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Higor Henrique Mouro Tese de Mestrado em Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos

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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão socioambiental FCSH - UNL

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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da

mulher na questão socioambiental

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Higor Henrique Mouro

Tese de Mestrado em Ecologia Humana e Problemas Sociais

Contemporâneos

Junho de 2017

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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão socioambiental FCSH - UNL

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Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de

Mestre em Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos, realizada sob a

orientação científica da Professora Doutora Iva Miranda Pires.

A presente investigação teve o apoio financeiro do

programa Fellow Mundus, através de uma Bolsa de

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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão

socioambiental

Resumo:

Este trabalho visa estudar as particularidades presentes na questão de gênero que se materializam na relação que as mulheres compartilham com o ambiente. Dessa forma, o presente estudo tem como intuito compreender como o gênero feminino ao se relacionar com a natureza, contribui para a construção da sociedade contemporânea. O estudo também pretende abarcar a relevância dos ideais ecofeministas possibilitando uma reflexão da opressão que as mulheres e o ambiente sofrem pelo sistema patriarcal. Após ponderar sobre o papel da mulher na questão socioambiental iremos pensar a questão de gênero frente aos desafios atuais, em um cenário em que a sociedade busca o Desenvolvimento Sustentável. Considerando instituições de ensino superior enquanto espaços de construção de conhecimento, inclusive na área ambiental, optou-se pela realização de uma pesquisa empírica nesse universo. As entrevistas realizadas contribuíram para o entendimento da relação que mulheres estudantes compartilham com a natureza, através dos seus hábitos de consumo, posicionamento político e saber comum. O trabalho revelou que três das entrevistadas relacionam essa ligação entre mulher e natureza à uma construção social, que perpassa sobre as relações sociais e as divisões de classe, raça, gênero e casta; que duas entrevistadas apontam o aspecto biológico na centralidade dessa relação e que outras três entrevistadas não veem distinção de gênero no processo de aproximação com o ambiente. As considerações finais apontam o ecofeminismo como uma das alternativas que contestam as desigualdades e violências existentes no corpo social e que se apresenta enquanto uma variação onde as relações interpessoais e com a natureza são pensadas de maneiras antiautoritárias. Assim, a teoria ou filosofia ecofeminista deve ser pensada em uma perspectiva que visa contribuir para a emancipação política e de empoderamento das mulheres, contestando aspectos que reforcem estereótipos de gênero, reduzindo e classificando aspectos sociais e biológicos da mulher no processo por uma sociedade mais sustentável.

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Gender and Environment: Thoughts on the role of women in the

socioenvironmental issue

Abstract:

This study, intended to realize how the particularities present in the gender issue are expressed in the correlation between women and the environment. Therefore, the following objectives are to comprehend how a woman contributes to construction of a contemporary society regarding environmental issues in the process. The study also intends to include the relevance of ecofeminist ideals, allowing a reflection of the oppression that women and the environment endure on a patriarchal system. After reflecting on the role of women in the socio-environmental issue this work will consider the gender issues face current challenges, in a scenario where the civil society seeks a sustainable development. Regarding the role of Higher Education Institutions as essential sources of knowledge, specially relating to the environment, this case study was decided upon. The empirical research contributed to understanding of the relation that women share with a nature environment, through their habits of consumption, political positioning and common knowledge. Results showed that three of the interviews relate this approach between women and environment to a social factor, regarding social relations as class distinction, race, gender and caste; it also indicates that two consider the biological aspect as the center of this relation. On the other hand, three of the interviews does not see gender distinction in the process of environment approach. Final considerations pointed ecofeminism as one of the alternatives that contest social inequalities and other forms of social violence, that also presents itself as a variation where interpersonal and nature relationships are thought in an anti-authoritarian way. Therefore, Ecofeminist theory or philosophy must be thought in a perspective that aims to contribute to political emancipation and women empowerment, contesting gender stereotypes that reduce and classify women’s social and biological issues during the process to achieve a more sustainable society.

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Conteúdo

Índice de Gráficos ... xii

1

Introdução ...13

2

Metodologia ...16

2.1

Pergunta de Partida ...17

2.2

Objetivos ...17

2.3

Hipóteses ...17

2.4

Materiais e Métodos ...18

3

Ecofeminismo ...21

3.1

Introdução ao Ecofeminismo ...22

3.2

A Teoria Ecofeminista ...24

3.3

Vandana Shiva e as Principais Percursoras do Ecofeminismo ...27

3.4

Reflexões sobre a perspectiva Ecofeminista ...29

3.5

Discutindo o Ecofeminismo. ...31

4

Gênero e Desenvolvimento Sustentável ...33

4.1

Mulher e Ambiente: Desigualdades de gênero e o acesso aos recursos naturais. ...34

4.2

Desenvolvimento Sustentável...38

4.3

Sociedade do Consumo ...43

4.4

Contribuições de gênero para a Sustentabilidade ...46

5

Gênero e Ambiente em Portugal ...52

5.1

Alguns Dados da Realidade Portuguesa ...53

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Índice de Gráficos

Quadro 1 – Algumas iniciativas para a introdução da igualdade de género no ambiente e recursos naturais ………..49 Quadro 2 – PNI 2007-2010: Perspectiva de género nos domínios prioritários de política Território e Ambiente ……….………54 Figura 1 –Vigilantes da Natureza 2007 ………55 Figura 2 – Região Norte: Nº de alunos inscritos em cursos superiores com formação ambiental, por

gênero, 2007………..……….….56

Figura 3 – Região Centro: Nº de alunos inscritos em cursos superiores com formação ambiental, por

gênero, 2007 ……….……….….56

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A definição e reprodução de papéis sociais ao longo da história têm particularidades relacionadas com o contexto histórico e social, além de possuir características distintas de acordo com a categoria de análise gênero. Partindo desse pressuposto é importante compreender que a construção do gênero também é um fenômeno da sociedade e segundo Simone de Beauvoir (1949) ser mulher é uma construção social que vai para além do sexo biológico.

Considerando que a representação do tipo ideal feminino ao longo da história está sujeita a alterações, a mulher torna-se responsável por determinados papéis sociais, entre eles compartilha funções que estão ligadas à questão ambiental, seja no cultivo e plantio de alimentos, na captação de água, no uso de plantas medicinais e outras. Segundo Puleo (1997), podemos dizer que: “(...) a interação com o meio ambiente e a correspondente sensibilidade ou falta de sensibilidade ecologista gerada, dependem da divisão sexual do trabalho e da distribuição do poder e da propriedade segundo

as divisões de classe, gênero, raça e casta”. (Puleo 1997, 03)

Sendo assim, em diferentes contextos históricos a mulher contribui em maior ou menor medida no processo de transformação da natureza participando no desenvolvimento societário. Elas detêm um importante papel na gestão e conservação de recursos naturais e frequentemente possuem um conhecimento profundo acerca do ambiente.

Além da gestão e proteção de recursos naturais, a problemática ambiental e a questão de gênero se relacionam nos mais diversos contextos. Na contemporaneidade problemas de caráter ambiental, como desastres naturais, atingem em maior número as mulheres, que normalmente se encontram em situação de maior vulnerabilidade2. Sendo assim, em uma maneira de refutar e mudar

esse cenário os movimentos ambientalistas, ecologistas e feministas discutem possibilidades que visem alcançar uma sociedade mais igualitária (Hernández 2010, 16).

