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ANTIGO PRÍNCIPE HOTEL EM JUIZ DE FORA: ANÁLISE DE PATOLOGIAS

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Academic year: 2021

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ANTIGO PRÍNCIPE HOTEL EM JUIZ DE FORA: ANÁLISE DE PATOLOGIAS

L. STEPHAN M. T. BARBOSA

Arquiteta Prof. Dr. Eng.ª Civil

PROAC/UFJF UFJF

Juiz de Fora (MG), Brasil Juiz de Fora (MG), Brasil

lina.arq@gmail.com teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br

RESUMO

O Patrimônio Histórico é uma testemunha viva da história e da cultura, que permite o conhecimento das sociedades passadas. O presente artigo trata do Antigo Príncipe Hotel, construído no início do século XX pela construtora Pantaleone Arcuri & Spinelli, localizado no centro econômico de Juiz de Fora, que surgiu a partir do assentamento da Estrada de Ferro Dom Pedro II. Atualmente este núcleo urbano é reconhecido pelo seu grande valor histórico, artístico e arquitetônico e sua revitalização tem estado em voga nos últimos anos. Este trabalho analisa o estado de conservação do Antigo Príncipe Hotel e a partir desta, contribui com práticas de conservação do Patrimônio Histórico, a fim de preservar a integridade física de um dos imóveis que constituem a memória da cidade.

1. INTRODUÇÃO

A instalação das ferrovias teve impactos que se relacionam com a configuração da malha urbana das cidades. Na cidade de Juiz de Fora, localizada na região da Zona da Mata, no estado de Minas Gerais, elas influenciaram na reorganização dos espaços já consolidados e tornaram-se um elemento delimitador de novas áreas.

A inauguração da Estação Ferroviária de Juiz de Fora (1877) permitiu que as ruas Halfeld e Marechal Deodoro se consolidassem como “eixos comerciais” onde se concentram sistemas de serviço e de comércio, atendendo a demanda em escala regional, surgind, portanto, diverosos hotéis, comopor exemplo, o Hotel Renascença, o Príncipe Hotel e o Hotel São Luiz, que objetivaram acomodar os estrangeiros e viajantes que fornavam a “massa fervilhante” do comércio e das fábricas instaladas nas regiões vizinhas.

O Príncipe Hotel, construído na década de 20, com projeto de autoria de Raphael Arcuri, foi construído com fins comerciais no pavimento térreo e hotelaria no segundo pavimento. Entretanto, atualmente, é um espaço pouco utilizado, limitando-se somente ao comércio, onde ocorreram inúmeras intervenções, muitas vezes negligentes, mas necessárias às “adequações de espaço”.

O objetivo geral, desse trabalho, é efetuar uma análise do atual estado de conservação do “Antigo” Príncipe Hotel” (fachadas, ambientes internos e cobertura) através do levantamento das manifestações patológicas, bem como propor medidas corretivas a serem adotadas a fim de contribuir com soluções e práticas de conservação ao Patrimônio Histórico. No desenvolvimento da análise do estado do imóvel, foi realizado um diagnóstico sobre o estado de conservação e grau de caracterização das fachadas, da cobertura, do interior e dos anexos originais através de uma minunciosa análise visual, acompanhada de registro fotográfico e mapeamento de danos.

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2. IMPORTÂNCIA HISTÓRICA, ARTÍSTICA E CULTURAL

A Praça Dr. João Penido (Praça da Estação) tem seus imóveis tombados pelo Decreto no 6.614 de 29 de dezembro de 1999 [1], pois reproduzem os estilos arquitetônicos dos séculos XIX e início do XX formando um núcleo histórico, arquitetônico e urbano de alta relevância.

O edifício do Antigo Príncipe Hotel (vide Figura 1), situado num lote de esquina possuindo a fachada lateral para a Rua Halfeld e a fachada principal voltada para a Rua Paulo de Frontin (Praça João Penido), e protegido municipalmente pelo Decreto de n0 6.553 de 8 de novembro de 1999 [2], aprovado pela Comissão Permanente Técnico Cultural – CPTC. Sua implantação segue a tendência construtiva da época, sem afastamentos, ou seja, ocupação quase integral do lote.

Figura 1: Fachada do Princípe Hotel (entre a Rua Paulo de Frontin (Praça João Penido) e a Rua Halfeld) Constatam-se nas fachadas do edifício, vãos esguios decorados nos peitoris e nas sobrevergas (conforme ilustrado na Figura 2), sendo divididas em painéis delimitados por pilares que apresentam a ornamentação com elementos: zoomorfos, fitomorfos, elementos de massa e estuque e molduras. A platibanda é vazada por detalhes em círculos, arqueados e com apliques florais, como nos pequenos frontões.

