medida em se sente essa demanda pela criança, a psicóloga em conjunto com a pedagoga, que é a coordenadora, determinam se uma determinada criança deve ser atendida, e tudo na perspectiva da psicoterapia breve. Nada de psicanálise, nada de muito demorado, até por que não se

sabe o tempo de estadia das crianças no abrigo”.

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abrigo interfira em suas atividades em comunidade, podendo levar uma vida o mais próximo do normal possível.

Quando questionada se as crianças com problemas escolares recebem atendimentos psicológicos no abrigo, ela demonstra que depende da demanda, mas que freqüentemente, estas recebem os mesmos encaminhamentos que as outras crianças que não vivem no abrigo, como podemos perceber a seguir:

“Se for realmente um caso de problema de aprendizagem, alguma questão da vida

escolar, é comum para qualquer outra criança da cidade que estudam na rede pública de ensino, então o encaminhamento é feito diretamente para a SEMEC. No abrigo, é mais para prestar uma continência nas questões afetivas das crianças”.

Essa fala destaca uma preocupação essencialmente com os aspectos emocionais das crianças, deixando para a área da educação resolver os possíveis problemas evidenciados com o processo de aprendizagem. Acreditamos que essa separação ocorre devido a demanda de crianças atendidas, como também esse motivo é evidenciado pela Psicóloga.

3.1.3 Avaliação do desenvolvimento psicossocial

Quando perguntado a respeito da avaliação psicossocial das crianças vítimas de violência e maus-tratos, a psicóloga volta ao conceito de não estigmatização das crianças, como podemos observar na fala que segue:

“Na verdade elas não são avaliadas, mas é claro que percebe-se quem se desenvolve

mais ou menos, mas até por conta dessa “não estigmatização”, “não rotulação” de

uma criança, não tem como avaliá-las. Mas individualmente sabe-se como as mesmas se comportam, tanto a psicóloga como a coordenadora, quanto a diretora,

quanto às funcionárias, mas a batalha de todas no geral, é de não colocar “fulano tem

tal problema”, “fulano veio de uma situação familiar degradante”, mesmo

(27)

Como podemos notar, a psicóloga enfatiza que as crianças não são avaliadas no sentido literal da palavra, como avaliação com nota, porém, percebemos que todos os funcionários compreendem o nível de desenvolvimento de cada criança. De certa forma, o que realmente se espera é que cada criança seja percebida com relação à como se desenvolvem e como aceitam cada situação, para que possam ser ajudadas caso algo transcorra diferente do que é considerado normal no desenvolvimento em geral e nos processos de aprendizagem.

Na seqüência a psicóloga nos responde sobre os motivos que levam as crianças ao abrigo, e como estas chegam como podemos observar:

“Os motivos são a negligencia dos pais,ou responsáveis, maus-tratos, abusos, enfim, crianças com risco pessoal e social, e todo tipo de má sorte que se possa imaginar. E elas chegam no abrigo por que geralmente há uma denuncia no conselho tutelar, que realiza averiguações, e a partir das mesmas o Conselho tem o direito de retirar essas crianças de onde elas estiverem e levá-las para o abrigo, mediante o apoio e autorização judicial”.

Na fala acima está exposto o processo pelo qual as crianças que chegam ao abrigo sendo resgatadas de seus meios sociais desestruturados e evidenciadas através de denúncias. Assim, as crianças são levadas pelos Conselheiros Tutelares a partir de autorização judicial, e a partir daí, passam a receber os cuidados ofertados pelo abrigo.

3.1.4 Traumas sofridos

Quando perguntado se as crianças demonstram ficar traumatizadas devido à violência e aos maus-tratos sofridos, nota-se que a psicóloga coloca esse acontecimento como algo comum, devido aos desajustes familiares ocorridos como podemos observar na fala que segue:

“Algum tipo de trauma causa, mesmo nós adultos não esquecemos determinadas

(28)

compreender uma situação. Por mais que existam adultos que expliquem para eles o que está se processando na vida deles ainda é tudo muito novo. Então, como não ter essa reação?! Pois isso é uma reação, uma negação de uma realidade dolorosa, mas,

algumas crianças se acostumam e se adaptam”.

Como podemos notar na fala da psicóloga, não apenas essas crianças sofrem determinados traumas, mas, todo ser humano que vive e sofre com os obstáculos da vida, e com as decepções que sofrem continuamente. Com as crianças não é muito diferente, pois mesmo sofrendo, elas freqüentemente superam essas dificuldades ou aprendem a conviver com elas. Claro que para a criança não é fácil permanecer longe da família, em particular dos não agressores, podemos entender que em alguns casos, onde a criança não recebia nenhum carinho, ela passa a sentir que realmente tem valor no abrigo.

