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ESPAÇOS PRIVADOS DE USO PÚBLICO

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TESE DE DOUTORADO FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE São Paulo, 2018

GISELLY BARROS RODRIGUES

ORIENTAÇÃO: CARLOS LEITE DE SOUZA

ABERTO AO PÚBLICO?

ESPAÇOS PRIVADOS DE USO PÚBLICO

EM SÃO PAULO E NOVA YORK

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GISELLY BARROS RODRIGUES

ABERTO AO PÚBLICO?

ESPAÇOS PRIVADOS DE USO PÚBLICO EM SÃO PAULO E NOVA YORK

Orientador Prof. Dr. Carlos Leite de Souza

Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação Stricto Sensu da Faculdade de Arquitetura

e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie

como requisito parcial à obtenção do grau de Doutora

em Arquitetura e Urbanismo.

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R696a Rodrigues, Giselly Barros.

Aberto ao público? espaços privados de uso público em São Paulo e Nova York / Giselly Barros Rodrigues.

346 f. : il. ; 30 cm

Tese (doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Univer sidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2018.

Orientador: Carlos Leite de Souza.

Bibliografia: f. 277-346.

1. Fruição pública. 2. Espaços privados de uso público. 3. Espa- ço público. 4. Instrumentos urbanos. 5. Marco regulatório. I. Souza, Carlos Leite de, orientador. II. Título.

CDD 711

Bibliotecária responsável: Paola Damato CRB-8/6271

(5)

GISELLY BARROS RODRIGUES

ABERTO AO PÚBLICO?

ESPAÇOS PRIVADOS DE USO PÚBLICO EM SÃO PAULO E NOVA YORK

Aprovada em _____________________________

Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do grau de Doutora em Arquitetura e Urbanismo.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________

Prof. Dr. Carlos Leite de Souza

Universidade Presbiteriana Mackenzie

_____________________________________________

Prof. Dr. José Augusto Fernandes Aly Universidade Presbiteriana Mackenzie

_____________________________________________

Prof. Drª. Maria Isabel Villac

Universidade Presbiteriana Mackenzie

_____________________________________________

Prof. Dr. Renato Cymbalista Universidade de São Paulo

_____________________________________________

Prof. Dr. Wilson Levy Braga da Silva Neto

Universidade Nove de Julho

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A Deus e a minha família.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pela força, coragem e sabedoria ao longo desta desa- fiadora jornada.

A minha mãe, que apoiou incondicionalmente minhas decisões e sempre acreditou em mim, e ao meu esposo Fernando que – embora não tenha sido fácil – participou de todo este processo ao meu lado.

Ao meu orientador, Dr. Carlos Leite, que me ajudou a focar no que era importante, a sintetizar tudo o que eu havia absorvido e experenciado, contribuindo expressivamente para o amadu- recimento da tese.

Ao Dr. Carlos Guilherme Mota, amigo e primeiro orientador, por ter me incentivado, acolhido e ensinado desde a entrevis- ta para ingressar no Programa de Pós-Graduação até o final deste processo.

Ao meu amigo Dr. André Luiz Gonçalves Scabbia, orientador do Mestrado que me introduziu no ambiente de pesquisas e teve importante participação durante o processo doutoral.

À CAPES, pelo apoio financeiro.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie pelos momentos de reflexão e compartilhamento.

Aos professores, colegas e amigos do mestrado e da graduação que contribuiram de alguma forma para a minha formação.

Aos alunos do Programa de Iniciação Científica que orientei nos anos de 2015 e 2016, com destaque para José Emiliano Júnior e Anelliese Vieira, além de Bianca Mologni, orientanda de TCC em 2016, e a todos os alunos que foram fundamentais nas ex- periências aplicadas em São Paulo, agradeço de coração.

Por fim, aos amigos e colegas de curso, especialmente para

a Cíntia Marino, Edison Ribeiro e Márcia Gregori que me aju-

daram neste processo para que o percurso não fosse tão

solitário. Cabe ainda um agradecimento especial a minha amiga

Luciana que se dispôs a ler parte da minha tese e contribuiu

expressivamente nesta reta final. A todos minha gratidão.

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RESUMO

Os espaços privados de uso ou domínio público são o objeto de análise desta pesquisa, estudar tal temática mostra-se importante nas cidades brasileiras e, es- pecialmente em São Paulo, considerando-se o novo Marco Regulatório vigente na cidade, que inclui o Plano Diretor Estratégico de São Paulo (2014) e a Legislação de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (2016), estes incentivam ou determi- nam a inserção da fruição pública nos empreendimentos privados. Como estes espaços são inseridos em inúmeras tipologias, buscou-se investigar as praças de uso público que são ao ar livre – descobertas – e integradas às edificações multifuncionais e corporativas, com foco em debater as principais questões que circundam as praças privadas de uso público, investigando a sociedade local e o espaço público, os Instrumentos Urbanos aplicados, os aspectos que envolvem a urbanidade e a acessibilidade urbana existente nestes espaços abertos ao pú- blico. Este trabalho investiga estudos de caso nas cidades de São Paulo e Nova York – onde existe um Marco Regulatório conhecido internacionalmente como POPS (Privately Owned Public Space) que também foi fonte de inspiração para outras cidades que implantaram instrumentos semelhantes. As análises executa- das nos estudos de caso nas cidades paulistana e nova-iorquina procuram for- necer critérios para que os projetos das praças públicas de propriedade privada sejam focados nas pessoas, gerando urbanidade e o máximo de acessibilidade pública possível.

Palavras-chave: Fruição Pública. Espaços Privados de Uso Público. Espaço

Público. Instrumentos Urbanos. Marco Regulatório.

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ABSTRACT

The object of analysis of this research is the privately owned public space or public domain, studying such a theme is important in Brazilian cities, and es- pecially in São Paulo, considering the new Regulatory Framework in force in the city, which includes the São Paulo Strategic Master Plan (2014) and the Soil Land Utilization and Utilization Law (2016), they encourage or determine the insertion of public fruition in private enterprises. As these spaces are inserted in numerous typologies, we sought to investigate the open-air public places - in open areas - and integrated the multifunctional and corporate buildings, with a focus on discussing the main issues surrounding privately owned public plazas investigating the local society and the public space, the applied urban instruments, the aspects that involve the urbanity and the urban accessibility existing in these spaces that are open to the public. This research investigates case studies in the cities of São Paulo and New York - where there is a Regulatory Framework internationally known as POPS (Privately Owned Public Space), which was also a source of inspiration for other cities that implemented similar instruments. The analyzes carried out in the case studies in the cities of São Paulo and New York seek to provide criteria so that the projects of the public plazas of private property are focused on the people, generating urbanity and the maximum of public accessibility possible.

Keywords: Public Fruition. Privately Owned Public Space. Public Space.