De acordo com Rico (1998) existem três grandes áreas de estudos que interligam essas duas temáticas, a mulher e o ambiente, e elas são: a abordagem ecofeminista; outra centrada na mulher e no ambiente e uma última que relaciona gênero, ambiente e desenvolvimento sustentável.

A respeito da abordagem ecofeminista, mesmo com suas diferentes interpretações todas defendem a ideia de que a mulher e a natureza dividem uma ligação, que é consequência de um processo cultural e de atributos biológicos, que resultam em uma sensibilidade ecológica mais apurada para defender as questões ambientais. (Rico 1998, 22).

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A segunda perspectiva que tem como objeto de estudo a mulher e o ambiente descreve que além da relação que o gênero feminino compartilha com a natureza, o potencial papel das mulheres como administradoras e gestoras dos recursos naturais no quotidiano é o motivo que dá suporte à defesa da inclusão da mulher nos programas e políticas ambientais, visto que ao estarem em situação de maior vulnerabilidade em contextos de desastres ambientais e alterações climáticas, as mulheres seriam mais eficientes para abordar e superar momentos de crise. (Rico 1998, 23 e 24).

A terceira abordagem que relaciona gênero, ambiente e desenvolvimento sustentável, sustenta sua linha de pensamento em três aspectos: na divisão sexual do trabalho; na desigualdade de gênero, que se materializa no acesso a recursos e benefícios, e o terceiro nos obstáculos presentes no processo de decisão e participação das mulheres nos espaços públicos (Rico 1998, 25). Na última abordagem verifica-se uma mudança de paradigma, porque a problemática principal deixa de ser as mulheres e o foco passa a ser as relações sociais, através da perspectiva de gênero. Porém ao pensarmos a situação em que a mulher se encontra na contemporaneidade, analisando essas mesmas relações sociais, a história e a cultura que as mesmas compartilham com a natureza, vemos que o gênero feminino ainda é objeto de opressão do sistema patriarcal, assim como a natureza. Dessa forma, o feminismo ainda é representado na luta por igualdade e vai de encontro com os três aspectos que norteiam essa abordagem.

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2.1

Pergunta de Partida

Mulheres que realizam cursos de ensino superior ou técnico relacionados a área ambiental, reconhecem que existe uma ligação especial entre o gênero feminino e a natureza direcionada para uma sociedade mais sustentável?

2.2

Objetivos

Os objetivos desta tese são:

1. Pesquisar a partir da teoria ecofeminista as particularidades presentes na questão de gênero que se materializam na relação que as mulheres compartilham com o ambiente.

2. Verificar o posicionamento de mulheres estudantes frente a forma de como o consumo se manifesta na contemporaneidade e outros aspectos que constituem o caminho na busca por um Desenvolvimento Sustentável.

3. Investigar se as mulheres entrevistadas reconhecem que existe uma ligação especial entre o gênero feminino e a natureza direcionada para uma sociedade mais sustentável.

2.3

Hipóteses

Reconhece-se as particularidades presentes na relação que a mulher compartilha com a natureza e as contribuições do gênero feminino para um desenvolvimento sustentável. Defendendo assim, que a relação entre mulher e natureza depende da divisão sexual do trabalho e da distribuição do poder e da propriedade segundo as divisões de classe, gênero, raça e casta.

Defende-se a ideia de que a mulher tem uma ligação especial com a natureza, que homens não partilham. Essa aproximação teria origem em um fator biológico (nascer mulher), assim o gênero feminino está sujeito às mesmas opressões que a natureza.

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2.4

Materiais e Métodos

A pesquisa exploratória teve início por meio de documentos que contemplam a temática de gênero e ambiente, como relatórios, leis, normas, entre outros. A análise dos documentos foi acompanhada por uma revisão de literatura visando corroborar a construção de conhecimentos e de conceitos relevantes para o desenvolvimento do trabalho, possibilitando uma maior aproximação com tema.

Após a revisão de literatura inicial foi verificado que a questão de gênero e a questão ambiental são fenômenos que contemplam os setores econômico, através da divisão sexual do trabalho e do acesso aos bens e serviços; cultural e social, visto que cada sociabilidade tem códigos morais distintos e que são resultado de um processo histórico; e por último o ecológico, compreendendo que a disposição geográfica dos recursos naturais é fator significante na construção da sociedade contemporânea e sua relação com a natureza. Pensando na necessidade de refletir sobre esses aspectos, optamos por realizar a pesquisa com uma abordagem qualitativa visando atingir os objetivos do trabalho e fornecendo assim, a possibilidade de discussão crítica dos dados obtidos frente à revisão de literatura.

Ao definir a abordagem qualitativa Minayo (1994) nos trás que:

“A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”. (Minayo 1994, 22)

Iremos utilizar enquanto instrumento de coleta de dados entrevistas semiestruturadas com mulheres que realizam algum curso a nível superior ou técnico relacionado a questão ambiental. O objetivo dessas entrevistas é compreender para além do consumo e da relação que as entrevistadas partilham com a natureza, qual o posicionamento das mesmas frente a problemática ambiental. Outro aspecto que se pretende obter durante a realização da entrevista é o que as mulheres pensam sobre a desigualdade salarial, posição de liderança, políticas sociais e outros fatores da questão de gênero que são fundamentais para se pensar uma sociedade sustentável e igualitária.

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Social3. Vale pontuar que as estudantes de mestrado possuem graduações distribuídas em diversas

áreas, tal como Ciências Biológicas, Fisioterapia, Sociologia, Engenharia Informática, Marketing, mostrando a pluralidade no processo de construção do conhecimento.

Parte das entrevistas foram realizadas de forma presencial e outra parte através do auxílio da tecnologia, por meio de chamadas de vídeo. A tecnologia se mostrou uma ferramenta facilitadora durante esse processo e que permitiu o alcance de sujeitos com realidades distintas, de diferentes nacionalidades e culturas conforme mostra o quadro:

Entrevistada Mestrado/Doutorado Graduação Nacionalidade Idade

E1 Serviço Social Serviço Social Brasil 25

E2 Ecologia Humana e PSC4 Ecologia Brasil 28

E3 Ecologia Humana e PSC Sociologia Uruguai 29

E4 Saúde Coletiva Fisioterapia Brasil 27

E5 Ecologia Humana e PSC Ciências Biológicas Brasil 29 E6 Ecologia Humana e PSC Eng. Florestal Portugal 38 E7 Ecologia Humana e PSC Eng. Informática Portugal 39 E8 Técnica do Meio Ambiente Marketing Brasil 23

As informações recolhidas nas entrevistas foram sistematizadas e organizadas, através da análise do conteúdo em três grandes temas: A questão de gênero; a problemática ambiental e por último; questões ecofeministas. As respostas foram distribuídas em forma de tabela de acordo com as perguntas que foram utilizadas na elaboração do guião. Durante todo o processo de análise houve a comparação das informações fornecidas pelas entrevistadas e a revisão de literatura, além da busca por novos dados considerados importantes para a concretização dos objetivos do trabalho.