Na fala seguinte, pode-se perceber que as crianças são extremamente carentes, e que isso é demonstrado diariamente por elas:

“A grande maioria delas apresentam carência de afeto, e isso é percebido principalmente quando chegam as visitas, e muitas das crianças pedem “tio me leva pra casa”, “me pega”, “eu quero passear com você”, até por que é uma expectativa

natural das crianças de serem aceitas, de serem amadas, e elas passaram por uma situação de rejeição. Então, como não lembrar dessa rejeição?! E alguns lidam bem, outros não, e os funcionários tentam manejar essas situações da melhor forma

possível”.

(29)

violência poderão ser produtores de violência. O que não for possível ser suprido durante essa fase da vida poderá custar caro a saúde e a segurança pública de toda uma sociedade.

Na fala que segue, podemos perceber que os funcionários do abrigo procuram não institucionalizar as crianças, no entanto elas acabam considerando o abrigo como seu lar, por permanecerem nessa instituição por tempo indeterminado, dias, meses, ou até anos, como se evidencia:

“O que não pode acontecer é a institucionalização. Tem crianças que já se sentem

institucionalizadas, por que o abrigo é casa deles no presente momento, e muitas vezes já ha algum tempo, ha alguns anos (...), pois o abrigo é o lar, é a casa dessas crianças, mas o dia em que saírem da Casa vão ter uma vida completamente natural,

não digo normal por que afinal o que é normalidade?”

(30)

3.1.5 Superando os traumas

Quando perguntado se as crianças demonstram superar os traumas sofridos em seus lares, a resposta da psicóloga é a seguinte:

“Os funcionários tem contato com as crianças apenas dentro da Casa, mas sim, as

crianças superam os traumas, por que elas desenvolvem atividades escolares normais, a grande maioria tem notas boas na escola. Alguns não, pois existem alguns estudos que dizem que certos distúrbios de linguagem e de aprendizagem tem componentes emocionais, então, no abrigo também tem isso, assim como em qualquer outra casa. Mas, não se tem uma estatística que comprove que isso ocorra mais no abrigo do que em outros lugares. E talvez, se tivesse, recairia na situação do

“rótulo”. Lógico que as crianças desenvolvem algum tipo de trauma, mas elas

também superam, tanto que se tem crianças campeãs em judô, que participam de exposições de tela. Então o trauma seria se essas crianças se recusassem de ter esse contato e esse convívio social, mas eles demonstram que superam, pois participam

de apresentações artísticas e do convívio social como um todo”.

Perguntado sobre a adaptação das crianças ao novo ambiente que representa o abrigo, a resposta é que isso é relativo, dependendo de cada criança tanto a adaptação quanto o período para que esta ocorra, como pode ser observado:

“É relativa, depende de criança pra criança, algumas demoram um tempo maior,

outras se adaptam com maios facilidade. As crianças menores tem uma capacidade de adaptação maior do que as crianças maiores, por que elas ainda não tem um grau de compreensão da realidade tão amplo, e elas também não tem noção de tempo, e as crianças maiores, a partir dos 8 ou 9 anos, já tem a compreensão de tempo, de grau de responsabilidade, eles já compreendem de uma forma mais concreta o que é o abandono, e as crianças pequenas não, elas se apegam, criam vínculo com alguma

“tia”, e pronto, fazem as amizades, e acabam que permanecem com mais facilidade

dentro da Casa”.

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“A grande maioria delas, desenvolvem esse elo de confiança por conta de uma identificação. Eles acabam se identificando mais com uma ou com outra “tia”, às

vezes por que se parecem com alguém, ou por que o jeito de tratá-los lembra alguma outra pessoa, ou por que é uma situação completamente diferente da que vivia. As vezes quem vem de uma situação completamente agressiva e abusiva, quando vem para o abrigo e encontram essa situação de respeito, de resguardo, de carinho, na medida que é possível dar carinho e atenção para todas as crianças, elas conseguem

se adaptar tranquilamente e desenvolvem esse elo de confiança sim”.

Assim, pode-se considerar o tratamento e a atenção que as crianças recebem dos funcionários como um fator relevante na recuperação de cada um, pois quando criam esse elo passam a confiar novamente nas pessoas, e se relacionar tanto com outras crianças como com adultos de forma efetiva. A idéia do abrigo é um momento de passagem para a reconstrução da vida dessas crianças e se os cuidados oferecidos as crianças tem despertado elos afetivos isso evidencia que o trabalho de superação da violência sofrida está tendo resultado.