Urban Instruments. Regulation Mark.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APO Análises Pós-Ocupação

CEU Centro Educacional Unificado

DOT New York City Department of Transportatio

HIS Habitação de Interesse Social

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LPUOS Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo

NYC DEPARTMENT OF CITY PLANNING New York City Department of City Planning

ONU Organização das Nações Unidas

OODC Outorga Onerosa do Direito de Construir

PDDI Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado

PDE Plano Diretor Estratégico

PIU Projeto de Intervenção Urbana

PMSP Prefeitura Municipal de São Paulo

POPS Privately Owned Public Space

PPS Project for Public Space

SECOVI Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis SIA Símbolo Internacional de Acessibilidade

SMDU Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano da PMSP

SMUL Secretaria Municipal de Urbanismo e Legislação

SPURBANISMO São Paulo Urbanismo

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

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LISTA DE FIGURAS

Capítulo 1

Figura 1 - Linha do tempo dos principais acontecimentos que impactaram a construção so- cial e urbanística em São Paulo e no Brasil

Figura 2 - Linha do tempo dos principais acontecimentos que impactaram a construção so- cial e urbanística em Nova York e Estados Unidos

Figura 3 - Cartaz de divulgação do Arcade Parade Capítulo 2

Figura 1 - Empreendimento Huma Itaim – café e espaço de uso público Figura 2 - Ilustração da fruição pública

Figura 3 - Empreendimento B32 – praça pública Figura 4 - Ilustração de fachada ativa

Figura 5 - Ilustração de uso misto

Figura 6 - Ilustração de cota de solidariedade

Figura 7 - Ilustração de cota parte, coeficiente de aproveitamento, fachada ativa e fruição pública

Figura 8 - Ilustração de parklets

Figura 9 - Mapa com a localização dos POPS em 2010 Figura 10 - Hudson Yards – implantação

Figura 11 - Ilustração da praça do Hudson Yards com o Vessel (escultura)

Figura 12 - As ruas se encontram em ângulos retos: a área da praça é totalmente visível quando vista perpendicularmente de cada fachada da rua

Figura 13 - Ruas que não se encontram em ângulos retos: a área da Plaza é totalmente visí-

vel quando vista perpendicularmente de uma fachada da rua e mais de 50% é visível quando

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vista da outra fachada da rua

Figura 14 - Relação entre as parcelas maiores e menores das praças Figura 15 - Relação entre as parcelas maiores e menores das praças

Figura 16 - Ilustração dos requisitos mínimos para a circulação dentro das praças Figura 27 - Primeiros quatro metros com área livre para circulação

Figura 18 - Sinalização padrão para os POPS com os horários de acesso Figura 19 - Sinalização padrão para os POPS

Figura 20 - Sinalização padrão para os POPS com descrições das amenidades oferecidas Figura 21 - Montagem com a tipologia dos assentos

Figura 22 - Dimensões mínimas para os assentos

Figura 23 - Delimitação da Times Square e o fluxo dos veículos na região Figura 24 - Antes e depois, Times Square na primavera e no outono de 2009

Figura 25 - Distâncias de Manhattan caminhando, calculadas em minutos, e distâncias de Manhattan de bicicleta, calculadas em minutos

Capítulo 3

Figura 1 - O diagrama do lugar (com quatro critérios de análise) Figura 2 - O diagrama do lugar (com cinco critérios de análise)

Figura 3 - Foto área de parte da Avenida Paulista (Bela Vista) contendo dois estudos de caso de São Paulo

Figura 4 - Foto área de parte do Itaim Bibi contendo dois estudos de caso em São Paulo Figura 5 - Foto área de parte da Avenida Dr. Chucri Zaidan (Chácara Santo Antônio) conten- do cinco estudos de caso

Figura 6 - Fotografias do Pátio Victor Malzoni registradas em 2016 e 2018

Figura 7 - Parque linear do Parque da Cidade

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Figura 8 - Praça molhada e ciclovia do Parque da Cidade

Figura 9 - Ações durante o experimento – do grupo da população de baixa renda – no Brascan

Figura 10 - Ações durante o experimento – do grupo da população de alta renda – no Brascan

Figura 11 - Ações durante o experimento – do grupo da população de baixa renda – no Shopping Cidade São Paulo

Figura 12 - Ações durante o experimento – do grupo da população de baixa renda – no Cetenco Plaza

Figura 13 - Homem em situação de rua durante o experimento no Cetenco Plaza

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Capítulo 1

Fotografia 1 - Bryant Park no começo dos anos 1980 Fotografia 2 - Bryant Park hoje

Fotografia 3 - Grupo de manifestantes no Bryant Park protestando contra a guerra, o ódio e o racismo fomentados pelo atual presidente americano

Fotografia 4 - Seagram Building

Fotografia 5 - Seagram Building – praça frontal Fotografia 6 - Greenacre Park

Fotografia 7 - Arcade Parade – apresentação artística no POPS Fotografia 8 - Occupy Wall Street instalado no Zuccotti Park

Fotografia 9 - Regras de conduta do Zuccotti Park: à direita, antes do Occupy Wall Street; à esquerda, as regras implantadas durante as manifestações

Fotografia 10 - Atriz sendo abordada pelas pessoas no espaço público

Fotografia 11 - Atriz ignorada pelas pessoas no espaço público quando está “mal vestida”

Capítulo 2

Fotografia 1 - Avenida Paulista aberta aos domingos e feriados

Fotografia 2 - Placa com o regulamento do Jardim Botânico de Curitiba Fotografia 3 - Hudson Yards – empreendimento em construção

Fotografia 4 - Calçada frontal com assentos e espaço adequado para circulação de pedestres Fotografia 5 - Greenacre Park

Fotografia 6 - Obstrução proibida nas praças públicas

Fotografia 7 - Assentos próximos da calçada

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Fotografia 8 - Elementos pontiagudos nos assentos são proibidos pela legislação Fotografia 9 - Vegetação e colocação da lixeira no Tribeca Tower

Fotografia 10 - Iluminação no Rockefeller Center

Fotografia 11 - Vagas de bicicleta no One Liberty Plaza Fotografia 12 - Bebedouro no 835 6Th Ave Master LP Fotografia 13 - Escultura na 1166 Avenida das Américas Fotografia 14 - Fonte de água na 1251 Avenida das Américas Fotografia 15 - Serviço de alimentação na 12 East 49 Street Fotografia 16 - Placa com regras de conduta da 835 6th Avenue Fotografia 17 - Mesas, cadeiras e ombrelones na Flatiron Plaza

Fotografia 18 - Parklet oferece mais assentos nos espaços públicos na Broadway entre as 37 e 38 Street

Fotografia 19 - Mesas e cadeiras soltas na Pennsylvania Plaza

Fotografia 20 - Atividades programadas na Herald Square (em frente à Macy’s) Capítulo 3

Fotografia 1 - Praça 1411 Broadway em reforma

Fotografia 2 - Praça 160 Water Street sem atrativos de desenho urbano e amenidades insuficientes

Fotografia 3 - Rapaz fumando maconha na praça da Fifth Avenue Tower (Nova York) Fotografia 4 - Pessoas em grupo – 110 Wall Street (Nova York)

Fotografia 5 - Tomada elétrica – One Liberty Plaza (Nova York)

Fotografia 6 - Rockefeller Center com grande movimentação de pessoas Fotografia 7 - Pessoas com cachorros na 59 Maiden Lane

Fotografia 8 - Assento de pedra, mesas e cadeiras soltas no 12 East 49 Street

(21)

Fotografia 9 - Assento de madeira e metálico no 100 Wall Street Fotografia 10- Rapaz sentado no chão da praça 50 Lexington Avenue Fotografia 11 - Fonte d’água na 59 Maiden Lane

Fotografia 12 - Portões de fechamento na The Stanford

Fotografia 13 - Rapazes andando de skate na 180 Maiden Lane

Fotografia 14 - Pessoas em situação de rua na Praça One Penn Plaza West Fotografia 15 - Homem em situação de rua na 835 6Th Ave Master LP Fotografia 16 - Segurança identificado na Brookfield Place

Fotografia 17 - Pessoas tirando fotografias com a escultura implantada na 21 Wall Street Plaza

Fotografia 18 - Pessoas desconhecidas conversando na Praça 41 Madison Square Fotografia 19 - Praça 1211 Avenida das Américas

Fotografia 20 - Mãe amamentando na 108 Fifth Avenue Fotografia 21 - Pais trocando o bebê no The Millenium Hilton

Fotografia 22 - Vendedor ambulante na esquina do Seagram Building

Fotografia 23 - Casa Bandeirista – Patrimônio histórico – localizada no mesmo lote do Pátio Malzoni

Fotografia 24 - Grupo tirando fotografias no Pátio Malzoni Fotografia 25 - Placa com regras de conduta no Brascan

Fotografia 26 - Desenho urbano da EZ Towers não contempla assentos para os usuários Fotografia 27 - Bancos com encosto do Shopping Cidade São Paulo

Fotografia 28 - Bancos com encosto da Praça da Cidade Fotografia 29 - Capital Corporate – conexão com a calçada