O trabalho foi pensado em três capítulos, o primeiro vai de encontro com o objetivo da tese de discutir a teoria ou filosofia ecofeminista e as particularidades presentes na questão de gênero que se materializam na relação que as mulheres compartilham com o ambiente. Para atender esse objetivo foi estudado o conceito de Ecofeminismo; os (as) principais pesquisadores (as) da temática; e as reflexões referentes ao tema. Os (as) principais autores (as) que contribuíram para a revisão de literatura foram: Angelin, 2006, Flores e Trevisan 2015, Souza e Gálvez 2008, Siliprandi 2000, Shiva 1991.

Já no segundo capitulo, foi realizada uma revisão de literatura com o objetivo de compreender o papel da mulher dentro de um contexto que visa uma sociedade sustentável. Dessa forma, primeiro foram trabalhadas informações que refletem a relação entre gênero, ambiente e o acesso aos recursos

3Além de compreender o Serviço Social enquanto profissão plural e que tem como objeto de trabalho as expressões da

questão social que se materializam em diversos contextos, inclusive na área ambiental, a entrevistada é componente de um grupo de pesquisa e extensão que tem como objeto de estudo e intervenção social o Movimento Sem Terra, na cidade de Franca – SP, Brasil

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naturais na atualidade; o conceito e as variantes presentes no fenômeno de Desenvolvimento Sustentável; o ato de consumir, que tem ligação intrínseca não só com o desenvolvimento societário, mas com a natureza e por último; as contribuições que as mulheres podem fornecer para a sociedade se aproximar de um Desenvolvimento Sustentável. Os (as) principais autores (as) que contribuíram para a revisão de literatura foram: Dankelman 2005, Torreão 2007, Hernandez 2010, Portilho 2005, Freitas 2005 e Lima 2003.

No terceiro e último capítulo inicialmente é apresentado uma aproximação com a realidade Portuguesa, no que se refere a questão de gênero e ambiente. Em um segundo momento foi realizado o tratamento de dados obtidos através das entrevistas. A elaboração desse capítulo deparou-se com a escassez de produção científica que relacione as temáticas de gênero e ambiente em Portugal. Sendo assim, grande parte desses dados foram obtidos através do relatório Gênero, Território e Ambiente, de 2009 coordenado por Jorge Gaspar e Margarida Queiroz.

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3.1

Introdução ao Ecofeminismo

A abordagem do ecofeminismo faz uma associação às diferenças de gênero que existem em nossa sociedade e a problemática presente nas relações ambientais O movimento ecofeminista defende uma “ relação estreita existente entre a exploração e a submissão da natureza, das mulheres e dos povos estrangeiros pelo poder patriarcal” (Mies e Shiva 1995, 23).

Para compreendermos o conceito e preceitos do ecofeminismo, denominado de teoria, movimento ou filosofia, é necessário realizar uma reflexão do ambiente enquanto espaço integrado na sociabilidade e não entendendo a natureza enquanto produto separado do convívio humano. Para

Rodrigues (1998, 13): “A questão ambiental deve ser compreendida como um produto da intervenção da sociedade sobre a natureza. Diz respeito não apenas a problemas relacionados à natureza, mas às problemáticas decorrentes da ação social”.

Esse pensamento reflete a mudança de paradigma na análise da relação entre o ser humano e o ambiente, onde inicialmente essa área de estudo se restringia as ciências naturais e após a década de 60 se consolida a ideia de que a interação entre ser humano e natureza não é neutra, abrindo espaço para uma análise de gênero. Então para estudar a filosofia ecofeminista é necessário ter como preceito que a natureza, também está na esfera social ao entrar em contato com o homem, e que essa relação além de não ser neutra, também perpassa pelas relações de gênero, raça e etnia, casta, classe e outras.

O ecofeminismo sendo pensado enquanto um movimento feminista e assim protagonizado pelas mulheres, também implica definir a categoria de análise gênero. Joan Scott rediscutiu o conceito gênero e nos apresenta uma definição que explícita o caráter de instrumento de análise da sociedade que o termo nos trás:

“Por “gênero”, eu me refiro ao discurso sobre a diferença dos sexos. Ele não remete apenas a ideias, mas também a instituições, a estruturas, a práticas cotidianas e a rituais, ou seja, a tudo aquilo que constitui as relações sociais. O discurso é um instrumento de organização do mundo, mesmo se ele não é anterior à organização social da diferença sexual. Ele não reflete a realidade biológica primária, mas ele constrói o sentido desta realidade. A diferença sexual não é a causa originária a partir da qual a organização social poderia ter derivado; ela é mais uma estrutura social movediça que

deve ser ela mesma analisada em seus diferentes contextos históricos”. (Scott 1998, 15).

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“[...] gênero, bem como a classe, não é uma categoria pronta e estática. Ainda que sejam de naturezas diferentes e tenham especificidade própria, ambas as categorias partilham das características de serem dinâmicas, de serem construídas e passiveis de transformação. Gênero e classe não são também elementos impostos unilateralmente pela sociedade, mas com referência a ambos supõe-se que os sujeitos sejam ativos e ao mesmo tempo determinados, recebendo e respondendo às determinações e contradições sociais. Daí advém a importância de se entender o fazer-se homem ou mulher como um processo e não como um dado resolvido no nascimento. O masculino e o feminino são construídos através de prática sociais masculinizantes ou feminizantes, em consonância com as concepções de cada sociedade. Integra essa concepção a ideia de que homens e

mulheres constroem-se num processo de relação”. (Louro 1992, 57)

Diante dessas definições e entendendo o gênero enquanto uma categoria que coopera para a organização social e está presente na relação que o ser humano mantém com o ambiente, suas contribuições consistem em mais uma forma de análise que leva em consideração diversas funções que o ser humano desempenha, como a prática laboral por exemplo. Em uma única temática, o objeto de análise é divido em inúmeros elementos essenciais para compreender como o gênero perpassa essa relação, como a representação social que o trabalho tem na nossa sociedade, a estrutura que o mesmo é concebido, o reconhecimento enquanto trabalhador e a subjetividade presente no exercício da função, as diferentes remunerações, a hierarquização, a divisão sexual do trabalho e outros. Todos esses aspectos são constituintes não só de uma análise que é intrínseca a questão de gênero, mas que são importantes para um possível Desenvolvimento Sustentável. (Torreão 2007, 4)

Essas contribuições presentes nas relações de gênero colaboram para compreendermos as desigualdades que se manifestam de diversas formas, desde atitudes que estão consideradas como

“naturais”, até outras que fogem as normas em nossa sociedade. Alguns exemplos são a desigualdade salarial, a violência contra a mulher, a invisibilidade do trabalho doméstico não remunerado, os estereótipos e a sexualidade que também se dão de forma desiguais.

O ecofeminismo assim como os demais movimentos feministas visam diminuir essas e outras desigualdades de gênero, e contribuir para uma sociedade mais sustentável que reduza a opressão que o patriarcado exerce sobre a mulher e a natureza. Dessa forma, as políticas públicas que em sua concepção destaquem as questões de gênero, reconhecendo as particularidades que a mulher possuí, são essenciais para o desenvolvimento e autonomia das mulheres, contribuindo para o seu empoderamento, enquanto fator que representa liberdade no processo de escolha e acesso a direitos visando uma melhoria na qualidade de vida, contribuindo assim, para um Desenvolvimento Sustentável. (Torreão 2007, 14)

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movimentos sociais contemporâneos que visa contribuir para o empoderamento de mulheres, a diminuição das desigualdades de gênero e reduzir a degradação do ambiente.