Dessa mesma forma como as crianças se adaptam e criam vínculo com os funcionários, estes também criam vínculos com as crianças, e se apegam às mesmas, como pode ser observado no trecho a seguir:

“Eles são capacitados para ter uma visão técnica, mas é impossível enquanto ser

humano que tem algum tipo de sentimento, não criar um apego. Existem situações onde existe emoção, existe a dor da separação. (...) elas (funcionárias) também conseguem demonstrar o apego, o sentimento, o carinho, a atenção, por que raras são as crianças que ficam 1 mês no abrigo, elas geralmente ficam uma boa parcela da vida delas, e não tem como você não olhar para aquele rostinho e não ter algum

tipo de sentimento e de afeto positivo”.

3.1.6 Crianças com traços de rebeldia

Quando perguntado se as crianças demonstram traços de rebeldia, a psicóloga nos dá exemplos de como esse fato pode ser identificado, como podemos observar:

“Sim, (...) muitas crianças fazem birra, e na medida em que vai crescendo começa a se recusar a fazer determinadas coisas, e aí quando ela chega nessa fase quase na hora de sair do abrigo, que é a pré adolescência, eles tem movimentos de rebeldia também, rebeldia verbal, as vezes física, de agressão, as vezes até de agredir os

(32)

Percebe-se que os traços de rebeldia são demonstrados em todas as idades, mas se torna mais intenso quando antecede da criança ser transferida para o abrigo de adolescentes com mais de 13 anos de idade. Talvez isso aconteça pelo fato de ocorrer uma nova mudança na vida da criança que já esta acostumada com a rotina, com os funcionários, com as outras crianças, enfim, exige da criança uma nova adaptação, e isso gera esse estresse, movido pela desconfiança e pela incerteza do que vai acontecer.

Podemos observar no trecho que se segue, os métodos utilizados para intervir nesses casos, tanto pela psicóloga quanto pelos outros funcionários:

“Tudo é muito explicado, clarificado, a questão do respeito, do respeito à

individualidade, que não se pode bater em ninguém, que não se pode agredir ninguém verbalmente. (...) enfim, mas é claro que tem, e o manejo é esse, com transparência, calma, educação e muita conversa. Os limites são colocados no abrigo, os horários existem, tem os horários de ir para escola, afinal é uma casa, só é

uma casa muito grande, que acolhe muitas crianças”.

Segundo a entrevistada, todos os traços de rebeldia apresentados são contidos verbalmente, através do diálogo, pois esta é a forma mais efetiva para se obter resultados satisfatórios, para fazer com que a criança perceba que não deve agredir as outras pessoas, seja fisicamente ou verbalmente.

Nos casos de reintegração das crianças em seus respectivos lares, foi perguntado à psicóloga se existe algum programa destinado a esse fim, e a mesma nos informou quem é responsável por essas ações, como podemos notar no trecho a seguir:

“Isso é por conta da secretaria de assistência social. O CREAS que é um dos órgãos da prefeitura, e é um programa do governo federal, onde existem os psicólogos, e os assistentes sociais deste programa, que vão nessas casas, que fazem visitas, alguns pais que estão ou presos, ou em situações de recuperação em clínicas, eles descobrem onde estão essas pessoas, tentam re-encaminhar essas pessoas para o mercado de trabalho, também existe uma parceria com o fórum, onde o poder judiciário também faz uma investigação, e a partir daí, mas nesse caso a Casa da

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Segundo a psicóloga, então, esses programas de reintegração são realizados pelo CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), não incumbindo ao abrigo realizar esses acompanhamentos, pois este se destina apenas a abrigar, não tendo poder de decisão nenhum, e nem como montar esse tipo de programa. Então, essas ações são responsabilidades do governo municipal e federal.

3.2 CONCEPÇÕES DA COORDENADORA DO ABRIGO “Casa da Criança”

3.2.1 Sobre a concepção de maus-tratos

Quando perguntado sobre a sua concepção de maus-tratos, a coordenadora define o mesmo como algo que envolve todo o cuidado prestado pelos responsáveis de forma ineficiente, como podemos observar na seguinte fala:

“Maus-tratos não é simplesmente a violência física, como bater e espancar a criança, mas as vezes é também no sentido de palavras, em ser mal cuidada, em termos de banho, alimentação, pois alguns pais não se preocupam com a alimentação da criança, e isso também é maus-tratos. Muitas pessoas acham que maus-tratos é

apenas espancamento estupro, mas é muito além da violência física”.