Fotografia 30 - Padrão de vestimentas dos empregos de “colarinho branco”

Fotografia 31 - Acesso à praça do Cetenco Plaza fechada durante a madrugada

(22)

Fotografia 32 - Segurança monitorando o grupo no Brascan Century Plaza

Fotografia 33 - Desnível entre calçada e praça pública – Shopping Cidade São Paulo Fotografia 34 - Cetenco Plaza (pórtico nos acessos)

Fotografia 35 - Obstruções no acesso à praça durante as madrugadas

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LISTA DE QUADROS

Capítulo 2

Quadro 1 - Parâmetros qualificadores da ocupação – obrigatórios e incentivados Quadro 2 - Comparativo entre as legislações dos POPS de São Paulo e Nova York Capítulo 3

Quadro 1 - Relação das praças analisadas em Nova York

Quadro 2 - Relação das praças analisadas em São Paulo

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LISTA DE GRÁFICOS

Introdução

Gráfico 1 - Tripé necessário para gerar urbanidade nos espaços públicos Capítulo 3

Gráfico 1 - Locais aptos para encontro de amigos em Nova York Gráfico 2 - Atividades ocorrendo nas praças de Nova York

Gráfico 3 - Quantidade de atividades ocorrendo nas praças de Nova York Gráfico 4 - Tipologia dos empreendimentos analisados em Nova York Gráfico 5 - Regras de conduta fixadas em placas nos POPS de Nova York Gráfico 6 - Quantidade de segurança nas praças de Nova York

Gráfico 7 - Quantidade de câmeras nas praças de Nova York Gráfico 8 - Registro de pessoas tirando fotografias em São Paulo

Gráfico 9 - Proibições que aparecem nas placas das praças analisadas em São Paulo Gráfico 10 - Tipos de atividades ocorrendo nas praças de São Paulo

Gráfico 11 - Tipos de piso identificados nas praças de São Paulo

Gráfico 12 - Tipologia dos empreendimentos analisados em São Paulo

Gráfico 13 - Quantidade de câmeras nas praças de São Paulo

(25)

We must accept finite disappointment, but never lose infinite hope.

(Martin Luther King Junior)

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 27

1. O DISCURSO TEÓRICO 43

1.1 Sociedade e espaço público 43

1.2 Urbanidade 76

1.3 Espaços privados de uso público 82

1.4 Acessibilidade urbana 89

2. O DISCURSO FALADO 103

2.1 São Paulo 105

2.2 Nova York 125

3. OS CASOS INVESTIGADOS 161 3.1 Vistorias técnicas e análises 162

3.1.1 Nova York 173

3.1.2 São Paulo 200

3.2 Estudo exploratório experimental 221 3.2.1 Brascan Century Plaza 225

3.2.2 Shopping Cidade São Paulo 236

3.2.3 Cetenco Plaza 242

CONCLUSÃO 255

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 265

ANEXOS 277

(28)
(29)

O espaço público vem passando por um processo de ressignificação diante das novas formas de relações existentes na sociedade contemporânea na qual a in- terface entre público e privado é questão fortemente abordada e debatida desde o final do século XX. Neste viés, as ferramentas para regular os espaços privados de uso público mostram-se fundamentais para regular e atender os objetivos do público, embora isso nem sempre ocorra, agregando espaços públicos nas áreas urbanizadas e já adensadas, onde há escassez de terreno para a inserção de praças públicas.

Em São Paulo, um instrumento urbanístico de qualificação da cidade que trata destes espaços teve início, em 2014, com o Plano Diretor Estratégico (PDE), e foi regulamentado, em 2016, pela Legislação de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (LPUOS), denominado fruição pública. Com este instrumento almeja-se au- mentar a oferta de espaços públicos nos eixos de estruturação urbana da cidade, agregados aos usos mistos e fachadas ativas nas quadras, promovendo uma cidade mais dinâmica, segura e factível de proporcionar bem-estar nos desloca- mentos realizados a pé.

As cidades de São Paulo e Nova York foram elencadas para esta pesquisa, pois ambas são megacidades mundiais, com aproximadamente doze e oito milhões e seiscentos mil habitantes, respectivamente. Além disso, a cidade de Nova York é um modelo quando o assunto são os espaços privados de uso público e, em São Paulo, os Instrumentos Urbanos – implantados desde 2014 – abordam de forma mais incisiva o incentivo ao mercado imobiliário quanto à implantação de áreas de uso público nos empreendimentos privados.

INTRODUÇÃO

(30)

Obviamente ambas cidades possuem enormes diferenças históricas em seu desenvolvimento que se refletem em contextos atuais econômico, institucional, social e de desenvolvimento urbano, incluindo fatores de segurança urbana muito distintos em função das próprias histórias. O Brasil ainda é um país em desen- volvimento, sendo um dos países com maior grau de urbanização, entretanto, ainda enfrenta enormes diferenças sociais e déficits nas cidades que necessitam ser resolvidos; o contexto urbanístico das cidades norte-americanas já foi desen- volvido, atingindo atualmente um padrão de inclusão socioterritorial – mesmo que havendo problemas – melhor equacionado do que nas cidades brasileiras.

Em relação às cidades brasileiras, alguns autores criticam veementemente a ma- neira como foram e, em muitos casos, ainda são produzidas, para Ermínia Maricato (2015) a cidade pode ser vista como uma mercadoria, um grande negócio e um produto resultado das relações sociais, onde as consequências são a expulsão, segregação, desigualdade, violência, pobreza ou riqueza homogênea.

A segregação socioterritorial separa a população de baixa renda – que reside nas periferias com infraestrutura insuficiente e longe da área produtiva da cidade – da população de alta renda –- que reside nas áreas melhores infraestruturadas e produtivas da cidade.

Segundo Raquel Rolnik (1995) a segregação socioterritorial é intencional, sustentada por razões econômicas e políticas. Econômicas pois a terra urbana é uma mera mercadoria do setor imobiliário, e, políticas porque:

[...] a segregação é produto e produtora do conflito social. Separa-se

porque a mistura é conflituosa e quanto mais separada é a cidade, mais

(31)

visível é a diferença, mais acirrado poderá ser o confronto. (ROLNIK, 1995, p. 52)

Ainda que o Estado controle a cidade e crie segregações que são favoráveis ao grande capital, a tensão no espaço é existente e a todo o momento existe a luta pela apropriação do espaço urbano, a luta pelo direito à cidade (ROLNIK, 1995).

Maricato (2014 [Internet]) explica que o direito à cidade é um conceito francês que:

[...] diz que os moradores devem ter o direito à cidade enquanto fes- ta urbana, ou seja, a cidade que expressa diversidade e que utiliza seus espaços mais valorizados para oferecer lazer, cultura e serviços à população.

Entretanto, como o edifício é considerado uma mercadoria especial, colado no chão e depende da sua localização para que seu valor seja definido, Maricato (2015) afirma que o direito à cidade é para quem pode pagar por ela. É um direito coletivo de mudança pessoal e paralelamente à mudança da cidade, essa trans- formação depende do treino de um poder coletivo para reestruturar os processos de reurbanização.

As desigualdades socioterritoriais e étnicas também podem ser mensuradas

segundo o último censo realizado pelo IBGE, em 2010, que identifica 60% de

afrodescendentes no bairro do Jardim Ângela, seguido pelo Grajaú (56,8%), em

regiões periféricas da cidade de São Paulo. Em linhas gerais os negros são mais

de 50% em todas as periferias da cidade (principalmente na Zona Norte e Leste),

enquanto Moema, Itaim Bibi e Alto de pinheiros – regiões nobres da cidade – a

presença de negros gira em torno de 6% somente.