3.2

A Teoria Ecofeminista

Algumas mudanças na sociedade são de suma importância para compreendermos como a relação da mulher com a natureza teve alterações ao longo da história. A religião, o modo de produção, as legislações e a cultura de cada país e comunidades compõem os fatores que vão explicitar o grau de proximidade e relevância social dessa relação.

A “Mãe Terra” ou Gaia foi uma das primeiras divindades a serem cultuadas por diversas religiões, principalmente na mitologia grega. Porém, com a expansão do cristianismo e o do monoteísmo, que pratica a adoração de um Deus do gênero masculino, a mulher e a natureza deixam de ter a mesma importância. (Angelin 2006, 01).

Além do advento do cristianismo e do monoteísmo outro fator importante para uma transição societária que tem o patriarcado nas suas bases, foi a descoberta do papel do homem no processo de fecundação. Com essa informação inicia-se o culto a um Deus fálico, visto que a geração da vida não se dá exclusivamente através do corpo feminino. (Dias 2008, 05).

Ainda segundo Angelin (2006, 02), com o início da propriedade privada, após o ser humano deixar de ser nômade inicia-se a opressão e submissão das mulheres. Isso se dá devido a divisão do trabalho, onde mulheres cuidavam do lar e filhos, desenvolvendo assim a agricultura e os homens eram responsáveis pelas caçadas.

O capitalismo foi um intensificador das diferenças de gênero, visto que nesse modo de produção a mulher foi encarregada dos trabalhos domésticos e da função de cuidadora, enquanto ao homem foi reservado o direito a civilização e intervenção no espaço público. Contudo, esse processo aproximou a mulher da natureza e assim, ao associar o equilíbrio do ambiente com a qualidade de vida, sentiram necessidade de preservação do espaço natural. (Angelin 2006, 02)

Pensando na importância de conhecer essas particularidades existentes na relação entre mulher e ambiente e tendo entre as primeiras preocupações a ligação entre ciência, mulher e natureza o termo ecofeminismo teria sido utilizado pela primeira vez em 1974, por Françoise d‘Eaubonne, que,

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Como foi exposto na introdução desse trabalho a desigualdade de gênero existe em nossa sociabilidade e a teoria ecofeminista, assim como a feminista, tem como um dos objetivos romper com a herança do patriarcado e com o machismo que perpassa as relações sociais, buscando a igualdade e a equidade entre gêneros. De acordo com Saffioti “o patriarcado não se resume a um sistema de dominação, modelado pela ideologia machista. Mais do que isto, ele é também um sistema de exploração. Enquanto a dominação pode, para efeitos de análise, ser situada essencialmente nos campos políticos e ideológicos, a exploração diz respeito diretamente ao terreno econômico.” (Saffioti 1987, 50).

No pensamento ecofeminista a mulher e a natureza são vítimas do sistema patriarcal e esse, enquanto uma forma de exploração, usa o capital como viés de apropriação dos recursos naturais, corrompendo o ecossistema e subjugando o gênero feminino. Pensando a mulher e o ambiente enquanto atores fundamentais na reprodução social, as agressões que o patriarcado exerce sobre ambos, são semelhantes ao machismo e a agroindústria, que através da submissão inferiorizam o importante papel que esses sujeitos executam na proteção do espaço natural. (Flores e Trevisan 2015, 12).

Souza e Gálvez (2008) comentam que “o ecofeminismo contando com distintas significações, compõe uma ideia fundamental, que é a existência de uma interconexão entre a dominação da natureza pelos seres humanos e a sujeição feminina aos homens, expressando a predominância de formas patriarcais na estruturação ocidental, que remete o papel da mulher apenas à reprodução

social”. (Souza e Gálvez 2008, 6).

De acordo com essa perspectiva e reconhecendo as particularidades que mulheres e natureza compartilham, também é importante refletir sobre as conexões que os seres humanos compartilham de forma antropológica com outros seres vivos. Resgatar essas conexões, a origem e história de um povo pode refletir em uma maior proximidade com a natureza, através de escolhas conscientes no uso dos recursos naturais e na preservação de outras espécies. Sendo assim, a defesa dos direitos dos indivíduos também não deve ser feita de forma desconexa ao pensarmos uma sociedade sustentável, rompendo com a ideia de que a ciência seja contra a vida. (Flores e Trevisan 2015,13).

Enquanto movimento político o ecofeminismo realiza uma crítica a ciência e a visão androcêntrica5 de ver o mundo. Nos países “desenvolvidos” do norte o movimento tem suas

particularidades e além dos princípios aqui explicitados, a teoria é relacionada a dois principais aspectos: a luta contra a guerra e a proliferação de armas nucleares e a defesa dos direitos dos animais.

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Nessa perspectiva, mulheres e animais, enquanto parte da natureza, também estão sujeitos a subjugação pelo patriarcado. As críticas ecofeministas nesse contexto são direcionadas ao uso de animais em laboratórios pelas empresas de limpeza e cosméticos e a indústria alimentícia, principalmente ao consumo da carne. Cerca de 75% dos participantes da marcha6 em defesa dos

animais realizada em Washington (EUA) em 1990 eram mulheres. (Gárcia 1999, 47 e 48)

Assim como outros movimentos que defendem a questão de gênero, o ecofeminismo ganha força no Ano Internacional da Mulher realizado em 1975, período em que se deu abertura para a discussão pública entre o “feminismo igualitarista” e o “feminismo da diferença”. Siliprandi (2000, 64) faz uma reflexão sobre as particularidades das duas vertentes, sendo que o segundo considera as características femininas na luta política, enquanto o primeiro pugnava pela entrada das mulheres no espaço público disputando posições de poder e pela sua autonomia econômica, social e política.

Quase 20 anos depois a realização da Conferência Meio Ambiente e Direitos Humanos no Rio de Janeiro - a Eco-92 foi de suma importância para a visibilidade do movimento ecofeminista na década de 90, onde organizações como a REDEH (Rede de Defesa da Espécie Humana) e RME (Rede Mulher de Educação) fizeram parte da coordenação do Planeta Fêmea, no Fórum Global (atividade paralela à conferência oficial). As mulheres organizaram o maior espaço do Fórum, de nome Planeta Fêmea7. Estima-se que diariamente o espaço recebeu a visita de aproximadamente cinco

mil pessoas. Durante o evento houve a realização de mesas-redondas, debates, feira de produtos artesanais, venda de publicações, exposições de fotos, danças e cantorias. Durante a Conferência componentes como a saúde da mulher e o ambiente; a forma de consumo (muitas vezes devastador oriundo do Norte, contribuindo para a reprodução da pobreza nos países do Sul); formas de impedir a degradação ambiental e outros aspectos foram discutidos. (Siliprandi 2000, 62).

