O Exército Brasileiro na Operação Acolhida
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
CEL CAV ALESSANDRO PAIVA DE PINHO
Rio de Janeiro 2019
O Exército Brasileiro na Operação Acolhida
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito para a obtenção do título de especialista em Política, Estratégia e Alta Administração do Exército.
Orientador: CEL CAV OTHON GOMES MELLO
Rio de Janeiro 2019
P654e Pinho, Alessandro Paiva de
O Exército Brasileiro na Operação Acolhida / Alessandro Paiva de Pinho - 2019
61 f.;; il.: 30 cm.
Orientação: Cel Cav Othon Gomes Mello
TCC (especialização em Política, Estratégia e Alta Administração do Exército) - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2019.
Bibliografia: f.57 - 61.
1. EXÉRCITO BRASILEIRO 2. OPERAÇÃO ACOLHIDA 3. RORAIMA 4.
MIGRAÇÃO I. Título
CDD 355.03
O Exército Brasileiro na Operação Acolhida
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito para a obtenção do título de especialista em Política, Estratégia e Alta Administração do Exército.
Aprovado em ___________________ de 2019.
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________
Othon Gomes Mello – Cel - Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME)
___________________________________________________________
Ricardo Moussallem – Cel - Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME)
___________________________________________________________
Celso Fabiano Vianna Braga – Cel R1- Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME)
À minha esposa Bárbara e filhas Beatriz e Júlia, pela compreensão e paciência nos momentos em que estive dedicado a essa pesquisa.
Inicialmente, quero agradecer à Deus por estar sempre com a saúde e disposição necessárias `a condução da atividade de pesquisa.
Agradeço a minha família pela presença e exemplos que forjaram meu caráter de cidadão e de profissional.
Ao meu orientador Coronel Othon, que, muito mais do que um orientador paciente e presente, foi um amigo que facilitou sobremaneira a execução deste Trabalho de Conclusão de Curso.
Ao Exército Brasileiro que me proporcionou uma vida profissional repleta de realizações e que sempre nos desafia a continuar o processo de aprendizado.
O presente trabalho tem como tema a atuação do Exército Brasileiro na Operação Acolhida, em resposta a crise migratória na fronteira entre Brasil e Venezuela. A proposta foi analisar o modelo empregado pela Força Terrestre para cumprir a missão recebida do Governo Federal para reduzir os problemas advindos da migração de venezuelanos pela fronteira entre Brasil e Venezuela.
Outro objetivo é identificar se esse modelo poderá ser apontado como um paradigma a ser copiado pelas organizações que tratam do tema migração. Para tanto, aborda-se num primeiro momento a concepção teórico-metodológica, na sequencia será analisada a legislação que amparou o uso das Forças Armadas nesse tipo de operação, em seguida fomo o Exército Brasileiro liderou o cumprimento da missão e coordenou as demais Forças e finalmente serão apresentados os resultados alcançados pela gigantesca estrutura montada na Operação Acolhida. A metodologia adotada foi a abordagem qualitativa com o objetivo de responder à questão de estudo por meio de uma observação direta e subjetiva do objeto analisado.
Para isso foi realizada uma revisão bibliográfica, buscando aprofundar conhecimentos a respeito do emprego do Exército Brasileiro na Força Tarefa de Ajuda Humanitária, iniciada em fevereiro de 2018, na qual, milhares de migrantes venezuelanos foram recebidos, acolhidos e interiorizados no Brasil, em uma das maiores operações do gênero executada em território americano.
Além disso, A experiência pessoal profissional foi relevante nessa pesquisa, já que houve participação efetiva do autor na condução da Operação Acolhida na função de Comandante do 1º Batalhão Logístico de Selva, organização militar do Exército Brasileiro responsável pelo apoio logístico no Estado de Roraima.
O Estado brasileiro reconheceu a situação de vulnerabilidade do Estado de Roraima (Decreto Presidencial nº 9.285) e criou um Comitê Federal de Assistência Emergencial (Decreto Presidencial nº 9.286) com a finalidade de coordenar as ações de cunho humanitário em função do fluxo de refugiados na fronteira de Roraima a partir de 2015. A execução da resposta brasileira se fez por uma operação interministerial, interagências, com participação de organismos não-governamentais e entidades da sociedade, e liderada pelo Exército Brasileiro, que conseguiu criar um paradigma de destaque na atuação
PALAVRAS-CHAVE: Exercito Brasileiro, Operação Acolhida, Roraima , Migração.
RESUME
The present work has as its theme the performance of the Brazilian Army in Operation Acolhida, in response to the migratory crisis on the border between Brazil and Venezuela. The proposal was to analyze the model used by the Ground Force to fulfill the mission received from the Federal Government to reduce the problems arising from the migration of Venezuelans through the border between Brazil and Venezuela. Another objective is to identify if this model can be pointed as a paradigm to be copied by organizations that deal with the migration theme. To this end, the theoretical-methodological conception is firstly approached, and then the legislation that supported the use of the Armed Forces in this type of operation will be analyzed. Then, the Brazilian Army led the accomplishment of the mission and coordinated the other Forces. Finally, the results achieved by the gigantic structure assembled in Operation Acolhida will be presented. The methodology adopted was the qualitative approach aiming to answer the study question through a direct and subjective observation of the object analyzed.
To this end, a literature review was conducted, seeking to deepen knowledge about the use of the Brazilian Army in the Humanitarian Task Force, which began on Feb 2018, in which thousands of Venezuelan migrants were received, welcomed and internalized in Brazil, in one of the largest operations of this kind performed on US territory.
