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PARLAMENTO EUROPEU. Documento de sessão

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PARLAMENTO EUROPEU

1999

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2004

Documento de sessão

FINAL A5-0085/2003 24 de Março de 2003

RELATÓRIO

que contém uma proposta de recomendação do Parlamento Europeu ao Conselho sobre a reforma das convenções em matéria de estupefacientes (2003/2015(INI))

Comissão das Liberdades e dos Direitos dos Cidadãos, da Justiça e dos Assuntos Internos

Relatora: Kathalijne Maria Buitenweg

RR\493756PT.doc PE 319.267

PT PT

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PE 319.267 2/2 RR\493756PT.doc

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RR\493756PT.doc 3/3 PE 319.267

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ÍNDICE

Página

PÁGINA REGULAMENTAR... 4

PROPOSTA DE RECOMENDAÇÃO DO PARLAMENTO EUROPEU... 5

EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS... 8

PROPOSTA DE RECOMENDAÇÃO B5-0541/2002 ... 13

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PE 319.267 4/4 RR\493756PT.doc

PT

PÁGINA REGULAMENTAR

Na sessão de 13 de Janeiro de 2003, o Presidente do Parlamento comunicou que havia transmitido a proposta de recomendação sobre a reforma das convenções em matéria de estupefacientes, apresentada nos termos do artigo 49º do Regimento, à Comissão das Liberdades e dos Direitos dos Cidadãos, da Justiça e dos Assuntos Internos, competente quanto à matéria de fundo.

Na sua reunião de 21 de Janeiro de 2003, a Comissão das Liberdades e dos Direitos dos Cidadãos, da Justiça e dos Assuntos Internos decidiu elaborar um relatório a este respeito, tendo designado Kathalijne Maria Buitenweg relatora (2003/2015(INI)).

Nas suas reuniões de 11 de Fevereiro, 18 de Fevereiro e 19 de Março de 2003, a comissão procedeu à apreciação do projecto de relatório.

Na última reunião, a comissão aprovou a proposta de resolução por 24 votos a favor, 20 votos contra e 0 abstenções.

Encontravam-se presentes no momento da votação Jorge Salvador Hernández Mollar

(presidente), Robert J.E. Evans e Johanna L.A. Boogerd-Quaak (vice-presidentes), Kathalijne Maria Buitenweg (relatora), Mary Elizabeth Banotti, Alima Boumediene-Thiery, Giuseppe Brienza, Marco Cappato (em substituição de Frank Vanhecke), Charlotte Cederschiöld, Carmen Cerdeira Morterero, Ozan Ceyhun, Carlos Coelho, Thierry Cornillet, Gianfranco Dell'Alba (em substituição de Mario Borghezio, nos termos do nº 2 do artigo 153º do Regimento), Gérard M.J. Deprez, Giuseppe Di Lello Finuoli, Adeline Hazan, Ewa Hedkvist Petersen (em substituição de Martine Roure), Anna Karamanou (em substituição de Sérgio Sousa Pinto), Margot Keßler, Timothy Kirkhope, Eva Klamt, Ole Krarup, Alain Krivine (em substituição de Fodé Sylla), Jean Lambert (em substituição de Heide Rühle), Marjo

Matikainen-Kallström (em substituição de The Lord Bethell), Claude Moraes (em substituição de Walter Veltroni), Hartmut Nassauer, Bill Newton Dunn, Marcelino Oreja Arburúa, Elena Ornella Paciotti, Paolo Pastorelli (em substituição de Marcello Dell'Utri), Hubert Pirker, Bernd Posselt, Ingo Schmitt (em substituição de Giacomo Santini), Ilka Schröder, Ole Sørensen (em substituição de Baroness Sarah Ludford), Patsy Sörensen, María Sornosa Martínez (em substituição de Gerhard Schmid), Joke Swiebel, Anna Terrón i Cusí, Maurizio Turco, Christian Ulrik von Boetticher e Olga Zrihen Zaari (em substituição de Michael Cashman).

O relatório foi entregue em 24 de Março de 2003.