O ecofeminismo tem como base um olhar crítico para as problemáticas ambientais e de gênero e abarca uma perspectiva que visa contemplar todos os aspectos que estão intrínsecos nessa relação. Segundo Souza e Gálvez (2008) o pensamento ecofeminista tem três pressupostos: o primeiro refere-se a perspectiva econômica, onde a natureza fica a mercê do capital através da apropriação de recursos naturais e a mulher é inferiorizada nessa mesma sociedade patriarcal, que isenta ambas de direitos. O segundo diz respeito a hierarquia que ainda está presente nos dias atuais e que se materializa em uma dualidade onde o homem e a cultura são superiores a mulher e a natureza, resultando na opressão das últimas. Já o terceiro e último pressuposto está relacionado ao fato da

6 Marcha realizada em Junho de 1990 em Washington D.C. (EUA) organizada por Peter Linck em prol dos direitos dos

animais. Estimativas da polícia local mostram a participação de 24 mil pessoas, enquanto os organizadores afirmam a participação de 50 mil pessoas. (Savage 1990, 01)

7O intuito do Planeta Fêmea era propor uma mudança para o mundo que corrigisse os danos causados pelo desequilíbrio da

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desigualdade de gênero ser refletida no campo científico durante o processo de desenvolvimento, onde mais uma vez o gênero feminino é excluído na formulação e construção das políticas científicas e tecnológicas.(Souza e Gálvez 2008, 7).

As autoras Souza e Gálvez (2008) ainda completam que no Ecofeminismo podem ser consideradas três correntes: o pensamento Clássico, onde devido a características biológicas e culturais a mulher possuiria uma predisposição a proteção dos seres vivos, conservação da natureza e ao pacifismo, que é contrária as características masculinas, que entendem o homem enquanto possuidor de atributos ligados a competição e destruição. A segunda linha de pensamento, nomeada Ecofeminismo Espiritualista do Terceiro Mundo, ainda ligado a características do pensamento

clássico, reproduz a ideia de um “princípio feminino” ou “Prakriti”, pensado por Vandana Shiva em 1988. Esse pensamento tem influências de políticos como Ghandí e da religião com a Teoria da Libertação. Uma das principais críticas de Shiva que perpassa essa perspectiva, é a oposição ao modelo de desenvolvimento que visa a acumulação do capital, a opressão e exploração da mulher e natureza e a centralização no pensamento ocidental.(Souza e Gálvez 2008, 8).

A terceira e última vertente do ecofeminismo seria a perspectiva Construtivista, que deixa de pensar a mulher enquanto detentora de atributos biológicos responsáveis pela sua aproximação com a natureza e centra-se nas relações sociais e culturais que foram construídas aproximando o gênero feminino da questão ambiental, como a divisão sexual do trabalho.(Souza e Gálvez 2008, 8).

Todas as abordagens que o ecofeminismo utiliza para trabalhar a relação entre mulheres e o ambiente tem sua importância e fomentam a discussão sobre o papel que o gênero feminino e natureza ocupam na sociedade contemporânea, porém verifica-se um avanço na perspectiva construtivista, onde a gestão de gênero ultrapassa a fator biológico contemplando o aspecto social que é intrínseco nessa relação.

3.3

Vandana Shiva e as Principais Percursoras do Ecofeminismo

Vandana Shiva, que escreveu o livro Staying Alive: Women, Ecology and Development, em 1988, está entre as principais precursoras do Ecofeminismo. Participou do Movimento Chipko na Índia, e devotou sua vida na luta contra a exploração industrial da Ásia, América do Sul e África. Ela relaciona as formas de dominação sobre os povos desses países, através das quais se orientavam os

programas de “desenvolvimento”, com a destruição da Natureza, cuja consequência principal foi (e é)

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alimentação, água, da biodiversidade etc.) (Dias 2008, 06).

De acordo com a autora historicamente as mulheres realizavam o trabalho levando em considerações questões como a diversidade e a sustentabilidade, onde não se tinha um viés de acumulação do capital e pensavam a manutenção de todos igualmente, visto que se tinha a visão da natureza em uma posição de equidade. Também não existia a produção de excedentes ao extrair recursos naturais, inclusive em algumas culturas essa prática poderia ser considerada uma forma de roubo. A monocultura e a apropriação dos recursos naturais visando a privatização dos lucros é contrária a essa ideia, que além de privar as mulheres do contato com a natureza de forma tradicional, tem como resultado o aumento da desigualdade social, gerando menos renda para a população mais pauperizada. (Siliprandi 2000, 65).

Um dos motivos para a perpetuação dessa desigualdade social a partir de uma perspectiva ecológica é a restrição do acesso aos recursos naturais que é limitado as grandes economias de mercado e a monocultura, que em sua concepção não tem uma preocupação no sentido de preservar a diversidade ecológica. O acesso sendo desigual, a distribuição desses mesmos recursos tende a acolher os interesses do capital, mesmo que isso contribua para o aumento da desigualdade. Em sociedades com discrepância elevada na distribuição de renda os recortes de gênero, raça e casta vão ser fatores essenciais para compreender a posição da mulher em um processo de aumento da pobreza. Dessa forma, a mulher que é privada de acesso aos recursos ou aos produtos encontra-se limitada em uma situação de pauperidade e a mulher negra ou de casta inferior se tornam vítimas de outras mazelas sociais, aumentando seu nível de opressão. (Hernandez, 2010, 22)

Um dos principais motivos da monocultura ser um dos agentes que vai contra a igualdade e a diversidade das formas tradicionais de cultivo, é o fato da mais-valia obtida no processo de trabalho ser o maior orientador dessa prática, além de resultar na erosão, fragilidade dos ecossistemas, poluição da água e do solo, dependência de insumos externos e outros. (Siliprandi 2000, 65).

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Mesmo que em sua concepção o Prakriti corresponda a um princípio feminino, entendendo os organismos vivos enquanto uma unidade, o mesmo não se restringe apenas a relação que a mulher compartilha com a natureza, mas a formas de se relacionar de maneira igualitária reconhecendo o ambiente em posição de paridade. O gênero masculino nesse contexto ficaria responsável por pensar formas que promovam a vida, sem práticas que possam ameaça-la ou reduzi-la. (Shiva 1991, 77).

Além de Shiva, outro nome importante do Ecofeminismo é a bióloga marinha Rachel Carson,

autora da obra: “Silent Spring”, lançado em 1962. Apesar do termo Ecofeminismo ainda nem ter sido criado, a ativista fez despertar a consciência da sociedade sobre o movimento ecológico. (Dias 2008, 06).

No movimento ecofeminista outra importante ativista é a filósofa australiana Val Plumwood, falecida em fevereiro de 2008. A filósofa explorava uma nova ideia de ética no meio ambiente e em

1992 escreveu o livro: “Feminism and the Mastery of Nature”. (Dias 2008, 06).

3.4

Reflexões sobre a perspectiva Ecofeminista

Pensar mudanças no modo societário atual sem compreender que as relações de gênero estão intimamente ligadas ao movimento ecológico, é ter uma visão estratificada da realidade que impossibilita as mulheres de uma maior liberdade no que se refere as relações de poder e socioeconômicas no modo de produção em que vivemos. Um dos motivos para a união desses dois movimentos é o fato de que os resultados dos impactos ambientais, afetam em uma quantidade desproporcional as mulheres, que sofrem por exemplo com resíduos de dioxina na amamentação, distúrbios na gravidez e outros. (Flores e Trevisan 2015,13).