In addition, the professional personal experience was relevant in this research, since there was effective participation of the author in conducting Operation when was a Commander of the 1st Jungle Logistics Battalion, a military organization of the Brazilian Army responsible for logistical support in the state of Roraima.
The Brazilian State recognized the vulnerable situation of the State of Roraima (Presidential Decree No. 9,285) and created a Federal Emergency Assistance Committee (Presidential Decree No. 9,286) to coordinate humanitarian actions due to the flow of refugees at the border. Roraima from 2015. The Brazilian response was implemented through an inter-ministerial, interagency operation, with the participation of non-governmental organizations and societal entities, and led by the Brazilian Army, which managed to create a prominent paradigm
KEYWORDS: Venezuelan crisis, immigration, Brazil, refugee, reinstalation.
ACNUR Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
ANVISA Agência de Vigilância Sanitária
CF Constituição Federal
CTV Confederação dos Trabalhadores da Venezuela
DP EB
Decreto Presidencial Exército Brasileiro
EUA Estados Unidos da América
FFAA Forças Armadas
FMI Fundo Monetário Internacional
FT Força Tarefa
FT Log Hum Força Tarefa Logística Humanitária
GU Grande Unidade
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
MD Ministério da Defesa
MDS Ministério de Desenvolvimento Social
MP Medida Provisória
MS Ministério da Saúde
OEA Organização dos Estados Americanos
OIM Organização Internacional para Migração
OIR Organização Internacional de Refugiados
ONG Organização Não-Governamental
PEF Pelotão Especial de Fronteira
PF Polícia Federal
PIB Produto Interno Bruto
RF Receita Federal
RR Roraima
UG Unidade Gestora
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
VIGIAGRO Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional 1ª Bda Inf Sl 1ª Brigada de Infantaria de Selva
FIGURA 1 Logotipo da Operação Acolhida
FIGURA 2 Fluxo de atendimento ao migrante
FIGURA 3 Base de Pacaraima/RR
FIGURA 4 Distribuição de abrigos pela cidade de Boa Vista/RR FIGURA 5
FIGURA 6
Processo de interiorização Estrutura em Pacaraima/RR
FIGURA 7 Estrutura em Pacaraima/RR
FIGURA 8 Alojamento BV-8 em Pacaraima/RR
FIGURA 9 Posto de Atendimento Avançado em Pacaraima/RR
FIGURA 10 Posto de Triagem em Boa Vista/RR
FIGURA 11 Posto de Informações, Guarda volumes e Área de Pernoite
FIGURA 12 Abrigo Hélio Campos
FIGURA 13 Abrigo Jardim Floresta
FIGURA 14 Abrigo Tancredo Neves
FIGURA 15 Abrigo São Vicente
FIGURA 16 Abrigo Nova Canaã
FIGURA 17 Sequência de Interiorização
QUADRO 1 Organização do Estado- Maior da FT Log Hum
QUADRO 2 Integrantes de cada célula do Estado- Maior
QUADRO 3 Interiorização pelos Estados da Federação
QUADRO 4 Entrada de Venezuelanos
1 INTRODUÇÃO... 15
2 METODOLOGIA... 19
3 O AMPARO JURÍDICO AO USO DO EB NA OPERAÇÃO ACOLHIDA... 21 4 O EXÉCITO BRASILEIRO NA OPERAÇÃO ACOLHIDA... 26
4.1 O FLUXO DE IMIGRANTE VENEZUELANO PELAS ESTRUTURAS NA FRONTEIRA... 33 4.2 O PROCESSO DE INTERIORIZAÇÃO... 37
5 RESULTADOS ALCANÇADOS PELA OPERAÇÃO ACOLHIDA... 40
5.1 A ESTRUTURA EM PACARAIMA... 41
5.1.1 Base em Pacaraima... 42
5.1.2 Posto de Triagem e Posto de Atendimento avançado em Pacaraima-RR... 43 5.1.3 Abrigo Janokoida para indígenas em Pacaraima-RR... 44
5.1.4 Alojamento BV-8 para imigrantes não indígenas em Pacaraima... 44
5.1.5 Estrutura de saúde para os imigrantes em Pacaraima... 45
5.2 A ESTRUTURA EM BOA VISTA –RR... 46
5.2.1 A Área de Apoio `a FT Log Hum em Boa Vista –RR... 46
5.2.2 Posto de Triagem em Boa Vista –RR... 46
5.2.3 Posto de Informações, Guarda Volumes e Área de pernoite de Boa Vista- RR... 47 5.2.4 Abrigo Pintolândia em Boa Vista-RR... 48
5.2.5 Abrigo Hélio Campos em Boa Vista –RR... 48
5.2.6 Abrigo Jardim Floresta em Boa Vista-RR... 49
5.2.7 Abrigo Tancredo Neves em Boa Vista- RR... 50
5.2.8 Abrigo São Vicente em Boa Vista-RR... 50
5.2.9 Abrigo Nova Canaã em Boa Vista-RR... 51
5.2.10 Abrigo Latife Salomão em Boa Vista-RR... 52
5.2.11 Abrigo Santa Teresa em Boa Vista-RR... 52
5.2.12 Abrigos do Setor Militar Marechal Rondon em Boa Vista –RR... 52
5.3 PROCESSO DE INTERIORIZAÇÃO DA OPERAÇÃO ACOLHIDA... 53
6 CONCLUSÃO... 55
1 INTRODUÇÃO
A Operação Acolhida foi a maior operação de ajuda humanitária ocorrida na América do Sul e teve como fato gerador uma nova realidade mundial: a migração humana
A migração, em suma, é um movimento populacional simbolizado pela travessia de uma fronteira internacional ou de um Estado, que compreende qualquer deslocamento de pessoas, independentemente da extensão, da composição ou das causas;; inclui a migração de refugiados, pessoas deslocadas, pessoas desenraizadas e migrantes econômicos (MIGRAÇÕES, 2009).