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RR\493756PT.doc 5/5 PE 319.267

PT

PROPOSTA DE RECOMENDAÇÃO DO PARLAMENTO EUROPEU

Recomendação do Parlamento Europeu ao Conselho sobre a reforma das convenções em matéria de estupefacientes (2003/2015(INI))

O Parlamento Europeu,

– Tendo em conta a proposta de recomendação ao Conselho apresentada por Marco Cappato e por mais 108 deputados (B5-0541/2002),

– Tendo em conta a sua Resolução de 13 de Fevereiro de 2003 sobre a proposta de

recomendação relativa à prevenção e redução dos ricos associados à toxicodependência, em que requer a necessidade de “garantir que todas as drogas sejam classificadas em função de provas científicas da existência de risco para a saúde humana”1,

– Tendo em conta o artigo 49º do seu Regimento, em combinação com o artigo 107º, – Tendo em conta o relatório da Comissão das Liberdades e dos Direitos dos Cidadãos, da

Justiça e dos Assuntos Internos (A5-0085/2003),

A. Tendo em conta a Convenção Única da ONU sobre os estupefacientes, de 1961, a Convenção da ONU sobre substâncias psicotrópicas, de 1971 e a Convenção da ONU contra o tráfico ilícito de narcóticos e de substâncias psicotrópicas, de 1988,

B. Considerando que, em 16 e 17 de Abril de 2003, em Viena, uma conferência ministerial dos Estados-Membros signatários das referidas convenções avaliará os progressos alcançado e as dificuldades encontradas na consecução dos objectivos estabelecidos na Declaração Política adoptada pela Assembleia Geral, na sua vigésima sessão especial, em 1998,

C. Considerando que na supramencionada Declaração Política foram estabelecidas duas datas-alvo, a saber, 2003 para, inter alia, a implementação de estratégias, novas ou reforçadas, de redução da procura de estupefacientes, e 2008 para a eliminação ou a redução significativa do fabrico ilícito, da comercialização e do tráfico das substâncias que figuram nas Convenções,

D. Considerando que a União Europeia estará representada nesta conferência por Estados-Membros, a título individual, e por uma delegação especial,

E. Considerando que a redução do consumo ilícito e a prevenção para impedir que outras pessoas, e especialmente os jovens com menos de 18 anos, comecem a consumir estupefacientes, a limitação dos malefícios, o tratamento dos toxicodependentes e a redução da criminalidade associada à toxicodependência figuram entre os principais objectivos da estratégia da UE em matéria de estupefacientes para o período 2000-2004,

1 P5_TA-PROV(2003) 6.

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PE 319.267 6/6 RR\493756PT.doc

PT

F. Considerando que o Conselho se encontra em fase de adopção de uma recomendação dirigida aos Estados-Membros relativa à prevenção e redução dos riscos associados à toxicodependência,

G. Considerando as graves consequências da droga e toxicodependência, nomeadamente ao nível social e da saúde individual e colectiva,

H. Considerando que a pequena delinquência e a criminalidade organizada associadas à toxicodependência constituem a maior quota-parte dos crimes e delitos perpetrados na União Europeia,

I. Considerando que os lucros crescentes obtidos pelas organizações criminosas através do comércio de substâncias ilícitas, reinvestidos noutras actividades criminosas, mas também nos circuitos económicos e financeiros legais, atingiram um nível que dota essas

organizações de um considerável poder político, económico e financeiro,

J. Considerando que certas experiências bem sucedidas quer quanto à redução do impacto negativo na saúde quer quanto ao nível atingido pela pequena criminalidade,

K. Considerando que existem diferentes tratamentos para os toxicodependentes, assim como diferentes políticas em matéria de droga nos diferentes Estados-Membros,

L. Considerando que, segundo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, a tendência das autoridades competentes para conferir uma prioridade reduzida à

persecução judiciária do consumo pessoal de estupefacientes ou da posse de substâncias ilícitas para consumo pessoal é confirmada pelas novas medidas, aplicadas em alguns Estados-Membros, cujo escopo é a discriminalização ou a não persecução em juízo de delitos por consumo de estupefacientes,

M. Considerando a necessidade da investigação e de uma avaliação assente em provas

científicas e reflectida no intuito de apurar se as políticas aplicadas com base nas convenções da ONU em matéria de estupefacientes são eficazes na redução da oferta e da procura de estupefacientes, dos riscos para a saúde e da criminalidade associada à toxicodependência, N. Considerando que as convenções da ONU contêm disposições em matéria de alterações,

reservas, reclassificação e/ou denúncia das convenções,

1. Partilha a convicção da ONU segundo a qual existe uma necessidade premente de

combater a toxicodependência e a criminalidade a ela associada e de reduzir os malefícios causados por aquelas;