3.2.2 Permanência das crianças no abrigo

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Quanto ao tempo médio que as crianças permanecem no abrigo, podemos observar na fala seguinte que varia muito:

“tem crianças que permanecem transitoriamente, algumas ficam apenas 1 dia,

porém, tem crianças que permanecem por anos no abrigo, principalmente por que muitas não podem ser reintegradas à família e não são adotadas principalmente por

conta da idade”.

3.2.3 Acompanhamento da vida escolar

Segundo a coordenadora do Abrigo, todas as crianças que estão em idade escolar estudam regularmente, as crianças menores, que ainda não estão em idade escolar permanecem na casa. Segundo a mesma, é necessário realizar um constante acompanhamento escolar das crianças, principalmente pelo fato de as mesmas serem discriminadas pelos colegas de sala, devido ao fato de serem moradoras do Abrigo, como podemos observar na seguinte fala:

“o fato de serem crianças moradoras de abrigo parece que algo já atrapalha (...), Inclusive, muitas vezes as outras crianças agem com pré-conceito contra as crianças que vivem no abrigo, zombando e tirando sarro das mesmas, e dessa forma contribuem para que estas se tornem agressivas (...) Assim, é realizado todo um acompanhamento, levando e buscando essas crianças na escola e atendendo aos

chamados dos professores”.

Dessa forma podemos observar que a presença da coordenadora do abrigo na escola é constante e fundamental, ocorrendo quase toda semana, para lutar pela igualdade das crianças e combater qualquer forma de pré-conceito, pois não é por que são crianças que vivem no abrigo que fazem coisas erradas ou merecem menos respeito.

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“As meninas são as mais interessadas nessas atividades. Os meninos não têm muito

interesse, pois dizem que são atividades femininas, e muitas vezes eles já vem com esse pensamento dos seus lares de origem, e ao chegarem na casa e verem que são mais as meninas que praticam essas atividades eles continuam com esse pensamento, e muitas vezes nem mesmo atividades como futebol não lhes desperta o

interesse. Apenas um menino pratica judô atualmente”.

Esse trecho demonstra bem que os meninos agem com certo pré-conceito com as atividades sócio-educativas desenvolvidas, e mesmo tendo a oportunidade de praticá-las, optam por não fazer por achar que são atividades femininas. Isso mostra bem que em alguns casos a cultura que trazem de seus lares de origem está intrínseca em seus pensamentos e opiniões.

Acredito que poderiam ser desenvolvidas atividades dentro do abrigo, para interagir meninas e meninos, de forma que aos poucos eles deixem essa visão separatista e percebam que todos podem desenvolver as atividades que lhes traz bem estar e satisfação.

3.2.4 Quanto aos atendimentos específicos com profissionais de saúde

As crianças recebem atendimentos com a psicóloga do abrigo, em uma rotina estabelecida pela mesma, conforme a necessidade de cada uma. A psicóloga é a única profissional de saúde que possui vínculo empregatício com a instituição, porém, quando há necessidade de outros atendimentos de saúde para as crianças, como com pediatra, dentista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, nutricionista, entre outros, as mesmas são atendidas por profissionais que prestam serviços voluntários para o abrigo, como podemos observar na seguinte fala:

“quando há necessidade de atendimento, a coordenadora entra em contato com o profissional e consegue uma cortesia para o atendimento da criança. A nutricionista as vezes vai até o abrigo para contribuir com os funcionários no que diz respeito à

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3.2.5 Quanto às visitas

Os dias de visita para as famílias são nas terças e quintas feira das 8 às 17 horas, e a comunidade em geral não tem um dia específico, podendo realizar visitas em qualquer dia da semana e em qualquer horário. Geralmente a comunidade realiza as visitas em sua maioria nas épocas festivas, como dia das crianças, natal e páscoa.

Os familiares também costumam visitar as crianças, como pode ser observado na seguinte fala:

“Os familiares são vários, como mães, pais, avós, tios, primos, geralmente, os não agressores. Não se pode proibir a visita de familiares, a menos que exista uma ordem judicial para isto. Mas no geral, vários familiares comparecem no abrigo, e muitas vezes até mesmo os agressores, seja pai ou mãe, mantendo ainda um elo com a criança”.