(32)

As diferenças entre estes bairros são conhecidas: são predominante- mente brancos os bairros servidos de urbanidade, enquanto são majori- tariamente negros aqueles autoproduzidos por seus próprios habitantes e que recebem investimentos governamentais em menor quantidade e de pior qualidade. (ROLNIK, 2017 [Internet])

Diante destes dados pode-se afirmar que a segregação étnica está diretamen- te vinculada à segregação socioterritorial, considerando que o Brasil é um país que possui 54,9% da população declarada negra ou parda, segundo o IBGE – demostrado nos dados sobre moradores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2016 – e grande parte desta população pertence à de baixa renda, que, na maioria dos casos, vive à margem da urbanidade presente em diversos espaços da cidade formal.

Diante deste cenário de segregação socioterritorial, em meados dos anos 1980 e 1990, os enclaves fortificados – que são os condomínios e espaços de fruição pública dentro de locais privados, como os shoppings centers – avançaram for- temente. A propagação deste modelo de cidade se relaciona ao avanço da cul- tura do medo (ROLNIK, 2017). Teresa Caldeira (2000) também descreve como a cidade foi segregada e possui enclaves fortificados apoiados na justificativa dos problemas de segurança pública existentes na cidade.

Neste período a sensação de insegurança foi fortalecida pelo abandono dos es- paços públicos, que “sofreram” com o corte de investimentos públicos em ilumina- ção, limpeza, zeladoria e políticas sociais para a proteção dos mais vulneráveis.

Maria Sposito e Eda Góes (2013, p.3-4) afirmam que:

(33)

[...] começamos por identificar, na história urbana contemporânea do Brasil, cada vez mais extremos, intensos, visíveis e explícitos, susten- tados por uma percepção crescente da insegurança.

Para Rolnik (2017 [Internet]) “a situação era muito semelhante ao que ocorre agora”. O corte nos gastos públicos vai contra aquilo que deveria ser a prioridade de qualquer governo, em meio ao aumento do desemprego, que é fortalecer as redes de proteção às pessoas mais vulneráveis e aumentar a manutenção e o investimento em espaços públicos, diminuindo as possibilidades de acesso ao consumo de espaços ofertados pelo mercado (ROLNIK, 2017).

O cenário dos enclaves fortificados ainda persiste na maior parte da cidade, porém há um pequeno movimento – de alguns incorporadores e gestores – que visa uma maior integração dos empreendimentos privados com o espaço urbano, integrado com as pessoas, seja com a retirada dos muros ou com o fechamento dos empreendimentos com vidros – o que permite a permeabilidade visual de quem passa pelas ruas. Entretanto, esse novo modelo pode ser encontrado em sua grande maioria apenas nas regiões mais nobres da cidade.

A oferta de áreas públicas no espaço urbano e a manutenção dos espaços públi- cos já existentes são outra grande problemática na cidade, além da carência de oferta de áreas públicas nas regiões periféricas. Quando existem, muitas praças públicas estão em má conservação, sem amenidades

1

suficientes para atrair o público, iluminação insuficiente, com lixo ou com a vegetação alta. Todos estes aspectos podem expelir o público, além de afastar a sensação de segurança que é desejável para que os espaços sejam utilizados.

1. Amenidade é um conjunto de qualidades como vegetação, assentos, mesas, etc. que despertam prazer e bem-estar as pessoas.

(34)

Em 2001 a United Nations Human Settlements Programme (UN-HABITAT) apro- vou a resolução sobre os objetivos do desenvolvimento urbano sustentável, no qual destaca a importância do acesso a espaços públicos urbanos de qual- idade, pois estes fortalecem os vínculos das comunidades, melhoram a segu- rança, promovem a coesão e a igualdade social, melhoram a saúde e o bem-estar dos cidadãos, estimulam a economia e a sustentabilidade ambiental, além de tornarem as cidades mais atraentes e promoverem uma mobilidade mais eficiente (UN-HABITAT, 2018).

Diante disso o espaço público mostra-se fundamental para a melhoria da quali- dade de vida da sociedade. Entretanto, somente disponibilizar áreas públicas e abertas não é suficiente para gerar espaços qualitativos e atraentes, muito menos para promover espaços que estejam aptos para serem apropriados pelas pes- soas. Angelo Serpa (2016, p. 38) afirma que:

As relações de propriedade podem inviabilizar muitas vezes a apro- priação social do espaço público no contexto urbano. [...] A apropriação inclui o afetivo, o imaginário, o sonho, o corpo e o prazer, que caracteri- zariam o homem como espontaneidade, como energia vital.

O espaço público na cidade contemporânea é muitas vezes dividido em territórios,

onde os próprios usuários privatizam o espaço e constroem barreiras simbólicas

e invisíveis, de acordo com Serpa (2016), reduzindo a possibilidade de interação

social marcada pela diversidade. Para Heitor Frúgoli Junior (1995) essa diver-

sidade é muitas vezes vista de forma negativa, principalmente pela população

de alta renda, que há muito tempo já abandonou os espaços públicos hoje já

popularizados.

(35)

Sendo assim, o espaço público não é partilhado entre os diferentes públicos, mas sim segregado (SERPA, 2016). Essas separações podem ser vistas, por exemplo, no Parque Ibirapuera – importante parque público de São Paulo –, onde existem algumas áreas que são ocupadas pela população de baixa renda – principalmente os espaços próximos às entradas de acesso direto ao trans- porte público –, enquanto a população de alta renda (que provavelmente mora na região) instala-se próxima aos acessos que circundam a área residencial de alto padrão no entorno do parque. Esses fatos foram observados no período em que a autora cursava a graduação e estagiava no parque, no final dos anos 1990.

Apesar do espaço público ser palco de conflitos de classes, ele também o é das relações de troca, do encontro, do aprendizado com as diferenças, quando nele são encontradas. As relações que se desenvolvem no espaço público podem dar inúmeras lições de civilidade e respeito ao próximo. Ao observar o espaço público e as relações que nele ocorrem, pode ser possível narrar uma breve história daquele espaço e da sociedade que o utiliza. Por estas e inúmeras outras razões, o espaço público se mostra fundamental na construção de uma sociedade com maior qualidade de vida.

Entretanto, na cidade de São Paulo os conflitos que ocorrem no espaço públi-

co – citados anteriormente –acontecem diante de uma sociedade que se mostra

cada vez mais individualista e exclusivista, apta a excluir aquele que se mostra

diferente do seu “mundo” e dos seus interesses. Mas, além destes problemas de

conflitos e falta de acessibilidade pública que podem expelir parte das pessoas,

existem também os problemas de falta de amenidades e de oferta de um desenho

urbano de qualidade focado no desejo das pessoas.

(36)

O desenho urbano – projeto que evidencia os aspectos físicos, estéticos e de conforto dos espaços públicos – tem enorme relevância na ativação do uso do es- paço, pois preocupa-se com o conforto dos usuários, os trajetos que os pedestres podem utilizar, o paisagismo, assentos em locais estratégicos e maneiras de gerar atratividade para o local, podendo induzir a urbanidade. William H. Whyte (2001) e Jan Gehl (2015) são autores que tratam dos aspectos qualitativos quanto ao de- senho urbano, além do PPS – Project for Public Space – que foram utilizados ao longo desta pesquisa. Estes autores têm como foco a cidade para as pessoas e seus estudos avaliaram o que é importante e necessário para o uso das pessoas nos espaços públicos.

A gestão do espaço e a acessibilidade pública também podem interferir direta ou indiretamente no uso e na apropriação dos espaços públicos, além de outro ponto que deve ser considerado e pode impactar a apropriação do espaço, que é o controle e o monitoramento excessivo, citados por Diane Ghirardo (2002). A autora afirma que na década de 1980 os espaços de uso coletivo passaram a ter o mesmo padrão dos parques da Disney World que são focados no consumo, oferecem espetáculos, mas controlam e monitoram excessivamente os usuários.

Todos estes aspectos devem ser considerados para ser possível obter resultados

positivos quanto a qualidade do espaço, a acessibilidade e a liberdade pública,

além disso, existe outro aspecto importante para que o espaço promova a urbani-

dade: a cidadania. As questões culturais e a cultura do uso do espaço público são

condições importantes para impulsionar a apropriação dos espaços, o respeito e

a tolerância com o que é diferente também fazem parte destas questões culturais

e podem contribuir ou não para a ambiência urbana.