Segundo Milesi (2012) “…podemos considerar que os deslocamentos humanos permeiam diferentes fases da história da humanidade. Individual ou coletiva, a mobilidade humana contemporânea é motivada por diferentes circunstâncias e fatores ligados de algum modo a uma sociedade complexa, mais marcada pelos desequilíbrios sócio-econômicos, pela violência e intolerância do que pelo respeito à igualdade e à dignidade humana. Os refugiados, vulneráveis entre os vulneráveis, são a crua expressão das desordens e desequilíbrios mundiais.”
Nos últimos anos, a migração internacional tornou-se uma realidade global.
O mundo assistiu, perplexo, diversos eventos de destaque, alertando para o início de uma nova tendência: os povos, ao enfrentar problemas em suas pátrias, passaram a deixar seus países com uma facilidade nunca antes vista. Desde as migrações do norte da África com direção `a Europa, até o imenso contingente de pessoas que, fugindo dos graves problemas na Síria, buscaram diversos países na Europa, o que se viu foi um processo que causou o colapso e a degradação em algumas das mais estruturadas e desenvolvidas sociedades no velho continente, sobretudo na França e na Alemanha. É, sem dúvida, um fenômeno de relevância mundial, tanto para os países de destino como para os de origem ou os de trânsito (ARAGON, 2009). Esse fenômeno prescinde o conhecimento um tanto quanto aprofundado do conceito de fronteira. Fronteira, no entendimento comum das pessoas, é uma linha que contorna o território de um Estado soberano. A fronteira é definida em relação a um espaço estruturado
e sua potencialidade alternativa é circunscrita a limites impostos pela formação social (BECKER, 2015)
A migração transfronteiriça ocorre ao longo da fronteira com nuances particulares na fronteira com cada país. A melhoria das vias de acesso, as iniciativas de integração regional, os acordos diplomáticos bilaterais e a precária fiscalização são alguns dos fatores que fortalecem a migração transfronteiriça (ARAGON, 2009, p. 30), além da própria condição interna dos países de origem.
Segundo Jabiluti(2012), quanto aos refugiados, trata-se de uma
população vitimada em seus direitos mais fundamentais, uma vez que são refugiadas as pessoas que têm bem-fundado temor de perseguição, em função de sua raça, religião, nacionalidade, opinião política ou pertencimento a um grupo social;; que estejam fora de seu Estado de origem e/ou residência habitual;;
e que sejam carecedores e merecedores de proteção internacional. Ou seja, são pessoas que não podem contar com a proteção de seus Estados prescindindo do auxílio da comunidade internacional e contando com a solidariedade dos demais Estados e sociedades civis.
A Venezuela, fruto de politicas públicas equivocadas e governos socialistas, experimentou rápida degradação de sua estrutura econômica, sobretudo no final do governo de Hugo Chaves e nos governos do atual presidente Nicolás Maduro. A falta de diversificação econômica – com a economia centrada na venda de petróleo- e a baixa do barril de petróleo no mercado internacional mergulharam o país vizinho na maior crise politica, econômica e social que a Venezuela já enfrentou, gerando a maior inflação do mundo e uma taxa de desemprego cada vez mais elevada. Essa situação tem impulsionado a saída em massa de venezuelanos, sobretudo para os EUA, Brasil, Peru e Colômbia. Tal quadro criou uma massa de refugiados que se espalharam pelos continentes, sobretudo na América do Sul, com destaque para a Colômbia, Peru e Brasil.
O modelo bolivariano sofreu ainda mais com a derrota do partido do presidente Maduro nas eleições parlamentares de 2015, quando a oposição conquistou a maioria no legislativo venezuelano, iniciando período de forte turbulência política. A partir de 2015, o fluxo dos venezuelanos para outros países aumentou. (SIMÕES, 2017). Com o clima de tensão popular e o agravamento da crise, os venezuelanos iniciaram um processo de imigração
para países que pudessem dar melhores condições de vida. (EVANGELISTA, 2017). À guisa de ilustração, o número de solicitantes de refúgio venezuelanos passou de 280, em 2015, para 2.233, em 2016, e, até junho de 2017, 6.438 venezuelanos deram entrada na solicitação de refúgio na capital roraimense (SIMÕES, 2017).
A entrada de grande número de migrantes venezuelanos, entre os anos de 2016-2018, degradou os serviços públicos no Estado de Roraima, levando ao colapso os sistemas de saúde e de apoio social. Cabe ressaltar que Roraima é um estado com cerca de 550 mil habitantes, o que potencializa ainda mais os problemas, uma vez que a entrada de milhares de estrangeiros comprometeu a estrutura de uma região em que a população já sofria com o afastamento dos grandes centros e com a falta de uma infraestrutura estatal. Nesse sentido, tal situação lançou forte pressão sobre o Governo do estado, que por sua vez iniciou movimento de comprometimento do Governo Federal para a busca de uma solução duradoura para o aumento do número de migrantes que eram vistos vagando pelas ruas e semáforos da capital Boa Vista. O aumento do número de roubos, furtos e outros crimes foi apenas a ratificação da situação emergencial na região.