3.2.6 Quanto aos maus-tratos sofridos

Segundo a coordenadora do abrigo, o motivo que mais leva as crianças ao abrigo é a violência, física, mental e sexual. Muitas vezes, estas crianças demonstram ficar traumatizadas pelos maus-tratos sofridos, deixando de brincar, não aceitando carinho, e agindo de forma agressiva. Esse fato pode ser confirmado na fala seguinte:

“Algumas digerem melhor essa situação. No entanto, outras demonstram sim ficar

traumatizadas, muitas vezes se recordam de toda a situação vivida, e sofrem com isso (...) Nem todos os funcionários sabem a história de todas as crianças, para evitar indagações, pois a criança já sofreu maus-tratos, e não há necessidade de ficar se

recordando esses fatos”.

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funcionários do abrigo, a fim de atender às crianças em sua integralidade, como podemos perceber no trecho a seguir:

“A partir do momento que a criança chega no abrigo, já começa a ser observado seu

comportamento, verificando se a mesma brinca com outras crianças ou não, e a psicóloga é informada desses comportamentos, e a mesma trabalha com essas crianças e avalia a necessidade de manutenção desses cuidados”.

Como podemos notar, as crianças são atendidas psicologicamente de acordo com os comportamentos demonstrados por cada uma, porém, devemos considerar que o grande número de crianças e a preocupação com as outras atividades do abrigo podem prejudicar nessa identificação, pois os funcionários, além de garantirem o bom funcionamento da instituição através da rotina de atividades que devem ser desenvolvidas, ainda precisam identificar esses fatores individualmente, para garantir que a criança seja assistida psicologicamente caso haja necessidade.

Segundo a coordenadora ainda, as crianças demonstram que superam os traumas sofridos em seus lares de forma gradativa, conforme o trecho a seguir:

“Muitas vezes a criança demora para se integrar com as outras crianças, demoram a

brincar, conversar, mas aos poucos vai se soltando, vai esquecendo e se integrando

com as demais crianças e com os funcionários”.

Conforme as crianças vão superando esses traumas, também vão adaptando-se ao novo ambiente que representa o abrigo. No trecho a seguir podemos perceber como ocorre esse processo de adaptação:

“Para as crianças a partir dos 7 anos é uma aventura, pois se deparam com um monte

de crianças, de brinquedos, e é um mundo novo. No começo eles choram, claro, mas não demora muito para se adaptarem, pois muitas vezes encontram coisas que não tinham em casa, e muitas vezes até, não tem mais pretensão de retornar aos lares de

(38)

3.2.7 Elo de confiança entre crianças e funcionários

Quando perguntada se as crianças conseguem manter um elo de confiança com os funcionários do abrigo, a resposta é positiva, como podemos verificar na fala que segue:

“cada criança tem a sua “mãe”, como eles mesmos tratam as funcionárias muitas

vezes. Cada criança se adapta melhor com um funcionário, e os funcionários

também se adaptam com as crianças”.

Da mesma forma, as funcionárias também se apegam as crianças, devido ao convívio diário e aos cuidados prestados, que gera carinho de ambas as partes, como podemos notar na seguinte fala:

“Sim, com certeza se apegam às crianças, e até quando a criança retorna para seu lar

de origem, muitas vezes o funcionário se sente muito triste, pois muitas vezes as crianças retornam, mas continuam sofrendo, apesar de isso não acontecer em todos

os casos”.

A partir dessa fala, também é possível perceber que o sistema de reintegração da criança ao lar de origem também possui falhas, principalmente no que diz respeito à conduta dos responsáveis perante a criança, que muitas vezes persiste em efetuar os maus-tratos, abalando cada vez mais o desenvolvimento sadio da criança.

3.2.8 Educando as crianças

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“as vezes eles transmitem o que trazem de casa, o que foi visto lá querem mostrar no

abrigo, como violência e brincadeiras agressivas. Tem crianças que quando chegaram brincavam apenas de atirar, (...) outras, com apenas 5 anos de idade

sabiam “cheirar” drogas, e ainda dizia para as outras crianças o que era”.

Dessa forma podemos perceber que a maioria das atitudes demonstradas pelas crianças quando chegam ao abrigo, são atitudes vivenciadas em seu lar, que estes reproduzem, mesmo no momento de brincadeiras. Então, os funcionários precisam identificar essas atitudes e intervir, de forma positiva, para que a criança entenda porquê não deve agir de determinada forma. A maneira utilizada pelas funcionárias para “educar” as crianças, pode ser identificada na fala a seguir:

“Na maioria das vezes conversa, explica que não pode fazer, que o que ele viu é

errado. Também pode ser aplicado um castigo, não levando para passear quando há um passeio, ou colocando no “cantinho” para que possa pensar se o que fez esta certo ou errado”.