2. Afirma que a Conferência Ministerial da ONU, que se irá realizar em 16 e 17 de Abril de 2003, em Viena, será o fórum ideal para avaliar e confirmar as actuais políticas em matéria de estupefacientes, manifestar reservas e debater a eventual necessidade de introduzir alterações;

3. Congratula-se com o facto de, com base nos estudos realizados pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, se ter reconhecido a eficácia de estratégias alternativas de redução dos malefícios, ao nível da UE;

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RR\493756PT.doc 7/7 PE 319.267

PT

4. Toma nota das críticas feitas pela agência das Nações Unidas “Órgão Internacional de Controlo de Estupefacientes” aos movimentos favoráveis à liberalização do consumo;

5. Insta os Estados-Membros a introduzirem nos seus programas de combate à droga, a inclusão de medidas tendentes à redução da procura de drogas ilícitas;

6. Observa que as convenções da ONU em matéria de toxicodependência contêm

disposições que permitem proceder a modificações, particularmente no que diz respeito à reclassificação das substâncias catalogadas e à alteração do próprio texto e que prevêem igualmente mecanismos para a adução de reservas e de denúncia das convenções;

7. Insta os representantes da União Europeia à Conferência Ministerial da ONU, que se irá realizar em 16 e 17 de Abril de 2003 em Viena, a solicitar às autoridades competentes da ONU que procedam a uma avaliação detalhada da eficácia da aplicação das convenções particularmente no que diz respeito:

· à prevenção do consumo de drogas e da toxicodependência

· à redução da oferta e da procura de estupefacientes;

· à redução dos danos sociais e de ordem sanitária;

· à redução da pequena criminalidade e do crime organizado associados aos estupefacientes;

8. Insta os representantes da União Europeia a propor a organização de uma conferência das Nações Unidas, em 2004, destinada a estudar as conclusões da avaliação solicitada;

9. Reitera que, se as conclusões desta conferência de avaliação o justificarem, serão tomados em consideração procedimentos para a alteração das convenções de 1961 e de 1971 e para a denúncia da Convenção de 1988;

10. Solicita igualmente que sejam tomadas medidas imediatas a fim de realizar estudos científicos na área da medicina sobre as consequências para o corpo humano resultantes do consumo de longa duração da planta de canabis, da heroína, de substâncias

psicotrópicas e de outros estupefacientes;

11. Solicita que sejam tomadas acções imediatas a fim de garantir que todas as drogas sejam classificadas em função de provas científicas da existência de risco para a saúde humana;

12. Insta os Estados-Membros a tomarem medidas específicas de prevenção e combate ao crescimento exponencial, a que actualmente se assiste, de publicidade e comercialização de estupefacientes na Internet;

13. Encarrega o seu Presidente de transmitir a presente recomendação ao Conselho e à

Comissão, a título de informação, assim como aos Estados-Membros e à Organização das Nações Unidas.

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PE 319.267 8/8 RR\493756PT.doc

PT

EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS

Em 16 e 17 de Abril de 2003, o Conselho Económico e Social da Organização das Nações Unidas irá reunir-se em Viena, a nível ministerial. Outra reunião já se encontra agendada para 2008. Estas reuniões coincidem com as duas datas-alvo estabelecidas para a obtenção dos objectivos acordados aquando da Assembleia Geral em 1998.

O ano de 2003 foi estabelecido como data-alvo para a implementação de estratégias, novas ou reforçadas, de redução da procura de estupefacientes assim como de programas elaborados em estreita cooperação com as autoridades sanitárias, de previdência social e de aplicação da lei.

Marca igualmente o prazo para transpor para a legislação e para os programas nacionais o plano de acção adoptado aquando da Assembleia Geral de 1998 contra o fabrico ilícito, o tráfico e o abuso de estimulantes do tipo das anfetaminas e dos seus precursores. Além disso, os Estados que ainda o não fizeram, são convidados a adoptar até fins de 2003 uma legislação e programas nacionais em matéria de branqueamento de capitais, conformes com as

pertinentes disposições da Convenção das Nações Unidas de 1988 contra o tráfico ilícito de narcóticos e de substâncias psicotrópicas, assim como com as medidas tomadas aquando da sessão de 1998 de luta contra o branqueamento de capitais.