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autossuficiência nas atividades relacionadas a questão ambiental. (Herrero 2007, 1)

O ecofeminismo clássico que considera a biologia enquanto fator para corroborar a ideia de que a mulher tem uma associação particular com a natureza, tem como base dois argumentos: o primeiro diz respeito as funções reprodutivas e da alimentação do novo ser vivo, que é único do gênero feminino. Correspondendo assim não só a geração da vida, mas a conservação da mesma. Já a segunda tem como base a exploração e opressão que ambas, mulher e natureza, sofrem pela sociedade patriarcal.(Tavolaro, 1998, 113)

Contudo, restringir a associação da mulher com a natureza à um determinismo biológico é redutor, visto que a maternidade e a fertilidade por um fim único, não são responsáveis pelo papel que as mulheres desempenham na luta ecológica. A história, o conhecimento popular, as relações sociais, a divisão sexual do trabalho, o contexto social das comunidades e os ecossistemas, são todos fatores essenciais para compreender o papel que as mesmas desempenham, inclusive a opressão que o patriarcado exerce sobre as mulheres e o ambiente.

É importante situar enquanto categoria de análise social tanto mulheres, quanto a natureza. E para além disso, ambas são construídas socialmente e assim passiveis de mudanças de acordo com o tempo, a história e o contexto social em que se apresentam. Ter como pressuposto e de forma especial a relação que a mulher compartilha com a natureza, impede e anula o contexto social que inclusive os homens experimentam de acordo com sua vivência, de acordo com a classe, casta, idade, nacionalidade, gênero, raça e etnia em que pertencem. (Hernandez, 2010, 23)

Mesmo considerando a participação da história e do contexto social na construção do vínculo que mulher e a natureza dividem, é importante continuar pensando as especificidades que esse processo de construção tem na formação dos papéis sociais que as mulheres ocupam. Ainda que esse seja um fenómeno social, ele se dá de maneiras diferentes com a base no fator biológico. Papéis sociais como a docilidade ou a afetividade, são ainda reproduzidos socialmente, limitando e oprimindo mulheres na esfera doméstica, enquanto aos homens é reservado o espaço público. Dessa forma, mesmo esse processo sendo histórico e social, atinge de maneira diferente e opressora, apenas as mulheres. (Souza e Gálvez 2008, 10).

Em suas reflexões Sandra Garcia (1992, 165) afirma:

“O debate ecofeminista enfatiza o efeito das construções ideológicas nas

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diferentes inserções sociais devem afetar de forma diferenciada a vida das mulheres,

possibilitando diversas respostas à degradação do meio ambiente” (Garcia 1992, 165)

Tendo o que foi explicitado até agora enquanto pressupostos para a compreensão do pensamento ecofeminista, ao pensarmos a inserção dessa teoria ou linha de estudos, enquanto alternativa que contribui para um possível desenvolvimento sustentável temos que refletir sobre alguns aspectos. As contribuições das mulheres ao pensarem formas alternativas e criação de propostas que visem uma sustentabilidade, não devem ocorrer pelo simples fato de terem nascido mulheres, mas sim porque ocupam socialmente atividades que possuem particularidades e porque em resultado da sua vivência socialmente e historicamente construída, podem oferecer pontos de vistas que o pensamento masculino não consegue abranger. Mesmo a mulher ocupando grande parte da mão de obra no setor agrícola, seu trabalho ainda é invisibilizado e sem esse reconhecimento e as particularidades que são necessárias respeitando as questões de gênero, não se pode pensar em sustentabilidade. Só a partir disso podemos pensar em políticas equitativas e abrangentes que corroborem para o empoderamento das mulheres. (Siliprandi 2000, 70).

Mesmo compreendendo os limites que o pensamento ecofeminista possuí, se faz necessário o reconhecimento das contribuições que o mesmo tem a oferecer nas discussões referentes a problemática ambiental, incluindo a militância e as preocupações do movimento ecológico em relação ao feminismo e ao discutir a opressão que mulheres e natureza sofrem pelo poder patriarcal, o que se torna plausível levando em consideração a dicotomia entre homem e natureza. (Hernandez, 2010, 23)

Pensando em alternativas no processo de Desenvolvimento Sustentável, o ecofeminismo é uma das linhas de pensamento que pugna pelo reconhecimento do papel das mulheres na conservação da biodiversidade ao dar importância à cultura local, ao valorizar o conhecimento popular sobre o uso e manejo de recursos e ao estimular a participação no resgate e aumento da biodiversidade. As comunidades tradicionais desfrutam de um conhecimento que é produto de práticas milenares, que contribuem para o aumento da biodiversidade, não só enquanto diversidade genética de indivíduos e de espécies de diversos ecossistemas, mas também incluindo práticas de domesticação de espécies em algumas comunidades, como por exemplo, o caso da participação das mulheres (de comunidades rurais ou indígenas) na produção de hortas e plantas medicinais que contribuíram para o aumento da diversidade local. (Hernandez, 2010, 23)

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Diante do que foi explicitado, tanto a teoria feminista, quanto o ecofeminismo sofreram algumas modificações ao longo do tempo ou no mínimo foram abertas outras possibilidades de discussão para além dos objetivos iniciais, reconhecendo o protagonismo das mulheres, devido suas particularidades especificas. Dentre as três perspectivas do movimento ecofeminista, nota-se que a visão Construtivista8 tem maior similaridade com a categoria de análise gênero, visto que abandona a ideia de características intrínsecas ao sexo biológico.

Enquanto estudantes da temática gênero, ao pensarmos no movimento ecofeminista não podemos ter uma visão estratificada sem fazer os outros recordes de gênero, classe e etnia, visando uma reflexão completa que abarque uma noção de direito sem reforçar estereótipos, como exemplo, ao fazer analogia a “mãe natureza” e a condição biológica de ser mãe, visto que a maternidade não se

constitui em um dever feminino.

O ecofeminismo deu uma grande contribuição para o reconhecimento do protagonismo das mulheres que historicamente lutam contra a opressão que o patriarcado (perpassando pelo modo de produção capitalista) exerce sobre seus corpos e sobre a natureza. Ao olhar para a natureza enquanto um organismo de igualdade e que sofre o mesmo tipo de exploração, as ecofeministas questionam inclusive relações de poder que a sociedade reproduz diariamente sem questionar, buscando uma relação de paridade e dando visibilidade para as trabalhadoras do campo.

Ao trazer um conceito que busca uma nova forma de sociabilidade, que visa a equidade de gênero e que rompe com a dualidade entre cultura e natureza, valorizando assim, a igualdade entre povos, o ecofeminismo é de suma importância para colocarmos em pauta as problemáticas da sociedade contemporânea, como a divisão sexual do trabalho, a violência contra a mulher e a natureza, a reforma agrária nos países em desenvolvimento e os caminhos do Desenvolvimento Sustentável.

Para além de objetivos teóricos também é preciso ter em mente que a luta das trabalhadoras rurais nunca deixou de existir. Um exemplo disso é a inserção das mulheres em outros movimentos sociais rurais que abordam tanto a questão de gênero, quanto a problemática ambiental, como a Marcha das Margaridas, movimento feminista de trabalhadoras rurais no Brasil.

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4.1

Mulher e Ambiente: Desigualdades de gênero e o acesso aos recursos

naturais.

Como foi exposto na introdução o papel social que mulheres e homens compartilham com a natureza é diferente de acordo com as particularidades do contexto histórico e social de cada ser humano, da sua vivência na esfera individual, em família e em suas comunidades. Isso se materializa no acesso e na forma de utilização de recursos naturais, nos cargos de liderança e no processo de tomada de decisão.