Atualmente o edifício é ocupado com sete lojas no andar térreo, cada uma delas necessitou efetuar adequações no espaço do imóvel a fim de atenter suas necessidades. No segundo pavimento, existem vinte e seis quartos abandonados, conforme o projeto original.

Figura 2: Elementos decorativos feitos de massa e estuque

3. DIAGNÓSTICO

O diagnóstico do Estado de Conservação foi importante para avaliar as atuais condições do imóvel, sendo realizado através de uma minuciosa análise visual. Nos critérios de avaliação adotou-se as seguintes denominações: Muito bom

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Bom (edificação sem interferências de fatores de deterioração); Regular (presença moderada das ações dos fatores de

deterioração com a presença de desintegrações parciais de elementos arquitetônicos) e Ruim (presença significativa de ações de fatores de deterioração e desintegrações totais de elementos arquitetônicos. Os resultados encontram-se ilustrados no Tabela 1.

Tabela 1- Estado de Conservação

LOCALIZAÇÃO AVALIAÇÃO

Muito Bom Bom Regular Ruim

Fachada principal - - x -

Fachada lateral esquerda - - - -

Fachada lateral direita - - x -

Fachada posterior - - x -

Cobertura - - x -

Interior - - x -

Anexos originais - - - -

Analisando as informações contidas no Tabela 1 verifica-se que: as fachadas principal, lateral direita (Rua Halfeld) e posterior, a cobertura e o interior, apresentam um estado regular de conservação, sendo onservados algumas deteriorações nos elementos arquitetônicos. Em seguida, efetuou-se uma análise do nível de degradação em relação às características originais (vide Tabela 2), resultando nas seguintes informações: Caracterizados (quando as características originais eram mantidas); Descaracterizados recuperáveis (quando a recuperação dos elementos arquitetônicos alterados é possível a partir de informações obtidas na própria edificação) e Descaracterizados

irrecuperáveis (quando a recuperação dos elementos arquitetônicos alterados não é possível a partir de dados

disponíveis na própria edificação).

Tabela 2 - Estado de Conservação

Segundo os dados abordados no Tabela 2 verifica-se que as fachadas (principal e posterior) e o interior encontram-se “descaracterizados recuperáveis”, permitindo a recuperação e restauração dos elementos arquitetônicos; a cobertura está “caracterizada”, ou seja, mantém as características originais; as paredes das fachadas laterais não puderam ser analisadas devido a dificuldade de acesso ao local. No que se refere ao mapeamento dos danos, observou-se as seguintes manifestações patológicas:

a) Cobertura: verificaram-se diversas telhas cerâmicas danificadas (quebradas) na cobertura original e na região

anexa, onde foi empregado telhas de alumínio, bem como presença de infiltrações de água decorrentes, também, dos vazamentos nas instalações hidráulicas, observados nas fachadas principal e posterior, conforme ilustrado na Figura 3. Esse fato resulta no comprometimento da vida útil dos materiais, como por exemplo,

LOCALIZAÇÃO AVALIAÇÃO Caracterizados Descaracterizados Recuperáveis Descaracterizados Irrecuperáveis Fachada principal - x -

Fachada lateral esquerda - - -

Fachada lateral direita - x -

Fachada posterior - x -

Cobertura x - -

Interior - x -

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esquadrias, revestimento das fachadas, constatada, inclusive, através da presença de microorganismos (fungos e bolores).

Figura 3: Imagem do telhado com telhas quebradas

b) Trincas e fissuras: a sobrecarga estrutural oriunda do zimbório existente no imóvel compromete a segurança

do imóvel que, atualmente, apresenta uma inclinação aparente, sendo, portanto, uma intervenção imediata a ser ralizada a fim de garantir a integridade física da edificação, vide Figura 4.

Figura 4: Vista do zimbório existente na edificação

c) Negligencia: um dos grandes problemas encontrados no imóvel é a falta de manutenção decorrente do

abandono por parte dos proprietários. Essa negligência foi observada, por exemplo, no interior dos quartos e nas fachadas, onde houve substituição de materiais desrespeitando a integridade da construção, bem como destaca-se, conforme ilustado na figura 5, as alterações errôneas, ocorridas nas últimas décadas.

Térreo Segundo pavimento

Área construída anexada ao imóvel original.