A segunda data-alvo é 2008. Nessa data, os Estados pretendem eliminar, ou pelo menos reduzir de forma significativa, o fabrico ilícito, a comercialização e o tráfico de substâncias que figuram nas Convenções.

Por conseguinte, a Conferência de Abril de 2003 pode ser considerada como um momento importante para reafirmar as políticas actuais ou para exprimir e propor modificações e reservas.

A União Europeia estará representada por uma delegação oficial composta, conforme se espera, por membros das três Instituições. É neste quadro que o Parlamento Europeu decidiu emitir o seu parecer sobre alguns aspectos a debater em Viena.

Três Convenções das Nações Unidas

Ao nível internacional, a política em matéria de estupefacientes é regida por três Convenções da Organização das Nações Unidas: a Convenção única sobre os estupefacientes de 1961, a Convenção sobre substâncias psicotrópicas de 1971 e a Convenção de Viena contra o tráfico ilícito de narcóticos e de substâncias psicotrópicas de 1988.

A Convenção única sobre estupefacientes de 1961 apenas autoriza a posse, utilização,

comercialização, distribuição, importação, exportação, fabrico e produção de estupefacientes exclusivamente para fins médicos e científicos.

Para o efeito, as Partes desta Convenção estabeleceram princípios orientadores cuja implementação é confiada a órgãos de controlo internacional.

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RR\493756PT.doc 9/9 PE 319.267

PT

O texto prevê essencialmente duas formas complementares de intervenção e de controlo: a primeira, de natureza preventiva, incide sobre o mercado legal, científico e médico; a

segunda, de natureza repressiva, diz respeito ao tráfico ilícito, ao abuso de estupefacientes e à toxicodependência.

O controlo do mercado legal baseia-se num conjunto de medidas preventivas nacionais e internacionais, aplicáveis às substâncias qualificadas como estupefacientes (art. 2º e 3º). Estas medidas obrigam os Estados a fornecer aos órgãos de controlo – a Comissão de

Estupefacientes do Conselho Económico e Social da Organização das Nações Unidas e o Conselho Internacional de Controlo de Estupefacientes (art. 5º a 18º) – as estimativas quanto às necessidades nacionais em matéria de estupefacientes (art. 19º), à produção de estatísticas (art. 20º) e a relatórios periódicos destinados a informar sobre a situação que impera nos respectivos países.

Nos termos da Convenção única de 1961, o Controlo do tráfico ilícito deveria começar pelo controlo ao nível da cultura. A produção ilícita da papoila de ópio, das folhas de coca e de canabis constitui a principal fonte do tráfico de estupefacientes. Incapaz de intervir na fonte, a legislação internacional acalenta a esperança de desencorajar este tráfico por meio de medidas repressivas visando dissuadir os traficantes. A Convenção Única estabelece para este efeito as seguintes três disposições: uma recomendação aos Estados tendente a punir adequadamente as infracções graves em matéria de tráfico de estupefacientes (art. 36º), uma medida prevendo a confiscação das substâncias apreendidas (art. 37º) e medidas de assistência e cooperação penal internacional, designadamente em matéria de extradição (art. 35º). Esta cooperação foi reforçada pela Convenção de Viena de 1988 contra o tráfico ilícito de narcóticos e de

substâncias psicotrópicas. Com efeito, o texto reforça a severidade das anteriores disposições em matéria de extradição (art. 6º), assim como a assistência judicial mútua internacional (art. 7º), os procedimentos repressivos (art. 8º) e as disposições respeitantes à cultura ilícita (art. 14º), ao mesmo tempo que estabelece um procedimento específico de detecção dos traficantes através do controlo de fornecimentos (art. 11º), e avança argumentos em favor da criação de novos delitos internacionais, como o incitamento.

A Convenção de 1971, que em muito se assemelha à Convenção Única, estabelece um controlo internacional manifestamente menos rigoroso em relação às chamadas substâncias

"psicotrópicas" que são geralmente produzidas pela indústria farmacêutica. Por conseguinte, a semelhança na redacção de ambos os textos permite transpor, mutatis mutandis, as alterações propostas à Convenção Única para a Convenção de 1971.