Homens e mulheres sempre contribuíram de formas distintas na conservação e no gerenciamento dos recursos naturais. No princípio a mulher era coletora de alimentos e o homem responsável pela caça, papéis esses que se invertiam em determinados momentos e culturas, como exemplo em períodos de guerra. Muitas mulheres ainda são responsáveis pelo trabalho agrícola, determinados cultivos de plantas e criação de animais, na coleta de água potável e comida, assim como de madeira e biocombustíveis. Essas atividades mudam de acordo com o tempo e as particularidades de cada comunidade e o seu nível de desenvolvimento, bem como o espaço que ocupam dentro da dualidade urbano/rural. Mesmo compreendendo as diferenças agregadas á essas características, ao desempenhar essas funções as mulheres reproduzem e criam um conhecimento próprio, que é passado ao longo das gerações, deixando como herança um saber que é rico e que coloca a diversidade e a preocupação ambiental como preceito para a realização de tarefas ligadas a natureza. Além disso, as diferentes tarefas realizadas por mulheres são de suma importância na contribuição do desenvolvimento de suas comunidades. (Dankelman 2005, 04).

O relatório Gênero, Território e Ambiente (Gaspar e Queirós, 2009) complementa esse pensamento, refletindo sobre a importância em compreender os desafios com que homens e mulheres lidam ao se relacionar com as questões ambientais, reconhecendo as particularidades de cada gênero, que são resultado dos diferentes papéis sociais, relações e responsabilidades que exercem em cada contexto. Reconhecer essas individualidades é um dos primeiros passos para desconstruir a ideia de que as mulheres mesmo possuindo um vasto saber comum e realizarem tarefas que a conduta masculina não abarca, tem seu conhecimento limitado a parte prática, e por esse motivo consequentemente muitas vezes são excluídas dos espaços de elaboração e tomada de decisões. Dessa forma, as políticas e programas não atuam de modo equitativo, principalmente no que se refere a atividade agrícola e a preservação da biodiversidade, visto que não identificam as tais particularidades no trato dos recursos naturais. (Gaspar e Queiroz 2009, 53).

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públicas que tenham como objetivo a preservação do espaço natural reconhecendo as especificidades das mulheres que lidam com a questão ambiental diariamente, como foi mencionado, as mesmas não podem estar desligadas da esfera social, cultural e histórica da nossa sociedade. A igualdade de gênero para além de um direito é sine qua non, condição essencial para pensarmos desenvolvimento:

“Gender equality and equity are not only a question of fundamental human rights and social justice.

But as the World Bank and others have found: gender equality is essential for countries’ economies

and the success of development initiatives”(Özyol e Çobanoğlu 2013, 10)

As desigualdades de gênero se materializam em diversos setores da sociedade e um deles é o acesso a terra e o direito de produção, visto que mesmo as mulheres representando a maior força laboral no setor rural, em muitos países o direito a terra ainda é resultado de uma sociedade patriarcal, que priva através de leis e formas de financiamento um acesso não igualitário entre homens e mulheres. E para compreender essa desigualdade é necessário refletir sobre as condições da mulher no mercado de trabalho e econômico.

O acesso a crédito e o tratamento que mulheres recebem tanto de instituições públicas, como na esfera do mercado formal e informal também contém diferenças, que em diversos casos diminuem a oportunidade de acesso das mulheres ao financiamento e aos recursos. Como resultado dessas diferenças, as mulheres são responsáveis pela produção de 30 á 80 porcento do que se é produzido anualmente e que é gerenciado por homens. Um questionário do Banco Mundial, mostrou que 103 de 141 países onde a pesquisa foi realizada continuam a impor diferenças legais com base no gênero, que podem diminuir as oportunidades econômicas de mulheres. Isso se torna uma contradição, quando pensamos que dois terços da pulação mundial, ou seja 743 milhões de adultos, são mulheres. (Habtezion 2013, 02)

Tendo isso como pressuposto é necessário refletir que a posição de inferioridade que a mulher ocupa – em especial a mulher em situação de pobreza e em países em desenvolvimento – reduz a inserção da mesma no mercado de trabalho e consequentemente seu acesso a terra e aos meios de produção.

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relações de poder podem empoderar ou não sujeitos, e sua individualidade (mesmo que legal) não é tida com a devida importância. O patriarcado, principalmente em parte de países no continente Africano é outro fator que ainda fornece aos homens direitos legais, frente a mulheres, impossibilitando igualdade e equidade em um sistema de direitos de gênero desiguais que é necessário alterar.(Kamerimbote 2006, 44)

Mesmo as leis sendo neutras no que diz respeito a temática gênero, não significa que sua aplicação não seja genderizada. A maior parte das propriedades no Kenya são registradas no nome do homem mais velho da casa, bem como nas sociedades patriarcais. Isso significa que além de isentar a mulher do processo de ser proprietária legal do imóvel e assim excluída de todos os direitos que agregam ao título de proprietária, também não existe um suporte legal que defina como o homem titular da propriedade age perante os outros moradores do local, inclusive as mulheres. (Kamerimbote 2006, 45)

Outro fator importante é o papel que a mulher desempenha no processo de decisão no que se refere ao uso de recursos naturais, visto que a representação da mulher em cargos públicos e de liderança é minoria em quase todos os setores, isso também é refletido nos órgãos e associações ligadas a questão ambiental que reduz o poder feminino no processo de decisão, inclusive no que se refere a alternativas de adaptação e mitigação. Mulheres representam grande parte da mão de obra no setor agrícola e possuem um vasto conhecimento que pode contribuir para alternativas de mitigação, como as estações de semeadura, culturas regionais, árvores, variedades de ervas que prosperam em climas locais, variedades de comestíveis selvagens, seleção de sementes para armazenamento, preparação de biofertilizantes e biopesticidas, aplicação de estrume, manejo de pragas, processamento pós-colheita e adição de valor e outros. O reconhecimento desse conhecimento local é essencial no processo de decisão e ele só pode ser realizado em sua totalidade com a devida representação das mulheres nesses espaços. (Habtezion 2013, 03)

A ausência de mulheres não se restringe a espaços locais de decisão, globalmente apenas 17 porcento das vagas em gabinetes ministeriais e 19 porcento do parlamento no mundo são ocupadas por mulheres e num estudo realizado em Ilhas do Pacifico que estão em um processo de desenvolvimento econômico, cinco não tinham mulheres em nenhum cargo. (Habtezion 2013, 03)

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naturais – que é construído de acordo com os papéis sociais que a mulher desempenha em suas comunidades, famílias e sociedade - seja utilizado na elaboração das alternativas e soluções que busquem uma sociedade sustentável.

Para além da participação feminina em cargos políticos, outro aspecto a ser estudado é como e de que forma esse envolvimento acontece. Dados do Asia-Pacific Human Development Report on Gender (UNDP, 2011) mostram que mulheres tendem a ter uma maior preocupação no que se refere a questões ambientais e durante o processo de suporte em políticas, leis e projetos que visam a sustentabilidade, elas geralmente votam positivamente9. Essa preocupação pode ser revertida em

ganhos, que inclusive são essenciais para se pensar os objetivos do Desenvolvimento do Milénio. (Habtezion 2013, 01)

Pensar a participação de mulheres na elaboração de políticas públicas é essencial principalmente no contexto atual onde a problemática ambiental pede alternativas que visem à diminuição da degradação da natureza. Um dos motivos fundamentais é o fato de homens e mulheres serem afetados de formas diferentes pelas alterações do ambiente e do clima.