3.3CONCEPÇÕES DA CONSELHEIRA TUTELAR

3.3.1 Sobre a rotina e funcionamento do Conselho Tutelar

Em entrevista realizada com uma conselheira tutelar podemos ter idéia de como estes agem quando recebem denúncia envolvendo situações de maus-tratos. Segundo a conselheira, as denúncias chegam de várias formas, tanto pessoalmente, como através do telefone do conselho tutelar, além das denúncias feitas pelas escolas, postos de saúde, assistência social e todas as secretarias e órgãos que compõe a rede.

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“sendo uma situação de denúncia, o primeiro procedimento é a visita de averiguação, (...), e dependendo da situação é aplicada advertência verbal ou advertência por escrito. Se for uma situação de espancamento, vai se tentar saber como a criança está e se isso realmente ocorreu, pois muitas vezes o pai bateu pra

tentar corrigir a criança, e muitas vezes também são denúncias falsas”.

“Se a pessoa não está, ou se não estão todas as pessoas envolvidas dependendo do

caso, não só espancamento, mas qualquer outro caso é deixada uma notificação de comparecimento, para que essa pessoa possa vir prestar esclarecimentos. Sempre se procura ouvir todas as partes envolvidas, principalmente a criança, e então,

dependendo do caso são tomados os procedimentos”.

Posteriormente são tomados os procedimentos mais específicos, de acordo com as situações de maus-tratos evidenciados em cada caso, como podemos constatar no trecho a seguir:

“se for constatado um espancamento, uma violência física, e não se tem condições

de retirar o agressor da casa, que é o ideal, é preciso se retirar a criança, que é a chamada medida protetiva (...) apenas em casos extremos, onde essas crianças podem ficar na casa de algum familiar que possam lhes dar a segurança necessária. Na falta de um familiar é que é tomada a medida extrema de abrigamento”.

Se houver confirmação das agressões, principalmente em casos de violência física ou sexual, que são os casos mais extremos, seja por flagrante, ou por confirmação da criança, outros procedimentos devem continuar a ser providenciados, neste caso são realizados encaminhamentos médicos e policiais, como exames que devem ser feitos, pois não compete ao conselho tutelar realizar a averiguação, julgar e condenar a pessoa, como podemos perceber a seguir:

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A partir dessa fala a conselheira no mostra os tramites legais que executam quando da confirmação de maus-tratos, seja de que natureza for, deixando claro que não compete ao conselho tutelar julgar e condenar o agressor, mas sim conduzir a investigação quanto à realização de violência contra a criança, pondo-a a salvo de qualquer forma de violência física e moral.

3.3.2 Parcerias do Conselho Tutelar com a justiça

Quando perguntado se além da estrutura humana, existem também outros profissionais, como advogados e promotores, que prestam serviços em parceria com o conselho tutelar, a conselheira nos responde que sim, mas que não atuam dentro do conselho, e sim em outros órgãos, mas que acabam prestando essa assistência. Em todos os momentos, a conselheira frisa os aspectos que são ou não competência do conselho tutelar, passando a impressão de preocupação em deixar bem claro todos os pontos que o órgão não tem obrigação de cumprir, que não lhe compete judicialmente, como podemos observar na fala a seguir:

“Existem sim, mas não no Conselho tutelar, por que não é de sua competência

solucionar as questões. Não tem a atribuição de dar a solução dentro do Conselho. A obrigação do conselho tutelar é tomar conhecimento do caso, se for preciso aconselhar, orientar, e dar os encaminhamentos (...). O conselho tutelar não é um órgão de punição, nem de resolução, mas sim um órgão de defesa e de

encaminhamento, trabalhando na defesa de direitos”.

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ou omissão dos direitos de crianças e adolescentes, como pode ser observado no trecho a seguir:

“A partir do ano de 1990, (..) através do estatuto da criança eles começam a ter os seus direitos garantidos em lei. Então o conselho tutelar foi um órgão criado para

representar a sociedade para zelar pelo cumprimento desses direitos”.