A Convenção de 1988 é muito controversa. Reforça as anteriores Convenções, às quais serve de complemento. As Convenções de 1961 e 1971 visam limitar o consumo de narcóticos e de substâncias psicotrópicas para fins médicos e/ou científicos. Convidam as Partes a criar

"delitos puníveis" a fim de controlar a utilização de certos estupefacientes, impondo controlos ao fabrico, produção, cultura, importação, aquisição ou posse. A Convenção de 1988 vai mais longe. Convida as Partes a estabelecerem infracções contra o que ela estabelece como delitos penais nos termos do direito nacional, incluindo a posse, a aquisição e a cultura de substâncias ilícitas para uso pessoal.

Aquando de debates a nível local, regional, nacional e europeu, incidentes sobre a eficácia e as consequências das políticas em vigor em matéria de toxicodependência, é frequente considerar as Convenções das Nações Unidas como obstáculos à mudança. No entanto, estas Convenções são redigidas e ratificadas pelos Estados-Membros, estando estes

Estados-Membros habilitados a propor modificações e/ou a rejeitar as Convenções.

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PE 319.267 10/10 RR\493756PT.doc

PT

Na próxima Conferência deverão ser debatidos os seguintes dois pontos importantes:

uma iniciativa relativa à avaliação da eficácia das três Convenções das Nações Unidas e aos métodos escolhidos para lutar contra os problemas da toxicodependência; e

a conveniência em modificar a Convenção Única de 1961 sobre os estupefacientes a fim de racionalizar a classificação das substâncias que aí figuram.

AVALIAÇÃO

Haverá provavelmente consenso à escala mundial quanto à premência em reduzir os malefícios causados pelos estupefacientes. No entanto, é intenso o debate quanto à eficácia dos métodos escolhidos, essencialmente medidas tendentes a reduzir o fornecimento ilícito e a procura de estupefacientes. Poderia propor-se a convocação de uma Conferência das Nações Unidas em 2004 destinada a avaliar o impacto das Convenções das Nações Unidas sobre os estupefacientes e, se adequado, a retirar um ensinamento para o futuro.

Esta avaliação deverá proporcionar uma compreensão precisa sobre a eficácia das Convenções das Nações Unidas no que diz nomeadamente respeito:

- à redução tanto da propagação como da procura de estupefacientes ilícitos;

- às suas consequências sociais e sanitárias, nomeadamente na óptica de uma estratégia de redução das consequências nocivas; e

- à criminalidade ligada à toxicodependência, à pequena delinquência e às redes do crime organizado, assim como ao respectivo impacto sobre o conjunto da sociedade, incluindo o processo de tomada de decisões, a economia e as finanças.

MODIFICAR AS CONVENÇÕES DA ONU

A coexistência da Convenção Única e da Convenção de 1971 geraram alguns efeitos ilógicos, designadamente o facto de uma planta (canabis) contendo no máximo 3% de um elemento principal ser sujeita a um tratamento mais severo que a substância pura que contém 100%

desse elemento (tetrahidrocanabinol ou THC). Para pôr ordem nisto, é necessário reclassificar certas substâncias.

A reclassificação de certas substâncias da Convenção Única e a sua eventual reclassificação na Convenção de Viena só concorrem para modificar as disposições em matéria de consumo, e não as disposições em matéria de proibição da cultura (arts. 26º e 28º da Convenção Única).

A proibição da cultura de plantas não pode ser abolida através de uma simples reclassificação.

A abolição deste controlo só poderá ser efectuado mediante uma modificação do Tratado.

Esta restrição, própria das plantas cultivadas sujeitas a controlo internacional, faz diminuir de algum modo o interesse da técnica de reclassificação no caso dos estupefacientes de cultura natural.

Nos termos do artigo 47º da Convenção Única, as Partes Contratantes podem solicitar modificações à Convenção através do procedimento de alteração. O artigo relativo à reclassificação (art. 3º) reveste-se do máximo interesse para melhorar a Convenção a curto prazo.