O estudo “The Gender Dimension of Climate Justice” (Anne Bonewit, 2015) mostra que no fenômeno de alterações climáticas as mulheres são as mais afetadas, visto que são maioria na população representada por pessoas em situação de pobreza, reduzindo assim suas possibilidades e de suas famílias de diminuir e amenizar as consequências no processo de alterações climáticas. Visto que o nível de desigualdade em países em desenvolvimento tende a ser maior, mulheres são ainda mais vulneráveis em tais contextos, um dos motivos é a disparidade no acesso a recursos, educação, e oportunidades de trabalho comparadas aos homens. Outro fator que vai de encontro a esses dados, é que mulheres também representam maioria na posição de chefes de famílias, responsáveis assim, pelo fornecimento de comida e todas as necessidades do núcleo familiar(Bonewit 2015, 06)

Reconhecendo a necessidade da inserção da questão de gênero no cenário político e o aumento da preocupação mundial no que se refere as questões ambientais, a temática passa a ser inserida no processo de reflexões e se torna pauta visando a igualdade no papel da mulher na utilização e preservação dos recursos naturais. Um exemplo é a IV Conferência Mundial sobre a Mulher: Igualdade, Desenvolvimento e Paz da UN realizada em Pequim, na China em 1995.

9Outra pesquisa realizada no ano de 2000 nos Estados Unidos da América revela que: “Similar proportions of men and

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Durante a conferência da UN em Pequim 1995, milhares de mulheres juntaram-se para discutir a Plataforma de ação, particularmente na seção K com o tema “Mulheres e Ambiente”, que

possuí três objetivos: o envolvimento de mulheres no processo de decisão nas mais diferentes instâncias; a integração da perspectiva de gênero em políticas e programas relacionadas ao desenvolvimento sustentável e por último, o fortalecimento e o planejamento de mecanismos no nível nacional, regional e nacional, para compreender o impacto das políticas ambientais e de desenvolvimento nas mulheres. (Dankelman 2005, 07)

Tendo essas reflexões como pressupostos, no decorrer do capítulo iremos pensar o conceito de Desenvolvimento Sustentável e as contribuições que a questão de gênero trás para a temática.

4.2

Desenvolvimento Sustentável

O termo Desenvolvimento Sustentável foi resultado de um processo histórico que remonta a segunda metade do século XX, onde a Assembléia Geral da ONU em 1961 estabeleceu a década de 1960 como a Primeira Década para o Desenvolvimento10, solicitando que os Estados membros e a

sociedade fortalecesse a coopereração internacional para que o processo de crescimento e autonomia enquanto nação fosse intensificado à nível econômico e social. Nessa década também se intensifica a

discussão sobre a questão ambiental, o livro “Silence Spring11” de Rachel Carson em 1962 e a criação

do Clube de Roma em 1968, que em 1972 publicou o estudo “Limites do Crescimento12”,

contribuíram para refletir sobre as formas de degradação e o uso insustentável dos recursos naturais. Nesse mesmo ano acontece a Conferência sobre o Meio Ambiente em Estocolmo13, organizada pela

ONU.

10 “The UN Secretariat, involving among others Hans Singer and Barbara Ward, published a report entitled ‘The Development Decade: Proposals for Action’ with a call to action in the introduction by then Secretary-General U Thant, who wrote: Development is not just economic growth, it is growth plus change. Change, in turn, is social and cultural as well as economic, and qualitative as well as quantitative. The key concept must be improved quality of life.”(Manifesto 2017,01)

11O livro “Primavera Silenciosa” - referência ao silêncio dos pássaros mortos pela contaminação dos agrotóxicos -, um

alerta para os males causados pelo dicloro-difenil-tricloro-etano (DDT). A autora foi alvo de inúmeras críticas constrárias pela indústria química, porém mais tarde contribuiu para o banimento do uso do (DDT) nos E.U.A e a criação da “United States Environmental Protection Agency”. (Bonzi, 2013, 212)

12Publicado em 1972, culmina o resultado do trabalho de investigação realizado por uma equipa do Massachusetts Institute

of Technology (MIT), coordenada pela Donella Meadows, a pedido do Clube de Roma, uma associação informal e internacional de empresários, estadistas e cientistas que se debruçavam sobre um vasto conjunto de assuntos, considerados cruciais para o futuro desenvolvimento da humanidade. O relatório foi construído baseado num modelo global articulado em cinco parâmetros: industrialização acelerada, forte crescimento populacional, insuficiência crescente da população de alimentos, esgotamento dos recursos naturais não renováveis e degradação irreversível do meio ambiente”. (Dias, 2015, 19)

13 Este evento constitui-se como um importante marco ambiental, não só pelo facto da elevada representatividade

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A criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento pela ONU em 1983, presidida pela Primeira Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, motivo pelo qual ficou conhecida como Comissão Brundtland foi resultado das discussões anteriores e tinha os seguintes objetivos: reexaminar as questões críticas relativas ao meio ambiente e formular propostas realistas para abordá-las; propor novas formas de cooperação internacional nesse campo para orientar as políticas e ações no sentido de promover as mudanças necessárias e dar a indivíduos, organizações voluntárias, empresas, institutos e governos uma melhor compreensão desses problemas. (Torreão 2007,105).

Segundo o Relatório Brundtland, de 1987 o conceito de Desenvolvimento Sustentável seria o

“desenvolvimento que corresponde às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”. Essa definição pensada de forma descolada das diretrizes para as execuções de políticas públicas é vaga, por isso se faz importante a criticidade (Nunes 2012 e Freitas 2014 e Lima 2003) na utilização do conceito e na criação e efetivação de políticas que visem atingir esse objetivo. (UN, Nosso futuro em Comum, 1987)

No que se diz respeito as principais diretrizes produzidos pela Comissão Brundtland (Relatório O Nosso Futuro Comum) foi destacado: “a) Política: limitação do crescimento populacional; garantia de alimentação a longo prazo; preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que admitem o uso de fontes energéticas renováveis; aumento da produção industrial nos países não-industrializados à base de tecnologias ecologicamente adaptadas; controle da urbanização selvagem e integração entre campo e cidades menores; satisfação das necessidades básicas. b) Política Externa: as organizações do desenvolvimento devem adotar a estratégia do desenvolvimento sustentável; a comunidade internacional deve proteger os ecossistemas supranacionais como a Antártica, os oceanos, o espaço; as guerras devem ser banidas; a ONU deve implantar um programa de desenvolvimento sustentável.” (Torreão 2007, 105 e 106)

Bond e Morrison-Saunders (2009, 321) consideram três aspectos enquanto intrínsecos ao conceito de Desenvolvimento Sustentável: a dimensão social, econômica e ambiental, considerando as interrelações entre os mesmos. Ainda segundo os autores o conceito teria três objetivos: crescimento econômico, a proteção do meio ambiente e a valorização e o bem estar do ser humano.

Torreão (2007) destaca pré-requisitos para se iniciar um processo de Desenvolvimento Sustentável: o papel que cada individuo desempenha e a importância do mesmo, enquanto ser

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Figura 2 . Região Norte: Nº de alunos inscritos em cursos superiores com formação ambiental, por gênero, 2007
Figura 5. Região Alentejo: Nº de alunos inscritos em cursos superiores com formação ambiental, por gênero, 2007
Figura 6. Região Algarve: Nº de alunos inscritos em cursos superiores com formação ambiental, por gênero, 2007

Referências

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