Como podemos observar, a Conselheira evidencia um conhecimento aguçado sobre os direitos fundamentais da criança, destacando que com a criação do ECA e em conseqüência, do Conselho Tutelar, as crianças e adolescentes passam a ser enxergadas como sujeitos de direitos, como não eram antes, e esses direitos devem ser garantidos não apenas pela família e pelo Estado, mas por toda a sociedade, como podemos constatar na fala a seguir:

“No início do estatuto da criança já fica bem claro que primeiro é a família,

segundo o Estado, e depois a sociedade, então é um tripé, onde todos nós somos responsáveis pela garantia desses direitos. Dessa forma, a partir do momento que se toma conhecimento de algum caso, nós temos a rede de atendimento, como educação, saúde, assistência social, segurança, então todas essas pessoas compõem a rede de atendimento, que atende não apenas adultos, mas prioritariamente a crianças e adolescentes.

Aqui a conselheira evidencia que é obrigação de todos nós integrantes da sociedade fazer cumprir esses direitos, e para isso, podemos contar com psicólogos, assistentes sociais, entre outros profissionais, que atuam na secretaria de assistência social, na saúde, na educação, enfim, em todos os órgão assistenciais da sociedade, como podemos observar na seguinte fala:

“Então, temos assistente social no fórum, no CREAS, no CRAS, temos psicólogos

na educação, na saúde, porém, o quadro é pequeno, infelizmente ainda fica a

desejar”.

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atendimentos que se tem, ficando muitas vezes ações essenciais sem ser encaminhada de forma ideal.

Outra preocupação dos conselheiros é tentar mudar a visão da população quanto às competências do Conselho Tutelar, como pode ser observado nos trechos a seguir:

“A gestão atual do conselho tutelar tem trabalhado para tentar mudar a visão que as

pessoas têm do conselho, achando que é um órgão que não faz nada, mas muitas vezes isso ocorre por que as pessoas não sabem as reais atribuições do conselho

tutelar”.

“Também se tem trabalhado juntamente com o Conselho Municipal dos direitos da

criança e do adolescente, que são os responsáveis por fazer as políticas públicas voltadas ao atendimento de crianças e adolescentes. (...). Essa união é muito importante, pois através do conselho tutelar, se consegue ter um levantamento das necessidades do município, como estatísticas de quais as maiores necessidades de determinados bairros, e qual a maior demanda do município por atendimentos, assim, essas estatísticas podem ser passadas para o conselho municipal, para que o

mesmo realize e promova as políticas públicas”.

Nesse trecho, a conselheira enfatiza como o Conselho Tutelar age em parceria com o Conselho Municipal para a garantia dos direitos à criança e ao adolescente, contribuindo para identificar as maiores necessidades do município, com o intuito de realizar ações de combate à violência intrafamiliar e maus-tratos infantis.

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3.3.3 Vínculo com casas de apoio as crianças

Quando perguntado sobre o vínculo que o conselho tutelar mantém com as casas de apoio as crianças, que são as „casas abrigo‟, a conselheira explica que a o abrigamento constitui na aplicação da medida protetiva, que é efetuada como uma medida extrema, quando os pais ou responsáveis são notificados, encaminhados para programas de atendimento, e mesmo assim não se conscientizam que devem mudar a conduta perante as crianças. Ela também explica que não é toda situação de maus-tratos que requer o abrigamento da criança, como podemos notar na fala a seguir:

“para cada tipo de maus-tratos existe um tipo de procedimento, não é toda situação que necessita da retirada da criança de casa, pois é uma medida excepcional extrema. A prioridade sempre é preservar o vínculo familiar, mas desde que seja bom para a criança, onde ela esteja segura, tenha afeto, tenha uma estrutura

familiar”.

Quando ocorre a necessidade de abrigamento é que as casas abrigo entram em ação, atendendo às necessidades da criança enquanto este período durar. O município de Tangará da Serra conta com duas instituições de abrigamento, como podemos notar com o relato da conselheira a seguir:

“hoje em Tangará se conta com uma casa de adolescentes e uma casa da criança, que

são instituições autônomas, independentes do conselho tutelar, que prestam serviços para a comunidade de abrigamento dessas crianças (...). Dentro dessas instituições tem que ter uma estrutura humana mínima composta por alguns profissionais técnicos especializados, como por exemplo, psicólogo, assistente social, pedagogo, mas infelizmente não é uma realidade em todo o Brasil, quem dirá em Tangará da Serra, mas se tem uma estrutura mínima, pois tanto a casa do adolescente como da

criança contam com psicólogos e pedagogos”.

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maus-tratos e violências em geral. Podemos entender que há uma preocupação com o atendimento as crianças e ao mesmo tempo uma percepção de que a assistência oferecida deixa a desejar por falta de uma equipe multidisciplinar completa e em número de profissionais suficiente para atender a demanda.