(11)

RR\493756PT.doc 11/11 PE 319.267

PT

1. Técnica da reclassificação no artigo 3º.

A técnica de reclassificação no artigo 3º da Convenção Única é interessante uma vez que permite modificar tanto a lista das substâncias classificadas como o regime que as acompanha.

Além disso, pode ser utilizada a qualquer momento, por iniciativa de qualquer Parte contratante, e apresenta a vantagem de incidir sobre um dos aspectos mais controversos do controlo internacional: a classificação dos estupefacientes nos quadros da Convenção Única.

Convém lembrar que a Convenção classifica mais de uma centena de substâncias segundo quatro quadros distintos:

- Quadro I: inclui opiáceos, tanto naturais (ópio) como semi-sintéticos (morfina, heroína), derivados da coca (cocaína) e canabis (haxixe), bem como inúmeras substâncias sintéticas (petidina, metadona,...),

- Quadro II: inclui substâncias utilizadas para fins médicos e que requerem um controlo menos rigoroso, já que o risco de abuso é menor. Inclui um opiáceo natural (codeína) e substâncias sintéticas (propiram, dextropropoxifeno).

- Quadro III: inclui as isenções. Exclui uma série de preparações farmacêuticas a partir de substâncias que não envolvam abuso nem efeitos nocivos. É esse o caso de certos pós e líquidos contendo uma baixa dosagem de ópio.

- Quadro IV: inclui alguns estupefacientes do Quadro I considerados como apresentando propriedades especialmente perigosas e um valor terapêutico extremamente limitado. Inclui tanto opiáceos semi-sintéticos (heroína, desomorfina) como opiáceos sintéticos

(Ketobemidona, etorfina), assim como canabis e a resina de canabis.

Estes quadros comprovam que o critério principal para a classificação de uma substância consiste na sua utilização para fins medicinais. Com base no princípio por força do qual as únicas utilizações lícitas são as que se destinam a fins médicos ou científicos (art. 4º), as plantas ou substâncias que não visam estes objectivos são automaticamente consideradas como particularmente perigosas. É esse o caso do canabis e da resina de canabis,

classificados, juntamente com a heroína, no grupo IV, pelo único motivo de que não

apresentam valor terapêutico. Esta é no entanto uma razão em todo o caso discutível, já que o canabis é susceptível de apresentar inúmeras utilizações para fins médicos.

Um dos principais desafios que suscita este sistema de classificação reside no diferente tratamento dos estupefacientes e das substâncias psicotrópicas. Historicamente, isto resulta da recusa (por praticamente um voto, durante os debates preparatórios da Convenção Única) em classificar os barbitúricos entre as substâncias sujeitas a controlo internacional.

Esta recusa, com efeito, está em parte na origem da Convenção sobre substâncias psicotrópicas adoptada em Viena, em 1971. Esta Convenção foi reclamada pelos países em vias de

desenvolvimento, que não compreendiam a diferença entre substâncias psicotrópicas naturais (ópio, coca, canabis) e substâncias psicotrópicas sintéticas da indústria farmacêutica

(anfetaminas, barbitúricos, alucinógenos ...). Assim, por exemplo, ainda que os barbitúricos, as anfetaminas e os alucinogéneos sintéticos (LSD 25, PHP, MBA, NDMA...) sejam claramente mais poderosos e dependentes do que o canabis ou a folha de coca, não estavam nessa época sujeitos a qualquer controlo internacional. A desigualdade da situação leva por isso as Nações Unidas a incluir as substâncias psicotrópicas dentro do âmbito de aplicação do controlo.

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PE 319.267 12/12 RR\493756PT.doc

PT

As substâncias psicotrópicas são hoje classificadas pela Convenção de Viena (art. 1º) em quatro quadros distintos:

- Quadro I: inclui estupefacientes perigosos que geram um sério risco para a saúde pública, e cujo valor terapêutico é duvidoso ou inexistente. Inclui alucinogéneos sintéticos (LSD 25, DMT) e o tetrahidrocanabinol (THC).

- Quadro II: inclui estimulantes de tipo anfetamínico, de limitado valor terapêutico, assim como certos analgésicos, tais como fenciclidina, que não apresenta qualquer valor terapêutico para o homem.

- Quadro III: inclui barbitúricos de efeito rápido ou moderado que foram objecto de abuso grave, pese embora o seu valor terapêutico.