Figura 5: Croqui esquemático

d) Fachadas: ao longo de sua história as fachadas do edifício sofreram intervenções que descaracterizaram tanto

dos ornamentos, quanto das esquadrias originais. Atualmente verfica-se a presença de letreiros, toldos, grades, nos estabelecimentos comerciais. Nas fachadas (principal e lateral) ocorreram a substituição dos acabamentos

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por revestimentos cerâmicos contemporâneos, bem como as esquadrias que, atualmente, são de material metálico e abertura de novos vãos nas dependências dos estabelecimentos comerciais;

4. INTERVENÇÕES A SEREM REALIZADAS

Para o estudo do patrimônio arquitetônico se faz necessário, a combinação de conhecimentos específicos: científicos e culturais, assim como o uso de experiência na área. Os dados obtidos na pesquisa histórica e nas avaliações das condições atuais permitem a definição das intervenções de conservação que resgatarão a potencialidade da concepção arquitetônica da edificação. O objetivo desse estudo é salvaguardar a integridade física, o valor histórico e cultural de um edifício como um todo [3]. Neste contexto sugere-se:

i) Infiltrações:

- Substituição das telhas cerâmicas quebradas na cobertura original por novas e efetuar a limpeza das demais;

- Revisão do sistema de escoamento de água pluvial (rufos, calhas, etc), bem como das instalações hidráulicas se necessário providenciar a desobstrução dos mesmos e/ou a substituição a fim de garantir a bom funcionamento e a integridade da edificação através do perfeito funcionamento de ambos não permitindo o acesso da água que poderá ocoasionar manchas de umidade e comprometer a estanqueidade da edificação.

ii) Materiais e componenetes:

- Substituir os materiais e esquadrias que se encontram danificados, por réplicas desenvolvidas a partir de padrões originais. No caso de restauração, estas devem ser limpas e lixadas, se for o caso, descupinizadas para em seguida receber o tratamento de pintura. É importante ressaltar que: “Os elementos destinados a substituir as partes faltantes devem integrar-se harmoniosamente ao conjunto, distinguindo-se, todavia, das partes originais a fim de que a restauração não falsifique o documento de arte e de história.” - Art.12O, Carta de Veneza [4].

- Limpeza e remoção dos microorganismos presentes nas fachadas e recomposição do material de revestimento; - Reconstrução de novos ornamentos a serem aplicados onde houver necessidade de sua retirada;

- Emprego de novos revestimentos cerâmicos conforme o original.

iii) Fissuras:

- Efetuar a avaliação da sobrecarga estrutural oriunda do zimbório, ou seja, efetuar uma avalição da estrutura do madeiramento que o suporta, substituindo as peças defeituosas por peças novas e mais resistentes ou reforçar com estrutura metálica.

iv) Artefatos contemporâneos:

- Retirada dos letreiros, toldos, grades, pois descaracterizam as fachadas. - Efetuar uma repintura conforme a original.

Na solução a ser adotada nas remoções, substituições e modificações, deve-se considerar:

I) Artigo 19º da Carta de Burra: “A reconstrução deve se limitar à reprodução de substâncias cujas características são conhecidas graças aos testemunhos materiais e/ou documentais. As partes reconstruídas devem poder ser distinguidas quando examinadas de perto”. [5].

II) As intervenções deverão ser complementadas com o esquema de manutenção e de preservação permanente visando a sustentabilidade de toda a estratégia de conservação proposta considerando que a “Restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional.” - Art.4O , Carta de Veneza [4].

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5. CONCLUSÕES

Durante o desenvolvimento do trabalho foi destacada a relevância da edificação na memória e na identidade juiz-forana e sua importância no processo de crescimento da cidade. “O monumento assegura, acalma, tranqüiliza conjugurando o ser do tempo. Ele constitui uma garantia das origens e dissipa a inquietação gerada pela incerteza dos começos.” [6]. Além de ser uma testemunha de alguma grande potência ou grandeza de séculos passados.

O diagnóstico levantado na análise das condições atuais revelou vários problemas na estrutura física da construção, demonstrando a negligência ao qual está submetida e as ações do tempo. As soluções (intervenções) sugeridas a cada uma das manifestações patológicas foram baseadas nas recomendações das cartas patrimoniais que tangem os princípios formadores da Restauração e Conservação dos Bens Culturais.

Espera-se que essa pesquisa possa contribuir com soluções técnicas e científicas, e práticas de conservação do Patrimônio Histórico e que este trabalho seja o precursor de futuros projetos.

6. REFERÊNCIAS

[1] DIPAC/JUIZ DE FORA, Decreto N.o 6553, de 8 de novembro de 1999 – Dispõe sobre o tombamento do imóvel

localizado à Praça Dr. João Penido, n.o 60,62,70 e 74, esquina com Rua Halfeld n.o 260,266,272,278.

[2] DIPAC/JUIZ DE FORA, Decreto N.o 6614, de 29 de dezembro de 1999 – Cria os núcleos históricos que

menciona.

[3] ICOMOS. Recomendações para a Análise, Conservação e Restauro Estrutural do patrimônio Arquitetônico, Linhas de Orientação. Carta do ICOMOS, 2003.

[4] IPHAN. Carta de Veneza. II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, ICOMOS. Veneza, 1964.

[5] IPHAN, Carta de Burra. Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, ICOMOS. Burra, 1980.

[6] CHOAY, F. A alegoria do patrimônio, tradução de Luciano Vieira Machado – São Paulo: Estação da Liberdade:

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