Com isso, o Estado Brasileiro foi impelido a intervir, desencadeando o planejamento para reduzir ou mitigar os problemas regionais e nacionais criados com a migração venezuelana. Para isso, em 2018, foi criado um grupo multidisciplinar englobando diversos ministérios, ficando a cargo da Defesa, e particularmente sob coordenação do Exército Brasileiro, o planejamento e controle da operação que foi desencadeada para receber, catalogar, acolher e internalizar os migrantes que entrassem no Brasil: A Operação Acolhida
O Exército Brasileiro recebeu a determinação do Governo Federal para coordenar e, principalmente, liderar a operação desencadeada pelo Estado Brasileiro para mitigar os problemas advindos da entrada de migrantes venezuelanos pela fronteira do estado de Roraima com a República Bolivariana da Venezuela. Um complexo caso de migração humana no subcontinente sul-
americana. Após quase um ano desde sua criação, a missão cumprida pelas FFAA e, em particular pela Força Terrestre, redundou em diversos ensinamentos, nas áreas de logística, administração, justiça, pessoal, doutrina, entre outros.
Assim, o problema do presente estudo é enunciado por meio do seguinte questionamento: A Operação Acolhida pode ser um paradigma para futuras operações de ajuda humanitárias no Brasil e no mundo?
No sentido da resolução de tal problemática, com fundamentação teórica e adequada profundidade de investigação, o seguinte objetivo geral foi definido:
analisar e avaliar a forma como o Exército Brasileiro atuou na coordenação e execução da Operação Acolhida e de que forma esse “modus operandi” pode ser replicado para futuras operações humanitárias do gênero no Brasil e no mundo.
A fim de viabilizar a consecução do objetivo geral do presente estudo, os seguintes objetivos específicos foram formulados:
- Analisar as legislações brasileiras vigentes referentes ao refugiado e ao migrante e delimitadoras da missão do EB em Roraima;;
- Estudar o emprego do EB na Operação Acolhida, em 2018, no estado de Roraima
- Apresentar os ensinamentos alcançados pela operação
Do que foi tratado como objetivos do presente trabalho, e para a resposta ao problema, a hipótese a ser trabalhada é que “ Devido as capacidades do Exército Brasileiro e sua participação em ações subsidiárias, foi possível a criação de um paradigma brasileiro para tratar o problema da migração no País”.
Nesse sentido, espera-se encerrar essas questões e verificar a hipótese nos capítulos que se seguem.
2 METODOLOGIA
Conforme afirma Howard Becker, “toda pesquisa tem o propósito de resolver um problema específico que [...] não é parecido com nenhum outro problema, e deve fazê-lo dentro de um ambiente específico de todos os que existiram antes” (BECKER, 1993, pp. 12-13). Assim, será verificado a viabilidade do Exército Brasileiro utilizar o paradigma da Operação Acolhida para futuras missões desse mesmo espectro.
A proposta da pesquisa é seguir a abordagem qualitativa com o objetivo de responder à questão de estudo por meio de uma observação direta e subjetiva do objeto analisado.
Para isso será realizada uma revisão bibliográfica, buscando aprofundar conhecimentos a respeito do emprego do Exército Brasileiro na Força Tarefa de Ajuda Humanitária, iniciada em Fev 2018, na qual, milhares de migrantes venezuelanos foram recebidos, acolhidos e interiorizados no Brasil, em uma das maiores operações do gênero executada em território americano.
A experiência pessoal profissional também será relevante nessa pesquisa. Como Comandante do 1º Batalhão Logístico de Selva, localizado em Boa Vista, no Estado de Roraima, tive a oportunidade de acompanhar, desde o final de 2016 até o final do ano de 2018, toda a evolução da crise venezuelana e o afluxo de venezuelanos pela fronteira binacional. Além disso, a participação do Batalhão foi primordial para a instalação dos diversos abrigos na cidade de Boa Vista. Por isso também será utilizada a técnica de observação participante:
Segundo Moreira (2002, p. 52), a observação participante é conceituada como sendo “uma estratégia de campo que combina ao mesmo tempo a participação ativa com os sujeitos, a observação intensiva em ambientes naturais, entrevistas abertas informais e análise documental”. O autor explica que essa técnica foi impulsionada por um grupo de estudiosos da Escola de Chicago, que fizeram pesquisas de campo, estudando e observando grupos sociais da zona urbana, na década de 20. O interesse principal desses pesquisadores era interagir com os informantes, compartilhar suas rotinas, preocupações e experiências de vida, colocando-se no lugar dos sujeitos observados, tentando entendê-lo. Ainda segundo Moreira, o principal produto dessa observação participante é o que se conhece por relato etnográfico, entendido como “relatos detalhados do que acontece no dia-a-dia das vidas dos sujeitos e é derivado das notas de campo tomadas pelo pesquisador” (MOREIRA, 2002, p.52).
Quanto aos procedimentos técnicos, a presente pesquisa adotará a pesquisa de fontes bibliográfica e documental.
Como também será uma pesquisa documental, serão analisados os arquivos públicos e particulares, relacionados ao processo de migração venezuelana e do emprego do Exército Brasileiro. Ressalta-se que esses arquivos não se limitam apenas aos físicos, incluindo, também, os eletrônicos.
Páginas da rede mundial de computadores que façam referência ao assunto serão consultadas.
Em relação à organização do resultado da pesquisa – o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) -, a proposta inicial é a que se segue:
A Introdução abordará o problema da pesquisa, o objetivo geral, os objetivos específicos, a delimitação do trabalho, a contribuição para as Ciências Militares e estudos da Defesa e uma descrição da metodologia utilizada;;
No primeiro capítulo será estudado acerca da legislação que ampara o uso das Forças Armadas em ações subsidiárias e as leis que tratam da migração no Brasil.
No segundo capítulo será apresentado o emprego do EB na Operação Acolhida, em 2018, no estado de Roraima, mostrando a forma que foi resolvido o problema em questão.
No terceiro capítulo serão apresentados os ensinamentos alcançados pela operação e de que forma essa operação pode ser um paradigma para o Estado brasileiro.