(37)

Diante disso, pode-se dizer que quando trata-se da urbanidade nos espaços privados de uso público o embasamento deve estar no tripé: i) Instrumentos Urbanos; ii) Gestão do Espaço; e iii) Cidadania (Gráfico 1), a conhecida aliança entre o setor público, privado e a população, importante para impulsionar o

“sucesso” do espaço público.

Gráfico 1. Tripé necessário para gerar urbanidade nos espaços públicos

Fonte: Autora, 2018

Dois elementos do tripé são discutidos no capítulo dois, denominado “O Discurso

teórico”, capítulo subdividido em quatro partes: 1) A sociedade e o espaço público

– como citado anteriormente é necessário entender a sociedade e as sua rela-

ção com os espaços públicos, as questões culturais e de cidadania, pois estes

(38)

aspectos impactarão a maneira como os espaços serão recebidos pelas pessoas e geridos. 2) Urbanidade – os espaços públicos que geram urbanidade em geral são bem-sucedidos, pois possuem os aspectos necessários para tal, portanto, nesse tópico a urbanidade será explicitada e debatida. 3) Espaços privados de uso público – tópico dedicado a definir e ilustrar o que são estes espaços, quais são os conflitos que nele existem e como funciona a articulação público-privada.

4) Acessibilidade urbana – no último tópico desse capítulo serão discutidas as questões das barreiras invisíveis, que são aquelas que podem existir para alguns nichos da população, seja pelo porte e abordagem dos seguranças, seja pelo excesso de controle ou a própria imponência do local, o que pode gerar a falta de acessibilidade pública para uma parcela específica da população.

No capítulo três, denominado “O Discurso falado”, constam as entrevistas reali- zadas com representantes dos setores público, privado e acadêmico nas cidades de São Paulo e Nova York, em que foram inseridas questões referentes aos Instrumentos Urbanos das duas cidades. Ainda nesse capítulo serão apresenta- das as ferramentas – dos Instrumentos Urbanos – que atingem direta ou indireta- mente os espaços privados de uso público, tanto na cidade paulistana quanto na nova-iorquina.

Todas as passagens da autora pela cidade de Nova York ao longo dos últimos

dez anos, mais especificamente na região da Ilha de Manhattan, despertaram

grande interesse pelos térreos dos empreendimentos, curiosidade em saber

como funcionam estes espaços privados de uso público e como é a relação

das pessoas com eles. Em geral, os mesmos são implantados em empreen-

dimentos multifuncionais e corporativos, onde essencialmente no pavimento

(39)

térreo existe uma base comercial, áreas de entretenimento, praças e outros equipamentos que possuam algum atrativo para que os usuários possam usufruí-los.

Como estes espaços podem ter inúmeras características físicas, como serem internos, apenas de passagens e sem amenidades, por exemplo, o recorte para esta pesquisa são as praças privadas de uso públicos – praças abertas, descobertas e disponíveis para a população –, implantadas em empreendi- mentos multifuncionais ou corporativos.

A retomada de grandes empreendimentos multifuncionais, na cidade de São Paulo, com características que alteram a forma urbana, definem novas carac- terísticas para os lugares, criam centralidades, delimitando novos e mais vazios nos lotes e nas quadras, geram essas praças e áreas de fruição públicas. A ideia de fruição na quadra e a integração do público e privado criam formas diferentes de ocupação nos terrenos.

Alguns questionamentos surgem ao observar uma cidade como Nova York,

aparentemente seus espaços funcionam de uma maneira mais democrática,

além desta tipologia existir em abundância, diferentemente do que ocorre na

maioria das regiões da cidade de São Paulo. Sabe-se que existem diversos

fatores, principalmente em relação à legislação da cidade, que podem estim-

ular ou não a construção destes empreendimentos, além das diversidades

socioculturais e econômicas, por isso as pesquisas foram avançadas e apro-

fundadas para obtermos de respostas para estas questões.

(40)

As análises realizadas nos estudos de caso que aparecem neste trabalho revelam alguns parâmetros e indicadores de como as sociedades urbanas das duas cidades se apropriam de uma maneira ou de outra dos espaços de uso pú- blico. Para isso, foram realizadas visitas técnicas e análises em praças privadas de uso público inseridas nas cidades de São Paulo e Nova York.

No capítulo quatro, “Os casos investigados”, são apresentados os resultados das análises que foram embasados no Guia do Espaço Público, criada pelo PPS.

O cerne desta pesquisa é o estudo do que acontece nas praças privadas de uso público, quem as utiliza, como utilizam, como elas são geridas e monitoradas, suas apropriações, além de aspectos físicos que envolvem o desenho urbano.

Tem como objetivo entender como se dão as relações nas praças privadas de uso público, como as pessoas se comportam, o que fazem e quais são as percepções que geram.

O presente trabalho é uma investigação das formas de apropriação dos espaços

privados de uso público na cidade de São Paulo, espaços existentes e também

dos conceitos e instrumentos presentes no recente Marco Regulatório aprovado na

cidade, por meio do contraponto entre alguns casos existentes e avaliados in loco

e o Marco Regulatório existente – deste a década de 1960 – na cidade de Nova

York, e da observação sobre a maneira que os Marcos Regulatórios e a avaliação

concreta destes tipos de espaços se revelam em uma cidade e na outra. Esta pes-

quisa busca “jogar luz” em um tema cada vez mais “caro”, relevante e demandado

nas cidades brasileiras em função do uso potente dos espaços públicos na cidade,

sejam de propriedade pública ou, no caso desta pesquisa, de propriedade privada.

(41)

Questões diversas acerca deste tema têm surgido ao longo dos estudos, aná- lises e observações, mas a questão mais intrigante e eixo desta pesquisa é:

os espaços privados de uso público da cidade de São Paulo ainda encon- tram grande dificuldade em de fato proporcionar a dimensão de uso público – efetivamente democrática e livre – comparativamente com outros lugares do mundo, como ocorre na cidade de Nova York? A hipótese principal deste traba- lho é de que os espaços privados de uso público na cidade de São Paulo ainda são bastante escassos e em sua maioria não possuem a desejável apropriação pública de fato, além disso, podem estar havendo diferenciações ou cercea- mentos por determinados tipos de público de pessoas em um lugar que não deveria existir qualquer tipo de restrição a classes sociais, etnias ou quaisquer outros tipos de preconceito. Aproveita-se também para fazer um comparativo com a cidade de Nova York por ser relativamente do mesmo porte, ambas são megacidades, além de a cidade possuir um Marco Regulatório já consagrado.

De fato, a proposta de um espaço privado de uso público nos térreos dos empreendimentos é muito válida, pois permite a permeabilidade do pedestre e propõe mais áreas de convívio para as pessoas, o que agrega muito para a cidade e a sociedade.

2

Porém, é necessário que o espaço tenha maior dimen- são de uso público e que integre maior diversidade de pessoas para que as mesmas se apropriem dele.

2. Trecho de um artigo da autora publicado em 2016, intitulado Espaços de usufruto público nos empreendimentos privados. Integração ou segregação?. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 187, 04.

(42)

40

O método utilizado para esta pesquisa foi pautado em: i) análise bibliográfica, que forneceu todo o referencial teórico; ii) análise in loco dos estudos de casos em São Paulo e Nova York; iii) estudos dos Marcos Regulatórios Urbanísticos exis- tentes nas cidades de São Paulo e Nova York; e iv) avaliação dos guias específi- cos de dimensionamento e uso do espaço público.