A partir do abrigamento da criança, alguns procedimentos são realizados, a fim de garantir amparo legal, como podemos observar na fala seguinte:

“a partir do momento que está ali dentro, é feito um relatório, encaminha para o

promotor, encaminha para o juiz, explicando qual foi o motivo por que essa criança foi abrigada, explicando por que foi tomada essa medida extrema, e encaminha a criança e o relatório também para a instituição, que com base no relatório e na visita

dos conselheiros tem noção do que está acontecendo”

Como podemos notar, as autoridades judiciais são informadas quanto ao abrigamento e quanto aos motivos que levaram o Conselho Tutelar a tomar essa medida. A criança é encaminhada para uma Casa Abrigo mediante autorização judicial, que passa a ser responsável pelo atendimento das necessidades fundamentais da criança.

Segundo a conselheira, é atribuição do próprio abrigo manter contato com a família, para estabelecer uma possível reinserção da criança, como nos mostra o trecho a seguir:

“e a própria equipe das Casas tem a atribuição de já manter o vínculo estabelecendo contato com a família, pra poder fazer esse atendimento. Fazer o estudo da possibilidade de reinserção e a probabilidade de quanto tempo vai levar. Nem sempre acontece assim, por que infelizmente ainda é deficitário, pois conta apenas com uma estrutura mínima, então muitas vezes o próprio conselho tutelar faz esse papel. O ideal seria que já tivesse toda a estrutura e que pudesse ser agilizado pelo

próprio abrigo”.

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ocorre por falta de vontade dos conselheiros, mas, sim por sobrecarga de funções vinculadas a eles.

Existem outros órgãos que executam essa função de manutenção de elo familiar, buscando atender às necessidades de cada família em particular, que passa por problemas sociais e que necessita de auxílio. As instituições que executam esse trabalho são o CREAS e os CRAS, como podemos notar a seguir:

“Na falta de condições dos abrigos, o poder público municipal tem os programas de

atendimento, que também contam com equipe especializada. Nós temos através da assistência social, (...) os CREAS (Centro de Referência Especializada de

Assistência Social) e os CRAS (Centros de Referência de Assistência Social)”.

Dessa forma, percebe-se que os órgãos de atendimento a crianças e adolescentes promovem suas ações em conjunto, na tentativa de que este atendimento seja integral, mesmo que isso muitas vezes não ocorra, devido à quantia insuficiente de pessoal para atender a demanda, ou por problemas administrativos de cada instituição em particular, na teoria, os programas são excelentes, pois preconizam o atendimento integral do ser humano, em todos os aspectos sociais e psicológicos, no entanto quando evidenciamos o real processo sendo executado nos deparamos com as deficiências sentidas pelas equipes que oferecem os serviços.

Com a fala que prossegue a coordenadora nos dá uma visão do que pode ser feito nos casos em que a criança não sofre de agressão física, mas sim de falta de cuidados por parte dos responsáveis, havendo necessidade de retirar a criança do lar de origem para que se restabeleça a ordem e estrutura familiar, como podemos observar a seguir:

“Então sempre que é feito um atendimento em que se chega a retirar uma criança de

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pública, para fazer essa ponde entre a família e a criança ou adolescente. Quando essa pessoa se recupera, o próprio conselho pode fazer o relatório, a enviar para o juiz, juntamente com os atestados médicos, e é o juiz quem decide se a criança pode

ser inserida novamente nessa família”.

Podemos perceber que a primazia é que a criança seja reinserida no leito familiar, principalmente em casos em que os pais sofrem com alguma dependência, pois nesses casos, necessitam de tratamento específico, para que possam conduzir a vida familiar de forma efetiva, sem prejuízos a qualquer um de seus membros.

Voltando, porém, à questão da qualidade dos atendimentos, devemos considerar, que em casos de pais dependentes químicos, para que seja realizado esse processo de recuperação dessas pessoas, há a necessidade de vagas disponíveis em clínicas de recuperação, e esse tratamento muitas vezes necessita ser custeado pelo governo municipal. Nesse sentido, há duas questões importantíssimas e relevantes que devem ser analisadas, a primeira é o fato de não haver clínicas de recuperação gratuitas em Tangará da Serra, e nem mesmo clínicas particulares, o número de vagas é restrito e o atendimento é oferecido em comunidades terapêuticas – sendo, por exemplo, ações desenvolvidas por igrejas ou seja ações filantrópicas, sem fins lucrativos.

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