Finalmente, na Conclusão, serão reforçados os principais pontos abordados nos três capítulos do trabalho.
3 O AMPARO JURÍDICO AO USO DO EB NA OPERAÇÃO ACOLHIDA
Desde que houve o agravamento da crise na fronteira, e o Estado brasileiro sendo obrigado a assumir a existência de uma crise humanitária sem precedentes na fronteira norte do País, iniciou-se amplo debate acerca das ferramentas que poderiam ser utilizadas pelo governo federal para atuar na mitigação do problema. Especialistas dentro e fora do governo apontavam para a mesma solução: devido a necessidade de rapidez, emprego de recursos humanos/financeiros e capacidade de trabalho, seria o Ministério da Defesa, e particularmente o Exército Brasileiro, responsável pela resposta brasileira aos problemas causados pela migração venezuelana, dando assim, a satisfação requerida pela sociedade brasileira. Assim sendo, sempre que ocorre problema semelhante e que seja necessário a utilização do estamento militar, já existe consolidada vasta legislação que ampara o uso das Forças Armadas nesses tipos de operações, principalmente quando a situação desestabiliza a ordem pública. Ao longo dos últimos anos, o Brasil vivenciou vários eventos onde foi necessário e primordial a atuação do Exército Brasileiro. Nesse contexto, pode-
se afirmar que a legislação que ampara juridicamente o emprego do EB na Operação Acolhida foi a que se segue:
- Constituição Federal (1988).
- Lei Complementar 97/1999, de junho de 1999, alterada pelas Leis Complementares 117 de 02 de setembro de 2004 e 136 de 25 de agosto de 2010 (Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas).
- Lei Nr 13.445, de 24 de maio de 2017 (Dispõe sobre os direitos e os deveres do migrante e estabelece princípios e diretrizes para as políticas públicas).
- Medida Provisória Nr 820, de 15 de fevereiro de 2018 (Dispõe sobre medidas de assistência emergencial para acolhimento a pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise humanitária).
- Decreto Nr 9.285, de 15 de fevereiro de 2018 (Reconhece a situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise humanitária na República Bolivariana da Venezuela).
- Decreto Nr 9.286, de 15 de fevereiro de 2018 (Define a composição, as competências e as normas de funcionamento do Comitê Federal de Assistência Emergencial para acolhimento a pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise humanitária).
- Resolução Nr 001, de 21 de fevereiro de 2018 (Designação do coordenador operacional para os trabalhos de ajuda humanitária em decorrência de fluxo migratório da República Bolivariana da Venezuela).
Segundo Duarte(2019), “... a análise da viabilidade legal do emprego do Exército Brasileiro nas Operações Acolhida, Controle e Tucuxi, ambas em apoio ao contexto da imigração venezuelana no estado de Roraima e conectadas ao desenvolvimento das ações empreendidas pela Força Tarefa Logística Humanitária e pela 1ª Brigada de Infantaria de Selva, visa determinar se, dentro das normas brasileiras, o emprego da Força Terrestre possui uma base jurídica que permita tal uso. Nesse sentido é importante salientar que as funções do Exército Brasileiro são desenvolvidas visando a garantia dos direitos fundamentais em suas diversas dimensões, preservando os poderes constitucionais previstos na CF, utiliza-se, para tanto, de suas duas vertentes de ações, sendo elas as repressivas e as preventivas, sempre na busca de bem cumprir seu dever.”
As bases legais para atuação das FFAA estão definidas constitucionalmente, onde o artigo no 142 da CF prevê que:
“ As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”
Ainda foi definido que “uma Lei complementar (grifo nosso) estabelecerá as normas gerais a serem adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas. (BRASIL, 1988)
Nesse sentido e para especificar o emprego das Forças Armadas, cumprindo a previsão do parágrafo primeiro do artigo no 142 da Constituição, foi promulgada a Lei Complementar nº 97, de 1999, a qual dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas, com alterações promovidas pelas Leis Complementares 117 de 2004 e 136 de 2010, que traz importantes amparos nos seguintes artigos:
Art. 1o [...] Parágrafo único. Sem comprometimento de sua destinação constitucional, cabe também às Forças Armadas o cumprimento das atribuições subsidiárias (grifo nosso) explicitadas nesta Lei Complementar.
Art. 16. Cabe às Forças Armadas, como atribuição subsidiária geral, cooperar com o desenvolvimento nacional e a defesa civil (grifo nosso), na forma determinada pelo Presidente da República. Parágrafo único.
Para os efeitos deste artigo, integra as referidas ações de caráter geral a participação em campanhas institucionais de utilidade pública ou de interesse social. (Incluído pela Lei Complementar no 117, de 2004).
[...] Art. 16-A. Cabe às Forças Armadas, além de outras ações
pertinentes, também como atribuições subsidiárias, preservadas as competências exclusivas das polícias judiciárias, atuar, por meio de ações preventivas e repressivas, na faixa de fronteira terrestre (grifo nosso), no mar e nas águas interiores, independentemente da posse, da propriedade, da finalidade ou de qualquer gravame que sobre ela recaia, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo (grifo nosso), executando, dentre outras, as ações de: (Incluído pela Lei Complementar no 136, de 2010).