O referencial teórico foi embasado no tripé citado anteriormente (Cidadania, Instrumentos Urbanos e Gestão do Espaço), o mesmo envolve a sociedade, os setores público e privado. Incialmente foram realizadas pesquisas bibliográficas com os autores que pautam o tema espaço público e urbanidade – William Whyte (2001 e 2009), Manuel de Solà-Morales (2008), Jane Jacobs (2011), Jan Gehl (2015) e Angelo Serpa (2016). A dimensão social urbana foi estudada com os autores Milton Santos (1986), Michael Foucault (1987), Darcy Ribeiro (1995), Teresa Caldeira (2000), Henri Lefebvre (2001), Diane Ghirardo (2002) e Alexis Tocqueville (2005). Assim como foram utilizados autores que fazem análises recentes da potência das cidades, como Edward Glaeser (2011). Enquanto os Marcos Regulatórios foram analisados por meio dos Instrumentos Urbanos que fazem parte do PDE (2014), LPUOS (2016) e da Resolução de Zoneamento da cidade de Nova York.

Foram realizadas oito entrevistas, nas duas cidades estudadas, com atores dos setores público e privado – do setor imobiliário, os chamados steackholders –, além de representantes do setor acadêmico. Por fim, foram realizadas visitas técnicas in loco, onde foram feitas medições dos assentos, registros fotográficos,

O método

(43)

fichas técnicas e análises técnicas das praças públicas de propriedade privada inseridas nas cidades de Nova York e São Paulo.

A metodologia de análise das praças baseou-se nos princípios e práticas do PPS e no Guia do Espaço Público – elaborado por Heemann e Santiago (2015), que também se respaldam no PPS. Este material foi totalmente retirado do PPS e adaptado com a missão de contribuir com ideias e práticas para ajudar cidadãos, o setor público e o privado na construção de melhores espaços públicos nas cidades.

Posteriormente foram definidos critérios de análise a partir dos quatro atributos-chave definidos pelo PPS como cruciais para fazer com que o espaço público seja bem-suce- dido – i) sociabilidade; ii) acessos e conexões; iii) usos e atividades; e iv) conforto e imagem, com o acréscimo do atributo iv) segurança e controle. Com os critérios de análise definidos foram realizadas visitas técnicas nas praças públicas de proprie- dade privada, observadas a partir das questões sugeridas pelo PPS com a adição de outras questões que demostraram ser importantes para o fechamento das análises.

As análises foram iniciadas na cidade nova-iorquina onde foi possível vivenciar os

espaços e a cultura local durante seis meses (de agosto de 2017 a janeiro de 2018),

pela residência temporária da autora na cidade, e, em São Paulo (local da residência

permanente), além da vivência em alguns estudos de caso desde o ano de 2015. As

visitas técnicas ocorreram nos meses de março e abril de 2018. Em Nova York foram

analisadas 52 praças, enquanto em São Paulo foram nove praças, em função do

número reduzido de praças privadas de uso público que atendem as características

analisadas nesta pesquisa.

(44)

Também foi realizado um estudo exploratório experimental em três estudos de

caso inseridos na cidade de São Paulo – Shopping Cidade São Paulo e Torre

Matarrazo, Cetenco Plaza e Brascan Century Plaza –, onde foram feitas atuações

por grupos de pessoas, registros fotográficos e audiovisuais, além da aplicação de

questionários direcionados aos atores que participaram do estudo experimental,

de forma que contribuíssem nas inferências das percepções sobre os mesmos.

(45)

1. O DISCURSO TEÓRICO Ao longo dos anos o espaço público tem sido o foco de grandes estudos e aná- lises, estabelecendo na atualidade características para o urbanismo contemporâ- neo e suas relações entre pessoas e espaços.

A abordagem estrutural para o discurso teórico desta pesquisa se inicia na dis- cussão entre Sociedade e Espaço Público, tendo sido fundamental o estudo de autores que se aprofundaram nas pesquisas inerentes a este tema.

Seja de propriedade pública ou privada é primordial discutir como ocorrem as relações nestes espaços e entender se suas apropriações estão condicionadas a suas posses. Portanto no Discurso Teórico são incluídos aspectos que se rela- cionam tanto com o desenho urbano, o qual se mostra essencial para o usufruto do espaço, como com as questões sociais que incluem a cidadania, civilidade e a cultura do uso público.

Parte do referencial teórico fundamenta-se em autores brasileiros e americanos, sendo estudadas nesta pesquisa as sociedades e os espaços nas cidades de São Paulo (Brasil) e Nova York (Estados Unidos). Conta-se também com a con- tribuição de autores europeus, com o objetivo de agregar definições dos espaços públicos e da sociedade do século XX até os dias atuais.

O espaço público faz parte da identidade da cidade contemporânea. Como exem- plo, a vida nas ruas das cidades, os centros urbanos e suas praças são espaços onde ocorrem as trocas econômicas, políticas e sociais.

1.1 SOCIEDADE E ESPAÇO PÚBLICO

(46)

Henri Lefebvre (2001) foi fundamental para o início das investigações acerca do espaço público e da sociedade, ele criticava os arquitetos e urbanistas que queriam impor novas relações no espaço e afirmava que era necessária a prática social para entender estas relações.

Segundo Lefebvre (2001), o arquiteto, urbanista, sociólogo, economista, filósofo ou político não podem decretar as novas formas de relações que ocorrem no es- paço, já que estas relações sociais advêm exclusivamente da práxis (prática so- cial) e não de projetos técnicos e científicos desenvolvidos por meio de ideologias.

Diante disto, Michel de Certeau (1998), na obra A invenção do cotidiano, salienta que é a relação social que determina o indivíduo e não o inverso, por isso, apenas se pode apreendê-lo a partir de suas práticas sociais, pois não existe um espaço formado separadamente das formações sociais.

Segundo Certeau (1998), o espaço público é o lugar de encontro entre pessoas, o que o torna essencial para a formação da identidade individual, é desta maneira que as pessoas conseguem compreender a elas mesmas. Portanto a sociedade tem o “poder” de modificar a natureza individual para que sejam incluídas e aceitas pelas suas respectivas comunidades.

Sendo assim, a sociedade muda a natureza individual, constituindo o homem como membro de uma comunidade, inserindo-o no âmbito social. Este sistema varia de acordo com a sociedade a qual o indivíduo pertence (CERTEAU, 1998).

A partir disso, pode-se inferir que os arquitetos e urbanistas também possuem

(47)

sistemas de significações. Neste ponto, Lefebvre (2001) critica os projetos elaborados por estes profissionais, sendo baseados em suas interpretações e não nas significações daqueles que de fato habitam o espaço. Demonstra-se assim a fragilidade e a falta de garantia entre as relações que ocorrem em es- paços projetados que vão ao encontro das hipóteses já levantadas anteriormente.

Milton Santos; Maria Adélia Souza et al. (1986) afirmam que, por meio dos pro- jetos arquitetônicos e da materialização dos edifícios, é possível compreender o espaço social de maneira que, quando as relações sociais, as experiências vivi- das e as percepções daqueles que habitam o espaço são mapeadas, a implanta- ção de um projeto que atenda aos anseios da sociedade é muito maior.

Entende-se que não existe um padrão preestabelecido, já que cada tendência dos grupos – que podem ser formados a partir do espaço familiar, da vizinhança ou econômico, por exemplo – obteve o seu próprio espaço social e específico, refletindo os seus valores, preferências e anseios particulares (SANTOS; SOUZA et al., 1986).

Lefebvre (2011) aborda também a importância da cidadania integral a todos os habitantes de um determinado local, visto que as pessoas estão diretamente liga- das aos espaços públicos por meio do caráter social e dos aspectos culturais. Isto é, a cidadania aprendida por esta população pode gerar um ambiente integrador e de compartilhamento.

A cidadania é uma lei da sociedade que atinge a todos e investe em cada indivíduo

com a força de se ver respeitado, tornando-se um estado de espírito enraizado na

(48)

cultura local de acordo com Milton Santos (2007). Existem regras para se tornar possível a vida em sociedade e o nível de tolerância às diferenças entre as pes- soas podem determinar o grau de civilidade existente em um grupo.