- Quadro IV: inclui hipnotizantes, tranquilizantes (benzodiazepina) e analgésicos que geram considerável dependência, mas que são principalmente utilizados para fins terapêuticos

Esta classificação reitera o critério de valor terapêutico, mas, na verdade, baseia-se mais ou menos na inclusão ou não do produto num dos quatro grupos farmacológicos: alucinogéneos (Quadro I), anfetaminas (Quadro II), barbitúricos (Quadro III), tranquilizantes (Quadro IV).

Forçoso é verificar que uma comparação entre a classificação dos estupefacientes narcóticos e das substâncias psicotrópicas não coincide minimamente com o perigo em termos sanitários e sociais colocado pelos produtos em causa. Substâncias que apenas geram uma dependência moderada surgem classificadas como substâncias narcóticas, ao passo que substâncias que criam elevada dependência se encontram classificadas entre as substâncias psicotrópicas.

Torna-se por isso surpreendente verificar que, em termos de legislação internacional, a LSD, a mescalina, a psilocina e outros alucinogéneos sintéticos (DMT, STP...) não são considerados como estupefacientes, mas como substâncias psicotrópicas. Ainda há melhor, uma vez que a planta do canabis surge incluída entre os estupefacientes mais perigosos, ao passo que o respectivo elemento principal, tetrahidrocanabinol ou THC, apenas surge classificado como substância psicotrópica. Torna-se difícil explicar de que modo uma planta contendo um máximo de 3% de um elemento principal é objecto de um tratamento mais severo do que a substância 100% pura.

Afigura-se por conseguinte útil tentar reorganizar estes quadros, procedendo a uma

reclassificação de vários estupefacientes. Isto permite uma transferência de um quadro para outro, reclassificá-los como substância psicotrópica, ou suprimi-los pura e simplesmente da lista das substâncias sujeitas a controlo internacional.

As regras que regem as propostas de modificação aos quadros da Convenção de 1961 estão previstas no artigo 3º que define as condições de modificação do âmbito de aplicação do controlo internacional. Os Estados Unidos já seguiram este rumo quando propuseram a reclassificação do dextropropoxifeno.

Para além das técnicas atrás referidas (reclassificação e modificação), as Convenções contêm disposições em matéria de reserva (apenas possíveis no momento da assinatura, ratificação ou adesão) e de denúncia (accionável a qualquer momento).

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RR\493756PT.doc 13/13 PE 319.267

PT

PROPOSTA DE RECOMENDAÇÃO B5-0541/2002 Recomendação referente à reforma das convenções sobre as drogas

apresentada nos termos do nº 1 do artigo 49º do Regimento por Marco Cappato e por mais 108 deputados

O Parlamento Europeu,

A. Considerando que as políticas relativas às drogas no âmbito internacional decorrem das Convenções das Nações Unidas de 1961, 1971 e 1988 e que estas convenções proíbem, em especial, a produção, o tráfico, a venda e o consumo de um grande leque de substâncias para fins que não sejam médicos ou científicos,

B. Considerando que, não obstante a utilização massiva de forças policiais e de outros recursos na aplicação das convenções da ONU, a produção, o consumo e o tráfico de substâncias proibidas aumentaram extraordinariamente nos últimos 30 anos, o que constitui um verdadeiro fracasso, reconhecido pelas próprias autoridades policiais e penitenciárias,

No que se refere à prevenção e ao tratamento:

Considerando que:

- o consumo de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas, em particular pelos jovens, constitui um grave problema à escala mundial,

- todas as Nações desenvolvidas procuram desenvolver métodos melhores para controlar o consumo de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas, - a longa história da proibição demonstrou claramente que o facto de contar

principalmente com a acção do Estado, através do direito penal e da polícia, tem apenas um efeito marginal no controlo do consumo de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas,

- existem, além disso, provas concludentes de que podem ser amplamente desenvolvidos programas de tratamento eficazes sem restrições estatais,

permitindo assim uma experimentação a uma escala tão grande quanto possível neste esforço incessante para melhorar a capacidade dos Estados de prestar assistência às vítimas do consumo de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas,

No que refere à produção e ao tráfico:

Considerando que:

- apesar das leis proibicionistas, a grande maioria dos estupefacientes e das substâncias psicotrópicas circulam livremente em todo o mundo,