I – patrulhamento;; II – Revista de pessoas, de veículos terrestres, de embarcações e de aeronaves;; e III – prisões em flagrante delito. [...] Art. 17-A. Cabe ao Exército, além de outras ações pertinentes, como atribuições subsidiárias particulares: (Incluído pela Lei Complementar no 117, de 2004) I – contribuir para a formulação e condução de políticas nacionais que digam respeito ao Poder Militar Terrestre;; (Incluído pela Lei Complementar no 117, de 2004) II – cooperar com órgãos públicos federais, estaduais e municipais e, excepcionalmente, com empresas privadas, na execução de obras e serviços de engenharia, sendo os recursos advindos do órgão solicitante;; (Incluído pela Lei Complementar no 117, de 2004) III – cooperar com órgãos federais, quando se fizer necessário, na repressão aos delitos de repercussão nacional e internacional, no território nacional, na forma de apoio logístico, de inteligência, de comunicações e de instrução;; (Incluído pela Lei Complementar no 117, de 2004). (BRASIL, 1999b)
Com a base jurídica definida, Duarte(2019) cita também que, no entender do Ministério da Defesa, a participação das Forças Armadas, prevista no Livro Branco para a Defesa Nacional, em ações subsidiárias e complementares, é voltada para a atuação em segmentos da sociedade, tais como emprego da engenharia do exército na construção de estradas, ferrovias, pontes e açudes e o apoio humanitário em ocorrências de sinistros e calamidades.
Com base nesse arcabouço jurídico, o Governo Federal, por intermédio do Decreto Nr 9.286, de 15 de fevereiro de 2018, criou o Comitê Federal de Assistência Emergencial para realizar o acolhimento a pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise humanitária, e foi composto por um representante, titular e suplente, dos seguintes órgãos:
I - Casa Civil da Presidência da República, que o presidirá;;
II - Ministério da Justiça e Segurança Pública;;
III - Ministério da Defesa;;
IV - Ministério das Relações Exteriores;;
V - Ministério da Educação;;
VI - Ministério do Trabalho;;
VII - Ministério do Desenvolvimento Social;;
VIII - Ministério da Saúde;;
IX - Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão;;
X - Ministério da Integração Nacional;;
XI - Ministério dos Direitos Humanos;; e
XII - Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
§ 1º Os Ministros de Estado dos órgãos a que se refere o caput serão os representantes titulares do Comitê Federal de Assistência Emergencial.
A composição multidisciplinar visava facilitar a conexão entre os diversos órgãos federais, permitindo a operacionalização de ações necessárias ao cumprimento da missão. Por sua vez, a colocação do ministro de Estado como representante de cada órgão dá a real dimensão da necessidade de empenho e agilidade nas ações subsequentes. O Ministério da defesa foi designado como secretaria executiva.
Ainda nesse decreto, em seu Art 8º, diz que “Compete ao Comitê Federal de Assistência Emergencial:
I - articular ações, projetos e atividades desenvolvidas com apoio dos Governos federal, estadual, distrital e municipal no âmbito da assistência emergencial;;
II - estabelecer as diretrizes e as ações prioritárias do Governo federal para a implementação da assistência emergencial;;
III - indicar um coordenador operacional, que atuará no local em que for reconhecida a crise humanitária;;
IV - supervisionar o planejamento e a execução de ações conjuntas de órgãos que atuem na execução das medidas que definir;;
V - propor, aos órgãos competentes, medidas para assegurar os recursos necessários à implementação das ações, dos projetos e das atividades da assistência emergencial;;
VI - firmar parcerias com órgãos de outros Ministérios, dos Poderes Legislativo e Judiciário, de outros entes federativos, da sociedade civil, do setor privado, de especialistas e de organismos internacionais;;
VII - acompanhar e avaliar a execução da assistência emergencial e adotar medidas para a mitigação de riscos;; e
VIII - elaborar relatório trimestral de suas atividades, com a avaliação da execução e dos resultados das políticas.
§ 1º Competirá ao coordenador operacional de que trata o inciso III do caput : I - executar as ações e projetos estabelecidos pelo Comitê Federal de Assistência Emergencial para o apoio e o acolhimento das pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado por crise humanitária;;
II - elaborar plano operacional para a área afetada, em conformidade com as diretrizes e as ações prioritárias estabelecidas pelo Comitê Federal de Assistência Emergencial, e coordenar sua execução;;
III - coordenar e ser responsável pela logística e distribuição de insumos;; e IV - informar as ocorrências na área afetada ao Comitê Federal de Assistência Emergencial, por meio de relatórios periódicos.”
Definidas as competências de cada órgão, o ministro da Defesa designou o General do Exército Brasileiro Eduardo Pazuello para a função de Coordenador Operacional da Força Tarefa Logística Humanitária, que seriam o responsável a planejar e empregar os meios necessários para atingir os objetivos definidos pelo poder político no estado de Roraima, se estruturava assim, baseada em claro amparo jurídico, a Operação Acolhida.
4 O EXÉRCITO BRASILEIRO NA OPERAÇÃO ACOLHIDA
Amparado pela legislação existente, principalmente pela Constituição Federal, o Exército Brasileiro recebeu a missão de planejar, coordenar e executar a resposta do Estado Brasileiro ao problema decorrente da maciça entrada de migrantes venezuelanos pela fronteira norte do País.
Examinada a situação existente, e decidido pela nomeação do Coordenador Operacional para a crise humanitária no Estado de Roraima, o Ministro da Defesa expediu a Diretriz Ministerial de no 3, de 28 de fevereiro de 2018, a qual autorizou a Operação Acolhida:
De acordo com os Decretos Presidenciais n° 9.285 e n° 9.286, ambos de 15 de fevereiro de 2018, o Excelentíssimo Senhor Presidente da República reconheceu a situação de vulnerabilidade no Estado de Roraima, decorrente de fluxo migratório provocado pela crise humanitária na República Bolivariana da Venezuela, que resulta no aumento populacional desordenado e imprevisível, na dificuldade de prestação dos serviços públicos essenciais e na necessidade de acolhimento humanitário no território nacional e, por conseguinte, instituiu o Comitê Federal de Assistência Emergencial para acolhimento a essas pessoas.