Para Richard Sennett (2015), civilidade é o que garante a convivência em um nível mínimo de harmonia dentro de uma cidade, mas, Vinicius Siqueira (2016) relata que de acordo com Sygmunt Bauman a civilidade só pode ocorrer em um ambiente civil, “um espaço público que promove o encontro entre estranho sob um conjunto de regras de convivência recíprocas.” (SIQUEIRA, 2016 [Internet]).

Para Santos (2007), existem diversos tipos de cidadania nos países subdesenvolvidos:

Mas há cidadania e cidadania. Nos países subdesenvolvidos, de um modo geral, há cidadãos de classes diversas; há os que são mais cida- dãos, os que são menos cidadãos e os que nem mesmo ainda o são.

(SANTOS, 2007, p. 24)

Com o processo de desruralização, migrações, urbanização, expansão do con- sumo de massa, enorme crescimento econômico e degradação das escolas brasileiras acontecendo de maneira muito acelerada, foi criada uma filosofia de vida na sociedade que privilegia o materialismo, tornando a sociedade egoísta (SANTOS, 2007).

[...] o triunfo, ainda que superficial, de uma filosofia de vida que privi-

legia os meios materiais e se despreocupa com os aspectos finalistas

da existência e entroniza o egoísmo como lei superior, porque é o ins-

trumento da busca da ascensão social. Em lugar do cidadão formou-se

(49)

um consumidor, que aceita ser chamado de usuário. (SANTOS, 2007, p. 25)

SANTOS (2007, p. 110) ainda afirma que “[...] o espaço urbano é diferentemente ocupado em função das classes em que se divide a sociedade urbana” e a ligação entre o caráter e a sociedade se encontra na forma como a sociedade assegura algum grau de conformidade por parte dos membros da sociedade.

Surge, portanto, o questionamento: qual a definição de público?

Para Hannan Arendt (2003) o público é o próprio mundo comum a todos, mas diferente do lugar que cabe a cada pessoa dentro dele, esse mundo tem relação com a estrutura humana e com os negócios realizados entre os que nele habitam. Sendo assim, a percepção de público difere conforme a localização do espaço, classe social, o grau de cidadania daquele grupo e das relações econômicas que ali ocorrem.

Apesar destas percepções serem diversas de acordo com cada grupo específico, a riqueza dos espaços públicos é a diversidade, a mescla, o complementar, o diverso.

Estas características são notadas nas diferenças de etnia, faixa etária, renda, nos diferentes usos e tipologias que movimentam o cenário urbano. Estes espaços são essenciais ao bom ambiente urbano, sendo a forma como são desenhados e manti- dos ao ar livre de grande relevância, permitindo a permeabilidade entre os espaços, promovendo a vivacidade, construindo cidade de pessoas para pessoas (GEHL, 2015).

Para Bauman, existe o espaço que é público, mas não é civil, este pode ser dividido

em quatro categorias: i) aquele que não é convidativo para os pedestres; ii) o

(50)

que serve às pessoas enquanto consumidores (shoppings, cafés, outlets); iii) o não-lugar – aquele que tem a função de anular a possibilidade de contato entre as pessoas, por exemplo, as salas de espera dos aeroportos e quartos de hotel;

e iv) os espaços vazios, que não possuem significado para uma parte da socie- dade, como moradias improvisadas ou cortiços, por exemplo (SIQUEIRA, 2016).

“As quatro categorias atuam numa frente única que, se não evita por completo o encontro físico entre duas pessoas, ao menos anula qualquer tipo de interação.”

(SIQUEIRA, 2016 [Internet]).

Diante destas afirmações conclui-se que os espaços públicos e suas apropriações estão diretamente ligados à sociedade à qual pertence. Refletindo as caracterís- ticas sociais, de civilidade e cidadania, assim como suas relações econômicas.

Visto que a sociedade impacta diretamente as relações sociais e consequente- mente em seu espaço público, a seguir serão apresentadas, separadamente, as cidades de São Paulo e Nova York, considerando suas condições econômicas, políticas e sociais, relacionando-as com os espaços conforme cada cenário cons- truído ao longo do tempo.

São Paulo

O Brasil é um país extremamente desigual, onde os espaços metropolitanos são reais ativadores de dinâmicas econômicas, sociais, culturais e políticas.

Que atuam de forma articulada compondo uma sociedade estabelecida em zonas produtoras e consumidoras de mercadorias, ideias e projetos (SANTOS;

SOUZA et al., 1986).

(51)

Segundo Darcy Ribeiro (1995) a estratificação social brasileira vem sendo gerada ao longo da história, suas características resultam em um processo de privilégios que beneficiam parte da sociedade, enquanto os demais são subjugados e segregados. Estas relações vêm desde o período escravocrata, e, após a abolição, continuam impregnadas com os mesmos valores.

O autor discute em sua obra O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil como são formadas as relações de classe e poder, demonstrando o tamanho da desigualdade social existente no Brasil, destacando a grande classe das massas marginalizadas e periféricas, geralmente negros e pardos, e evidenciando que, na maioria dos casos, a etnia está diretamente vinculada ao status social.

A seguir será apresentada uma linha do tempo (Figura 1) para melhor elucidação dos fatos ocorridos no Brasil – e na cidade de São Paulo –, a ilus- trar a formação civil da sociedade brasileira e o processo de desenvolvimento urbano da cidade de São Paulo.

A linha do tempo se inicia em 1822, data da independência do Brasil, a par-

tir da qual deseja-se aqui observar a construção do país. Na sequência são

destacados períodos que foram marcantes para o processo civil dos cidadãos,

assim como os acontecimentos econômicos e de interferências públicas no

uso do território.

(52)

1980 -

1990 1988 1989 1990 -

1991 1992 1994 1995 -

2002

2001 2003 -

2010 2011 -

2016 2013 2014 2014 -

2016 2016

1822 1850 1875 1888 1889 1891 1920 -

1922

1922 -

1930 1932 1934 1960 1964 -

1985 1970 -

1972 1984 - 1985

Independência

do Brasil Lei Eusébio de Queirós (Proibição do tráfico negreiro)

Realizado o relatório sobre o estado sanitário em SP e Instituído o Código de

Posturas

Lei Áurea (abolição dos

escravos) Último país

a abolir

Instaurada a primeira Constituição Brasileira na República

Revolta Tenentista (a favor de reformas políticas e

sociais)

Revolução Constitucionalista (nova Constituição e convocação

de eleições presidenciais) Liberado o voto feminino

1°Legislação Zoneamento e

Código de Obras

Governo Militar

Constituição Brasileira

(atual) Aumento na

construção de Shoppings

Centers

Renúncia do presidente Collor

antes do Impeachment

Lei de Acessibilidade

–ABNT NBR9050

Mandato Dilma Rousseff eleita 1°

presidente mulher

Jornadas

de Junho Revisão do Plano Diretor

(fruição pública)

Implantação de ciclovias, corredor

de ônibus, ruas

abertas e parklets Revisão da LPUOS em SP Proclamação

da República

Inauguração de Brasília –

Capital Federal

Fernando Collor de Mello - 1°

eleição presidencial direta

Plano Collor, economia em crise e alta da

inflação

Mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e crescimento econômico do Brasil

Início dos enclaves fortificados, 1°

Plano Diretor e implantação da

LPUOS

Implantação do Plano

Real

Início da verticalização de São Paulo

Semana de Arte Moderna

Diretas Já Eleição indireta

(presidente Tancredo

Neves)

Mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso e retomada econômica

Acontecimentos em SP Acontecimentos no Brasil Legenda:

Impeachment da Presidente Dilma

Figura 1. Linha do tempo dos principais acontecimentos que impactaram a construção social e urbanísticas em São Paulo e no Brasil

Fonte: Autora, 2018

(53)

Intenciona-se que a linha do tempo informe sintética e rapidamente os princi- pais fatos ocorridos desde a independência do país até a atualidade, criando um melhor entendimento do processo histórico brasileiro e suas relações com a vida civil.

