A Operação Acolhida tornou-se um caso bastante estudado pelos meios especializados, mostrando uma nova abordagem metodológica para mitigação e trato dos problemas advindos da migração humana, fenômeno que, na atualidade, apresenta tendência de ocorrência em diversos continentes.
Desde que o aumento da entrada de venezuelanos começou a deteriorar as estruturas sociais da capital do Estado de Roraima e repercutir em pressões politicas sobre a esfera federal, o Governo Federal lançou mão da estrutura e expertise das Forças Armadas em operações de ajuda humanitária. Capitaneado pelo Exército Brasileiro, o qual forneceu mais de 80% do efetivo de pessoal e quase a totalidade de material `a operação, uma gigante estrutura rapidamente foi desdobrada. Seguindo a doutrina existente dentro do EB, foram utilizados materiais, pessoal e conhecimento da região de operações da tropa estacionada na região – no caso em tela a 1ª Brigada de Infantaria de Selva – para dar rápida resposta aos problemas enfrentados pelo estado de Roraima. Ao mesmo tempo, uma grande estrutura administrativa e logística era montada, utilizando o sistema de rodizio de contingentes para a continuidade das operações, muito similar ao modus operandi no Haiti. Foram buscados o apoio de diversas organizações civis especialistas no trato desse tema, tudo baseado em conceitos de operações interagências utilizados pela Força Terrestre.
Nesse sentido, durante todo o ano de 2018 essa estrutura foi exaustivamente testada. Necessidades logísticas, administrativas e operacionais eram constantemente atualizadas e respondidas. Assim, estruturas eram adaptadas `as novas demandas e rapidamente uma grande quantidade de migrantes estavam sendo recebidos, acolhidos e interiorizados. Houve a criação de mais de 11 abrigos que permitiam a vida estruturada e digna de mais de 6000 venezuelanos. O uso da estrutura do EB e da FAB, juntamente com o profissionalismo dos envolvidos e a presença de organismos especializados no trato de questões humanitárias, criou um paradigma no trato de populações com alto grau de vulnerabilidades. Assim, adultos, crianças e indígenas forma abrigados, alimentados e assistidos durante mais de um ano, evitando uma catástrofe social de proporções inimagináveis.
O modelo criado foi rotineiramente citado em fóruns internacionais como exemplar e um paradigma de boa prática. Tudo isso lastreado por alto investimento do governo em recursos financeiros, sem o qual a Operação Acolhida não teria o êxito alcançado.
Passado mais de um ano de sua criação, a Operação Acolhida é um sucesso. A resposta do Estado brasileiro foi rápida e efetiva. Ao lançar mão de suas Forças Armadas, particularmente o Exército Brasileiro, o Brasil mostrou sua intenção de atingir os objetivos previstos, na medida que usava uma instituição organizada, hierarquizada, com altos índices de confiança interna e que tradicionalmente cumpre suas missões de forma exitosa, com probidade e com absoluto respeito dos direitos humanos.
Ao centrar o processo de tomada de decisão no modelo das Forças Armadas, a Operação Acolhida evitou a demora nas decisões e criou uma gestão dissociada dos interesses políticos imediatistas, o que permitiu rápidas adaptações e correções de rumos. Além disso, a utilização de profissionais experientes nesse tipo de operação, aliado ao uso de especialistas em finanças do EB, resultaram na rápida e correta utilização dos recursos recebidos.
No centro de tudo, a utilização da estrutura logística do EB permitiu a mitigação de problemas básicos de abastecimento, como água, comida, remédios e combustível, sendo essencial para o sucesso alcançado.
Enfim, a Operação Acolhida, iniciada em 2018 cercada de dúvidas e dificuldades, entrou para o rol de operações exitosas do Exército Brasileiro, ratificando a excelente imagem e aceitação dessa instituição entre a população. Além disso, serviu para criar um paradigma que poderá ser replicado em outras missões humanitárias, onde o foco no migrante e em uma estrutura organizada e profissional vem servindo para aumentar o respeito pelo Brasil no concerto das nações, na medida na medida em que o paradigma brasileiro para o trato com migrações humanas foi, sem dúvida, algo raramente visto e , por isso mesmo, serve de modelo e exemplo, não só para as diversas organizações que tratam do tem, como também para as nações que convivem com esse flagelo humano.
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