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PE 319.267 14/14 RR\493756PT.doc

PT

- os crescentes lucros que as organizações criminosas retiram do comércio de substâncias ilícitas, e que são reinvestidos em actividades criminosas ou em circuitos financeiros legais, atingiram um tal nível, que minaram as fundações das instituições legais e dos governos constitucionais,

- a rentabilidade do comércio de substâncias ilícitas conduzirá forçosamente ao aumento do número de países implicados na produção de drogas e gerará investimentos massivos na investigação e produção de novas drogas químicas, - o principal efeito negativo da utilização de grandes recursos para conter o

tráfico de substâncias ilícitas provocou um aumento dos preços de venda (a tarifa do crime) em proveito exclusivo das redes criminosas organizadas, No que se refere aos aspectos sociais e sanitários e ao consumo:

Considerando que:

- os consumidores de substâncias ilícitas não dispõem, em geral, de informações fiáveis sobre a composição e os efeitos dos estupefacientes e das substâncias psicotrópicas, estando, por conseguinte, expostos a riscos (nomeadamente a morte por "overdose" e a transmissão do vírus HIV/SIDA) que ultrapassam de longe a perigosidade das substâncias em si,

- a clandestinidade do consumo de substâncias ilícitas constitui frequentemente um obstáculo intransponível para o trabalho de prevenção, bem como para a prestação de assistência por parte das autoridades públicas e das organizações privadas; as políticas em vigor condenam, por conseguinte, os consumidores a viver à margem da sociedade, em contacto permanente com o mundo do crime organizado,

- o crime organizado opera por forma a aumentar rapidamente o número de consumidores, os quais são incentivados a passar do consumo de substâncias relativamente inofensivas, como os derivados do canabis, para o das chamadas drogas duras,

- a grande necessidade económica e a enorme pressão exercida pelo crime organizado levam os consumidores de substâncias ilícitas a tornarem-se traficantes, o que aumenta ainda mais o consumo de droga,

No que se refere aos aspectos jurídicos e penais:

Considerando que:

- a aplicação de leis repressivas em matéria de droga exerce, inevitavelmente, uma pressão insuportável sobre o sistema jurídico e penal nacional e

internacional, a tal ponto que é cada vez maior o número de pessoas nas prisões detidas por crimes directa ou indirectamente ligados aos

estupefacientes e às substâncias psicotrópicas,

(15)

RR\493756PT.doc 15/15 PE 319.267

PT

- a adopção das actuais políticas sobre droga leva à introdução no direito nacional de normas que limitam a liberdade individual e as liberdades civis, Considerando que a viabilidade das políticas actuais e a procura de soluções

alternativas são actualmente tomadas em consideração num grande número de países,

1. Considera que a política de proibição das drogas, que assenta nas Convenções da ONU de 1961, 1971 e 1988, é a causa real do aumento crescente dos danos que a produção, o tráfico, a venda e o consumo de substâncias ilícitas infligem a sectores inteiros da sociedade, à economia e às instituições públicas, minando assim a saúde, a liberdade e a vida dos indivíduos;

2. Exorta o Conselho e os Estados-Membros da União Europeia a tomarem em consideração os resultados obtidos em muitos países com a criação de políticas baseadas na redução dos danos e dos riscos (em especial através da administração de tratamentos de substituição), a despenalização do consumo de determinadas

substâncias, a despenalização parcial da venda do canabis e dos seus derivados e a distribuição de heroína sob controlo médico;

3. Solicita ao Conselho e aos Estados-Membros da UE que tomem medidas para conferir mais eficácia à luta contra o crime organizado e o tráfico de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas, estabelecendo um sistema de controlo e de regulação legais da produção, da venda e do consumo de substâncias actualmente ilícitas;

4. Solicita ao Conselho e aos Estados-Membros da UE que iniciem um processo de revisão das Convenções da ONU por ocasião da Conferência para a revisão intercalar das políticas da ONU relativas à droga, que se realizará em Viena em Abril de 2003, por forma a revogar ou alterar as Convenções de 1961 e 1971, a fim de proceder a uma reclassificação das substâncias e legalizar a utilização de drogas para fins que não sejam médicos ou científicos, e revogar a Convenção de 1988.

Referências

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