Segundo Carlos Guilherme Mota (2015), desde a colonização a Monarquia mos- trou que controlaria a vida religiosa dos habitantes no Novo Mundo e a Igreja era responsável pelos registros de nascimentos, casamentos e óbitos.

Além disso, a Igreja era responsável pelos raros momentos de diver- são da população colonial, pois a vida social da colônia girava em torno das festividades religiosas. (MOTA, 2015, p. 125)

A educação também era um monopólio – inclusive das consciências – mantido pelos jesuítas, já que não era interessante que professores e alunos adquiris- sem pensamento crítico independente ou que colocassem em dúvida a autori- dade e os princípios da Igreja (MOTA, 2015).

Desde o final do século XVI, grande quantidade de escravos africanos passou

a desembarcar no país, o Brasil tornou-se independente em 1822 e até 1889

articulou-se um sistema oligárquico-imperial escravagista. No meio deste perío-

do (em 1850) a Lei Eusébio de Queirós foi implementada, proibindo o tráfico

negreiro no país. Somente em 1888 foi assinada a Lei Áurea abolindo a escra-

vatura no país, sob forte pressão da Inglaterra (MOTA, 2015). Mostra-se funda-

mental destacar que o Brasil foi o último país a abolir a escravidão, essa foi mais

de 100 anos depois da abolição ocorrida nos Estados Unidos, por exemplo.

(54)

De acordo com Mota (2015), a fisionomia da nova nação mudou consideravel- mente após a abolição da escravatura, Proclamação da República (1889), a imi- gração europeia e a substituição do trabalho escravo pelo trabalho assalariado.

Implantou-se então no Brasil:

[...] uma sociedade aristocrática de mentalidade arraigadamente escra- vagista. Escravismo que penetrou fundo nas instituições e, sobretudo, nas maneiras de pensar-se a vida social e política. (MOTA, 2015, p.

277)

Além disso, muitas leis brasileiras foram formuladas com a intenção de con- trole e ordenamento do espaço, por isso, é importante sinalizar que o Direito Romano (estabelecido no século II A.C.) foi o referencial organizador das cidades brasileiras até o presente momento, impactando o desenvolvimento espacial e so- cial. O Direito Romano possuía característica centralizadora, tanto política quanto administrativa, e regulamentava o direito público e privado, incluindo as relações familiares e comerciais segundo José Fábio Rodrigues Maciel (2013).

Diante disso, é fundamental destacar que em 1875 – com a implantação do Código de Posturas em São Paulo – o poder público intervia diretamente no comporta- mento das pessoas objetivando a ordem, o controle e a organização do espaço público. Dentre inúmeras restrições, este código regulava os horários em que os escravos poderiam utilizar as ruas, proibindo pessoas sem-teto, vestimentas in- decentes, além de gritos e gestos ilícitos nas ruas.

Segundo Afonso Soares de Oliveira Sobrinho (2013) no mesmo ano foi realizado

o relatório sobre o estado sanitário de São Paulo e no final do século XIX e início

(55)

do século XX – nos primórdios da República – houve um processo de limpeza e higiene pessoal, associado à pobreza e ao desejo de uma cidade saudável e limpa, uma ideologia elitista.

Utiliza-se dos discursos do progresso como uma utopia para que se possa disciplinar espaços e corpos. Também a pobreza é associada às doenças causadas pela falta de higiene em moradias insalubres e aos odores exalados pelos ambientes propícios a propagações e manifesta- ções perigosas de todo tipo, inclusive doenças contagiosas. (OLIVEIRA SOBRINHO, 2013, p. 213)

Segundo Nadia Somekh (2014) nas décadas de 1920 e 1930, São Paulo verti- calizou-se e cresceu rapidamente, transformando-se em uma grande metrópole.

Diante do aumento de suas diversidades e nacionalidades, o espaço público tor- nou-se palco de conflitos territoriais (SOMEKH, 2014). Houve – entre 1922 e 1930 – a Revolta Tenentista, organizada por militares, que, embora fossem conser- vadores, lutavam a favor de reformas políticas e sociais na cidade. Revoltas con- servadoras assim como os levantes comunistas, na década de 1930, indicam que,

“com a industrialização e a urbanização, as lutas de classes aprofundaram-se, adquirindo novas características nas cidades.” (MOTA, 2015, p. 580).

Em 1932 ocorreu a Revolução Constitucionalista, a favor da nova constituição e convocação de eleições presidenciais, no mesmo ano foi liberado o voto feminino.

Já nos anos 1960 foi inaugurada a capital federal, Brasília, e poucos anos depois

(1964) instalou-se o Governo Militar. Esse foi o mais longo período de governo

– explicitamente – ditatorial da história do Brasil que perdurou até 1985 (MOTA,

2015). “[...] o golpe de 1964 desarticulou uma república populista-reformista, com

(56)

suas propostas apoiadas por sindicatos, estudantes e parte da burguesia pro- gressista.” (MOTA, 2015, p. 779). Segundo os militares golpistas o objetivo era

“[...] realinhar a nação brasileira com os valores do “mundo ocidental e cristão [...]

Em verdade, o movimento realocava o país nos quadros da dominação ameri- cana.” (MOTA, 2015, p. 779).

A partir de 1971, foi implantado o primeiro Plano Diretor na cidade de São Paulo, sendo complementado pela Lei de Uso e Ocupação do Solo em 1972. A implan- tação desta legislação segregou usos em decorrência de lotes isolados, privi- legiando edifícios, sem contexto urbano, nesse período, cada empreendedor construía sem se preocupar com a integração do edifício com a cidade e com os pedestres. Desde então surgem os empreendimentos murados e com siste- mas de segurança, desarticulando os espaços privados e públicos – os enclaves fortificados.

Ribeiro (1995) afirma que no Brasil as classes sociais também se segregam pelas diferenças culturais e sociais.

Ao traço refinado, à inteligência – enquanto reflexo da instrução –, aos costumes patrícios e cosmopolitas dos dominadores, corresponde o traço rude, o saber vulgar, a ignorância e os hábitos arcaicos dos domi- nados. (RIBEIRO, 1995, p. 210)

As diferenças econômicas culminaram com a marginalização da população de

baixa renda, que passou a se isolar cada vez mais. Com as enormes diferenças

entre as classes sociais, o Estado não possui a capacidade de assegurar um

padrão de vida satisfatório para a maioria da população, demonstrando “[...] a

(57)

inaptidão para criar uma cidadania livre e, em consequência, a inviabilidade de instituir-se uma vida democrática.” (RIBEIRO, 1995, p. 219).

Caldeira (2000) afirma que a cidade de São Paulo continua altamente segre- gada, transformada em uma cidade de muros obcecada por segurança, o que gera a discriminação social. O aumento da violência social e urbana ocasionou o enclausuramento de zonas da cidade, ampliando a separação de grupos soci- ais por meio da falta de confiabilidade entre ambos, sendo presente nas atuais características da arquitetura brasileira.

A falta de conhecimento no uso do espaço público, associada ao medo ocasionado pela violência urbana, ocasiona o afugentamento do uso de áreas públicas e co- muns na cidade. As mesmas passam a ser subutilizadas, sendo vistas de maneira marginalizada e preconceituosa (CALDEIRA, 2000).

Em 1984 ocorreram as Diretas Já, movimento que desarticulou o Governo Militar, sendo eleito de forma indireta o presidente Tancredo Neves, falecido antes da posse, de maneira que a presidência foi assumida pelo vice-presidente José Sarney (MOTA, 2015).

Em 1988 nasceu a Constituição Federal (vigente até hoje), garantindo direitos

sociais a todos os cidadãos com a inclusão de um capítulo dedicado à política

urbana. Para Mota (2015), essa constituição foi considerada a mais progressista

que o país já teve, em termos de direitos e liberdades individuais, é também a

mais democrática pelo conteúdo e pela participação popular na Constituinte.

Referências

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