Nesse sentido, informo aos Comandantes das Forças Armadas que decidi autorizar a execução da Operação ACOLHIDA, sob a coordenação deste Ministério, com o emprego de meios necessários para o apoio logístico a órgãos públicos, com vistas a cooperar no desenvolvimento de atividades humanitárias, no Estado de Roraima. (grifo nosso)
Assim, com fundamento no parágrafo único do Artigo 16 da Lei Complementar n° 97, de 9 de junho de 1999, alterada pela Lei Complementar n° 117, de 2 de setembro de 2004, DETERMINO
[...] 2. Ao Comandante do Exército Brasileiro:
2.1 Apoiar, com pessoal, material e instalações, a montagem da estrutura e as atividades necessárias ao acolhimento humanitário dos imigrantes, de acordo com o Plano Operacional elaborado;; (grifo nosso)
2.2 Indicar um oficial superior para ser designado gestor do Hospital Estadual de Pacaraima;;
2.3 Informar ao CCLM as licitações disponíveis de alimentos, medicamentos, material de saúde e de transporte para Manaus-AM e Boa Vista-RR;;
2.4. Ficar em condições de adquirir ou fornecer, mediante solicitação do CCLM, itens constantes de licitações disponíveis;;
2.5 Apoiar o pessoal das demais Forças Armadas deslocados para a área de fronteira;;
2.6 Informar ao EMCFA as necessidades de apoio das demais Forças Singulares e de recursos financeiros para a execução da operação.
[...] 4. Ao Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (CEMCFA):
4.1 Estabelecer uma Sala de Situação para o monitoramento permanente da situação pelo Comitê Federal de Assistência Emergencial, a coordenação do apoio logístico e a atuação da Secretaria Executiva do referido Comitê;;
4.2 Encaminhar aos Comandantes das Forças Singulares as instruções para o emprego das Forças Armadas na “Operação ACOLHIDA”;;
4.3 Manter o acompanhamento permanente da operação e informar o Ministro da Defesa do andamento e resultados das ações;;
4.4 Manter ligação com as autoridades federais e estaduais envolvidas com as ações;; e
4.5 Encaminhar à Secretaria-Geral do Ministério da Defesa as eventuais necessidades de recursos financeiros exigidos para a operação.
5. Ao Secretário-Geral do Ministério da Defesa que submeta ao Ministro da Defesa as providências julgadas pertinentes para o atendimento das solicitações de recursos para a operação. 6. Ao Consultor Jurídico deste Ministério que organize o serviço de acompanhamento jurídico em apoio à operação. [...] (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2018a)
Designado pela Presidência da República na função de Coordenador Operacional, o então General de Brigada Eduardo Pazuello, comandante da Base de Apoio Logístico do Exército Brasileiro, localizada no Rio de Janeiro/RJ, a partir do trabalho de seu Estado-Maior, elaborou o Plano Operacional da Operação Acolhida para o Estado de Roraima, dividindo os esforços entre a Força Tarefa Logística Humanitária (FT Log Hum) e a Força Aérea Componente. O planejamento apresentado visualizou a utilização inicial das instalações do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira, localizadas na região de Boa Vista e de Pacaraima, para tanto levou em consideração a concentração de imigrantes de assistidos e a localização das sedes dos principais órgãos federais e estaduais na capital do Estado de Roraima. Nesse momento inicial, a 1ª Brigada de Infantaria de Selva seria o grande suporte para o desencadeamento das ações, com o Posto de Comando da FT Log Hum em Boa Vista e uma base avançada na cidade de Pacaraima.
Na análise da missão recebida, decidiu-se que o foco seria a cooperação entre as esferas municipal, estadual e federal para receber, cadastrar e acolher os migrantes em situação de vulnerabilidade. Estendendo a capacidade da FT Log Hum, seriam agregados ao esforço, ONG, organismos internacionais e
demais entidades para que, em um ambiente interagências, fosse buscada uma maior eficiência no cumprimento dos objetivos estabelecidos pelo Estado brasileiro.
Figura 1: Logotipo da Operação Acolhida
Fonte: arquivo do autor
Segundo Duarte (2019), o Plano de Operações elencou as principais agências e instituições envolvidas no processo, entre elas:
“- Na esfera Federal a Receita Federal, ABIN, Força Nacional do SUS, VIGIAGRO, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e a Força Nacional de Segurança;;
- na esfera Estadual o Governo do Estado de Roraima, Polícia Militar RR, Polícia Civil RR, Companhia de Água e Esgoto de Roraima, Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social, Corpo de
Bombeiros/Defesa Civil, Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde de Roraima, SENAC e o SESC;;
- na esfera Municipal a Prefeitura Municipal de Boa Vista, Secretaria Municipal de Obras de Boa Vista e a Guarda Municipal de Boa Vista;;
- como Organismos Internacionais o ACNUR, Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional mediante seu escritório para assistência a desastres no exterior, Organização Internacional de Migração (OIM), Fundo de População das Nações Unidas e a Associação de Voluntários para o Serviço Internacional – Itália;;
- como ONG a Fraternidade Federação Humanitária Internacional, Fundação Pan-americana para o Desenvolvimento, Fraternidade sem Fronteiras, TELECOM sem Fronteiras e os Médicos Sem Fronteiras;; e - como Entidades a Igreja Católica, Igreja Metodista, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias – Mórmons, Cruz Vermelha Brasileira, Rotary Clube Internacional, Associação dos Adventistas e a Cáritas brasileira.” (DUARTE, 2019,p.
No quesito execução das ações, o Planejamento Operacional da Operação Acolhida foi montado com a intenção de trabalhar sempre com sinergia com Órgãos Governamentais, Organismos Internacionais de Apoio Humanitário e Organizações Não Governamentais (ONG) na preparação, montagem da estrutura e execução das ações de Ajuda Humanitária no Estado
de Roraima. Essa grande operação deveria ser essencialmente interagência como fator de sucesso para o cumprimento da missão.
A meta final buscada pela Operação seria o total ordenamento da fronteira, com um fluxo imigratório controlado, com todos os imigrantes assistidos nos diversos abrigos, estando em condições de serem absorvidos pelo sistema de ensino e mercado de trabalho local, participando do processo de interiorização ou retornando voluntariamente ao seu país de origem. Para atingir a meta final foram elencados como objetivos recepcionar, identificar, triar, imunizar, abrigar e interiorizar os imigrantes em situação de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratório provocado pela crise humanitária venezuelana.
Ainda conforme Duarte (2019) “ ..Cabe ressaltar que, para o sucesso do planejamento, a 1ª Brigada de Infantaria de Selva incrementaria a Operação Controle na fronteira com a Venezuela, aumentando a presença física nas estradas e as operações esporádicas nas estradas da região, sobretudo na BR 174, objetivando realizar o controle efetivo da entrada de venezuelanos no País, bem como dissuadir a ocorrência de ilícitos transnacionais.”
A estruturação da Operação Acolhida foi baseada em três pilares fundamentais, sendo eles:
[...] o ordenamento da fronteira, o abrigamento e a interiorização. O ordenamento da fronteira pode ser entendido como a organização do fluxo migratório venezuelano, desde a chegada do imigrante à fronteira em Pacaraima. As agências de controle migratório não dispunham de servidores e estruturas apropriadas para suportar a grande quantidade de venezuelanos que passaram a ingressar no Brasil diariamente, o que resultava na necessidade de se estabelecer uma estrutura física e humana capaz de fazer frente à nova realidade. O segundo pilar é o abrigamento, que consiste na oferta de condições dignas de alojamento, de alimentação e de apoio médico aos venezuelanos desassistidos, os quais, no período anterior ao início da Operação Acolhida, passaram a montar acampamentos em logradouros públicos das cidades de Pacaraima e Boa Vista, de forma desordenada. Retirá-
los da rua, fornecendo-lhes um abrigo de qualidade, tornou-se fundamental para o sucesso da operação. O terceiro pilar é a interiorização, que consiste no processo de distribuição do contingente populacional de imigrantes venezuelanos nos outros Estados do Brasil.
Esse processo foi, desde o início do planejamento, considerado como um fator crítico, haja vista que há uma limitação na quantidade de vagas nos abrigos de Pacaraima e de Boa Vista e que o fluxo migratório venezuelano em direção ao Brasil não diminuirá em curto prazo. Para viabilizar o planejamento e a condução das ações, criou-
se um Estado-Maior Conjunto Interagências, que assessora o
Coordenador Operacional da Força-Tarefa e o mantém constantemente informado acerca da evolução dos acontecimentos e dos resultados das ações. (OLIVEIRA, 2018, p. 6-7)
Buscando a normatização de procedimentos nos manuais existentes e nas experiências já conduzidas pelo EB, o Coor FT Log Hum organizou a estrutura de acordo com o manual do Ministério da Defesa de Operações Interagências – MD33-M-12 (2017). Dessa forma, foi organizado o Estado Maior Conjunto Interagências da seguinte forma:
Quadro 1 : organograma do EM da FT Log Hum Fonte: FT Log Hum (2018)
Nessa concepção, o Estado-Maior assessora e auxilia o planejamento e cumprimento da missão. Conforme nos traz Duarte (2019), cada célula que integra o organograma possui uma finalidade distinta, porém existe uma interdependência necessária entre as mesmas com a finalidade de otimizar e dinamizar o fluxo das ações.
Para um melhor entendimento Oliveira (2018) apresenta as subdivisões de cada célula:
Quadro 2: Integrantes de cada célula do EM
Fonte: Oliveira (2018, p. 7) Segundo a FT Log Hum (2018) a concepção da estrutura em um modelo
A montagem dessas células tem como objetivo facilitar a coordenação, o controle e a sincronização de todas as ações em um ambiente de interagências, visando estabelecer procedimentos, estruturas, protocolos de comunicações, redes de coordenação controle e a confecção de planos específicos, reunindo em uma mesmo ambiente profissionais de diversas áreas e com distintas capacidades, possibilitando a eficiência e eficácia no cumprimento da missão.
Nesse sentido, Duarte (2019) explicou a composição de cada célula:
A Célula de Operações ficou responsável por congregar as Seções de Operações (D-3), de Inteligência (D-2), de Operações Psicológicas (D-
8) e de Assuntos Civis (D-9). Cabe a ela as ações de coordenação, controle e sincronização de todas as ações conduzidas elas agências envolvidas.
A Célula de Logística ficou sendo responsável pela coordenação, controle e a sincronização da logística no ambiente interagências, congregando as atividades de logística, de pessoal e de finanças da operação.
A Célula de Comando e Controle tem como responsabilidade estruturar o sistema de coordenação, comunicações, controle e inteligência. Tem a missão de gerenciar o sistema e os meios de Tecnologia da Informação e Comunicações (TIC) empregados na coordenação das ações conduzidas no ambiente interagências, para proporcionar consciência situacional ao Coordenador Operacional e ao Estado Maior Conjunto.
A Célula de Saúde tem a responsabilidade de coordenação das atividades de apoio de saúde na Op Acolhida aos imigrantes